OLÍVIA POTTER [6]

By _autorah_

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▻ Em meio ao caos da crescente influência de Lord Voldemort no mundo bruxo, Olívia Lílian Potter se prepara p... More

OLÍVIA POTTER [6]
SEXTO ANO
1 - Olívia Potter
2 - Lord das Trevas
3 - Josh
4 - O Espião da Sonserina
5 - A Queda da Família Malfoy
6 - A Missão de Draco Malfoy
7 - O Novo Lar de Sirius Black
8 - A Teoria de Harry
9 - Clubinho do Slugue
10 - O Último Primeiro Dia de Aula
11 - A Maldição de Katie Bell
12 - Traidor de Sangue
13 - A Festa de Natal de Slughorn
14 - A visita de Scrimgeour
15 - A Lembrança de Slughorn
16 - As Treze
17 - O Massacre de Oak Creek
18 - O Presente de Aniversário de Rony
19 - Entre Estrelas e Promessas
20 - O Último Passeio a Hogsmeade
21 - A Tarefa de Olívia Potter
23 - A Grande Mentira de Alvo Dumbledore
24 - O Medalhão de Slytherin
25 - A Missão da Sala Precisa
26 - O Raio Sobre A Torre
27 - Aqueles Que Se Foram
28 - Maeve
29 - A Última Viagem de Trem
Agradecimentos

22 - A Sétima Horcrux

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By _autorah_

Porque talvez eu tenha descoberto uma coisa que eu não queria descobrir.

⊱⋅ ──────────── ⋅⊰

— Deus, como você é estranha. — Marcel zombou, com um livro pousado em cima do peito. Ele tinha parado a leitura assim que ela chegou.

Estavam os dois no dormitório da Corvinal, já que Olívia tinha a intenção de contar em algum lugar reservado tudo o que descobrira sobre as horcruxes. Audrey e Josh estavam (como sempre) atrasados, então ela passara última meia hora contando tudo só para Marcel.

— Eu não sou estranha. — Olívia reclamou, enquanto transcrevia a última memória em seu diário de anotações das aulas de Dumbledore, o qual ela carinhosamente havia apelidado de Diário de Horcruxes. — Eu sou uma bússola mágica para objetos que carregam magia negra. Isso não é estranho.

— Não, imagina. — Marcel reprimiu uma risada. — Tudo nessa sua vida bizarra é bem normal.

— Calado. — Ela parou de escrever, olhando para ele. O garoto estava usando uma camiseta azul-escura trouxa que Olívia estava, há meia hora, planejando como roubar dele num futuro próximo sem que Marcel percebesse. — Gosto dessa camiseta.

— Jura? — Ele perguntou com um tom de cinismo que denotava que ele sabia exatamente o que ela estava querendo.

— É, cai bem em você. — Ela traçou com os dedos o caminho do antebraço dele até seu rosto. Marcel sorriu, puxando sua mão e pressionando os lábios contra os dedos dela. — Sabe em quem ela cairia ainda melhor?

— Tenho certeza de que você vai me dizer. — Ele riu, segurando a mão dela contra o peito.

— Em mim. — Olívia anunciou, radiante. — Deveria dar essa camiseta para mim. Eu fico bem de azul.

— Você fica bem em qualquer coisa.

— Isso também é verdade. — Ela concordou, dando um sorriso pidão. — E aí? Quer fazer uma troca? Você me dá essa blusa e eu não insulto você pelas próximas duas horas?

— Não é muito vantajoso para mim, seus insultos completam o meu dia. — Ele contou, radiante. Então puxou o braço de Olívia, fazendo-a se desequilibrar sobre ele, antes de o garoto firmá-la pela cintura.

— Tá, então, se não me der a blusa, não beijo mais você até amanhã. — Ela ameaçou.

— Não acho que você aguenta até lá. — Ele provocou, fechando os dois braços ao redor dela.

— Claro que aguento. — Olívia disse com firmeza, inclinando-se para trás para se afastar, mas ele manteve-a presa, sem fazer menção de soltá-la. O sorriso no rosto dele se tornou ainda maior. — Com licença, pode tirar suas mãos da minha pessoa?

Ele balançou negativamente a cabeça, sorrindo enquanto a puxava para mais perto.

— Sério? — Olívia fez cara feia, quando ele se aproximou, roçando os lábios nos dela, fazendo os pelos da sua nuca se arrepiarem. — Vai à merda.

— Talvez depois. — Marcel riu contra a curva do pescoço de Olívia, depositando um beijo ali. Ela engoliu em seco, passando os braços ao redor do pescoço dele. Ele beijou-a ali mais algumas vezes, antes de voltar o foco para a sua boca, fazendo Olívia beijá-lo de volta. Ele riu. — É, acho que isso significa que você perdeu.

— Eu não... perco. — Ela destacou, enquanto ele a beijava. — Eu ganhei, você só não sabe disso.

— Jura? — Ele se afastou, para olhá-la nos olhos.

— Juro. — Olívia respondeu. — Consegui beijar você e ainda vou roubar a camiseta quando você não estiver olhando. Isso é ganhar.

— Duvido muito de que essa lógica exista. — Ele desdenhou.

— Se eu inventei, existe. — Ela piscou para ele, voltando à sua posição original para terminar a anotação no diário. O garoto se sentou na cama, apoiando a cabeça no ombro de Olívia para vê-la escrever.

— Como isso de destruir as horcruxes funciona exatamente? — Ele perguntou. — É só você colocar seu sangue e... pronto? Uma horcrux é destruída?

— Não. — Ela respondeu. — Funcionou com o diário, porque ele já estava quase que completamente acabado. Dumbledore me disse como ele destruiu o anel. Não foi só o meu sangue, ele usou a espada para rachar o metal. Meu sangue destrói, mas eu preciso garantir que o objeto seja profundamente e irreparavelmente danificado. Posso usar qualquer coisa. Uma faca. Uma pedra. Só tenho que danificar.

— E a cobra?

— Suponho que a tradução para "profundamente e irreparavelmente danificado" em um ser vivo signifique que ele precisa morrer. — Olívia falou.

— Certo. — Ele franziu as sobrancelhas. Ficou em silêncio pelos próximos minutos. — Nunca tinha ouvido falar de nada assim.

— Horcruxes? E quem tinha?

— Não as horcruxes. Você. — Ele disse, pensativo. — Mesmo no mundo da magia, as coisas funcionam obedecendo a uma lógica. Profecias, por exemplo, contam algo que pode acontecer, mas que não precisa realmente acontecer, por isso que nem toda profecia se realiza. Não é completamente mágico, entende, se a pessoa da profecia não mover um dedo, ela não se torna real. Mas você... se só o seu sangue pode destruir as horcruxes, você se torna meio que... mística. Como se você tivesse nascido para isso. É meio... surreal existir algo assim.

— Então eu meio que estou quebrando padrões e inovando no jeito como as coisas no mundo mágico funcionam? — Olívia abriu um sorriso. — Ah, sabia que até o universo me achava especial. — Ela falou, colocando um ponto final no fim da anotação.

Marcel beijou o ombro dela, pegou o caderno e começou a ler e reler as anotações antigas, como vinha fazendo nas últimas semanas.

— Fico feliz que a minha vida bizarra sirva de fonte de conhecimento para você. — Ela disse, irônica.

— É muito educativo. — Ele falou distraidamente, virando a folha. — Olívia.

— Hm?

— Nada disso te assusta? — Marcel perguntou seriamente, olhando para ela.

— Tudo isso me assusta. — Foi o que ela respondeu. — Eu só finjo que não, ou não vou conseguir fazer nada na vida.

Marcel piscou algumas vezes, antes de abraçá-la por trás com um pouquinho mais de força. Olívia se apoiou contra o peito dele, sentindo uma enorme dor de cabeça. Não tinha dormido muito bem na noite anterior, repassando tudo o que sabia sobre as horcruxes na sua cabeça. Não sonhara com nenhuma delas durante as poucas horas de sono que teve e, por mais que Dumbledore dissesse que os palpites dela poderiam ser os mais úteis para achar as horcruxes, Olívia não tinha ideia de como magicamente achar o ponto no globo onde uma delas poderia estar.

A porta se abriu alguns minutos depois. Josh entrou e fechou a porta, liberando Audrey para sair debaixo da capa de invisibilidade dele.

— Eca. — Josh disse, quando os viu abraçados. — Eles vão fazer isso o tempo todo agora?

— Me poupe. — Olívia mostrou a língua para ele. — Por acaso já reclamamos das sessõezinhas de amor e arco-íris entre você e a Sonsa Parker?

— O tempo todo! — Josh exclamou. — Vocês fazem som de vômito toda vez que a gente se beija!

— Som de vômito? — Olívia olhou para Marcel, confusa. — Não me lembro de fazermos isso.

— Nem eu. — Marcel assumiu uma expressão tão confusa quanto a dela. — Que coisa imatura de se fazer, não é do nosso feitio.

Josh ficou vermelho.

— Seus dois...

— Okay, crianças, já chega! — Audrey cortou o assunto, se jogando na cama de Marcel, de frente para os outros dois. — Horcruxes! Anda, eu quero saber de tudo!

Josh se juntou a ela, os dois ouvindo atentamente a tudo o que havia acontecido na noite anterior.

— Então você é um unicórnio! — Josh exclamou, animado. Olívia revirou os olhos.

— Não sou um unicórnio, eu aparentemente, posso destruir as horcruxes.

— Consegue dizer onde está alguma agora? — Josh perguntou.

— Não.

— Então seja um unicórnio melhor. — Ele provocou.

Marcel deixou escapar uma risada. Olívia usou o diário para bater no braço dele, então no de Josh também. Então no de Marcel de novo.

— Foco, crianças! — Audrey disse, irritada, arrancando o diário das mãos de Olívia. — Sério, o que você está pensando disso tudo?

— Bom, o diário e o anel foram destruídos. Mas não sabemos onde está a taça, nem o medalhão, nem a sexta horcrux, que ainda nem sabemos o que é. E tem a cobra, que sabemos onde está, claro: com Voldemort. E tenho certeza de que Voldemort vai dar licença para me deixar matá-la.

— Dumbledore também disse que está atrás de uma há meses, lembra? — Marcel disse. — Talvez ele esteja perto de achar.

— Tomara. Achamos que a sexta horcrux pode ser um objeto importante da Grifinória ou da Corvinal. — Olívia falou. — O medalhão pertenceu à Slytherin e a taça pertenceu à Hufflepuff. Na Grifinória, eu só conheço a espada, que está no escritório de Dumbledore. Existe alguma relíquia da Corvinal?

— Quer dizer da Rowena Ravenclaw? — Josh pensou por alguns instantes. — Não sei muito coisa dela, na verdade. Luna é obcecada pelas lendas, ela deve saber.

— Mas, mesmo que as lendas fossem reais, os pertences dela se perderam depois que a filha dela foi assassinada. Como Voldemort teria achado? — Marcel perguntou. Josh sacudiu os ombros.

— A filha dela foi assassinada? — Olívia quis saber mais.

— É. Nunca ouviu a história? — Audrey se empolgou, como sempre quando envolvia fofoca. — O Barão Sangrento matou a filha da Ravenclaw, Helena, quando ela não correspondeu ao amor dele. Helena é fantasma da Torre da Corvinal desde então. Ela nunca aceitou a própria morte, então nunca conseguiu seguir em frente.

— E como ela é? — Olívia quis saber.

— Nós quase nunca a vemos. Ela não tolera alunos. — Marcel respondeu. — Josh uma vez tentou fazer uma piada sobre fantasmas na frente dela, e ela ficou tão irritada que atravessou ele umas cinco vezes.

— Meus órgãos internos nunca mais foram os mesmos. — Josh colocou a mão sobre a barriga com uma expressão tensa.

𖨡

Katie Bell voltou a Hogwarts na segunda-feira. Ela foi recebida com abraços e gritinhos de comemoração, já que agora estava bem de novo. Olívia teve a impressão de ter visto Draco engasgar quando viu Katie adentrando o salão. Não era de se admirar, considerando que ele fora o responsável pela passagem forçada dela ao St. Mungus. O sonserino foi embora instantes depois, com o mesmo aspecto magro, pálido e doente que havia adquirido nos últimos meses.

— ... aquele colar... você agora lembra quem lhe deu? — Harry estava perguntando.

— Não. — Respondeu Katie, sacudindo a cabeça pesarosa. — Todo mundo está me perguntando, mas não faço a menor ideia. A última coisa de que me lembro é que entrei no banheiro feminino no Três Vassouras.

— Então, definitivamente você entrou no banheiro? — Indagou Hermione.

— Bem, eu sei que abri a porta, então imagino que quem me lançou a Maldição Imperius estava parado ali atrás. Depois disso, minha memória apagou tudo até as duas últimas semanas no St. Mungus. Escutem, é melhor eu ir andando, a McGonagall é bem capaz de me passar uma frase de castigo, mesmo sendo o primeiro dia da minha volta...

Katie apanhou a mochila e seus livros e correu atrás dos amigos.

— Então deve ter sido uma garota ou uma mulher quem deu o colar a Katie. — Arriscou Hermione. — Para estar no banheiro feminino...

— Ou alguém com a aparência de uma garota ou de uma mulher. — Interpôs Harry. — Não esqueça que existe um caldeirão de Polissuco em Hogwarts. Sabemos que roubaram um pouco...

— É, só que sabemos que Draco estava com McGonagall e acho que concordamos que Crabbe e Goyle não têm competência para lançar um Imperius em ninguém. — Olívia disse.

A não ser que...

— E se o Draco lançou a Imperius em alguém? — Olívia se dirigiu aos tropeços até a mesa da Corvinal. — Aí essa pessoa foi quem lançou a Imperius em Katie e a obrigou a carregar o colar? Faz sentido, não faz?

Audrey engasgou. Josh ficou meio verde.

— É uma Maldição Imperdoável! — Audrey exclamou. — Não acho que Draco faria isso.

Olívia inspirou fundo. A fé que tanto Audrey quanto Josh insistiam em ter em Draco às vezes era muito exaustiva de lidar.

— Amo você, mesmo, mas não temos mais doze anos. Draco não está do nosso lado faz um tempão. — Ela falou à loira, antes de se voltar para Josh. — Acha que faz sentido?

— Talvez. — Josh apoiou o rosto entre as duas mãos, parecendo seriamente derrotado.

Olívia não contara a nenhum dos dois sobre a sua briga com Draco, semanas atrás. Nem sabia direito o porquê, mas não via como fazer Audrey e Josh terem ainda mais raiva de Draco poderia ser, de alguma forma, útil. Draco passava a maior parte do seu tempo sozinho, provavelmente atormentado pela marca que ele tinha no braço. Olívia não precisava fazer as únicas duas pessoas que se importavam com ele no momento odiarem-no também. Parecia muito com o ato de chutar quem já estava no chão, o que ela provavelmente deveria fazer, depois de ele dizer que ela era uma hipócrita, mas infelizmente tinha sua maldita moral estúpida.

Olívia pensara em encurralar Draco novamente, mas suas checagens diárias no Mapa do Maroto confirmavam que ele já não estava mais indo à sala secreta, além do fato de que a alternativa de falar com ele novamente estava em último lugar na sua lista recente de desejos. E, além disso, Olívia agora tinha achado para si uma nova obsessão no Mapa do Maroto: Helena Ravenclaw. A fantasma da Torre da Corvinal quase nunca saía de lá, e parecia pressentir toda vez que Olívia se aproximava (mesmo quando a garota estava embaixo da capa de invisibilidade), porque sempre atravessava uma parede e simplesmente sumia, como se estivesse fugindo dela. Depois da sexta tentativa fracassada de encurralar a fantasma, Olívia estava profundamente frustrada.

— Eu avisei. — Marcel disse. — Ela não suporta alunos.

— É, você avisou, meus parabéns. — Olívia disse, mal-humorada. — Feliz?

— Radiante. Não me viu dando pulinhos? — Marcel arrastava-a escadaria abaixo. Por algum motivo estúpido, ele achara que aquela era uma hora excelente para ir até a cozinha.

— Eu não estou com fome. — Olívia resmungou.

— Que bom, chata. Não vamos comer.

Depois de fazerem cócegas na pera do quadro que dava entrada para a cozinha (o que Olívia geralmente achava engraçado, mas, agora, só a deixara mais irritada), os dois encontraram Luna Lovegood comendo bolinhos de amora, enquanto conversava com Dobby.

— Ah, oi, gente! — Luna acenou para ambos, um sorriso doce surgindo em seu rosto. Seu longo cabelo loiro estava preso num rabo de cavalo, deixando em evidência seus brincos feitos com cenourinhas.

— Que bom que te achamos aqui, Olívia quer falar com você. — Marcel disse, praticamente empurrando Olívia para mais perto da loira. A Potter olhou para ele com uma cara feia.

— Minha senhorita Olívia. — Dobby se adiantou a direção dela, com os olhos brilhando, um par de tênis brancos reluzindo em seus pés. — Como é bom revê-la! Dobby fica muito feliz quando Olívia Potter vem aqui. Olívia Potter não aparecia há muito tempo.

— Desculpe. — Olívia pediu, sorrindo para ele com culpa. — Tenho estado ocupada. Mas saiba que você vai sempre ser meu elfo favorito.

Ocupada tentando conciliar seus estudos com sua paranóia recém-adquirida com as horcruxes, ela decidiu omitir.

— Meu senhor Marcel tem que experimentar a sopa de cogumelos, hoje foi Dobby quem fez. — Dobby arregalou os olhos para o corvino, num tom mandão.

— Carinha, você ainda não desistiu?! — Marcel zombou, fazendo Dobby estufar o peito. Desde o ano anterior, quando Olívia e Marcel começaram a ir com frequência até a cozinha, Dobby fazia questão de provar para Marcel que ele era um elfo mil vezes melhor do que Cal, a elfa da família Legrand de quem Dobby aparentemente tinha uma opinião muitíssimo negativa.

— Cal pesa demais a mão no sal, Dobby se lembra muitíssimo bem! — Dobby acusou. — Além disso, Cal usa roupas! É um disparate. E pior, e pior: roupas coloridas.

— E o que é isso aí que você está usando mesmo? — Marcel indicou os tênis dele.

Dobby cruzou os bracinhos finos, fazendo uma careta que lembrava muito birra de criança. Luna gargalhou. Olívia não sabia como Marcel tinha coragem de zombar dos elfos. Ela geralmente pisava em ovos com todos eles, por medo de acabar dizendo algo que os faria se castigarem. Olívia às vezes tinha a impressão de que Marcel se sentia mais à vontade entre os elfos do que entre boa parte dos outros alunos.

— Mas Cal é uma elfa de família, não deveria usar roupas chamativas como as que ela usa! — Dobby argumentou, empinando o nariz. — Dobby é um elfo livre! Dobby pode.

— Tá, você é um elfo livre, nisso você ganha. — Marcel concedeu. Dobby sorriu, satisfeito.

— O que vieram fazer aqui? — Luna olhava para os dois, intrigada.

— Falar com você tem sido muito difícil ultimamente. — Marcel disse para a corvina, com um olhar de desconfiança. — Por onde você tem andado?

— Por aí.

— E você tem andado "por aí" com quem? — Olívia quis saber.

Luna ficou vermelha.

— Bom... Neville gosta de me ouvir falar sobre Bufadores de Chifre Enrugados. E eu gosto de ouvir ele falar sobre plantas.

— Ah, não, Luna, tinha que ser alguém da Grifinória? — Marcel fez uma careta.

— Se você quiser que eu te azare, é só falar. — Olívia avisou para o garoto. — E um da Grifinória é melhor que os da Corvinal, Luna, os de lá se acham melhores que os outros por algum motivo.

— Ei, não me acho melhor que ninguém. — Marcel discordou. — Você já faz isso por nós dois. E me diz um garoto da Grifinória que não seja uma porta?

— Neville não é uma porta. — Luna disse em voz baixa, ruborizado mais. — Ele é muito inteligente. Muito mesmo. Mais do que vocês imaginam.

— É verdade. — Olívia apoiou-a. — E eu vou fazer um interrogatório sobre isso depois, Luna, porque, no momento, preciso te perguntar uma coisa. — Disse, sentando-se de frente para ela.

— Pode perguntar. — Luna arregalou os olhos claros.

— Preciso saber se você conhece alguma relíquia que tenha pertencido à Rowena Ravenclaw ou à filha dela. Digo, se existe algum objeto famoso que todos atribuam à Corvinal, sabe?

— Ora, mas é claro que existe. — Luna pareceu ser atingida por um nível novo de empolgação. — Você nunca ouviu falar do Diadema de Rowena Ravenclaw?

— Diadema? — Olívia franziu a testa. — E o que é um diadema?

— É uma espécie de coroa. Como uma tiara.

Olívia foi atingida pelo choque. Uma tiara.

— Liv, por que você anda desenhando essas coisas? — Audrey tinha perguntado para ela antes da festa de Natal de Slughorn, enquanto folheava seu caderno de desenho.

— Que coisas? — Hermione se virou para olhar o caderno.

— Tenho sonhado com elas. — Olívia explicou. — O tempo inteiro.

— Pesadelos?

— Não, só sonhos normais. Tranquilos. Mas não consigo tirar da minha cabeça. Quando se repete muitas vezes, eu desenho. Sonhei com uma tiara ontem, mas não tive tempo para desenhar.

Ela já tinha sonhado com uma tiara. Já se passaram muito meses desde então, e ela esquecera de desenhar em seu caderno, mas... tinha sonhado com uma tiara. A imagem voltou à sua mente num borrão. Ela lembrava mais ou menos como era.

— Uma tiara? — Olívia se adiantou a abrir a mochila de Marcel, já que tinha deixado seu caderno no dormitório. Ela puxou pergaminho e pena. Luna se inclinou sobre a mesa, vendo-a rabiscar um esboço sobre a superfície do papel. Quando acabou, Olívia mostrou o desenho para Luna. — Uma tiara assim?

— Exatamente assim! — Luna arregalou os olhos, maravilhada com o desenho. — Mas... espera, achei que você não conhecesse.

— Ei, já vi isso antes. — Marcel franziu as sobrancelhas, observando o desenho. — Essa tiara.

— O quê? — Olívia olhou para ele, espantada. — Onde?

— Claro que já viu. — Luna falou como se fosse óbvio, achando graça na surpresa do corvino. — É a tiara escupida na estátua da Rowena Ravenclaw que está no nosso salão comunal. Não acredito que não conheça a história.

— Nunca ouvi. — Ele falou, curioso. — Qual que é?

— Bem, segundo a lenda, o diadema expande o conhecimento de quem quer que venha a usá-la. — Luna explicou. — Era um símbolo do poder e da sabedoria da Rowena, algo que a diferenciava dos demais fundadores. Na história, a filha da Rowena, Helena, queria ser tão grandiosa quanto a mãe, então roubou o diadema para si e fugiu de Hogwarts. O Barão Sangrento, que era apaixonado por ela, foi enviado para trazê-la de volta para Hogwarts. Helena não o amava, porém, então ele teve um surto e a assassinou. Tomado por culpa, o Barão Sangrento se matou logo depois. Os dois voltaram a Hogwarts como fantasmas, e o diadema foi perdido para sempre. — Quando terminou de falar, Luna suspirou e comentou: — Emocionante, não?

Olívia esperou até que saíssem da cozinha para falar o que estava na sua cabeça.

— É a tiara! — Ela externou, agitada. — Coroa, diadema, dane-se. É aquilo!

— Como tem certeza de que é uma horcrux? — Marcel perguntou, baixando a voz quando um grupo de alunos da Lufa-Lufa passou por eles.

— Eu sonhei com ela. Há meses. Antes da festa de Slughorn. É aquilo. Voldemort queria uma coisa de cada fundador, não é? Faz todo o sentido.

— Faz. E nos poupa o trabalho de ter que achar onde Helena o deixou, porque Voldemort já fez isso. — Ele disse. — Mas como diabos vamos descobrir onde ele deixou?

— Eu não sei. — Olívia respondeu, frustrada.

A tiara poderia estar com o próprio Voldemort. Poderia estar enterrada numa vala profunda na Antártica ou até mesmo no fundo do oceano Atlântico. Mas que grande e colossal merda!

— Pelo menos já sabemos o que é. — Josh falou a ela na tarde seguinte. — Já disse para o Harry sobre o diadema?

— Estou evitando Harry e a obsessão estúpida dele com o Draco, por motivos de "não aguento mais". — Olívia disse, revirando os olhos. — Algum dia eu conto, quando ele estiver merecendo.

— Hum... mas você sabe que ele está certo, não sabe? — Josh perguntou, seu rosto endurecendo a cada palavra. — Odeio isso, mas... é o fato. Draco é um...

— Um Comensal da Morte, o anticristo, o diabo na terra, já entendi. — Ela falou com impaciência. — Só estou sem paciência para essa discussão pela milésima vez.

— Por que você está me seguindo, aliás? — Josh quis saber. — Estou indo ao banheiro, sabe, é bem inapropriado.

— Porque você deveria me ajudar a pensar, e você só está me enrolando há horas. — Ela fez drama. — Preciso do seu cérebro de mini gênio: onde Voldemort esconderia o diadema de uma fundadora? Vamos, finge que é a pergunta para entrar no salão comunal.

— Então eu provavelmente me sentaria no chão e esperaria até aparecer alguém que soubesse responder. — Josh respondeu, parecendo muitíssimo satisfeito em frustrá-la. — A bússola é você, se vira.

— Eu não sou uma bússola. — Olívia fez cara feia, enquanto eles se aproximavam si banheiro. — Eu sou sua melhor amiga, e você está sendo um melhor amigo muito inútil, tipo, muito mesmo.

— Mas que pena. — Ele deu uma risadinha, parado do lado de fora do banheiro. — Apesar de eu ter um total de zero ideias, eu prometo que te ajudo a pensar, mas agora... com licença, preciso de privacidade para usar o banheiro.

— Privacidade, uma o... — Olívia parou de falar quando Josh de repente ergueu o indicador, num gesto para Olívia fazer silêncio. — O que foi?

Ela se aproximou da porta, colando o ouvido à porta. Ouviu estampidos de feitiços.

— Estão duelando dentro do banheiro? — Josh franziu a testa. — Consegue ouvir quem...

Olívia não sabia o porquê, mas sentiu um arrepio percorrer seu corpo, enrijecendo sua coluna. De um segundo para o outro, sem que conseguisse desenvolver qualquer raciocínio para explicar isso, simplesmente sabia que era Harry quem estava dentro do banheiro.

Ela esmurrou a porta.

SECTUMSEMPRA!

Os dois entraram a tempo de ver exatamente quando Draco foi atirado para trás e caiu no chão inundado por água.

— Mas o que... — Josh parou de falar quando viu o sangue jorrando do corpo do sonserino.

Olívia não costumava ter problema algum com sangue quando era mais nova. Após a terceira tarefa do Torneio Tribruxo, porém, depois de quase perder todo o sangue que tinha por causa de um feitiço de magia negra de Voldemort, ver o líquido vermelho sempre a deixava em pânico, não importava a situação. Josh e Harry se jogaram no chão ao redor de Draco. Olívia ficou paralisada como uma estátua, usando de todo o seu esforço para não vomitar.

Como se uma espada invisível o tivesse cortado, sangue jorrava do rosto e do peito de Draco. Em poucos segundos, o uniforme branco dele estava encharcado em água ensanguentada.

— O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?! — Josh berrou, olhando para Harry.

Harry estava em choque, encarando Draco. Ele não conseguia falar.

— Snape! — Olívia conseguiu articular, sentido como se alguém tivesse enfiado uma bola de tênis em sua garganta. Draco estava branco como papel, sangrando no chão. — Alguém... alguém precisa ir...

Josh saiu correndo.

Olívia estava com dificuldade de respirar. Oclumência, se lembrou, afastando o pânico para tão fundo na sua mente que podia esquecer que ele estava lá. Ela se ajoelhou ao lado de Draco, puxando a varinha do bolso. Suas mãos tremiam. A água misturada com sangue estava ao seu redor, manchando suas roupas e suas pernas. O peito de Draco subia e descia cada vez mais devagar.

— O que você está fazendo? — Harry perguntou, vendo-a aproximar a varinha de um dos cortes de Draco, próximo ao pescoço.

Marcel tinha tentado ensinar para ela alguns feitiços simples de cura, meses atrás. Ela não deu muita atenção na época, porque Medimagia era difícil e era uma chatice. Agora, porém, estava se arrependendo profundamente por não ter prestado mais atenção, porque não conseguia lembrar o movimento certo para fazer com as mãos. Não conseguia lembrar a última palavra do encantamento. O sangue jorrava das feridas dele sem cessar.

Olívia olhou para Draco, em agonia. Ele não podia morrer. Ele tinha dezesseis anos. Ele era um Comensal da Morte, mas não era um pessoa ruim, por mais que Olívia estivesse se esquecendo disso com frequência ultimamente. Draco não era um assassino, ele era só um garoto. Ele havia sido seu primeiro melhor amigo, e agora estava ali sangrando na sua frente, e ela não sabia o que fazer.

Olívia fechou os olhos, tentando lembrar o que Marcel tinha ensinado para ela. Você tem que fazer movimentos de X ao longo do corte... Ela abriu os olhos e deixou as palavras virem à sua boca, enquanto movia a varinha. O problema era que, por algum motivo, o corte começava a fechar e parecia desistir no meio do caminho, sangrando ainda mais do que antes. Olívia franziu as sobrancelhas. Tinha algo errado.

— Que feitiço foi esse que você usou? — Ela perguntou para Harry.

— Foi... Sectumsempra.

Olívia nunca tinha ouvido falar.

— Que merda de feitiço é esse? — Ela perguntou. Harry ficou branco.

— Eu li no livro de Poções. Dizia que era "Para inimigos", então eu...

— Então você tentou matar o Draco?! — Olívia esganiçou-se.

— Eu não sabia o que o feitiço fazia. — Harry dizia, olhando para Draco com remorso no olhar. — Olívia, eu não... eu não sabia...

— Tudo bem... tudo... tudo bem. — Ela murmurava, apavorada. Suas mãos estavam sujas de sangue. Ela quase não conseguia mais perceber o movimento de subida e de descida do peito de Draco. — Harry, por que Snape não está aqui?!

Harry se levantou e saiu correndo.

— Você vai ficar bem. — Olívia disse, olhando para Draco. — Aguenta só um pouquinho. Por favor, Draco, só mais um pouco.

Os minutos pareciam se arrastar. Ela tentava não olhar para as suas mãos nem para o chão nem para Draco, porque estava tudo vermelho.

— Saia! — Snape rugiu, adentrando o banheiro.

Olívia se levantou de imediato. Harry e Josh estavam com as roupas sujas de sangue como as dela. Os três ficaram ali de pé, assistindo a Snape murmurar um encantamento que parecia quase uma canção. O fluxo de sangue pareceu diminuir; Snape limpou o coágulo do rosto do sonserino e repetiu o encantamento. Agora os cortes pareciam estar fechando. Olívia registrou com alívio quando Draco se moveu, murmurou algo incompreensível e apagou novamente. Snape murmurou o encantamento mais duas vezes, antes de levitar Draco com um aceno da varinha.

— Potter... você espere por mim aqui. — Snape tinha a voz gelada de fúria. — Vocês dois, é melhor não estarem aqui quando eu voltar.

Quando Snape saiu para levar Draco à ala hospitalar, Olívia se encaminhou para a pia para lavar suas mãos o mais rápido possível, mas o sangue Draco também estava impregnado em seu uniforme. Josh se trancou em uma das cabines. Os outros dois ouviram-no vomitar. Quando ele saiu, foi direto para o Harry.

— Qual o seu problema?!

— Eu não sabia o que o feitiço fazia quando o usei. — Harry esfregou o rosto com uma das mãos. — Eu não... eu não tinha ideia...

— VOCÊ NÃO TINHA IDEIA?! — Josh berrou. — ELE PODERIA ESTAR MORTO! VOCÊ É BURRO OU O QUÊ?

— O livro de Poções só dizia que era "para inimigos" e eu não sabia o que fazia. Nem tinha pensado em usar, só que estávamos duelando e eu... foi automático.

— Bom, meus parabéns! Seu primeiro quase homicídio, como se sente? — Josh perguntou, amargo. Harry baixou a cabeça, pálido. — Você é completamente sem...

— Josh. — Olívia disse em voz baixa, fazendo o corvino olhar para ela.

— "Josh" o quê? Draco poderia estar morto. — O corvino exclamou, olhando para Harry com raiva enquanto se aproximava dele. — Não pode sair testando feitiços nas pessoas, seu imbecil. Você deveria ser um pouco menos estúpido que isso.

— Josh! — Olívia chamou-o novamente, quando o corvino se aproximou de Harry mais um passo. Os dois punhos de Josh estavam cerrados. — Para.

Josh mordeu a língua, antes de se dirigir à saída e bater a porta do banheiro com força atrás de si.

Harry escorregou pela parede do banheiro até se sentar no chão, encarando a poça de sangue no chão com um olhar vazio.

— Eu não sabia. Se eu soubesse, eu nunca... eu nunca...

Ele engoliu em seco.

— Pelo menos agora você não é mais a única de nós que fez uma coisa horrível.

𖨡

Quando acordou, as primeiras coisas em que Draco pensou foi que gostaria de continuar dormindo, que seu corpo inteiro doía e que ele queria matar Harry Potter.

— ... se acalmar. Isso não é nada demais.

— Não posso me acalmar! Isso é uma catástrofe! — Uma voz estridente lamentava. — Esqueci a que sabor ele é alérgico. E se ele comer um bolinho e começar a inchar como um balão?

— Audrey, ele não vai inchar como um balão. — Era a voz de Josh.

— Eu trouxe de limão, de morango e de amora. Não consigo lembrar o sabor a que ele tinha alergia. — Audrey falava. — E se for amora? E se ele comer um bolinho de amora, e a garganta dele começar a fechar, e ele achar que eu tentei matar ele?

— Amor, são só bolinhos. Todo mundo gosta de bolinhos. Relaxa.

— Laranja. — Draco falou com a voz rouca, fazendo esforço para abrir os olhos sem ser cegado pela luz. Audrey e Josh estavam parados lado a lado, encarando-o. Ela segurava uma cesta de bolinhos enorme no colo. — Tenho... alergia a laranja.

— Como você se sente? — Audrey colocou a cesta na mesa de cabeceira, analisando-o com preocupação.

— Como se Harry Potter tivesse tentado me matar. — Ele fez uma tentativa de se sentar, mas a dor veio de tantos pontos em seu corpo que ele achou melhor se mover o mínimo possível. — Ele vai me pagar, aquele...

— Ele não sabia o que o feitiço fazia. — Audrey tentou explicar. Os olhos dela estavam vermelhos, Draco percebeu com choque. — Sei que não conserta nada, mas... só para você saber que ele não queria fazer isso com você. Eu sinto muito mesmo, Draco.

Draco avaliou os olhos vermelhos de Audrey, o tique nervoso em suas mãos, o jeito como ela olhava para ele como se achasse que Draco fosse quebrar... Merlin, ter Audrey se preocupando com ele era absolutamente desconfortável.

— Você está com dor? — Josh perguntou, com o rosto tomado por uma expressão assustadoramente séria. — Quer que eu chame a Pomfrey?

— Não. — Draco disse. — O que fazem aqui?

Audrey e Josh se entreolharam.

— Viemos trazer bolinhos. — Ela disse, timidamente. — E ver se você estava bem. Você... deu um susto na gente.

Draco se surpreendeu com a informação. Era por isso que eles estavam ali?

— Não inventa de morrer antes dessa merda toda acabar. — Josh disse, o rosto endurecido. — Tô nem aí se você não se importa com nada agora, se você é um comensal ou se é o coelhinho da páscoa, você tem dezesseis anos, para de ser idiota.

— Josh. — Audrey lançou a ele um olhar de repreensão. — Vamos combinar de não brigar, certo? Hoje não. Por favor.

Draco tentou se levantar de novo. Doía tanto que seu peito ardia e, por alguns segundos, ele não conseguia respirar. Josh se aproximou e segurou-o pelos ombros, puxando-o para se sentar. Draco sentiu seu rosto esquentar, porque aquilo era muito humilhante.

— Melhor? — Josh perguntou.

Draco assentiu, constrangido. Olhou para os dois, sem saber o que dizer, sem saber o que fazer. Ele estava obviamente em desvantagem, deitado numa cama de hospital, não lhe dava muita moral para ser grosseiro. E, apesar de querer ficar sozinho para conseguir lamentar sua situação atual deplorável, não sabia se queria realmente se livrar deles.

— O que é coelhinho da páscoa? — Ele decidiu perguntar.

Audrey riu abertamente.

— Meu Deus, o que ensinam para essas crianças sangue-puro? — Josh perguntou, olhando para o teto.

Olívia estava do lado de fora da enfermaria, de braços cruzados, ouvindo quando Audrey respondeu:

— As crianças trouxas aprendem que é o coelhinho da páscoa que traz os ovos de páscoa.

— E por que um coelho traria um ovo? — Draco questionou. — Coelhos nem botam ovos. Que coisa mais estúpida.

— Ei, ei, o coelhinho da páscoa é um ícone. — Josh protestou. — Calado.

Olívia ouviu Draco e Audrey rirem. A Potter se sentou no chão e ficou ali pela próxima meia hora, ouvindo-os conversar. Draco não soava mais como quando eles tinham catorze anos, ele parecia, como todos eles, ligeiramente mais destruído. Mas, com Audrey e Josh, foi a primeira vez no ano em que ela ouviu ele falar como uma pessoal normal, quase sem usar Oclumência, quase sem fingir ser alguém que não era. Sabia que, se entrasse, isso mudaria completamente. Se entrasse, ele não conseguiria falar abertamente com Audrey e Josh como estava fazendo agora. E, se conversassem sozinhos, eles acabariam brigando. E Olívia honestamente não via como mais uma briga faria algum bem a ela ou a Draco. Estava bem cansada de brigar, e imaginava que ele também.

Então apenas ficou ali, ouvindo seus dois melhores amigos conversarem com Draco Malfoy, o que imaginou que jamais aconteceria nessa vida, mas lá estavam Audrey e Josh, rindo e brincando e fazendo Draco se sentir melhor. E lá estava ela do lado de fora. Era meio bizarro como as coisas mudavam.

Madame Pomfrey logo apareceu para chutar Audrey e Josh para fora, porque precisava administrar uma poção de recuperação que provavelmente apagaria Draco de novo, mas os dois insistiram em ficar. Quando Olívia parou de ouvir a voz de Draco, percebeu que ele tinha dormido e se levantou para adentrar a enfermaria.

— Ei, leãozinha. — Audrey lançou a ela um olhar carinhoso e cauteloso ao mesmo tempo. — Você vai falar com ele?

Olívia observou Draco por alguns momentos. Ele já fora seu melhor amigo. Ele já fora a pessoa por quem ela era apaixonada. E agora Olívia percebia que já não fazia mais muita ideia de quem Draco era.

— Acho que não. — Olívia tirou do bolso a carta que escrevera mais cedo e deixou-a em cima da mesa de cabeceira, ao lado da cesta de bolinhos de Audrey. — Algo me diz que gritos e surtos de raiva não vão ajudar muito na recuperação dele, sabem.

E deu meia-volta, saindo da enfermaria novamente.

𖨡

Você provavelmente nem se importa, mas, como eu acho que isso é uma grande decepção para o Draco e para a Olívia que éramos quando tínhamos onze anos, preciso dizer: desculpe mesmo por não ter ido te visitar.

Percebi que você provavelmente precisava de gente que te fizesse sentir melhor, e não acho que eu esteja incluída nessa lista. Fizemos um trabalho muito bom em nos estragar, você e eu.

Espero que Audrey e Josh tenham te animado (ou te irritado, o que é sempre uma possibilidade com eles dois). Espero que você esteja se sentindo melhor. Espero que você fique bem. Espero que, algum dia, possamos conversar para que você saiba que eu não te odeio e que, independente dos erros que cometi no meio do caminho, Draco, tudo o que eu queria esse tempo todo era que você fosse para o resto do mundo a pessoa que você insistia em ser só para mim. Sempre achei que, caso contrário, seria um grande desperdício.

Vou pedir uma última vez: por favor, não jogue a sua vida fora tentando ser alguém que você não é.

Boa sorte.

Olívia.

𖨡

Sirius Black, Jessica King e George King foram convocados a Hogwarts naquela tarde.

— Onde diabos foi que você aprendeu um feitiço de magia das trevas?! — George King estava com uma veia da testa saltada de raiva.

— Eu li em algum lugar. — Harry disse, com a expressão afogada em culpa. — Não lembro onde, eu...

— Te conhecemos o suficiente para saber que você está mentindo, Harry. — Sirius estava com os braços cruzados, lançando ao afilhado um olhar de desapontamento. — Não minta para nós.

— Eu não sabia que era magia negra! — Harry exclamou. — Eu não sabia que era um feitiço das trevas. Estou mentindo agora?

— Não, ele não está. — Jessie tentou apaziguar a situação, porque George e Sirius estavam berrando continuamente havia dez minutos. — Acho que Harry já entendeu, honestamente... se ser responsável por mandar para a enfermaria um colega que poderia ter morrido não for lição suficiente, eu não sei mais o que é.

— McGonagall me tirou do time. — Harry externou sua frustração. — Perdi mais de cem pontos. Malfoy está na enfermaria por minha causa. Acreditem, foi minha culpa, eu já entendi, eu já sei.

— É ótimo que você tenha entendido. — George disse, esfregando a testa. — É o mínimo.

— Nunca mais use um feitiço de procedência duvidosa como teste em alguém. — Sirius falou, rígido como uma tábua. — Nem como brincadeira. Nunca, Harry.

— É, porque você tem toda a moral do mundo para falar isso. — Harry se irritou. — Você e meu pai faziam isso o tempo todo, vocês dois...

— Éramos estúpidos, imaturos, irresponsáveis e idiotas. — Sirius falou, com a voz rouca. — Acredite em mim quando digo: Tiago não iria querer que você fosse como ele, Harry, ele iria querer que você fosse melhor. Pare de alimentar richas infantis com os seus colegas, não importa de quem eles sejam filhos. Você está olhando para o inimigo errado, e você sabe disso. Você sabe quem é o verdadeiro inimigo.

Harry engoliu em seco.

— Eu sei. — Ele murmurou em voz baixa.

Sirius, Jessie e George se entreolharam. Jessie passou o braço pelos ombros de Harry. O garoto apoiou a cabeça no peito dela, deixando a auror abraçá-lo.

— Quem iniciou o duelo? — George quis saber.

— Malfoy. — Harry respondeu, então seu rosto de inflamou. — Não estou defendendo o que fiz, mas não vou aceitar ser o único culpado aqui. Eu segui Malfoy, porque tive certeza de que foi ele quem amaldiçoou Katie Bell. Eu disse a ele que sabia que tinha sido ele, e ele simplesmente me atacou. Ele se sente culpado. E ficou furioso por eu ter descoberto.

— Esqueça essa obsessão com Malfoy, Harry. — Sirius disse. — É uma ordem, não uma sugestão.

— Mas...

— Esqueça. — Sirius cortou-o. — Deixe que Dumbledore se preocupe com isso. Ou Snape. Você tem mais com o que se preocupar, que eu saiba, já que ganhou detenção até o fim do ano.

Harry fez uma careta.

— Ele parece insatisfeito. — George observou. — Que gracinha, ele acha que ainda tem direito de reclamar.

— São os genes do Pontas, ele não era muito brilhante, sabe. — Sirius explicou.

— Vocês... vocês sabem que eu não teria feito de propósito, certo? — Harry perguntou, tenso. — Eu nunca teria usado o feitiço se eu soubesse o que fazia.

— Sabemos disso, Harry, pelo amor de Deus. — Jessie falou, impaciente.

— É, sabemos que você é um herói de nascença, Pequeno Grande Homem, não se preocupe com isso. — George bagunçou o cabelo já bagunçado dele. — Só ficamos meio nervosos.

— É, com a parte da magia negra que você aprendeu de alguma fonte duvidosa. — Sirius lembrou, ainda sem humor.

Harry evitou falar sobre o livro do Príncipe Mestiço pelo resto da conversa, quando McGonagall retornou à sala dela para acertar as punições de Harry. Quando os quatro foram enfim liberados e saíram para o corredor, George foi logo mandando:

— Sai debaixo da capa de invisibilidade, Olívia.

Nada aconteceu.

— Sei que você está aí. — George repetiu, irritado, cruzando os braços. — Sai. Agora!

A cabeça de Olívia apareceu no ar.

— Não gosto quando ele está de mau humor. — Olívia disse para Jessie.

— Ninguém gosta, querida. — Jessie beijou o topo da cabeça de Olívia, fazendo-a sorrir.

— Não, não beija ela não. — George fez cara feia para a esposa, que olhou para ele com um ar impaciente.. — Estamos sendo bonzinhos demais com eles dois, é por isso que eles estão aprontando. Aliás, você. — George se voltou para Olívia. — O que é que você anda fazendo?

— Dever de casa, caridade, cuidando do meu irmãozinho querido, esse tipo de coisa. — Olívia inclinou a cabeça, sorrindo.

Sirius riu.

— Aliás, quem ensinou Sirius a dar bronca? — Olívia perguntou, curiosa. — Arrasou, Almofadinhas, no papinho de "verdadeiro inimigo", gostei mesmo, parabéns.

Sirius ajeitou a gola do paletó cinza, num gesto convencido.

— Harry, acompanha Sirius e Jessie até o saguão. — George disse, firme. — Eu vou daqui a pouco.

— Hum... tá bom. — Harry lançou um último olhar receoso para Olívia.

Sirius sacudiu o mão dando uma risada silenciosa como quem diz "Você está ferrada", antes de passar o braço pelos ombros de Harry, arrastando-o consigo. Olívia cruzou os braços diante de um George muito irritado, enquanto os outros três se afastavam. O auror usava as vestes pretas formais que eles exigiam no Ministério da Magia, que davam a ele uma aparência mais assustadora que de costume.

— Gostei do novo corte de cabelo. — Olívia disse, num tom doce. George não sorriu. — Você não está com um aspecto muito simpático.

— Onde Harry achou aquele feitiço?

— Não faço ideia. — Ela mentiu.

— Olívia. — A voz de George se tornou mais grossa.

— Não sei mesmo. — Ela deu de ombros. — E, se soubesse, imagina que irmã dedo-duro eu seria se te contasse.

George bufou, esfregando a testa novamente. Entre suas sobrancelhas, havia uma acentuada ruguinha de preocupação que definitivamente não existia quando Olívia o conheceu havia quase seis anos.

— Isso não é brincadeira. — Ele falou, com rigidez. — Caso você magicamente descubra como Harry conseguiu aquele feitiço, cuide para que isso jamais aconteça de novo. Você entendeu?

— Entendi. — Ela assentiu.

— Não quero vocês brincando com magia das trevas, Olívia, estou falando sério.

— Eu sei. — Ela concordou com a cabeça. — Eu prometo. Vou dar um jeito.

— Sim, você vai. — George suspirou, exausto, puxando a mais nova para um abraço. Olívia sorriu, sentindo um pouco da raiva dele se esvair. — Eu amo vocês, mas caramba, pirralha, que dor de cabeça vocês me dão às vezes.

— Desculpa. — Ela pediu, comprimindo os lábios.

— Não precisa se desculpar. Quando vocês tiverem filhos, vou me vingar estragando-os e dando a vocês o dobro de dor de cabeça. — George inclinou a cabeça para trás, rindo, então pareceu se lembrar de algo e acrescentou: — Quer dizer, quando Harry tiver filhos. Você não. Você não pode.

— Não posso? — Olívia ergueu as sobrancelhas, desdenhando.

— Não, não pode. Você vai fazer um voto de castidade.

— Definitivamente não. — Ela disse, com certeza absoluta, dando tapinhas no ombro de George. — Mas você sempre pode fazer Clarice aceitar, bonitão, boa sorte.

— Não pode nem pensar no voto de castidade? — George fez uma careta.

— Até posso, mas não quero. — Ela disse, rindo enquanto pensava em um monte de coisinhas engraçadas. — Não quero mesmo.

— Deus, como a vida é injusta. — George resmungou, empurrando-a pelos ombros para seguirem até o saguão, onde os outros estavam. — E do que é que você está rindo, pirralha?

— Nada. É que a vida é engraçada.

Olívia levou a sério o que George lhe tinha mandado fazer a respeito de Harry. Depois que os três adultos foram embora, Olívia fez questão de arrastar Harry pelas orelhas até a Sala Precisa para que ele pudesse se livrar do livro do Príncipe Mestiço em um lugar onde provavelmente nunca mais o acharia.

Tinham pedido especificamente por um lugar onde pudessem esconder o livro. Como resposta, a Sala Precisa se transformou em uma sala do tamanho de uma grande catedral, cujas altas janelas lançavam raios de luz sobre uma verdadeira cidade de elevadas muralhas construídas com objetos, percebia Olívia, escondidos por gerações de habitantes de Hogwarts. Havia travessas e ruas margeadas por pilhas mal equilibradas de móveis gastos e partidos, guardados, talvez, para esconder provas de magia malfeita, ou então por elfos domésticos orgulhosos de seus castelos.

Havia alguns milhares de livros, sem dúvida, proibidos ou rabiscados ou roubados. Havia catapultas aladas e Frisbees-dentados, alguns com suficiente energia para pairar indiferentes sobre montanhas de outros objetos proibidos; havia frascos lascados com poções congeladas, chapéus, joias, capas; havia coisas que pareciam cascas de ovos de dragão, garrafas arrolhadas cujos conteúdos ainda refulgiam malignamente, várias espadas enferrujadas e um machado sujo de sangue.

Olívia avançou apressadamente atrás de Harry por uma das muitas travessas entre tantos tesouros escondidos. Os dois viraram à direita depois de um enorme trasgo empalhado, correram uma pequena distância, embicaram para a esquerda junto ao Armário Sumidouro quebrado, onde Montague se perdera no ano anterior (por causa de uma brincadeira de Fred e Jorge), até que Harry finalmente parou em frente a um grande armário que dava a impressão de ter recebido ácido em sua superfície cheia de bolhas.

— Espero que você não esteja tentando decorar o lugar onde está deixando o livro. — Olívia disse, incisiva.

— Não estou. — Harry mentiu, enquanto abria a porta do armário e enfiava o livro lá dentro. — Vamos embora.

— Você nunca mais vais colocar as mãos nesse livro, entendeu?! — Olívia afirmou. — O Príncipe Mestiço era, no mínimo, perturbado, para considerar usar um feitiço daqueles em...

— Não coloque a culpa no Príncipe. — Harry dizia, enquanto se movia pelo mesmo caminho pelo qual eles chegaram até ali. — Ele nunca disse que o feitiço era uma boa ideia, tudo o que ele fez foi copiar o...

Olívia paralisou.

Harry continuou avançando e falando, sem perceber que ela ficara para trás.

A garota se virou lentamente, sentindo um frio percorrer sua espinha, arrepiando cada centímetro do seu corpo.

Suas pernas avançaram sem que seu cérebro registrasse o que ela estava fazendo. Não sabia aonde estava indo, mas sabia que precisava ir. Precisava continuar avançando... precisa chegar até... precisava pegar...

— Olívia?

A mão de Harry se fechou em seu braço, e Olívia sentiu um choque tão repentino que deu um pulo, empurrando seu irmão para trás. Harry olhou para ela, preocupado.

— Você está bem? Aonde você estava indo?

— O que você fez?! — Olívia perguntou, histérica, fechando a mão ao redor do ponto em seu braço onde Harry havia tocado.

Harry franziu a testa.

— Eu... como assim?

O que você fez?!Olívia tornou a perguntar, sentindo seu coração batendo na garganta.

Eu vi que você não estava atrás de mim e vim te procurar. — Harry olhava para ela, confuso. — Você não estava me respondendo, então te puxei e...

Olívia ainda estava sentindo. O zumbido em seus ouvidos, o impulso de que precisa ir até algum lugar, de que precisava achar...

Então se deu conta de que era exatamente o que havia sentido antes de achar o Diário de Tom Riddle na mesa de Dumbledore, quase um ano atrás. Era o que havia sentido antes de achar uma horcrux. Ela estava sentido bem ali, na Sala Precisa. Tinha certeza de que, se seguisse andando, acharia... o que quer que fosse. Mas então Harry encostou nela e... de repente estava sentindo nele também. O frio na sua coluna estava mais intenso, entorpecendo-a, como se tentando mostrar para ela alguma coisa.

Mas... não fazia o menor sentido. Harry não estava com nenhuma horcrux e, ainda assim, tinha algo nele que estava confundindo-a... tinha... tinha algo errado com ele. Tinha algo errado com Harry.

— Liv? — Ele chamou novamente, agora visivelmente preocupado. — O que foi?

— Nada. — Olívia sacudiu a cabeça. Estava ficando maluca. Tinha que estar ficando maluca. — Essa sala é esquisita. Vamos embora.

E saiu o mais apressadamente que conseguiu.

— Eu disse que tinha alguma coisa errada com aquele tal Príncipe. — Dizia Hermione, minutos depois, evidentemente incapaz de se conter, quando Harry e Olívia voltaram para o salão comunal.

— E tinha razão, não é? — Rony concordou.

— Não, acho que não. — Teimou Harry.

Olívia estava no canto do sofá, ocupada demais repassando o que acontecera na Sala Precisa para prestar atenção à briga na sua frente. Tinha acontecido alguma coisa importante, e ela precisava entender o que era. Precisa entender o que fora aquilo. Precisava entender por que tinha sentido um choque quando Harry encostou nela. Precisava entender o que tinha naquela sala...

— Me diga que não está defendendo aquele livro. — Audrey repreendeu-o.

— Querem parar de falar no livro? — Retrucou Harry. — O Príncipe apenas copiou o feitiço! Não é o mesmo que aconselhar alguém a usar! E, pelo que sabemos, ele podia até estar anotando uma coisa que foi usada contra ele.

— Eu não acredito! — Exclamou Hermione. — Você está mesmo defendendo...

— Não estou defendendo o que fiz! — Protestou Harry imediatamente. — Gostaria de não ter feito, e não só porque recebi uma tonelada de detenções. Você sabe que eu não teria usado um feitiço daqueles, nem mesmo contra o Malfoy, eu nunca teria usado, mas você não pode culpar o Príncipe, ele não escreveu “Experimente este, é realmente bom”... eram anotações pessoais, não é? Não era para mais ninguém...

— Você está me dizendo que você vai voltar para apanhar o livro na Sala Precisa?

— Sim, eu vou. — Disse Harry com energia. — Escuta aqui, pode achar o que você quiser, mas sem o Príncipe Mestiço eu jamais teria ganhado a Felix Felicis que nos ajudou a conseguir a memória de Slughorn. Jamais saberia como salvar Rony do envenenamento, Hermione, jamais...

—... conquistaria a reputação de gênio em Poções que não merece. — Concluiu Hermione maldosamente.

— Dá um tempo, Hermione! — Exclamou Gina, e Harry ficou tão admirado, tão agradecido, que ergueu a cabeça. — Malfoy poderia ter usado um feitiço ainda pior agora que se acha todo importante pela tal missão especial que recebeu, você devia ficar feliz que Harry tivesse um trunfo na manga!

— Bem, é claro que estou contente que Harry não tenha sido amaldiçoado! — Respondeu Hermione, visivelmente ofendida. — Mas você não pode dizer que aquele Sectumsempra é um trunfo, Gina, olhe só a confusão em que meteu o Harry! E eu imaginaria, vendo as consequências para suas chances no jogo...

— Ah, não começa a agir como se entendesse de quadribol. — Respondeu Gina com aspereza. — Você só vai se complicar.

Harry olhava para Gina sem acreditar que ela realmente se levantara em sua defesa.

— Posso usar toda a minha criatividade para insultar seu irmão tosco agora? — Marcel perguntou a ela no jantar, sentando-se ao lado de Olívia. — Malfoy está bem?

Olívia assentiu, em silêncio, observando Harry, absolutamente desanimado, conversar com Gina, que parecia tentar animá-lo, depois de passar os últimos minutos dando uma bronca nele.

— Que bom, porque morrer porque o tosco do Harry Potter te matou é uma morte muito ridícula. — Marcel comentou.

— Eu tentei curar ele, mas não funcionou. — Olívia disse, frustrada. — Fiz alguma coisa errada.

— Como foi que você fez?

Ela tirou a varinha do bolso da capa e repetiu o que tinha tentado fazer com Draco.

— Você não fez nada errado. — Marcel balançou a cabeça.

— E por que não funcionou?

— Bom... feitiços normais de cura não funcionam completamente em feitiços de magia negra. — Ele explicou. — Por isso o braço do Josh ainda tem uma cicatriz enorme, e... você também.

Olívia ainda tinha a cicatriz vermelha e grotesca que ganhara na terceira tarefa do Torneio Tribruxo. Madame Pomfrey não conseguira fazê-la sumir. Fazia sentido.

— Certo. Entendi. — Ela balançou a cabeça, ainda encarando Harry.

Marcel inclinou a cabeça, sério.

— O que mais aconteceu?

— Nada.

— Olívia.

— Nada. — Ela repetiu, sentindo um nó na sua garganta. Estava se sentindo sufocada. Ela tinha que estar maluca. Aquilo não podia ser real.

— Você já foi mais criativa para mentir. — Ele segurou seu rosto com uma das mãos. Olívia fechou os olhos, deixando-o acariciar seu rosto. Ela estava tão cansada. Aquela dia estava sendo muito longo. — Olívia? O que foi?

Ela abriu os olhos, sentindo seu estômago revirar.

— Estou preocupada com o Harry.

— Por quê?

— Porque talvez eu tenha descoberto uma coisa que eu não queria descobrir.

𖨡

No dia do jogo de Quadribol Grifinória VS Corvinal, Harry estava mais deprimido do que nunca. Olívia também, mas definitivamente não era por causa do jogo.

— Ah, meu Deus. — Marcel revirou os olhos para o teto. — Na boa, não dá para vocês dois fazerem drama no mesmo dia.

— Você não sabe como é. — Harry esfregou o rosto com as duas mãos. — Todo mundo se preparando para o grande jogo que vale a Taça de Quadribol, e você simplesmente não pode ir junto.

— Uma tragédia, de fato. — Marcel disse, sem dar a mínima. — Não sei nem como o planeta continua girando depois que te tiraram do time, Harry, realmente. Você não é criança, então come alguma coisa e para de chorar, porque Snape vai te matar se você se atrasar de novo para a detenção.

Olívia deu uma risada.

— Qual a graça, risadinha? — Marcel olhou para a garota, impaciente. Ela comprimiu os lábios, tentando ficar séria enquanto ele brigava: — Você não pode simplesmente decidir que não vai comer nada até...

Olívia se aproximou e deu um beijinho nele, fazendo-o interromper o discurso irritado. Marcel fechou a cara quando ela se afastou.

— Você vai comer! — Ele falou.

— Claro. — Ela colocou uma uva na boca. — Comi. Feliz?

— Radiante, principalmente porque você não vai sair daqui até comer alguma coisa. — Ele destacou, tirando um livro da mochila. — Tenho a tarde toda, caso você esteja pensando em enrolar.

— Vocês estão me deprimindo. — Harry reclamou.

— Aliás, Harry, você gosta da Gina, não é? — Marcel perguntou de repente.

Harry olhou para Olívia, furioso.

— Você contou para ele?

— Não precisei. Marcel não é cego. — Olívia falou, colocando dois pãezinhos no seu prato. O corvino suspirou, aliviado. — Continua seu ponto, lindinho.

— É que, se você ainda gostar dela, tem que ser rápido. — Marcel avisou.

Harry se assustou.

— Como assim "rápido"?

— Miguel Corner vai tentar voltar com ela hoje, depois do jogo.

— O QUÊ?!

O grito de Harry atraiu olhares da mesa inteira. De alguns professores também. No instante seguinte, Harry se levantou e saiu a passos rápidos para fora do salão.

— Miguel Corner quer voltar com a Gina? — Olívia olhava para Marcel, confusa. — Achei que ele tinha superado.

— Superou. — Marcel disse, enquanto abria o livro na página marcada. — É que a lerdeza do seu irmão tosco me irrita.

Olívia deu uma risada, antes de voltar o foco para o seu café da manhã. Marcel esperou-a terminar de comer para fechar o livro e, depois de avaliar a situação por alguns segundos, falar:

— Então... sobre o Harry...

— Não. — Olívia cortou-o.

— Não pode evitar esse assunto para sempre. — Ele disse.

— Claro que posso. Observe. — Ela falou displicentemente, enchendo sua taça com mais suco.

— Você está em negação há três dias. — Marcel observou.

— E vou continuar assim, obrigada. — Ela disse, tranquilamente tomando o seu suco.

— Tinha que ser da Grifinória. — Ele respirou fundo, olhando para o teto, antes de se voltar para a garota novamente: — Olívia, você achou uma horcrux!

— Ai, sério, seus assuntos estão muito desinteressantes. — Olívia reclamou, olhando para ele. Marcel estava prestes a surtar.

— Você achou uma horcrux! — Ele repetiu, indignado. — Lembra delas? Os objetos que você por acaso precisa achar e destruir para matar Voldemort?

— Blá blá blá. — Olívia tomou o resto do suco, levantando-se. — Quem liga para as horcruxes?

— Olívia! — Marcel seguiu atrás dela para fora do grande salão.

— Eu não te disse o que aconteceu na Sala Precisa para você ficar enchendo minha cabeça com teorias, eu te disse para você dizer que eu sou maluca e que não faz o menor sentido. — Ela falou, cantarolando. — Devo dizer que você não está sendo muito útil.

— Não se preocupe, não vai me faltar oportunidade na vida para dizer que você é maluca. — Ele segurou o braço dela, fazendo-a parar, então abriu a porta da primeira sala vazia que encontrou e entrou, puxando Olívia consigo. — Mas esse não é um desses casos. Se você sentiu na Sala Precisa e no Harry a mesma coisa que sentiu antes de achar o Diário de Tom Riddle, significa alguma coisa.

Olívia sorriu e inclinou a cabeça, subindo os dedos pelo braço dele.

— Gosto dos seus braços. Você faz exercícios? Ou isso é só genética?

— Vai ter que mudar de assunto melhor do que isso se quiser me fazer esquecer o fato de você ter achado uma horcrux e estar fingindo que isso nunca aconteceu.

— Sabe, e se a gente não for ver o jogo? — Olívia entrelaçou os dois braços atrás do pescoço dele, sorrindo. Marcel lançava a ela um olhar preocupado que a garota estava desesperada para arrancar do rosto dele. — Não vamos perder nada, os jogos são todos iguais. E aí a gente pode fazer um monte de coisinhas bem mais interessantes do que...

— Talvez Harry seja uma horcrux. — Ele falou em voz alta o que ambos estavam pensando há três dias, mas nenhum dos dois tivera a coragem de em voz alta.

Olívia sentiu seu corpo inteiro gelar.

— Não acredito que você disse isso. — Ela se afastou dele, sentindo seu estômago revirar.

— Era o único jeito de conseguir sua atenção. — Ele suspirou. — Olívia...

— Harry não é uma... uma... nunca mais repita isso. Ele não é. E não tem horcrux nenhuma na Sala Precisa também. Esse assunto, Marcel, já acabou. — A voz dela soou fria.

— Acabou? — Ele levantou as sobrancelhas. — Então vamos tirar a prova. Vamos até a Sala Precisa. Se você não sentir nada, eu vou ser o primeiro a dizer que você é maluca mesmo, e que essa coisa toda é um absurdo.

— Não!

— Por que não?

— Porque não! Não tem horcrux nenhuma lá. Não pode ter horcrux nenhuma lá! — Ela gritou. Queria explodir. — Porque, se tiver... então... é, eu a senti exatamente como eu senti o Diário de Tom Riddle na mesa de Dumbledore. Exatamente como também senti quando Harry encostou em mim. E eu... não quero pensar nisso. Se tem uma horcrux lá e eu senti por causa dela a mesma coisa que senti em Harry... eu não quero saber o que significa, eu realmente não quero. Então só... para. Por favor, para!

Olívia sabia que não estava sendo muito racional, mas ela não queria um discurso racional. Ela precisava que ele dissesse que não fazia sentido Harry ser uma horcrux, que ela estava imaginando coisas, que nada daquilo estava certo. Por favor, diga que não faz sentido, por favor...

— Não pode fazer isso comigo. É cruel. Não pode... não pode me fazer pensar nessas coisas... — Ela esfregou o rosto, tentando espantar a maldita vontade inútil de chorar. — Ele é meu irmão. Dumbledore teria me dito se... se isso fosse possível... se Harry fosse uma... ele teria me dito, Marcel.

Ela não tinha realmente certeza sobre isso. Marcel parecia ter ainda menos. Ele estava com aquela expressão que sempre aparecia em seu rosto quando ele tinha para falar algo que Olívia provavelmente não iria querer ouvir. Ela estava quase implorando para que ele não falasse nada. Ela não queria ouvir teorias, ela não queria ouvir nada que pudesse acabar com Harry morto. Por favor, por favor não me faz pensar nisso...

— Tudo bem. Desculpa. — Ele pediu, olhando para ela tenso. — Desculpa mesmo. A gente não... a gente não tem que falar disso.

Olívia estava sentindo seu corpo inteiro tremer. Marcel se aproximou, fechando os dois braços ao redor dela com força. Ela sabia que não estava certa. Ela deveria parar para analisar tudo racionalmente, mas não conseguia pensar direito. A imagem de Harry surgiu na sua cabeça. O Harry baixinho e magricela que ela conheceu quando tinha onze anos e achava que ele jamais iria realmente gostar dela como irmã. Então o Harry de dezesseis anos que, na noite passada, desenhara um bigode nela quando Olívia cochilou no sofá do salão comunal.

Depois de vários minutos, ela se afastou. Aquela porcaria de conversa ainda não tinha acabado.

— Pode falar. — Olívia pediu, ao olhá-lo nos olhos.

— Falar o quê? — Ele franziu a testa, mas sabia do que ela estava falando. Não foi a falta de entendimento que o fez hesitar, foi o fato de ela estar chorando. Olívia estava se esforçando para parar. Sabia que não conseguiria muita coisa dele se não parasse de chorar.

— Sei que você pensou muito nisso. Você sempre pensa. Fala o que você ia falar se o meu colapso de negação não tivesse interrompido. — Olívia limpou a garganta.

— Eu realmente não acho que isso vá ajudar, Olívia. — Ele disse, alisando o maçã do rosto dela com o polegar depois de limpar uma lágrima que deslizava pelo seu rosto. — A gente fala disso outro dia.

— Por favor. — Ela pediu. Ele desviou o olhar. Ela limpou o rosto antes de usar Oclumência para limpar sua mente. — Eu não sou fraca, e você sabe disso, eu aguento.

— Eu sei. Você aguenta tudo. Só estou calculando quantas coisas você aguenta antes de explodir. — Ele falou, rígido.

— Marcel. Desembucha.

Alguns segundos se passaram até ele se afastar, cruzar os braços e dizer:

— Eu estava relendo o Diário das Horcruxes e... Dumbledore acha que Voldemort veio pedir um emprego porque queria uma desculpa para estar em Hogwarts e tempo para procurar por um objeto dos fundadores em que pudesse transformar numa horcrux. Mas isso não faz sentido. Não existe a mínima possibilidade de Voldemort achar, por um segundo, que Dumbledore o contrataria. Ele sabia que seria rejeitado e veio mesmo assim, porque ele não veio procurar algo que pudesse ser uma horcrux, ele já tinha uma horcrux e veio escondê-la aqui, bem debaixo do nariz de Dumbledore, crente de que ninguém jamais desconfiaria, até... você.

Olívia encostou a cabeça na parede.

— Tá, então isso explica como diabos uma horcrux foi parar na Sala Precisa. Voldemort provavelmente se achava incrível demais por saber da existência da sala, quando a maioria dos alunos não sabe, e achou que seria um esconderijo genial. — Ela olhou para o garoto. — O que mais?

Ele desviou o foco dela de novo.

— Marcel.

— Se... se Harry for uma, e não estou dizendo que é, mas, se ele for, significa que uma parte da alma de Voldemort está dentro dele. Isso explica por que Harry consegue falar a língua das cobras e você não consegue. Explica por que ele consegue ver dentro da mente de Voldemort e Voldemort consegue ver dentro da mente dele também, mas não da sua. Acho... acho que foi a morte da sua mãe que ele usou para fragmentar o pedaço de alma que ele colocou dentro do Harry. Além disso...

Ele hesitou.

— Olívia, depois de tudo o que Dumbledore já escondeu de você, você tem certeza de que ele teria te dito? — Marcel perguntou.

Ela não sabia. Honestamente, não sabia.

Olívia não foi ao jogo. Voltou para o salão comunal e ficou lá por horas, encarando fixamente o fogo da lareira, pensando em argumentos que derrubariam por terra a possibilidade de Harry ser uma horcrux. Mas a verdade era que não confiava em si mesma para fazer aquilo. Sabia que não estava sendo imparcial e muito menos racional. Existia uma única pessoa que poderia tirar a dúvida dela de uma vez por todas, e Olívia definitivamente não queria perguntar a Dumbledore. Não queria uma resposta, se existia a mínima chance de a resposta envolver a morte de Harry.

Ela se recusava. Olívia havia excedido seus limites muitas vezes ao longo dos anos. Havia feito coisas que não queria fazer. Havia sido empurrada para lugares onde não queria estar. Já chega. Se Harry fosse uma horcrux, se a morte dele fosse o pagamento necessário para a destruição de Voldemort... ela se recusava.

— Por que você não foi ao jogo? — Harry perguntou para Olívia, assim que entrou no salão comunal e a viu sentada de frente para a lareira.

— Que graça tem o jogo se você não estiver lá para cair dramaticamente da vassoura, mongolóide? — Olívia sorriu, olhando para ele.

— Você é hilária. — Seu irmão se jogou no sofá ao lado dela, descontraidamente.

Olívia encarou a cicatriz na testa de seu irmão, os cabelos escuros que insistiam em permanecer constantemente bagunçados, os olhos verdes que eram idênticos aos seus, porque os dois haviam herdado-os de Lílian.

— Vou contar para o Marcel que você está me secando. — Harry disse a ela.

— Ele não tem ciúmes de mim com gente burra. — Olívia se ajeitou no sofá, apoiando a cabeça no ombro dele. Harry deu uma risada. — Como foi a detenção?

— Péssima. Não consegui falar com a Gina antes do jogo, e aí me atrasei e Snape me tirou vinte pontos. Preciso falar com ela, urgente!

— Bem feito, galã. — Olívia tentou zombar. — Mas você não tem com o que se preocupar. Gina não voltaria com Miguel Corner nem que pagassem ela para isso.

O quadro da Mulher Gorda girou. Um urro de comemoração explodiu do buraco às suas costas. Olívia e Harry se viraram, quando a horda de grifinórios barulhentos vieram gritando e comemorando.

— Vencemos! — Berrou Rony, pulando à sua frente, sacudindo a taça de prata. — Vencemos! Quatrocentos e cinquenta a cento e quarenta! Vencemos, Harry!

Mas Harry estava pouco se importando com Rony. Ele olhou para os lados; lá estava Gina correndo ao seu encontro; tinha uma expressão dura e intensa no rosto ao atirar os braços no seu pescoço. E, sem pensar, sem planejar, sem se preocupar com o fato de que cinquenta pessoas estavam olhando, Harry a beijou.

Puta merda! — Olívia pulou do sofá, um sorriso gigantesco brotando em seu rosto. Audrey e Hermione, ambas com o rosto pintado de vermelho e dourado, se juntaram a ela nos gritinhos e assovios, além da onda de risadinhas nervosas que correu pelo salão.

Dino Thomas estava segurando um copo amassado. Rony segurava a taça com a expressão de quem levara um soco. Por uma fração de segundo, Harry e seu melhor amigo se entreolharam, então Rony fez um discreto aceno com a cabeça que Olívia entendeu como “Bem, se não tem jeito”. Harry parceria prestes a sair saltitando. Ele e Gina passaram as horas seguintes misteriosamente desaparecidos.

— Ei, ei, ei, você! — Josh gritou quando viu Olívia num corredor, antes do jantar. A garota se virou para ele. — Isso mesmo, você, pior melhor amiga do mundo.

— Isso é jeito de falar com a melhor amiga que você já teve na vida? — Olívia perguntou. — Mas que audácia.

— Há há. — Ele fez uma careta, sem achar a menor graça. — Não sei quem é pior, minha namorada desnaturada que não está triste pelo fato de o meu time ter perdido ou você, que sequer se deu o trabalho de ir ao jogo ver a minha derrota épica ao vivo.

— Desculpa. — Olívia pediu, sorrindo para ele. — Como foi o jogo?

— Começamos bem humilhando os aros do Rony, mas a Gina achou o pomo muito rápido, foi ainda mais humilhante. — Ele parecia prestes a chorar. Então dramaticamente limpou lágrimas inexistentes do rosto e perguntou: — Por que você não foi?

Olívia deu um sorriso cabisbaixo.

— Aliás, todo mundo está com Harry e Gina agora lá no grande salão, zombando do quanto eles são lerdos. — Josh falou, rindo. — Não é seu trabalho estar lá contribuindo para a sessão de insultos?

— Não estou no humor. — Ela disse. Josh franziu a testa, estranhando. — Por que você não está lá?

— Não falo direito com Harry desde o que aconteceu com o Draco. E a Gina quase me derrubou da vassoura nos primeiros quinze minutos de jogo, então estou ignorando-a também. — Josh anunciou com humor, mas os olhos verdes dele ainda fitavam Olívia com atenção. — Certo, o que foi? Você está estranha há dias.

Ela sabia que estava. Mas não queria ter que falar sobre o que acontecera na Sala Precisa com mais ninguém. Estava com esperança de que tudo aquilo estava sendo um grande delírio da sua cabeça. Quando se passou mais de um minuto sem que ela falasse nada, Josh sugeriu:

— Chocolate quente?

Olívia sorriu. Depois do massacre do orfanato, Josh havia criado o hábito de fazer chocolate quente para ela todos os dias, até que Olívia começou a voltar ao seu bom humor habitual e ele parou.

— Você faz um para mim e eu faço um para você, perdedor. — Ela entrelaçou o braço ao dele, seguindo com o garoto até a cozinha.

Meia hora depois, estavam os dois sentados na mesa da Corvinal, observando Harry e Gina, cercados por um grupo de alunos sorridentes, dentre eles Rony, Hermione, Audrey, Neville e Simas.

— Seu chocolate quente é muito doce. — Josh reclamou.

— É para adoçar a sua derrota amarga. — Olívia respondeu.

— Odeio você.

— É recíproco. — Ela disse, tomando o último gole do chocolate quente de Josh, que tinha gosto de arco-íris líquido.

Josh deu uma gargalhada.

— Certo, menina. — O corvino tirou a xícara dela assim que Olívia acabou. — O que aconteceu?

Olívia suspirou, olhando para Josh, que a observava com expectativa.

— Voldemort, é claro, a raiz irritante de todos os meus problemas. — Ela respondeu. — O que mais seria?

— Entendo a situação. — Josh empurrou um óculos imaginário com o dedo indicador, antes de cruzar as mãos sob o queixo, observando-a como se fosse alguma espécie de analista. — E como Voldemort está te aborrecendo hoje?

— Sabe, você é um bobão. — Ela destacou, contendo uma risada.

— O que eu precisar ser para fazer você sorrir. — Ele piscou para Olívia. — Você quer falar sobre o que está te aborrecendo ou isso só vai te aborrecer mais?

— Vai me aborrecer mais.

— Tem certeza? — Josh perguntou. Ela assentiu com a cabeça, fazendo-o assumir um semblante pensativo. — Okay. Então... nos resta tentar animar você. Já sei o que podemos fazer!

— Nada muito elaborado, por favor, estou com preguiça. — Olívia pediu.

— Relaxa, vamos até o casalzinho recém-nascido e vamos matá-los de vergonha. Sua especialidade. — Josh sugeriu, animado com a ideia.

— Achei que você e eles não estavam no melhor dos momentos.

— Eu supero isso. — Josh se levantou, então juntou os pés, endireitou a postura, estufou o peito e, como algum cavalheiro engomadinho do século passado, estendeu a mão para Olívia. — Podemos?

— E eu aqui achando que não tinha como você ficar mais brega.

Olívia aceitou a mão dele e, saltitando juntos, os dois encaminharam-se para a mesa da Grifinória. O sorriso de Harry foi diminuindo à medida que os viu se aproximando.

— Oi, amores. — Olívia deu um tapão na orelha de Rony, afastando-o para o lado para que ela pudesse se sentar no lugar dele, de frente para Harry e Gina. — Gina, querida, muito bem-vinda à família. Meu irmãozinho está obcecado por você há tempo demais, devo avisar, não se assuste se ele te pedir em casamento semana que vem.

Harry arregalou os olhos para ela, como quem diz "Cala a boca". Todos ao redor deles, incluindo Gina, sorriram. A ruiva puxou Harry para um beijo rápido. Olívia procurou Marcel com os olhos, sorrindo quando viu-o adentrar o salão.

— Ei. — Ele olhava para ela, cauteloso, ao se sentar do seu lado. — Você está...?

— Ótima. — Olívia riu, sentindo seu corpo aquecer quando tocou os lábios dele com os dela. Marcel suspirou de alívio, beijando-a de volta algumas vezes.

— Por que eles têm que fazer isso na nossa frente? — Harry reclamou, revirando os olhos. Gina, com a cabeça apoiada no ombro dele, deu uma risada.

— É que te incomoda, aí nos sentimos mais motivados. — Marcel respondeu, passando um braço pelos ombros de Olívia, que mandou um beijinho no ar para Harry.

— Estou emocionado. — Josh ria, observando Olívia, Marcel, Harry e Gina. — Achei que a fadinha da atitude não fosse encantar eles nunca.

— Não foram você e a Audrey que enrolaram por, tipo, três anos? — Foi Gina quem perguntou a Josh, fazendo o ar de satisfação no rosto dele sumir.

— Ah, ela é mesmo dessa família! — Olívia exclamou, profundamente feliz com uma namorada de Harry pela primeira vez na vida.

— Não foram três anos! — Audrey fechou a cara. — Foram dois!

Olívia riu tanto pelo resto da noite que, quando foi dormir, estava sentindo seu rosto doer. Foi uma noite perfeita, roubada em meio aos caos da sua vida. Nos dias que se seguiram, Olívia teve o prazer de enfim ver Gina se tornar uma parte do trio de ouro, já que ela e Harry (admirando-a como se fosse um galeão novo) passavam praticamente todo o seu tempo juntos. Semanas se passaram sem que nada realmente ruim acontecesse, em que tanto ela quanto Harry pareciam incomparavelmente felizes.

— Está pensando o mesmo que eu? — Audrey perguntou para Olívia durante o fim da tarde, enquanto as duas encaravam fixamente Harry, Gina, Rony e Hermione rindo na mesa da Grifinória.

— Estou. — Olívia cerrou os olhos para os quatro. — Mas... não, acho que não. É impossível!

— Do que você acha que elas estão falando? — Josh sussurrou para Marcel.

— Não tenho ideia. — Marcel estudava as duas, sem entender nada.

— A gente ignora ou tenta adivinhar? — Josh perguntou.

— Acho melhor a gente fingir que entendeu tudo. — Marcel sugeriu.

— É impossível, tem razão! — Audrey falou, concordando com Olivia.

— Também acho. — Josh alteou a voz. — Impossível! Realmente impossível!

— Eles não são um quarteto melhor que o nosso quarteto, são?! — Audrey expôs sua dúvida para todos.

— É claro que não! Bata na boca. — Olívia olhava para a loira como se ela tivesse falado um palavrão. — O nosso quarteto tem eu!

— Acho que vou pular para o quarteto deles, então. — Josh avisou, fazendo Marcel ter uma crise de riso. As duas olhavam para eles, irritadas.

— Hum... oi. Com licença. — Jimmy Peakes, um segundanista, estendeu para Olívia um rolinho de pergaminho. Os quatro se voltaram para ele, fazendo o garotinho ficar inevitavelmente muito vermelho. — Dumbledore pediu para te entregar.

— Ah, obrigada, Jimmy.

Marcel, Audrey e Josh encaravam Olívia, com expectativa. A Potter olhou para a Harry do outro lado do salão, que também estava com um rolinho de pergaminho em mãos. Aquela tensão e ansiedade que Olívia sentia se espelhavam no rosto de seu irmão. Dumbledore havia sido muito claro sobre a próxima vez que chamaria os dois para seu escritório.

Ele havia achado uma horcrux.

⊱⋅ ──────────── ⋅⊰

Olá, amoresss, tudo na paz?

Espero que tenham gostado do capítulo 💜 daqui pra frente é só pra trás.

Não esquece de deixar sua ⭐ e seu 💭

Um beijão para quem quiser 💋

A gente se vê no próximo capítulo! 💜

ps: faltam 4 capítulos pra o fim.

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