Chasing - Madden Mori

By ajxlia

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"Ela não estava em nenhuma linha de nenhum parágrafo que minha história estava sendo contada, mas ela havia r... More

Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3

Capítulo 1

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By ajxlia

MADDEN

Segurei a respiração quando Octavia jogou a merda da fumaça na minha direção, a ponta do cigarro queimando o papel com a força da sua tragada fez algo ranger por entre meus dentes. Eu odiava os hábitos daquela mulher e o cheiro terrível que ficava no cabelo dela.

— Deveria parar com essa merda. — sugeri pela quinquagésima vez apenas naquele ano.

— Vai se foder, Madden.

— Se você quiser... — meu sorriso cresceu divertido, mas não era uma verdade.

— Você é um idiota mesmo, Madds. — ela ficou vermelha por algum motivo que não pareceu ser vergonha — Só porque você foi o meu primeiro não significa que você é dono da minha boceta ou algo do tipo, não pense que vai falar qualquer merda para mim.

Octavia era o sinônimo mais próximo de um vulcão prestes à eclodir, talvez fosse a parte irracional do pai dela pendendo demais para o lado ou ela estivesse tendo um daqueles dias complicados de mulher. Todas as palavras que escorregaram de minha boca eram provocações, eu jamais transaria com minha prima novamente e jamais me colocaria sobre ela.

Fiquei em silêncio enquanto ouvia ela tragar mais do cigarro.

— Ivarsen pediu para que você matasse um homem. — ela disse — Como se sente?

— Não vai ser o primeiro que matei.

— Você matou o primeiro aos onze anos de idade para me proteger, acho que nunca vou esquecer isso.

— Desculpa ter causado seu trauma. — sussurrei.

O balanço rangeu quando ela encostou as costas na madeira do objeto velho.

— Você me salvou. — Octavia disse como um sussurro — Eu só não consigo entender, como consegue matar alguém sem sentir nada.

Eu não sabia o real motivo de estarmos cochichando sendo que estávamos sozinho em nosso esconderijo. Talvez o motivo fosse que tínhamos medo de dizer em voz alta que matei alguém aos onze anos de idade, quando ninguém além de nós dois presenciou o ato.

— Eu nunca sinto nada, tavia.

— Sente sim, por isso gosta de mim.

Ela nunca acreditava em minha realidade, mas eu não iria descordar em dizer que não sentia algo quando estava com ela. Eu sentia Octavia como um peso vivo para todo o meu lado morto.

— Eu só não quero que se preocupe comigo.

— E eu não quero que sinta remorso. — confessou.

— Eu não vou, ele era um criminoso. — eu disse para minha prima — Não ao estou fazendo isso porquê me importo com o mundo ou com a merda que Ivarsen está metendo nossa família, estou fazendo porque diferente de todos vocês... Eu não vou sentir nada ao fazer.

Octavia me encarou com aqueles olhos beirando a obsidiana, os fios do cabelo liso espalhando sobre o rosto pálido quando o vento colidia com sua pele.

— Ivarsen já matou pessoas, Keisa já matou pessoas... — ela disse — nossos pais já mataram pessoas.

— Todos eles sempre agiram por impulso, — expliquei — eu agi porquê não sinto.

— Acho que você é uma pedra, Madds.

Eu não sabia exatamente o que ela queria dizer com aquilo, mas algo era similar de alguma forma. Esperei minha prima terminar seu cigarro, eu gostava de assisti-lá viver, era como um retrato gótico antigo demais, quebrada com rachaduras e manchada com o delineado da noite passada.

— Havia mulher... — eu falei atraindo sua atenção.

— Onde?

— No carro. — ela pareceu confusa — Peguei o cara na rodovia, segui o carro até uma parte sem segurança e atirei através do vidro. Tinha uma mulher no lado do passageiro, ela me olhou como se... Como se me visse realmente.

— Madden, já se passaram meses.

— Eu sei, mas eu penso nisso às vezes. — confessei — Eu perdi meu canivete naquele dia, eles podem ter chances contra mim.

Ela ergueu a mão, passando o cigarro contra os meus dedos. Eu tragava a merda quando as coisas estavam difíceis, era como um castigo para meu sistema, ela sabia disso.

— Não vão abrir uma investigação.

— Eu não tenho medo, mas eu tenho a sensação de que alguma coisa vai acontecer nesse ano. — eu falei.

— Acha que é um presságio? Esqueceu de acender a vela novamente? — perguntou-me com cautela afirmei devagar.

— É melhor rezar, Madds. — sugeriu um pouco irônica — Lembra o que aconteceu quando esqueceu de acender a vela naquela noite da fogueira?

— Eles levaram você.

— Sou forte agora, ninguém vai me levar. — ela sorriu.

— Mas e se tiver alguém que não é forte?

Nos encaramos por longos segundos, agitados demais. Eu não acreditava na merda que minha família honrava ou coisas do tipo, a noite do diabo era só um pretexto para aterrorizar a cidade por adrenalina. Nada além de epinefrina me cativava.

Após alguns minutos na presença silenciosa e pensativa da minha prima, eu abandonei o esconderijo precisando espairecer, dirigindo em alta velocidade até meu apartamento. Diferentemente do restante da minha família, que habitavam casas enormes e aconchegantes, eu achava mais vital me esconder em um prédio fora do alcance do centro.

O local não era turbulento quanto o restante da cidade, mas o prédio era revestido de luxo contemporâneo. Passei pela recepção muito rapidamente, alcançando o elevador exclusivo para a minha cobertura. Quando as duas portas metálicas se juntaram fechando-se uma de encontro com a outra, meu reflexo surgiu rígido surgiu diante dos meus olhos quando eu sequer lembrava da última vez que olhei atentamente para um espelho.

Havia uma expressão que jamais segurou-se em meu rosto antes. Minha barba crescendo aos limites, os fios do meu cabelo bem maiores caindo sobre meu rosto, minhas sobrancelhas grossas quase juntavam-se uma à outra enquanto um traço duro desenhava-se no meio da testa, como se eu estivesse tenso por muito tempo, como se eu realmente me importasse com algo.

A questão era que eu me sentia mais observado do que gostaria, talvez fosse a desconfiança disfarçada de pânico. Eu não saberia, nunca sentia nenhuma delas, apenas tinha depoimentos de como funcionavam, e o mesmo ocorria com o restante dos sentimentos, eu apenas manipulava através das observações quando achava necessário parecer mais com todos eles.

Como na vez que precisei parecer aterrorizado com os sequestradores de Octavia mortos de forma misteriosa, quando tudo que eu lembrava era da forma que meus golpes da minha faca foram profundos na pele deles. Eu tinha onze anos, minha mãe me abraçou e eu não queria que encontrassem fraqueza ou que percebessem que eu era um monstro sem sentimentos normais para uma criança de onze anos de idade, eu apenas queria que eles não me enxergassem.

As portas do elevador se abriram e eu dei um passo para dentro de casa. O cheiro do ambiente limpo quase me fez gemer, o sol estava desaparecendo através da janela grande o suficiente para cobrir uma parede inteira da sala.

Mas havia algo fora do lugar, apenas percebi quando estava ao meio do cômodos. Puxei o ar com força, meu oxigênio completamente arruinado pelo cheiro de cereja quase insuportável, não havia nada que denunciasse a fruta em meu apartamento.

Atravessei para a cozinha, meu coração golpeou na mesma forma que costumava fazer quando eu dirigia em alta velocidade pelas ruas de Thunder Bay durante as sagradas noites do diabo. Era como se a máscara estivesse presa em meu rosto e o perigo espreitando pelos cantos mais escuros do apartamento. Eu queria chegar perto da morte de novo.

Meu canivete cravado sobre a bancada da cozinha como um bilhete ameaçador, que não poderia ser interpretado diferentemente de um convite para uma diversão noturna. Era o mesmo canivete que perdi no dia do assassinato na rodovia.

Devagar me aproximei da janela, as ruas quase desertas me fizeram vasculhar para baixo com os olhos. Seja quem fosse que tivesse entrado em meu apartamento, tinha saído junto com o cheiro de cereja que se desmanchava como se quase não tivesse existido.

A figura pequena olhou para trás como se estivesse conferindo meu olhar através do vidro, o capuz escuro escondendo-a da minha percepção. Correu pelo primeiro beco entre os dois prédios vizinhos e desapareceu de vez.

Havia algo pequeno demais invadindo meu espaço, brincando com minhas coisas e se escondendo com se eu pudesse pegá-la. O que ela não sabia, era que eu ira pegar mesmo.

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