Ceres - Você sabe quem é o In...

By erika_vilares

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PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES: Ceres - Você sabe quem é o Inimigo? Concebida após uma grand... More

Índice
Prólogo
Linha do Tempo
Ceres - Você sabe quem é o Inimigo?
Capítulo Um - Parte I
Capítulo Um - Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis - Parte I
Capítulo Seis - Parte II
Capítulo Sete - Parte I
Capítulo Sete - Parte II
Capítulo Oito - Parte I
Capítulo Oito - Parte II
Capítulo Nove - Parte I
Capítulo Nove - Parte II
Capítulo Dez
Página de Ceres + Instagram!
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte Um - Parte I
Capítulo Vinte e Um - Parte II
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete - Parte I
Capítulo Vinte e Sete - Parte II
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Quem você shippa?
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Penúltimo Capítulo
Último Capítulo
Trilha Sonora Livro I
Agradecimento em 2015/+ 50 fatos de Ceres
Sinopse Ceres - Agora o Inimigo é Outro
AVISO LIVRO 02
Revelação de Capa
[PRÉ-VENDA]
Pré venda

Capítulo Dezessete

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By erika_vilares




O grupo partira do grande reino de Skyblower no alvorecer. Mia, por sua vez, não conseguia conter sua ansiedade, estava numa aventura pela primeira vez na vida. E ao contrário do que pensava, eles não atravessaram nem mesmo a cidade do reino para começar a viagem, quando Mia questionou sobre, viu pela primeira vez Thor e Lucky concordando em algo. Explicaram que se fossem pela cidade do reino, cairiam na estrada para a Cidade-Livre, e ao menos que cortassem caminho sentindo sudeste atravessando um longo caminho de floresta, o que era perigoso, seriam obrigados a seguir até a Cidade-Livre e depois apanhar a estrada do Mar, que era em sentindo de Wanderwell e isso custaria mais uma semana de viagem. Ambos entraram em acordo que seria mais vantajoso cortar caminho sentindo ao rio e dali pegar uma estrada talvez um tanto longa, mais desconhecida e mais segura. E assim foram. Como o esperado, estavam num grupo de sete pessoas.


Mia gostava de ter Thor e Elliot ao seu lado, sentia-se segura e confiante. A bruxa Winston, que continuava sendo alguém desconhecida, pois não era muito de falar ou demonstrar suas expressões de forma explícita, Mia por muitas vezes não conseguia ter nem uma ideia do que passava em na mente dela tão silenciosa e seus olhos tão observadores, e por fim os três boêmios; Berbatov, Rhys Gleccor e Legrand.

Passaram direto pelo primeiro vilarejo, o mesmo vilarejo que Mia atravessou durante sua fuga, logo pensou em Cirelli. Ela poderia desviar o caminho e vê-la naquele exato instante, mas não o desejava. Mia não desconfiava que ela estava por trás das ameaças, porque por algum motivo oculto, ainda confiava nela. Mas sabia que não estava pronta para revê-la com tanta coisa fora do lugar.

Mia tentava ainda não estar em choque com a nova realidade, às vezes, se pegava pedindo que se tudo fosse um sonho, desejaria acordar logo, para não ter mais decepções, todavia sabia que nem nos sonhos mais malucos conseguiria imaginar algo de tal proporção.

Ao menos o bom humor não faltava por ali. Sempre havia alguém contando uma história ou uma piada engraçada, sobretudo Ari e Louis.

Na primeira noite, outra desavença por opiniões: precisaram descansar para mais um outro dia inteiro de caminhada até Wanderwell, e segundo Berbatov deveriam acampar ao ar livre, ao invés de parar no outro vilarejo que estavam, porque se parassem numa hospedaria estariam confortáveis demais para partir com pressa e apenas gastariam tempo e dinheiro. Thor por outro lado, defendia que uma hospedaria provavelmente seria mais seguro e mais confortável para as duas únicas mulheres do grupo, Lucky caçoou desta opinião perguntando se Mia era uma florzinha.

Então por algum motivo a decisão caiu sobre Mia porque Emily se demonstrou indiferente com a questão, como por muitas vezes...

As troças de Berbatov lhe tiravam realmente do sério, e no fundo, Mia queria provar para ele que ela não era feita de porcelana como ele achava. Se enfurecia por lembrar que chorou diante a ele, isso lhe dava argumentos contra ela. Mas, a decisão da princesa de passar a noite sob as estrelas foi por uma questão em particular: com quem eu dormiria se fossemos para uma hospedaria? Com a única mulher estranha e muda do grupo? Com seu irmão? Ou com... Thor?

Nada lhes impediria de dormir juntos pela primeira vez naquela noite, estavam fora do castelo, sem a supervisão de ninguém. Havia apenas Elliot, mas Mia sinceramente não se importava com a opinião dele, todavia, aquela hipótese de dormir com Thor lhe fez hesitar por não saber ao certo se deveria ou não estar pensando no assunto. Thor por muitas vezes era um cavalheiro. Por via das dúvidas, para evitar qualquer constrangimento, ficar ao ar livre lhe pareceu uma opção agradável.

Acenderam a fogueira e arrumaram o humilde acampamento, com sacos de dormir.

– Eu farei a guarda da noite. – Lucky avisou.

– Poderei fazer a segunda guarda. – Thor se ofereceu.

– Não é necessário.

– Claro que é. Precisamos de todos em forma amanhã. – Mia se intrometeu.

– Ari e Louis podem fazer... – eles olharam os dois que já haviam dormido há um bom tempo.

– Acho que eles estão um pouco ocupados – Thor caçoou, enquanto arrumava uma flecha quebrada.

– Se você insiste tanto, cachos dourados, quando a bebida me deixar com sono lhe chamarei.

Thor aquiesceu com um sinal ignorando o apelido trocista.

– Onde você irá dormir? – Elliot perguntou a irmã. Ela arqueou as sobrancelhas.

– No meu quarto particular logo depois destas árvores.

– Eu estou falando sério, Mia.

– Elliot estamos numa clareira, do que importa onde eu vou dormir? – Elliot lançou um rápido olhar para Thor ao fundo atrás da fogueira e em seguida a fitou.

– Então você pode dormir ao meu lado, trouxe uma manta e de madrugada a temperatura cairá. Vamos dormir?

Mia revirou os olhos, mas assentiu. Aproximou-se de Thor e lhe deu boa noite, se despediram apenas com um sorriso e um toque de mão, em seguida Mia foi deitar-se com o irmão ao canto debaixo de sua manta e Thor a observou, com ternura.

– É assim que vocês se despedem um do outro? – A pergunta de Lucky veio com um tom zombeteiro. – Não parece o mesmo que vi em Helsker. Sedento por carne.

Thor abaixou o olhar e suspirou.

– Não sou mais o mesmo, Berbatov.

– Claro que não é. Na realeza vocês agem diferente. Comem quietos.

Thor o fitou.

– Nunca conheceu alguém por quem quisesse mudar seu modo de ser?

Berbatov virou seu odre de vinho na boca.

– Não, vivo no mundo real onde contos de fadas não existem. Aqui pessoas traem as outras... Isso parece ser uma desculpa para não ter fodido com ela.

– Não acho que isso lhe diz respeito. Mas entenderá o que digo o dia que conhecer essa pessoa que não precisará foder para provar seus sentimentos.

Então Thor foi dormir.

II

Ao abrir os olhos, Mia notou se encontrar numa sala clara, olhou em volta e não havia nada ali além de uma garotinha no fundo perto de uma parede, era o mesmo sonho novamente. A garota mantinha os olhos fixos na parede. Mia engoliu seco e se aproximou. Ao alcançá-la colocou uma mão sobre seu ombro e a menina lhe revelou o rosto, era Mia, quando criança. De repente, o lugar sem vida transformou-se de forma repentina, como numa viagem no espaço, para seu quarto. No entanto, ele estava diferente.

"Mia" seu nome foi chamado, ela olhou por cima do ombro e avistou uma criança, de os fios finos e claros, encarando a menina e essa criança era Thor.

– Mia, você está bem? – ele perguntou a garotinha, que continuava com o olhar fixo na parede. Ele se aproximou, um pouco amedrontado.

– Mia, por favor, me responda.

Ela murmurou algo e ele pediu para que repetisse. A porta do quarto foi aberta bruscamente e Edvard invadiu o quarto, carregava uma aparência juvenil e sadia.

– Papai, nos ajude, ela não está se mexendo! Ela está aí há muito tempo!

Atrás de Edvard, surgiu a rainha Adelaide com cabelos de cores mais vivas e uma pele mais lisa, ela correu até a garotinha e tomou a criança nos braços.

– Mia, está tudo bem. Está tudo bem minha querida, abra as mãos.

Mia direcionou seu olhar para as mãos da garotinha, que estavam cerradas num punho, quando a menina o fez, revelou feridas na palma das mãos.

O pai de Thor lhe tirou da sala nos braços dizendo que ela ficaria bem, Thor não conseguiu arrancar os olhos aterrorizados da menina. Rainha Adelaide gritou para chamar o rei Erwin. Subitamente, Mia sentiu uma ardência nas mãos e ao olhá-las, viu as feridas se formando em suas palmas até sangrarem. Mia soltou um gemido assustada e cambaleou para trás até bater na parede, olhou horrorizada para a criança e ela sussurrou:

– Vingança.

Mia despertou, arfante, sufocando um grito.

Ela procurou o calor de seu irmão e o viu virado para o lado oposto, com toda a manta somente para ele. Um vulto surgiu ao lado dela e antes que Mia fosse surpreendida, viu Thor agachar-se ao seu lado.

– Mia, você está bem? – as palavras idênticas ao sonho lhe chocou.

Mia atirou seus olhos para as mãos e tranquilizou-se ao não ver sangue, somente salpicados de terra.

– Eu... eu tive um pesadelo.

– Você já está acordada, se acalme – ele segurou suas mãos para que Mia parasse de encará-las. – Já passou, Mia.

Ele sugeriu que ela voltasse a dormir, mas ela não quis, não conseguiria. Então, a convidou para fazer-lhe companhia. Todos dormiam enquanto a fogueira ainda carbonizava a madeira. Mia viu Berbatov, mal-ajeitado sobre uma raiz de árvore, com a cabeça tombada e completamente desacordado. Aos seus pés, de um lado um odre vazio, do outro a sua espada fora da bainha. Mia se perguntou como alguém conseguia beber até o ponto de não se manter mais em pé? Pensou que talvez ter escolhido ele ali foi uma das piores escolhas que fizera. Se Lucky Berbatov nem ao menos tinha controle sobre a bebida, como poderia ter com alguma outra coisa?

De cara feia, ela se afastou de Thor e seguiu até o boêmio, e tirou-lhe a espada, pensando que ele poderia fazer um estrago com aquilo por uma idiotice de bêbado. Mia notou que Thor era indiferente com Lucky, não lhe depositava confiança, mas também não parecia se irritar com suas piadinhas, nem com aquelas atitudes desajuizadas. Vê-lo naquele estado apenas fazia Mia crer que ele atrairia problemas que os afastaria.

Seguiu para perto do príncipe e sentou-se perto da fogueira, esperando proteção dos ventos súbitos e congelantes do meio da negra floresta. Mia encarou as cores densas das labaredas pintadas no vermelho ao laranja, do amarelo ao azul na escuridão.

Sentiu um peso sobre os ombros e viu Thor pousar uma manta neles. Sorrio, deixou a espada de Lucky no chão e se enrolou no pano de lã. Thor sentou-se ao seu lado. O único barulho da noite eram as respirações altas dos dorminhocos e da fogueira.

– Não quer a manta?

– Pode ficar.

– Nem podemos considerar isso um começo, e eu já me arrependo de tê-lo convocado para esta viagem – não deixou de resmungar.

Thor fitou Lucky através das chamas.

– Ele já havia dormido quando acordei – Thor revelou com um tom de humor.

– Como você parece ser sempre tão calmo com as atitudes dele? Posso não ser alguém perfeitamente responsável, mas os atos estouvados me tiram do sério.

– Ele se esconde atrás do humor negro. – Respondeu com certa indiferença.

– Berbatov sabe lutar Mia, não confio nele e não acho que ele nos ajudaria caso precisássemos por livre e espontânea vontade. Mas se trata de um mercenário e está sendo pago por seu serviço.

– Você tem treinamentos militares, estudou estratégia a metade de sua vida. Temos uma bruxa. Elliot sabe lutar. Eu atiro flechas. Não precisamos de um homem arrogante que é movido por dinheiro. Ele só está aqui por acreditar que tenho respostas sobre este colar que carrego no pescoço. No entanto, se ele souber da verdade se voltará contra nós. Podemos continuar sem ele.

– Não quero lhe tratar por ingênua Mia, mas você não conhece este mundo. O mundo além dos muros do castelo não é um lugar piedoso. Não é um lugar onde se há misericórdia. E eu só soube disso quando eu saí de meu castelo e viajei por Reynes. Por este motivo, prefiro ter ele e seus amigos por perto, homens que saibam lutar. E lhe protegerão enquanto tiverem dinheiro.

– Às vezes você me faz acreditar que é uma versão musculosa da minha mãe, Thor. Não sou uma flor delicada a qual todos precisam proteger.

Ele sorriu, sua mão subiu até a cabeça dela e ele bagunçou seu cabelo.

– Claro que não. Você nunca conseguira ser uma flor delicada. É uma selvagem.

Ela deu um soco no seu braço, tentando conter a risada para que ninguém lhes ouvisse.

– Posso ser mais dura que você pensa.

– Eu não tenho dúvidas. E a prova mais concreta disso é você está aqui – ele retorquiu olhando nos olhos dela.

– Sei que posso parecer um chato protetor às vezes. Sei que você preza sua liberdade. Eu nunca irei tirá-la de maneira alguma de você isso. Ao contrário, quanto mais eu posso lhe ver feliz por tê-la, de alguma forma eu também me sinto feliz. Entretanto, lhe vejo agora sendo durona mesmo depois de traumas de famílias e mentiras que todos lhe contaram, mesmo eu. Mas, ao mesmo tempo eu vejo a garota que não conhece a vida real aqui fora e isso me preocupa, porque eu já fui assim e fui quebrado quando vi meu amigo ser assassinado a sangue frio diante de meus olhos. Você viu como seu irmão sofreu quando um contato com o mundo real lhe fez se apaixonar cegamente por uma garota que lhe prometeu tudo, e lhe traiu friamente tentando tirar-lhes a vida. Então me desculpe por ser este idiota protetor, mas eu não quero deixá-la se machucar outra vez.

A intensidade junto do azul que o olhar do príncipe carregava colocava Mia num dilema. Tinha vontade de devorá-los apenas com os olhos por demasiada beleza. Mas os olhos de Thor também pareciam ver através dela, como um cristal hialino. Ela hesitava, nunca deixou ninguém chegar tão perto quanto a cada dia ele parecia estar. Nunca quis ser protegida, por ninguém, e aquilo era seu troféu de independência interna de uma mulher numa sociedade ainda patriarcal. Mas então Mia via Thor, zelando por sua segurança e ao mesmo tempo querendo lhe dar o que sempre desejou, sua liberdade.

– Você se lembra qual foi a última vez que me viu, quando éramos crianças? – ela perguntou, fugindo daquele sentimento interno que ainda lhe assustava. Thor tombou suavemente a cabeça, talvez tentando entender o motivo da pergunta.

– Porque eu simplesmente não me lembro. Uma hora você estava lá e na outra, você simplesmente havia desaparecido. Nada na minha cabeça marca sua partida. Como muitas coisas na minha vida que parecem ser súbitas e sem sentindo...

– Estávamos brincando no coreto...pai surgiu de repente e me disse que eu devia me despedir de você, teríamos que voltar para Wanderwell mais cedo... Ele como de costume, estava estressado. E sempre quando ele estava daquela maneira, eu sabia que não devia desafiá-lo porque sabia o que vinha depois. Contudo, sentia que algo estava errado e não queria partir. Foi então que insisti para ficar diante de você e você também insistiu... Claro que não fora o suficiente, meu pai evitou me estapear, pois estávamos na sua frente, mas agarrou meu braço na tentativa de prender o sangue até me fazer andar por vontade própria. E assim nós fomos. Desde então apesar de eu perguntar, foi em vão, nunca mais voltamos a Skyblower.

Mia lembrou-se de seu sonho.

– Brincaram com minhas lembranças. Toda minha vida eu apenas sentia um vazio no peito, mas na verdade nunca soube o que era...

– O que importa agora é que estamos juntos novamente Mia. O passado é o passado.

Mia ouvia o barulho das corujas vagando pela imensidão negra.

– Eu não sei Thor – sua voz falha. – Eu não sei o porquê, mas estou com um medo tão grande de lhe perder novamente. Me afastarem de você outra vez.

– Ei, olhe para mim – ela tentou não olhar por medo de chorar. Ele virou seu rosto para o dele.

– Eu estou aqui, Mia. E sempre estarei, não importa as consequências.

Mia deu um meio sorriso. Ele lhe envolveu em seus braços, encostou seus lábios na sua testa e Mia beijou os lábios dele em seguida, com desejo. Depois deitou a cabeça no seu ombro enquanto Thor acariciava seus cabelos até ela pegar num sono novamente.

III

– Mia... Mia acorde! – Ouviu a voz de Thor chamando.

– Já? – Respondeu cansada. Abriu os olhos, ainda sonolentos, incomodados pela luz do dia. Achou que acordaria com uma péssima dor nas costas, mas dormira nos braços de Thor noite passada. Quando finalmente esfregou os olhos e despertou, Mia viu o aço de uma espada sendo apontada para ela. Deu um pulo, pelo susto, e se endireitou no chão, olhou para quem lhe empunhava, e por segundos esperava ver Berbatov, mas se deparou com um desconhecido cavaleiro, pálido e com grandes costeletas vermelhas cobrindo o rosto oval.

– Deveriam saber que essas terras são proibidas para forasteiros – disse o homem de armadura, na placa e no escuro, uma flor desenhada como brasão, a flor de amarílis. Os olhos de Mia correram em volta, viu três homens precisando segurar Lucky, quatro Ari, e todos sendo aprisionados.

– Por ordem da princesa de Amarílis, vocês estão presos. Agora levante-se!

Ela sentiu um frio na espinha ao ver o aço apontado para ela, a única vez que tinha sido ameaçada por uma espada foi por Berbatov. Mia jogou as mãos para trás em busca de um apoio para se levantar e a mão esquerda encontrou o cabo de couro da espada que ela havia roubado na noite anterior.

– Ande logo sua vadia!

Vadia?

O homem então, mergulhou na sua direção. Sobressaltada, Mia levantou a espada para se proteger, atirando-se em cheio ao rosto do cavaleiro. Ele surpreendeu-se com o golpe não proposital e uma pequena ferida abriu na bochecha. Ele lhe atacou de volta. Mia defendeu o primeiro golpe por puro reflexo, ouviu ao fundo Thor gritar seu nome, a adrenalina do medo foi embora, o cavaleiro rebateu a espada de Lucky para longe e apontou a dele para o pescoço da princesa.

– Você me pagará por isso sua puta – ele rugiu.

Alguém arrancou ela do chão, rudemente. A mão contornou seus dois braços e no segundo seguinte, foi levada arrastada, mas do lado contrário que os outros estavam, o bruto a levou na direção na direção da mata.

– Lhe ensinarei uma lição!

– Não se atreva a tocar nela! – Thor bradou mais alto que ele. – Do contrário, você perderá a cabeça por ordens diretas da princesa Stephania!

– E você seria?

– Thor Meszaros, primogênito do rei e senhor do Leste.

O homem de costeletas vermelhas soltou Mia, com um ar não convencido atrás de uma face deformada pelo corte. Ele se aproximou de Thor, fazendo barulho suficiente com sua armadura sobre a terra.

– Está querendo me convencer de você é aquele garoto de Wanderwell? – Thor não lhe respondeu, apenas manteve seu olhar frio. – Quer me fazer acreditar que o príncipe primogênito de Wanderwell estaria acampando com uma vadia de primeira classe, uma mestiça e um bando de beberrões?

– Atreva-se a chamá-la de vadia mais uma vez ou encostar outro dedo nela e veremos qual será seu fim ao retornar ao seu castelo, cavaleiro. – O homem trincou o maxilar. – Estaria pronto para arriscar?

Os segundos de silêncio foram preenchidos por olhares corrosivos dos homens uns para os outros.

Mia encarou Emily, incrédula. Como ela podia ter deixado aquela situação acontecer e não mexer nem ao menos um dedo?

– Amarrem a garota – então o ruivo declarou apontando para ela. – Levaremos eles ao castelo e deixaremos a princesa declarar sua punição. Você se entenderá com ela, príncipe – ele decidiu num tom ironizando o título.

Caminharam até o reino de Amarílis, como prisioneiros, todos com grilhões nas mãos, separados por duas filas com guardas na frente e atrás. Se alguma vez Mia havia se sentindo como uma prisioneira, não se comparava nem com a metade daquilo. E para o seu azar, Berbatov foi colocado do seu lado, sem mordaça.

– Eu poderia saber por que diabos a minha espada não estava comigo?!

– Eu não sei, talvez você tenha roncado demais e ela veio dormir comigo.

– Ah, agora virou humorista?! – perguntou, irritado.

– Calem a boca, seus vermes! – impôs o cavaleiro.

– Talvez porque você tenha se acabado na bebida ontem à noite e por isso não ouviu a aproximação de ninguém durante a alvorada! Porque estava desmaiado! Mas que tal direcionarmos nossas perguntas para nossa querida Emily? A qual é uma bruxa e simplesmente não fez nada para impedir aquela humilhação.

Ela estava posta como a primeira da fila ao lado de Thor.

– Eu não posso ficar usando magia assim! Eles são humanos normais cumprindo ordens. A nossa intenção é não chamar atenção!

– Você não precisava matá-los, apenas dar um susto ou qualquer coisa assim. Ele estava me levando para o mato!

– Vocês podem ficar calmas? É o reino de Amarílis – lembrou Thor olhando o brasão da armadura do cavalheiro montado no cavalo.

– E o que há demais nisso? – perguntou Mia, fazendo pouco-caso.

– E eu conheço a princesa.

IV

Sem mais cerimônias, o grupo inteiro foi guiado pelo mesmo cavaleiro que Mia feriu, até a sala do trono. Ele era o chefe da Guarda Real do castelo tal como Sor Hubert Kaufmann era em Skyblower. O frio alcançou os ossos de cada um ao adentrar aquele salão, que se fundia nas tonalidades escuras de um mármore marrom imperial, e causava o frio. O que dava vida ao salão eram os grossos tecidos das cortinas e dos tapetes num rubro vivido. Haviam três tronos ao fundo do salão, podiam ser grandes, contudo pareciam-se diminuídos com a imensa pintura localizada atrás deles. A flor de Amarílis.

Com a aproximação, Mia pôde ver que o trono principal estava ocupado por uma jovem com a cabeça apoiada pelo braço, com o ar de desgosto pela vida.

– Façam reverência e não se atrevam a olhar para ela até que ela lhes dirija a palavra.

– Ela não pode saber quem é – na primeira oportunidade, Thor sussurrou discretamente ao ouvido dela. Como subentendido, Thor queria que a princesa se curvasse para a outra, como as ordens prosseguiam.

– Curvem-se diante a princesa de Amarílis – o arauto que lhe fazia companhia exigiu.

O peito de Mia queimou, nem no seu reino exigia que alguém reverenciasse de joelhos! E então, foi obrigada a se ajoelhar para uma garota de um reino qualquer.

– Minha princesa, encontrei mais forasteiros em volta da fronteira de nosso reino. – Ela se endireitou na cadeira e mesmo de longe, seus olhos colaram em Thor.

– Eu não creio – disse pausadamente. Ela se levantou trono. – Belisque-me se estiver sonhando, príncipe Meszaros.

– Princesa Stephania – ele disse com um tom gentil. – Me trouxeram amarrado! – Thor ergueu as mãos mostrando os grilhões.

Ela abriu um sorriso totalmente iluminada. Mia pensou que ela lembrava uma versão mais jovem da rainha Adelaide. A princesa tinha cabelos claros e loiros presos com uma tiara, olhos azuis como os de Thor, tinha o tamanho de Mia, mas usava saltos altos. A princesa Stephania ignorou todos presentes, como se houvessem apenas os dois, ela desceu as pequenas escadas que levavam ao trono e se jogou nos braços de Thor.

Mia arregalou os olhos.

V

– Novamente apresento minhas desculpas pela rude maneira como foram tratados por meus guardas. Eles apenas seguiam ordens de meu pai. Desde os ataques nos feudos vizinhos, um receio nos apreendeu. Sobretudo por ser uma garota sozinha aqui desde que eles partiram numa viagem de negócios.

A princesa levou seus novos convidados até o escritório de seu pai para tomar um chá. Aquele era seu pedido de desculpas. Nem mesmo mil taças compensariam o fato de que Mia quase tinha sido levada para o mato para aprender uma lição, ela estava furiosa.

– Eu não sei se você ouviu os boatos de homens que invadem castelos e roubam todas as riquezas?

– Talvez eu tenha ouvido falar – Thor respondeu, limpando a garganta.

– Acredite, aqui seria um alvo – disse Berbatov olhando para os detalhes da sala. – Quero dizer, um reino pequeno, muita riqueza, atrairia ladrões com certeza.

Mia revirou seu olhar com pouca paciência e em seguida olhou para Thor. Vieram para lá como prisioneiros, foram soltos e agora tomavam chá com a princesa enquanto ela retratava o medo dos ladrões de reinos que por acaso estavam na sua frente. Para Mia tudo parecia uma amarga ironia.

– Eu sei disso, por isso estou aflita. Há apenas eu e meus servos por aqui, e por este motivo concordei com as ordens de meus pais e sempre desejo ver os forasteiros.

– Para lhes colocar medo – disse ela, com um sorriso de desgosto. – E na possibilidade de serem apenas viajantes, você não pensou?

– Eu sei o que vocês devem estar pensando. É apenas uma formalidade para que eu conheça as pessoas estranhas do reino. Depois de uma conversa são liberadas. Perdoe-me como você se chama?

– Meu nome é Mia.

– Bonito nome senhorita Mia – ela elogiou, parecendo não ser sincera.

– Sinceramente acredito que você deva educar seus homens então, para que eles saibam tratar viajantes. Eles agem em seu nome.

– Não se preocupe senhorita Mia, eu conversarei com eles. Mas, diga-me Thor, como vão as coisas com você? Por que não está em... Skyblower?

– Como você sabia que eu estava em Skyblower, princesa Stephania?

– Tive uma recente conversa com a rainha de Wanderwell. Trocamos cartas. Ela me disse que você estava visitando o reino do Norte, onde há aquela princesa que dizem ser maluca, a propósito, ela é sua amiga?

Mia ouviu a risada de Lucky no fundo. Ela rangeu os dentes.

– Sim, eu a conheço. Mas você tem tido contado com minha mãe?

– Sim, eu sinto falta dela – Stephania esticou sua mão por cima de mesa e a colocou sobre a de Thor. – Como de você. Estou feliz por vê-lo novamente Thor, já fazia tanto tempo – ele olhou para sua mão e depois sorriu sem graça, a recolhendo.

A cena foi interrompida quando nos fundos, livros foram atirados ao chão. Todos olharam para trás e viram Elliot, tentando segurar alguns deles em cima do balcão. Mesmo que aquela ação tivesse chamado a atenção de todos na sala, ele ainda tinha sua visão fixada no quadro da parede, boquiaberto, ele o encarava pasmo. A tal princesa que se insinuava para Thor, se levantou e foi ajudá-lo. Ele colocou as coisas de volta no lugar, mas continuou encarando o quadro.

– Ela é linda, não? Sua beleza é totalmente exótica. – Stephania comentou.

Mia se levantou da cadeira sem ao menos olhar para Thor e juntou-se a eles, para olhar o que deixou Elliot tão impressionado. Na tela viu a princesa sentada numa cadeira dando um leve sorriso para o artista, junto de quem ela imaginava ser os reis atrás. No entanto, no fundo da tela havia uma garota segurando uma cesta vime de flores. Seus cabelos de fogo não negavam.

– Ela se chamava Rebecca. Rebecca Sander.

– E... ela vive aqui? – Elliot tinha a voz presa.

– Vivia... Rebecca era minha aia. Minha confidente, amiga até mesmo irmã.

– E o que aconteceu com ela? – murmurou ele.

– Eu não sei. Rebecca era misteriosa e tinha seus segredos, há quase um ano ela disse que iria cumprir a missão de sua vida. Nunca me contou o que era, mas eu tive de deixá-la partir. Desde então, eu nunca mais a vi.

– Não tem mais notícias dela? – perguntou Elliot.

Mia fechou os olhos, tentando entender porque seu irmão se torturava de tal forma.

– A última carta fora há meses – disse, cabisbaixa. – Ela disse que estava no caminho certo para conseguir o que queria, era apenas questão de tempo. Disse que o único problema era que havia se apaixonado – Stephania sorriu. – Eu sinceramente não vi um problema nisso, afinal no tempo em que morou aqui Rebecca nunca olhou para ninguém.

– Esse foi nosso último contato, mandei várias e várias cartas para ela, mas ela nunca mais voltou a me responder. Temo que tenha acontecido o pior, apenas por ser quem eu sou, nunca poderei procurá-la. Eu como uma amiga tola e esperançosa, darei uma festa hoje, em celebração ao seu aniversário. Estive muito sozinha desde sua partida. Adoraria convidá-los para o baile de hoje à noite.

– Não, obrigada – disse Emily, revelando que ela tinha uma língua.

– O quê? Por que não podemos aceitar? É apenas uma noite – Elliot insistiu.

– Estaremos mais um dia longe do nosso objetivo – Berbatov advertiu.

– Eu acho que não há problema em perdemos uma noite em um baile pela amiga da princesa. Será apenas uma noite – Mia respondeu, tentando sorrir para seu irmão que pareceu grato de ter apoio.

Se Mia pudesse, sairia correndo daquele castelo, não queria continuar ali nem mais um minuto, contudo, sentia que devia isso ao irmão, esperando que daquela forma, ele pudesse enfim dizer adeus quem o machucou.

VI

Mia observava a completa desconhecida rondando-a de um lado para o outro. Estendeu seu braço, apertou sua cintura, lhe virou de um lado ao outro com uma fita métrica. A garota que cercava Mia deveria ser mais jovem do que ela, raquítica e pálida, mas seus cabelos castanhos escuros destacavam sua pele. Contudo, mesmo com sua aparência juvenil, ela parecia ter bastante prática por fazer seu trabalho rápido demais.

A mando daquela princesa de Amarílis, Mia e Emily foram separadas dos outros. Stephania, alegre, pediu para suas servas tirarem as medidas delas para fazer os novos vestidos do baile.

Mia encarava seu reflexo no espelho, mas somente seu corpo parecia estar ali. Tinha seus pensamentos focados em Rebecca, se ela pertencia a este reino, era melhor amiga da princesa Stephania. O que motivou Rebecca ir para Skyblower e querer assassinar Mia?

Ela olhou para Emily do outro lado da sala, fazendo o mesmo que ela fazia.

Após tirarem as medidas necessárias, as servas serviram nosso almoço, e somente quando Mia sentiu o cheiro da comida, lembrou de estar com quase um buraco na barriga de fome. O cardápio era sopa de legumes, cordeiro assado, pães e doce de abóbora, sobremesa que Mia mais detestava.

Então, elas se foram deixando as duas almoçarem.

Emily somente começou a comer após a princesa do Norte tocar na comida.

– O que fez meu pai confiar em você? – perguntou Mia. Emily ergueu seus olhos esverdeados até ela, sem expressões.

– Lembro-me de ter dito que eu era prima do conde Butler a você.

– Esse foi seu passe livre? Aspen Butler disse ao rei que você era a prima dele e então, você foi contratada.

– Está desejando chegar em algum ponto especifico, Amélia?

– Apenas gostaria de lhe conhecer mais Emily – respondeu com cinismo. – Puder notar que você nos observa muito, mas fala muito pouco.

– Talvez porque eu não precise falar.

– Eu imagino como você deva se sentir – Mia comentou apenas brincando com a comida no prato. – Aquela conversa no escritório, sobre Rebecca. Eu vi como você ficou perturbada. Imagino que não deva ser fácil matar alguém. Menos ainda ouvir as pessoas a sua volta lembrarem dela – Emily desviou o olhar e esfregou o nariz, não era essa expressão que Mia esperava e isso lhe causou um desconforto.

– Porque você matou Rebecca, não é mesmo? – ela manteve o silêncio. – Emily.

– Parcialmente.

– Como assim parcialmente?! Emily o que aconteceu quando eu desmaiei?

Ela colocou os cotovelos sobre a mesa e passou a mão nos olhos.

– Eu era do clã das bruxas, Mia... Para ficar ao seu lado, eu os abandonei, contudo ainda sou uma principiante. Havia algo diferente na magia de Rebecca, eu nunca havia me deparado com uma magia daquele tipo e eu não soube classificá-la.

– Agora você poderia, por favor, traduzir para que eu entenda?

Ela suspirou.

– Rebecca não era uma bruxa, ela era uma feiticeira. As pessoas que possuem magia elas têm como obrigação cuidar do equilíbrio da natureza, mas claramente não são todas que fazem isso. Eu ainda não havia visto magia como a dela... Rebecca não pertencia ao clã das bruxas, Mia. E por algum motivo além de ser uma feiticeira, ela mexia com magia negra. Ela ganharia a batalha se eu utilizasse forças para matá-la, para não correr riscos, eu a prendi. Rebecca não está nem no mundo dos vivos, nem no mundo dos mortos. Selei sua alma com a adaga que deixei na casa.

Mia lembrou-se da adaga presa a coifa.

– Fora por isso que não havia corpo... então qualquer pessoa pode entrar ali e libertá-la?

– Não! Graças a própria magia dela não! Aquela casa não existe ao olho nu. Por ter cruzado com você e conhecido sua energia, eu fui capaz de senti-la mesmo sem ver a casa onde você estava. Por isso, eu pude atravessar a barreira que ela tinha feito. Apenas você e Elliot conseguiam ver aquele lugar. Somente vocês dois podem voltar lá.

Mia arregalou os olhos, essa era a última coisa que esperava descobrir, afinal Rebecca estava viva. Ela saiu da mesa e andou pelo quarto.

– Eu apenas lhe imploro Emily, Elliot nunca, exatamente nunca, poderá saber que há uma chance de salvá-la. Não sei se ele seria capaz ou não de fazer alguma loucura, mas Rebecca foi o seu primeiro amor, este assunto ainda lhe é frágil.

Emily assentiu. A conversa terminou quando as criadas voltaram com camadas de tecido. Minutos mais tarde, Mia pediu um tempo para respirar, sentiu-se sufocada. Saiu do quarto e seguiu até a balaustrada de pedra no corredor, inspirando e expirando fundo o ar frio do castelo.

Desfrutou de seu momento de silêncio para observar o primeiro andar, alguns servos organizavam a decoração do baile. Parada ali, Mia tinha visão para os quatro andares inferiores de um castelo quase vazio. Se Mia sentia sozinha vivendo em Skyblower, não imaginava ali. Deduziu que aquele deveria ser o castelo no qual Thor teve uma longa estadia após deixar temporariamente Wanderwell, também deveria ter sido ali que Thor conhecera seu falecido melhor amigo, Dimitri. Estaria ele bem com o retorno?

Mia ouviu risadas. Ao reconhecer uma delas, seguiu de volta para o minúsculo corredor que levaria para o quarto que estava com Emily.

– Eu não brinco ao dizer que pai me trocaria por você sem hesitar – Stephania disse. –Ele gosta e lhe admira muito Thor, assim como minha mãe.

– Sim, eles sempre me trataram muito bem.

– Bom, agora permitirei que você se arrume..., Mas honestamente príncipe, a coisa que mais precisava era vê-lo novamente. Tenho me sentido muito sozinha aqui.

– Também é um prazer revê-la princesa Stephania – ela cortou a distância entre os dois com um abraço. Thor se surpreendeu com a atitude, mas não lhe afastou.

– Devo de me preparar. Lhe verei no baile, Thor – ela sorriu e retornou a caminhada que fizera, Thor a acompanhou com o olhar, até ela se afastar. Foi quando ele desviou rapidamente para a direção de Mia, ela se escondeu, mas Thor já sabia que ela estava ali.

Mia tentou entrar no quarto, e para sua sorte, a porta estava emperrada.

– Maldito castelo! – ela rosnou.

– Mia?

– Thor! – Ela virou-se num salto para sua direção. – Tudo bem? – Disse, tentando parecer espontânea.

– Sim... E com você? – Ele viu as mãos dela entrelaçadas na maçaneta.

– Eu estava vendo como funcionava esta maçaneta... ela está um pouco emperrada, talvez precise de óleo – ele arqueou as sobrancelhas. – O que há? Uma garota não pode tentar arrumar uma porta?

Ele soltou um riso.

– Eu poderia falar com você?

– Tem que ser comigo? Eu estou um pouco ocupada no momento.

– Acredite essa maçaneta não sairá daí lhe garanto.

– Por acaso está caçoando de mim?

– Eu? Longe de mim fazer isso. Podemos conversar até aqui em frente para vigiá-la.

Mia umedeceu os lábios e puxou o ar.

– Está bem, fale.

Ela cruzou os braços. Thor tocou na sua cintura e a levou até a balaustrada.

– Você está bem? – perguntou ele.

– Se eu estou bem? Ótima, melhor impossível. Por que a pergunta?

– Não sei, você tem estado estranha nessas últimas horas.

– Eu, estranha? Não estou estranha, por que estaria estranha?

– Talvez porque esteja repetindo ao menos duas vezes cada coisa que fala. Mia estou tentando ser sério, se você não me dizer o que há de errado, eu não poderei adivinhar.

– Apenas odiei este lugar. E odiei mais ainda esta sua amiga princesa.

– Ela gostou de você, disse-me que lhe achou bonita.

– Isso não me faz gostar mais dela. Fiquei aqui por Elliot. Não estava na minha lista dos dez desejos sobre o que fazer hoje!

–Você tem uma lista dos dez desejos?

Ela revirou o rosto, impaciente.

– Talvez você se desse bem com a Stephania, apenas precisam se conhecer melhor.

– Talvez teríamos tempo para isso se ela tentasse lhe cortejar menos.

– Ela não está me cortejando.

– Então ou você é um idiota ou você é um cego! Isso qualquer um vê!

– Está com ciúmes Mia? – ele perguntou com um sorriso de troça.

– Ciúmes? De quem? Você e ela? Você é livre e desimpedido. Faça o que quiser.

Ela tentou ir para o quarto quando Thor segurou seu braço.

– Mia...

– O que aconteceu ontem, não foi nada – pronunciou ela, evitando contato visual.

– Do que você está falando?

– Estou falando que não somos namorados! Somos amigos! Nada mais Thor. Agora eu preciso me arrumar para o baile da princesa.

Ela desvencilhou-se dele. Mas Thor a puxou de volta, mas dessa vez lhe beijou. Um beijo quente e com desejo. Mia sentiu seu corpo ser encostado numa coluna e Thor sugou seus lábios docemente. Por ela usar um tecido tão fino para tirar as medidas, Mia sentiu as grandes mãos de Thor correrem por seu corpo, de sua cintura desceram para sua coxa e apertou-lhe. Sentiu que devia resistir, mas não conseguiu. Mas antes que as coisas ficassem mais carnais, Thor se afastou mordendo levemente seus lábios.

– Você tem razão. Somos bons amigos – disse ele sorrindo, acariciando seu rosto. Mia ruborizou não falou mais nada. Baixou a guarda e soltou um sorriso.

VII

Quando o baile se iniciou, Mia se sentiu incrivelmente mais à vontade que em qualquer outro baile que já fora. Era mesmo estranho não receber os olhares de todas as pessoas, mas era um alivio não precisar sempre cumprimentar todos e estar bem sorridente, mesmo nas conversas mais triviais, felizmente Mia era uma convidada desconhecida naquela noite.

As costureiras particulares da anfitriã fizeram um vestido rubro e dourado para ela. Para Emily um vestido preto, verde escuro e pequenos detalhes cor de ouro. Quando desceram para o salão encontraram Louis e Ari. Mia não evitou sorrir ao vê-los arrumadinhos, estavam ambos com cabelos penteados e trajes formais.

– Onde está meu irmão? – perguntou Mia, por não o avistar.

– Ao lado do homem mais atraente deste lugar – a voz de Berbatov respondeu, atrás dela.

– E quem lhe dera este título? Sua mãe? – Mia provocou.

– Para seu governo, não tenho mãe, princesinha. Ela morreu antes de você nascer – Lucky rebateu, sem remorso, e virou o cálice de vinho na boca. Pareceu divertir-se ao ver Mia arrependida pelo comentário. – Maldito sejam esses bailes reais, apenas servem vinhos e hidromel!

Ari e Louis retiram-se "discretamente" para atacar a mesa de banquete logo quando Thor surgiu. Iniciaram o assunto dos seguintes planos para a viagem de Wanderwell. Quando o arauto anunciou a entrada da princesa.

– Senhoras E senhores, princesa e futura rainha de Amarílis. Stephania Marilicco.

Mia a observou, pensando como ela era bonita. Usava um vestido rodado e bege, cabelos presos numa trança, enfeitada com uma tiara. Ele desceu as escadas sorridente como se estivesse flutuando, com toda a delicadeza. Mia enxergou nela o tipo de princesa que deveria ter sido.

– Faria bem de acompanhá-la – todos na roda olharam para Mia. – Ela precisa de um parceiro, acompanhe-a, Thor. – Disse, gentilmente. – Lucky me acompanhará hoje à noite, não?

– Eu tenho escolha? – Berbatov perguntou.

– Não, não tem.

Thor sorriu, e foi buscar sua parceira, Mia o acompanhou com os olhos. Ele segurou sua mão e a levou para o centro do salão e começaram a dançar, em seguida, todos começaram a dançar.

Mia observou-os, não esperava que Berbatov fizesse alguma coisa, mas ele fez. Lucky tocou sua cintura e a levou para longe dos outros.

– Obrigada – sussurrou ela.

– Pelo quê?

– Por aceitar ser parceiro hoje à noite.

– Você me convidou, então acho que eu devo agradecer – ele abriu o braço se afastando, e girou Mia para perto dele. Ela suspirou, impressionada.

– Uau, gosta de dançar Berbatov?

– Sou cheio de surpresas Norwood.

Dançaram ao ritmo da balada, valsando pelo salão numa dança tradicional, em passos mais rápidos.

– Não sente ciúmes? – Lucky perguntou olhando ao fundo, Thor e Stephania dançando.

– Ela precisa de mais atenção que eu. – Respondeu, revirando seu olhar para Lucky.

– Assim você deixou seu príncipe encantado ficar a donzela?

– Onde você quer chegar Lucky?

– Eu? Eu não quero chegar em lugar algum – ele sorriu de forma maliciosa. – Eu apenas quero saber o que você está querendo provar. Confiança?

– Thor já tem a minha confiança.

– Não princesinha, não falo da sua confiança nele. Falo na sua própria confiança. Seu otimismo lhe faz acreditar que eles só dançarão e após a princesa deixará vocês partirem com um belo sorriso. Não a considera uma ameaça?

– Temos problemas maiores para se preocupar, Berbatov. Não será uma princesa carente que me ameaçará.

– Mas é aí onde mora o erro, Mia. Não duvidar de todos. Esperar sempre o lado bom das pessoas. Mas você ainda é jovem e terá muito de sofrer para aprender.

Ela arqueou as sobrancelhas, ofendida.

– Enquanto você toma-me por uma jovem tola por ser otimista e inocente pela falta de vivência, lhe tomo por um homem irresponsável e amargo, que sempre espera o pior de tudo e de todos Berbatov.

– Sou sete anos mais velho que você, princesa. Tenho mais experiência de vida, você deveria me respeitar – disse, com troça. – Os mais velhos são os mais sábios.

– Se nem mesmo você se dá o respeito bebendo até não aguentar mais o próprio peso do corpo e dormir num feno cercado de galinhas, como espera que eu lhe dê?

Lucky Berbatov sorriu, parecendo se divertir com o jogo de respostas afiadas que ambos gostavam de jogar.

Mia notou algo em particular.

– Como sabe minha idade? – questionou. – Eu nunca lhe disse quantos anos eu tinha.

– Talvez alguém tenha me dito – ele disse, sem cerimônia.

Ela encarou ele por longos segundos, desconfiada. Lucky parecia saber muito sobre ela, enquanto ela não sabia nada sobre ele.

– Você nunca pensou em voltar para o sudoeste? A sua casa? – perguntou, cautelosa.

– Por que voltaria? – Ele pareceu apertar sua cintura.

– Uma vez me disse que também foi adotado. Fala que desde sua adolescência não se fixou mais em nenhum lugar. Onde estão os seus pais Lucky?

– Eles não estão mais entre nós – respondeu, inexpressivo.

– Eu sinto muito – murmurou ela.

– Não sinta – ele retorquiu.

– Você tem irmãos ou irmãs?

– Isso é um interrogatório? – perguntou, em defensiva.

– Apenas gostaria de lhe conhecer. Viajaremos juntos agora.

– Você não precisa fazer isso Mia – ele falou direto ao ponto. – Será apenas uma viagem, você não irá confiar em mim e nem eu confiarei em você. Estou aqui pelo dinheiro e pelas minhas respostas sobre seu colar. Não para ser seu amiguinho. E não, eu não tenho irmãos.

Mia sentiu que suas palavras tinham como intuito de que ela parasse com o interrogatório. Mas, ela ainda estava atiçada com as respostas.

– Por que foi embora? O que aconteceu para você nunca mais voltar?

Ele se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido:

– Eu apenas não fui feito para ficar preso.

Ele se afastou lentamente, olhando em seus olhos.

Mia sentiu-se desconfortável com a cena, e para acabar com aquilo, arranjou um pretexto: – Irei pegar algo para beber, aceitaria?

Ele recusou, e eles pararam de valsar. Mia se afastou para a mesa de bebidas. Foi-lhe servido hidromel. Mia sentiu a aproximação de alguém e acreditou ser Lucky, se preparou para enfrentar mais uma conversa complicada, mas quando virou seus olhos encontrou a princesa.

– Mia, não é mesmo?

– A princesa decorou meu nome. Que honra – ironizou. – Thor está lhe acompanhando?

– Ele está conversando com meus pais que acabaram de chegar – Mia olhou para a direção que ela apontou e viu Thor conversando com as pessoas que estavam retratadas na pintura naquela manhã.

– Ele parece estar gostando da festa – Mia assentiu, fingindo escutar o que ela dizia.

– Como vocês se conheceram?

– Nós? Eu era a única mulher de seu exército e lhe acompanhei nesta viagem.

– Ah, então você deve lutar muito bem. Aposto que foi a autora do machucado do meu chefe da Guarda Real – Mia apenas confirmou com um som. – E você tem gostado da festa?

– Um ambiente agradável. Creio que sua amiga ficaria feliz.

– Eu também... E você nasceu em Wanderwell, Mia?

– Sim...

– Então você deve entender bem como funciona as coisas.

– Ao que se refere, princesa Stephania?

– Este não é o seu lugar, Mia.

– Perdão?

– Estou lhe dizendo que esse não é o seu lugar.

Mia soltou uma risada incrédula.

– A realeza?

– Ao lado de Thor – esclareceu Stephania, de forma direta e seca.

– E seria você neste posto?

– Príncipes e princesas devem ficar juntos, Mia. Devem ter herdeiros de sangue real.

Mia empurrou a língua na parte interna da bochecha, irritada.

– Tem um título de princesa que nem é ao menos reconhecido pelos maiores reinos. Acredita mesmo que pode achar-se melhor que outras pessoas?

– Nasci e cresci em berço real, Mia. Poderia ser a futura senhora de um feudo, é verdade, mas a com a riqueza que possuímos temos por direito nos declarar com sangue real, se possuímos toda essa riqueza foi porque os deuses quiseram dessa forma. Logo, eles querem que sejamos tão grandes quantos os outros. Não será uma história de hierarquia de qual reino foi ou não formado primeiro que fará com que eu perca titulo. Quanto a você, Mia? Em qual montanha nasceu? Mais perto ou mais distante do mar?

– Você não me conhece ...

– Não preciso. Somos mulheres Mia, e conhecemos de vista umas às outras, você deve saber bem como é isso.

– A única coisa que eu sei sobre você é que deixou a máscara de princesa abandonada e carente cair, revelou a megera que é. Devo entender isso como desespero?

Ela deixou um sorriso malicioso pairar nos lábios.

– Eu apenas estou lhe advertindo, Thor pertence a realeza, isso está em seu sangue, ele não será feliz com você, querida. Quanto antes você acabar com isso, doerá menos.

Princesa Stephania afastou-se com um belo sorriso, e a única coisa que Mia pensava era fazê-la engolir aquele cálice.

VIII

Mia tentava distrair sua raiva conversando com Elliot e Emily. Mia estava fervendo, não conseguia explicar o nojo que sentia daquela princesa arrogante que estava esmolando a piedade de todos, especialmente a de Thor. E para não explodir, Mia fixava os olhos no irmão, se concentrando na única razão por ainda estar naquele reino. Mas então lembrava que não estava mais sendo honesta com ele, desejava fortemente que nunca tivesse ouvido o que Emily dissera mais cedo.

Quando deixou os olhos raivosos correrem pelo salão, Mia avistou duas figuras escapando da festa. Stephania puxava Thor pela mão, para um corredor fora da agitação. As palavras de Berbatov correram por sua mente.

Seu otimismo lhe faz acreditar que eles só dançarão e após a princesa deixará vocês partirem com um belo sorriso.

– Por favor, me deem licença.

– Mia, está tudo bem? – Elliot perguntou.

– Apenas refrescarei rosto.

Ela entrou no tal corredor sem luz e de várias portas. Quais eram as chances descobrir qual eles adentraram? Ela caminhou devagar, olhando uma a uma, até avistar a quinta porta entreaberta. A voz de Stephania ressonou dali e Mia recuou no batente.

– Por que me trouxe aqui, Stephania?

– Haviam muitas pessoas lá, desejei ficar um pouco sozinha com você.

– É um baile, é o seu baile. Seus pais acabaram de chegar você deveria estar com eles.

– Meus pais me odeiam e você sabe disso Thor. Lamentam todos os dias por não ter dado à luz ao filho homem, eu nunca serei o suficiente – ela choramingou, cabisbaixa.

– Ei, isso não é verdade – ele se aproximou tocando-lhe no rosto –, seu pai apenas é um homem severo, mas tenho certeza que você saberá provar a ele que você será uma ótima rainha para seu reino.

Sem cerimonia, a princesa Stephania se inclinou e roubou um beijo dele.

Mia petrificou, pressentindo algo ruim no seu peito.

Thor em seguida se afastou.

– Stephania você é uma garota linda e educada, mas...

– Mas o seu coração pertence a outra – ela completou.

– Sim, eu me apaixonei de verdade por essa garota – ele continuou com uma das mãos unidas.

Mia, furiosa, invadiu a sala.

– Thor eu preciso falar com você. Será que atrapalho algo?

– Mia...

– Se eu disser que sim, você não irá embora de qualquer forma – Stephania colocou uma das mãos no rosto e suspirou, parecendo estar decepcionada.

– Thor iremos partir e será agora.

A princesa Stephania fitou Thor, que mantéu o silencio.

– Creio que vocês precisam conversar – anunciou a princesa e se retirou da sala.

– Mia, eu não sei desde onde você viu...

– O suficiente – rebateu ela, fria.

– Amélia eu não a beijei. – Ele disse, direto ao ponto. – Stephania apenas estava confusa.

– Não, ela não estava. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, esmolando sua piedade para que você tivesse dó dela. E você, caiu.

– Amélia eu não a beijei de volta – ele reafirmou com mais convicção.

– Agora pouco, Thor, Stephania me disse que esse não é lugar. E a cada minuto que estou aqui eu sinto isso. E o quanto isso soa ridículo em vista de que eu cresci sendo a princesa de Skyblower e nunca me senti à vontade? Mas você não, você parece tão bem habituado com tudo simpático, carismático... Feliz. E não se sabe como seria minha vida se eu não estivesse destinada a essa lenda ridícula – percebendo que fugia do principal assunto, Mia respirou e retomou:

Andrew Ripp- When You Fall In Love 

– Eu teria vindo aqui com um discurso completo para você ficar e não partir comigo.

– Você pirou de vez? Esqueça, sem chance alguma. Você acha mesmo que...

– Me ouça – ela balançou a cabeça em negação. – Mas eu percebi que isso não será o suficiente, porque eu não me importo, eu quero você ao meu lado Thor, eu preciso tê-lo atolado! Principalmente depois de ouvir sua confissão... – ele olhou no fundo dos olhos prestando atenção em cada palavra. – Porque eu também sinto que estou apaixonada por você, acho que sempre estive.

Os lábios dele se formaram um sorriso doce. Nem mesmo Mia acreditava no que dissera. Thor não disse mais nada e ela ruborizou.

Ele cortou a pequena distância que havia entre eles e a beijou. A mão fria que tocava no rosto dela desceu até sua cintura. Mia entrelaçou os braços no pescoço e ao mesmo degustou a boca do príncipe. Thor a levou até a parede e apertou o corpo contra dela, beijando seu pescoço. Se beijaram com mais intensidade, e suspirou involuntariamente quando ele apalpou seu seio. Os beijos desceram o comprimento do seu pescoço e pararam na altura de seu decote. O corpo de Mia esquentou, ao sentir os lábios num lugar onde ninguém tinha chegado, mas ela hesitou. Levantou a cabeça de Thor, e arfou.

– Deuses, como eu desejo ficar somente com você – ele lamentou.

– Em breve – disse ela, ainda ofegante. Tinha medo de onde aquilo poderia acabar.

Apesar daquele momento ser único, havia uma festa depois das paredes. Combinaram de ele sair primeiro e depois ela. Antes de partir, Thor lhe confessou que iria procurar Stephania, que ela merecia uma explicação. Mia detestou aquilo, mas concordou porque sabia que Thor era um homem que apreciava a honra. Desejou ser uma mosca para ouvir e ver as palavras finais de Thor para a princesa.

Quando Thor saiu, Mia observou o âmbito, sentada sobre a pequena mesa de centro. Estar ali lembrava-lhe o escritório de seu pai, talvez pela decoração. Pensou como deveriam estar as coisas em Skyblower, estaria tudo como sempre? Fechou os olhos e consagrou sua atenção para o ruído da madeira sendo carbonizada. Inspirou fundo e expirou, e repentinamente, uma visão invadiu a mente dela.

Olhos castanhos frios lhe encaravam.

Mia ouviu então um estardalhaço assustador de vidraçaria se despedaçando. Mia saiu de sua mente, esquecendo-se por meros segundos de onde se encontrava. Poderia jurar ter ouvido gritos, cambaleou ate a porta e correu em direção ao salão, no entanto onde deveria haver uma festa, ela se deparou com um tumulto.

Avistou os convidados correndo na direção da saída. Semicerrou os olhos e reparou em homens se destacando na multidão, com armaduras familiares. Mia franziu o cenho tentando vasculhar na sua mente de onde poderia conhecer tal vestimenta quando alguém agarrou sua mão bruscamente, antes que ela reagisse, viu Lucky, junto de Elliot e Emily.

– Você tem algum problema em ficar em lugares fáceis de ser encontrada?! – ele bronqueou.

– O que está havendo? – Perguntou ela, assustada.

– O castelo foi invadido por soldados armados. – Emily disse, de fundo.

– Vamos, temos que sair daqui – Lucky a puxou, mas Mia recuou.

– Não, não irei a lugar algum sem Thor.

– Não me encha a paciência princesinha, ele está cuidando de outra mulher – insistiu Berbatov, puxando sua mão, mas ela cedeu.

– Eu não me importo, não sairei daqui sem ele!

Lucky se estressou.

– Terei mesmo que levá-la a força?! – Ele ameaçou, rodando a grossa mão em volta do fino braço dela.

– Não se atreva a encostar um dedo em mim!

– Parem vocês dois! – Elliot manifestou-se. – Vocês poderão discutir outra hora, precisamos sair daqui!

– Achei que nosso chefe tivesse mandando todos saírem! – Uma quinta voz interferiu na discussão, vinha do fundo do corredor. Dois homens grandes com os mesmos uniformes que Mia havia visto, mas o brasão fora propositalmente tapado. Os soldados carregavam bestas apontadas para eles.

Lucky ergueu as mãos e se aproximou devagar. Mia atirou seu olhar diretamente a cintura dele, e viu que de algum modo ele havia recuperado a espada. Mia não tinha ideia de onde estava seu arco.

– Ouvimos o que o seu chefe disse, mas acredito que vocês saibam o quanto é difícil discutir com uma mulher teimosa.

Mia o encarou, embasbacada, até mesmo nessas situações ele fazia piada?

– Segurem-se – Emily aconselhou.

Algo sussurrou no ouvido de Mia e uma corrente de vento ondulou a barra de seu vestido. De repente, a ventania ganhou força e ela agarrou Elliot, que estava segurando no arco da entrada. Lucky se segurou numa porta. A corrente de ar teve uma proporção poderosa, fazendo um dos soldados apontar e disparar, sem querer, contra o comparsa. Lucky aproveitou a deixa para quase voar pelo percurso do vento e assassinar a sangue frio o soldado que restara. Mia e Elliot ficaram paralisados, vendo ambos mortos.

Lucky voltou até eles com o aço banhado de sangue, e disse para a bruxa:

– Você é esquisitinha, mas estou começando a gostar de você.

Mia virou-se para o salão tentando apagar o assassinato que acabara de presenciar e no fundo da sala, avistou Thor, diante a princesa Stephania e de seus pais, com dois homens apontando suas armas para ele. Berbatov correu para lá, ansioso para lutar.

– Mia! Segure! – A voz potente de Ari gritou, que surgira repentinamente, atirando seu arco na direção dela. Em seguida, a aljava com as flechas que se espatifam ao chão, depois Louis lhe entregou a espada de Thor em mãos e eles correram atacando qualquer um que encontrassem pelo caminho, como cavalos de guerra. Mia tentou se concentrar em algo, sentia-se como um mosquito no meio de um tumulto, nunca tinha estado numa situação parecida. Ali, as pessoas atacavam para matar. Ela correu na direção de Thor, mas seu caminho foi interceptado por um homem tão grande e largo quanto Ari.

– Ora, ora – ele dissera com um sorriso ardiloso nos lábios. Mia achou sua figura familiar, era uma mistura de um animal bruto de pele branca, com cicatrizes e olhos vorazes. – Que grande honra em encontrar numa única noite, duas lindas princesas.

– Quem é você? – questionou ela, com a flecha apontada para ele.

– Eu cuido dele – Elliot surgiu ao lado da irmã, com a espada empunhada para ataque. Mia protestou, mas Elliot insistiu. – Thor precisa de sua espada. Entregue a ele.

Mia somente aceitou quando Elliot tornou a pedir que ela se apressasse. Mia correu pelo salão, assustada, o beijo entre dois aços era aflitivo, entre vários, era terrivelmente agoniante.

Ao se aproximar de Thor, Mia deixou um sorriso escapar apenas por vê-lo bem, jogou-lhe a espada e lutou ao lado de Lucky. Mia se posicionou diante a família real, para protegê-los ou melhor, tentar. Caso algo viesse acontecer. Suspirou de alívio quando viu guardas de placas prateadas com o brasão de Amarílis invadiram o salão.

– Acompanhe-nos rei, lhes tirarei daqui – diz o chefe da Guarda Real. Ele atirou um olhar de desprezo para Mia e disse com frieza: – Assumirei daqui em diante.

– O quê? Não sairei daqui e abandonarei Thor! – Stephania se opôs.

– Princesa ele é um traidor! Não há tempo para esperar – a princesa continuou a insistir e Mia estarreceu, traidor?

– Não se preocupe, ele ficará bem. Dou minha palavra – Stephania encarou Mia, olhou seriamente nos seus olhos e balançou a cabeça, confiando em sua palavra.

Mia assistiu a família real fugir o mais rápido possível do salão, e em questão de segundos o pior aconteceu: a princesa, que estava por último, tropeçou em seu vestido e caiu no chão, antes que seu guarda fiel pudesse ajudá-la, ele foi atacado por um outro homem de armadura, o mesmo homem que lutara com Elliot e que reconhecera Mia.

Mia procurou imediatamente sue irmão e lhe encontrou ao lado da bruxa, aparentemente bem. Depois de ferir o chefe da Guarda Real, ele se aproximou de Stephania que estava paralisada no chão, de medo. A única reação do rei de Amarílis foi puxar a mão de sua rainha, deixando a sua filha para trás. O homem ergueu a besta para o peito da princesa e ela gritou.

Por fim o sangue que escorreu ao chão não foi o dela, foi o dele.

Ele se virou para Mia, e deu dois passos frágeis em sua direção.

– Foi uma honra, princesa Amélia – disse com a voz chiando, as palavras ecoaram na sua mente, ele tombou no chão, fazendo a flecha enfiada no seu coração fosse empurrada para cima. Mia estava ofegante e perplexa, olhou suas mãos tremulas, não tinha pensado, somente atirou. E pela primeira vez tinha matado alguém.

Tentou voltar para a realidade, ela desviou do corpo estirado e correu até Stephania que ainda estava chorando, em estado de choque. Mia tentou fingir que não estava desesperada como ela, tentou ajudá-la se levantar, Stephania tremia. Mia lhe ajudou a chegar onde seus pais fingiam a esperar, no corredor. Ela tentou ignorar a maneira que a princesa apertava seu braço, deixando-o marcado. Mia escoltou-os pelo corredor, sendo assombrada pelo momento em que largou a flecha e tirou a vida de outra pessoa. O chefe da Guarda Real foi trazido junto de outros três guardas, que tomaram conta da família.

Antes que Mia retornasse para o derreamento de sangue Stephania lhe chamou.

– Mia... Eu quero me desculpar... – ela segurou sua mão, com olhos marejados. – Por tudo.

– Não precisa...

Mia desviou o olhar para sua marca de nascença que mostrava somente um raio de sol pela manga do vestido. – Você estava certa, esse não é lugar.

Mia retornou o salão, mas tudo havia acabado. Era tenebroso atravessar aquilo com corpos espalhados no chão. Ela não evitou olhar o homem que matara, as palavras dele tornaram na sua mente. Foi uma honra.

Ela se aproximou de Thor e Lucky que estavam no centro do salão, olhando o estrago.

– Tudo acabou? – perguntou aflita, tentando não demonstrar seu remorso.

– Pelo visto sim – Lucky chutou um dos corpos estirado ao chão sem remorso. Mia atirou-lhe um olhar feio, depois olhou o cadáver, tinha uma ferida hedionda no rosto, deformando toda a face. Ela sentiu seu estomago revirar.

Ela fitou Thor, que ainda encarava tudo incrédulo. Por que aquele homem disse que Thor era um traidor?

– O que diabos fora isso? – Elliot perguntou se apoiando nos joelhos, tinha sido seu primeiro combate. Ele parecia estar assustado, mas cheio de adrenalina. – Se vocês estão aqui, quem atacou esse pequeno reino? – perguntou ele, a Lucky.

– Se tivéssemos sido nós, teríamos sido mais profissionais. – Louis se gabou.

– É porque eles não estavam aqui para roubar – Mia revelou sua conclusão. – Eles queriam ferir a família. Ela esperou ver a reação de Thor, mas ele ainda tinha seus olhos fixos no soldado morto, pensativo.

– E por que vocês estão perdendo o tempo com isso? Não é nosso problema – Lucky falou irritado, limpando a espada na própria roupa chique que Stephania mandara costurar.

– O que há Thor? – Mia perguntou. – O que lhe assustou tanto?

– Esse é problema – ele sussurrou, respondendo o que Lucky disse. Mia franziu o cenho, como mais algum problema? Thor se abaixou e com a sua espada corta o pano que envolvia o braço direito do cadáver, onde se revelou o brasão para a casa que ele representava. O amedrontador espadarte branco.

– Esses soldados já pertenceram a Wanderwell. 

_________

Décimo Sétimo Capítulo da serie As Adagas de Ceres.

Para você a@anaravello, uma leitora reservada, mas comenta sempre algo interessante ou engraçado, agradeço o envolvimento na leitura obs: seu sorriso é lindo

Ceres- Você sabe quem é o Inimigo?/// Direitos autorais resguardados pela a LEI Nº 9.610 DE FEVEREIRO DE 1998. Plágio é CRIME!!

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Um jogo perigoso, repleto de armadilhas. Uma disputa de poder, dinheiro e desejo. De um lado do tabuleiro, a delegada Priscila Caliari, do outro, a e...