- Prontinho. - Jade disse ao colocar sobre a mesa de jantar uma travessa com espaguete a puttanesca, um dos pratos favoritos de Julie.
Aquele prato enchia a mente de Jade de memórias boas de seu casamento, de jantares agradáveis regados a vinho branco e uma boa noite de sexo, que deixavam Jade e Annie deliciosamente satisfeitas no fim da noite. Mas desta não teria sexo, e nem vinho branco, pelo menos não para Jade, por motivos óbvios.
O intuito de Jade com aquele jantar era apenas conversar com Julie, explicar as coisas e não deixa- la com a impressão de que o casamento delas havia sido uma terrível mentira, e que Jade queria se ver livre dela o quanto antes para que pudesse iniciar uma nova vida, pois se quer chegava perto disso, e tudo o que Amélia queria era faze- la entender, até por que, o único motivo de todos os seus desejos e sonhos mais ardentes era dona de olhos azuis, os olhos mais lindos que ela já havia visto.
Quando Perrie foi embora naquela tarde para a casa que dividia com Anikka, Jade quis chorar, quis pedir para que ela ficasse, descubrir qual era seu prato favorito e passar parte da noite na cozinha preparando- o para ela, comprar algumas cervejas e no fim de tudo pedir para que Perrie lhe explicasse mais sobre seu time de basquete favorito enquanto assistissem o jogo daquela noite. Era pedir demais? Era sonhar muito alto?
Pois indo contra os seus principais desejos Jade a deixou ir embora, nem se quer olhou no seu rosto, fingindo que não dava a mínima para ela ou sua presença quando na verdade ela queria dar- lhe um abraço, um beijo e pedir que ficasse. Jade soltou um longo suspiro e deixou as taças na mesa, não havia jeito daquilo acontecer, não quando as mentiras já estavam indo longe demais, não quando Perrie tinha uma noiva e um casamento marcado, um início de vida que não a incluía.
A campainha tocou. Jade saltou levando a mão ao peito, resultado de um pequeno susto. Ela estava desligada demais, entretida demais em suas próprias ideias para que pudesse estar atenta a coisas ao seu redor. Caminhando lentamente, e com seu coração um pouco acelerado, pela ansiedade daquela conversa, ela constatou, Jade caminhou até a porta, parou em frente a ela e respirou fundo, aquilo seria difícil. Jade abriu a porta com um singelo sorriso posto em seu rosto.
- Olá. - Annie devolveu o sorriso e ergueu o braço mostrando a garrafa de Bueno Sauvignon.
- O meu favorito. - abriu mais a porta dando passagem para Annie.
- Ainda me lembro be... - Annie cheirou o ar movendo a cabeça para os lados. - Isso é espaquete a...
- Puttanesca. - completou com seu sorriso mais gentil.
- Você também se lembra. - retrucou Annie.
Jade pode sentir as bochechas queimando. E se ela estivesse passando a impressão errada? Será que ainda era possível, mesmo ela estando esperando bebês de outra mulher?
- Você está bem bonita. - elogiou Annie, olhando- a da cabeça aos pés.
- Ah... - Jade olhou para si mesma.
Ela não se sentia assim, não naquele momento em questão. Estava usando um vestido antigo que já estava no armário há anos, mas que era leve, grande e confortável o suficiente para sua barriga grande e os peitos inchados não ficassem esmagados, o cabelo estava preso num coque no alto da cabeça e não usava adorno algum, usou apenas o seu habitual perfume de baunilha para que não parecesse tão desleixada, mas ainda assim ela sorriu e agradeceu sua ex esposa.
As duas caminharam até a sala de jantar e Jade sentou- se no início da mesa, e logo Julie se sentou ao seu lado. Elas estavam num silêncio pouco confortável, mas talvez fosse pelos elogios feitos, ou por uma ainda se lembrar como agradar a outra, Jade não sabia ao certo, ou se aquilo era o certo.
- Essa casa é bonita, grande e espaçosa para se criar crianças, o bairro também é bem familiar. - Annie quebrou o silêncio observando Jade abrir o vinho.
- E por incrível que pareça eu não planejei absolutamente nada, apenas achei que seria bom morar perto da Lee. Não queria ficar tão sozinha. - Jade a serviu e depois a si mesma.
- Eu queria entender sabe... - Annie começou a dizer e tomou um gole, sem olhar para Jade. - Você sempre odiou a idéia de ter crianças, de ter uma família grande, sempre quis que fosse apenas nós duas.
Jade não respondeu inicialmente, não sabia argumentar com aquilo, não sabia se sua explicação seria plausível ou apenas vergonha, não sabia se Annie não faria como a maioria das pessoas e não a julgaria como nunca se ouvisse a verdade. Sua vida estava caótica demais para que ela tivesse vergonha de dizer a Annie toda a verdade, mas não era do feitio mentir, inventar histórias mirabolantes, isso era Perrie e não ela, nunca ela. Então, respirando fundo e colocando para fora todo o ar que tinha em seus pulmões ela olhou nos olhos de Annie e disse.
- Eu a conheci numa boate, nós tínhamos nos divorciado há um tempo e eu estava mal, me sentindo sozinha e... - ela ruborizou. - trocada por crianças que se quer existiam. Eu tinha uma vida com você e queria muito estar com você... - Jade mordeu o lábio inferior, ela não sabia se deveria continuar.
Annie a encarava com atenção pronta para para ouvir tudo o que Jade estivesse disposta a falar para ela, com seu coração aberto para aquilo de verdade, e Jade queria se explicar e fazer ela entender que nunca havia mentido para ela sobre absolutamente nada, que nada do que elas viveram havia sido uma mentira.
- e naquela noite, foi a primeira vez em muito tempo que eu me senti bem de novo. - ela sorriu tristemente quando as lembranças invadiram sua mente. Perrie sempre dominando seus pensamentos. - E então Perrie chegou, toda galanteadora e bom... Três meses depois eu descobri que estava grávida. - finalizou a história de maneira rápida, sem dizer a principal fonte dos problemas de sua vida no momento.
- E vocês estão juntas?
- Não. - Jade balançou a cabeça devagar e começou a se servir. Explicar o motivo de não ter Perrie ao seu lado a machucava muito. - O que tivemos foi casual, coisa do momento e estamos em momentos diferentes da nossa vida. Mas ela não vai deixar os bebês desamparados, ela vai as consultas comigo... - as que Jade permitia pelo menos. - está comprando o enxoval também e tudo mais o que mães devem fazer, ela não é de todo ruim. - colocou o prato de Annie a mesa novamente após servi- lo.
Era óbvio que toda aquela história era uma mentira, óbvio que Perrie não era uma coisa causal, era óbvio, pelo menos para todos que as vissem juntas, o que visse como elas falavam uma da outra, sentiam falta uma da outra. Annie queria Perrie tanto como seus pulmões precisavam de oxigênio para viver, e Perrie a queria tanto quanto. Mas a situação em que estavam era difícil demais.
Jade podia não ter percebido, mas uma pontinha de esperança brotou no coração de Annie naquele exato momento, mas Amélia estava tão envolta em seus próprios sentimentos, problemas e conflitos que se quer notou os olhos castanho de Annie com um leve brilho enquanto olhavam para ela. Perrie era dona de todos os seus pensamentos e do seu coração, e apesar de achar que Annie seria a esposa perfeita, companheira e a mãe ideal para os seus filhos, ela não conseguia mandar no que sentia.
- Eu não vim mais cedo por que achei que ela estaria com você. - Annie disse. - Hum... - gemeu de satisfação com seu olhos fechados enquanto mastigava o espaquete. - está tão bom quanto eu me lembrava.
- Que bom, eu estava com medo errar a receita. - Jade respondeu, comendo também. - Ela estava aqui, mas só por que tinha que estar. - olhou para Julie. - Eu não quero que pense que o que vivemos foi mentira e que eu te deixei por alguém, por que não foi.
Jade não queria dar falsas esperanças para Annie, mas também não queria que ela pensasse mal dela, e para Jade pareceu ter funcionado. Foi como se ela tivesse tirado um enorme peso dos ombros, e agora estava leve. Mas ao contrário dela, ao contrário do que ela pudesse imaginar Annie estava vendo ali, naquelas palavras de Jade, uma possível chance para que elas começassem de novo.O jantar seguiu silencioso, um silêncio confortável para ambas.
Quando terminaram Annie se levantou, e como nos velhos tempos tirou a louça para lavar, e enquanto Jade guardava em um pote o pouco que sobrou do jantar. Enquanto Annie era tomada pela nostalgia, tudo o que Jade pensava era em como ela ainda queria sentir algo por Annie, seria tão fácil substituir Perrie por Annie, se ainda houvesse amor por ela em seu coração. Elas conversaram um pouco enquanto organizavam as coisas, e então Annie decidiu que já era hora de ir.
Quando Annie disse que já estava na hora de ir Jade se aliviou, ela queria mesmo ficar sozinha, tirar todos aquele pensamentos da cabeça, poder relaxar sem pensar em Annie ou em Perrie, sem compara- las, sem querer usar Annie para suprir o seu desejo de família perfeita, de um final feliz, pois ela sabia que isso não era certo, não enquanto ela ainda amasse tanto assim Perrie.
- Nós podemos combinar de jantar outras vezes, se você não se importar, claro. - Annie disse parando na pequena varanda, enquanto Jade se encostava no batente da porta.
Aquilo ascendeu uma luz no cérebro de Jade, e de repente ela percebeu, percebeu o que aquele convite podia significar e que Annie, talvez, pudesse estar confundindo as coisas.
- Ah... - balbucionou sem saber o que dizer, e ela nem se quer precisou dizer algo.
Antes que a mente turbulenta de Jade pudesse dizer algo, os lábios de Annie já estavam juntos aos seus, e ela com seus olhos abertos e arregalados piscou sem entender, sem nenhuma reação, ou aprofundar aquele beijo, que se tornou algo singelo e doce. Quando os lábios de Annie deixaram os seus Jade ainda estava estática na porta, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer.
- Tchau Jade, espero que tenha uma boa noite. - despediu- se Annie com um sorriso antes de sair caminhando.