Lumiar
De repente, como previsto pelo meu pai, o tempo em Lumiar mudou drasticamente. Uma chuva intensa caiu do céu, trazendo consigo uma tempestade furiosa, repleta de relâmpagos, trovões e rajadas de vento poderosas. A temperatura despencou consideravelmente, aumentando ainda mais a sensação de desconforto. A medida que a chuva forte persistia, fomos privados da luz e de qualquer forma de comunicação, o que agravou ainda mais a situação. Estávamos completamente isolados, vulneráveis à força da natureza e ao desconhecido que se desenrolava ao nosso redor.
Enquanto olhava pela janela, eu observava a intensa chuva caindo lá fora, e em silêncio, fazia uma prece mental para que nada de grave acontecesse. Ao mesmo tempo, não conseguia parar de pensar na importante audiência que estava acontecendo no Rio de Janeiro. Considerando o horário, ela provavelmente já teria terminado. O nervosismo me invadia ao pensar se tudo tinha corrido bem. Esperava, sinceramente, que o Théo não tivesse causado em mais confusões.
Com um sentimento de angústia que não me deixava em paz, eu me movimentava inquietamente pelo meu quarto. Além disso, a medida que o tempo passava, as dores se intensificavam e se tornavam cada vez mais incômodas. Minhas mãos instintivamente acariciavam minha barriga, enquanto eu suplicava mentalmente para que nada de errado estivesse acontecendo com meu precioso filho. A aflição e a preocupação se entrelaçavam, formando uma tempestade de emoções dentro de mim.
Naquele momento em que um raio cruzou o céu, uma intensa dor percorreu meu corpo. Com certo esforço, consegui me dirigir até a cama e me sentei, acariciando delicadamente minha barriga. Era difícil de acreditar que meu filho havia escolhido justamente aquele dia para vir ao mundo. Tentei afastar aquele pensamento, convencendo-me de que não era o momento certo, mas novamente a dor se fez presente e involuntariamente soltei um gemido.
- Lumiar, está tudo bem?
Assim que a voz suave da Jade alcança meus ouvidos, percebo sua aproximação repleta de preocupação. Com cuidado, ela deposita a vela em uma pequena mesinha e se aproxima ainda mais, captando de imediato a atmosfera estranha que pairava no ar. Tento assegurar-lhe que tudo está sob controle, mas antes que eu possa pronunciar qualquer palavra, uma nova onda de dor percorre meu corpo. Uma expressão de angústia se desenha em meu rosto, revelando que algo está fora do lugar, contrariando as palavras tranquilizadoras que eu gostaria de compartilhar.
- Está tudo bem! - Respiro fundo - Eu... Só estou sentindo um pouco de dor.
- Tem certeza, Lumiar? - questiona Jade, com um olhar preocupado.
- Tenho. -Digo com dificuldade.
- Então tá bom!
- Onde está meu pai?
- Ele está tentando estabelecer alguma comunicação, mas sem sucesso. -informa Jade, com uma expressão de preocupação - Parece que houve um deslizamento na estrada.
- Eu vou lá ajudar.
Faço uma tentativa de me erguer, mas ao ficar de pé, a intensidade da dor se intensifica de forma avassaladora. Se não fosse pela presença vigilante da Jade, provavelmente teria desabado no chão. Para minha aflição, sinto um líquido escorrendo pela minha perna, provocando um pavor imediato - minha bolsa havia estourado. Joaquim não poderia nascer naquele momento; estávamos confinados no Refúgio e, além disso, Benjamin não estava presente. Com o auxílio precioso da Jade, deito-me na cama, incapaz de conter as lágrimas de angústia que afloram em meu rosto.
- Jade, o Joaquim não pode nascer aqui. -afirmo com urgência.
- Calma, Lumiar! Vamos encontrar uma solução. - responde Jade, transmitindo confiança.
- Lumiar? Minha filha... -meu pai entra no quarto-
O que está acontecendo?
- Acho que ela está entrando em trabalho de parto, Fábio. -responde Jade, revelando a gravidade da situação.
- Por favor, pai! - suplico, com lágrimas nos olhos.
O Joaquim não pode nascer aqui.
- Eu vou dar um jeito, está bem? Fique quietinha! Vamos resolver isso. -ele beija o topo da minha cabeça- Jade, cuide dela, por favor.
À medida que o tempo avançava, as contrações se intensificavam, tornando-se cada vez mais fortes. Lá fora, a chuva parecia aumentar de intensidade, e, apesar dos esforços do meu pai, não havia sucesso em estabelecer contato com ninguém. O passar do tempo levou Jade a anunciar que eu deveria tentar dar à luz ali mesmo, no Refúgio, e um medo profundo tomou conta de mim. Não podia permitir que meu filho viesse ao mundo naquelas circunstâncias, não era o que eu desejava.
- Vamos, minha filha! -pede meu pai com determinação. -Meu netinho quer vir ao mundo. Não podemos evitar.
- Pai, e o Benjamin? -questiono em meio às lágrimas, preocupada com a ausência de Benjamin.
* Bônus - Benjamin *
Deixei o Rio de Janeiro às pressas assim que Lui me informou que Lumiar estava sozinha no Refúgio. Saí do Fórum, montei em minha moto e acelerei em direção ao destino. Enquanto mantinha o foco na estrada, meu peito se apertava, uma angústia iminente tomava conta de mim, como se algo estivesse prestes a acontecer. O clima mudou drasticamente, pegando-me de surpresa, e acabei encharcado pela chuva enquanto seguia adiante. Após algumas horas, estava quase chegando à entrada da cidade quando notei uma movimentação e equipes da Defesa Civil. Parei minha moto bruscamente e me aproximei, perguntando o que estava acontecendo. Informaram-me que estávamos impedidos de prosseguir.
- Droga! -Esbravejo.
Enquanto a chuva caía intensamente, meu celular tocou e eu o peguei no bolso, completamente encharcado. Olhei para o visor e vi um número desconhecido. Com certo receio, atendi e ouvi a voz aflita do Fábio do outro lado da linha. O sinal era terrível, dificultando a compreensão das suas palavras. No entanto, antes que a ligação fosse interrompida, ouvi algo que fez meu coração disparar. Fábio anunciou que o meu filho estava nascendo. O desespero tomou conta de mim diante dessa notícia tão significativa, deixando-me com uma mistura avassaladora de emoções.
- Eu preciso passar! - Gritei, enfatizando minha urgência.
- Não, você não pode passar. A estrada está cedendo e há risco de novos deslizamentos.
- Meu filho está nascendo.
- "Senhor, desculpe, mas por razões de segurança, não podemos ajudar. Peço que retorne e siga as restrições.
Sem que ninguém pudesse evitar e indo contra todas as ordens para não passar, decidi atravessar aquela barreira com minha moto e prosseguir em meu caminho o mais rápido possível, mesmo ciente dos riscos iminentes da estrada cedendo. Minha determinação superou qualquer senso de prudência, impulsionada pela urgência de chegar ao meu destino. Cada instante era crucial, e o perigo iminente parecia apenas um obstáculo temporário diante da minha determinação inabalável.
Ao chegar no Refúgio, senti um misto de gratidão e alívio. Parei minha moto, tirei o capacete e respirei profundamente, tentando acalmar os batimentos acelerados do meu coração. Com determinação, adentrei o local em busca da Lumiar. Encontrei Fabio e, ansioso, perguntei onde ela estava. Sem hesitar, ele me guiou até a Lumiar. Ao entrar no quarto, meu coração disparou ao escutar os gritos dela, que lutava com todas as suas forças para trazer nosso filho ao mundo.
- Benjamin?
Ouço sua voz, tão cheia de esforço e coragem, e me aproximo dela com cuidado. Toco seu rosto suado e, com ternura, tento ajeitar seus cabelos bagunçados. Beijo suavemente sua testa, transmitindo todo o meu amor e apoio, enquanto tento acalmá-la, garantindo que tudo ficaria bem. Com todo o amor que sinto, me posiciono atrás dela e a envolvo em meus braços, buscando proporcionar conforto e segurança.
- Traga nosso filho ao mundo, Lumiar.
- Eu não consigo...-Diz exausta.
- Vamos Lumiar! -Jade incentiva- O Joaquim precisa nascer. Força! Falta pouco!
O parto não estava sendo nada fácil; Lumiar já estava exausta e não conseguíamos progredir. Preocupado, eu não conseguia mais ficar parado e andava de um lado para o outro, aflito e nervoso. Sabia que o risco de Lumiar ter nosso filho ali aumentava com a demora para ele nascer, o que tornava tudo ainda pior. Mais uma vez, eu e Fábio tentamos buscar ajuda, mas sem sucesso. Ao retornar ao quarto, me aproximo de Jade e pergunto como ela está.
- Joaquim precisa nascer. Já se passaram muitas horas de parto, e há o risco de ele entrar em sofrimento. Além disso, a Lumiar está perdendo muito sangue e enfraquecendo.
- Merda!
- Ben...
Lumiar me chama e eu me aproximo dela, sentando ao seu lado. Ela segura firmemente minhas mãos, seus olhos cheios de lágrimas encontram os meus e, com voz trêmula, ela diz:
- Se alguma coisa acontecer...
- Nada vai acontecer, Lumiar. -afirmo com convicção.
- Me deixa falar. -ela pede, e eu a deixo -Cuida do nosso filho...Você e a Sol, por favor. -diz, interrompendo-se ao sentir uma nova contração.
- Para com isso. -peço aflito -Quem vai cuidar do nosso filho somos eu e você, ouviu?
- Você também me perdoa por tudo que eu fiz?
- -Você não fez nada. -digo, com lágrimas nos olhos- Eu não tenho nada para te perdoar. Ambos cometemos erros. Espero que tudo o que aconteceu entre nós fique no passado. Agora, meu maior desejo é construir uma nova fase juntos. -afirmo, acariciando seu rosto- Eu sei o quanto te magoei, e espero poder reverter essa situação. Mas, por enquanto, esqueça tudo e traga nosso filho ao mundo. Você é forte! -acrescento com admiração- E eu... bem, eu sou ansioso. -brinco, vendo um sorriso cansado aparecer em seu rosto- Vamos?
Continua >>>