Lucas Verdelhos e a Revolução...

By Henggo

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🏆 Vencedor Wattys 2023, Jovem Adulto 🏆 Vencedor Wattys 2023, PrĂȘmio Especial - Maior Reviravolta Lucas Verd... More

DESCRIÇÃO DA CAPA | ISBN
CRÉDITOS
1 LUCAS VERDELHOS
2 COLEÇÃO DE DENÚNCIAS
3 MIRIDÉIA E JORIM
4 O SEGREDO DE CLÉVER
5 OLHARES
6 TRABALHOS ESCOLARES
7 AS TRÊS MORTES (parte 1)
7 AS TRÊS MORTES (parte 2)
8 A REUNIÃO
9 PPPP
10 AGRESSÕES ONLINE (parte 1)
10 AGRESSÕES ONLINE (parte 2)
11 O WATTPAD (parte 1)
11 O WATTPAD (parte 2)
11 O WATTPAD (parte 3)
12 FAGULHAS (parte 1)
12 FAGULHAS (parte 2)
13 O RELATO DE JORIM
14 SINAL DE FUMAÇA (parte 1)
14 SINAL DE FUMAÇA (parte 2)
15 FUMAÇA
16 LABAREDAS
17 INCÊNDIO (parte 1)
17 INCÊNDIO (parte 2)
18 O ROUBO (parte 1)
18 O ROUBO (parte 2)
19 CAÇA ÀS BRUXAS (parte 1)
19 CAÇA ÀS BRUXAS (parte 2)
20 A REVOLUÇÃO WATTPADIANA (parte 1)
20 A REVOLUÇÃO WATTPADIANA (parte 2)
20 A REVOLUÇÃO WATTPADIANA (parte 3)
21 A REPORTAGEM
22 INFERNO (parte 1)
22 INFERNO (parte 2)
23 O HARAS (parte 2)
24 HORRORES DESENTERRADOS
25 "LUCAS VERDELHOS" (parte 1)
25 "LUCAS VERDELHOS" (parte 2)
25 "LUCAS VERDELHOS" (parte 3)
AGRADECIMENTOS
SOBRE O AUTOR

23 O HARAS (parte 1)

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By Henggo

POUCAS VEZES NA VIDA LUCAS SE LEMBRAVA DE TER ACORDADO TÃO SERENO. Havia, sim, uma sensação de estranheza, gosto salobro na boca após aquele encontro no sonho. Não tinha recordações do pai e agora sua mente moldara um rosto para o seu passado. Se era de fato ele, ou apenas uma suposição, era difícil saber. Miridéia destruíra todas as fotos do homem. Mesmo assim, algo dentro dele lhe dizia que aquele era o seu progenitor.

E teria que lidar com isso ao invés de fugir.

Levantou-se e olhou para o relógio. Ainda eram 5h da manhã, mas, conhecendo a professora Déa, era preferível chegar uma hora adiantado a correr o risco de ficar para trás. No passeio do ano anterior, para um parque aquático em São José de Ribamar, ela deixou Cléver para trás só por ele ter chegado um minuto atrasado. Aquele dia sem o rei-sol, Lucas se recordava, fora muito agradável.

"Um dia brilhante!", sorriu ao terminar de escovar os dentes.

Saiu do quarto e foi para a cozinha tomar café-da-manhã e preparar sanduíches para o passeio. Domingas dissera que levaria uma boa quantidade de frutas e de bolo, porém, sabendo como Evandro parecia ter um buraco no lugar do estômago, Lucas preferiu se garantir e levar bastante comida. Ainda mais ao lembrar que a mãe de Vandro tinha viajado e ele iria até à escola de ônibus, o que aumentaria o nível de fome do amigo.

Suspirou felicidade. Enquanto cozinhava, sentia que aquele, novamente, seria um dia brilhante. Sorriu. Haras, amigos, natureza, comida boa, bastante espaço para ficar longe dos problemáticos da escola, nada podia estragar aquele dia.

"Muito menos um sonho", enfatizou.

Lucas terminou de preparar tudo e voltou para o quarto. Arrumou as últimas coisas na mochila, escovou os dentes uma última vez e saiu. Pensou em bater na porta do quarto da tia para avisar que estava de saída, mas parou antes que desse o primeiro toque.

Pela fresta da porta, viu que Miridéia andava de um lado para o outro enquanto falava com alguém. Parecia irritada. A todo o momento dizia "não, não" e insistia com "acabou aqui". Sem entender nada e pensando se tratar de um romance tórrido passando por problemas, Lucas se afastou o mais silenciosamente possível, pegou as coisas na cozinha e saiu de casa.

Na calçada, abriu os braços junto aos tímidos raios de sol daquela hora e sorriu para o céu.

"Um dia brilhante!", repetiu. E seguiu adiante.

***

VIAJAR DE ÔNIBUS COM A TURMA DA ESCOLA TEM UM SABOR ESPECIAL. Há toda uma sensação de liberdade, ficar longe dos pais e dos responsáveis, experimentar aquele clima de aventura ao lado de outras pessoas que estão na mesma vibração. Para melhorar a experiência, até Cléver estava ameno, perdido em pensamentos enquanto observava a paisagem. Uma das meninas da turma dele tagarelava no assento ao lado, mas o monarca permaneceu com a atenção distante. Lucas agradeceu por isso.

Foi uma hora e vinte minutos de placidez e cochilos.

Quando chegaram ao haras, como Lucas previu, os grupos se separaram, mas sob forte ameaça. A professora Déa instruiu os funcionários da escola que acompanhavam as turmas a ficarem de olhos atentos aos espertinhos.

— É tolerância zero, estejam avisados e avisadas — ameaçou enquanto lutava para retirar uma sacola do bagageiro. — O primeiro ou a primeira que tentar fazer graça, ou tiver rompantes românticos, volta pra São Luís com uma suspensão na cabeça.

Quando a professora se afastou, Otávio pareceu irritado.

— Não sei por que ela falou isso olhando pra mim.

— Será que é por que pegaram cê e a Merillan comendo um a cara do outro atrás da quadra? Hum, acho que talvez seja por isso.

— Evandro, eu só não te bato porque isso seria transfobia.

— Não, não — Domingas o corrigiu. — Seria a mais pura sacanagem mesmo.

Lucas se interessou pelo assunto.

— Como assim pegaram eles dois?

Evandro passou a mão em torno do ombro de Lucas.

— Ah, Lucas, isso é que dá passar tanto tempo dormindo, Cinderelo Baiano. Se perde o melhor das novidades da escola. Sabe a Ramira, aquela do segundo ano? Então, ela foi lá na quadra...

E abraçados assim passaram por Cléver e sua patota, que apenas olharam para os dois e acompanharam-nos com interesse até eles desaparecerem rumo ao lago. Lucas sentiu um arrepio quando olhou para trás e viu o resplandecer do rosto do rei-sol. Ele parecia envolto por uma sensação que o garoto já sentira antes: aquela paz que antecede as tragédias.

Domingas notou a mudança no jeito do amigo.

— Tá se sentindo mal?

— Não. É só o... — olhou para o alto. A trupe real havia sumido. — Notou como o Cléver tá estranho hoje?

— E quando é que ele não tá estranho? — Otávio se espreguiçou. — Lucão, a gente acordou de madrugada pra poder relaxar, esquecer dos problemas por algumas horinhas, ficar sem celular, na paz, de boa, fumar um beque — Domingas deu-lhe um tapa na nuca. — Ok, ok, foi só brincadeira, meu Deus! Mas logo hoje tua maior preocupação é com o Cléver? É sério?

Lucas concordou com o amigo e relaxou. Caminharam pelo píer e entraram nos pedalinhos em formato de cisne para iniciarem a diversão no haras.

Mesmo assim, Lucas ainda se sentia observado...

***

ANDARAM A CAVALO, VIRAM OS TREINOS DE EQUITAÇÃO, PARTICIPARAM DE UMA AULA DE EQUOTERAPIA; fizeram uma caminhada pelas trilhas, almoçaram comida caseira, pularam de tirolesa por cima do lago, tiveram a experiência de verem uma corrida de cavalos ao vivo. Alimentaram os animais, pescaram, respiraram ar puro, deitaram na grama e fizeram piqueniques. Estavam de olhos fechados, perdidos nas cores do entardecer, apenas o barulho do vento, quando Otávio se apoiou nos cotovelos.

— Gente, cadê o Evandro?

— Como assim cadê o...

Domingas se levantou e, abobada, também constatou que o amigo não estava ali. Junto deles, estavam apenas Lucy e Merillan. Ao redor, outros alunos, mas nenhum deles era Evandro.

Merillan se sentou.

— Quando vocês foram me buscar lá no hipódromo ele já não estava com vocês. Só a Lucy.

Esta começou a sorrir.

— Gente, como é que vocês perderam o amigo de vocês?

— Ora, essa, assim como se perde um cachorro! — Otávio se levantou e começou a gritar: — Evandro! Evandro! Vem cá, meu filho, venha!

Domingas o puxou de volta. Merillan se acabava de sorrir.

— Para com isso!

— Mas...

— Até na tirolesa ele estava com a gente — Lucas lembrou. — Aí ele disse que tinha medo de altura e que ia esperar a gente do outro lado do lago.

— É, e aí o nosso querido Otávio inventou de fazer graça no meio do brinquedo e ficou entalado de cabeça pra baixo e a gente, naquela preocupação, nem se tocou que o Vandro tinha sumido.

— Talvez ele tenha se cansado de esperar, ficou irritado e foi fazer outra coisa.

Lucas olhou para Lucy, receoso.

— Não é possível. Depois da tirolesa fizemos várias atividades e estamos deitados aqui há quase uma hora. Aconteceu alguma coisa com ele.

O jeito alarmado do garoto influenciou os demais. Logo estavam todos de pé perguntando se alguém sabia do amigo. Informações zero. Buscaram pela professora Déa e pelos funcionários para informar o desaparecimento de Evandro. Delicadamente, omitiram o fato de terem passado a tarde inteira sem se dar conta do sumiço e deram a entender que o garoto tinha apenas evaporado. Buscas começaram, sem alardes para não deixar os alunos em polvorosa. A professora estava pálida e até os proprietários do haras apareceram para ajudar.

Muitas possibilidades passavam pela cabeça de Lucas. A pior delas foi motivada pela realidade que via todos os dias nos jornais. O Brasil é o país que mais mata pessoas transgênero no mundo. Assim, não foi difícil imaginar cenas horríveis com Evandro como protagonista de todas elas.

Domingas choramingava de um lado, Otávio estava pálido, Lucas passava a mão no pescoço de cima para baixo para evitar que o lanche voltasse. E eis que, na hora programada para o término do passeio, a professora Déa já preparada para ligar para a polícia, Evandro surgiu no horizonte vindo de trás da área dos currais, no matagal.

Lucas correu para perto dele, seguido pelos outros.

Cara, onde é que tu tava? Pelo amor de Deus!

— Eu... Eu me perdi... — Vandro parecia meio avoado, mas agitado, assustadiço. As roupas estavam amassadas, sujas de terra e com alguns rasgos. — Saí pra esperar vocês, mas vocês estavam demorando muito, aí eu fui andando, andando...

— E andou bastante, hein, filho — um dos donos do lugar pontuou. — O lago fica pra um lado e você tá vindo do lado oposto. O que foi que tu comeste nesse tempo todo? Tem certeza de que está tudo bem?

— Tenho, sim, senhor... Eu... Eu só andei por aí...

— Tá certo. Professora, se a senhora quiser eu posso pedir pra nossa equipe médica vir aqui dar uma olhada nele, ver se está tudo bem.

A professora Déa, até então amedrontada, pareceu ter levado um choque de realidade. Aproximou-se de Evandro, colocou a mão na testa dele, mandou o garoto levantar os braços, agachar, fazer polichinelos. Depois, abriu os olhos dele para ver se não tinha concussão, viu a língua, aplicou um teste para que Evandro acompanhasse o movimento dos seus dedos. Tudo isso feito em cinco minutos, para a estupefação dos donos do haras.

Quando terminou, deu tapinhas nas costas do aluno.

— Menino bom, menino forte; robusto. Vamos para casa.

— Mas, professora, ele estava perdido... Pode estar com desidratação e...

A professora virou nos calcanhares, arrumou o turbante, jogou cachos revoltos para trás.

— Meu senhor, ele vai ver o que é ficar perdido se a gente atrasar o horário do ônibus e eu tiver que pagar mais uma diária pro motorista. E do meu bolso! Do meu bolso! Aí, meu amigo, aí ele vai querer ficar perdido das minhas vistas pro resto da vida.

E saiu em marcha, apitando e gritando para os alunos arrumarem as coisas e cuidarem de ir para o ônibus.

O passeio estava encerrado.

***

Hum, cheirinho de problemas maiores do que aparentam ser... Suspeitas? Teorias? Promessas? Vamos apostar? Conta pra mim as tuas suposições (ou devaneios). Obrigado pela leitura. Vamos para a segunda parte AGORA!

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