Reflection

By maxsteelputa

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Três anos depois de quase morrer Neteyam busca se sentir em casa dentre o povo do recife enquanto parte em um... More

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Que comecem os jogos

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By maxsteelputa

Cansaço, era a única coisa que Ao'nung sentia no momento. Tinha quase certeza que se andasse mais alguns metros suas pernas o trairiam, andava para cima e para baixo com as centenas de enfeites feitos por Tsireya e Kiri a pedido de sua mãe e Neytiri, era inegável que os adereços estavam perfeitos e mais inegável ainda era o peso enorme que tinham.

Passava pelo meio da vila quando avistou Neteyam e Lo'ak que pararam para cumprimentar, não perdeu a oportunidade de jogar um pouco dos enfeites nos braços de cada um, aliviando o peso de si mesmo. Os irmãos olharam surpresos para o herdeiro Metkayna, que por sua vez mantinha um olhar indiferente. Lo'ak iria reclamar quando foi interrompido.

"Antes de começar a reclamar,  vocês foram chamados justamente para me ajudar, então me agradeçam por eu ter vindo até aqui e poupado o tempo de vocês." disse alternando o olhar entre os dois irmãos, demorando mais no mais velho que não deixou de encará-lo de volta com um sorriso de canto.

"Nossa, como você é benevolente boca de peixe. Agora anda logo, isso tá pesado." Lo'ak diz impaciente, não era o mais calmo da tribo, mas a maneira que Ao'nung o tirava do sério com tanta facilidade chegava a assustar.

"Palavra difícil pra você abraçador de árvores, deve ter gasto metade dos 3 neurônios que tem." o herdeiro provocou de volta, não sairia por baixo. Deixou o mais novo falando sozinho, andando em direção á praia, seguido de um Lo'ak emburrado e Neteyam rindo do irmão mais novo.

"Mano, se continuar emburrado assim seu bico vai chegar primeiro que você na praia." alfinetou risonho, sendo acompanhado por Ao'nung, o que deixou Lo'ak revolto.

"Até você irmão? O boca de peixe eu entendo, mas isso já é traição." fingiu estar ofendido revirando os olhos e espalmou o peito como se o coração doesse. Os três jovens riram juntos pela primeira vez no dia.

Chegando no local marcado largaram as cestas dos enfeites no chão, com menos delicadeza que o recomendado, mas não havia ninguém ali para repreende-los.

Horas se passaram, mas nem a metade do trabalho havia sido feito, faltava pouco mais de seis horas para o eclipse e a decoração não estava pronta, estavam ferrados.

"A gente tá na merda, nunca vamos terminar isso tudo antes do eclipse. Devíamos pedir ajuda de alguém." Lo'ak estava sem esperança nenhuma, vê-lo pedir ajuda fez Neteyam duvidar se realmente conseguiriam, esse era um fenômeno muito mais difícil de se ver que um eclipse.

"Cala a boca cara, matamos um Akula ainda ontem, não é possível que não vamos conseguir pendurar alguns enfeites." pela primeira vez em muito tempo Ao'nung foi a voz da esperança do grupo.

Neteyam se perguntava o que poderia acontecer agora. Lo'ak pedindo ajuda e Ao'nung sendo otimista, esse dia não poderia ficar mais estranho.

Foi nesse momento que Neteyam teve uma ideia inusitada, pediu para que Lo'ak chamasse seu Ikran, de início o mais novo estranhou, mas resolveu obedecer. Separou as três variedades de enfeites e distribuiu entre eles, sendo os das redes para Ao'nung, os das árvores para Lo'ak e os dos arredores da fogueira consigo.

Neteyam e o irmão contavam com a ajuda dos Ikran para pendurar os adereços mais altos, enquanto Ao'nung decorava as redes montado em seu Ilu. Dessa forma os rapazes terminaram o serviço rapidamente, logo partindo para suas casas com pressa para se arrumarem, deveriam estar impecáveis hoje á noite.

No marui dos Metkayna, Tsireya ajudava o irmão com suas tranças no topo da cabeça e os longos cachinhos soltos até os ombros, estava perfeito, a mais nova realmente era muito habilidosa. Agradeceu a garota e se apressou com os demais acessórios. Não podia se atrasar.

Enquanto isso, os irmãos Sully corriam de um lado para o outro, procuravam os trajes tradicionais do clã Omaticaya. Contavam com braceletes de couro com algumas plumas coloridas, tangas longas repletas de desenhos característicos da tribo, ombreiras de pluma que lembravam às de um Olo'eyktan, porém um pouco menores, pulseiras,anéis e braçadeiras feitas especialmente para cada um. Neytiri ajudava os rapazes com as tranças, Tuk e Jake já estavam prontos há algum tempo e aproveitavam para brincarem juntos na varanda. Kiri havia saído mais cedo para ajudar Rotxo a se arrumar, não que precisasse de fato, mas os dois adoravam arranjar desculpas para ficarem juntos.

Quando a noite caiu ambas as famílias foram até a praia, estava perfeitamente iluminada pela grande fogueira e demais tochas espalhadas ao redor. Os rapazes admiravam a praia, como se não tivessem quebrado a cabeça para arrumar tudo algumas horas antes.

Os quatro rapazes foram posicionados de frente para os aldeões enquanto o Olo'eyktan fazia um discurso sobre a travessia para a vida adulta, todos ouviam atentos as belas palavras do líder. Enquanto isso, a Tsahìk presenteava cada um dos jovens com um colar feito com as presas do Akula abatido, todos presentes comemoravam com gritos e palmas.

Após a entrega dos presentes os garotos foram liberados para aproveitar a noite, os jovens Sully correram para mostrar como seus novos adereços combinavam bem com seus trajes aos pais e irmãs.

"Quem diria, meus meninos já são homens, eu não poderia estar mais feliz por vocês." Jake agarrou cada um dos filhos em um abraço caloroso.

Há um tempo atrás esse cenário era inimaginável, mas depois do pavor da guerra e do sentimento de quase perder seus filhos, passou a demonstrar todos os seus sentimentos para a família sem medo. Afinal não havia nada no mundo que ele amasse mais que sua família.

"Eu estou tão orgulhosa de vocês, meus grandes caçadores." foi a vez de Neytiri dizer enquanto abraçava seus meninos, eles poderiam crescer o quanto quisessem, mas sempre seriam seus bebês.

"Vocês estão tão bonitos! O colar de vocês é lindo igual o meu." Tuk comentou, arrancando risadas de todos ali, ela era um anjo.

"Tô feliz por vocês, skxawng." Kiri sorriu para os irmãos, logo depois sendo envolvida em um abraço pelos dois, revirou os olhos como de costume e retribuiu o abraço.

Depois disso cada um foi curtir a noite á sua maneira. Jake e Neytiri foram conversar com Ronal e Tonowari, Tuk brincava com as crianças Metkayna sob o cuidado de duas mulheres mais velhas da tribo e os adolescentes se encontraram pela primeira vez na noite.

Tsireya e Kiri trocavam elogios sobre os cabelos e adereços, Lo'ak e Rotxo concordavam com tudo, mesmo sem entender de fato o que as garotas falavam, apenas juntaram o útil ao agradável e enalteciam suas amadas, como deveria ser. Neteyam e Ao'nung observavam a cena, hora ou outra rindo dos outros dois rapazes.

Ao'nung não pôde deixar de reparar como o Omaticaya ficava bonito nas vestes tradicionais de seu clã, era verdade que o rapaz era naturalmente bonito, mas com os adereços e o novo pingente no pescoço ficava ainda mais atraente aos olhos do herdeiro Metkayna.

"Você fica bem bonito com essas roupas, o dente de Akula caiu muito bem." as palavras deslizaram de sua boca como dentes de leão, só percebeu o que disse quando viu Neteyam o encarando surpreso, não desviou o olhar, agora não podia voltar atrás.

"Uou,obrigado..." riu de nervoso, definitivamente não esperava por essa. "Adorei seu cabelo, ele fica incrível solto, combina muito com você." sorriu simpático, não precisava de muito esforço para Ao'nung estar bonito, decidiu que era melhor retribuiu o elogio. Queria ver até onde iria.

Se encararam por um breve momento e riram juntos, era engraçado que apenas trocar elogios sinceros deixou os rapazes tão nervosos.

"Então você me acha bonito com as roupas do meu clã... uau isso é novidade." Neteyam olhava pra Ao'nung com um sorriso ladino, queria que o herdeiro entrasse em seu jogo.

"De qualquer jeito na verdade, mas isso qualquer um pode ver. Assim como o senhor pôde ver que eu sou estupidamente lindo de cabelo solto." rebateu com simplicidade, retrucar realmente era o forte do Metkayna.

"E bota estupidamente nisso." Neteyam não ficaria para trás, não dessa vez. "Bem, qualquer um pode ver, mas só você disse até hoje." olhava nos olhos do rapaz de íris azuis como o oceano. Reparou que adorava o contraste que os longos cílios faziam com os olhos tão claros do Metkayna.

"Vou fingir que não entendi para não partir pra agressão." referia-se ao estupidamente.  "Mas voltando ao assunto, isso é porque eu sou um ótimo observador."

"Também com olhos desse tamanho, tem que ser mesmo." Lo'ak interrompeu o momento dos rapazes com sua observação astuta, arrancando risadas de Neteyam e Tsireya que estava do seu lado.

"Olha, tá vendo isso? Aí se eu dou um soco, eu tô errado." Aonung revirava os olhos enquanto os outros riam.

"Ei, essa mania é minha!" Kiri exclamou  enquanto chegava abraçada á Rotxo. O quarteto olhava para o casal com sorrisinho sacana nos lábios, até mesmo Tsireya.

"Podem ir tirando esse sorriso da cara." Kiri diz envergonhada escondendo o rosto em Rotxo que ria junto com os outros.

Um pouco depois uma música começou e os casais foram dançar. Rotxo e Lo'ak tiraram suas parceiras para a pista, os dois garotos observavam de longe a harmonia de Kiri e Rotxo e Lo'ak vez ou outra tropeçando nos pés de Tsireya. Era divertido de se ver, compartilhavam boas risadas.

Por outra vez, Ao'nung se pegou admirando o sorriso e os detalhes do rosto bem esculpido de Neteyam, então teve uma ideia inusitada, não sabia se daria certo, mas iria tentar assim mesmo.

"Neteyam... você quer ir pra outro lugar? Cansei de ficar vendo um monte de casais se agarrando." fez uma careta que arrancou boas risadas do outro rapaz. Bem, ao menos era um bom sinal.

"Vamos, tava esperando você chamar." se levantou e ajudou o outro a fazer o mesmo.

Então ele estava me esperando? Ao'nung pensou, guardaria essa informação para o futuro. Andou junto do rapaz até a praia que se encontraram no dia anterior, durante a noite o lugar era mais bonito ainda.

Neteyam correu dentre as plantas bioluminecentes, eram parecidas com as da sua antiga casa. Brincou como costumava fazer com seu pai e irmãos quando eram menores, Ao'nung admirava a diversão do garoto, até que o mesmo decidiu chamá-lo para participar. Então correram juntos pela praia e a pequena floresta litorânea, brincaram com os lagartos voadores, tão coloridos e brilhantes quanto as plantas. Ao'nung tomou a frente da corrida se jogando no mar, sendo seguido por Neteyam.

Mergulharam durante longos minutos, Ao'nung vez ou outra apontava para os animais marinhos noturnos, raramente mergulhavam á noite, então sempre estavam sujeitos á surpresas.

Depois de um tempo, Neteyam se cansou de mergulhar e fez sinais com as mãos indicando que iria subir, Ao'nung seguiu o rapaz até a praia. Se sentaram lado a lado curtindo a compahia um do outro, Ao'nung se deitou de costas na areia para admirar o céu repleto de estrelas.

Neteyam decidiu fazer o mesmo, mas pelo cansaço causado pela água depositou força demais ao se abaixar, preparou a cabeça para o impacto na areia, mas ao invés disso sentiu-se repousar sobre algo macio. Percebeu alguns segundo depois que se tratava do braço de Ao'nung, tentou se levantar,  mas o outro pousou a mão em sua testa num sinal para que ficasse onde estava. Resolveu permanecer ali, afinal era extremamente confortável a posição que se encontrava.

Se aconchegou no braço de Ao'nung, sentiu os músculos do mesmo se contraírem enquanto fazia isso, logo depois relaxando novamente. Ficaram assim em silêncio por um bom tempo, até que Neteyam apontou para uma estrela.

"Meu pai veio daquela estrela." disse no intuito de quebrar o silêncio que se instalou entre os dois.

"Como assim?" Ao'nung se virou um pouco para encarar o rapaz ao lado, quase caindo na tentação de seus olhos dourados e constelações bioluminecentes. Droga! Estava totalmente rendido por aqueles olhos.

"Há muito tempo atrás, antes de eu nascer meu pai veio pra Pandora em uma missão... com o povo do céu. Mas quando ele conheceu minha mãe, ele se apaixonou e mudou, se tornou Toruk Makto e defendeu o clã do ataque do povo do céu." contava com admiração na voz, realmente o pai era um herói, uma lenda conhecida por todos.

Ao'nung ouvia com atenção, era uma bela história sobre amor e redenção. Pensando sobre isso, se lembrou de quando foi um completo babaca com os Sully e mesmo assim, os até então forasteiros lutaram para salvar o clã Metkayna e os Tulkun. Jurou a si mesmo que teria sua redenção. Estão, sem que percebesse ajeitou mais o Omaticaya em seu corpo, gostava da sensação de tê-lo perto. Neteyam por sua vez, depositava uma mão sobre o tórax de Ao'nung, enquanto a outra definia mais os cachinhos nos cabelos do rapaz de pele esverdeada.

Continuaram no conforto um do outro por um longo tempo, até Neteyam se levantar preguiçosamente dos braços do outro.

"Tá tarde... eu preciso ir pra casa." comentou com a voz arrastada, Ao'nung  não soube identificar se o rapaz estava chateado ou com sono. Resolveu levar o garoto para casa, ele era perfeitamente capaz de ir sozinho visto que era um guerreiro habilidoso e potencialmente mais perigoso que qualquer animal que pudesse aparecer, mas não jogaria fora a oportunidade de estar perto do rapaz.

Caminharam lado a lado durante longos minutos, conversavam baixo o suficiente para não incomodar nenhum dos moradores enquanto passavam pelas pontes no centro da vila. Quando chegaram na porta dos Sully, os rapazes se abraçaram para a despedida, nunca haviam feito isso, mas sentiram a necessidade mútua dessa vez.

"Boa noite Ao'nung, obrigado por hoje." o mais velho diz ainda preso no abraço, se pudesse permaneceria ali pelo resto da noite.

"Boa noite, Neteyam." o herdeiro Metkayna rompe o abraço, mas se mantém segurando a mão do outro. Olha para baixo tomando coragem, sobe o olhar para as íris douradas que o enfeitiça completamente.

Neteyam treme em expectativa, olhava o rapaz nos olhos. Dourado no azul, quando Ao'nung da um passo à frente seu coração falha uma batida. O rapaz de olhos celestes deposita uma das mãos em seu pescoço, se aproximando cada vez mais. Podia sentir a respiração do outro se chocar contra a sua, causando um arrepio pelo corpo todo, nada mais que alguns milímetros separavam suas bocas.

"Posso?" o herdeiro perguntou, a voz baixa e grave era uma tentação forte demais para Neteyam resistir, não respondeu o rapaz, apenas colou os lábios num beijo casto.

Se separaram para olharem nos olhos um do outro, sorriram e beijaram-se novamente. Dessa vez, as mãos de Ao'nung foram para a cintura de Neteyam trazendo o corpo do rapaz para perto, posicionou uma de suas pernas entre as do Omaticaya e manteve a pressão na cintura bem definida. Neteyam puxava levemente os cabelos da nuca de Ao'nung, aprofundou o beijo, queria sentir mais do outro rapaz.

Findaram o ósculo pela falta de ar, Ao'nung segurava o queixo de Neteyam entre o indicador e o polegar. Depositou um beijo rápido na testa do mais velho e logo depois um selinho demorado em seus lábios.

"Boa noite, Neteyam." se virou e foi embora com um sorriso bobo no rosto.

A calda de Neteyam balançava de um lado para o outro, como um filhote de thanator. Entrou em casa sorrindo feito um bobo, deitou em sua cama na maior cautela e virou para o lado.

"Boa noite Ao'nung."

Adormeceu com mais facilidade aquela noite, pela primeira vez teve a sensação de voar sem que estivesse montado em seu Ikran.


Finalmente um beijinho
Não se esqueçam de votar e comentar pq me anima muito ❤🥰
Beijão até a próxima, amo vocês
    

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