immaculate sin of the lovers...

By ohtommoyeah

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Nem mesmo nos mais tenebrosos pesadelos Harry e Louis imaginariam que, ao invés de renunciarem os próprios co... More

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vīgintī duo
vīgintī trēs
vīgintī quattuor
vīgintī quīnque
vīgintī sex

quīndecim

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By ohtommoyeah

– Posso dormir com você?

A vida na Congregação havia entrado em repouso em torno de uma hora atrás, o que não significa muita coisa para Harry já que, há longuíssimas semanas, suas noites são voltadas para a  alimentação da exaustão.

Após o tremendo trabalho que teve, ele enfim conseguiu terminar de ler o livro de C. S. Lewis e logo tratou de devolver para o para o Orientador mais velho que, horas mais tarde daquele dia, entregou-lhe um de São João Paulo II intitulado Teologia no Corpo.

Isso aconteceu há uma semana. Mas o seminarista nem se importou de abrir o livro para ler uma frase sequer.

Harry não quis comentar, mas já tinha tido o bastante com a obra de Lewis. Foi cansativo demais e deixou de recordação uma enxaqueca que Deus-queira que desapareça em algum momento. 

Com a mente caótica do jeito que está, é impossível se concentrar em qualquer coisa. Se ele já não consegue prestar atenção ao Frade por mais de um minuto ou ao menos tomar banho sem se perder no seu labirinto mental, ele dispensa a árdua tarefa de estudar.

Quer dizer, em certos momentos, sua cabeça fervilhante até se atém ao presente, no entanto, opera num estado de alerta tão obsessivo que, ansiando dividir o foco para absolutamente tudo ao redor, acaba não se concentrando definitivamente em nada. Noutros, porém, e estes vêm se tornando mais recorrentes que a condição anterior, a mente abstrai-se da realidade e dissolve-se em devaneios, em sonhos-acordados. 

À noite um pandemônio rebenta em sua cabeça. Esses dois estados excitam-se pela escuridão e pelo silêncio ruidoso do campo, pela ansiedade e pelo medo. Durante a madrugara inteira parecem disputar um cabo de guerra interminável. É desgastante.

Dormir nunca foi fácil para si, mas agora ele teme nunca mais conseguir descansar de forma natural, como qualquer pessoa normal. Teme ter de tomar remédios para o sono. Ou de enlouquecer pela falta dele.

As pessoas enlouquecem se não dormem, sim? E se esse processo já estiver começando? Ele sente que já começou. A enxaqueca constante. A irritabilidade cada dia mais latente. A lentidão dominando seus movimentos. Os lapsos de vertigem. De vez em quando ele até ouve um zumbido distante. Talvez seja a loucura se aproximando.

E se o último pesadelo foi um presságio? E se Harry se tornar um manequim vivo? Será que tinha sido outro alerta divino? Ele não quer pagar pra descobrir.

Quem diria. O seminário, lugar de comunhão fraterna que deveria prepará-lo para o sacerdócio desenvolvendo sua espiritualidade enquanto aprimora a inteligência emocional e a capacidade contemplativa, seria a experiência que o empurraria para o limiar da sanidade.

Ao invés de encontrar as respostas que o Padre Julian prometeu, Harry sairia dali mais confuso e angustiado e perdido do que jamais esteve na vida.

Não obstante, o seminarista quer esquecer um pouco desse caos esta noite. Ou ao menos tentar.

Ele nem se importa em arrastar a cômoda para frente da porta para se sentir minimamente protegido. Afinal, não planeja passar a noite ali, sozinho. Em vez disso, vai ao quarto de Louis.

Não o invade. Com a porta entreaberta, se limita a recostar-se no batente enquanto chama pelo seu nome em voz baixa.

Harry achou que ficaria nisso por um tempo, no entanto, o amigo não demora a acordar e - um tanto sobressaltado - se senta na cama, apoiando-se nos cotovelos e estreitando os olhos para ajustá-los à penumbra. O propedeuta insone dá a ele alguns segundos antes de pronunciar a pergunta anterior.

– Dormir comigo? - Louis soa rouco, bêbado – Você tá bem?

 – Não muito. As noites têm sido difíceis pra mim - confessa – Aí pensei em ficar com você hoje. Sei que é esquisito. E entendo se você não quiser. Mas…

A frase morre sem que ele a conclua. 

Ora, se Louis não quiser, não haverá argumentos capazes de convencê-lo a mudar de ideia.

Assim como os banheiros da Congregação, os quartos são pequenos. E as camas de solteiro, estreitas. A mensagem que repercute nas paredes é claríssima. Tinham sido projetados para uso particular.

E, na prática, estes são os únicos cômodos em que os seminaristas podem ter o mínimo de privacidade ali, onde supostamente ninguém os surpreenderia sem necessidade.

Todos os fatores - o ambiente, o horário indecoroso e a própria filosofia sacra que  os rege - estão contra a proposta de Harry. 

Ela soa inadequada. Soturna. Suspeita. 

A resposta óbvia seria não.

Justamente por essa razão Harry escolheu recorrer a Louis. Somente ele se esforçaria entender e, sobretudo, concordar com um pedido tão inusitado quanto esse. 

Mas, claro, a situação ainda precisa ser processada. O amigo precisa ter a certeza de que aquilo está realmente antes de dar uma resposta.

Após encarar o próprio colo, o colchão, seu olhar retorna ao cacheado parado na porta.

– Claro. Vem - enfim declara, recuando em direção à parede e abrindo espaço para ele se deitar.

Só assim Harry finalmente fecha a porta atrás de si, adentra o quarto e avança até a cama. 

Sua costa ocupa o espaço vazio.

Harry está nervoso. Sempre fica assim quando age por impulso, quando faz algo que não deveria. Isto o leva, inevitavelmente, a questionar o que está fazendo, por que raios foi se enfiar ali. Isto o leva, inevitavelmente, a arrepender-se. Entretanto, como sempre, é tarde demais para voltar atrás. 

Resta-lhe então aceitar o que vem a seguir.

Seja isso uma parte do cobertor jogado sobre si - apesar dele ter garantido que não precisa. Ou seja isso um braço transpassando-lhe o corpo e o agarrando pela costela - o que imediatamente deixa-o em pânico.

Que diabos!

– Você vai cair - observa Louis.

Ah, certo.

O sangue torna a circular quando Harry percebe que a mão alheia só está checando o limite do colchão

Assim que o braço é recolhido, a frequência do seu coração desacelera e os músculos relaxam.

– Não vou - solta em um suspiro.

A respiração vai se restabelecendo gradualmente.

– Não se vier mais pra cá. É sério. Você tá bem na beirada. 

– Estou bem aqui.

– Harry, por favor.

Apesar da bagunça dentro de si, ele consegue dizer:

– Alguém já te disse que você é bem insistente quando quer? Ok, tá legal… - cede, chegando um pouco mais para a direita – Obrigado - murmura.

Louis está de lado e Harry, de peito para cima. Num espaço tão pequeno é inevitável que os corpos se toquem em certos pontos, como nos joelhos, e quando o outro inspira, o peitoral e abdômen dele no ombro e no braço de Harry. 

Isso não aconteceria se Harry também deitasse de lado, mas ele não o faz. Ficaria incomodado se desse as costas para Louis; mais ainda se ficasse de frente para ele. É melhor do jeito que está.

Bons minutos são passados em um silêncio incerto. Parte da tensão que Harry sente é aliviada. Seu olhar vaga pelo teto, vislumbrando Louis de soslaio. É difícil dizer se o amigo olha para seu rosto ou para um ponto além dele.

– Minha mãe sempre diz isso.

– O que?

– Que sou insistente.

– Bom, não tem o que se discutir sobre isso então.

– Ela também diz que sou intrometido. E reclama que não saio do pé dela. Mas, em minha defesa, acho que só sou um pouco protetor demais. Mas como eu não poderia ser? Somos só nós dois, preciso cuidar dela. 

– Na minha opinião - Harry reflete –, a linha que separa um superprotetor de um intrometido é bem tênue.

Louis nasala um riso – Pode ser. Nas atitudes, talvez. Mas se diferenciam nas intenções, não?

Harry esboça um som não muito revelador. Pode ser uma confirmação ou um não

– Sabe, não quero me aproveitar dessa situação pra te pressionar ou algo do tipo, e eu mesmo já não aguento mr ouvir repetir a mesma pergunta tantas vezes…

A reticência se estica pelos instantes seguintes… o “mas” continua impronunciado, apenas sobrevoando sobre eles como um morcego procurando abrigo. Harry pondera. Lança um breve olhar para Louis e engole o nó atado na garganta.

– Assim que chegarmos amanhã eu conto o meu problema. Mas acho que você não vai gostar dele.

– Tenho certeza que não.

Estranhamente, isso soa como a coisa mais acolhedora que Harry poderia escutar. 

Faz brotar em si a esperança de que Louis compreenderia o que está se passando, que entenderia seu lado. Talvez até o ajudasse a lidar melhor com tudo isso. 

A possibilidade disso acontecer é tão reconfortante.

A resguarda de Harry se afrouxa tanto que, após uma pausa, ele se vê questionando:

– Você permitiria que alguém te machucasse?

– Em que sentido? Magoar ou ferir fisicamente?

– Fisicamente… Se bem que tem dores físicas que machucam por dentro também, né?

Louis concorda e pensa um pouco.

– Acho que eu não deixaria ninguém me maltratar de propósito. Se eu puder evitar, vou tentar evitar. Pode ter alguma exceção que eu não esteja considerando agora, mas, no geral, não permitiria ninguém ser cruel comigo, ou com qualquer outra pessoa, apenas para se satisfazer. 

Outro intervalo de tempo é despendido sem que nenhum dos dois fale nada. 

– Tem alguém te machucando, Harry? - a voz de Louis é um sussurro quase inaudível, carregado de receio.

É estranho pensar sobre isso. Porque Harry constata que não. No final das contas, não está sofrendo de fato nenhuma agressão. O Diretor Espiritual nem trisca nele. Tirando a vez no quarto, claro, ele o tocou, sim, mas foi de leve, nada violento, praticamente irrelevante.

Harry pode perfeitamente dizer que não. Ou melhor, seu dever é responder que não. Porque essa, por mais injusta e detestável que seja, é a verdade. E se ele não negar, Louis poderá levantar suspeitas, elaborar suposições, poderá se equivocar. Harry tem que evitar isso.

– Meus pais eram meio brutos comigo e com minha irmã no passado. Eu sei que tinham a melhor das intenções; queriam que nós fossemos boas pessoas, que cumpríssemos nossas obrigações e não desviássemos do caminho certo… e não tivéssemos a boca suja - ele ri consigo mesmo – Funcionou. Quero dizer, eu estou aqui, não estou? É só que… 

Mais uma vez Harry deixa que o final da frase se espraie para longe.

– Não precisava ser assim - pronuncia Louis – Existem maneiras de criar uma criança sem ferir a sua honra - então rapidamente emenda: – Não que você tenha a honra ferida, é que…

Harry o interrompe dizendo que o entendeu.

– É desrespeitoso - pontua o amigo – Um adulto contra uma criança. Não é certo.

– Tudo bem. Eu era um pentelho mesmo.

Louis nega com a cabeça.

– Não importa. Não tem justificativa pra isso. Não defenderia essa atitude nem se a criança em questão fosse o próprio anticristo.

– O anticristo? Jesus, não! Eu seria capaz de assá-lo no forno. Não, tô falando sério, sem piedade para o filho do maligno.

– Você teria coragem de fazer isso com uma criança? - retruca perplexo, mas com o tom relaxado.

– Se eu soubesse o que ela é? Não pensaria duas vezes. Louis, é do anticristo que estamos falando. Ele destruiria o mundo na primeira oportunidade.

– Como você tem certeza? Não seria justo dar uma chance a ele? Tentar moldar seu caráter enquanto é pequeno, cercá-lo de carinho e ensiná-lo a ter ética?

– Você acha mesmo que dá pra domesticar o filho de Satã? Seria como jogar um filhote de lobo num rebanho de ovelhas, assim que ele crescesse e sua natureza ditasse seu comportamento, ele estralhaçaria todas elas num piscar de olhos.

– Não dá pra condenar ele só por ser filho de quem é. Ele não escolheu isso, e pode escolher não seguir o legado do pai, se bem instruído desde cedo.

– Não sei não. Acho que você está sendo ingênuo.

Ele nega e se defende: – Apenas otimista.

– Que seja. De novo, a linha que separa essas duas coisas é muito fina - Louis ri fraco em resposta. Harry faz uma pausa antes de mudar o rumo da conversa – Aposto que sua mãe é incrível.

– Ela é.

– E ela tá feliz por você estar aqui? Com certeza deve sentir muito a sua falta.

– Ela tá bem. Só ainda se conformando com o meu destino. Como nem ela nem os meus avós são religiosos, eles não entendem como me tornei assim.

Harry demonstra admiração por isso, portanto Louis fala um pouco mais sobre a paróquia próxima de sua casa e a curiosidade que o levara a frequentá-la, o encanto com os rituais, com os sermões, os sacramentos e com a fraternidade daquela comunidade. Enfim envolvido, escolhera entrar na catequese e batizara-se aos treze anos de idade.

Para Louis tratou-se de escolha, enquanto no caso de Harry fora um porvir natural, inevitável.

Quando o amigo contra sobre a família, Harry traça semelhanças entre ele e seu primo. Ambos são filho únicos, ambos vivem apenas com a mãe. 

Mas as semelhanças acabam por aí.

Quer dizer, não se o pai de Louis também  pisado num ouriço-do-mar e morreu não necessariamente por conta do veneno, mas sim pela inflamação seguida de uma infecção hospitalar grave.

Harry não tem lembranças do tio, e aposta que o primo também não. Apesar dele ser quatro anos mais velho, a fatalidade aconteceu quando ele tinha em torno de seis anos.

Hoje em dia ninguém gosta de relembrar isso e nunca se descobriu se a tia teve algum caso depois da morte do marido. Louis também não comenta nada sobre o pai. Em contrapartida, porém, conta algumas anedotas sobre os namorados da mãe.

Já os avós de ambos os rapazes são completamente distintos. 

Harry só não pode afirmar como são seus avós maternos já que, por morarem longe, foram raras as vezes em que foi visitá-los e a mãe pouco fala deles.

A relação com os avós paternos é mais próxima. Embora o avô tenha morrido de um mal súbito um ano antes de Gemma nascer, Harry conhece-o através das lembranças verbalizadas pela avó e pelo pai. 

O avô e a avó namoraram por um ou dois meses antes de se casarem, ele com dezoito anos e ela com quinze. Ele era maquinista de trem enquanto ela, por uns anos, deu aulas na pré-escola do bairro antes de engravidar e torna-se uma dona de casa. Em suma, a vida deles foi pacata, convencional. 

O oposto dos avós de Louis, que se conheceram na universidade, viajaram, participaram de congressos e de protestos por direitos civis. Foram nas primeiras e nas várias outras edições do Glastonbury. Não param nem depois que a filha nasceu, em vez disso, levavam-na junto. 

Se Harry já adora as histórias de ritmo monótono da avó, fascina-se pelas vidas dos avós e da mãe do amigo. Não é a bagagem familiar que se poderia esperar de um futuro sacerdote. Harry poderia ouvir sobre eles a madrugada inteira. E Louis até tenta corresponder a esse interesse, mas acaba perdendo o entusiasmo para o cansaço e, não muito depois de Harry dar um tempo nas perguntas, cai no sono.

Como de costume, o outro seminarista cochila algumas vezes ao invés de dormir. Por isso, consegue retornar ao próprio quarto antes do alvorecer. Já era algo que ele tinha premeditado pois, afinal, embora nada demais tenha ocorrido, era melhor que o resto da Congregação não ficasse sabendo que os dois passaram a noite juntos.

No café da manhã, vê-se que o clima entre eles mudou. Não só da parte de Harry, que evita fazer contato visual com ele, Louis também não vem falar consigo. 

Isso é bom, não é? Agir como se nada tivesse acontecido. Sem questionamentos embaraçosos ou expressões constrangidas. Melhor assim.

[...]

Logo na primeira missa do dia, os seminaristas levantam-se de seus lugares para receber a Santa Eucaristia entregue pelos padres. Foi assim desde o primeiro domingo de formação, mas somente hoje Harry lamenta o fato disso acontecer tão cedo.

Após os fiéis formarem uma fila diante do trio  eclesiástico, os rapazes de túnica levantam-se e se encaminham para se enfileirar-se na ponta. Harry avisa Isaac que irá ao banheiro antes de se afastar, seguindo em direção à entrada da paróquia. A porta de carvalho, alta e larga, separa a sala da coordenação ao lado esquerdo e os banheiros no lado direito.

Por sorte, um garotinho abre a porta e deixa o toalete masculino no momento em que o propedeuta o alcança. 

Lá dentro Harry verifica os bolsos do jeans por baixo do hábito e joga uma água no rosto. Após secar-se com uma toalha de papel, se retira. Primeiro do banheiro, em seguida, da paróquia.

Tenta passar despercebido. Caminha tranquila e silenciosamente. Desce os degraus pé ante pé. Imagina alguém chamando seu nome e perguntando onde ele está indo. Por isso, enquanto avança para longe, não ousa olhar para trás… como se isso de alguma forma fosse torná-lo invisível.

Sua preocupação mais urgente, claro, é de que o interceptem no meio do caminho. Por precaução, ele aperta os passos e dobra em duas ruas transversais. 

Quando encontra um beco vazio, rapidamente tira o Rosário do pescoço e as peças do hábito, ficando apenas com a muda de roupa que usa por baixo. 

Como não trouxe mochila, joga as peças no ombro e segue em frente.

Em que rumo? Ele não sabe. Está aí outra urgência: precisa descobrir onde fica a estação de trem. 

Não deve ser muito distante de onde está já que, hora ou outra, barulhos de locomotiva podem ser ouvidos dentro da igreja. O problema é que, até então, Harry nunca tinha se interessado em descobrir de que direção vinha.

Além disso, vagamente lembrava-se do caminho que o carro de seu pai percorrera em busca da Congregação, ou seja, ele está perdido numa cidade deserta.

Harry tenta manter a calma e continua seguindo. Alguma hora chegará em algum lugar ou encontrará alguém disposto a ajudar.

No fim, sua salvação é a padaria aberta. Ele entra e, para não ser mal-educado, compra dois muffins antes de pedir as instruções que precisa. O senhor no balcão, apesar das respostas curtas, é solícito e direto. 

– Siga para o norte. Na próxima esquina à direita, você dobra e continua indo até chegar na estação. Não é difícil.

– Muito obrigado.

– Não se esquece de dobrar à direita - o rapaz assente firme e sai.

São necessárias longas pernadas até chegar ao ponto. Sua boca está tão seca - não só de desidratação, mas de ansiedade - que a moça da bilheteria tem dificuldade em entender o que diz. 

Harry quer partir o mais breve possível, todavia, o trem só sairá em uma hora.

Felizmente tem dinheiro sobrando e pode comprar uma garrafa de água.

Ele está tão perto de ir embora, mas ainda sente que corre o risco de ser detido. Cada milissegundo a mais na estação é uma tortuosa aflição. Temendo ser encontrado, ele se esconde numa das cabines no banheiro mal cheiroso - saindo umas três  vezes para chegar o horário no letreiro eletrônico acima do guichê.

Quando finalmente chega a hora de embarcar, Harry pula para dentro do trem, escolhe um assento ao fundo e se afunda no estofado até que o tempo de tolerância para o embarque se encerre. A adrenalina esfria assim que a porta se fecha e o trem começa a deslizar pelo trilho. 

Durante a viagem Harry come os muffins e bebe o restante da água. 

Não lhe sobra muito tempo para pensar, afinal, rapidamente chega à estação de Holmes Chapel.

Não seria impossível caminhar dali até em casa, no entanto as solas do seu sapato já tinham arranhado o chão o bastante para que Harry perdesse essa disposição. 

Ele decide ir à cabine telefônica ali próxima e ligar para alguém. 

Se não fosse domingo, poderia chamar o pai sem problemas, mas com o decorrer dos anos seu turno aos finais de semana foram se tornando maiores. Harry imagina que a essa hora ele já deva estar no restaurante, portanto, refere não incomodá-lo.

Liga então para a casa de Horan. No quarto toque, Maura atende. Fica felicíssima ao ouvir a voz de Harry e festeja quando ele conta que voltou. 

– Não quer vir almoçar aqui hoje? Posso preparar o assado de cordeiro que você gosta.

– Não acredito que a sra vai me botar nessa situação! - dispara ele - Eu adoraria, mas minha família ainda não sabe que estou aqui, então vou ter que deixar pra outro dia.

– Amanhã então, pode ser?

– Com certeza! Pode me passar pro sr Horan? Se ele estiver livre, queria que viesse me buscar na estação agora.

– Claro, claro. Só um minutinho.

O diálogo com o homem é rapidíssimo e, minutos após fim da ligação, o carro vermelho-escuro dele estaciona no meio fio perto de onde o rapaz está. Vidro abaixado, Harry observa Horan acenar e sorrir calorosamente para si. 

Há meses ele não se lembra de se sentir tão alegre.

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