Sign of the Painted Map

By BiaCipherDreemur

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Em um mundo onde humanos e híbridos vivem "juntos". Divididos por ilhas, cada um vive sua própria vida de for... More

Prefácio
I
II
III
IV
VI

V

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By BiaCipherDreemur

"Cause I feel like I'm the worst

So I always act like I'm the best"










-- O que? -- Sebastian questionou em um sussurro. Não que ele não tivesse entendido a pergunta, ele só queria ter certeza.

-- O nome do seu amigo de infância... -- Erix repetiu abaixando o tom de voz também. Elias ficou inquieto do lado do robô, e começou a puxar o colarinho da própria camisa.

A orca franziu o cenho e trocava olhares com Erix e então para Elias. Aquele assunto tão delicado para ele veio à tona tão repentinamente... Por que?

-- Thales. -- Sebastian respondeu com a voz trêmula. Liraz sentiu um calafrio no corpo quando ele respondeu. -- Por que?

Seus dois amigos olharam um para o outro, como se estivessem tentando resolver algo entre eles por telecinese. E isso tudo deixava Sebastian mais e mais agitado.

-- Você precisa ver isso... -- Elias sussurrou para a orca. Fazendo um gesto que dizia para segui-lo, o peixe o guiou de volta para o barco. Enquanto eles ainda estavam no caminho, o robô olhou para a humana que já havia se levantado da areia e observava o amigo recente dela ao longe.

-- Você. -- Erix apontou para Liraz que se esforçou muito apara não dar um olhar debochado para ele. -- Você nos deve respostas. -- o timbre da voz metálica era seca e dominante. Mas no fundo, percebia-se que era apenas algo para ocultar o medo a incerteza.

A garota não respondeu nada, apenas concordou, abaixou a cabeça e seguiu o robô para o barco.

Ao chegarem lá, alguns momentos depois dos outros dois, já encontraram Elias abrindo o laptop de Erix, e dando um suspiro antes de mostrar a tela para Sebastian.

A orca olhou para o amigo antes de olhar para a tela do computador, e ao fazê-lo seus olhos arregalaram.

Na tela do laptop, era mostrado um site de um parque que havia na ilha dos humanos. Parecia normal, até que percebia as suas atrações. Além de montanhas russas e parques temáticos, havia algo que quebrava todas as leis de ética e humanidade da própria humanidade.

Animais híbridos. Usados e forçados a fazerem apresentações para os humanos. Dentre as espécies tinham híbridos golfinhos, que nas fotos forçavam um sorriso alegre enquanto humanos subiam neles enquanto eles nadavam em uma apresentação aleatória do parque.

Isso já fez Sebastian franzir as sobrancelhas e sentir um enjôo na barriga. Uma outra espécie também estava sendo mantida em cativeiro para apresentações.

Era uma espécie híbrida maior, e não demonstrava uma felicidade genuína por estarem ali também.

Híbridos orcas.

Os braços trêmulos de Sebastian envolveram o próprio corpo em método de defesa enquanto observava o resto da página.

As orcas ali tinham diversas idades, umas eram jovens, crianças, outros adolescentes, outros adultos, todos forçando um sorriso nas fotos com seus respectivos treinadores humanos.

Apenas um não se esforçava em sorrir. Seu tamanho era enorme comparado às outras orcas. Sua nadadeira dorsal estava caída para esquerda, e na foto podia-se ver cicatrizes pelo seu corpo e queimaduras de sol em sua pele fina e sensível.

Abaixo da foto dele, havia o nome da apresentação: Believe.

E logo ao lado o nome da orca: Thales.

Sebastian balançou a cabeça em confusão e olhou a foto de novo. Aqueles olhos era muito parecidos com os olhos que ele se perdeu a muito tempo atrás. Não era possível que fosse ele. E se fosse, todo esse tempo ele estava ali? O pensamento cercava a mente de Sebastian, e o fez ter vontade de vomitar, bater em algo, qualquer coisa para tirar aquela sensação estranha do peito.

-- QUE PORRA É ESSA!? -- o mais alto indagou olhando para Elias, para Erix e logo depois, para Liraz. -- Que porra é essa...? -- seus olhos estavam formando lágrimas quando ele repetiu a pergunta de forma relativamente mais suave para a humana.

Quando ela ia abrir a boca para responder algo, o robô a interrompeu, segurando o braço dela e puxando-a para perto dele, numa forma de se fazer de intimidador.

-- Eu quero verdades. -- Erix rosnou enquanto seus olhos pretos de pupilas brancas encaravam os olhos castanhos assustados de Liraz. -- E eu reconheço muito bem quando alguém mente. Escolha bem suas palavras. -- e a soltou.

Liraz esfregou a parte que o robô havia agarrado e encarou Sebastian. Lágrimas insistiam em querer descer, mas por algum motivo ele não as permitia. A humana suspirou.

-- Há humanos numa parte da ilha que sequestram híbridos mais próximos dos animais selvagens, porque de acordo com eles, seria algo inovador e esse animais não são tão humanos... -- a garota sentiu uma dor no peito quando a orca a olhou confuso e desacreditado. -- M-mas há muitos humanos que são contra isso também! -- ela não aguentou o olhar penetrante dos rapazes ali e olhou para baixo enquanto mexia com a borda da jaqueta -- Muitos fazem mobilizações, documentários, avisos e-

-- 15 anos. -- Sebastian rosnou baixo interrompendo a menina. -- Meu amigo, Thales, foi sequestrado a 15 anos. -- ele começou a andar em direção a Liraz lentamente, como um predador se aproximando da presa. -- E a 15 anos, ele está preso lá. -- Ele se abaixou um pouco para seus olhos azuis se alinharem com os castanhos dela. -- E não mudou nada?

Aquilo era uma pergunta genuína, Sebastian não queria amedrontar ninguém, mas Liraz não conseguiu evitar dar alguns passos para trás em receio.

-- Eles ignoram tudo... -- ela sussurrou. -- Há humanos sujos que fazem tudo por dinheiro e fama...  Eles ignoram até mesmo quando os híbridos morrem cedo- -- a humana imediatamente tapou a própria boca com as duas mãos e encarou a orca com olhos arregalados. -- Desculpe...

Sebastian arregalou os olhos também, mas logo suspirou e se afastou da garota enquanto esfregava as mãos no rosto e no cabelo.

-- Eu vou chorar... -- ele choramingou, mas ninguém sabia se ele estava exagerando ou se ele realmente iria.

-- Precisamos avisar o Archie... -- Elias falou enquanto guardava o notebook do Erix na bolsa.

-- Precisamos avisar o rei Alric. -- o robô complementou. Ele olhou para a orca, que não queria mais nem olhar para nenhum dos amigos que estavam ali no barco. Erix suspirou, coçou o queixo e olhou para a humana que ainda estava na embarcação.

Liraz jogava o peso de seu corpo ora para um pé, ora pro outro. A tensão estava muito grande naquele local.

-- Liraz. -- Sebastian a chamou num timbre monótono, mas alto o bastante para chamá-la atenção. -- Você tem telefone? Acho que é bom mantermos contato... Afim de resolver isso, é claro. -- A orca se virou para ela, sorrindo, mas não o mesmo sorriso que ele tinha a poucos minutos atrás.

-- Sim, sim! -- a garota respondeu enquanto pegava o celular do bolso nervosamente.

Erix torceu a boca desgostoso enquanto observava os dois e ia para a cabine do motorista.

-- Você acha que o Alric vai saber o que fazer? -- Elias perguntou para o robô, porém ele encarava a orca e a humana trocando os números dos telefones e se despedindo sem muita animação.

-- Eu espero que sim. -- Respondeu e ligou o motor do barco para sair dali o mais rápido possível.


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Sebastian não conseguiu prestar muita atenção no quê tinha acontecido quando chegaram a Seameet. As cenas pareciam nebulosas e quando ele menos percebeu, estava deitado na cama de um dos quartos do castelo, com o celular na mão.

O brilho do aparelho estava no mínimo, mas ainda parecia estar brilhante demais. A orca encarava o contato que digitava no momento.

Liraz estava no outro lado da tela, escrevendo, apagando e reescrevendo a mensagem.

'Eu não queria ', apagou a mensagem, estalando a língua e franzindo o cenho. 'Eu vou fazer de tudo pra ', será que aquilo iria parecer forçado? Mas uma vez apagou. 'Eu não sei como você se sente mas ', ela sentiu que aquilo não iria ajudar muito. Outra vez apagava. 'Sebastian ', encarou a mensagem. Liraz não sabia muito o que fazer, mas ela queria ajudar. Ela sempre quis tirar aqueles animais dali, mas sozinha ela não podia fazer muita coisa. Mas estava disposta a fazer o possível. 'Sebastian, conte comigo. Se precisar de mim para alguma coisa, é só me mandar mensagem ou me ligar. Durma bem. Boa noite <3'

E enviou a mensagem antes que pudesse pensar mais ou se arrepender.

Sebastian estavam tão ansioso quanto ela por causa da mensagem, e quando ela finalmente chegou, ele não pôde evitar um sorrisinho.

Ler a mensagem de Liraz deixou ele um pouco aliviado e alegre. Era legal ver alguém de outra ilha, principalmente dos humanos, se preocupando com ele e com outros híbridos.

Respondendo com um 'Obrigado, baixinha. Boa noite e durma bem vc tmbm ;)', Sebastian sorriu e sentiu sua cauda balançar um pouco de animação. Ele amava fazer novos amigos. Porém, a imagem do laptop do Erix veio em sua mente e seu sorriso desapareceu.

Desligando o celular e botando na mesa de cabeceira, Sebastian soltou um suspiro preocupado. Como estaria Thales naquele momento? Será que era realmente o Thales? Mesmo que não fosse, nenhum ser vivo merecia estar naquele lugar.

A orca esfregou os olhos e os forçou fechados para tentar dormir. Sua inquietação não permitia o sono de vir, mas ele precisava dormir pelo menos um pouco. Mas toda vez que ele tentava, as imagens o assombravam de novo, e os pensamentos de como os híbridos estavam lá naquele momento também o faziam grunhir baixo em desespero.

"Pense em coisas boas, Sebastian..." a orca pensou para afastar as imagens ruins. "Coisas boas..."

Ele se imaginou com Elias, Erix e Archie. Conversando, zoando com o robô. Fazendo piadas. Ele se imaginou no mar, nadando, o frio da água tocando de forma confortável em seu corpo. Ele se imaginou comendo apenas a parte que ele gostava de arenque cozinhado e deixando o resto, o que fazia Erix gritar com ele e o Sebastian respondê-lo zombando, fazendo Archie, Elias e até mesmo Alric rir.

Ele se imaginou conversando com a Liraz de novo. Talvez ele pudesse trazê-la pra ilha dele um dia. Ela podia podia passar o dia com ele. Ou talvez ele e ela pudessem nadar no mar e ele pudesse mostrar as habilidades dele de natação. Ele podia contar as piadas ruins dele e ver as reações dela.

Quando ele menos percebeu, ele já estava dormindo.


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A notícia que Erix, Elias e Sebastian trouxeram foi como um bombardeio na sala de reunião. Era algo tão delicado, sério e complicado. A reunião acabou sem ninguém conseguir concluir muita coisa, e Alric, vendo o estado quieto de Sebastian, entendeu que era melhor todos descansarem para discutirem melhor no próximo dia.

Todos já haviam ido para seu quarto para dormir, menos o rei e seu cientista real.

Alric estava sentado em uma das cadeiras da sala de reunião com seu rosto apoiado em ambas as mãos em sinal de estresse.

Erix o observava da cadeira ao lado e seu pé estava se mexendo ansiosamente, esperando a resposta da pergunta que ele havia feio anteriormente.

-- Eu não tô nem um pouco afim de chamar ele... -- Alric confessou, sua voz abafada pelas próprias mãos.

-- Nem eu, vossa majestade. -- o robô respondeu de forma cautelosa. -- Mas ele conhece essas outras ilhas. E você sabe como os humanos amam golfinhos e-

-- Você acha que ele vai querer nos ajudar a tirá-los de lá? -- o axolote tirou o rosto das mãos e olhou com sobrancelhas franzidas para o amigo do lado.

Erix hesitou muito ao responder, o que fez Alric grunhir. O robô rapidamente tentou responder falando:

-- Ou é ele ou é a humana que achamos na ilha.

O rei voltou a colocar as mãos no rosto, pensando por um momento. Ele não tinha nada contra humanos, mas aquela garota estava no mesmo lugar em que híbridos foram sequestrados, escravizados e forçados a fazerem truquesinhos para humanos ali. Alric desconfiava dela, e muito. Humanos eram imprevisíveis às vezes e ele não queria arriscar a vida de nenhum de seus amigos.

-- Tá... -- o axolote resmungou se levantando da cadeira. -- Eu vou falar com os guardas.

Erix o observou indo na direção da porta e a fechando atrás de si. O robô se perguntou de ainda era uma boa ideia, mas o rei já tinha achado os guardas que ele queria comunicar.

-- Cassian, Finn. -- Alric os chamou atenção, e os dois axolotes da raça dálmatas prateados se curvaram perante o rei, que balançou as mãos como uma forma de dizer que não precisava de toda aquela formalidade. -- Vocês lembram do híbrido golfinho que veio para cá pra receber a terceira advertência dele?

Cassian e Finn se entreolharam e usaram linguagem labial um com o outro para se perguntarem se era aquele golfinho.

Alric os observou e assentiu.

-- Sim, ele mesmo. -- os dois guardas  olharam para o axolote que os respondera. Alric continuou, com um gosto amargo na boca -- Eu quero que o Keller esteja aqui amanhã de manhã para a reunião.


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-- Dizem que o fígado de tubarão é muito bom! -- um filhote de orca híbrido, de uns 10 anos, comentava para seu amiguinho orca híbrido também, de 7 anos, ao lado dele enquanto nadavam.

-- Você já comeu um, Thales? -- o pequeno perguntou num ar de impressionado. Mas o outro sorriu meio sem graça.

-- Heh, não... Mas meu pai disse que quando eu crescer, eu vou ser um dos maiores machos do grupo! E eu vou poder caçar o que eu quiser! -- Thales respondeu flexionando os músculos de seus bíceps.

O mais novo que o acompanhava revirou os olhos e sorriu.

-- Qual é, Sebastian! -- o mais velho disse, abraçando ele de lado e dando um cascudinho no amigo. -- Você vai ser grande também! ... Talvez-

Sebastian encarou Thales com uma expressão que demonstrava pouco a pouco uma falta de paciência.

-- Ou talvez você fique pequenininho pra sempre- -- Thales interrompeu a zoação quando Sebastian se soltou do "abraço" e tentou perseguir o outro.

-- ISSO NÃO TEM GRAÇA, THALES! -- o pequeno gritou enquanto tentava nadar o mais rápido que podia para alcançar o amigo, que apenas ria. -- MÃE! -- o garotinho reclamou, ao ver que a mãe nadava ali perto.

A mãe de Sebastian, que sorria um pouco pela brincadeira dos garotos, nadou até  perto do filho e deu-lhe um cafuné na cabeça.

-- Não se preocupe, Sebby... Você ainda é muito novo... -- ela o confortou. -- Quando você for mais velho, talvez fique até mesmo maior que o Thales.

Thales revirou os olhos de forma irônica quando Sebastian soltou uma risadinha "maléfica", porém infantil.

A mãe de Sebastian sempre fora dócil com o filho e  seu amigo Thales. Diferente do pai, que sempre seguia rígido e queria que o filho fosse o predador sangue-frio que a espécie era. O pai tinha um jeito muito diferente da mãe no quesito de demonstrar preocupação e afeto.

Sebastian puxou muito a personalidade da mãe e a aparência também. Os olhos azuis e cabelos castanhos foram herdados dela, e por enquanto, ela não tinha nenhum filho que tivesse puxado os cabelos pretos e olhos escuros do pai.

-- Alicia. -- o pai de Sebastian chamou a atenção da esposa com sua voz seca e grave. -- Há barcos por perto.

Alicia o olhou com desdém. Barcos não eram tão perigosos se eles se mantivessem dentro d'água. E as crianças estavam se divertindo naquela área.

-- Muitos barcos. -- ele insistiu. -- Temos que ir.

E começou a guiá-los para longe das embarcações humanas. Todos do grupo seguiram Warin, afim de ficarem o mais longe possível do perigo. Mas eles não contavam com uma arma que os humanos iriam usar dessa vez:

Bombas.

Bombas começaram a serem jogadas, não em cima do grupo, mas ao redor, com o intuito de encurralá-los. Warin estalou a língua e olhou para os barcos ao longe. Não era possível que eles que estivessem jogando aquilo...

À frente do grupo, o macho encontrou duas saídas e teve uma ideia.

-- Se separem em grupos! -- gritou, percebendo que era a única opção. -- Crianças e mulheres vão para a direita. Homens para a esquerda! E homens, fiquem chamando atenção para distraí-los.

Vozes em uníssono gritaram "Sim, senhor!", e a ideia entrou em ação.

Sebastian segurava a mão de Thales, que carregava um olhar pesado. O filhote sentia medo e cansaço naquele momento e segurou a mão do amigo com mais força. Ao perceber o medo do mais novo, Thales o olhou com dó e pensou numa ideia.

-- Isso é um jogo! -- Thales falou para Sebastian, que o olhou confuso. -- Nesse jogo, você tem que... Nadar o mais rápido que pode! -- Sebastian não parecia acreditar muito naquilo. -- É uma corrida! Você consegue ganhar dos barcos? -- Thales questionou em um tom de desafio. O menor sorriu um pouco e fez uma expressão determinação e voltou a nadar com todas as forças. Thales sorriu e voltou a nadar também, mas de repente seu sorriso sumiu.

Era um beco sem saída.

-- Uh-oh... -- Thales sussurrou. Ele olhou para trás e viu os barcos se aproximando. Ele olhou para as fêmeas adultas, e todas carregavam o mesmo olhar de medo. -- Droga...

Os barcos se aproximaram e jogaram as redes, porém, não nas adultas, mas nos filhotes.

A partir dali, tudo pareceu uma bagunça. Eram gritos de filhotes desesperados, feridos, mães sendo feridas, empurradas, machucadas. Vocalizações de mães e filhotes em agonia e aflição.

Sebastian perdeu a mãe de vista, mas ainda segurava a mão de Thales.

O mais velho sentiu que algo iria acontecer, talvez por instinto, e empurrou Sebastian no momento que uma rede caiu sobre sua cabeça e o forçou para ir para superfície. Thales não queria desistir tão facilmente, e tentou nadar para baixo para tentar fugir. No meio do seu desespero, viu Sebastian na frente dele, fora da rede, mas tão desesperado quanto ele.

-- A regra do jogo é! -- Thales gritava para Sebastian enquanto ainda nadava para baixo, mas falhando em se soltar, e estava mais se machucando do que outra coisa. -- Nadar para o mais longe possível dos barcos!

-- Mas-

-- VAI! AGORA! EU VOU ESTAR LOGO ATRÁS DE VOCÊ!

Sebastian observou o sangue saindo da pele de Thales aonde as cordas da rede o machucavam, mas escolheu fingir acreditar e nadar para longe.

Ao ver o amigo fugindo, Thales se sentiu mais aliviado. E ao sentir o alívio, foi tempo o bastante para se distrair e ser puxado pra cima, para o barco dos humanos.

Em cima do barco, ele ainda conseguia ouvir os choros dos filhotes e das mães. As vozes viraram apenas vocalizações fora d'água.

Haviam muitos barcos, cada um deles cheios de filhotes de orcas híbridas.

No mesmo barco que ele haviam mais 3 filhotes.

Todos mortos por conta das feridas.

Thales soltou uma vocalização aguda assustada ao ver aquela cena, mas foi segurado por um dos humanos. Ele ainda trocou olhares com uma mãe que estava no mar. Mas a mãe não estava viva também, provavelmente machucada pelos humanos quando ela estava procurando o filho.

Os olhos mortos dela o encaravam, e Thales, infelizmente os reconheceu.

Era Alicia.

Antes de ter chance de até mesmo chorar, ele sentiu humanos o carregando até um pequeno tanque de água.

-- Pelo menos esse vai dar pra levar pro parque. -- um homem humano comentou. Thales escolheu não prestar mais atenção em nada que eles falavam.

Sebastian conseguiu fugir, ficou longe dos barcos, sobreviveu. Mas os gritos, o cheiro de sangue, os barulhos, não queriam sair de sua cabeça.

Nunca saíram.


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Sebastian acordou se levantando assustado, sua respiração rápida, coração palpitando e ele conseguia se sentir tremendo.

Fazia muito tempo que ele não tinha aquele pesadelo.

Olhando para os lados, percebeu que estava apenas num quarto escuro. E estava sozinho.

A orca grunhiu um pouco e voltou a deitar na cama para tentar voltar a dormir. Tudo parecia frio, mas não o frio confortável que ele gostava. Era um frio de vazio, de não ter ninguém ali com ele.

Ele se encolheu um pouco na cama, com uma vocalização triste e solitária.

-- A culpa é minha dele estar lá... -- Sebastian comentou consigo mesmo antes de cobrir o rosto com o travesseiro e chorar baixo até voltar a dormir.

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