Camellia

By Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... More

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By Hunterina

ser apenas amigos

tudo que devemos fazer

é ser apenas amigos

(just be friends)




— Eu tô bem sim, Emy. — Daniel falou ao celular, erguendo o rosto para apreciar o céu alaranjado de fim de tarde. Agradeceu por agosto finalmente estar chegando ao fim, e levando o inverno embora consigo. — E você, tá legal?

Havia virado uma regra entre eles no último mês: "tudo bem?" não era uma pergunta retórica ou simplesmente educada. Ambos esperavam que sempre fosse respondida com total sinceridade. Sabiam muito bem que, com a família que tinham, um desabafo podia ajudar a segurar a barra.

Emily deu uma risadinha animada que deixou o coração dele quentinho. Ouvir a irmã rindo ainda era meio raro, mas aos poucos parecia se tornar mais frequente.

— Aham. Eu voltei com o francês, sabia?

— Caramba, sério?! — Daniel parou, genuinamente surpreso com a notícia. — Nossa Emily, que bom! E... teve algum motivo pra isso?

Diferente de Daniel, que nunca mostrava muito interesse nas coisas (havia feito apenas alguns anos de francês por exigência da mãe) e preferia andar de skate a fazer qualquer outro esporte, Emily sempre foi capaz de fazer mil atividades extracurriculares. A irmã gostava da dança, do ballet, da hípica, jogava bem o vôlei e definitivamente tinha facilidade para línguas. E então... depois da depressão, uma a uma foi largando as aulas (e apenas seguiu na dança por obrigação do Madre Cordélia). A cada desistência, era outra crise familiar, o que só contribuia para piorar tudo.

Por isso era tão bom ouvir aquilo de Emily. Se fosse sincero, Daniel já tinha desistido da própria vida há muito tempo — e seus pais meio que concordavam que ele era um fracasso —, mas tudo o que mais queria era ver a irmã tendo sucesso em qualquer caminho que escolhesse.

— Sim, eu não ia aguentar que você falasse francês melhor do que eu. — Ela brincou, e Daniel deu uma risada. — Não ri de mim, tá? Mas eu e a Bianca estávamos vendo uma série e um dos personagens falava em francês e... eu fiquei motivada a voltar! Então fiz a matrícula rápido o suficiente para não dar tempo de me arrepender e... hoje foi a minha primeira aula. Eu fiquei bem feliz.

— Você é incrível, Emily. — Ele falou, com sinceridade. — E... a mãe já soube?

— Eu precisei contar para ela, né, para me matricular... Ela não falou nada de mais. Ficou feliz, até.

— É, ela tá mais suave ultimamente. Eu... minhas notas melhoraram um pouco, sabe? Eu não estava me sentindo bem no mês passado e diminuí um pouco as lives, então foquei nos estudos para ocupar a cabeça. — Daniel conteve o impulso quase automático de morder a língua e calar a boca. Sempre achava que os outros não tinham interesse em ouvir seus desabafos, mas estava se esforçando para pelo menos se abrir com a irmã. — Ela me ligou semana passada, a gente conversou um pouco e ela me parabenizou. Nem falou de faculdade ou vestibular.

— Pois é... Acho que ela tá mais tranquila porque o pai não está em casa. — Emily suspirou. Nenhum deles falou, mas ambos sabiam que provavelmente Mario estava vendo a amante.

Nada daquilo era particularmente novo na vida de nenhum dos dois. Havia momentos em que seus pais estavam insuportáveis e, em outros, quase pareciam... pessoas normais. Ele também tinha falado com o pai naquele mês e, apesar de sequer cogitar a possibilidade de se desculpar pelas palavras que disse nas férias, estava um pouco mais tranquilo.

Daniel respirou fundo. Suas férias tinham sido um pesadelo e as semanas que se seguiram pareceram o próprio inferno, mas agora ele começava a sentir que botava a cabeça para fora daquele buraco onde estivera. Sua vida era sempre o mesmo ciclo: o fundo do poço, depois um lapso de melhora que aos poucos começava a trazer dias bons, mas sempre com a iminência de que voltaria para aquele lugar escuro de novo.

A pior parte era que os dias bons... realmente lhe davam alguma esperança de que aquela melhora seria duradoura. O que só tornava mil vezes mais doloroso quando tudo piorava.

— Podia ser assim sempre... — Ele murmurou, chutando uma pedrinha no meio do caminho. Parou em frente à lan house e cumprimentou Andrei pelo vidro com um aceno de cabeça, mas não entrou ainda.

— É, acho que as coisas seriam melhores mesmo. — Emily falou, então ele ouviu um inspirar profundo do outro lado, e a voz dela voltou mais alta: — Mas, sabe, acho que temos que tentar lidar com isso da melhor forma possível. Quando eu e a Bianca viramos amigas, a mãe começou a jogar umas indiretas, daquele jeito que você sabe que ela faz... mas ela também fazia a mesma coisa com a Marcela, falava sobre como a família dela não tinha classe nenhuma, e com a Vanessa... Então eu comecei a pensar que, se ela vai reclamar de qualquer jeito, não vou deixar isso me impedir de sair com a Bi... Ai, minha nossa, não tem problema eu falar sobre ela, né?! É que ela é minha amiga...

Daniel demorou uns bons segundos para conseguir reagir. Fazia anos que não via sua irmã falando... tanto.

— Claro que não. — Ele deu de ombros, mas a forma como o seu coração sempre reagia não condizia com a postura tranquila que queria passar. Músculo idiota. — Ela também é minha amiga.

— Eu sei, mas você ficou o mês passado inteiro péssimo por causa dela e...

— Eu não fiquei péssimo por causa dela! — Daniel se defendeu.

— Se falar isso te faz dormir melhor à noite, tudo bem. Orgulhoso.

Se ele não estivesse tão feliz em ver a irmã parecendo bem, definitivamente estrangularia ela. Por que mesmo voltou a falar com aquela ridícula?

— Hm, quer saber? Não quero mais ser seu irmão. Nunca mais liga pra mim.

— Daniel, foi você que me ligou! — Emily falou, tentando segurar o riso.

— E agora vou desligar para ir pra Cyber. Tchau, ridícula.

— Tchau, idiota! Te a-

Ele já tinha apertado em encerrar a chamada, então se obrigou a mandar um SMS (maldito internato estranho com bloqueador de 4g) falando que a amava também. Colocou "não muito" entre parênteses, porque gostava de incomodar.

Era bom ter a amizade com Emily de volta. Melhor ainda ver como a irmã, aos poucos, começava a recuperar o antigo ânimo. Ela nunca chegou a parar as consultas com a psicóloga, o que sempre segurou a barra, mas a mudança de atitude provavelmente se devia à nova rotina e às amigas.

Sabia bem como bons amigos ajudavam a segurar a barra nos momentos difíceis. No último mês, quando ele realmente ficou péssimo (maldita Emily) depois da conversa com Bianca, VH e Zoe não saíram do seu lado. Os três vieram praticamente todos os dias possíveis para a pista de skate, e só voltavam para o internato no último horário. Daniel deu um sorriso enquanto finalmente entrava na lan house.

Apesar de tudo o que havia acontecido no último mês, estava se sentindo melhor. Bem, até. Era uma mudança bem-vinda — e mesmo que não viesse para ficar, ele merecia aproveitá-la um pouco.



Exausta, Bianca deixou um bocejo escapar enquanto sentava no sofá da lan house. Apesar de adorar fazer lives, era uma rotina meio puxada ir ao centro duas ou três vezes por semana para manter seu cronograma. Isso somado às aulas exaustivas do Madre Cordélia, às provas e trabalhos semanais, às horas de academia (como ainda não tinham contratado outra professora, precisava fazer outra atividade para cumprir o exercício obrigatório), consultas com a psicóloga e aos finais de semana saindo com as amigas... Cansada era pouco para resumir como se sentia ultimamente.

Claro que sua mãe só tinha permitido continuar fazendo stream se não começasse a afetar suas notas, então ela não podia vacilar... Infelizmente, com a semana de provas chegando, talvez precisasse acabar fazendo uma pausa.

Apesar de tudo, estava mais feliz do que nunca. Quer dizer, não é como se os dias ruins não existissem mais, momentos em que sentia que não daria mais conta de nada, ou que comentários idiotas de haters lhe afetavam mais do que deveriam... mas, nessas horas, as consultas com Antônia, sua psicóloga, mostravam para o que vieram. No começo tinha sido difícil conseguir se abrir, mas Zoe havia lhe assegurado de que aquilo era completamente normal e Bianca apenas continuou. Depois de algum tempo, ela e Antônia se tornaram boas amigas.

A segundanista olhou para o relógio no celular, sentindo as pálpebras pesadas. Eram 18h, então ela tinha tempo de voltar para o colégio antes do jantar... Começou a escrever uma mensagem para Lisa, pedindo para a amiga esperá-la, quando ouviu passos se aproximando na escada.

— Claro, Andrei, já vou avisar pra... — Daniel estava com os olhos grudados na tela do celular e, quando ergueu a cabeça para dar de cara com Bianca, pareceu ter levado um susto. Vários segundos se passaram com seus olhos azuis grudados nela, até que ele abriu seu clássico sorrisinho de canto: — Ah, oi!

Bianca abriu um sorrisinho e apoiou o braço no encosto do sofá, brincando despreocupadamente com uma das maria-chiquinhas:

— Eu tô tão feia assim pra você levar esse susto?

"Ela faz de propósito". Daniel pensou consigo mesmo. "Tem que fazer". Por que não era possível que ela tivesse a cara de pau de perguntar algo do tipo, enquanto estava com aquele penteado lindinho, meias até a metade das coxas e um coraçãozinho preto desenhado nas bochechas avermelhadas. Ela precisaria rolar em cocô pra ficar feia. Talvez nem assim.

— Desculpa, não tava esperando ninguém aqui tão cedo. — Daniel passou a mão nos cabelos, esperando que eles não estivessem completamente bagunçados (estavam). — E aí, como você tá?

É claro que as coisas entre eles haviam ficado um pouco tensas no começo — quer dizer, se pudessem considerar que ainda não estivessem.

Depois do "término" (podiam chamar assim algo que sequer tinha começado?), passaram praticamente uma semana inteira sem se falar, mas era impossível se evitarem para sempre, com a roda de amigos que compartilhavam. Começou com um dia Zoe insistindo para que Bianca fosse na pista de skate, em outro Daniel não conseguiu inventar uma desculpa para não aparecer na Cyber com os amigos, e não dava para ele continuar salvando todos os memes engraçados que o faziam lembrar dela sem nunca enviar... mas teve a decência de só mandá-los depois que ela puxou assunto por mensagem. Ele quem tinha pedido para acabar o que quer que tivessem. Não seria um babaca de ir atrás logo depois. Não por orgulho, apenas porque... não queria deixá-la ainda pior.

E, apesar de Bianca querer do fundo do coração retomar o contato no dia seguinte (mesmo que doesse, mesmo que apenas se machucasse de novo...), pensou que talvez devesse ouvir Zoe. Ela precisava ser capaz de se afastar e viver a própria vida, se quisesse manter aquela amizade. Aceitar que era só isso que eles seriam.

Então, quando finalmente venceram as primeiras interações tensas e desconfortáveis... voltaram a se falar quase como antes. Talvez sem os flertes despretensiosos (aconteceu só uma vez, mas os dois fingiram que a mensagem não teve duplo sentido) e se vendo um pouco menos, agora que Daniel tinha dado uma pausa nas lives e Bianca estava mais ativa do que nunca.

Para ser sincero, ainda não tinham ficado sozinhos pessoalmente de novo, mas não podia ser tão difícil, né?

— Exausta — Bianca admitiu. — Comecei a live mais cedo porque tenho que terminar um trabalho com a Elisa, e ainda tenho que fazer os deveres de outra aula... Amanhã tenho psicóloga e aquela porcaria de academia! Tomara que arranjem uma professora de dança logo, mesmo que eu e as meninas percamos a sala de dança vaga... Aliás, você viu que outro Tiktok que eu fiz hitou essa semana? Conteúdo de jogo nunca alcança tanto quanto dancinha, e eu até gosto de fazer, óbvio, mas parece que... Ai meu Deus. Desculpa, eu tô desabafando!

Daniel abriu um sorriso sincero e tirou a mochila das costas para sentar ao lado dela.

— Relaxa, eu tenho tempo até os meninos chegarem. Quer conversar?

— Os meninos? — Bianca franziu o cenho. — Você não olha o próprio grupo?

Daniel ergueu a sobrancelha e puxou o celular de novo. Foi até o grupo "Tropa do Pau Pequeno 💪" (Bellini incomodou tanto para mudar que VH finalmente cedeu — então Henrique saiu do grupo, mas foi colocado de volta naquela semana). Ele havia chegado no centro mais cedo porque queria comprar um moletom novo, e o combinado era de encontrar os amigos na lan house naquele horário.

Twister enviou uma mensagem explicando que tinha esquecido completamente do trabalho para entregar no dia seguinte. Nathan respondeu com "que trabalho????" e Zoe chamou os dois de idiotas. O caos se instaurou, até VH se oferecer para ajudar os dois a terminarem. Ou seja, ninguém vinha.

— Meu Deus, eu não tenho um amigo normal. — Daniel lamentou e jogou o celular na mesa de centro, querendo morrer.

— Ei! — Bianca reclamou e cruzou os braços, e Daniel quis morrer com ainda mais intensidade porque estava fadado a sofrer ali sozinho com a garota mais linda do mundo inteiro.

O platinado a encarou teatralmente de cima abaixo, então repetiu:

— É, não tenho um amigo normal.

Bianca deu um tapinha de leve nele, mas estava contendo o riso.

— Você veio jogar?

— Sim, tenho que fazer uns pontos. Tô quase caindo. — Daniel ainda estava entre o Top 500 no LOL, mas as últimas semanas dando foco às aulas o deixaram um pouco enferrujado. Agora que não parecia ter mais motivos para continuar evitando Bianca e a lan house, pretendia voltar com tudo.

Observou a estudante do Madre Cordélia morder o lábio inferior, e quis morrer pela terceira vez: ele queria estar mordendo aquele lábio. Então teve a decência de afastar o pensamento, porque eles não tinham mais aquele tipo de relação.

— Hm, se você quiser... posso jogar com você hoje. Eu andei treinando e aprendi um combo novo. — Ofereceu, um pouco sem jeito. Sentiria-se um lixo se ele recusasse.

— Nossa, claro! — Daniel se empertigou, então quis dar um tapa na própria cara. Limpou a garganta, esperando disfarçar um pouco a empolgação. Porra, estava morrendo de saudades de passar as noites jogando com ela. — Ahn, se não tiver problema pra você. Eu vou estar péssimo, fiquei uma semana inteira sem jogar.

Ela deu um sorrisinho e ajeitou um pedaço de franja descolorida que insistia em cair sobre seus olhos. Daniel quis morrer pela quarta vez...

— Claro que não. — Então um bocejo escapou de seus lábios. — Só me dá dez minutos? Eu fiz quase cinco horas de live. Queria sentar aqui um pouco e relaxar.

— Claro. — Daniel alcançou o controle e abriu seu Youtube. — Tem alguma coisa que você queira ver?

Estavam sentados lado a lado. Em outros tempos, Daniel teria imediatamente envolvido os ombros dela com o braço, mas teve a decência de deixá-lo no apoio do sofá. Bianca também resistiu ao impulso de deitar no ombro dele.

Apenas amigos.

— Ei, desde quando você escuta Ghost?! — Ela perguntou, vendo um dos vídeos recomendados.

— Calma, tá de sacanagem que você conhece?! Eu comecei a ouvir essa semana!

— Daniel, às vezes eu acho que você nunca viu uma live minha. — Bianca brincou. — Toca o tempo inteiro!

— Ah, desculpa, até o mês passado eu apenas participava de todas elas. — Ele revirou os olhos, então percebeu o que acabou de dizer. Droga, ele não devia estar relembrando daquela época, né? Clicou no primeiro vídeo que apareceu, esperando que não estivesse estragado completamente o clima tranquilo.

— Devia voltar a participar... — Bianca murmurou, e quis morder a própria língua. Droga, ele definitivamente estava evitando ela e a primeira coisa que ela faz é tentar se aproximar daquele jeito?! Era uma imbecil.

— Você não se importaria? — Daniel perguntou.

Os dois corações bateram forte ao mesmo tempo. Os dois se amaldiçoaram.

— Óbvio que não. — Então, Bianca tentou brincar: — Vai chamar atenção se o título for "carregando o Daniboy para ele não cair de rank".

Com sua habilidade especial de irmão mais velho, Daniel alcançou a almofada e em um piscar de olhos deu com ela na cara de Bianca. Então ela teve um déjà vu de toda a sua infância recebendo almofadadas de Natalie.

Os dois seguraram o riso enquanto fingiam prestar atenção no videoclipe na tela, sem saber se deveriam ou não falar alguma coisa e correr o risco de estragar aquele momento.

— Eu... — Daniel começou.

— Sabe... — Bianca falou ao mesmo tempo.

Os dois se calaram e ficaram alguns segundos assim, até tentarem de novo e se atravessarem novamente.

— Não, é só que... Fiquei com saudades de jogar com você. — Bianca admitiu, sentindo a revoada de borboletas que pensou estarem adormecidas. "Idiotas! Estou com saudades dele como amigo!" gritou mentalmente.

— Eu também, Abelhinha.

Ele sentia tanta saudades que só sentar naquele sofá era torturante. Porque sabia que, em outra época, provavelmente mandariam aquele jogo para o inferno e passariam o resto da noite se beijando até perder a noção do tempo. Então, em algum momento, Daniel chutaria o balde de novo e insistiria para que ela fosse dormir na casa dele. Passariam outro final de semana quase perfeito ("quase" porque Emily faria de tudo para empatá-los... e ele fingiria que o que quer que os três acabassem fazendo não era tão legal assim, embora fosse), onde a noite com ela ao seu lado seria eterna.

Seu coração errou outra batida, porque imediatamente aqueles pensamentos foram cortados pela lembrança da dor que sentiu ao magoá-la. E de como foi passar o último mês fingindo que estava tudo bem sem ela ao seu lado.

Ele queria mais do que tudo tê-la para si, mas isso só significaria que a perderia eventualmente. Quando aquela nuvem em cima do seu coração voltasse, quando a sensação de sufocamento fizesse tudo ao seu redor ruir... Quando ele acabasse descontando tudo nela.

Não, ele não podia. Não podia arriscar tudo. Aquilo doía, mas era melhor do que nada.

Obrigou-se a aproveitar aquela proximidade, a calma no ar embalada pela música que murmurava tranquilamente enquanto fingia prestar mais atenção no videoclipe do que no calor do corpo dela perto do seu.

Os segundos se arrastaram, até a calma ser interrompida pelo retumbar do seu coração quando sentiu o rosto macio dela encostando no seu braço. Conferiu, com cuidado, e a encontrou com os olhos fechados, respirando tranquilamente.

Negaria até a morte a velocidade com a qual um sorriso se desenhou no seu rosto.

Com todo o cuidado do mundo, esticou a mão até encostar naquela franja teimosa e a tirou da frente do rosto que não saiu dos seus pensamentos em nenhum momento nas últimas semanas.

Então percebeu que, de certa forma, ele já a tinha. Talvez não o tanto que queria, mas o suficiente para nunca correr o risco de perdê-la. Isso era o suficiente.

Aceitaria sair com cicatrizes. Estava acostumado com elas.




Nota da autora:

dklsjflskafjas ainda não é meia noite!!!!!

Amigos, eu posso explicar a demora para atualizar: eu me formei hoje 😎

Sou oficialmente bacharela em Letras Português 🥳🥳

Além disso, essa semana foi um caos... não consegui responder os comentários, fui mexer no planejamento dessa história e entrei em desespero...

Só quero encher a cara amanhã e comemorar. Amém 🙏

Eu amei tanto esse final de capítulo caras 😭

Para os atentos: já usei a música do começo do capítulo em Lilium... explanando que talvez eu goste desse tipo de situação de "ser apenas amigos"? 👀

Agora, gente.

O capítulo da próxima semana...

👀

Até ele. 

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