Eles ficaram em silêncio por um tempo, antes de Tom se levantar abruptamente, quebrando efetivamente o momento.
Harry olhou para ele, inexpressivo.
- Você vai voltar para Hogwarts agora?- ele perguntou, tentando soar despreocupado.
- Você quer que eu volte?- Tom levantou uma sobrancelha.
Harry deu de ombros, não querendo ver o sorriso malicioso que seguiria sua óbvia resposta.
- Você quer?- ele retrucou.- Certamente minha opinião não entra em consideração, oh grande Lorde das Trevas...- ele acrescentou zombeteiramente.
Tom sorriu, encolhendo os ombros de uma maneira irritantemente elegante.
- Ainda não invadi armários ultrassecretos.- disse ele como resposta.- Vamos?
Sirius, Remus, Hermione e os Weasleys estavam do lado de fora da porta quando ele e Tom saíram, todos tentando parecer casual, como se tivessem coincidentemente se reunido lá.
- Ei.- Harry cumprimentou, desajeitado, desconfortavelmente ciente do fato de que ele havia se recusado a se comunicar com eles nos últimos dias.
Para ser justo, ele pensou que era para o bem deles! E ele ainda não tinha certeza se a Horcrux não faria nada.
Todos responderam, com vozes falsamente alegres, como se fingissem que nada daquilo havia acontecido.
- Você está bem?- Sirius e Remus perguntaram, suavemente.
- Sim, estou bem.- respondeu ele, resistindo à vontade de tossir ou algo igualmente autoconsciente, sorrindo.
- Vejo que você está falando de novo.- Rony notou. Harry pausou, cauteloso e esperançoso ao mesmo tempo.
- Sim.- ele disse, sem saber mais o que dizer.
Rony assentiu, torcendo as mãos, sem dizer mais nada também. O silêncio continuou, mas Harry sorriu para o ruivo, de forma conciliatória, sabendo que ele estava tentando fazer as pazes.
Rony sorriu de volta, timidamente.
- Awww, eles são amigos de novo!- Fred e Jorge cantaram de repente, abraçando-se com entusiasmo, enxugando as 'lágrimas' de seus olhos.
- Calem a boca.- Rony resmungou, tornando-se animado novamente.
Parecia que Tom queria revirar os olhos, agarrando o braço de Harry para puxá-lo. O olhar de Harry fixou no rosto do outro; ilegível.
O resto dos ocupantes da Casa Grimmauld parecia tropeçar atrás deles, os membros da Ordem observando Tom com olhos de falcão.
- Onde estamos indo?- Harry perguntou, confuso.
- Eu preciso de chá.- afirmou Tom.- E presumo que este lugar tenha uma cozinha.
- Terceira porta à direita no primeiro andar.- Hermione ofereceu, correndo para alcançá-los.- Tem certeza de que está bem, Harry? Quer falar sobre isso?
- Estou bem.- Harry repetiu, sorrindo, trocando uma breve expressão de entendimento com Rony.- E obrigado, mas não.
Todos chegaram à cozinha, Tom 'alheio' ao modo como todos o encaravam enquanto ele abria as portas dos armários. Toda vez que ele fechava uma, alguém se encolhia.
Harry não pôde deixar de sentir uma terrível sensação de diversão crescendo em seu peito.
- Então...- Remus começou, sorrindo largamente para Tom.- Harry nos contou muito sobre você.
Harry sentiu automaticamente o desejo de se encolher, mesmo quando os olhos de Tom brilharam.
- Oh?- o herdeiro da Sonserina questionou.- Tudo ruim, eu presumo?
Remus parecia ainda mais desconfortável.
- É...
- Obrigado por salvar minha vida.- Sirius interrompeu.- Lá no...
- Eu não fiz isso por você.- Tom o corta, seu sorriso afiado.- Agradeça ao seu afilhado, foi ele quem fechou o acordo.
- Acordo?- Sirius exigiu, a voz repentinamente rouca, a cabeça virando para Harry.- Que acordo? Harry...
Harry forçou uma risada.
- É apenas uma figura de linguagem, Tom está brincando com você.
Ele atirou ao jovem Lorde das Trevas em questão um olhar aguçado, silenciosamente instando-o a jogar bem. Tom apenas piscou de volta para ele, colocando a chaleira para ferver.
Harry não pôde deixar de congelar com a bizarrice disso.
- Você realmente sabe como fazer seu próprio chá?- ele questionou, distraído, sem saber por que isso o surpreendeu. Tom apenas zombou dele em resposta, como se ridicularizando a pergunta. A Sra. Weasley aproximou-se apressada.
- Aqui, deixe-me fazer isso, querido, você é um convidado...como você e Harry se tornaram amigos?
- Nós tentamos matar um ao outro e acabamos em coma.-Tom meditou, dando um passo para trás enquanto a Sra. Weasley se preocupava com o chá, observando-a com olhos críticos e brilhantes.- O resto é história.
Harry quase fechou os olhos em desespero. O silêncio se arrastou por um momento, antes que a Sra. Weasley risse, uma risada tensa. Quando Tom não riu, ela olhou incerta para Harry junto com todos os outros, como se procurasse uma tradução.
- Isso...- Harry admitiu debilmente.- Realmente aconteceu.
Todos ficaram boquiabertos.
- Foi o início de uma linda nova amizade.- Tom afirmou alegremente, contente em descartar a maneira como parecia estar constantemente assustando todos na sala e, francamente, provavelmente completamente ciente do efeito que estava causando, e ganhando algum sensação doentia de valor de entretenimento a partir dele.
Harry resistiu à vontade de levar a palma da mão ao rosto.
Ele só podia imaginar as reações de Sirius e Remus se ele realmente estivesse namorando o psicopata...
Ele estava dividido entre a hilaridade e o horror.
Pelo fato de Tom ainda não ter ido embora, em grande parte suportando seus amigos, embora alternasse entre o tipo de charme agradável que ninguém poderia resistir e o comportamento totalmente psicopata, Harry presumiu que ele ficaria.
Harry teria que falar com ele sobre o seu comportamento, estava claro que Tom estava tentando enervar os membros da ordem ao seu redor.
A verdadeira questão era por quê?
Testa-los? Provavelmente.
Ele conhecia Tom perfeitamente bem e sabia que poderia ter usado todo o charme se quisesse, mas, em vez disso, optou por misturar máscaras e realidade em um borrão indistinguível. Havia uma razão por trás disso.
Sirius puxou Harry de lado mais tarde naquela noite, bem como Harry esperava, uma expressão séria de 'padrinho' em seu rosto.
Harry esperou pelo inevitável.
- Tom parece...- Sirius parou por um momento, procurando por uma palavra.- Interessante.
- Ele é.- Harry disse, baixinho, sabendo que pelo menos isso era verdade, e agradecendo a qualquer divindade que cuidasse dele (porque certamente não era o Destino!) por Sirius não ter dito algo como 'legal' ou 'amigável', pois Tom não era nenhum dos dois.
- Vocês parecem próximos.- Sirius persistiu.
- Acho que sim.- disse Harry, sem se comprometer, olhando para o homem mais velho em busca de qualquer sinal de suas intenções.
Havia apenas preocupação, alívio e algo mais...amor? Mas ele não sabia muito bem reconhecê-lo. Sirius estava quieto, encostado na parede, lutando pelas palavras certas.
- Estou preocupado com você.- Sirius disse, finalmente. Harry não pôde deixar de sorrir, uma onda de carinho inundando suas entranhas. Era bom que Sirius se importasse.
Ele não respondeu embora. Sirius o estudava com uma intensidade que Harry não conhecia do ex-presidiário, já que Sirius geralmente era tão alegre e despreocupado.
Harry não tinha certeza se essa nova solenidade combinava com ele, ou talvez fosse apenas diferente e novo.
- Você...você é muito dependente dele.- Sirius murmurou, sua voz ainda mais suave agora. Harry sentiu uma pontada de choque, mas Sirius continuou antes que ele pudesse responder.- E honestamente, garoto, pode ser um pouco alarmante.- seu padrinho sorriu fracamente, como se para aliviar a tensão crescente.- Eu nunca vi nada parecido...vocês meio que orbitam um ao outro...
Sirius estava pisando com cuidado agora, estudando as feições de Harry em busca de expressão. Foi a primeira vez que Harry realmente percebeu que Sirius havia sido criado pelos Blacks, tradicionais da Sonserina.
Harry devolveu o olhar diretamente.
- Como assim?- ele perguntou, neutramente.
- Vocês não conseguem tirar os olhos um do outro.- Sirius explica, categoricamente.- Quando ele está na sala você...se posiciona ao lado dele, e ele ao seu lado...você fica completamente absorto. É um pouco intenso de se testemunhar.
- E é por isso que você está preocupado?- Harry disse, bastante certo de que deveria estar sentindo algo mais do que apatia em relação a este tópico de conversa.
Ele estava exausto de ouvir isso um milhão de vezes antes.
Sirius definitivamente parecia aflito agora, inquieto e não familiarizado com esse papel de...pai? Era um papel de pai? Harry não sabia dizer, ele não tinha ninguém para comparar, exceto...ele, e era muito doloroso pensar nele agora, muito cru.
- Não é exatamente normal.- Sirius murmurou, parecendo como se dizer tal coisa o matasse.
- É, bem.- Harry tentou ignorar.- Nem eu sou.
- Tome cuidado.- a voz de Sirius tornou-se suplicante, e isso apertou o coração Harry mais do que qualquer coisa, provocando uma forte emoção.
Ele engoliu em seco, enquanto Sirius o dispensava para ir dormir.
Gina passou por ele, ainda mais pálida do que antes, ela parecia esgotada e sem vida. Harry foi para seu quarto, ele agora estava dividindo com Tom, porque a maioria dos outros havia empalidecido com a ideia de estar dormindo vulnerável na mesma área que o sonserino.
A forma como todos o alertavam sobre Tom estava começando a ficar um pouco repetitivo; de maneira sinistra.
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