ponto sem nó

By MariahQueirozz

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Uma Regina recém separada que aceita uma aposta entre amigos para transar com alguém que supostamente nunca m... More

Um plano perfeito
Eu também sei brincar
Machado de Assis ouve Bruno e Marrone
Três andares de mentiras
Jogue sal na ferida para curar
Cura-me com fones de ouvidos part. 01
Equalize
Neal e o altar
Chamada recebida
Divórcio amigável

Cura-me com fones de ouvido part. 02

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By MariahQueirozz

Voltei com o final dessa viagem e um capítulo que diz muito mais do que parece. Abra os olhos, o coração e tenha uma boa leitura!

O baque da minha cabeça na parede não foi nada comparado com a urgência que eu sentia. Se eu estivesse consciente o bastante para pensar, ficaria assustada com a necessidade de ter dois dedos dentro de mim.

Parecia que eu podia morrer. É como se, de alguma forma, eu precisasse extravasar sentimentos guardados por horas. Ou melhor, dias.

Qual sentimento?

Puro e claro: tesão.

Emma beijava o meu pescoço como se sentisse o mesmo. Sua mão passeava firme, contrastando com o meu cérebro bêbado e os meus joelhos fracos. Não falávamos nada, porque não era necessário.

Qualquer tipo de álcool que cobria o meu sangue falava por mim.

E eu não queria pensar. A única coisa que eu precisava agora, era da língua daquela loira irritante passando pela minha jugular, pouco antes da sua boca chupar os meus lábios.

E como se ouvisse mentes, foi exatamente o que ela fez.

Parecia um dejavú muito real. Os dedos longos de Emma Swan ora puxavam meu cabelo pro lado, ora tampava a minha boca, o que era completamente inútil, já que eu usava desse momento para senti-los na minha língua, numa promessa silenciosa de onde eles logo estariam e como ficariam molhados.

Emma não falava, mas sorria. Olhava pra mim com tanto tesão enquanto beijava meu queixo que eu sentia que faria qualquer coisa que ela me pedisse. Qualquer coisa por ela, por aqueles olhos e por aquele sorriso sacana tão brilhante e bonito.

O torpor bêbado não me dava muito espaço ou força mental para evitar o pensamento de que nunca tinha me sentido daquela forma. Queimando por dentro, ansiosa, louca por um prazer que eu nem sabia que existia. Mesmo que eu tenha me casado.

Eu achei que aquele encaixe gostoso e perfeito dos nossos lábios só tinha acontecido pelo desafio, pela sensação de andar na ponta do precipício, como o meu primeiro sexo depois do divórcio. Achei que essa sensação da minha lubrificação escorrendo pelas minhas pernas seria exclusiva para aquela noite em que Emma Swan me acompanhou até um hotel e me fodeu.

Literal e metaforicamente, já que estou admitindo agora coisas que eu jamais diria em voz alta (ou no meu pensamento).

Posso culpar o vinho falando por mim? Ou o jeito que tudo aconteceu?

Quando aceitei aquela viagem, me convenci de que nada aconteceria. Regina Mills e Emma Swan poderiam sim dividir um quarto de hotel sem se matarem.

Eu só não quis ouvir o diabo no meu ombro que insistia na ideia de que não, não nos mataríamos, mas talvez o crime fosse outro: cairia em tentação.

Um gemido que eu não identifiquei se era meu ou dela, interrompeu meus pensamentos segundos antes da minha perna tocar o colchão de solteiro. Ainda que Emma pudesse segurar minha perna encaixada na sua cintura por um tempo, eu sabia que não ficaria muito tempo presa na parede simplesmente porque meus joelhos estavam cedendo.

Estava perto de gozar e a Emma nem tinha afastado a minha calcinha ainda.

Eu tinha medo do que aconteceria quando ela me tocasse.

Agora, sobre a cama que eu não sabia se era a minha ou a dela, senti o peso da sua coxa pressionando onde eu mais precisava. Os fios loiros passavam pelo meu rosto enquanto a Emma se balançava, devagar, me torturando.

Os suspiros que saíam dos seus lábios me levavam ao limite e sua mão esquerda apertando o meu seio quase me obrigava a implorar.

Mas eu não faria isso. Nunca.

A menos que...

Não tive tempo de reclamar pela Emma ter parado de beijar minha boca, porque antes que eu pudesse pensar, seu hálito quente já cobria meu mamilo impossivelmente duro. Então, eu ronronei. E foi o suficiente para, finalmente, seu dedo encontrar o meio da minha calcinha - já tão molhada.

Emma não me fodia, não me penetrava e nem mesmo tocava meu clitóris. Era uma dança insuportavelmente gostosa, na minha entrada, sobre o tecido. Com o dedão, ela pressionava, mas nunca o suficiente pra entrar.

Depois, colocando minha calcinha de lado - o que eu achava muito sexy - seguiu com os mesmos movimentos de vai e vem, sem me entregar o que eu sabia que as duas queriam. Achei que poderia desmaiar. Que deixaria a Regina de lado, mandaria pra puta que pariu qualquer promessa que havia feito pra mim mesma.

— Anda logo com isso! Você mesma disse que não tem a vida toda pra mim.

— O que?

Ok, essa não foi a resposta que eu esperava.

— No hotel, aquela noite. — Respondi confusa, os cotovelos me apoiando no colchão pra olhar melhor aquela cena que se desenrolava na minha frente.

— Eu sei. Eu só... Desculpe.

— O que? — Agora eu que não estava entendendo nada. Senti a veia da minha testa pular, enquanto minha boceta latejava. Era uma dualidade ridícula.

— Desculpe. Eu vou, hum... Eu vou tomar banho.

— Emma, se você entrar nesse banheiro agora, você nunca mais fala comigo. Você me entendeu? Nunca mais.

Nesse ponto minhas promessas não pareciam sérias, até porque algumas horas atrás eu odiava Emma Swan e agora eu estava desesperada pra que ela me comesse. Para que ela não me deixasse. Mesmo assim, o ódio que eu sentia, misturado com o tesão, o álcool e a humilhação, me fazia pensar que era a única escolha.

— Não posso fazer isso.

Foi a última coisa que eu ouvi, antes da porta do banheiro fechar. Como viemos parar aqui?

*

Dia anterior

Emma

Depois de muitas horas e 06 paradas rápidas, a viagem chegou ao fim. Vi São Paulo chegar com uma ansiedade agridoce no estômago.

Ao mesmo tempo em que eu estava aliviada — e até um pouco feliz — pela viagem ter corrido bem, sem assassinatos e com mais risadas do que eu previ, também sentia um pouco de medo por pensar que a minha cidade antiga, minha vida antiga, estava a menos de 02 horas de distância.

Eu nunca mais queria voltar pra lá.

Não sei se falo do lugar físico ou emocional.

— Você sabe qual é o nosso quarto? Já estamos chegando no hotel.

Olhei pra Regina, que falava sem tirar a atenção do trânsito. Depois de metade de mais uma playlist, a morena pediu o carro com a delicadeza que só ela tem.

Ela não me deu espaço para questionar quando, em uma conveniência no meio da estrada, depois de fazer xixi, pegou a chave do meu carro e entrou pela porta do motorista.

"Minha vez". Duas palavras sem nem uma explicação, mas que me causaram algo que eu não gostaria de entender.

Desde que a música da Fernanda Brum começou a tocar, Regina só se provou atenciosa, como eu sabia que ela era. Dividiu o Fini comigo, respondeu algumas perguntas idiotas e riu das piores piadas que eu conhecia.

Dava pra ver que ela tentava não gargalhar, bem como não deixava em segredo sua indignação por perder aquela batalha.

Regina Mills aproveitou a viagem, sentiu o vento no rosto e trocou mais do que três palavras comigo. O que poderia dar errado?

— Conferi aqui no celular e é o 1705.

— Para de brincadeira, Emma — Regina revirou os olhos, enquanto diminuía a velocidade para estacionar. Não entendi o comentário até que oh! Era o mesmo número do quarto que ficamos lá em Goiânia, na noite em que nos conhecemos.

— Eu sei que costumo ser uma pessoa com piadas duvidosas, mas eu juro que estou falando sério.

— É isso que dá ficar cantando gospel na viagem. Deus castiga, Emma.

— Ah, cala a boca! — Eu não sabia o número de vezes que gargalhamos naquelas horas, mas sabia que ia dormir com uma dorzinha nas bochechas.

*

— Olha, eu não vou nem comentar sobre ficarmos em um quarto só, porque tem duas camas de solteiro espaçosas e eu estou exausta. Posso ficar com a primeira?

Eu estava reparando no nosso quarto de hotel quando a Regina falou, já tirando os sapatos. Como eu sempre gostei de dormir no canto, não me importei em ficar com a cama encostada na parede.

— Fica perfeito pra mim. Quer ir tomar banho primeiro?

— Nossa, sim! Ainda bem que você quis parar duzentas vezes na estrada e me fez comer aqueles salgados de procedência duvidosa. Eu não aguento dar um passo para jantar hoje.

— Negou meu pedido de jantar sem me dar a chance de fazer o convite, Regina?

— Oi? — Ela pareceu realmente surpresa.

— Estou brincando. Também estou cansada. Foi um dia...

— Cheio.

Eu ia dizer "intenso", mas "cheio" serviria.

— Ok, então vou tomar um banho. Tente não derrubar o prédio neste meio tempo.

— Você sabe que não sou uma criança, Regina.

E, já encostada no batente de madeira da suíte, a morena só ergueu a sobrancelha e sorriu. Pelo menos ela entrou antes que eu jogasse meu corpo pra trás e sorrisse, olhando pro teto.

— Emma? Emma?

— Hum? — Senti meu espírito voltando pro corpo quando dedos macios tiravam meu cabelo do meu rosto. Foi difícil abrir os olhos. Eu estava sonhando?

— Emma, você dormiu. Posso te cobrir ou você prefere tomar banho? Não sei se ficar no meio da cama com os pés para fora é uma posição muito boa para você passar a noite.

— Regina?

— Sim, Emma?

— Alguém já te disse que você é estupidamente bonita?

— Isso é tão clichê, Swan — Voltando do mundo confortável dos sonhos, pude ver um leve sorriso naquele rosto marcante e boca bonita — Vamos! Não queria te acordar, mas não consegui te deixar nessa posição.

— Você é tão atenciosa, Regina — Suspirei e me mexi, o que foi uma ideia não muito boa. Depois de ficar horas num carro, ficar deitada naquela posição só contribuía pra uma dor nas costas — Putz, doeu.

— Eu disse — E mais uma vez, ela sorriu.

A morena se afastou pra me dar espaço pra levantar, mas só tirou o braço de perto de mim quando percebeu que eu estava de pé sem muitos problemas. Estava acordada. Finalmente. De muitas maneiras.

— Vou tomar banho — Foi o que eu consegui falar olhando nos olhos dela. Aquela convivência era o que eu planejava, mas não sabia que estranharia.

— Oh, graças a Deus! Você está podre — Regina falou um pouco mais alto, então, na porta do banheiro, levantei meu braço para sentir o cheiro e vi que ela estava brincando.

— Mentirosa. Eu sou sempre muito cheirosa e sei que você sabe disso.

Pisquei pra ela e sai, me escondendo na segurança do banheiro. Ter uma visão dela revirando os olhos era mais confortável.

*

Depois que saí do banheiro, dei de cara com a Regina dormindo. Por mais que já tivesse dividido uma cama com ela, aquilo era diferente. Ela vestia um conjunto de pijama elegante, sem aquela sensualidade de uma camisola de renda que estaria em seu corpo se estivéssemos em um livro clichê.

Mesmo assim, estava linda.

Sua boca estava um pouco aberta, fazendo um biquinho fofo e uma das suas mãos segurava o Kindle no peito.

Era perfeito.

Perfeito, porque eu podia simplesmente bloquear o Kindle, colocá-lo na mesa de cabeceira, cobrir seu corpo e deixar um "boa noite" sussurrado no seu ouvido.

Levei um tempo pra dormir, deitada de lado, olhando pra ela. Era como um filme bonito de assistir. Rezei alguns "Pai nosso" com o coração voltado pra Regina, Caroline e tudo o que eu ainda não conseguia dizer — ou pensar.

O evento já era no outro dia. Esse tinha que ser o meu foco.

Foi a voz da Ruby na minha cabeça que eu dormi ouvindo.

*

Bienal de São Paulo

No site oficial da Bienal, existe uma descrição que diz "Cultivamos uma cultura de inclusão em todos os nossos eventos, onde celebramos todas as coisas que tornam único cada um de nós."

Foi exatamente isso que encontramos assim que passamos pelas portas daquele lugar imenso.

Mesmo morando ao lado de São Paulo por muitos anos, eu nunca tinha ido até lá. Tinha outras prioridades — que nem eram minhas.

Agora era mais um arrependimento pra minha conta.

— Uau!

— Sim!

— Você já esteve aqui, Emma?

— Acredita que não? Primeira vez.

— Então vamos, porque temos muito para ver.

O café da manhã tinha acontecido sem muitos problemas. Regina estava claramente menos próxima do que ontem, mas eu imaginei que isso aconteceria. A viagem foi uma bolha, um mundo à parte, uma realidade que não podíamos fugir se quiséssemos estar naquele evento.

É claro que ela podia ter ido de avião na madrugada ou, sei lá, ter cancelado. Mas isso não aconteceu e agora só tínhamos o presente.

Não demoramos muito para comer, nos vestir e nos maquiar. Regina muito mais do que eu, é claro. Logo estávamos no carro de aplicativo a caminho do evento.

Naqueles minutos entre o hotel e o espaço, trocamos palavras sobre o encontro com as autoras — o que eu achava inútil, porque acho que qualquer pessoa diria "sim" pra um pedido de Regina Mills.

— Tem algum stand que você queira ver? — Perguntei, tocando no punho da morena que andava ao meu lado.

— Acho que prefiro ir nas meninas primeiro e depois ficamos livres para ver o que quisermos.

— Claro. Ótima ideia. Depois dividimos os lugares que queremos ir pra dar tempo de tudo.

— Ou podemos ir cada uma para um lado — Regina falou e me olhou, como se me desafiasse na resposta.

— Tem razão.

E pareceu ser a resposta errada.

*

O stand das autoras que fomos procurar estavam lado a lado e muito lotados, então precisamos entrar em uma fila única no meio (existia uma do lado de cada e uma no meio para tirar foto com as duas).

Apesar de atenciosas, a fila não demorava muito. A maioria das pessoas já tinham comprado os livros antes, então era o tempo da foto. Assim que chegou a nossa vez, cumprimentamos, fizemos nossas fotos (as 04 juntas e depois separadas) e depois respiramos fundo para fazer o convite.

Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, Regina já tinha tomado a frente, pedido licença e explicado o convite.

— E é por isso que seria uma honra ter duas autoras para inspirar e incentivar aquelas crianças que estão começando a ver que a vida real não é nada do que prometeram para elas. A faculdade pode ser uma provação de vida, de força e de coragem. Ter mulheres que conseguiram realizar seus sonhos como referência é, sem dúvidas, o paraquedas que pode nos salvar neste salto.

As autoras se olharam com um sorriso e um balanço na cabeça que indicava "sim". Ainda assim, não confirmaram na hora e tiveram respostas diferentes.

Karolyne Arcanjo foi a primeira a responder.

— Estamos muito gratas pelo convite. Vocês podem deixar algum contato para enviarmos mensagem no final disso tudo?

— Claro! — Regina respondeu, simpática.

— Vocês são a representação física de um casal de fanfic, vocês sabem disso, né?! Dificilmente não encontrarei um horário pra isso.

— Eu falei que se falássemos de SwanQueen daria certo — Soltei pra Regina e ouvi as duas autoras rindo.

— Não somos um casal — Foi a resposta tímida da morena ao meu lado, ao mesmo tempo.

— Claro. A fanfic perfeita então.

Karol tocou o braço da outra, segurando a risada enquanto Regina tentava decidir entre morrer de vergonha ou soltar o sorriso que eu já sabia que ela segurava.

Tirei um cartão de visitas do bolso e entreguei pra elas.

— Entraremos em contato, combinado? — Foi a resposta que a Karol deu ao mesmo tempo em que recebia uma piscada amigável do outro lado.

*

— Acho que vai dar bom.

— Estou confiante também, Emma.

Já estávamos no nosso quarto compartilhado, tirando nossos sapatos e nos jogando na cama. Foi um dia muito longo e cansativo porque o espaço da Bienal é muito grande.

Por fim, acabamos caminhando juntas o tempo todo. Percebemos que tínhamos os mesmos interesses e, se puder ser sincera, era engraçado observar a Regina descobrindo coisas novas.

Saí de lá com muitos livros pra Caroline e uma alegria diferente batendo no peito.

— E eu estou feliz por termos vindo. Precisamos comemorar! — Pulei da cama com a intenção de não deixar o meu sangue esfriar, mas encontrei a morena apertando seu próprio pé.

— Você não está cansada? Meus pés estão me matando — Sua careta era quase engraçada - se não fosse tão fofa.

— Tem um bar no hotel, Regina. Vai me dizer que você não encararia uma taça de vinho pra relaxar agora?

— Uma massagem também cairia bem. Num spa, é claro! — Ela respondeu antes mesmo que eu pudesse pensar em uma resposta atrevida.

— Vamos lá, Regina! — Me sentei ao lado dela, na cama dela e o rosto indignado que recebi era diferente do que eu esperava. Ela não parecia tão indignada assim, então fiquei sentada. — São só alguns petiscos, uma taça de vinho e música boa. Nada pode dar errado. Só se formos expulsas por sua cara de poucos amigos.

— Há há há. Eu só vou porque você me convenceu com o vinho.

— Não foi porque você adora sair por cima, né?!

— Eu diria que pode ser por cima ou por baixo, mas acho que você não aguentaria.

E assim, como quem não quer nada, Regina sussurra no meu ouvido. Não tive tempo nem de piscar. Fiquei embasbacada com a resposta inesperada.

Talvez não tão inesperada assim. Era Regina Mills afinal.

Se este fosse um filme, eu teria que bater no meu próprio rosto pra voltar os sentidos e correr atrás dela, que já estava perto do elevador.

Foco. Você é Emma Swan.

Repeti pra mim mesma, em um mantra que não se silenciava nos corredores da faculdade desde o dia 01.

*

— Você o que? Eu duvido! Regina Mills foi a criança que brincava no meio da rua? Não pode ser!

— Qual é a surpresa? Antes de todo um histórico com a minha ex mulher eu fui uma pessoa normal, ok?! Pai parcialmente responsável, mãe maluca na medida comum, sexualidade pouco questionada...

— Parece perfeito — Brinquei, com ironia, e Regina mostrou a língua pra mim — Em algum momento você vai me contar sobre a sua ex?

Estávamos no bar do hotel há algum tempo. A ideia dos petiscos se manteve, mas a taça de vinho se transformou em uma garrafa. Quando chegamos, nos sentamos no balcão, mas agora uma mesa no canto da parede nos afastava do mundo real.

Eu já sentia meu corpo vibrar por consequência do álcool bem-vindo, aliado aos olhos brilhantes da morena ao meu lado.

Regina estava leve, feliz.

Ela mesma admitiu isso quando o nosso bate-papo ainda era mais formal e falávamos sobre o projeto na faculdade.

— A versão curta é que ela se apaixonou pela sócia e achou de bom tom me trair ao invés de terminar. Aparentemente conviver muito com uma pessoa pode fazer você se apaixonar por ela — O assunto é pesado, mas ela sorria — Estávamos juntas desde a adolescência. Zelena é sua amiga de infância. No fim, fiquei sem nada.

— Ah, por favor! Você é gostosa, inteligente, engraçada, empática e muito gostosa. Eu já disse isso? — Perguntei e ela só balançou a cabeça atrás da taça, sorrindo — Não conheço a sócia dela e muito menos sua ex, mas eu duvido que você tenha perdido alguma coisa. Aposto meu carro que foi ela que perdeu.

— A sócia é bem bonita, na verdade. Preciso admitir. Acho que você ficaria sem carro se a visse.

— Ela pode ser a Elizabeth Mitchell, Regina. Não há nada no mundo que me faça achar uma mulher mais bonita e inteligente que você.

— Cuidado, Swan. Posso começar a achar que você está ficando mole.

— Só se for de álcool!

Gargalhamos ao mesmo tempo em que Regina levantava a garrafa de vinho, pedindo por outra. Eu não sabia que horas eram, há quanto tempo estávamos ali e nem quando a vontade de ir embora surgiria. Parecia que isso nunca ia acontecer.

— Foi bom falar sobre isso para outra pessoa. É como se estivesse curando, mas eu não pude perceber porque não falo com ninguém sobre a Úrsula. É claro que ainda dói e eu não sei o que vai acontecer se um dia ela me ligar, mas hoje é mais pela humilhação. Não a quero de volta.

A voz da morena ficou um pouco mais baixa enquanto seus dedos giravam pela taça. Ela só parou quando a toquei.

— Ela não seria tão cara de pau de te ligar, né?!

— Bom, ela me disse que me traiu porque eu não era mais a Regina que ela conheceu na adolescência.

— Desgraçada.

— Pois é. Então sim, ela pode ligar.

— Eu espero que isso leve um bom tempo. Nada pode estragar essa semana perfeita. Fizemos uma viagem gostosa, conseguimos nossas autoras, estamos bêbadas em um bar legal e não nos matamos.

— Ainda.

Foi a palavra mais certeira que a Regina disse.

Eu acho que eu tinha desafiado o mundo muitas vezes naquele dia.

Minha mão segurando a dela, nossos olhos brilhando, os cabelos despenteados e as risadas que se seguiram até os garçons pedirem pra fechar não me entregavam nem um spoiler do que aconteceria quando a porta do quarto fechasse de novo.

*

Regina e eu subimos quase cambaleando. Nossas risadas se misturavam e naquele ponto a gente nem sabia mais o que era tão engraçado.

Aprendi mais sobre a mãe da morena e contei histórias de quando eu fui diretora. Tudo aconteceu como se fossemos amigas, como se não tivéssemos feito uma promessa de nunca mais nos ver.

Era perfeito.

Estranhamente reconfortante.

Até o som de um celular nos interromper.

— Nem fodendo!

— Desde quando você fala palavr — Minha frase foi interrompida quando a Regina virou o celular na minha direção. Na tela, o nome "Cobra" já me dizia tudo: era a Úrsula.

— Ok, qual é a chance matemática disso acontecer? Para. Só pode ser algum tipo de piada.

— E agora? Eu atendo? O que eu falo? Emma, não quero que ela me ouça bêbada! Vai parecer que estou, sei lá, afogando mágoas quando é justamente o contrário. Não vou atender.

Regina andava de um lado pro outro, perdida. Eu podia imaginar que não era a situação mais confortável do mundo, por isso decidi não rebater a fala fofa que ela acabou soltando.

— Você quer que eu atenda?

— E aí o que? Você passa pra mim? Vai dar na mesma!

— Você confia em mim? — Perguntei

— Não muito — Foi a resposta rápida da Regina, mas sua expressão dizia que ela estava brincando. Então, estiquei a mão, respirei fundo e atendi o celular.


Alô?

Regina?

Não é ela. Quem gostaria?

Não tem meu número salvo aí? — A voz dela era firme, mas pouco autoritária.

Não. Sinto muito. Quer deixar recado?

Quero falar com a dona do celular, por favor.

Desculpe, mas são... — Coloquei o celular na minha frente pra enxergar as horas e logo voltei a falar — São mais de 23:00. Acabamos de chegar de um jantar, então a Regina está fazendo seu skincare.

Era engraçado ver as expressões da morena na minha frente. Ora rindo, ora tentando ouvir o que a outra tinha a dizer. Nada me preparou para a reação que ela teve depois.

E você? Quem é?

Sou a namorada dela.

O que? — A resposta da Úrsula foi a mesma da Regina, apenas em tons diferentes.

Sim. E me desculpe por ser tão direta, mas se você fosse importante o suficiente para ligar às 23:00, saberia que Regina Mills namora. Se não me conhece, essa ligação pode esperar um horário de gente normal, horário comercial. Não acha?

Agora a Regina tem segurança? — O tom irônico finalmente chegou.

Em todos os sentidos da palavra. Se é que você conhece todos eles.

Veja bem...

Desculpe, senhora. Se for emergência, os números de contato são 193 e 199. Eu e a minha namorada temos planos pra agora. Tenha uma boa noite.

Senhora é a mã-


Foi a última coisa que eu ouvi antes de desligar.

Regina estava embasbacada na minha frente. Se essa fosse a novela Mutantes, na Record, eu teria o poder de ouvir a sua mente tão barulhenta.

Eu não sabia bem o que aquele olhar significava, mas precisava me certificar de que estava tudo bem.

— Ela é uma cadela. Você está bem? Desculpe se exagerei, mas essa dondoca não pode simplesmente te ligar quando bem entender. Quem ela pensa que é? Ela já foi importante, agora não merece estar no mesmo espaço que você ou sequer ouvir sua voz. Onde já se viu?! Regina Mills não é bagunça não. Se quiser resolver alguma coisa com você ou pedir desculpa, será no seu tempo e não no dela.

— Emma? — Eu ia continuar falando, indignada, mas a morena me interrompeu.

— Hum?

— Cala a boca.

— Desculpe — E me calou.

Os seus lábios colados no meu eram como o Titanic, pronto pra afundar. E assim que a sua língua encostou na minha, senti minha calcinha sendo arruinada.

Talvez eu estivesse com tesão desde que a vi pela primeira vez. Aquilo nunca passaria.

Foi exatamente por isso que a coloquei contra a parede, que beijei seu pescoço como se ele fosse o ar, que a joguei sobre a cama pronta pra chupar cada parte daquele corpo e boceta tão gostosos.

Mas foi por outro motivo que eu parei.

Essa decisão foi a mais conflituosa que eu tive na minha vida. Sim, muito mais dolorosa do que quando saí da igreja.

E dentro daquele banheiro, eu não sabia o que isso deveria significar.

-----------------

Notas da autora:

No próximo capítulo teremos a história da Úrsula e as próximas ações de Emma e Regina. Algo me diz que falta muito pouco para que a morena descubra quem é a mãe de Caroline.

Agora é com você! O que ficou mais evidente neste capítulo? Conseguiu compreender sobre as reações das personagens? Quais são as suas teorias?

Te vejo nos comentários e nas minhas redes sociais: mariahqueirozi (instagram) e mariahpqueiroz (twitter)

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