Julian
Travei no mesmo lugar enquanto ambas me olhavam atentas. Eu não sou um monstro por querer negar isso! Ela é minha ex, ex namorados não dormem na mesma casa!
Mas negar pareceria um crime.
-Ah... ok. Então eu vou dormir na casa da Kira, boa noite. -Eu disse e me virei em direção a porta.
-Ju, espera aí. -Maressa me alcançou. -Se quiser que eu vá embora é só falar. -Ela encostou no meu ombro e acariciou lentamente.
-Você pode ficar, Maressa. -retirei sua mão. -Só cuida bem da minha mãe enquanto eu estiver fora.
Ela deu um meio sorriso e eu saí.
Para minha sorte a Kira ainda estava acordada.
-Aconteceu alguma coisa? -Perguntou.
-A Maressa está lá em casa. -Eu disse casualmente e a expressão da Kira mudou imediatamente. Tive vontade de rir, mas me segurei.
-Maressa? -Perguntou tentando disfarçar o ciúme.
-Você fica uma gracinha quando está com ciúmes, sabia?
-Muito engraçado. -Ela cruzou os braços e me olhou sério, com aquele olhar intimidador de lutadora que eu me perco fácil.
Expliquei para ela a relação da minha mãe com a Maressa e a Kira pareceu entender bem, pelo menos no início.
Passamos a noite juntos, mas pela manhã, Kira estava com o olhar distante e nada falante.
-Que cara é essa? -pergunto.
-Eu estou...pensando.
-Então pense em voz alta. -seguro sua mão.-Comigo.
-A sua ex...-Ela hesitou.
-Não deveria se sentir insegura em relação a Maressa, ela é um passado muito bem esclarecido pra mim.
-Mas parece que isso não ficou claro pra ela.
-Eu vou tentar, mais uma vez, deixar isso bem claro pra ela.-Eu a abracei e beijei sua testa.
Fazia um certo tempo que Maressa não me procurava mais, eu realmente achava que estava claro que eu não queria mais nada com ela.
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Quando voltei pra minha casa naquela manhã, fui até o quarto da minha mãe e ela ainda dormia. Estava sozinha, Maressa já deve ter ido embora.
Chequei o quarto do meu avô e ele dormia tão profundamente quanto minha mãe.
Fui até meu quarto, e para minha surpresa, assim que acendi as luzes, percebi que não estava sozinho.
Maressa estava deitada na minha cama, nua.
Ela despertou assim que acendi as luzes, mas mesmo assim não se cobriu.
-Oi Ju, dormi na sua cama pra deixar sua mãe mais confortável no quarto dela, espero que não se importe...
Me virei de costas.
-Até parece que nunca me viu assim. -Ela riu sozinha. -Você sabe bem que eu não consigo dormir vestida.
-Maressa, coloque suas roupas.
-O que foi, eu te deixo nervoso?
-Coloque suas roupas. Quero ter uma conversa séria com você. -Eu saí do meu quarto e fechei a porta.
Eu a esperei sair do quarto vestida, apontei para o sofá e ela se sentou.
-O que é tão sério? -perguntou em tom irônico.
-O que te faz pensar que poderia vir até a minha casa, passar a noite aqui e ainda dormir pelada no meu quarto?! Não somos mais namorados, não temos mais nada haver um com o outro!
-Eu vim pela sua mãe!
-Para de se humilhar assim, você não precisa disso. Têm uma fila de caras que gostariam de ficar com você, para de tentar me separar da Kira. Quero que fique claro que eu a amo, e nada do que fizer fará eu me separar dela.
-É só isso que você queria me dizer?! -Ela se levantou brava.
-Sim.
Maressa saiu, batendo a porta.
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Kira
Falta apenas 1 mês para o fechamento do meu contrato de modelo, e eu já havia decidido, eu vou largar a carreira de modelo. A parte mais difícil será comunicar isso ao mestre Tácio, ou melhor, o empresário Tácio.
Marquei uma reunião com ele no próprio ISC, o colégio de esportes que eu sempre sonhei em treinar, e que depois de vários meses longe, entrar por aqueles portões novamente, eu tive a sensação de como se fosse a primeira vez. Eu nunca deveria ter saído.
Os olhares dos alunos penetravam minha alma, eu de fato estava irreconhecível, mas não deixei que isso me abalasse, continuei caminhando pelos corredores até reencontrar minha sala.
Fiquei olhando o treino de longe. A Rosa estava incrível, a evolução dela foi perfeita.
Ao me ver na porta veio correndo me abraçar.
-Me diz que está voltando. -ela disse enquanto me abraçava forte.
Senti meus olhos se enchendo de lágrimas, eu queria gritar que sim, mas não consegui responder.
O restante da turma acabou notando minha presença e me cumprimentaram baixando a cabeça.
-Turma, por hoje é só. -O mestre disse enquanto me olhava. -Dispensados. LUTAR ATÉ O FIM.
-LUTAR ATÉ O FIM.
Os alunos foram saindo da sala, deixando apenas o mestre e eu.
-O que tinha pra me dizer que é tão urgente? -perguntou enquanto secava o suor do rosto.
-Estou desistindo da carreira de modelo. Não vou renovar o contrato.
-Mas Kira, eu não entendo, você está no auge da carreira de modelo, está nas capas de revista e nos principais desfiles, as meninas querem ser como você!
-Eu espero que não sejam como eu. - Meus olhos se encheram de lágrimas. -Eu nem me reconheço mais, e não estou falando só de aparência. -Sequei meus olhos enquanto me olhava no espelho. -O meu lugar sempre foi o ring, mestre. Ser modelo me deixou doente.
O mestre Tácio se aproximou.
-Você pode ser as duas coisas, Kira. Uma ótima lutadora e uma linda modelo como sempre foi. -Ele me abraçou de uma forma que foi difícil conseguir me soltar.
-Você sabe que eu preciso escolher, se eu for modelo, eu não posso ter músculos, não posso comer o que eu quiser, não posso ter machucados das lutas estampados no meu rosto.
-Não foi aquele seu namoradinho que te fez falar isso, foi?
-Eu tomo minhas próprias decisões, mestre. Além do mais, o Julian ainda não sabe da minha decisão, você é a primeira pessoa a saber.
-Ok Kira, está decidido. Eu apoio a sua decisão, e por mim você já pode voltar pro ISC pra treinar comigo. -Ele jogou um par de luvas pra mim. Bem vinda de volta, minha lutadora.
Em um movimento extremamente familiar, eu vesti as luvas, subi no ring e armei a guarda. O mestre sorriu.
-Eu não vou pegar leve com você. -Disse vestindo suas luvas e tocando nas minhas em seguida.
O surpreendi com o primeiro golpe, que com certeza doeu mais em mim do que nele. Em alguns poucos segundos de socos eu me cansei, percebi o quão fora de forma eu estava quando ele me derrubou no ring como se eu fosse uma folha de papel e veio pra cima de mim travando minhas pernas.
-Não banque a espertinha. -Ele me deu alguns golpes leves.
-Desisto. -Eu disse para que ele saísse de cima de mim, após tentativas frustradas de tentar sair.
Ele parou de me golpear, mas não saiu de cima de mim, e me olhava fixamente, não sei se era a mais pura adrenalina correndo em minhas veias, mas eu poderia jurar que ele queria me beijar a qualquer momento.
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