HOTEL CARO ━ gabigol

By ellimaac

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━━━━━ ❝'Cê vai ligar fingindo que não aconteceu nada.❞ 𝐋𝐔𝐀𝐍𝐍𝐀 𝐒𝐂𝐀𝐑𝐏𝐀... More

[🖤❤] 𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟏 | 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐀𝐑 𝐎 𝐐𝐔𝐄̂?
𝟎𝟐 | 𝐑𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝐉𝐀𝐍𝐄𝐈𝐑𝐎
𝟎𝟑 | 𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐌𝐄𝐍𝐈𝐍𝐀 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐄
𝟎𝟒 | 𝐌𝐀𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐏𝐎𝐑𝐑𝐀
𝟎𝟓 | 𝐀𝐑𝐑𝐔𝐌𝐀 𝐔𝐌𝐀 𝐃𝐄𝐒𝐂𝐔𝐋𝐏𝐀
𝟎𝟔 | 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀
𝟎𝟕 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐭𝐭 𝐞 𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚)
𝟎𝟖 | 𝐄𝐒𝐐𝐔𝐄𝐂𝐄 𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐀
𝟎𝟗 | 𝐀 𝐎𝐅𝐄𝐑𝐓𝐀
𝟏𝟎 | 𝐃𝐈𝐒𝐅𝐀𝐑𝐂̧𝐀𝐑
𝟏𝟏 | 𝐄́ 𝐒𝐎́ 𝐒𝐄𝐗𝐎
𝟏𝟐 | 𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐀𝐃𝐎𝐑𝐄𝐒
𝟏𝟑 | 𝐄𝐒𝐐𝐔𝐄𝐂𝐄 𝐄 𝐌𝐄 𝐁𝐄𝐈𝐉𝐀
𝟏𝟒 | 𝐒𝐄𝐌 𝐑𝐎𝐌𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐒𝐄𝐈
𝟏𝟓 | 𝐒𝐄 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐍𝐃𝐀
𝟏𝟔 | 𝐍𝐀̃𝐎 𝐒𝐄 𝐌𝐄𝐓𝐄 𝐍𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐕𝐈𝐃𝐀
𝟏𝟕 | 𝐄𝐔 𝐏𝐑𝐄𝐅𝐈𝐑𝐎 𝐀 𝐏𝐀𝐙
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟏𝟖 | 𝐃𝐄𝐒𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀𝐃𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟏𝟗 | 𝐃𝐄𝐒𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀𝐃𝐎
𝟐𝟎 | 𝐃𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄𝐍𝐃𝐈𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎
𝟐𝟏 | 𝐋𝐈𝐒𝐓𝐀 𝐃𝐎 𝐓𝐈𝐓𝐄
𝟐𝟐 | 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋𝐄𝐈𝐑𝐀̃𝐎
𝟐𝟑 | 𝐐𝐔𝐄𝐑𝐎 𝐓𝐄 𝐕𝐄𝐑
𝟐𝟒 | 𝐀𝐈 𝐅𝐋𝐀𝐌𝐄𝐍𝐆𝐎
𝟐𝟓 | 𝐒𝐄 𝐃𝐈𝐕𝐄𝐑𝐓𝐈𝐔 𝐃𝐄𝐌𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐂𝐀𝐅𝐄́
𝟐𝟕 | 𝐓𝐎𝐐𝐔𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄́ 𝐒𝐎́ 𝐔𝐌𝐀 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀
𝟐𝟗 | 𝐂𝐀𝐒𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎
𝟑𝟎 | 𝐒𝐄 𝐎𝐑𝐆𝐀𝐍𝐈𝐙𝐄
𝟑𝟏 | 𝐂𝐑𝐎𝐀́𝐂𝐈𝐀
𝟑𝟐 | 𝐎̂ 𝐒𝐀𝐔𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟑𝟑 | 𝐐𝐀𝐓𝐀𝐑
𝟑𝟒 | 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟑𝟔 | 𝐒𝐔𝐑𝐏𝐑𝐄𝐒𝐀?
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟑𝟕 | 𝐍𝐀𝐓𝐀𝐋
𝟑𝟖 | 𝐑𝐄́𝐕𝐄𝐈𝐋𝐋𝐎𝐍 𝐃𝐎 𝐋𝐈𝐋
𝟑𝟗 | 𝐂𝐑𝐈𝐀𝐑 𝐋𝐄𝐌𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂̧𝐀𝐒
𝟒𝟎 | 𝐅𝐎𝐈 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐄𝐍𝐓𝐈𝐑𝐀
𝟒𝟏 | 𝐄𝐍𝐂𝐀𝐑𝐀𝐑 𝐀 𝐑𝐄𝐀𝐋𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟒𝟐 | 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐋𝐇𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟒𝟑 | 𝐒𝐔𝐏𝐄𝐑𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐏𝐓.𝟏
𝟒𝟒 | 𝐒𝐔𝐏𝐄𝐑𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐏𝐓.𝟐
𝟒𝟓 | 𝐃𝐄𝐑𝐑𝐎𝐓𝐀 𝐄𝐌 𝐃𝐎𝐁𝐑𝐎
𝟒𝟔 | 𝐕𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐍𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀𝐑
𝟒𝟕 | 𝐍𝐎 𝐇𝐎𝐒𝐏𝐈𝐓𝐀𝐋
𝟒𝟖 | 𝐕𝐀𝐌𝐎 '𝐁𝐎𝐑𝐀
𝟒𝟗 | 𝐕𝐎𝐂𝐄̂ 𝐕𝐀𝐈, 𝐒𝐈𝐌
𝟓𝟎 | 𝐌𝐀𝐑𝐑𝐎𝐂𝐎𝐒
𝟓𝟏 | 𝐂𝐇𝐄𝐆𝐀 𝐃𝐄 𝐃𝐄𝐑𝐑𝐎𝐓𝐀
𝟓𝟐 | 𝐎𝐅𝐄𝐍𝐃𝐀-𝐒𝐄
𝟓𝟑 | 𝐂𝐇𝐀́ 𝐑𝐄𝐕𝐄𝐋𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐏𝐓.𝟏
𝟓𝟒 | 𝐂𝐇𝐀́ 𝐑𝐄𝐕𝐄𝐋𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐏𝐓.𝟐
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟓𝟓 | 𝐎 𝐏𝐋𝐀𝐘𝐁𝐎𝐘
𝟓𝟔 | '𝐓𝐀́ 𝐑𝐄𝐏𝐑𝐄𝐄𝐍𝐃𝐈𝐃𝐎
𝟓𝟕 | 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐏𝐑𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟓𝟖 | 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟓𝟗 | 𝐋𝐎𝐈𝐑𝐎 𝐏𝐈𝐕𝐄𝐓𝐄
𝟔𝟎 | 𝐏𝐎𝐃𝐏𝐀𝐇
𝟔𝟏 | 𝐅𝐋𝐀𝐌𝐄𝐍𝐆𝐔𝐈𝐒𝐓𝐀𝐒?
𝟔𝟐 | 𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐃𝐎 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋
𝟔𝟑 | 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐇𝐎𝐑𝐀
𝟔𝟒 | 𝐋𝐔𝐙 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐑
𝟔𝟓 | 𝐓𝐈𝐑𝐎 𝐍𝐀 𝐂𝐄𝐑𝐓𝐀
𝟔𝟔 | 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐋𝐇𝐀𝐒
𝟔𝟕 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟔𝟖 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟗 | 𝐑𝐄𝐒𝐎𝐋𝐕𝐈𝐃𝐎
𝟕𝟎 | 𝐌𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒
𝟕𝟏 | 𝐍𝐎 𝐀𝐋𝐋𝐈𝐀𝐍𝐙
𝟕𝟐 | 𝐂𝐋𝐀𝐒𝐒𝐈𝐅𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎𝐒, 𝐄𝐋𝐄𝐒
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟕𝟑 | 𝐂𝐀𝐒𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎

𝟑𝟓 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎

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By ellimaac

Estejam preparados para mergulhar numa realidade que não vimos e nem sei se um dia veremos.

CARALHO, EU ESTOU GRÁVIDA.

Tem um bebê se desenvolvendo dentro de mim nesse exato segundo. Uma criança que vai nascer, vai crescer e vai me chamar de mãe. De mãe!!?? Cacete.

Não sei se eu rio. Se eu choro. Se eu começo a gritar.

Ninguém te ensina a ser mãe. Dizem que é um processo natural, mas que de natural não tem nada. Eu estou apavorada. Não me sinto capaz. Não de criar outra vida, educar, ensinar e todo essa parada. Eu não sei fazer isso.

Porra. Como eu deixei isso acontecer? Como fui tão irresponsável? COMO?? Mano, não consigo acreditar. Eu estou muito fodida. Tipo muito mesmo.

Eu não tenho condição alguma de criar um filho. Olha pra mim. A vida anda me dando um soco atrás do outro. Consegue me imaginar criando um bebê? Vai ser um desastre completo. Não sei nem trocar uma fralda.

E saúde mental que eu nem tenho pra lidar com isso.

A minha lista de tragédias está aumentando a cada dia que passa.

Estou desempregada e não consigo arrumar um emprego, muito menos estou sendo chamada pra fazer entrevistas.

Estava vivendo das minhas economias que acabaram semana passada. Agora eu não tenho mais nenhum tostão. Minha conta da Nubank está chorando.

A fatura do meu cartão de crédito está a quase um mês sem ser paga. Os juros vão ser tão absurdos que daqui a pouco vou me meter com agiota.

Não vai demorar muito pro meu nome estar no SERASA.

E agora, pra piorar tudo, eu descubro uma gravidez. 

Como eu vou bancar uma criança se eu não consigo nem bancar a mim mesma?

Vou ter que começar a aceitar a ajuda do meu irmão, do Gabriel, do Veiga. De todo mundo que estiver disposto a me oferecer um centavo que for ou eu vou acabar morrendo de fome.

Vou ter que aceitar a vida que eu me recusei a ter assim que eu soube que Gustavo teria sucesso, que é ser irmã de jogador. Aquela irmã de jogador, sabe? Que tem tudo que quer porque o irmão tem dinheiro de sobra.

O problema é que eu odeio depender das pessoas. E o Gustavo sempre foi casado. Tipo, não casado literalmente, mas quando ele começou a ganhar dinheiro, ele já tinha uma namorada. Já estava pensando em ter uma família e eu era só uma adolescente que dependia dos meus pais.

E Gustavo não tem só eu de irmã. Ele tem a Gabriela, que é mais irmã dele do que eu, se levarmos em consideração o fato dos dois terem a mesma mãe.

Ah, e tem o Lucas também.

Já pensou se Gustavo bancasse todo mundo que nem ele fez com essa viagem ao Qatar? Não que ele não tenha dinheiro pra isso, mas, cara, meus pais nunca foram os pais que usam os filhos como renda. Meu pai sempre teve um bom emprego, que sustentava todos nós.

E depois de adulta, eu segui o mesmo exemplo. Fui trabalhar e sempre me matei pra ter tudo que tenho.

Mas agora... eu não tenho muita escolha.

Ou é aceitar ou é morrer.

Isso só pode ser uma pegadinha do universo!!!

Ô daí de cima! Já pode parar de brincar comigo. Bora fazer uma coisa que me ajude e me deixe bem, beleza?

O teste pode ter errado também, né?

Não. Pior que não. Eu fiz cinco testes e nenhum deu negativo. Aliás, pensando melhor e analisando minha saúde nas últimas semanas, claramente eu estou grávida. Os enjoos matinais, as dores de cabeças, a falta de disposição, a falta de apetite e depois muito apetite. A falta de menstruação que eu havia me acostumado por causa do meu ciclo esquisito. Eu estava grávida esse tempo todo. Eu que fui burra demais para não perceber. 

— Eii, se acalma — diz a voz de uma mulher, colocando a mão em minha coxa.

Sarah, que eu tinha esquecido que estava sentada do meu lado enquanto esperávamos nossos lanches, percebeu que eu não parava quieta com a perna. Estou tão nervosa com a novidade que eu acabo transparecendo meu desconforto.

Paro de balançar a perna. Seguro as mãos, porque sei que serão as próximas a balançarem sem parar, e forço um sorriso.

— 'Tá ansiosa pro jogo? — Minha cunhada me pergunta. Simpática. Linda. E grávida.

Sarah também está grávida. Ela lidou tão bem com isso. Foi tão desejado e bem aceito. O que eu sei claramente que não vai ser igual para mim já que eu estou teoricamente solteira.

Minha cunhada usa uma camisa do Brasil amarela. O cabelo cacheado preso num rabo de cavalo alto. A expressão mais feliz de todas e a barriga redonda e evidente.

Não vou conseguir manter isso entalado na minha garganta por muito mais tempo.

— Eu...

Limpo a garganta e ao tentar pegar a garrafinha de água de cima da mesa, Sarah percebe os meus dedos trêmulos.

— Luanna, o que foi? — Ela segura minha mão e pega a garrafinha por mim. — Você está fria e está tremendo que nem porco.

— Eu tenho que te falar uma coisa — esclareço de uma vez, abrindo a garrafinha e dando um gole.

Olho ao redor.

Meus pais estão no caixa. Gustavo e Lucas estão, provavelmente, se xingando enquanto tentam escolher um sorvete e esperam por nossos lanches. Mesmo assim, eles estão perto demais e eu não quero que ouçam.

Por isso, me levanto e arrasto Sarah comigo até o banheiro mais próximo. Era um banheiro com poucas cabines.

Tranco a porta e desembucho:

— Estou grávida.

Sarah franze o cenho e me analisa bem.

— Ah, okay. Que brincadeira é essa?

— Eu queria que fosse — me apoio no lavatório e respiro fundo. — Estou grávida e minha vida foi de ruim para péssima em poucas horas.

Sarah percebe a seriedade do assunto e decide me ajudar.

— Calma, Lu. Vamos... — ela tenta achar as palavras certas, mas desiste. Porque sabe que eu não preciso de consolo. Eu preciso de sinceridade e soluções. — Ok. Não tem o que eu posso fazer para te ajudar a não ser perguntar o que você quer.

— O que eu quero? — Olho para ela, ainda da mesma posição.

— A vida é sua — ela olha para minha barriga bem coberta e protegida pelo moletom que uso. — O corpo é seu. Você tem o poder de decidir o que quer de verdade.

Ajeito a postura e me viro na direção de Sarah. Estou praticamente suplicando por uma solução mais clara que eu possa entender melhor.

— 'Tá me dizendo que eu posso abortar?

— Lu, eu... — Sarah passa a língua nos lábios e desvia o olhar, meio sem jeito. — Você tem o direito de decidir o que é melhor pra você.

— Eu sei que você vai me julgar se eu tirar esse bebê, Sarah — digo, evitando rir ou chorar ou qualquer coisa. — Deus não vai me perdoar e essas coisas que vocês, crentes, fazem questão de jogar na cara das pessoas.

Merda. Estou tão estressada com tudo que estou descontando minhas frustrações na pessoa errada.

— Luanna, isso aqui não tem nada a ver com religião — a voz dela ganha um tom de seriedade que me deixa surpresa. — Estamos falando de uma vida. Uma criança que terá que ser cuidada e protegida. E que merece ser amada.

Sinto a vergonha me possuir. Eu sou tão tola.

— Eu não... eu sei. Eu só... só não estou preparada...

— É por isso que eu digo que você deve pensar no que é melhor pra você e consequentemente pra esse bebê — ela se aproxima mais de mim. — Nenhuma criança merece vir ao mundo sabendo que não foi desejada. Que você, toda vez ao olhar para ela, vai querer uma vida em que ela não exista.

Suas palavras me atingem com força. Eu tenho a possibilidade de ser tão infeliz ao ponto de descontar minhas decepções num filho que não tem culpa alguma dos meus erros.

De repente me sinto suja por saber que, mesmo sabendo a poucas horas dessa gravidez, eu já estou me tornando essa pessoa.

— Então, Lu — Sarah continua —, pense bem antes de decidir levar isso pra frente.

— Então eu... — meus olhos ficam pesados e eu preciso piscar para controlar o nervosismo — eu devo abortar?

— Eu não posso responder isso por você — ela me diz com calma. — Eu vou dizer que não. Vou torcer pra que você ame e cuide desse bebê. Mas se decidir seguir com isso, eu vou estar do seu lado. Porque eu amo você e como sua amiga, acima de tudo, devo demonstrar meu apoio e compreensão.

— Eu não sei o que fazer — merda, merda.

Estou chorando. Não era pra eu chorar. Mas é tanta coisa que eu não consigo suportar.

— Tudo bem não saber — ela me agarra num abraço e alisa minhas costas enquanto eu afundo meu rosto em seu ombro. — Você acabou de descobrir, não precisa decidir e organizar sua vida de uma hora pra outra. Essas coisas levam tempo.

Eu me afasto dela depois de um tempo e Sarah seca as lágrimas que molham meu rosto.

— Eu não quero abortar — digo, ainda confusa. E sendo forte pra engolir o choro. Eu odeio ter que engolir o choro. — Mas eu também não me sinto pronta pra ter. Eu não sei o que eu quero.

Eu sou uma pessoa muito sentimental. Daquelas que procuram significado em tudo que acontece na vida. Até se uma borboleta pousar perto de mim. Se eu abortar, vou foder com meu psicológico. Ao ponto de a cada bebê que eu observar, irei pensar no filho que eu não tive por puro egoísmo.

— Não precisa decidir hoje, Lu. — Assinto ao que diz. E ela acaricia minhas bochechas. — Hoje é seu aniversário. É dia de comemoração. Deve relaxar e esquecer por um momento, mesmo que seja impossível.

É realmente impossível esquecer uma gravidez, principalmente quando a grávida sou eu.

— O jogo é daqui a pouco, que tal se alegrar? Acha que consegue fazer isso?

— É, eu posso tentar.

— Ótimo. — Ela sorri para mim, sendo um apoio necessário. — Vamos retocar essa sua maquiagem e depois encher a pança de comida, 'tá bom? Enquanto isso — Sarah começa a vasculhar na sua bolsinha —, me perdoe se parecer ofensivo, mas o pai é o Gabigol, né?

— Sim — respondo, estranhando essa pergunta. — Eu tive uma fase piranha. Mas 'cê sabe que eu 'tô com o Gabriel. Talvez seja a única que realmente sabe. 

— Eu só queria ter certeza, Lu, porque 'cê ficou muito próxima do Veiga nesses últimos dias e eu não entendi muito essa proximidade. Pensei que 'tava rolando alguma coisa e você 'tava com vergonha de me dizer.

— Com o Veiga? Não. Nunca. O meu bebê é do Gabriel.

Meu Deus. Eu falei "meu bebê" e ainda falei que é do Gabriel. Isso está se tornando real e está me assustando. E só faz poucas horas que eu descobri.

— Eu já esperava — ela me entrega uma base, pó e pincéis. — Na verdade, eu notei a mudança. Você estava estranha.

— Estranha? — Merda. Será que era tão evidente?

— Você passava mal direto, Lu. E sua barriga 'tá meio inchada.

— Mas isso nem é possível — aplico a base no rosto e olho pra Sarah. — Eu não estou grávida nem de dois meses ainda. Minha barriga já pode aparecer?

— Depende muito. A minha só começou a aparecer com cinco meses. E bem pouco. Mas pra cada mulher é de um jeito. Vai saber.

Por impulso largo a maquiagem sobre a pia e ergo meu moletom, ficando de lado só para analisar minha barriga no espelho. Não parece barriga de grávida. Está um pouco inchada mesmo, mas eu acreditava até ontem que era bosta acumulada.

— O Gabriel está feliz — informo de repente, retirando o moletom e ficando só com a camisa do Brasil, a camisa dele. — Ficou muito feliz.

— Você já contou pra ele?

— Na verdade, ele soube primeiro do que eu. Passei mal no quarto dele pela manhã.

— Você precisa ir no médico — Sarah decide me maquiar, pegando o pincel e passando pó na minha cara. — Fazer exames, checar sua saúde. Mesmo que você ainda não saiba o que quer, ainda estamos tratando de vidas aqui. E você não vai querer se prejudicar, né?

— Você tem razão.

— Pronto — me olho no espelho. — Linda como sempre. Já podemos voltar e nos preparar pra final.

— Antes disso — olho para Sarah que guarda as coisas de volta na bolsinha. — Eu tenho que te explicar a minha proximidade com o Veiga.

Perco mais uns dez minutos ali dentro do banheiro explicando o problema que Lucas arrumou e o que Veiga e Gabriel fizeram pra ajudar. Sarah ficou surpresa e entendeu o porquê de não termos dito nada. Ela conhece o esposo surtado que tem.

No fim, quando saímos, ela prometeu pra mim que não contaria nada a ninguém. Nem sobre a gravidez. Nem sobre a história do Lucas.

Comemos nossos lanches em paz, ouvindo meu pai contar sobre sua aventura pelo centro da cidade na hora do almoço, caçando um restaurante que vendesse feijoada. O velho está ficando caduco.

Deixo-os conversar para me levantar e pegar uns sachês de ketchup no balcão da lanchonete. De repente alguém se coloca ao meu lado.

— Gabriel?? — Me surpreendo com sua presença e imediatamente olho ao redor, preocupada que alguém nos veja. — 'Cê 'tá maluco? Se meu pai te pega perto de mim, você 'tá morto.

— Acho que ele e seu irmão vão me matar mais cedo ou mais tarde. — Gabriel está usando aquela camisa verde pré-jogo que eu estou doida pra roubar. E eu tento, só tento mesmo, não notar o quanto ele fica gostoso com ela.

— É sério, Gabriel...

— Vou ser rápido — ele interrompe minha fala e me estende uma sacola de papel que só pelo cheiro, sei que é algo bem suculento. — Só vim ter certeza que você estaria bem alimentada durante o jogo. Pesquisei no Google o que... — ele faz um movimento na frente da própria barriga, se referindo a gravidez — você não podia comer e vi que tinha uma lista de coisas. Vamos ter que conversar sobre isso depois...

— Gabriel, acho que você está exagerando. Eu não 'tô... eu... eu acho que você não precisa se preocupar com essas coisas, não agora e não até eu passar num médico. E... eu ando me alimentando bem.

— Logo você, Luanna. Conta outra — ele revira os olhos, me conhecendo muito bem. — Agora você está...

— Não ouse dizer isso em voz alta — o interrompo, quase colocando a mão em sua boca, mas agarrando seu pulso ao invés disso. — Estamos num lugar público.

— 'Tá — ele bufa, suspirando. — Você promete pra mim que vai se alimentar, Luanna? E não vai comer essas porcarias — ele olha pra lanchonete ao nosso lado — cheia de gorduras. Vai te fazer mal e...

— 'Tá bom, 'tá bom — digo de imediato antes que ele acabe falando o que não deve. Meu Deus, meu coração está acelerado de medo. E isso por vários motivos. Um deles é que minha família está por aqui. Há muita gente por aqui. Gente que não pode saber. — Você não devia estar no ônibus?

— Vou pra lá agora, eu só queria ter certeza que a mãe do meu filho estaria se alimentado.

Fecho os olhos e respiro fundo. Eu tentei impedir e mesmo assim ele acabou falando. Gabriel e essa língua.

— Você contou pra alguém? — Pergunto de olhos fechados, ainda me contendo pra não surtar, mas logo os abrindo.

— Não tive tempo pra contar pra ninguém, só pro...

Gabriel faz uma careta e coça a barba, arrependido de ter aberto a boca. Estou conhecendo um lado bem fofoqueiro do Gabriel Barbosa que eu ainda não tinha sido apresentada.

— Pra quem, Gabriel? Eu não te disse pra guardar segredo?

— Eu sei, eu sei. É que o Pedro vem sendo meu conselheiro diário aqui no Qatar e eu tinha que contar pra ele. Porra, eu vou ser pai, eu quero contar pra todo mundo.

— Que saco, Gabriel — digo com a voz firme e ele percebe que não estou pra brincadeira. — Se o Pedro acabar contando pra alguém e isso se espalhar...

— Luanna, relaxa. — Gabriel toca em meu braço bem onde a manga não cobre, usando o polegar pra acariciar minha pele. — Ele é da igreja, 'tá ligado?

— Ah, ótimo. Mais um pra me julgar.

Gabriel ri.

— Traumatizada com a igreja, é?

— Não — balanço a cabeça em negação, depois penso bem. — Bom, sim e não. De qualquer forma, não vem ao caso. E você precisa ir embora, antes que...

— Mas olha só quem 'tá aqui — escuto uma voz familiar antes mesmo de reconhecer o perfume do Gustavo e sentir seu braço em meu ombro. — Por um momento, pensei que você e a Luanna não estariam mais juntos. Mas acho que rezei pouco.

Gabriel solta uma risada, desviando o olhar de mim pra encarar o recém chegado. Se Gustavo nos viu, provavelmente mais pessoas nos viram também. Fodeu.

— Admita que seu sonho é me ter no seu time, Scarpa — debocha Gabriel sem medo de morrer.

Meu irmão ri, uma risada alta.

— Um mala desses no Palmeiras, não combina — Gustavo faz uma careta.

— Não mesmo — diz outra voz. Olho pro lado só para ver um velho calvo também se juntando na conversa. Ele está com os braços cruzados e o olhar nervoso ao encarar Gabriel. — Você, meu jovem, só combina no Flamengo... E na Seleção. — Meu pai acrescenta. — Falando nisso, você tem que jogar com garra hoje, 'tá ouvindo? É um clássico. É contra os filhos da puta da Argentina que eu consigo odiar mais do que vocês, flamenguistas.

— Jogar com garra é meu sobrenome, senhor — diz Gabriel com educação. Puta merda. Gabriel está agindo como gente. Está agindo como... genro.

Meu estômago embrulha e eu sou obrigada a desviar o olhar só para conter o enjoo. Caralho, eu estou ficando nervosa demais com essa conversa.

— Principalmente em finais — acrescenta outra voz, ergo a cabeça e vejo um Lucas sorridente estendendo a mão pra cumprimentar Gabriel. — Cara, você é ainda mais bonito de perto.

— Que isso? — Gabriel me lança um olhar de dúvida ao apontar para meu irmão mais novo. — Um flamenguista encubado?

— Esse moleque não é nem louco! — bufa meu pai, ficando puto e pelo tom obrigando Lucas a dar um passo de distância de Gabriel.

Meu irmão estava no limite de pedir uma foto.

— Estou acostumado com o amor dos palmeirenses, senhor — Gabriel debocha e eu arregalo os olhos em choque. Vai dar merda.

Gustavo é o primeiro a reagir:

— 'Cê 'tá cheio de gracinha — ele cruza os braços e até penso que vai partir pra cima com suas palavras se nossa salvação não tivesse acabado de aparacer pra livrar Gabriel de um grande problema.

— Ah, então você é o famoso Gabigol — minha mãe, que se aproximou da gente de braços dados com Sarah, solta sua nora pra poder dar um abraço, isso mesmo, um abraço em Gabriel. — Homem cheiroso. Forte — ela aperta os bíceps dele, o fazendo sorrir com o ego nas alturas. — Luanna fez uma boa escolha.

— Rita! — Meu pai a repreende.

— Boa escolha é o caralho! — Gustavo bufa, mas fica pianinho assim que percebe o olhar de Sarah.

— Eu vou direto pro céu — minha mãe diz, voltando a encarar Gabriel. — 'Tá vendo o que eu tenho que enfrentar, filho? Esses doentes por futebol não respeitam a própria filha e irmã.

— Meu Deus, mulher! — Meu pai está ficando puto. — 'Cê 'tá falando com o Gabigol, cacete.

— Olha aqui, você abaixa o seu tom — minha mãe aponta um dedo pro meu pai.

— Ai Jesus — aliso a testa, sem acreditar.

Não era pra isso estar acontecendo.

— Relaxa, Gabi — avisa Lucas, com a maior intimidade do mundo enquanto nossos pais continuam discutindo. — Minha mãe não curte muito futebol e ela não entende essa rivalidade, 'tá ligado?

— Gostei dela — informa Gabriel com um sorrisinho.

— Olha aqui, seu mala — meu pai atrai nossas atenções ao falar agora com o Gabriel. — Eu não gosto de você e muito menos gosto da sua proximidade com minha filha.

— Você não tem que gostar de nada, Zezo — minha mãe revira os olhos, fazendo meu pai a encarar incrédulo.

— Assim você não me ajuda, Rita.

E os dois voltam a discutir. Que momento em família maravilhoso onde eles conhecem o pai do filho que ainda não sabem que está crescendo dentro de mim.

— Ai, homem, deixa a menina namorar.

— Namorar o Gabigol? Mas nunca mesmo.

— Se ele gosta dela de verdade, que mal tem?

— Se ele gosta dela — meu pai repete com certo desdém. — A fama dele não é a das melhores com as mulheres, você sabe bem.

— Luanna gosta dele. E isso é a única coisa que importa.

— Você gosta dele? — Meu pai me olha, curioso.

De repente todos estão me olhando. Todos esperando uma resposta sincera.

Me sinto pressionada. Enjoada. Minha cabeça dói e eu levo uma mão a barriga para respirar fundo. As palavras presas na garganta.

— Ô, Gabi! — Gabriel e todos nós olhamos para quem o chama lá do outro lado do salão perto da porta de saída. Uma cabeleira descolorida junto de mais três caras também com o cabelo do mesmo jeito. — Vamos, parça. A gente não pode se atrasar.

É Neymar que o chama. Os outros eu também reconheço. Antony, Richarlison e Rodrigo. Escoltados por seguranças em direção a porta onde pelo vidro vejo o ônibus esperando na calçada.

— Tenho que ir. — Gabriel nos informa, sorrindo. Ele olha para minha família. — Foi bom conhecer vocês.

E dito isso, ele se retira. Se juntando com seus companheiros de time e, então, entrando no ônibus a caminho do estádio para a grande final.

— Mala — meu pai bufa, balançando a cabeça, ainda olhando para a porta. — Espero que isso não dure muito, Luanna.

Se o senhor soubesse o que tem na minha barriga, com certeza entraria em pânico junto comigo.

Ainda está de tarde quando chegamos ao estádio. Está meio frio. Mas estou tão ansiosa, por diversos motivos, que eu não consigo sentir qualquer calafrio. Eu só consigo sentir calor. O suor escorre de minha testa pela ansiedade.

Estamos muito bem acomodados numa das primeiras fileiras da arquibancada bem acima do banco de reservas. Torcida brasileira em peso em torno de mim. Todos muito bem vestidos de amarelo. Olho pra frente e do outro lado do estádio o azul e branco prevalece. É um enorme oceano. Uma ameaça.

Meus pelos se arrepiam de nervoso com os gritos deles. Com a empolgação deles.

Do nosso lado o grito é o mesmo. Tão alto e potente. Estamos cantando. Estamos animados. Estamos determinados a vencer.

Isso aqui é guerra.

As luzes se apagam e a cerimônia de encerramento se inicia.

Eu conheço essa música. De Madagascar. Uma das minhas animações favoritas. What a Wonderful World.

Depois eles cantam a música da Copa e mais algumas músicas.

Sinto falta de um Waka Waka ou até daquela música que a Claudia Leite teve participação. Eram mais animadas.

Bom, mas no geral, foi uma apresentação lindíssima. Que nos distrai de certa forma. Acalma os nervos e eu até consigo comer o lanche que Gabriel me deu.

As luzes se apagam de novo momentos depois. Há uma taça gigantesca ao centro do campo. Fogos. Um show de luzes. A bandeira do Brasil de um lado. Da Argentina de outro. Um verdadeiro espetáculo e eu estou tendo o privilégio de assistir no meu aniversário.

Quando os times finalmente entram em campo já prontos para o início da partida, meu coração já está acelerado de novo.

Gabriel se senta no banco de reservas junto com seus companheiros. Mas antes ele levanta a cabeça para encarar as arquibancadas. Seu olhar está a procura de alguém. E só param quando ele finalmente me acha. Um sorriso surge em seus lábios.

Ele sabe onde estou. E estou bem perto.

Escutamos os hinos nacionais e eu silencio tudo ao meu redor para me concentrar nesse momento e me preparar para o jogo. Porra, eu estou muito nervosa.

E tudo só piora quando o jogo finalmente começa.

Puta que pariu.

Eu grito toda vez que algum jogador brasileiro toca na bola. Estou nervosa a esse ponto.

Mas a culpa não é minha se o Raphinha me assusta toca vez que se aproxima do gol. Cara, ele está numa sede de gol. Hoje é a última chance dele.

Infelizmente nada acontece no primeiro tempo.

— Toma — Gustavo me dá uma garrafinha de água, estou sentada agora, aguardando o próximo tempo. Me preparando psicologicamente pra isso. — Respira um pouco, mulher. Parece que vai infartar.

— 'Tô nervosa — digo, dando um gole na água e tentando falhamente não me desesperar.

— Todos nós estamos — meu irmão diz com um sorriso fraco. — Mas fica de boa, o jogo 'tá equilibrado. Temos chances de ganhar.

— Deus te ouça.

— E vai ouvir! — Lucas se intromete na conversa, praticamente gritando. — Tite vai ouvir a voz divina de Jesus sussurrar em seu ouvido e vai colocar Gabigol e Antony. Esquece. É nosso!

— Não sei se ele coloca o Gabigol — Gustavo começa a pensar. — O Pedro talvez, já que o Gabriel Jesus já voltou pra casa.

— O Gabi vai entrar, zé — Lucas fala com tanta convicção que eu estou quase acreditando. — Tite não vai cometer esse erro.

— Moleque, você se orienta — diz meu pai a Lucas com um olhar de desconfiado. — Já não basta a Luanna com essa paixão absurda, e agora meu filho 'tá seguindo os mesmos passos.

— Sai dessa noia, pai.

— Que palavreado feio, Lucas — minha mãe o repreende. — Esses meninos só aprendem o que não presta. Fica andando com aqueles meninos e falando essas gírias de maloqueiro.

O segundo tempo começa minutos depois.

E a minha ansiedade volta com tudo porque não deu nem cinco minutos direito e o Brasil perde a bola de uma forma tão estúpida que eu me levanto do assento na força do ódio. Ainda bem que tudo foi tão rápido que o coitado do Di Maria não acompanhou o fluxo e chutou a bola lá no céu.

Só que eu não sei qual foi a caralha maldita que deu no pé do Alisson que ele entregou a bola de bandeja pros caras mano. Que tiro de meta mal batido do caralho.

O Brasil nem teve chance de atacar.

Ainda bem que nossa defesa é boa.

Di Maria está com a bola agora, mas está marcado demais para conseguir dar um passe. Ele decide entrar na área mesmo assim, passando pelo Raphinha e, então, meus olhos não acompanham direito só sei que o magricela esquisito que veste azul está no chão.

O Juiz assopra o apito e aponta pra frente, marcando pênalti.

— Porra, Raphinha! — Gustavo bufa e se senta. E num efeito dominó Lucas faz o mesmo e logo em seguida meu pai.

Juiz nem vê o VAR. Pênalti marcado.

Messi se posiciona e a gente chora, né? Não tem o que fazer.

Foi gol.

Depois de cometer o pênalti, Raphinha é rapidamente substituído pelo Antony. Lucas até se anima, voltando a ficar em pé.

Mas a animação vai embora muito rápido, pois foi preciso mais dez minuto e pronto,     Alisson ficou de cara com o Di Maria num contra ataque fodido e dessa vez ele não errou.

Me sento totalmente frustada.

Que cara filho da puta, sofre o pênalti e depois ainda faz gol.

— Meu Deus, 'tamo levando uma surra da Argentina — meu pai alisa a própria testa, apoiando o corpo nos joelhos. Está todo mundo sentado agora.

— Eu disse que esse negócio de futebol só traz dor de cabeça — minha mãe fala, totalmente distraída com seu celular e seu óculos de grau na ponta do nariz —, eu disse. Mas nessa família, a única que me escuta é Sarah e nem é minha filha.

Vamos perder pra Argentina. Era só o que me faltava. 2x0 ainda.

Não acredito nisso.

Bom, já estou começando a acreditar porque já se passaram 80 minutos no total e o placar continuava o mesmo. Tite já fez todas as substituições que podia. Agora é só esperar o árbitro apitar o fim do...

Meu raciocínio se perde quando de repente Vini Jr cai dentro da área e o juiz apita marcando um pênalti.

Puta merda. Fico em pé rapidamente.

Puta que pariu. Pênalti para nós.

Ainda bem que não tiraram o Neymar. E ainda bem que ele marca. E marca bonito e nos traz esperança de novo. Caralho e que esperança. Meu Deus.

Todos se levantam com esse gol. Todos voltam a ter animação.

E foi preciso só mais um minuto pra Neymar empatar o jogo.

Um único minuto depois de bater o pênalti e o cara marca outro gol e nos coloca no jogo de novo.

Caralho, eu estou gritando muito.

Estou me tremendo toda e Sarah me obriga a me sentar. Mas é difícil controlar a emoção. É difícil ficar calma aqui. Mesmo assim, sentada eu permaneço enquanto tudo se desenrola.

O jogo está empatado ainda, faltam só cinco dos acréscimos.

Vamos pra prorrogação pelo jeito.

Mas Tite faz mais uma substituição, talvez pra segurar o jogo não sei. Eu nem sabia que ele ainda podia fazer substituição, pensei que já tinha feito todas.

Mesmo assim, Gabriel Barbosa entre em campo.

Olho no relógio e só faltam dois minutos.

Vontade de mandar o juiz acabar logo com isso. Ou pra alguém fingir câimbra e se jogar no chão.

Porque se a gente não faz, a gente toma. E eu estou rezando muito para não tomarmos gol. Não quando falta tão pouco tempo pra acabar. Se eles fizerem agora, acabou tudo. Iremos perder. Não teremos nem chance de empatar na prorrogação. Se for agora, já era. Então, Deus mantenha o ataque da Argentina bem recuado como está agora.

Ou eu achava que estava porque Messi, que estava na porra do meio de campo, conseguiu roubar a bola de Lucas Paquetá e agora está avançando em direção ao gol.

Puta que pariu. É o Messi. Sabe qual a chance de dar errado? Quase nula.

Eu me coloco em pé, sentindo o medo aflorar minha pele. Meu coração dispara. Um suor escorre pela minha têmpora. Estamos fodidos, estamos fodidos.

Mas Deus ainda é bom.

E me ouviu, porque Casemiro se colocou bem na frente quando Messi tentou passar a bola pro Mac Allister.

Casemiro chuta a bola com força pra frente. Minha cabeça se vira acompanhando a bola voar e eu nem tinha percebido, mas Antony estava mais afastado e dominou a bola perfeitamente. A bola que eu pensei que sairia e daria lateral para a Argentina.

Faltando só um minuto pra acabar o jogo e irmos para a prorrogação, Antony avança com a bola, numa coragem absurda. Um contra ataque do caralho, desviando de um, driblando outro, chutando pra Neymar que devolve a bola pra ele no momento que está bem posicionado perto do gol. Mas ele não chuta direto, ele faz um cruzamento.

Ele faz um cruzamento fodido que confunde até a minha cabeça.

E havia uma pessoa muito bem posicionada dentro da área. Muito bem posicionada na cara do gol que só precisou esticar o pé e pronto. GOL.

— Gol? — pergunto pra ninguém em específico, sem acreditar no que eu vejo. — GOL, PORRA. Gol! Meu Deus!

— Eu falei que ele ia fazer! Eu não falei, caralho!? — Lucas grita em comemoração, me agarrando e pulando junto comigo.

Está todo mundo gritando.

Vejo o autor do gol gritar, entrar dentro do gol e pegar a bola que havia chutado perfeitamente na rede.

O autor do gol é ninguém mais e ninguém que ele, Gabriel Barbosa.

O cara da virada. O cara do hexa.

Gabriel agora está correndo em direção as arquibancadas. Correndo na minha direção?

Não sei dizer se é, mas é como se seu olhar estivesse fixo em mim. Ele não comemora com os outros. Não. Ele faz algo totalmente diferente.

Coloca a maldita bola que segura dentro da camisa. Leva uma mão a boca para chupar o dedão e a outra ele aponta para mim, olhando para mim e fazendo um L. Um L de Luanna.

Caralho, não acredito que ele fez isso.

Eu entro em choque.

Vejo uma câmera apontada na minha direção e eu olho pro telão só pra ver minha cara estampada pra que todo mundo pudesse ver.

— O quê? — Gustavo é o primeiro a entender, olhando de Gabriel pro telão e depois pra mim. — Mas que porra é essa, Luanna? 'Cê 'tá grávida?

Logo isso fica claro pra todo mundo. Principalmente pra minha família que me olha com a maior cara de tacho. Ouço meu pai xingar, minha mãe dizer alguma coisa inaudível. Gustavo falar. Lucas entrar em êxtase. Ouço também o grito da torcida ao meu redor. Alguém agarrando meu ombro e balançando. Outros me parabenizando.

Tudo fica confuso demais.

Mas é com o olhar da minha família que eu entendo a grande merda que isso daqui vai virar.

Hoje o Brasil não só foi hexa da Copa de 2022 depois de vinte anos desde o último título como o mundo inteiro descobriu a minha gravidez.

Capítulo gigante. Gigante mesmo. 5500 palavras!!

Vamos sonhar um pouco com o impossível? Vamos, né, gente. Isso aqui é uma fanfic, é claro que é tudo impossível de acontecer.

Mas sejam felizes com isso.

Estou preparando um capítulo bônus daqueles que tem tweets, post do Insta com a reação do mundo com o que aconteceu nesse capítulo aqui.

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