Shibuya, Japão - 12 de agosto de 1997.
Takemichi suspirou enquanto saia do chuveiro já com a roupa que usaria durante a noite. Era dia de reunião da Kodo Rengo. Ele também marcava presença em todas as da Ragnarok junto a Shinichiro, mas não era a mesma coisa, ele não ficava ansioso – nem tentava se arrumar, para as da Ragnarok. E não lhe ajudava que a reunião acontecia sempre duas horas após seu treino com Mansaku terminar, então ainda tinha todo esse tempo livre, e as vezes lhe parecia pouco.
Por algum motivo Takeomi estava com Shinichiro o dia todo – chegando logo após sua saída de manhã - trazendo Haruchiyo e Senju e os deixando com Emma, Mikey e Keisuke. Não que fosse incomum os amigos juntos, mas sentia que hoje tinha algo a mais. O irmão do meio da família Akashi assistiu seu treino, o ajudando e se distrair dos pensamentos que sempre tinha sobre Wakasa nesses dias. Assim como Izana havia feito durante o passeio. O agradeceu por isso. Adorava a companhia de Haru, poderia dizer facilmente que ele era o favorito de todos os mais novos junto a Izana.
Agora estava sozinho, o garoto o deixando para se banhar com privacidade no pequeno vestiário do dojo. Estava secando o cabelo quando escutou Shinichiro o chamar, o respondeu sem importar-se muito, imaginou que só estava achando que ele estava demorando – e estava mesmo. Mas o sano o virou bruscamente e o obrigou a andar para trás até que estivesse encostado na parede.
— Que porra Shiro?
Shinichiro não explicou, apenas impulsionou Takemichi para cima o obrigando a enlaçar seu corpo com as pernas e o beijou. O mais novo se deixou levar, mas com o passar dos minutos e maior nem mesmo esperar que recuperassem a respiração, alternando entre beijar sua boca, mandíbula e pescoço o obrigou a parar, principalmente ao sentir o volume que ganhava vida tão próximo.
— Por favor Genko...
— Shiro, eu só tenho 12 anos. Você é meu melhor amigo, tem que entender que não estou pronto para algo assim ainda.
— Não estou pedindo para transar comigo Genko. Isso seria errado, nem eu e nem você estaríamos pensando um no outro. E eu entendo que você não está pronto. Mas... — Takemichi suspirou e interrompeu Shinichiro tornando a encontrar os lábios.
O beijo que havia dado na noite anterior em Wamai só foi possível por causa da ajuda de Shinichiro. E não era a primeira vez que Takemichi veria o Sano em um momento mais íntimo. Apenas o ajudaria a se excitar, não era difícil. Não era um problema. E Shinichiro não seria o único a aproveitar o momento. Ajudar o amigo a obter prazer lhe ajudaria futuramente a dar prazer. Será que um dia conseguiria estar naquela situação com quem realmente queria?
[...]
Wakasa saiu do dojo com a mesma expressão de desinteresse de sempre, mas em sua mente o som de beijos molhados entre Takemichi e Shinichiro fixos, assim como a breve conversa. O albino parecia ter sorte – ou azar, de conseguir os encontrar em momentos assim, a língua dentro da boca do outro.
Não culparia Shinichiro, esperou dois meses para que recebesse um e passou a noite toda rolando de um lado ao outro ansiando por outro. Lembrando do toque macio, da língua aveludada. Se estivesse na posição de Shinichiro não faria diferente. Sentia vontade de avançar como ele fazia, mas não, havia sentido a hesitação de Takemichi por um tempo, não tentaria iniciar algo que poderia deixar o menor desconfortável.
Uma hora depois, Keizou já estando na garagem junto a Takeomi e Wakasa, Takemichi e Shinichiro finalmente apareceram. Eles entraram enquanto discutiam sobre algo que eles não conseguiram identificar já que parecia outra língua. Não passou despercebido a Wakasa uma mancha vermelha entre a clavícula e o pescoço de Shinichiro, sendo exibido pelo decote de sua blusa. Não escapou ao líder da Kodo que Takeomi não ficou muito satisfeito com isso também. E dessa vez a falta do topete que Shin usava não era comemorado.
— Farabutto — Takemichi disse, enrolando a língua de modo visível, logo repetindo silabicamente.
— Farabutto — Shinichiro tentou imitar, mas sua pronúncia não saiu igual, o que causou uma risada em Takemichi.
— Vamos tentar outra. Stronzo — Novamente Takemichi repetiu devagar, de modo expressivo.
— Stronzo — Dessa vez Shinichiro conseguiu melhor, apesar de Takemichi ter mais sotaque — O que significa stronzo?
— Idiota. Me parece uma boa ofensa para você começar — E os dois começaram a correr, Takemichi se jogando atras de Benkei.
— Keikei, me protege desse stronzo! — Ele ria se esquivando de um lado ao outro de Shinichiro que lhe jogava as revistas.
— Estava ensinando italiano para ele? Logo pro Shin que dorme em todas as aulas? — E então o alvo se tornou Takeomi que apenas levou a mão em frente ao rosto.
Shinichiro estava se sentindo muito ofendido já que desde que foi convidado – sequestrado, para a Itália conhecer a família Hanagaki completa se dedicou a aprender Italiano como não fez com nenhuma outra matéria.
— A gente podia falar logo? — Benkei gritou.
— Ah sim, devemos! — Shinichiro sorriu parando de atirar seus itens, indo até o armário e pegando um caderno.
— Falar o que? — Takemichi se sentou ao lado de Wakasa, o dando um selinho rápido e se deitando no ombro do outro.
— Você encheu muito o saco ontem sobre o lance das gangues estarem todas corrompidas e tal — Takeomi começou.
— Não que esteja muito errado, vamos ser sinceros. Tem motivo para o Genko estar revoltado — Benkei concordou.
— Enquanto você dava uma surra naquela gangue Butami de Yokohama ontem, eles estavam discutindo — Wakasa apontou para os três.
Shinichiro parou a frente de Takemichi orgulhoso e virou o caderno ao moreno, um desenho de uma logo. Um dragão enrolado em duas letras. BD. O Hanagaki pegou o caderno analisando. Foi feito por Shinichiro o desenho, era possível ver as marcas de graxa onde a mão devia ter sido posicionada. O mais jovem não entendeu, mas achou bonito, e tinha certeza de que seria algo significativo. Sorriu para os amigos.
— E o que significa?
— Nossa própria gangue. Onde vamos seguir nossos ideais. Fazer nossas próprias regras. Mudar o mundo da delinquência para como ele deve ser — Shinichiro agachou, ficando à altura dos olhos de Takemichi, os dois começando a lacrimejar — Black Dragons.
— Quem deu a ideia foi o Shin, se baseando nos princípios que vocês dois seguem. Eu e o Wakasa decidimos o nome. Vocês dois são duas forças imparáveis da natureza, assim como os dragões. E ambos têm cabelos pretos e usam tanto essa cor que é fácil associar a vocês — Takeomi explicou.
— Eu também pensei nas posições. Eu vou ser da divisão de defesa. O Waka da unidade de ataque. Takeomi porta bandeira. Shinichiro o vice-líder e você o nosso líder — Benkei disse orgulhoso, todos haviam concordado com as posições.
— Só tem uma coisa que eu acho que devemos mudar — Takemichi tinha um sorriso enorme, mas sua voz passava seriedade — Nosso comandante será nosso rei. O Shiro deve ficar a nossa frente. Takeomi será o vice. Eu não quero atenção, apenas que as coisas sigam seu caminho. Vou ficar nas sombras, como o Imperador.
— O rei solar e o rei lunar. Me parece bom — Shinichiro concordou.
— Está decidido. Essa é a fundação da Black Dragons! A maior gangue que Tóquio vai conhecer! — Benkei rugiu animado — Precisamos comemorar! E precisamos de algo para marcar! Que tal a casa termal agora? Vocês dois não conseguiram aproveitar hoje de manhã!
— Não! — Os dois gritaram juntos, os olhos arregalados e balançando as mãos rumo a Benkei.
— Que tal uma tatuagem? — Shinichiro sugeriu para focar em outra coisa.
— Não. Se eu fizer o Haruchiyo e a Senju vão tentar imitar — Takeomi negou — E que tal um amuleto?
— Fácil de perder — Wakasa negou, seria o primeiro a deixar cair ou algo assim — Um piercing?
— Aí entra o mesmo caso dos irmãos do Tami — Takemichi suspirou, eles ficaram em silencio alguns minutos pensando. Takemichi abriu um sorriso — Uma joia. E eu já sei qual.
Todos estavam animados com o surgimento de Black Dragons, mas pelo olhar que os amigos notaram Shinichiro e Takemichi trocando souberam que também não seria tão fácil quanto gostariam.
— Eu falei que ia fazer jus a confiança que Nona e os outros estava me colocando — Shinichiro se jogou ao lado de Takemichi e o abraçou — Vamos começar a erguer nosso castelo Genko.
— Até que sua cabeça serve para alguma coisa quando quer, um gênio do mal Shiro — O Hanagaki lambeu os lábios, um brilho novo em seus olhos aparecendo de repente.
— Nós fizemos uma promessa naquela praia, e vamos cumprir.
Shinichiro e Takemichi abriram sorrisos semelhantes enquanto olhavam para além do quarto. Takeomi desistiu de perguntar sobre a promessa assim que a praia foi citada, se foi algo feito ou conversado lá eles não teriam chance de respostas.
Eu adoraria receber alguns comentários.