𝔸 𝕍𝕀𝔻𝔸 𝔻𝔼ℙ𝕆𝕀𝕊 𝔻𝔼...

By sabrideluz09

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Alice é a típica garota do ensino médio que é tímida e faz parte do grupinho dos excluidos. E como todo bom c... More

Pᴇʀsᴏɴᴀɢᴇɴs
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 1
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 2
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 3
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 4
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 5
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 6
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 7
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 8
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 10
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 11
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 12
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 13
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 14
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 15
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 16
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 17
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 18
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 19
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 20
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 21
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 22
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 23
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 24
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 25
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 26
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 27
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 28
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 29
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 30
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 31
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 32
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 33
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 34
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 35
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 36
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 37
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 38
Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 39 - Final
Aᴠɪsᴏ

Cᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 9

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By sabrideluz09

🦋

Me olhei no espelho pela quinta vez desde que vesti essa fantasia. Eu não conseguia me sentir... bonita. Estava esquisito, talvez por que eu nunca usei uma fantasia na vida. Nunca fui convidada pra festas, e muito menos festas a fantasia.

Respirei fundo pelas vigésima vez tentando afastar o nervosismo. Eu ainda tenho muito medo de pagar mico e ser zoada por todo mundo.

Na noite passada eu tive um pesadelo onde eu andava pelos corredores da escola e as pessoas falavam coisas horríveis e riam de mim. Só de lembrar eu sinto meus pelos todos se arrepiando.

Fechei os olhos tentando não pensar nisso, e me olhei de novo arrumando as tranças que minha mãe tinha feito pra mim.

Tudo bem, Alice. Vai dar tudo certo.

Sai da frente do espelho finalmente, e fui em direção a minha cama pegando meu celular que apitava sem parar. Respondi as mensagens brevemente e levantei saindo do quarto.

Quase fiquei cega quando abri a porta e um flash de câmera fotográfica piscou na frente do meu rosto. Tapei o rosto com as mãos sentindo minha vista doer.

- Aí meu olho!

Ouvi a risada dos meus pais e mais flashes.

- Você está linda, filha. Como se sente indo a sua primeira festa a fantasia?

- Se eu conseguir sair de casa sem ficar cega.

- Aí que coisa mais linda!

Minha mãe disse segurando meu rosto e beijando minhas bochechas várias vezes. Eu fiz uma careta quando ela me soltou e limpei as bochechas.

- Que orgulho, sua primeira festa a fantasia.

Meu pai disse me abraçando de lado. A melosidade dos dois estava me assustando.

- Será que eu posso sair antes que vocês fiquem me abraçando e me façam desistir?

- A gente só está feliz por você filha. Que mal humor.

- Se anime, vamos logo que eu vou te levar.

Minha mãe me puxou pela mão e beijou minha bochecha de novo. Nesses momentos eu odeio ser filha única.

Parei por alguns segundos pensando em várias coisas que podia dar errado.

E se eu estiver ridícula? E se for como na cena da festa a fantasia de meninas malvadas e eu estiver parecendo uma doida? E se todos forem "sexys" enquanto eu pareço uma criança que a mãe arrumou?

- Espera... eu... eu não sei se eu quero ir.

Soltei de repente, meus pais pararam de falar e me olharam surpresos.

- Por que?

Meu pai perguntou tocando meu rosto e me olhando nos olhos.

- Está sentindo algo? Dor de cabeça? Dor de garganta? Ânsia de vômito?

- Não... eu só... deixa pra lá.

Tirei as mãos dele do meu rosto e passei reto seguindo pra garagem. Eu preciso enfrentar meus medos, não posso ficar me escondendo sempre.

- Ei, Alice! Volta aqui!

Minha mãe me seguiu até o carro e quando me alcançou ela tocou minha mão me fazendo olha-la.

- O que aconteceu, filha?

- Nada, foi só um momento.

Eu disse soltando a mão dela e abrindo a porta.

- Se não quiser ir tudo bem.

- Eu vou.

Disse em definitivo e puxei o cinto. Minha mãe assentiu e deu a volta no carro entrando e se acomodando antes de ligar o carro.

O caminho foi todo silencioso, talvez não tivesse mais tanto clima. Eu as vezes falava as coisas impulsivamente e me arrependia demais, esse era um desses momentos.

Quando ela estacionou eu fiquei dentro do carro por um tempo, ainda olhando pra porta da casa. Não tinham pessoas do lado de fora como da outra vez mas era possível ouvir o som alto da música.

- Tem certeza...

- Sim, eu não sou mais uma criança, tenho que enfrentar meus medos. Até os bobos como esse.

- Não é um medo bobo, você só não se sente a vontade.

Minha mãe disse acariciando minha mão.

- Obrigada mãe, eu te ligo depois.

- Eu te amo, meu bebê.

Ela beijou minha bochecha e eu fiz uma careta saindo do carro. Andei devagar até a porta da casa e toquei a campainha esperando que alguém aparecesse.

Quando a porta foi aberta eu quase caí pra trás de tanta surpresa. Carol estava ali, vestida com uma fantasia de Katniss Everdeen, ela vestia uma calça preta que ficava perfeita no seu corpo. Uma blusa preta por baixo de um colete preto com ombreiras. Nas costas o arco e as flechas e nos pés uma bota que ia até o seu joelho.

Engoli em seco olhando ela de cima a baixo, provavelmente bem descaradamente mas não pude evitar. Ela riu e fez uma espécie de reverência.

- Seja bem vinda senhorita Addams.

Agora eu me sentia mais criança ainda, minha fantasia toda... e a dela... sem palavras.

- O tema da festa é a fantasia ou competição de quam fica mais...

Abri a boca ainda admirando ela e impossibilitada de terminar a frase. Definitivamente minha fantasia era infantil demais.

- Vamos, entra logo antes que você vire estátua aí parada.

Ela riu me puxando pra dentro. A casa estava mais cheia do que na "pré festa" do outro dia. Tinham adolescentes por toda parte, bebendo, dançando, e se beijando. Inclusive eu vi o Luca aos beijos com um garoto que eu nunca vi na vida.

Segui ela até a cozinha onde tinham algumas pessoas, e onde estavam as bebidas.

- Experimenta essa.

Ela colocou uma bebida esquisita em um dos copos vermelhos e me entregou. Eu analisei antes de beber. Queimou tudo quando eu bebi, parecia que eu estava bebendo fogo.

- Bem...

Tossi tentando falar algo sem chorar involuntariamente.

- ...Forte

Ela riu e tirou o copo da minha mão, tomou tudo em um só gole e encheu o copo com outra bebida. Uma mais leve.

Saímos da cozinha em direção a parte externa. Encontrei Luca no caminho e cumprimentei ele, mas como ele estava eufórico com a festa o papo durou menos de dois minuto.

Ali sim tinham mais pessoas, algumas perto da piscina, outras espalhadas pelo grande quintal. Eu definitivamente nunca tinha visto tanta gente.

Ficamos em um canto um pouco mais afastadas das pessoas, o que eu agradeci mentalmente. Ficamos conversando sobre coisas aleatórias, até que as amigas delas chegaram e se juntaram a nós.

- Eu cheguei pra alegria de vocês!

Ouvi a voz dela atrás de mim e virei. Eu definitivamente não esperava pelo que eu vi, nunca em nenhum momento da minha vida eu esperei por isso.

A fantasia que ela me mostrou no dia anterior era mixuruca comparada a essa. O macacão estava mais apertado no seu corpo, o zíper que ajudava no decote estava mais pra baixo e o cinto de utilidades estava com os acessórios e nas costas os bastões.

Mas isso não era nada comparado ao cabelo, ou eu estava louca ou ela tinha pintado o cabelo, literalmente pintado de ruivo. Abri a boca surpresa e me aproximei dela na maior cara de pau mesmo tocando seu cabelo.

- Você pintou?

Ela ficou me olhando com uma cara engraçada, eu nem fiz questão de disfarçar minha surpresa.

- Ah... não. É só uma lace.

- Ficou maravilhosa amiga!

Uma das meninas disse abraçando ela e me afastando. Eu andei pra trás ainda chocada e me encostei na parede.

- Ela combina com ruivo não é?!

Carol disse chamando minha atenção. Assenti olhando pro chão.

- Você ficou bem surpresa não é?!

- Sim, não esperava.

Sorri olhando pra ela que sorriu de volta bebendo um grande gole da sua bebida. Ela desviou o olhar e voltou ao assunto com as amigas.

Eu acabei ficando de fora, não por quê me excluíram. Mas porque eu não tenho assunto e não sei socializar. Decidi sair de fininho de perto delas e andei devagar até a parte de dentro da casa em busca de algum cômodo vazio pra respirar um pouco.

As vezes nós, pessoas introvertidas só precisam de um tempo pra se recuperar e voltar a tentar socializar. Bom, isso funciona comigo pelo menos.

Andei pela casa toda até encontrar a sala de televisão onde ficamos sempre. Tudo bem que eu posso estar sendo meio invasiva, mas a casa está toda cheia de gente e acho que ficar isolada um pouco não faz mal a ninguém.

Peguei meu celular mandando uma mensagem pra minha amiga. Definitivamente ela era a única que me entendia.

- Hey.

Levei um susto com a voz sussurrada no meu ouvido e quase caí pra trás. Olhei pro lado vendo a dona da voz rindo sentada no chão ao lado da poltrona que eu estava sentada.

- Fugindo da festa?

- Fugindo das pessoas.

Brinquei sorrindo ainda tentando recuperar minha respiração.

- Bom, pelo menos aqui tem isolamento acústico e você não ouviu quando o Luca começou a cantar no microfone, foi um atentado aos tímpanos alheios.

Eu ri guardando o celular vendo ela se levantar e sentar ao meu lado.

- Ele precisa de aulas de canto urgente.

- Precisa de um pouco de vergonha na cara, isso sim.

- Deixa ele te ouvir dizendo isso.

Ela riu e me olhou com a sobrancelha erguida.

- Eu sou irmã dele, tenho moral pra dizer, ele já me atormentou muito nessa vida.

Ela suspirou e virou de lado apoiando o cotovelo no encosto do sofá me olhando.

- Então... por que veio pra cá?

- Minha bateria social as vezes precisa ser recarregada.

- E como você faz isso? Se escondendo?

Eu ri negando com a cabeça.

- Eu não me escondo, só me isolo. É como uma válvula de escape.

- Entendi. Eu amei sua fantasia, wandinha é a sua cara.

- Acho que sou a única que parece uma criança, todo mundo está tão...

- Sexy?

Ela perguntou rindo e eu concordei ficando um pouco envergonhada, definitivamente minha fantasia era a mais simples.

- Você não é todo mundo, é muito mais fofa que todos eles.

- Todo mundo sexy e eu...

Apontei pra mim.

- Fofa.

Ela gargalhou alto se jogando deitada no sofá me contagiando. Ela parou de rir respirando fundo e me olhou ainda deitada.

- Eu gosto muito da sua fofura. É o seu charme.

Ela disse se sentando de novo e pousou a mão na minha perna.

- Muito mais atraente que qualquer uma dessas fantasias extravagantes.

Ela me olhou nos olhos me deixando completamente perdida. Nem estava mais ouvindo o que ela falava só observava seus lábios se moverem.

- Ei...

Eu desviei meus olhos de voltas pras íris verdes dela. Ela riu ainda segurando meu rosto.

- Meus olhos são aqui em cima.

Senti minha bochecha esquentando rapidamente, me afastei abaixando a cabeça.

- Desculpa..

Ela riu mais ainda e tocou meu queixo me fazendo olha-la de novo.

- Relaxa.

Ela acariciou meus fios de cabelo rebeldes que estavam soltos na minha nuca me causando arrepios e sorriu olhando em direção a minha boca antes de aproximar o rosto do meu tomando meus lábios calmamente.

Beijar ela era diferente toda vez, parecia que sempre tínhamos mais sentimentos pra compartilhar em cada vez que nos beijávamos. Por mais que eu tenho consciência que esse sentimento só parte de mim, eu ainda consigo sentir que ela não me beija só por beijar.

E devido a esse fato meu coração sempre acelerava um pouco mais, minha respiração sempre se descompassava e não somente pelo beijo em si. Eu sinto algo por ela, eu sou apaixonada por ela e isso é mais claro que tudo.

Então beijar ela pra mim é uma das melhores coisa que já fiz, uma sensação única.

Quando o ar se fez necessário novamente ela finalmente tirou a mão da minha nuca e passou os dedos pelos meus lábios provavelmente limpando o batom dela que estava ali, eu sabia porque os dela estavam e exatamente assim.

- Tudo em você é fofo. Mas o seu beijo é muito mais que isso.

Ela sussurrou antes de se afastar de vez pegando o celular e olhando seu reflexo limpando seus lábios como fez com os meus. Meu coração já tinha desistido de bater normalmente e começou a sambar no meu peito, eu podia infartar a qualquer momento, com certeza.

Ainda ofegante vi ela se levantar e seguir em direção a porta. Eu queria muito tirar meus olhos dela, mas ela era hipnotizante. Tenho certeza que se você aí que está lendo estivesse aqui no meu lugar não ia conseguir desviar o olhar também.

- Acho que já podemos voltar pra festa. Ou você ainda precisa de bateria social?

Respirei fundo e assenti me levantando. Definitivamente minha bateria social estava recarregada e pronta pra mais uma rodada de medos e inseguranças expostos.

- Se eu soubesse que um beijo já ia te ajudar a recarregar as energias eu tinha te beijado antes.

Ela brincou rindo a abrindo a porta pra sairmos. Eu nada respondi, preferi evitar a gagueira e o nervosismo constante.

Andamos de volta a área externa onde as amigas dela estavam, Melissa já não estava mais lá. Provavelmente se agarrando com alguma garota em algum canto da festa.

- Vocês nem disfarçam que estavam aos beijos.

Uma das meninas disse. Eu olhei pra trás fingindo que não era comigo tentando disfarçar que fiquei completamente vermelha de vergonha. Enquanto a Carol riu e me puxou pra próximo dela.

- Você devia cuidar mais da sua vida.

Piscou pra menina e me soltou quando estávamos nós encostamos na parede de novo.

Elas começaram a conversar de novo, eu só respondia quando me perguntavam algo e no máximo balançava a cabeça em concordância com algumas coisas.

É horrível se sentir deslocada.

Desviei o olhar rapidamente e vi a Melissa conversando com uma das meninas do terceiro ano, ela era líder de torcida e estava fantasiada de... líder de torcida? Uau que criativa.

A Melissa devia procurar pessoas com um pouco mais de cérebro. Mas eu não me importo, desviei o olhar dela e voltei a tentar prestar atenção na conversa. A Melissa que faça o que quiser da vida dela.

Quando já eram quase três da manhã eu já sentia que a pouca bebida que ingeri estava fazendo efeito. Sentia minha cabeça girando de leve e uma dor de cabeça.

Sai da casa pra esperar pela minha mãe que já tinha me avisado que estava a caminho. Isso depois de me despedir de todo mundo, é claro.

- Wandinha Addams. Cadê sua Katniss?

Ouvi a voz da Melissa atrás de mim e me virei vendo ela andar até mim. Sua peruca já não estava mais no cabelo e os bastões que faziam parte dos acessórios também não.

- Cadê sua líder de torcida?

Devolvi a pergunta arqueando a sobrancelha. Desde quando eu virei o tipo que provoca? Eu que sou a que é provocada, não a que provoca. Vou parar de beber.

- Ela saiu com o Jack sparrow.

Riu cruzando os braços.

- Já vai embora?

- Sim, minha...

- Mamãezinha, eu sei bem. Podia te levar de moto que é mais radical, mas já que prefere a segurança da sua mãezinha.

- Sim, eu prefiro.

Dei de ombros. Ela tirou do bolso um papel e me entregou. Era de uma arena de paintball, eu pigarreei pensando o que ela queria com aquilo.

- Que tal? Amanhã vai ter uma partida especial.

- Paintball? Eu? Sério?

Ela concordou com a cabeça ainda séria.

- Você vai gostar.

- Gostar? Desde quando?

- Vai ou não?

Perguntou impaciente. Eu olhei pro fim da rua e vi o carro da minha mãe se aproximar, olhei pra ela de novo pensando na proposta.

Talvez seja legal.

- Tudo bem. Mas eu não sei nem pegar na arma.

- Eu te ensino.

Devolvi o papel pra ela que pegou e guardou no bolso de volta.

- Até amanhã então.

Acenou pra minha mãe que acenou de volta de dentro do carro. Eu me despedi e andei até o carro entrando nele em silêncio.

- Sempre achei a viúva negra uma grande de uma....

Arregalei os olhos e minha mãe parou de falar.

- Por favor não continua.

Ela riu saindo com o carro pelas ruas.

- Só estava dizendo.

Falou como se fosse a coisa mais comum do mundo. Eu definitivamente preferia não saber a continuação daquela frase.

[...]

Senti uma dor aguda nas costas quando meu corpo caiu no chão. Abri os olhos tentando ignorar a dor pronta pra ver quem tinha sido o filho da mãe que me empurrou da cama.

Pra minha surpresa, só que não. Melissa estava ali parada de pé ao lado da cama e rindo da minha cara. Qual é o problema dessa menina?

- Você tem o que na cabeça?

Perguntei sentada no chão olhando pra ela que estava de joelhos na minha cama ainda rindo da minha cara.

- Não achei que você fosse cair. Eu só te cutuquei.

- Mentira! Você me empurrou.

Levantei sentido minhas costas doerem levemente. Eu preciso de novas amizades, mas pensando bem... eu nunca tive amigos pessoalmente assim, então eu posso aturar isso.

- Desculpa, mas foi muito engraçado. Você caiu que nem um pedaço de carne no chão.

Revirei os olhos sentando na cama ao lado dela.

- Você entrou no meu quarto uma vez e já está se sentindo a vontade pra fazer sempre. Eu devia ficar preocupada?

Ela sorriu de lado e colocou a mão na minha coxa perto do meu joelho.

- Ainda não. Eu vim te buscar pra irmos na arena de paintball.

Só então eu me lembrei desse detalhe. Que maravilha! Vou passar meu domingo levando tiro e acabar ele toda roxa.

- Ah sim... eu tinha me esquecido.

- Por isso eu vim. Eu sabia que você ia querer desistir.

Ela levantou e abriu as cortinas deixando a luz forte do sol entrar no quarto e me cegar por alguns segundos.

- Então saí do meu quarto pra que eu possa me arrumar.

Eu disse esfregando os olhos. Ela riu e saiu batendo a porta de leve.

Suspirei e levantei indo em direção ao meu closet pra pegar uma roupa. Optei pelo padrão, calça jeans e camiseta de banda. Ignorei o fato de ela ter que me esperar e decidi tomar um banho.

Vesti a roupa e coloquei uma das minhas toucas pretas no cabelo, ajudavam a esconder a bagunça dele, calcei meu vans preto e finalmente sai do quarto.

Andei até a cozinha encontrando meus pais tomando café da manhã enquanto falavam sobre algo aos sussurros.

- Olha só quem acordou. Sua amiga está te esperando lá fora.

- Por que ela não está aqui?

Perguntei pegando uma das frutas que tinham em cima da mesa.

- Eu vou lá saber, ela quis esperar lá fora.

Minha mãe respondeu se levantando e recolhendo os pratos.

- Sabe... quando eu pedi que fosse mais extrovertida eu não estava me referindo a marcar de sair com as garotas e não nos contar. Você ainda tem só dezesseis.

Meu pai disse me olhando. Abri a boca tentando buscar uma forma de sair dessa situação. Eu não avisei eles porque esqueci até que eu tinha combinado de ir.

- Eu esqueci, desculpa.

- Tudo bem, mas dá próxima vez avise a gente. E toma cuidado.

Meu pai beijou o topo da minha cabeça e deu um selinho na minha mãe antes de deixar a cozinha. Eu olhei pra ela com um sorrisinho e ela sorriu de volta.

- Eu e seu pai vamos sair e só voltaremos de noite. Portanto, juízo.

Ela levou os dois dedos aos olhos e apontou pra mim como se dissesse "estou de olho em você". Eu concordei e deixei a cozinha em direção a porta da frente.

Quando sai vi ela apoiada na moto mexendo no celular. Uma visão que me deixava levemente desconcertada, confesso que nas minhas fanfics mentais eu já imaginei cenas assim, e agora a pessoa das minhas fanfics tinha rosto.

Uma coisa que a Melissa tem de diferente da Carol é que ela é extremamente atraente e sabe disso. Ela usa e abusa de todos os atributos que Deus lhe deu, literalmente. A Carol também é extremamente atraente mas ela não usa e abusa disso, digamos que ela é mais reservada quanto a isso.

- Finalmente. Demorou mais que noiva em dia de casamento.

Ela disse quando me viu. Talvez ela tenha reparado que eu fiquei alguns minutos olhando pra ela já que ela soltou o típico sorrisinho safado nos lábios. Eu odeio esse sorrisinho, mas ela pode.

Andei até ela e aceitei o capacete, dessa vez eu não reclamei de ter que ir de moto, mesmo sentindo um medo me invadir. Eu ia me acostumar um dia? Provavelmente não.

O caminho não era longo. Chegamos em alguns minutos, ela estacionou a moto e guardou os capacetes antes de entrarmos. O lugar era enorme e nas paredes haviam muitos quadros, um corredor extenso que dava acesso as portas. E na frente a recepção.

Ela resolveu tudo que precisava enquanto eu ficava sentada na recepção esperando. Eu definitivamente não sei ser adulta, não mesmo. As vezes me sinto um pouco criança perto de pessoas como ela, que tem a minha idade e já sabe fazer tudo assim.

Mas levando em consideração que eu tenho medo de tudo e sou tão tímida que mal consigo manter uma conversa com pessoas desconhecidas. Acho que é uma boa desculpa.

- Pronta?

Ela perguntou quando já estávamos vestidas com a roupa especial e o colete. Eu neguei com a cabeça vendo ela colocar o capacete na própria cabeça antes de pegar o outro e vir na minha direção colocando na minha cabeça.

- Você vai gostar, eu prometo.

Sorriu depois de conseguir fechar o capacete abaixo do meu queixo. Eu suspirei levemente nervosa tentando não pirar.

- Isso dói?

Perguntei assustada quando ela pegou uma das armas que o instrutor lhe entregou.

- Você está toda equipada, não vai doer nada.

Me entregou a outra arma. Vi que já estavam carregadas com as bolas de tinta.

Respirei fundo enquanto éramos guiadas até o lugar aberto onde aconteceria o meu assassinato. Tudo bem, Alice você está exagerando. Vai ser tranquilo, o que de tão ruim pode acontecer?

[...]

Retiro o que disse. Muita coisa ruim pode acontecer nisso.

Quase gritei de dor quando uma das bolas de tinta atingiu uma parte descoberta do meu corpo. Me arrastei pra me esconder atrás de uma da paredes que tinha ali e joguei a arma no chão esfregando o local no meu pescoço onde doía.

Não era só ali, meu corpo todo doía. Preciso me lembrar de matar a Melissa quando sairmos daqui. Estava quase chorando de dor, mas respirei fundo e tentei não focar nisso. Eu não sou mais criança, repeti pra mim mesma.

- Ei, você está bem? Aquela doeu até em mim.

Ela disse rindo de mim e deixando sua arma de lado tocando meu pescoço bem onde a bola de tinta tinha acertado.

- Se eu morrer com uma bola de tinta no pescoço você diz que foi outra coisa. Não quero virar piada até depois de morta.

Choraminguei a última parte. Ela riu mais ainda e pegou sua arma de volta se escorando atrás da parede pra acertar o adversário.

- Você não vai morrer. Não comigo aqui.

- Uau, a minha heroína.

Ironizei ainda regulando minha respiração. Eu só queria ir embora.

- Relaxa, linda. Eu vou te salvar.

Beijou minha bochecha e saiu me deixando sozinha de novo. Eu ainda não entendia qual é a do "linda", mas tudo bem.

Quando o jogo Finalmente acabou eu suspirei aliviada me deixando cair deitada ali mesmo onde eu estava. Meu corpo todo doía.

- Morreu?

Ela perguntou me estendendo a mão. Revirei os olhos e aceitei.

- Eu nunca mais aceito suas ideias. Definitivamente foi uma das piores experiências da minha vida.

- Quanto drama.

Ela sorriu e me guiou até o lugar onde tiramos as roupas especiais e pegamos nossas coisas.

Saímos do lugar e andamos até o estacionamento. Ela falava o tempo todo de como foi divertido e como ela conseguiu atirar em várias pessoas, eu só conseguia pensar na minha dor.

O caminho de moto foi até melhor que antes. Acho que pelo fato de que eu estava morrendo de vontade de chegar em casa. Quando ela estacionou eu desci da moto e tirei o capacete.

- Será que eu posso usar o seu banheiro. Eu estou bem apertada.

- Ah... claro.

Dei de ombros, não teria problema nenhum. Mesmo que meus pais não estivessem em casa.

Entramos e eu indiquei o banheiro pra ela de novo, fiquei no corredor esperando ela sair, depois que ela saiu eu andei até o meu quarto sendo seguida por ela. Me olhei no espelho do banheiro e vi os pequenos roxos mas um bem marcante no meu pescoço. Aquele eu não ia esquecer, doeu como o inferno.

- Esse aí foi horrível.

Ouvi a voz dela atrás de mim e vi através do espelho ela me olhando encostada na porta.

- Pois é, ainda dói.

- Passa uma pomadinha. Sua mãezinha deve ter.

Ela brincou sentando na cama. Eu revirei os olhos realmente pegando uma pomada pra passar.

Depois que passei voltei pro quarto e ofereci pra ela que negou.

- Não precisa, isso aqui não é nada. O tanto de cicatriz que eu tenho porque cai de moto não tem nem comparação.

- Por isso eu odeio motos.

- Mas a minha você curte. Ela é incrível e a pilota mais ainda.

Ri do seu tom convencido.

- Acho que uma pomadinha não vai te fazer menos forte. Afinal você vive com os dedos cheios de esparadrapo.

- Eu jogo vôlei.

Disse óbvia mas aceitou a pomada. Levantou da cama e tirou a jaqueta jeans que cobria seu corpo deixando sua regata preta que estava por baixo a mostra, e uma parte da sua barriga. Os roxos estavam nos braços ela abriu a pomada e passou de leve em alguns que estavam piores.

- Você está me olhando tanto que eu estou até com sede.

Senti minha bochecha corar rapidamente e desviei o olhar ouvindo sua risada.

- Você não disse que ia usar só o banheiro?

- Está me expulsando?

- O que? Claro q-que não.

Tentei não gaguejar mais foi em vão. Eu sentia uma vontade absurda de ficar com ela nesse momento e se ela continuasse ali eu não conseguir controlar meus hormônios adolescentes. Mas ela não precisa saber disso.

- Está mentindo.

Ela sorriu e me devolveu a pomada voltando a vestir a jaqueta tampando minha visão dos machucados e da sua barriga que eu confesso que olhei por mais tempo que o normal. Talvez eu seja uma psicopata.

- Eu não minto.

- Então me diz, sem gaguejar, que você não está morrendo de vontade de me beijar nesse momento.

Arregalei os olhos e tossi sentindo um nervosismo enorme. Eu não posso fazer isso, cadê seu autocontrole, Alice?

- C-claro que...

Nem terminei, já que seria em vão. Ela tinha um sorriso convencido nos lábios e os braços cruzados.

- Então...

Não deixei ela terminar, simplesmente fiz o que me cabia no momento. Sim, eu beijei ela ali mesmo, no meio do meu quarto, no meu canto, na minha caverna.

Ela agarrou minha cintura e me fez dar alguns passos pra trás até que eu tivesse as costas na parede, tudo isso sem desprender do beijo. Ela me beijava de um jeito completamente diferente, era como se fosse o último beijo antes do fim do mundo.

Levei minhas mãos aos seus ombros e afastei ela completamente ofegante quando ouvi um barulho vindo do corredor. Ela me olhava como se eu fosse um pote de ouro, as pupilas dilatadas e a respiração mais descompassada que a minha.

Seu braço direito estava abraçando minha cintura enquanto a mão esquerda estava na parede.

- Tem alguém aqui.

Eu disse baixo tentando não ignorar o fato e voltar a beijar ela. Seus lábios estavam convidativos mas meu medo prevaleceu.

- Não... você tá ouvindo coisas.

Ela se aproximou de mim, mas eu afastei de novo. Ela revirou os olhos e se afastou abrindo a porta.

Quando ela abriu a porta minha mãe estava com a mão na maçaneta como se fosse abrir a porta no mesmo momento. Eu arregalei os olhos e quase infartei de susto.

- Vejo que está em boa companhia.

Ela disse me fazendo querer sumir.

- Boa tarde senhora Johnson.

Melissa disse sorrindo simpática. Minha mãe riu e cumprimentou ela.

- Quem está...

Meu pai parou a frase no meio quando viu a Melissa ali do meu lado.

- O que estavam fazendo?

- Ah, isso é óbvio querido. Olha só o pescoço da nossa filha.

Eu falei imediatamente quando ela disse isso. Senti todo o meu sangue ir pra minha bochecha, impossível ficar mais vermelha.

- Eu estava no paintball. Isso aqui foi lá.

Tentei me justificar e me poupar da vergonha que eu já estava passando. A Melissa só sabia rir.

- Essa desculpa eu nunca usei. Onde aprendeu?

Minha mãe estava quieta de braços cruzados enquanto meu pai só sabia me zoar.

- Pai! Podem me dar um pouquinho de privacidade?

- Ah, claro.

Ela piscou e saiu nos deixando a sós.

- Eu acho que eu quero morrer.

Eu disse dramaticamente sentando na cama.

- Hoje você deu pra fazer drama.

Ela só sabia rir. Eu definitivamente não sei o que deu em mim quando resolvi beijar ela.

- Desculpa... por ter ter beijado assim do nada.

Ela sentou do meu lado e tocou meu rosto me fazendo olhar pra ela.

- Pode fazer mais vezes. Inclusive agora.

Ela avançou sobre mim e me deu outro beijo. Usando toda a confiança que eu não sabia que tinha, coloquei minha mão na sua nuca e aprofundei o beijo, enquanto ela segurava minha cintura.

- Calma...

Eu disse segurando seus ombros, ela sorriu e me deu mais um selinho antes de levantar.

- Eu sei, seus pais estão aí. Tudo bem, eu já preciso ir embora mesmo.

Assenti vendo ela vestir a jaqueta que eu confesso que nem vi saindo do seu corpo de novo. Beijou minha bochecha e simplesmente saiu.

Fiquei ali olhando pra clara boia e pensando no que tinha acontecido. Desde quando eu tomo iniciativas? Eu nunca fiz isso na vida. Só no jogo de verdade ou desafio, mas ali foi um selinho. Aqui foi... completamente diferente.

Sai do quarto depois de longos minutos, segui pra cozinha já esperando as zoações dos meus pais. Dito e feito, foi só eu entrar e eles já começaram a rir.

- Aquela é a da fantasia de viúva negra?

Revirei os olhos em tédio enquanto me sentava na mesa e apoiava os cotovelos nela.

- Sim, o nome dela é Melissa.

- E a do vôlei?

Meu pai perguntou.

- Vocês podem parar de ficar perguntando?

Eles riram mais. Eu estava quase desistindo até que eles pararam de rir.

- Quando eu achei que você fosse socializar não sabia que ia sair passando o rodo pela escola. Quem é você e o que fez com a minha filha?

Meu pai perguntou se colocando de pé e praticamente deitando na mesa pra alcançar meu rosto e torcer ele olhando todos os detalhes como se avaliasse.

- Para pai! Eu não passo o rodo, que tipo de expressão é essa?

- Como falam hoje em dia? Aquela pessoa que fica com todo mundo?

- Meu Deus, eu vou voltar pro meu quarto.

- Ei, calma ai! Eu quero explicações mocinha. O que eu disse sobre ter juízo?

Minha mãe disse me fazendo revirar os olhos de novo.

- Não trazer ninguém pra dentro de casa sem avisar. Eu sei, eu sei, mas ela pediu pra usar o banheiro e eu não podia dizer não.

- Banheiro...

Ela cutucou meu pai com o cotovelo e os dois riram de novo.

- Vocês podem parar de rir?

- Desculpa...

Eles pararam de novo e me olharam.

- Só tem cuidado, e se for ficar com alguém no seu quarto. Tranque a porta.

Arregalei os olhos, mas depois vi que era brincadeira quando eles riram de novo.

- Meu Deus, não fala isso. Ela vai fazer mesmo.

Meu pai disse tentando não rir mais. Eu levantei da mesa pronta pra sair dali.

- Quando resolverem falar comigo sem rir eu volto.

Saí deixando os dois palhaços pra trás. Eles sempre faziam isso, parece que eu tenho cara de palhaça.

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