Camellia

By Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... More

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By Hunterina

você não vai pegar a minha mão?

me leve para um lugar novo

(i'm with you)





Bianca sorriu vendo a mensagem de Twister no grupo "Tropa do Pau Médio 💪" avisando que havia acabado de acordar e perguntando para Daniel se eles aproveitariam a manhã para fazer o trabalho em grupo. Ao que tudo indicava, todos os meninos (e a Zoe) ainda estavam no internato, então Bianca não encontraria ninguém na pista de skate naquele horário.

Sentia-se um pouco boba por ser tão orgulhosa, mas era difícil evitar, quando foi desse jeito desde criança: Bianca odiava ser ruim em qualquer coisa que levava a sério, e odiava principalmente quando alguém a via falhando. Quando Daniel estava apenas dando em cima dela com a desculpa de ensiná-la a andar de skate, não tinha importância, mas desde que os dois presentearam VH com um skate novo e o amigo emprestou seu antigo para Bianca, ela colocou na cabeça que aprenderia de verdade. Até lá, não queria que ninguém a visse sendo patética.

Pegou um o celular e fez um stories rápido com uma foto do céu ensolarado do domingo de manhã. Com os últimos finais de semana corridos e a época de provas do colégio, estava menos presente em suas redes sociais, enquanto Daniel estava mais do que nunca, fazendo lives a última semana inteira treinando para o teste do time e sempre postando fotos e vídeos novos. "Seria mais fácil se eu também pudesse usar a porcaria do celular nos dias de semana" pensou consigo mesma, sem nunca conseguir superar aquela regra idiota do internato.

Falando nisso, o teste havia acontecido na noite passada e Daniel dormiu em casa para conseguir jogar em paz. Bianca estava esperando alguma notícia, mas pensou que talvez o teste tivesse se estendido até tarde e ele provavelmente ficou tão exausto que foi dormir logo em seguida.

Chegando perto da pista, tomou coragem e colocou o skate no chão para subir em cima. Zoe havia ensinado o básico, mas ainda lhe faltava um pouco de confiança, então percorreu os últimos metros assim e...

Deparou-se com Daniel assim que chegou.

Seu amigo estava sentado no palquinho da pista, completamente sozinho. Mexia no celular sem muito ânimo e suspirou pesadamente antes de erguer os olhos. A mudança na sua expressão quando viu Bianca foi notável, mas ele não parecia particularmente feliz.

— Ué, o que você tá fazendo aqui? É domingo de manhã. — Bianca perguntou enquanto se aproximava no skate, como se a mesma pergunta não se aplicasse pra ela. Então se adiantou, para não ser interrogada: — Veio gravar vídeo também?

Daniel abriu um sorrisinho sem vontade e Bianca percebeu que ele estava com um baseado apagado entre os dedos. Também reparou que suas olheiras pareciam particularmente fundas.

— E aí, Abelha? — Daniel cumprimentou. — Eu vim...

Tentou pensar em uma mentira para não admitir que havia saído de casa durante a madrugada e evitou ir para o internato, não querendo correr o risco de acordar VH àquele horário. Pediu para o motorista do aplicativo lhe deixar na lan house, mas também ficou ansioso com a possibilidade de encontrar Andrei e ele lhe fazer alguma pergunta sobre o que estava fazendo ali sozinho... Então foi para a pista de skate, mesmo que o sol nem tivesse nascido ainda.

Apertou o baseado mais forte entre os dedos, não querendo contar sobre como tinha ido muito mal no teste; sobre como sua mãe tinha feito da sua noite um inferno; e como passou mal de ansiedade durante a madrugada e só quis ir embora... simplesmente parecia que todo o dia precisava desabafar sobre um problema diferente. Ao mesmo tempo, a coisa que menos queria era mentir para ela. Falar que estava bem, inventar uma desculpa ridícula para estar ali naquele horário...

Ainda por cima, sentia-se um idiota por ainda não ter acendido aquela porcaria de baseado, mas não parava de pensar no que doutor Henrique havia lhe dito sobre sufocar seus sentimentos ruins com bebida, drogas ou mesmo automutilação. Podia gerar um alívio imediato, mas bastava que o torpor passasse — "e cada vez passa mais rápido, cada vez você vai precisar de mais" — para voltar com mais intensidade. Além de tudo, havia ensinado seu cérebro que aquela era a forma de lidar com o problema, por isso sentia tanta necessidade de manter aqueles hábitos.

Era difícil não ceder. Na verdade, seu maior impulso era de se despedir imediatamente de Bianca e ir embora... talvez fizesse isso, se conseguisse pensar em um local onde pudesse ficar sozinho.

— Eu... — Tentou de novo, mas simplesmente não conseguiu encontrar as palavras.

— Dani... aconteceu alguma coisa? — Bianca estava em pé de frente para ele e era quase fofo como suas alturas não ficavam tão distintas. Cuidadosamente, ela esticou uma mão e afastou alguns fios da franja que caíam nos olhos dele. — Você quer conversar?

Sinceramente, ele não queria, mas o toque gentil na sua bochecha fez um arrepio correr por todo o seu corpo. Por um segundo, sentiu uma coisa mais forte do que a ansiedade que o sufocava: saudades do abraço que Bianca lhe deu no quarto de Bellini, logo depois que ele se abriu com ela (com uma porta de madeira entre eles, mas enfim).

Nem do contato físico em si, mas da sensação de alívio que foi receber conforto após fazer algo que considerava tão difícil. Nem ele entendia o que tinha de tão desafiador naquilo! Era como se uma mistura de vergonha, uma ansiedade paralisante e a sensação de que estava incomodando culminassem em uma bola na sua garganta que o impedia de falar. Ele sabia que conseguia vencê-la, mas... o caminho mais fácil ainda era chapar até ficar disfuncional e nunca lidar com o problema.

Só que ele tinha prometido para si mesmo que se esforçaria para mudar, e viver mentindo para não deixar ninguém saber sobre a extensão dos seus sentimentos era algo que ele não aguentava mais.

— Eu... — Respirou fundo, fez um esforço para ignorar a voz que insistia em dizer que Bianca não precisava saber dos seus problemas e finalmente continuou: — Fiz o teste para o time ontem, mas eu fui muito mal. Tipo, muito mesmo.

Bianca deixou um suspiro de surpresa escapar e se sentou ao lado de Daniel.

— Eu sinto muito, Dani... O que aconteceu exatamente?

Então Daniel percebeu que os olhos dela estavam sobre o baseado que ele ainda segurava em mãos.

— Ah, eu não estava fumando. Eu juro.

— Dani, você não precisa provar nada pra mim. — Bianca deu de ombros. — Apesar de eu ter quebrado seu vape. Aliás, acho que nunca te pedi desculpas por isso, né? Desculpa... Eu meio que descontei nele o quão brava eu estava.

Pela primeira vez naquele dia, Daniel deu um sorrisinho lembrando do dia no quarto de Bellini, e em como Bianca ficava insuportavelmente linda quando brava.

— Não esquenta. Eu também fui babaca quando te ignorei e virei para fumar. Enfim, eu... só queria que você soubesse que eu estou tentando.

"me tornar alguém por quem valha a pena você dizer o mesmo" foi o que Daniel completou, mas apenas mentalmente. Ele só não sabia que Bianca lembrou das mesmas palavras.

— Enfim. — Ela retornou ao assunto, querendo afastar a lembrança que fazia seu coração acelerar. Não era hora de pensar naquilo. — Mas... foi só nervosismo, ou você realmente jogou mal?

Daniel soltou o ar, guardou o baseado de volta no bolso e arrastou a mão pelos cabelos.

— Deu tudo errado... Eu estava super nervoso. Fiz tudo que o psicólogo mandou, tentei dormir bem essa semana, até meditar e o caralho, mas eu estava tremendo no começo da partida. Eu jogo essa merda de jogo duzentas vezes por semana e no único jogo que preciso desempenhar bem, fico suando frio que nem um idiota.

— Ah Dani, eu sinto muito... mas também não é justo você se cobrar por isso. — Bianca tentou animá-lo: — não era só um jogo qualquer, você sabia que era importante. Olha... promete não rir de mim? — Os olhos azuis focaram nela e ele assentiu. — Nas primeiras partidas ranqueadas de LOL que eu joguei, eu tremia tanto e terminava tão suada que precisava tomar um banho depois.

— Sério?

— Uhum. Eu fico assim jogando qualquer jogo competitivo pela primeira vez. — Bianca abriu um sorrisinho sem jeito, odiando se expor assim, mas querendo acima de tudo confortá-lo. — Você pode achar idiota, só que desde de pequena eu sinto que preciso me esforçar o dobro em qualquer jogo para ser melhor do que meus amigos. Ninguém repara quando um cara é ruim, mas se você é menina, você meio que reforça o estereótipo. Eu não jogo nada para não ser uma das melhores, porque eu sinto que estou fazendo um desserviço. Então, na hora de jogar pra valer... eu fico muito nervosa. Depois passa, sabe? Mas eu sei que sempre vou passar por essa ansiedade. Por favor, não me acha idiota.

— Não, eu não acho. — Daniel abriu um sorriso pra ela. — Não posso dizer que entendo, mas acho que faz sentido. É só ver nas lives, quando eu e você fazemos uma jogada ruim, a reação é diferente.

— Pois é... Eu só tô tentando dizer que foi a sua primeira partida jogando pra valer mesmo. É uma pena que tenha te afetado tanto, mas não dá pra agir como se fosse algo fora do normal.

Daniel deixou um suspiro escapar e demorou um pouco para responder enquanto pensava naquilo. A verdade é que ele sabia. Sempre ficou ansioso antes de momentos importantes e não era surpresa que aquele também seria um gatilho... agora que sua ansiedade havia dado uma trégua, ficava mais fácil não se culpar tanto.

Claro que ainda restava o outro problema.

— Mas o foda, Bee... — Começou, mas quis parar de falar de novo. Quis deixar o assunto morrer, porque era mais fácil. Ficou em silêncio, então Bianca puxou seu braço para o colo dela para roçar as pontas dos dedos num carinho gentil. De novo, não era necessariamente o contato físico, mas se obrigou a focar na sensação confortável de ter alguém ao seu lado para encontrar forças e continuar: — É que a minha mãe estava lá em casa também. E ela... Toda essa merda de divórcio...

Então, a vontade de chorar voltou com tudo. Justamente quando ele estava se sentindo melhor... mas apenas lembrar daquela situação fazia seu coração doer. Daniel respirou fundo algumas vezes, mas não conseguiu impedir algumas lágrimas de rolarem pelo seu rosto.

— A Zoe me falou esses dias que é melhor que meus pais se divorciem de uma vez. Não de um jeito escroto, óbvio, mas ela simplesmente é mais pragmática que eu... — Daniel observou as unhas curtas pintadas de preto desenhando as veias no seu antebraço e relaxou sob a sensação. — Eu sei que é melhor, que meus pais não se amam, que eles fazem e falam um monte de merda pra mim e pra Emily, que a nossa "família" foi uma mentira por todo esse tempo para  não prejudicar a reputação de ninguém, mas... não foi sempre assim, sabe? Ou, sinceramente, talvez tenha sido, mas existiu uma época em que a gente foi genuinamente feliz. Não interessa se foi curta, eu não consigo fingir que não existiu. É melhor e eu concordo, mas não deixa de me machucar. Porque antes eu pelo menos podia mentir pra mim mesmo que um dia voltaríamos a ser assim... mas agora é um ponto final.

Bianca abriu a boca para responder, mas não conseguiu pensar em algo que pudesse ajudá-lo. Sentiu-se um pouco inútil, então lembrou que sua irmã mais velha não era a rainha dos bons conselhos, mas seus abraços sempre deixavam Bianca um pouco melhor. Soltou o braço de Daniel e envolveu a cintura dele com os seus.

— Dani, eu sinto muito que você se sinta assim. — Arriscou. — Eu acho que consigo entender. Você esperava que as coisas pudessem ser consertadas e é normal que se sinta triste quando viu que era o fim.

O garoto engoliu em seco e apertou Bianca de volta. Então deu um beijinho no topo da cabeça dela.

— Obrigado, Bee — sussurrou. Então ficaram assim por vários segundos, que serviram para que ele se acalmasse um pouco. Quando se separaram, a voz de Daniel estava mais estável: — Enfim, minha mãe também voltou de viagem essa semana. Ela estava na Alemanha com a Leonora e a família dela. Além de fazer tudo o que a mãe acha melhor, minha irmã também trata ela como uma rainha. Então estávamos só nós dois em casa e ela começou a falar sobre o divórcio, a xingar o meu pai, só que a minha cabeça estava na porcaria do teste que eu teria de fazer.

"Aí uma hora eu falei isso pra ela, pedi desculpas por estar tão distraído e expliquei que faria uma seletiva importante aquela noite. E pronto, ela surtou. Falou que eu me importava mais com isso do que com a minha família, que eu era igual ao meu pai. Ela sabe que isso é a pior coisa que ela poderia falar pra mim. Ainda disse que nenhum dos dois me apoiaria se eu não desistisse dessa ideia idiota e fosse pra faculdade... Enfim, foi uma merda.. Quando fui jogar, estava tendo uma crise tão forte que pedi pausa nos primeiros dez minutos, mas mesmo assim não consegui jogar nada depois."

— Dani, que merda. — Bianca suspirou. — Sua mãe só fez isso porque não aceitou que ela não era o centro das atenções. Desculpa a comparação, mas parece muito o que a Nicole fazia.

— É, eu sei. — Por impulso, Daniel colocou a mão no bolso para alcançar seu cigarro, mas se obrigou a parar. Ao invés disso, colocou o braço em volta dos ombros de Bianca e começou a brincar com as pontas do cabelo dela. Um pouco distraído com o toque macio, ficou mais fácil continuar: — O foda, Bee, é que não sei o que vai ser diferente. Não imagino um mundo em que eu não fique ansioso antes de uma partida importante, e muito menos um em que meus pais não façam tudo ao alcance deles para me sabotar nisso. Meu pai já falou milhões de vezes que se eu inventar qualquer coisa ao invés de ir para a faculdade, ele vai parar de me dar dinheiro e mandar eu vazar de casa. — Então ele abriu um sorrisinho. — Eu sei, eu sei, problemas de playboyzinho e tal, mas não é nem sobre o dinheiro, sabe? É mais que significa que ele não vai me apoiar em nada.

"É a mesma coisa do divórcio. Eu sempre soube que estava sozinho, mas pensava que um dia talvez eu pudesse provar que não era o merda que meus pais acreditam que eu sou... isso é só o ponto final que eu negava pra mim mesmo."

— Você não está sozinho. — Bianca falou e antes que Daniel abrisse a boca para explicar que estava falando de família, ela continuou: — Sim, eu entendi o que você quis dizer, mas mesmo assim: você não está sozinho nem na sua família. A Emily nunca vai deixar de te apoiar e confiar em você. Nem eu, a Zoe ou qualquer um dos seus amigos. — Então ela virou na direção dele e o puxou para outro abraço, enfiando o rosto no seu pescoço. — Tá tudo bem ficar triste com o que aconteceu, mas lembra que essa foi a sua primeira tentativa. Você vai ter outras oportunidades e vai aprender a não deixar o nervosismo te afetar tanto, e eu vou estar torcendo a cada momento, até você conseguir.

Daniel envolveu o corpo dela com os braços em resposta e deu outro beijo no topo de sua cabeça, sentindo o coração bater ainda mais rápido do que na noite passada. Só que, dessa vez, era por algo pelo qual sentia que valia a pena.

— Obrigado, Bianca. — Apertou-a ainda mais contra o seu corpo, como se tivesse medo que ela pudesse ir embora. Ficou mais segundos do que deveria aproveitando aquele abraço, normalizando a respiração e finalmente se sentindo um pouco mais calmo. — Eu não sei o que eu fiz para ganhar alguém como você na minha vida.

— Você rezou pros deuses do League of Legends, aí eles enviaram alguém para te carregar. — Bianca brincou, então o soltou e levantou num pulo: — Aliás, já sei! Da próxima vez, eu vou participar do tryout também! Aí eu vou jogar tão, mas tão mal que você vai parecer um Deus em comparação!

Daniel foi obrigado a rir. — É uma boa! Você nem precisa se esforçar, porque eu já pareço um Deus em comparação de qualquer jeito.

— Seu idiota! Eu estou bolando um plano genial pra tentar te ajudar e você vem se pagar de gostosão pra mim?!

Bianca esticou a mão para dar um tapinha no ombro dele, mas Daniel foi mais rápido. Agarrou seu pulso e puxou Bianca para o seu colo. Depois de se abrir sobre como sentia e chorar um pouco, ficava mais fácil ver que aqueles momentos ruins não eram maiores que ele. E Bianca sempre fazia qualquer momento ruim parecer completamente insignificante perto do que Daniel sentia por ela.

— Esse foi o meu plano genial pra te pegar. — Daniel a puxou mais para perto e deu um beijo na sua testa. — Você é incrível.

Ela abriu um sorrisinho, sentindo-se feliz em ver que ele parecia mais animado.

— Você também é, e não é um resultado que vai dizer o contrário, tá?

— Obrigado por acreditar em mim.

— Só porque você também sempre acreditou em mim. — Bianca devolveu o beijo na testa dele, apesar de querer dar-lhe um beijo de verdade. — Vai ser sempre eu e você contra o mundo, tá?

O coração de Daniel acelerou com aquela frase e, mais do que nunca, ele queria ficar ali com Bianca para sempre. Mesmo aquela pista de skate vazia no alvorecer de domingo parecia o melhor lugar do mundo com ela ao seu lado.

E, por um segundo, ele quase a pediu em namoro. Seu coração bateu ainda mais forte ao perceber que as palavras quase escaparam de sua boca, porque entendeu o quanto queria dizê-las. O problema é que, apesar de tudo, ainda estava meio melancólico... e também tinha o medo de Bianca não aceitar. Daniel faria o pedido mais cedo ou mais tarde, mas queria esperar por um momento melhor. Talvez um onde ele não parecesse ter sido atropelado por um caminhão depois de passar metade da noite ali.

— Eu e você contra o mundo. Prometo. — Por enquanto, contentou-se com aquela declaração. Ainda assim, puxou Bianca para um beijo.

Ela pensou se aquilo também contava como um erro, considerando que tudo o que eles tinham de fazer era não complicar mais do que o necessário aquela relação. Pelo gosto bom, provavelmente era um erro sim.

E Daniel se afogou nele, beijando Bianca enquanto pensava que, no próximo final de semana, faria algo especial para ela. Será que deveria pedir ajuda dos amigos, para não deixar aquilo tão suspeito? Aliás, que dia era...

Daniel afastou Bianca repentinamente, com os olhos arregalados.

— Que dia é sábado que vem?!

Bianca, que tinha levado um susto com a movimentação, franziu as sobrancelhas.

— ... Vinte e oito?

— Puta merda, Bianca! O evento da Thunder é essa semana!

— Que even... — Então Bianca lembrou do evento para o qual ela e Daniel foram convidados a fim de representar a marca de energético. O evento que  aconteceria de quinta a domingo e que ela já tinha confirmado presença em todos os dias, mesmo que nem tivesse pedido autorização aos pais para faltar aula... O evento em que ela e Daniel ficariam na casa da sua irmã! — Meu Deus, eu esqueci completamente... Nossa, a minha mãe vai me matar tanto! Pera, nós vamos ainda, né? Quer dizer, você vai...

— Claro! Meu plano continua o mesmo: vou fingir que peguei a pior gripe da minha vida pra faltar aula. Não faltei nenhum dia desse semestre justamente pra não ficar devendo presença. — Daniel deu de ombros, a mão casualmente pousada na cintura de Bianca enquanto ela permanecia casualmente sentada no seu colo. — Vamos poder ficar no apartamento da sua irmã, né? Porque se não...

— Não, claro. — Bianca garantiu, mesmo que sequer tivesse perguntado. — A Natalie não vai se importar.

— Caramba, não acredito que a gente quase esqueceu. — Daniel riu. — Pena que nenhum dos caras vai poder ir, todo mundo tem coisa, eu já perguntei pra eles. E a Zoe prefere morrer, claro. Então vai ser só nós dois.

— Contra o mundo, como eu disse.

Daniel sorriu para ela. Então seus olhos caíram preguiçosamente pelo seu corpo e ele reparou que provavelmente era a primeira vez que a via usando calça, e não um vestido ou uma saia. Fazia sentido, já que ela tinha chegado de skate e...

— Aliás, Abelha, o que você veio fazer tão cedo aqui mesmo?

E Bianca também pensou em contar uma mentira, mas Daniel tinha sido tão sincero que ela não teve coragem.

— Promete não rir de mim?

— Não. — Ele abriu ainda mais o sorriso. Ela mostrou a língua, mas afinal admitiu:

— Eu... vim praticar com o skate — murmurou, desviando o olhar. — Queria fazer isso sozinha porque todos vocês são muito bons e eu não queria passar vergonha.

Daniel demorou alguns segundos para responder, meio atordoado com o quão fofinha ela ficava quando estava constrangida.

— Vergonha você passou mostrando sua calcinha pra mim no primeiro dia que a gente se conheceu. — Daniel debochou. — Vamos, eu pratico com você.

— Eu não mostrei! Eu caí! — Ela protestou, levantando de cima dele. Felizmente, a pista ainda continuava vazia. — Você foi um péssimo professor e me deixou cair!

— E se você estivesse de saia hoje, eu te deixaria cair de novo.

— Você é um idiota, Daniel.

— Também amo você, gatinha — falou, em tom de brincadeira e Bianca fingiu revirar os olhos.

Os dois passaram o resto da manhã sendo os únicos malucos andando de skate às sete horas de um domingo. Enquanto se divertia a ponto de esquecer as coisas que lhe deixaram tão mal na noite passada, ficou claro para Daniel como mesmo os momentos mais sombrios também chegavam ao fim.

Claro que não era só por causa dela... mas, vendo Bianca gargalhar tanto que suas bochechas ficaram vermelhas depois do terceiro tombo, e puxá-lo para o chão quando ele esticou a mão para ajudá-la a levantar, ficava evidente que ter alguém por quem valesse a pena continuar resistindo ajudava um pouco.





Nota da autora:

FINALMENTE CONSEGUI!

Queridos amigos, eu percebi só hoje que não avisei no Wattpad que a atualização seria adiada, apenas no Instagram! Peço desculpas, esses últimos dias foram uma loucura.

Para quem não viu, estou em viagem desde sexta-feira! Vim aqui para o Oeste de Santa Catarina celebrar o aniversário de 80 anos da minha tia avó, e fui incumbida de escrever uma homenagem para ela. No meio dessa correria, acabei não conseguindo finalizar o capítulo a tempo.

Capítulozinho para aquecer o coração em troca? Dois seguidos! Para quem disse que eu só escrevo sofrimento...

Aliás, ontem Camellia chegou a 100k de visualizações 🥳🥳

Muito, muito obrigada, como sempre, a cada um de vocês que acompanha essa história. Obrigada por todo o carinho, pela paciência, por cada comentário e voto. Eu amo tanto, mas tanto escrever esse livro que definitivamente não sei o que será de mim quando eu acabar.

Falando em acabar... Parece loucura dizer isso, mas o final finalmente (q) se aproxima!

Essa semana vou aproveitar para passar a régua no planejamento e tento dar uma estimativa (que provavelmente vai sair miseravelmente errada).

Vocês estão prontos para isso? Eu não kkkk

Vou me despedindo aqui para aproveitar o resto da viagem (não consigo ficar em paz até atualizar socorro) e espero que tenham todos uma boa semana!

Um beijo enorme para todos e até sexta-feira que vem (se nenhum imprevisto atrapalhar tudo!) 💜

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