Quando estiver pronto, Frank, Karen, Billy e você seguem a trilha atrás da cabana. O plano é passar o dia todo ao ar livre e aproveitar as paisagens enquanto o sol está forte. Tudo é branco: as longas estradas são pavimentadas com neve, as grandes árvores parecem congeladas e o solo é macio o suficiente para que seus pés afundem nele.
O ar é fresco e seco, e você está cercado pela natureza e sua beleza impenetrável. Quase parece que você está em outro mundo, longe da cidade e da civilização humana. Onde quer que seus olhos pousem, você descobre outra maravilha. Você sobe a trilha que leva às montanhas e vagueia por entre as árvores por horas. Você está cercado pelos ruídos da floresta: os pássaros cantando animadamente, os galhos estalando sob seus passos, o vento frio que roça os grandes pinheiros. O sol brilha e faz a neve brilhar, como se o chão fosse vidrado com milhares de diamantes. Vocês quatro trocam histórias e piadas enquanto caminham e fazem algumas pausas para beber e se maravilhar com a paisagem. Karen informa que há um bom ponto de vista na beira do penhasco e que ela pretende experimentar sua nova câmera cara,
Você chega ao ponto de vista e fica sem fôlego. Desta altura, avista-se todo o vale: o lago turquesa, refletindo o azul do céu e a imensidão das montanhas brancas. Você olha para a vista, profundamente comovido, ciente de que tal beleza é rara e que você é incrivelmente privilegiado por testemunhar a natureza desta forma: imaculada, pura, vasta.
Karen tira a câmera da bolsa e tira algumas fotos antes de suspirar e olhar para o dispositivo, apertar os botões e experimentá-lo.
"Não está do jeito que eu quero", ela suspira, e você se aproxima dela e olha para a tela.
"Parece bom para mim", você responde, perplexo.
"As cores estão todas erradas", ela reclama, e abre outro menu nas configurações. Você dá de ombros e sai do lado dela, voltando para a beira do penhasco para olhar a vista.
Frank se aproxima da namorada e você os ouve tentando entender como a câmera funciona, sorrindo para si mesmo. Eles são realmente fofos quando não estão tentando armar para você com Billy. Como se seus pensamentos o tivessem convocado, ele entra em seu campo visual e você olha para ele. Billy está usando um gorro preto e um casaco de inverno, ainda conseguindo parecer atraente sem esforço. As paisagens brancas parecem aumentar a escuridão de suas íris, e você vê alguns pelos mais claros em sua barba. Ele sorri para você e seu estômago se contrai, uma reação física à qual você já se acostumou. Você tenta se concentrar no ambiente ao invés dele, tentando ignorar o que aconteceu antes na cozinha.
A visão dele enerva e apazigua você, e você acha estranho como a presença dele tem sido estranhamente reconfortante para você ultimamente. Deixando de lado o constrangimento, ele é uma presença reconfortante para você. Vocês dois ficam em silêncio por um tempo, quando ele tira a mochila dos ombros, pega uma cabaça e entrega para você.
"Você deveria beber", ele aconselha, e você acena com a cabeça, sorrindo para ele.
"Obrigada."
Você toma alguns goles, avaliando-o enquanto ele não está olhando. Ele tira a bússola e o mapa da bolsa, estudando-os atentamente. Há algo inerentemente atraente em um homem que sabe navegar no deserto, uma habilidade que você sabe que ele cultivou desde sua vida no exército.
Você o observa, pensando consigo mesmo que ele fica bem com um gorro, dando a ilusão de que ele parece mais acessível. Seu cabelo geralmente perfeitamente penteado o faz parecer sofisticado e um pouco intimidador; ele parece mais acessível assim, quase como uma pessoa normal. Você observa seus longos dedos segurando o mapa, seu batimento cardíaco acelerando, imaginando como seria tê-los em você. Você sentiu o toque dele hoje cedo, quando ele recolocou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha, leve como uma pluma, quase macia, e a memória permanece viva.
Você pensa consigo mesmo que ele não é nada como você o imaginou. Você descobriu que ele é carinhoso, atencioso e que há uma vulnerabilidade nele que você não pode deixar de querer explorar, atraindo você. Você se pergunta brevemente se poderia ser uma armadilha antes de relembrar as palavras de Karen. Ele é diferente quando você está por perto. Mais calmo, mais autêntico. Você franze a testa, imaginando se é verdade, e por que diabos você teria esse tipo de efeito sobre ele.
Você sai do seu devaneio quando ele olha para você, seus olhos escuros encontrando os seus.
"Sinto muito pelo jogo de ontem" você deixa escapar, ansioso para controlar a conversa. Você está com medo de que ele possa trazer à tona o que lhe perguntou antes e ainda não está pronto para responder à pergunta dele. É mais fácil se desculpar por ferir seus sentimentos ontem à noite, manter a discussão amigável e longe de territórios perigosos.
"O que?" Billy pergunta, parecendo perdido.
"Você sabe... a categoria. Isso foi insensibilidade da minha parte, me desculpe", você diz, olhando para o chão. Billy parece completamente envergonhado e pisca algumas vezes antes de falar novamente.
"Tudo bem, foi só um jogo." Ele tenta descartá-lo, mas você ainda se sente culpado pela maneira como o deixou desconfortável.
"Além disso, foi informativo" ele dá de ombros, e você franze a testa, sentindo que perdeu alguma coisa.
"Informativo?"
"Sim, me ensinou que você prestava atenção em quem eu vinha para casa", ele brinca com um sorriso brilhante. É o que você viu ontem à noite quando estava deitada na cama com ele: todos os dentes com o nariz amassado e as rugas no canto dos olhos. Isso tira o seu fôlego por um segundo, porque ele parece tão incrivelmente bonito assim, seu coração quase se parte no peito.
"Certo, Billy, porque você é tudo em que consigo pensar" as palavras escapam de seus lábios antes que você consiga controlá-las, e você fecha os olhos. Sua vadia burra. Que diabos está errado com você? Quando você os abre de volta, Billy ri, seus olhos parecendo suaves. Você morde o lábio inferior, sorrindo nervosamente.
"Não se preocupe", diz ele, colocando o mapa e a bússola na mochila. "Você é tudo em que consigo pensar também." Ele acrescenta e pisca para você.
Você desvia o olhar, sua respiração presa em seus pulmões, seu estômago apertando dolorosamente. Isso pode ser demais para você. Você olha para a vista, pensando brevemente em se jogar do penhasco. Isto é real? Isso está acontecendo?
Isso não está certo, você não deveria se apaixonar por ele. Você não está sendo você mesmo; ele está mexendo com sua cabeça. Você respira profundamente, tentando reunir seus sentidos e avaliando seu estado.
Ele quis dizer o que disse? Não, não vá lá. Não se atreva.
Você balança a cabeça. Não importa. Mesmo que Billy goste de você, não importa. Você não pode estar com alguém que não pode se comprometer, não depois da última vez. Você tenta não pensar no seu ex. Frank e Karen se aproximam de você e ela lhe entrega a câmera. Você tenta olhar as fotos que ela tirou, mas não consegue se concentrar, seu coração bate forte contra suas costelas. Você é grato por Frank e Karen, pois eles dissiparam a tensão que se instalou entre você e Billy.
Depois de uma leve discussão sobre a vista deslumbrante, você retoma sua caminhada. Você toma cuidado para não ficar muito perto de Billy. Toda vez que ele olha para você, seu sangue corre em suas veias e seu estômago revira. Você se concentra em seus passos, cuidando para não cair, e quando a caminhada termina, o sol está se pondo atrás das montanhas, pintando o céu em lindos tons de rosa, laranja e roxo.
Você faz o seu caminho em direção à cabana e está congelando positivamente. Todo mundo planeja tomar um banho quente, passar o dia lá fora no frio fez um estrago em seus corpos.
Você entra na casa e Frank e Karen sobem para tomar banho, enquanto você tira o casaco.
"Chá?" Billy pergunta, tropeçando na cozinha.
"Obrigado" você responde, suspirando. Você se abraça, tremendo, e se senta à mesa da cozinha, observando Billy se ocupar colocando água na chaleira.
"Você está bem?" ele pergunta, seus olhos escuros capturando você.
"Estou congelado até os ossos" você suspira, reprimindo outro arrepio. Billy franze a testa, põe a chaleira no fogo e vai para a sala. Ele pega uma manta do sofá e volta para você, colocando-a sobre seus ombros.
"Aqui", ele murmura, e acaricia seus braços energicamente. Você o deixa, incapaz de resistir ao seu calor, e ele coloca o xadrez bem apertado em volta dos seus ombros antes de depositar um leve beijo em sua testa. Você inconscientemente geme com o gesto íntimo e ele sorri antes de deslizar para o outro lado da cozinha. Você o observa pegar duas canecas, colocar os saquinhos de chá, antes de derramar a água quente. Ele lhe entrega a caneca e você a segura com as duas mãos, agradecendo.
"Vou fazer uma fogueira", ele informa, e você acena com a cabeça, olhando para ele.
"Muito lenhador, hein?" você o provoca. "Só falta a camisa xadrez".
"Por que você não vai tomar banho em vez de fazer piadas?" ele sugere, e você sorri.
"Você está tentando se livrar de mim?" você pergunta.
Billy pondera sobre suas palavras, estreitando os olhos. "Por mais que eu aprecie sua companhia, você não será muito útil se morrer de hipotermia."
Você ri. "Tudo bem", você suspira, tirando o xadrez dos ombros e se alongando. Você arqueia as costas, estende os braços e percebe os olhos de Billy olhando brevemente para seus seios. É a sua vez de sorrir, satisfeito por perceber que ele está olhando para você.
* * * * * * * * * *
Uma vez que todos tenham tomado banho, você se acomoda na sala de estar. Há sobras de pizza no forno e você junta em volta da chaminé para se aquecer. Frank abriu uma garrafa de vinho e você está relaxando, se recuperando do frio e da caminhada. Você está sentado ao lado de Billy, ainda enrolado no xadrez grosso que ele lhe entregou antes.
Depois do banho escaldante que você tomou, o único momento em que você se sentiu mais quente esta noite foi quando esbarrou em Billy no quarto, vestindo apenas uma toalha. Ele virou as costas para você imediatamente, desculpando-se profusamente. Você lutou contra o constrangimento, dizendo a ele que o banheiro estava livre, e ele entrou correndo, seu rosto exibindo tons de vermelho que você nunca tinha visto nele antes.
Você sorri para si mesmo, lembrando-se do incidente, estranhamente tranqüilizado pelo fato de que Billy parecia tão perturbado quanto você naquele momento.
Karen recupera sua câmera e começa a tirar fotos, e todos vocês posam para ela, sorrindo. Depois de comer, você abre outra garrafa de vinho e o álcool se instala em seu sistema, dando a você uma sensação renovada de autoconfiança.
A meia-noite se aproxima e a música toca dentro de casa. Você coloca as músicas se revezando e está ocupado tirando sarro do gosto musical de Billy quando Karen grita.
"É quase meia-noite!" ela exclama, com as bochechas vermelhas do vinho e da dança.
Billy corre para a cozinha empolgado, arrancando uma gargalhada de você.
"Tudo bem, chega de cortesias", exclama ele, pegando a garrafa de champanhe da geladeira. Todos vocês o aplaudem e se juntam a ele na cozinha, pegando quatro taças.
"Obrigado, querido assistente", ele brinca, e você sorri para ele. Karen começa a contar os segundos até a meia-noite, você e Billy voltam para a sala. Quando ela se aproxima do "cinco", Billy abre a garrafa. A rolha voa pela sala e você segura as flautas para ele. Ele os preenche e, quando ela diz "zero!" todos vocês bebem de suas flautas. Karen e Frank se beijam à meia-noite e você se vira para Billy com os olhos arregalados.
Sua mente convenientemente evitou pensar no beijo de ano novo da meia-noite, e a realidade bate em você. Billy está parado na sua frente, seus olhos escuros fixos nos seus, e você sente que ele está esperando que você decida. Seu coração escolhe por você, e você se aproxima dele, fica na ponta dos pés, joga os braços em volta do pescoço dele e pressiona seus lábios contra os dele.