HOLLYWOOD'S BLEEDING

Door xmcecix

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Você mataria por amor? Quer dizer, faria alguma loucura por amor? Porque Kim Taehyung, Jung Hoseok e Min Yoo... Meer

CAPITULO UM - SECRETS AND PAST
CAPÍTULO DOIS - CHOICES OR CHANCES?
CAPÍTULO TRÊS - ANYTHING CAN HAPPEN
CAPÍTULO QUATRO - FOREBODINGS
CAPÍTULO CINCO - LOVERS TO RIVALS
CAPÍTULO SEIS - CHANCES OVER REAL CHOICES
CAPÍTULO SETE - FORGIVENESS OR REVENGE?
CAPÍTULO OITO - LOVE IS NEVER ENOUGH
CAPÍTULO NOVE - YOU (UN)KNOW YOUR LIMITS
CAPÍTULO DEZ - CHAOS IS ALWAYS WELCOME
CAPÍTULO ONZE - FAREWELLS
CAPÍTULO DOZE - FEAR OF LOVING
CAPÍTULO TREZE - CHANGES AREN'T ALWAYS WELCOME
CAPÍTULO QUATORZE - WHAT IF...?
CAPÍTULO QUINZE - NEW FEELINGS, NEW CHOICES
CAPÍTULO DEZESSEIS - THE LAST CHANCE
CAPÍTULO DEZOITO - A WIN FOR A LOSS
CAPÍTULO DEZENOVE - NEW START
CAPÍTULO VINTE - START FROM SCRATCH

CAPÍTULO DEZESSETE - THERE'S STILL TIME?

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⚠️ ATENÇÃO ⚠️

PALAVRADO DE BAIXO CALÃO / MENÇÃO A USO DE DROGAS ILÍCITAS / USO DE DROGAS LÍCITAS / TORTURA / MORTE / SANGUE / QUEIMADURA / AFOGAMENTO / AGRESSÃO FÍSICA E MORAL / ANGST / MENÇÃO A ATO SEXUAL

THERE'S STILL TIME?

1H DA MANHÃ, WOORIDUL SPINE HOSPITAL

X    X    X

Não é possível escolher como ou quando iremos morrer. Conseguimos apenas decidir a forma na qual viveremos.

E talvez as escolhas de todos aqueles homens até o momento tenham sido respaldadas pelo dia de suas mortes. Dias estes, que não sabiam quais seriam, contudo, batiam no peito para afirmar que estavam prontos e que não temiam a nada. Mas a verdade é que assim que ela bate na porta, nenhum deles está mesmo preparado para partir. Há ainda uma sensação de pendência, um sentimento que borbulhava no sangue, que os fazia angustiados, implorando por mais tempo, só mais um pouco.

Eram mentes, corpos e almas incompletos. Mentes, corpos e almas ambíguos. Como híbridos que necessitavam da felicidade, do amor e do ego para suprir e acariciar as máculas da natureza humana, mas que agiam tão primitivamente como animais selvagens lutando por seus territórios.

Sendo a parte animal apenas um pretexto para alimentarem as heresias que provinham de seus espíritos, únicos e totalmente racionais.

Em outras palavras, não existiam instintos, não existiam impulsos. O que havia ali, eram homens fracos, destituídos de coragem para ficar, para ir e principalmente, para deixar ir.

Só que tudo aconteceu muito rápido. Não tiveram a chance de fazer suas últimas escolhas.

Peças se encaixaram todas de uma vez, ao mesmo tempo, milhares de dúvidas rompiam como um tornado. Diferente do que esperavam, aquilo não se parecia com uma vitória. Não, não mesmo.

A área de espera do hospital estava basicamente interditada para eles. Todos mudos, evitando os olhares uns dos outros, respirações baixas para que suas emoções não fossem ouvidas. Lágrimas escorrendo em silêncio, embaçando suas visões.

Não conseguiam pensar em reféns, em Heechul, Siwon ou San. Nada os preocupava mais do que saber se Yoongi estava realmente vivo ou não.

As informações que lhes deram não os davam certeza alguma. Sabiam que muito sangue fora perdido, que a bala perfurou um local delicado, que seria necessário uma cirurgia, que Yoongi ficou tempo demais desacordado, que tinha outros ferimentos pelo corpo. Tudo muito embaralhado.

Foi desesperador presenciar o corpo de Yoongi em cima de uma maca, com médicos em sua volta, apressados pelos corredores. Viram suas vestes manchadas, hematomas espalhados na pele agora quase sem cor e acinzentada, os lábios arroxeados. Todos se negavam a acreditar que ele poderia partir daquela forma, mas tal imagem tão reveladora os fazia pensar se não estavam se enganando, se não estavam agarrados à impossibilidade.

Enquanto procuravam por qualquer mínima esperança, Taehyung e Hoseok, em específico, encontravam-se afastados dos demais, sentados um ao lado do outro. Roupas sujas, rostos inchados, corações destruídos e desesperados por respostas.

Respostas que não vinham, não chegavam nunca. Que pareciam não ter uma fonte para serem coletadas.

Taehyung encarava o chão a todo tempo, seus pensamentos obscurecidos, respiração afogueada pelo tanto que chorou nos últimos minutos. Sua vontade era poder retornar no tempo e impedir que aquilo acontecesse, porque não tinha certeza se deveria agarrar-se à ideia de Yoongi sair vivo daquela situação.

Hoseok estabelecia um contato fixo e eterno com uma máquina de café, no entanto, não tinha foco em seu olhar. Seus pensamentos? Não funcionavam, eram somente uma vasta e sombrosa lacuna. E em seu peito, só havia espaço para uma única possibilidade: Yoongi sobreviveria.

— Ho-oseok... — Taehyung o chamou baixo. A voz quebradiça arruinava Hoseok, mais do que já estava.

— Hm? — Respondeu, sem coragem de olhá-lo diretamente, incapaz de mover qualquer músculo que não fossem os de suas cordas vocais.

— S-sobre... Sobre o que eu... Falei 'pra você mais cedo — Ele se sentia culpado, era óbvio, mas Jung não estava disposto a ter esse tipo de conversa naquele momento.

— Por favor, agora não. O que você tiver 'pra dizer, vai ser com o Yoongi aqui, junto da gente — Interrompeu o mais novo ao erguer a mão frente ao próprio rosto, e teve como resposta um cenho franzido e semblante confuso. Logo, o coração de Taehyung se quebrou em milhares de pedaços.

— Mas e se... — As palavras se embargaram, e novamente, foi interrompido.

— Não completa essa frase. Ele vai sobreviver — Hoseok foi firme, chegando a soar levemente rude. Estava em negação, doía na alma pensar que aquele seria o fim, ainda que tivesse sido avisado dessa probabilidade incontáveis vezes.

Taehyung abaixou a cabeça, voltando a chorar como uma criança. Não queria que Hoseok achasse que só estava pensando no pior, mas precisava ter os pés no chão, precisava ser realista. Estava nítido que a situação de Yoongi era complexa. Taehyung era médico, porra.

Hoseok finalmente arriscou olhar para ele, se arrependendo no mesmo instante. Ver Taehyung quebrado e entregue ao martírio daquele jeito o assolava de uma forma inexplicável. Ele acompanhava o rolar daquelas lágrimas também sentindo vontade de chorar, de cuidar de Taehyung, de dizer a ele que tudo ficaria bem, ainda que não tivesse certeza daquilo. Hoseok queria prometer um final feliz para Taehyung, mesmo que parecesse burrice. E talvez, só talvez, quisesse prometer esse final feliz para que tivesse a chance de fazer parte dele. Ele, Taehyung e Yoongi.

Foi a primeira vez que Hoseok os imaginou juntos. Juntos de verdade. Mãos dadas e olhares sinceros carregados de paixão e alívio.

Pareceu tão certo.

E então, sem mais conseguir se conter, Hoseok puxou Taehyung pelo ombro, o acomodando como pôde naquele banco desconfortável do hospital. Tentando abafar dentro do peito todas as suas vontades, seus sentimentos em segredo, enquanto o acalentava em seus braços, afagava os cabelos macios, o apertando com força para lhe dar o mínimo de proteção.

Hoseok amava Taehyung, e teve certeza de que nunca mais iria negar isso para si.

Taehyung, por sua vez, não lutou contra aquele contato, ao invés disso, se aninhou ainda mais em Hoseok, deixando aquele cheiro o acalmar e as mãos o acariciarem como queriam, como ele precisava.

— Eu 'tô aqui — Hoseok disse quase inaudível e suas bochechas enrubesceram. Ele não tinha dimensão do que estava dizendo, do peso daquelas palavras, mas elas eram sinceras e seu coração gritava para que as externasse ali. Porque estava ali por Taehyung também, porque estava apaixonado por ele e vê-lo sofrendo doía tanto quanto imaginar uma vida sem ele.

Sem os dois.

Taehyung continuou fungando baixinho, enxugando no ombro de Hoseok as lágrimas insistentes que escorriam de seus olhos.

— Eu sei.

Aquela cena não só era estranha para eles, como para o resto que os observavam em silêncio, mas não era hora para questionamentos. No fundo, sabiam que esse era o rumo correto, embora tivessem o encontrado às custas de uma perda.

Os minutos se passavam, lentamente se transformando em horas. A angústia os abatia, dando mais espaço para refletirem quais foram seus erros em meio a isso tudo. Porque todos se sentiam culpados de alguma forma.

Namjoon escondia o rosto nas mãos, apoiado nos joelhos, tendo a certeza de um plano falho, mal pensado. Seokjin, com o nariz avermelhado, não trocava de expressão há um bom tempo, mas todos sabiam que ele costumava ficar estático em situações como esta, portanto, não era necessariamente algo estranho. Em seu coração, morava o pesar que lhe dizia não ter protegido o amigo como deveria, não foi capaz de protegê-lo. Jungkook, sendo o mais sensível dentre eles, não conseguia conter as lágrimas e a forma ruidosa como elas saíam. Passava as costas da mão rente às narinas, puxava os cabelos para trás, descontando o arrependimento de não ter chegado segundos antes. Jimin, ao seu lado, compartilhava da mesma sentença de Jeon, afagando as costas dele incansavelmente, mas sem poder fazer mais do que aquilo, já que em seu corpo, acumulava-se um ódio descontrolado, como sempre ficava no limite de suas emoções. Não havia chegado a tempo, não pensou com antecedência, falhou, somente falhou.

E tinha Hoseok e Taehyung.

Para eles, a culpa não se resumia a ter evitado o pior. Hoseok e Taehyung se culpavam pelo o que não foi feito, o que não foi dito por todos os segundos, dias e meses que antecederam aquele fatídico.

Promessas que não foram cumpridas, ações injustificáveis que corriam o risco de permanecerem em aberto, palavras entregues sem remetente que talvez nunca chegassem a ter um. Os "Eu te amo" que poderiam nunca passar de meros sentimentos aprisionados.

E não houve mais tempo para pensar no que não foi ou no que poderia ter sido, porque suas atenções foram todas desviadas para Jaebeom voltando acompanhado do cirurgião, que além de diretor do hospital, também era um associado deles.

Não precisariam de formalidade ou de descrições éticas, só queriam notícias de Yoongi.

— E aí?! — Hoseok levantou em um ímpeto, quase levando Taehyung consigo.

— Ele 'tá vivo — Lee Jung-jae falou com calma, tentando transmiti-la para eles, que ao ouvirem a notícia, suspiraram em conjunto. O diretor esperou que se acalmassem, observando quando abraçaram uns aos outros e deixaram mais lágrimas caírem. Lágrimas de alívio, daquela vez — Mas eu preciso que vocês entendam que o Yoongi deu muita sorte, muita sorte mesmo. Porque o que complicou a situação dele não foi nem o tiro em si, foi a quantidade de sangue perdida — Exatamente o que Taehyung suspeitou — Se ele ficasse um minuto a mais, acho que não teria volta.

— 'Tá, e a gente pode ver ele? — Jungkook parecia o mais ansioso de todos ali, contendo um pequeno sorriso cheio de expectativa, desejando tanto poder falar com seu hyung um pouco.

— Não, ainda não — Disse sério, olhando para todos como um aviso que apesar da boa notícia, as coisas não seriam tão simples assim — Ele acabou de sair de uma cirurgia complicada, 'tá sedado, precisa descansar ao máximo e já adianto que a recuperação também vai ser difícil. Nesse começo ele vai ficar acordando e dormindo o tempo inteiro, mas assim que der, eu libero 'pra vocês visitarem.

— 'Tá maluco? O Yoongi não pode ficar aqui não, Jung-jae, você sabe disso — Seokjin o lembrou. Embora os hospitais fossem ambientes seguros e bem monitorados, Yoongi não era um paciente qualquer.

— Eu sei, Seokjin, mas dessa vez não tem jeito. Põe alguns seguranças na entrada e mais dois na porta da UTI, sei lá... É o que posso permitir se vocês quiserem que ele sobreviva. Eu tentei deixar o mais equipado possível 'pra ele ficar em observação por pelo menos três ou quatro dias. Depois você arranja uma forma de adaptar um local 'pra ele ficar fora daqui. Mas eu preciso acompanhar esse pós-cirúrgico. Além disso, nenhum de vocês saberia realizar os procedimentos que vão ser necessários nos próximos dias. Ele vai ficar um tempo tendo que tomar remédios injetáveis, pelo efeito ser imediato, vai ter que fazer check-ups atrás de check-ups... Não tem como, cara — Jung-jae listava uma porcentagem mínima dos processos que Yoongi teria de enfrentar nos dias que viriam, desanimando seus amigos.

O medo os inquietava. Yoongi não poderia ficar em um hospital, vulnerável daquele jeito, com não sei quantas pessoas querendo matá-lo.

— Vamos fazer o seguinte — Taehyung deu um passo à frente — Nem eu, nem você. Tenta agilizar o que ele precisa fazer aqui dentro do hospital, vou cercar essa porra de seguranças. O Jaebeom vai ficar com ele o tempo inteiro, 'tá ouvindo? O tempo todo. Assim que você achar que 'dá 'pra liberar ele 'pra outro lugar, você vai me avisar, me passar o prontuário e o que ele vai precisar. Eu sou médico, consigo cuidar dele fora daqui.

— 'Tá — Jung-jae pareceu lembrar que Taehyung também era médico. O que seria menos pior, nesse caso, já que a falta de estrutura também o preocupava — Mas assim, provavelmente vocês vão precisar comprar equipamento grande, iguais aos da UTI. Monitor, máscara, tubo traqueal, bomba de infusão... Essas coisas.

— Que seja, consegue essa merda toda 'pra mim, eu faço a transferência e passo o endereço do lugar que ele vai ficar.

O médico assentiu, logo sendo chamado por uma enfermeira do setor. Se afastou brevemente para falar com ela e foi quando todos trocaram olhares cúmplices. Especialmente Seokjin e Taehyung.

— Ele vai ter que ficar lá, você sabe 'né? — Taehyung falou baixo, somente para o irmão ouvir.

— Sim, vou mandar fazerem uma limpeza e esterilização de tudo... Aqui ele não fica mais do que três dias.

Hoseok observava a conversa sigilosa entre os dois, tentando ouvir alguma coisa. Conseguiu escutar algo sobre Yoongi ficar em algum lugar já conhecido por eles, mas se concentraria nisso em outro momento, já que algo lhe chamou atenção.

Jaebeom, parado um tanto distante de seus chefes com as mãos juntas na frente do corpo e o semblante de quem guardava coisas demais dentro de si. Ele não olhava para ninguém, como se não quisesse atrapalhar.

Portanto, se aproximou do comandante tendo um meio sorriso em seus lábios e sabendo o que aquela cara queria dizer.

— 'Tá tudo certo, cabrón, vem aqui — Jung o puxou para um abraço, ouvindo um fungar baixo, discreto, tímido. Aquilo mexeu consigo — Promete 'pra mim que vai cuidar dele com a sua vida durante esses três dias... — Pediu, mas o tom beirava a súplica.

— Eu já ia fazer isso, chefe — O homem respondeu, apertando Hoseok de volta, escondendo o rosto em seu ombro.

Lim Jaebeom era um dos comandantes mais antigos da organização. Admirado por todos, respeitado por todos. Nunca foi alguém expansivo e claro em seus sentimentos, mas demonstrava lealdade dos mínimos aos maiores detalhes. Quem não o conhecia, podia considerá-lo rude ou insípido, porém, sua afeição e reconhecimento por todos aqueles homens era nítido. Nítido para eles.

Com Yoongi não seria diferente. Seu respeito por ele era tanto, que em anos de convivência, nunca deixou tão explícito o quanto uma possível perda o detonaria.

Se sentia tão família quanto os que, hierarquicamente, estavam acima de si.

Lim Jaebeom protegeria Min Yoongi com seu sangue, com sua carne, com a última gota de força que possuísse em seu corpo, e não era necessário que ninguém o pedisse uma coisa daquelas. Porque três anos atrás, esse mesmo Yoongi se pôs em frente a uma bala por ele, para salvá-lo. Por sorte, o tiro pegou de raspão, o que não tornava o risco menor.

.    .    .

4H30 DA MANHÃ

Após muitas e lentas horas, foi aberto uma exceção para eles. O certo seria deixar entrar apenas um por vez e somente vinte e quatro horas após a cirurgia, no entanto, eles eram muitos e não podiam deixar os galpões, a mansão e os outros comandantes desamparados. Por isso, Lee Jung-jae permitiu que visitassem, ainda naquele dia, Yoongi em duplas.

Taehyung e Hoseok decidiram ir juntos.

Já estavam com outras roupas, limpos, mas os semblantes permaneciam em desânimo e exaustão.

— Os senhores podem me acompanhar — Uma enfermeira os chamou, direcionando-os à uma área restrita, com grandes pias de alumínio, os orientando a lavarem as mãos e braços com um produto específico para tal limpeza.

Assim feito, tiveram de vestir roupas de proteção, que pareciam uma espécie de casaco fino com mangas longas, pondo luvas, máscaras e um revestimento para os sapatos.

Só então a enfermeira os autorizou entrar de fato para a UTI.

— Os senhores tem quinze minutos, certo? — A mulher avisou, enfim, os deixando sozinhos.

E os pensamentos de ambos os homens podiam estar conturbados em suas próprias singularidades, como correntezas destrutivas de dois rios que correm em sentidos completamente opostos. Mas uma coisa era certa: quando dois rios correm, sempre há uma confluência. Sempre há um ponto comum.

Naquele caso, naquele exato momento em que ambos abriram os olhos e viram aquilo que já esperavam ver – mas nunca estariam preparados totalmente – naquele momento, as correntes se encontraram, se encontraram fazendo um estrondo. Os pensamentos autodestrutivos e embrulhados daqueles dois se uniram em um só, um só sentimento que os consumiu da cabeça aos pés, passando com um solavanco pelos dois corações.

Claro que se sentiam aliviados por saber que Yoongi ainda estava ali, mas não era o suficiente. Queriam poder ver seu olhar brilhando novamente, ouvir a voz rouca de novo.

Os passos dos dois eram lentos, como se tivessem medo de se aproximar e encarar aquela cena. Observaram o homem que tanto amavam com um desconforto compartilhado, sentindo que estavam em seus limites, esperando que algo lhes dissesse se era mesmo real.

Taehyung pressionava as pálpebras a cada centímetro mais perto da maca, experimentando reviver em seu interno tudo que fez para Yoongi, tudo que talvez pudesse ter feito, tudo que planejava fazer.

Não era culpa dele que Taehyung havia estragado tudo, tudo bem se Yoongi desejasse nunca ter o conhecido, tudo bem Taehyung não ser o que Yoongi precisava de verdade.

Ainda assim, ele não se arrependia de tê-lo amado tanto, tanto. Embora fosse errado, embora não soubesse escolher as melhores palavras e atitudes, tinha convicto o sentimento que em nenhum só dia faltou amor.

E esperava, inocentemente, que aquilo fosse o bastante para curá-lo agora.

Hoseok não derramava lágrimas, não avançava como Taehyung. Seu andar era ainda mais lento que o dele, porque a própria mente o consumia em milhões e milhões de cenários e questionamentos.

Se ao menos Yoongi soubesse como ele o imagina, como ele o vê, talvez pudesse até machucá-lo... Não que já não tivesse feito.

Hoseok não queria ser complacente, porque ficou tanto tempo com sentimentos barrados dentro de si, que agora só queria uma oportunidade de soltá-los. Estava cansado de esperar, cansado de dizer não a si e a eles, exausto de ver todos que amava escorrendo por suas mãos como água.

Mas nunca foi acostumado a ter o que queria, sendo assim, contentou-se com aquela imagem. Yoongi vivo, mas rodeado por apetrechos sensíveis, que eram responsáveis por mantê-lo naquele estado até que pudesse fazer isso por conta própria.

E foi quando os olhares de Hoseok e Taehyung se encontraram mais uma vez.

Eles precisavam de um tempo a sós. Não tinham pretensão de se acertarem de uma hora para a outra, mas havia pontos que necessitavam ser alinhados, pelo menos para... Para saberem quais decisões tomariam dali em diante.

Porém, após conseguirem sair daquele vórtice de sentimentos, a realidade pareceu surgir novamente, e os dois ficaram mudos, olhando um para o outro ou como se não se conhecessem, ou como se não tivessem o que dizer.

— Onde ele vai ficar? — Hoseok se lembrou do que havia escutado horas antes na sala de espera, puxando duas poltronas para que se sentassem em frente a Yoongi, quebrando aquele silêncio. Sua cabeça e corpo doíam, suas mãos estavam trêmulas e suando. Tão hesitante.

Taehyung sabia que uma hora ou outra ele perguntaria.

— Meu irmão tem um apartamento afastado daqui, quase ninguém sabe sobre ele. Vou levar o Yoongi 'pra lá e sumir por um tempo — A resposta veio baixa, incerta. Seus dedos encostaram levemente nos de Yoongi, com medo que qualquer toque pudesse machucá-lo ainda mais.

Hoseok pareceu se dar conta do que estava ouvindo, do que estava prestes a acontecer... De novo.

"Sumir por um tempo?", como assim? Qual é o seu plano agora, Taehyung? — Ele não pensou que sua voz soaria tão frustrada, tão desiludida. Se sentia estranho por mais uma vez não estar incluído. Talvez estivesse tirando novas conclusões precipitadas, mas Taehyung não colaborava ao se limitar em sentenças inconclusivas — Me passa o endereço do lugar — Pediu, tentando ignorar a sensação incômoda no peito.

Taehyung manteve-se calado. O barulho incessante do monitor cardíaco ao lado lhe irritava, não o permitia pensar direito.

— Não é 'pra ser uma colônia de férias, Hoseok — Foi firme, o olhar vazio e reticente impedia que Hoseok enxergasse qualquer emoção — Eu vou levar ele 'pra lá por necessidade, não tem como ficar recebendo visitas, não podemos correr o risco de todos vocês terem o endereço... Você sabe como essas coisas funcionam.

Aquilo era uma verdade. Não se tratava de confiar ou não nos outros, Taehyung não se referia a isso, uma vez que, era lógico para todos eles que uma informação compartilhada entre muitas pessoas, corria um risco maior de ser descoberta por quem não deveria.

Mas Hoseok não estava preocupado com isso, não naquele momento. Hoseok tinha medo de ser deixado de lado em uma situação daquelas, lhe preocupava muito mais o dia em que Yoongi abrisse os olhos, e não o encontrasse lá, para ele.

Taehyung não podia ser egoísta ao ponto de querer fazer tudo sozinho.

— Não falei 'pra anunciar no jornal e contar 'pra família toda... Eu quero saber onde é, Taehyung, eu. E se você não me falar, eu vou descobrir do mesmo jeito — Hoseok chegou bem perto dele, encarando no fundo de seus olhos. O nervosismo borbulhava seu sangue, fazendo-o incapaz de perceber que poucos centímetros os separavam.

Taehyung respirou fundo, devolvendo o olhar a Hoseok, quase se perdendo naquela imensidão. Balançou a cabeça de um lado para o outro, se negando a aceitar.

Não queria dar o endereço para Hoseok, não por capricho, mas por precaução. Temia por Hoseok, não suportaria se algo acontecesse com ele também.

Mas seu semblante e postura amoleceram, estava exausto, cansado de sempre suas conversas terminarem em uma discussão.

— Você não entende, 'né? — Sorriu fraco, sem humor. Suas mãos encontraram aquele rosto, o segurando com cuidado, gravando todos os detalhes antes de continuar — Eu não sei quando vamos voltar, Hoseok... Eu 'tô fazendo isso 'pra proteger você... 'pra proteger vocês todos. Tem pessoas atrás do Yoongi, que 'tão esperando uma brecha 'pra matar ele de vez... Mas tem muito mais gente atrás de você... O tiro que ele levou não era 'pra ele, Hoseok, era 'pra gente.

Hoseok sabia daquela merda toda, mas não se convencia de que mantê-lo longe era a melhor opção.

— Você... Você 'tá me afastando, Taehyung... — Falou baixo, magoado demais para continuar naquela troca de olhares. Só queria poder ficar perto, só queria poder... Recuperar o tempo perdido.

— Não... Dessa vez não, Hoseok... Eu-

— Eu não tô nem aí pro que você acha melhor ou não, Taehyung. Eu não quero ficar longe, eu... Eu vou com vocês. Foda-se — Em um ímpeto, Hoseok ergueu a cabeça, se mostrando convicto demais, como se tivesse tido a melhor ideia de sua vida — Eu vou ficar lá com vocês dois pelo tempo que for necessário, 'tá decidido.

— Cara... — Pôs as duas mãos na testa, arrastando-as pelos cabelos. Hoseok não lhe ouvia, se mostrava intransigente demais e Taehyung não tinha mais forças para encontrar palavras que soubessem explicar o que estava tentando dizer.

— Não, Taehyung, é isso e pronto. Arruma o que tiver que arrumar 'pra nós irmos enquanto eu resolvo as pendências que vão ficar por aqui, temos três ou quatro dias ainda. Depois disso, a gente vai 'pra esse apartamento aí sei lá onde — Hoseok era tão obstinado que chegava a ser irritante. Sequer reunia um terço de coragem para sustentar o olhar à Taehyung. Não queria dar a chance de ele perceber o quão estava suscetível.

— Hoseok — Taehyung o chamou, puxando-o pelo queixo, mas Hoseok não queria dar o braço a torcer — Hoseok, olha 'pra mim... Não faz isso.

— Isso o quê, Taehyung? — Finalmente voltou a olhá-lo, com inquietação expressa em seu semblante. Será que Taehyung ainda não tinha entendido que estava puto porque queria estar perto deles porque os amava e não por... Por sabe-se lá o que Taehyung achava?

— Não confunde mais a minha cabeça... — Taehyung pediu aquilo, pediu não, implorou. Ele, no fundo, esperava que Hoseok lhe dissesse algo mais concreto — Não tem porquê você ir, vai ficar preso lá, sem poder sair... — Como se já não bastasse a pouca distância entre os dois, Taehyung se aproximou ainda mais, colando suas testas em um ato impensado e incabível para alguém como ele. Alisava os cabelos da nuca de Hoseok, em um gesto de conforto, dizendo em silêncio que estava tudo bem, que ele não precisava se culpar por nada.

E assim como Hoseok não entendia seus motivos, ele parecia não enxergar os de Hoseok para insistir tanto.

Enquanto Hoseok se deixava ser tocado daquela forma, as palavras sumiram, claro que sim. Não sabia onde as pôr, não sabia se estava verdadeiramente pronto para dizê-las, muito menos senti-las.

Mas se não as dissesse ali de uma vez por todas, poderia se arrepender depois.

— Eu... Talvez eu tenha me enganado esse tempo todo, Tae... — Suas mãos tremiam e apertavam as próprias coxas, descontando uma ansiedade que não pensou que fosse o pegar daquele jeito. Fechou os olhos, assim era mais fácil — Eu não posso te dizer que 'tô certo do que vou fazer, de como vou agir... Mas eu não consigo mais ficar longe de vocês, eu não aguento mais fingir que não existe nada entre a gente, 'tá ligado? — Taehyung o escutava com calma e praticamente sem se mexer, algo dentro de si dizia que qualquer respiração errada faria com que Hoseok desistisse — Eu sei que fiz merda 'pra caralho e espero que vocês saibam que também foderam com a minha cabeça e... E pode ser que demore 'pra gente entender que porra toda é essa — Hoseok abriu os olhos e precisou respirar fundo, abaixando a máscara até o queixo. O quarto dividido em tons de branco e azul claro, Yoongi desacordado na maca, sem poder ouvir seus próximos ditos, Taehyung a sua frente, um sentimento incompleto, era tão confuso — Mas eu 'tô maluco por vocês, eu sou louco por você, Taehyung. Eu não consigo te tirar da minha cabeça desde a primeira vez que eu te vi... — Uma risada sincera fazia parte da personalidade de Hoseok — Falando assim parece que foi fácil perceber, porque olha 'pra você... Mas não. Eu neguei o máximo que pude por medo. Eu já perdi as pessoas mais importantes da minha vida por ser um incompetente, por nunca chegar na hora certa... E eu não queria que isso acontecesse com vocês, não quero.

Os dois se olharam mais uma vez. Talvez não fosse o momento, mas precisavam disso. Taehyung não se importava mais em deixar as lágrimas escorrerem, até porque era somente isso que estava fazendo nas últimas horas. Hoseok contorcia o rosto, recusando permissão ao vórtice de sentimentos, mas de certa forma se sentindo aliviado por finalmente se livrar daquele peso que levava consigo há tanto tempo.

— Eu te amo... Amo vocês — Continuou, agora cheio de coragem, arriscando mais uma vez — Eu não consigo esquecer o que a gente fez até aqui, eu sei que não estamos bem, mas nada vai me fazer mudar de ideia agora. Nada.

Taehyung sentia o mesmo, estava tudo bem. Ele passou tanto tempo esperando ser correspondido por Hoseok, que agora, o encarando diretamente, tendo acesso ao seu coração daquela forma, a única coisa que passava em sua mente era que enfim tinha um lugar para si, dentro dele.

Kim Taehyung era um homem sábio. Suas promessas não cumpridas faziam parte disso. Eles tinham vontade um do outro, se queriam acima de qualquer coisa, todavia, sejamos sinceros, não iriam mudar por isso. Taehyung não aprenderia lições, muito menos Hoseok. Yoongi... Yoongi precisava de uma chance para dizer o que pensava.

— Você é tão teimoso — Taehyung mordeu os lábios, contendo um sorriso — Eu... Merda, Hoseok, eu também amo você, amo 'pra caralho, mais do que eu gostaria — Taehyung o apertou ainda mais forte contra si, sendo acertado por milhares e milhares de sentimentos. Dentre eles, uma pequena e frágil lasca do que parecia ser felicidade. Ouvir aquilo de Hoseok era cômico, retribuir para ele era ainda mais improvável — Não... Nós não vamos resolver nada agora, mas por algum motivo eu sinto que... — Deu uma pausa, sendo afogueado pelo choro, precisando também abaixar sua própria máscara — Sinto que agora teremos tempo.

Hoseok nunca em toda sua existência tinha sentido algo parecido com aquilo. Ele acenava incansavelmente, lágrimas grossas o lavando por dentro e por fora, querendo que Taehyung tivesse certeza de que sim, teriam tempo. Precisavam desse tempo.

Suas mãos foram para os braços de Taehyung, pensando em trazê-lo para um abraço. Mas foi impedido.

— Me... me beija — Taehyung se encolheu ao dizer, como se ainda temesse a rejeição.

Seus lábios já estavam quase juntos, suas lágrimas já se tornavam uma só corrente, não precisaria de um mínimo esforço, e mesmo se precisasse, talvez fizessem, talvez passassem por tudo novamente, talvez repetissem cada erro, se no fim, estivessem juntos.

Acabou que não foi simplesmente Hoseok quem beijou Taehyung, muito menos Taehyung quem beijou Hoseok. Eles se juntaram como as partes complementares de um ímã. Tão diferentes, mas que só funcionavam unidos.

Aqueles pares de mãos se tocavam com carinho e receio, as pontas dos dedos deslizavam pelos braços, cabelos e bochechas molhadas. Respirações eram engolidas uma pela outra enquanto as bocas se moviam em um beijo calmo.

Era confuso, muito confuso.

Jung Hoseok nunca teve medo de muitas coisas. Jung Hoseok nunca foi um homem acorrentado, mas também, nunca sentiu-se verdadeiramente livre.

Jung Hoseok levou uma vida para tentar curar um coração estilhaçado com tudo que podia. Com mentiras para si mesmo, com escudos, com sorrisos falsos.

Jung Hoseok suportou sua existência de cabeça erguida, sempre enxergando além do que os outros enxergavam.

Tudo isso para chegar a um fim lotado de questionamentos. Tendo a sensação de que todo um disfarce foi arrancado de si de uma hora para a outra.

Como poderia viver sem as pessoas que amava? Como permitiria que ficassem longe? Como conseguiria seguir em frente mesmo tendo perdido as páginas de um livro que ele mesmo arrancou e fez questão de queimá-las?

A questão era que o tempo permanecia virando estas páginas. Ainda que destruídas, podiam ser lidas e sentidas como um capítulo incompleto.

Com Taehyung em seus braços, fungando baixinho e roçando os lábios nos seus, Hoseok experimentava a inquietação de um sonho, diferente de tudo que já viu, incerto, mas seu peito explodia como se esperasse por aquilo há muito tempo.

Sentia que Taehyung, ao selar o canto de sua boca e sorrir minimamente em meio ao beijo, o dava uma pequena amostra de planos que o futuro lhes reservava. Quando suas línguas se chocavam, dando calor aos seus corpos, mentiras tolas sobre envelhecer apareciam em sua mente... Só que não como mentiras, mas como possibilidades.

Hoseok se sentia invencível junto à Taehyung, ou melhor, sentia-se vencido por ele. Precisava admitir que aquele homem desbravava o mundo tenebroso em sua cabeça em uma procura pelo próprio lugar.

E então ele percebia. Hoseok percebia que não era em sua cabeça que Taehyung percorria, mas em seu coração.

Mi corazón... — Sussurrou, sorrindo pequeno ao perceber que aquele apelido nunca teve tanto sentido como agora — Não fica longe de mim — Hoseok ainda tinha muito a dizer, mas talvez aquilo fosse o suficiente, por ora.

— Não pretendo — Taehyung respondeu, com lábios vermelhos, ofegantes, ainda encostados nos de Hoseok. E aquelas palavras também, para si, foram suficientes. Teriam tempo para conversar, todo o tempo do mundo. O que Taehyung precisava naquele momento, era de Hoseok. Hoseok inteiro, Hoseok de corpo e alma. Seu corpo, seus lábios, seus cabelos, seus gemidos roucos. Já tinha esperado demais por aquilo.

A cada beijo desesperado de Taehyung, a cada invasão necessitada de sua língua no vão da boca alheia, Hoseok se entregava mais, completamente, deixando Taehyung tomar de si o que tanto queria... O que sempre foi dele. Mãos em sua cintura, em suas costas, ombros, rosto. Como se os toques ansiosos fossem quase como confirmações atormentadas de que sim, aquilo estava mesmo acontecendo.

E se pudessem, ficariam por uma eternidade.

No entanto, tinham apenas quinze minutos.

. . .

— Já falou com os comandantes? — Taehyung e Hoseok retornaram à sala de espera já sem os trajes de proteção, e a partir dali, não veriam mais Yoongi, não por estarem impedidos, mas por segurança, para diminuir a movimentação no hospital.

— Já — Seokjin respondeu ao irmão, notando sua aparência abatida — Cinco vão ficar na porta do hospital monitorando todo mundo que chegar. Os turnos vão ser divididos, então na verdade serão dez pessoas — Taehyung assentiu — E dois vão ficar na porta da UTI porque não dá 'pra ser mais do que isso, além do Jaebeom que vai ficar lá dentro com ele quase o tempo todo.

— 'Tá — Taehyung suspirou, não exatamente satisfeito, mas sabia que era o máximo que poderiam fazer naquele momento — Falei 'pro Jung-jae que nosso prazo máximo é de quatro dias, Jin, nem um segundo a mais.

— 'Tô ligado, é o tempo que nós vamos ter 'pra resolver as paradas que ficaram pendentes nos galpões também... — Seokjin olhou em volta, verificando se todos já estavam prontos para ir embora — E as garotas? O que fez com elas? — Voltou a falar com o irmão, em um tom mais baixo.

— 'Tão com a Jessica e com a Chungha, as duas 'tão me mantendo atualizado e quando elas se sentirem melhor, vou conversar com elas, tentar ajudar... Não sei, ainda não consegui pensar direito.

— Ok... E o Siwon?

— 'Tá no GS. Jackson, Changbin, Yugyeom e Changkyun 'tão responsáveis por ele e pelo Heechul.

— Hoseok já sabe que o Heechul 'tá no GL? — Seokjin diminuiu ainda mais sua voz.

— Não, Jimin que vai falar com ele quando chegarmos lá.

Os irmãos encerraram o assunto quando os outros os chamaram para ir.

Máscaras foram colocadas, assim como bonés e casacos, pois não queriam chamar mais atenção que o devido.

Três carros os esperavam no estacionamento, em um deles, Seokjin e Namjoon entraram sem combinar. O que os separava do motorista era apenas uma divisória entre seu banco e o de passageiros.

O mais velho durante quase todo o caminho não desgrudava os olhos da janela, completamente aéreo, pensando nas milhões de coisas que ainda precisavam ser resolvidas.

Siwon, San, Heechul, os outros reféns... Irene. Tantos parênteses em aberto, tantas lacunas não preenchidas. Sentia que quanto mais perto do fim, mais incógnitas surgiam. E ele não daria conta de tudo sozinho.

— 'Tá pensando em quê? — A voz de Namjoon preencheu seus ouvidos, tomando sua atenção. Seokjin virou para olhá-lo, levando um tempo ao encarar aquele homem e se dar conta de mais um de seus problemas. Não conseguia dizer se era justo considerá-lo como o maior de todos.

Deixou um suspiro escapar, pensando que talvez pudesse começar resolvendo aquela parte.

— Desde quando você sabia? — Perguntou, ignorando o questionamento antes feito.

— Do quê? — Namjoon não havia mesmo compreendido, mas bastou as sobrancelhas de Seokjin se levantarem para identificar sobre o que ele se referia — Oh... Acho que todo mundo suspeitava que ela tinha um amante, mas eu só descobri quem era naquele dia mesmo.

— Desde quando sabe que ela 'tá grávida? — Reformulou, dando ênfase para o que realmente queria saber.

Namjoon coçou a cabeça, meio sem vontade de iniciar aquele assunto ali.

— Cinco dias, contando com hoje.

— E por que não me disse nada? Por que não contou só 'pra mim? — Não havia chateação na voz de Seokjin, na verdade, seu tom se parecia mais com uma curiosidade.

— Não sei... — Namjoon enrolou, fazendo pouco caso — Quis dar uma chance 'pra ela te contar.

— É mentira — Sorriu pequeno, olhando no fundo de cada orbe do outro como se as lesse com a maior facilidade do mundo — Você mente muito mal, Namjoon, pior que ela... Se quisesse mesmo dar a chance 'dela me contar, não estabeleceria um prazo, não ameaçaria ela, não se esforçaria 'pra descobrir quem era o tal amante... Me fala, o que te fez montar aquilo tudo 'pra eu ficar sabendo?

Namjoon, naquele momento, preferiu encarar os próprios joelhos.

— Não sei. Me pareceu justo na hora.

— Justo com quem? Com você?

— Sim, comigo.

— Faz sentido — Seokjin assentiu, também desviando o olhar — E... Por acaso conseguiu o que tanto queria? Valeu a pena? — Há uns bons dias que Namjoon não se intimidava mais com a maneira enigmática que Seokjin se comportava ao estar prestes a falar algo decisivo.

— Eu não acho que fiz isso na intenção de conseguir alguma coisa, mas consegui provar 'pra mim mesmo que eu 'tava certo... Percebi que tem coisas que não vão mudar nunca, sabe? — Optou por ser sincero, mas ali, naquela fala, Namjoon também havia jogado uma espécie de indireta que ocultava seus mais profundos sentimentos.

Seokjin se calou por um momento. Viu no semblante daquele homem toda uma mágoa, via resquícios de uma alma que tanto lutou por algo mas não havia conseguido nada. Nada.

Sentia-se culpado, porque realmente tinha culpa. Chegava a ser engraçado como suas escolhas o levaram exatamente para onde deveria estar, onde queria estar, mas não se achava no direito de estar.

— É, não vão mudar — Acrescentou, chegando mais perto do outro — Se você fez isso achando que teria algo de mim, que teria uma brecha 'pra nós dois ficarmos juntos, perdeu seu tempo — Namjoon sustentou aquele olhar frio, tão difícil de entender. Seu coração já não doía mais ao ouvir tais palavras, como se tivesse cansado e confortável com sua desistência — Porque não precisava ter feito nada disso. O que eu sinto por você não vai mudar nunca, Namjoon — E de um segundo para o outro, uma chama brotou naqueles mesmos olhos, lhe dando a cruel sensação de um sentido ambíguo.

Namjoon franziu o cenho, confuso sobre o que estava ouvindo. Seokjin não estava falando do que ele achava que estava, não é?

— Peraí... Não sei se entendi, eu... — Namjoon pôs as mãos na cabeça, bagunçando os cabelos em claro desconforto.

— Eu sei que deve ter sido difícil me compreender esse tempo todo, mas desde o dia em que eu fiz o acordo com você, de não nos apaixonarmos... Eu sabia que já tinha perdido. Só falei aquilo 'pra você não sair machucado, como sei que 'tá agora — Namjoon tinha a mente em completa desordem, não conseguia organizar seus pensamentos — E eu não quero que você pense que isso é uma declaração e que agora vamos ser um casal adorável dos filmes, mas cansei de tentar te enganar ou fazer você desistir de mim... Talvez você seja maluco o suficiente 'pra gostar tanto de se foder.

Seokjin acreditava fielmente em seus motivos para querer Namjoon longe dele. Seokjin era destrutivo, tinha certeza de que não merecia Namjoon, achava bárbaro fazer com que ele carregasse o fardo que era estar ao seu lado. Suportando suas falhas, engolindo sua impolidez. Seokjin estava quebrado há muito tempo, mesmo que estranhamente algo dentro de si tenha prosperado amor por aquele à sua frente, estava quebrado.

Namjoon não o via de tal maneira. Namjoon amava Seokjin, fosse por inteiro ou aos pedaços, sentia o próprio âmago gritar para que juntasse todas as peças de Seokjin em uma só, que cuidasse dele como merecia. Mas na realidade, Seokjin merecia mesmo? Namjoon estava cansado, uma raiva em descontrole subia por suas veias, o fazendo questionar o que de fato havia valido a pena.

Chegou a conclusão de que seu amor por ele não valeu.

— Eu juro que eu queria entender o que você diz, Jin.

— Às vezes é melhor que não entenda.

Namjoon não tinha motivos para sorrir, mas fazia. Olhava para Seokjin como se não pudesse acreditar em tamanha algidez ao dizer que este tempo todo, esteve apaixonado por si.

Como Seokjin conseguiu tratá-lo daquela forma então? Por todo aquele tempo?

Para Namjoon não fazia sentido, mas as coisas entre Seokjin e ele nunca fizeram sentido mesmo.

Seokjin tinha prazer em destruir seu castelo de cartas todas as vezes, o fazia pensar que nunca teriam uma próxima vez, mas Namjoon por muito tempo continuou esperando. Esperando ouvir exatamente aquelas palavras que saíam de sua boca.

Mas seu sorriso, que fique claro, não era por felicidade, mas descrença.

Se fosse há uns meses atrás, Namjoon o receberia de braços abertos, aceitando suas exigências e condições, contanto que no final ficassem juntos, contando que no final tivesse uma migalha de Seokjin.

Mas agora... Agora Namjoon conseguia apenas ver com clareza algo que sempre esteve explícito. E por mais incrível que parecesse, sua vontade era acertar um soco no meio daquela cara bonita demais para ser destruída.

Mas isso não faria Seokjin sentir tudo da mesma forma que sentiu quando foi rejeitado.

— E você? Resolveu me falar isso tudo agora por qual motivo? — Namjoon perguntou depois de um tempo, também olhando a paisagem na janela.

— Achei justo.

— Com você, 'né? — Falou rindo, vendo que o outro ainda tinha coragem de usar suas falas contra si.

— Exatamente.

Namjoon assentiu em silêncio, mas em nada concordava, nada aceitava.

— Você não tinha o direito — Disse furioso, lágrimas querendo acumular em seus olhos, mas também estava cansado de chorar — Você deveria ter guardado essa porra 'pra você, Seokjin. Porque enquanto eu fiz algo que foi conveniente 'pra mim uma única vez, você fez o que foi conveniente 'pra você desde sempre, desde a porra do infeliz dia que eu te conheci!!! — Jin não teve reação, não esperava por aquilo — Como é que você tem a audácia de abrir a boca 'pra falar que sente algo por mim depois de ter feito eu me sentir pior que merda, caralho? E ainda se dá ao luxo de me avisar que não vamos ser um casal de filme... Que se foda, Jin, que se foda! Eu nunca te pedi nada disso, eu nunca cobrei nada de você que não fosse sinceridade, seu filho da puta!!! E agora, o que é justo 'pra você, não é mais 'pra mim.

Seokjin precisava entender o que acontecia dentro de si naquele instante. Uma dor, um incômodo quase insuportável, uma vontade escrota de chorar ao ver Namjoon daquela forma.

— Do que 'tá falando, cara?! — Perguntou surpreso e genuinamente sem entender aquela explosão repentina do outro. Moveu o braço na intenção de tocá-lo, mas antes de chegar a fazer de fato, foi repelido bruscamente.

— 'Tô falando que as coisas não vão voltar a acontecer entre nós só porque você agora pode foder comigo sem se preocupar se sua mulher vai saber ou não.

— De novo isso, Namjoon?!

— De novo o caralho, Seokjin. Você é um egocêntrico de merda, adora ter tudo e todos nas suas mãos. Gostou de brincar comigo, de brincar com a Irene, que foi corajosa o suficiente 'pra fazer o que eu não fiz: te tirar de otário!!! — Gritou, cada vez mais enfurecido.

Foi a vez de Seokjin sorrir descrente pelas palavras de Namjoon, por sua postura, por ditos tão ácidos e jogados ao vento como se aquilo não o ferisse também. O que Namjoon queria de si? Um pedido de perdão ajoelhado? Seokjin fez tudo que podia para afastar Namjoon, para proteger ele, para evitar que se afogasse na imensidão podre que era, em seus problemas, em suas fissuras incuráveis. Jin não achava que tinha errado, não com Namjoon. Mas antes que pudesse pensar em retrucar, o outro continuou a dizer.

— Você acha que pode falar qualquer coisa assim, depois de todo esse tempo, acha que pode me dar qualquer migalha, como se eu tivesse te vencido pelo cansaço? — Namjoon riu de forma debochada, de forma odiosa — Não fode, Jin. Eu não mereço a tua compaixão, a tua caridade. Enquanto você não entender que essa merda não é amor, você não vai ter nada de mim a não ser lealdade, porque isso só vão tirar de mim no dia em que eu morrer, mas de resto, esquece, cara.

— Você não sabe o que 'tá falando, Namjoon.

— Não, Jin, pela primeira vez em muito tempo, eu sei exatamente o que eu 'tô falando.

— Não, não sabe, você não entende os meus motivos!

— Não entendo porque você não faz questão de explicar nenhum deles, caralho! Se você quisesse mesmo, me falaria o porquê disso tudo, mas é óbvio que não vai falar... Ou vai? — Namjoon esperou por alguns segundos, mas Seokjin permaneceu em silêncio — Pois é, Jin... E dessa forma eu também não tenho porque fazer questão de entender, de me esforçar mais do que eu já fiz. Eu não sou cego, eu não sou burro, eu sei que você esconde coisas, você acha que não mas eu sei que ontem, na reunião dos novatos, você 'tava pedindo droga 'pro Bambam, eu sei de tudo mas cansei de falar — Namjoon perdia o controle das palavras, ignorando a presença do motorista, que certamente estava ouvindo tudo — Você pode passar despercebido por todo mundo, mas por mim não.

Seokjin não tinha como retrucar algo daquele tipo, só sabia que estava exposto, que tinha sido diminuído, que seus sentimentos não foram levados em consideração.

Olhou para fora, só então notando que o carro já estacionava.

Não pensou duas vezes antes de sair e bater a porta com força, não queria que mais ninguém o visse naquele dia, mesmo que fosse impossível.

7H DA MANHÃ, GALPÃO SUL

X    X    X

Hoseok conversava com Sunmi e Jackson um pouco afastado dos novos reféns. Seokjin, Namjoon, Jimin e Jungkook o acompanhavam enquanto passava comandos para os dois e seu olhar, vez ou outra, checava Heechul e Siwon. Heechul não parava de encará-lo.

— O que foi? Quer uma foto? — Hoseok provocou, se afastando dos outros ao caminhar em direção aos dois, amarrados no chão.

— Você vem de uma família de bandidos, Hoseok, não me trate com toda essa superioridade — Heechul sorria, sangue pingando de seus lábios e dos cortes no rosto, a calça manchada de sangue na perna em que levou o tiro, envolvida na área por um torniquete — E agora, como um bom culpado, você 'tá tentando reescrever sua própria história como se seu passado não existisse. Como se as vidas que seu pai destruiu fossem insignificantes.

Aquelas palavras não eram suficientes para atravessar Hoseok, ele sabia que Heechul tentaria provocá-lo.

— Hm... 'Pra quem quis a vida inteira ser como ele, até que você sabe desprezar com facilidade... Sem hipocrisias aqui, Heechul, nós dois sabemos quem você é de verdade.

— Eu sou a razão de você estar vivo, moleque, deveria ser mais grato — Cuspiu as palavras, sempre fitando-o com desafio.

— Não. Eu 'tô vivo porque você teve milhares de chances de me matar e errou em todas elas, como se diz mesmo? — Hoseok fingiu pensar — Um fracassado.

Errei? — Mais um sorriso presunçoso, os pensamentos tiranos de Heechul foram direto para Yoongi, para a morte da mãe de Hoseok, para a morte do pai de Hoseok, para a prisão de Jimin, para Anabel e aquela criança. Heechul carregava aquelas vitórias nas costas, e as custas da dor de Hoseok — Quando conseguimos fazer um "Deus" sangrar — Fez aspas com as mãos, ainda que estivessem presas — Seus aliados deixam de acreditar nele... E ele mesmo deixa de acreditar em si... Fica mais fraco... — Heechul relaxou a postura, encostando na pilastra atrás de si fazendo daquela posição a mais confortável — Haverá sangue na água, e os tubarões virão... Ou seja, o que eu preciso fazer, já fiz, agora só tenho que ficar aqui sentado, mesmo que seja 'pra morrer, porque o mundo irá atrás de você uma hora ou outra, menino Jung.

Hoseok precisou respirar fundo ao ouvir tudo aquilo. Precisou controlar a sensação que seria capaz de lhe abater, de o transformar em um perdedor quando sua mente foi dominada pelas imagens de seus familiares, dos amigos, da família que construiu, que não eram sangue de seu sangue, mas derramavam os seus por ele.

— Ótimo, belo discurso — Bateu palmas ironicamente — Espero que do inferno você tenha uma visão privilegiada do mundo vindo atrás de mim, Heechul. Quem sabe eu não te mando lembranças?

— Não precisará mandar lembranças, em breve você vai estar lá comigo... Do meu lado, Hoseok.

— E eu faço questão de acabar com você pela segunda vez ali.

Hoseok sorriu, encerrando aquele assunto – por ora.

Todos os colegas à sua volta o miravam com olhares confusos, semblantes gritando não compreender os códigos entre aqueles dois. E realmente, havia uma parte da vida de Hoseok que nenhum deles sabia.

No entanto, que atire uma pedra aqueles que não carregassem segredos.

O que intrigou Jung foi Siwon, ao lado de Heechul, expressando igual desentendimento. Sua mandíbula ainda travada pela dor dos golpes que levou, sua mente vagando na tentativa de encontrar respostas.

Não era justo consigo. Se estava ali agora, daquele jeito, era por Heechul.

— Tem algo que eu preciso saber? — Perguntou baixo ao parceiro, quando Hoseok se afastou para buscar algo que certamente não era do interesse dos dois.

Heechul deu de ombros, desviando seu olhar.

— Nada que fosse mudar nosso trajeto. De qualquer forma, estaríamos nessa mesma situação — A resposta veio simplista, dando migalhas de importância à própria vida e por consequência, a vida de Siwon.

— Então por que não me falou? Se não mudaria nada, me diz agora, fala o que é que eu não sei! — Os sussurros tornaram-se impacientes, quase altos.

— São assuntos de família, Siwon. Assuntos que morreram junto com Jung Changho.

O Choi contorceu o rosto, nada naquilo o agradava. Jung Changho era um nome muito bem conhecido por si. Heechul, durante todo esse tempo, fez questão de mencioná-lo sempre com rancor, com um ódio para além do normal. Seus olhos se arregalavam, uma veia saltava de sua testa e suas mãos fechavam-se em punho ao somente pensar no homem.

Homem este, que Siwon sabia ser pai de Jung Hoseok. E a imagem que Heechul desenhava dele, era completamente diferente do que mostravam as notícias. Um homem rico, benevolente, admirável.

Contudo, as palavras de Kim Heechul, seu verdadeiro aliado, sobressaíram. Mesmo que agora estivesse convicto que algo não lhe fora contado.

Hoseok mais ao longe, esquentava a lâmina do canivete com a chama de um pequeno maçarico, que mais se assemelhava a um isqueiro. Atento, raciocinando junto aos dois que conversavam em cochichos, como se não pudessem ser escutados.

Mas Hoseok escutava. Escutava e planejava uma maneira de usar aquilo ao seu favor. Talvez fosse a hora de descobrirem seu maior segredo, talvez isso lhe trouxesse consequências, mas esperou tanto tempo para ter Heechul em sua frente, pronto para morrer lentamente por suas mãos, que talvez valesse a pena.

Kim Heechul destruiu sua vida incontáveis vezes, e o maior desejo de Hoseok era poder cobrá-lo por tudo, dívida por dívida.

O faria pagar por seus pais, pela morte deles. O faria pagar por Jimin e Namjoon, que tiveram suas vidas arruinadas de um minuto para o outro. O faria pagar por Anabel... Por cada gota de lágrima e cada acelerar do coração da mulher quando pôs uma arma em sua cabeça. O faria pagar muito caro por Yoongi.

— Ah não, Heechul... Vai me dizer que seu amigo não sabe? — Hoseok caminhava de volta para perto deles, o canivete sambando em suas mãos, em uma habilidade até bonita de se ver.

Heechul o encarou, feição de poucos amigos, olhos ameaçadores que disfarçavam, pela primeira vez, medo.

— Jung Changho é meu pai, Choi... Mas acredito que isso você já sabia — Hoseok passeava em volta dos dois, admirando o canivete preto fosco, tornando a encostar o maçarico na lâmina — Ele foi um bom homem. Tinha seus defeitos, é claro, mas uma coisa que eu e meus irmãos não podíamos reclamar, era sobre o pai que ele era — Ele contava aquela história como se em nada lhe afetasse. Tinha um bom autocontrole, pois toda vez que lembrava de Changho, sentia vontade de retornar no tempo e lhe dizer pelo menos uma última vez que o amava — Às vezes eu me perguntava se ele não era bom até demais com as pessoas, porque me parecia burrice acreditar tanto, ser tão esperançoso. Mas ele continuou acreditando nessa humanidade de merda até seu último dia de vida, até ser apunhalado pelas costas. Meu pai morreu sem saber da verdade.

Hoseok quase completava uma volta inteira quando parou atrás de Heechul, que tentava enxergá-lo, mas a privação de movimentos não permitia.

— Mas eu faço questão de cobrar essa conta por ele, 'né, irmãozinho? — Hoseok guardou o maçarico no bolso e se abaixou, colocando o antebraço contra o pescoço de Heechul, enforcando-o naquela chave de braço — Ele é adotado, obviamente — Sorriu com nojo ao dizer, como se explicasse àqueles que o olhavam com espanto, que Heechul jamais compartilharia do mesmo sangue que ele.

A lâmina foi diretamente para a bochecha de Heechul, o pegando de surpresa. Hoseok pressionou o metal aquecido com força na pele, seus ouvidos se preenchendo com os gritos estrídulos do homem, que se debatia e era incapaz de controlar lágrimas que escorriam enquanto era queimado a sangue frio.

Hoseok o mantinha firme, sorrindo um tanto satisfeito ao acompanhar a forma como o tecido se feria instantaneamente, começando a borbulhar ao que uma fumaça saía daquele contato com um cheiro desagradável.

Kim Heechul se contorcia pela tortura, externando o sofrimento com toda sua força ao gritar por aquele espaço, onde mesmo quem o ouvissem, jamais lhe estenderiam a mão.

Hoseok, ainda não contente o bastante, inclinou a lâmina para finalmente abrir um corte na bochecha daquele homem, que àquela altura, não conseguia mais distinguir a dor da queimadura da ardência do corte. Eram apenas gritos, gritos roucos mas resistentes, como se ele deixasse claro para Hoseok que precisaria muito mais do que tortura para vencê-lo.

— Aquele filho da puta nunca foi meu pai!!! — Heechul esbravejou quando Hoseok o soltou por alguns instantes, com fogo nos olhos.

— Cuidado com o que diz... Você sabe que deu muita sorte, Heechul... Se viveu esse tempo todo, foi por causa dele.

Siwon pressionava as pálpebras uma na outra, não queria ver aquilo, ao mesmo tempo, não se conformava com tal informação ter sido escondida por tanto tempo. Por que Heechul não falou?

— Que merda ele 'tá falando, Heechul?!?!?! — A pergunta não foi para Hoseok, mas ele quem tomou a frente para responder.

— Heechul foi o terceiro filho do nosso pai... Tirado das ruas, da fome... Da miséria — Jung voltou a andar em volta deles, olhando para o teto ao se lembrar da história ouvida tantas vezes — Eu tinha um ano de idade quando ele chegou... Ele tinha doze. Meu pai ensinou tudo que sabia 'pra ele, assim como me ensinou anos depois. Heechul se aproveitou que meu pai deu a ele o que era de mais valioso — Encarou Heechul diretamente — E meu pai foi burro de ter te dado tanto conhecimento, porque ele certamente não imaginava que nem gratidão você teria por ele, por nossa família.

— Você pode ter o sangue dele, Hoseok, mas eu o conheço melhor... E você só tem essa imagem santa dele porque sempre foi idiota demais 'pra encarar a realidade como ela era. Jung Changho me via como um soldado... Ele só via você como filho.

— Pode falar o que quiser, Heechul... Sua história de bastardo injustiçado não me comove. Eu sempre me fiz de idiota 'pra proteger nossa mãe, e você sabia disso. E sabe qual era a sua verdadeira frustração? Você queria estar no meu lugar, sempre quis. Você queria tudo que era meu. Acabou que nossa mãe morreu pelas suas mãos, mas chamando o meu nome, tentando me proteger. E você? Continuou tentando tirar tudo de mim, 'pra no fim das contas, não ficar com nada... 'Pra no fim estar aqui na minha frente, prestes a perder a única merda significante que você tem, que é sua própria vida. Que irônico! — Hoseok caiu na gargalhada, mas era apenas uma fachada para a dor que lhe consumia ao dizer aquilo.

Hoseok já chegou a amar Heechul como irmão.

— E você, Hoseok, ficou com o quê? — Heechul torceu o pescoço para o lado, sangue pingando, olhos ameaçadores como se aquela dor não o consternasse efetivamente — Porque 'tá nítido 'pra mim que sua saída foi se juntar com pessoas tão frustradas e vazias quanto você, 'pra de alguma forma conseguir pôr a cabeça no travesseiro à noite e não chorar como um bebê abandonado — O sorriso cheio de tirania brotou em seus lábios quando Hoseok mostrou-se afetado — Pode falar a verdade, isso aqui que você chama de "família" é só uma forma de não se sentir sozinho, porque 'tá na cara que nenhum deles te conhece de verdade, não sabem um por cento de quem você foi.

Hoseok precisou dedicar um breve tempo para absorver aquelas palavras, e ao se dar conta, uma escuridão tinha-o consumido. Ele não sentia mais nada senão a sobrecarga das dores que o assombravam há anos.

Lhe batia a ilusão de estar em uma vista aérea, olhando para si próprio e julgando seus pensamentos confusos, que mais pareciam com um abismo sem fim. Um abismo que o rodeava, que o fazia mergulhar em uma centena de lapsos, que trazia medo, tristeza e vazio.

Quase como se tivesse sido enterrado vivo.

Hoseok sentia que fragmentos de sua vida estavam para sempre extraviados no breu, sentia que durante uma parte de seus vinte e nove anos, havia andado sobre uma corda bamba suspensa a uma piscina de lava, sem saber no que ou em quem se agarrar, somente na busca por solo firme e seguro.

Cambaleou, se desequilibrando ao ser importunado com vozes gritantes, que estouravam seu ouvido, explodiam sua cabeça. Vozes que pediam por socorro, que chamavam por ele com desespero. Sua mãe, seu pai, Anabel, Jimin, Namjoon, Yoongi. Pessoas que precisavam dele e que não puderam contar, já que foi incapaz de chegar a tempo.

Hoseok ainda tentava se manter avançando aos poucos, mesmo quebrado, mesmo com a sensação de falha o corroendo. E ao finalmente chegar no fim do trajeto, pulmões cansados e coração disparado, a imagem deles surgia como um feixe de luz.

E então se dava conta de que já não estava mais correndo em direção ao nada. Via naqueles olhares, nos olhares daqueles seis homens, que existia um motivo para continuarem vivendo. Hoseok sorria pelas mãos estendidas para si, e agora, as vozes ressoavam baixo, sussurrando que não precisava ter medo, pois no fim, estariam lá para ele, por ele...

Afinal, eram sua família.

— Ok — Hoseok se cansou de dar ouvidos ao que Heechul falava — Coloquem ele de cabeça 'pra baixo ali — Ordenou, olhando para Jackson e Changbin.

Os dois comandantes foram até Heechul, o imobilizando com brutalidade ao tirarem as cordas que o amarravam à coluna de concreto.

O homem tentou se livrar do aperto, mas era inútil.

Changbin e Jackson o arrastaram até um aparelho que muito se parecia com uma forca. Sua estrutura era grossa e oca, toda em ferro, havendo uma corrente de aço no topo, responsável por suspender o desafortunado em questão. No entanto, Hoseok tinha motivos para gostar tanto desse instrumento, já que em sua base, ficava uma caixa que serviria como um reservatório para água que cairia aos poucos da torneira ao lado.

Heechul ainda parecia confuso, mas a dor que latejava em seu rosto e perna mal o permitia pensar direito.

Os comandantes, com uma facilidade incrível, passaram a corrente em volta de todo corpo de Heechul, verificando se haviam prendido-o com devida firmeza, para então puxarem-no pelo outro lado da corrente, o fazendo suspender de cabeça para baixo em um grito de susto e incômodo pelo aperto que lhe causava ainda mais dor.

Sua cabeça estava imersa dentro da caixa ainda vazia, seu corpo se contorcia, o sangue se concentrando no cérebro, as dores em seu rosto e perna aumentando gradativamente.

— Que porra é essa, seu moleque? — Perguntou com ódio, encarando Hoseok que se aproximava pouco a pouco.

— Hm... Nada demais, acho que prefiro conversar com você nessa posição — Hoseok não o respondeu diretamente, optando por ser irônico para testar até onde ele iria.

Siwon, ao longe, observava tudo aflito, tendo uma boa ideia do que aconteceria com o amigo.

— Primeira pergunta, foi você que mandou perseguirem o Jimin há uns meses atrás? — Hoseok tirava um revólver do coldre, deixando-o sobre uma bancada ao dividir espaços com mais outros utensílios. Dois tipos de soco inglês, um com pontas afiadas, outro com dispositivo de choque. Garrafas com alguns produtos químicos e panos ao lado.

Heechul sorriu com a pergunta.

— O que você acha? — Devolveu com deboche.

Hoseok já imaginava que aquilo era obra dele, mas ouvir a confirmação só fez seu ódio triplicar.

— E quem eram aqueles dois? Seus escravos? — Continuou com o interrogatório, pondo o soco inglês de ponta entre os dedos.

— Passo! — Respondeu animado, tratando como se aquilo fosse uma brincadeira.

— Maravilha, 'pra cada pergunta que você não responder, vai ter uma prenda.

Hoseok não esperou para acertar o primeiro soco em seu queixo, com toda força, com toda raiva.

— Esse aqui é pelo Jimin e Namjoon — Falou, já afundando o punho novamente na pele da mandíbula, que se abria em mais cortes.

Heechul tinha a respiração entrecortada, a boca banhada por sangue, praticamente sem forças para fazer piadas.

Mas ainda assim, sorriu. Se aquilo era tudo que Hoseok poderia fazer, precisava se esforçar mais um pouco.

Hoseok não se intimidou, pelo contrário, virou de costas para largar o soco inglês na bancada novamente, trocando pelo frasco de álcool setenta e um pano sujo qualquer.

Heechul, naquele momento, arregalou os olhos, temendo pelo o que pensava que iria acontecer.

— Vamos limpar isso, não quero que seu sangue podre suje nada — Hoseok falou com a maior naturalidade, desenroscando a garrafa antes de jogar sem piedade alguma no rosto de Heechul.

O homem gritava pela ardência, se debatia, olhos fechados para o líquido não bater na área. Era desesperador. O álcool penetrava em cada um dos machucados abertos em carne viva, ele sentia como se o rosto estivesse fervendo ou se desfazendo.

Hoseok gargalhava pela cena, mas não tinha tanto tempo, então só aproximou o pano, arrastando o tecido com força por todo o rosto dele, sem cuidado algum, sem pena alguma.

E Heechul permanecia gritando, aflito.

— Pronto, agora sim.

— Filho da puta!!! — Xingou, podendo abrir os olhos novamente.

Hoseok ficou em silêncio, sustentando o sorriso malicioso nos lábios.

Siwon, de onde estava, assistia petrificado, não sabendo escolher naquele momento se temia mais pela vida de Heechul ou pela sua própria, já que provavelmente aconteceria o mesmo consigo.

Na realidade, Siwon estava mais preocupado com uma coisa: San.

Onde ele estava naquele momento?

— Poupe suas palavras, Heechul... Estamos só começando a brincadeira.

Hoseok deixou o álcool e o pano na bancada, buscando agora por seu revólver.

— Sabe de quem me lembrei agora? — Fingiu pensar — Da Ana... Anabel, lembra dela? — Heechul não respondeu, parecia que as dores sugavam sua energia — Ela 'tá tão bem, Heechul, você nem imagina... Só estaria melhor se você não tivesse tirado o que era dela também. O que era nosso.

Hoseok segurou as lágrimas que quase se acumularam, mirou a arma no meio das pernas do homem e disparou ali mesmo.

A calça bege claro que vestia começou a se manchar de sangue. Heechul tentava tocar a área, mas as mãos estavam amarradas. Seus gritos, que já eram fortes, transformaram-se em lágrimas, berros agonizantes até para quem assistia.

Seokjin, Jimin, Namjoon e Jungkook, parados na porta, fizeram caretas em conjuntos, imaginando o quanto aquilo deveria ser doloroso. Não sentiam pena, entretanto.

Na verdade, seus rostos, a quase todo momento, demonstravam apenas confusão. Confusão principalmente pelo o que haviam acabado de descobrir sobre Hoseok. Queriam entender aquilo.

Seus pensamentos se desviaram quando Hoseok trocou a arma por uma estaca de madeira preenchida por pontas de ferro afiadas. Sabiam que Hoseok era sádico, mas não daquela forma. Nunca tinham visto tanto ódio em seu olhar.

— Liga a torneira — Hoseok falou para Jackson que estava logo atrás dele — Abre os botões da camisa dele — E depois olhou para Changbin, dando a outra ordem.

A água, enfim, começou a encher o recipiente abaixo de Heechul. O homem tinha sua camisa aberta, revelando a barriga quase que completamente manchada pelo sangue que escorria do meio de suas pernas. Heechul estava pálido, praticamente sem forças, respirando com dificuldade.

Hoseok... Hoseok sorria pequeno, apenas. A estaca apoiada em seu ombro, seus olhos fixos e observando a agonia no homem à sua frente.

— E essas daqui são pelo Yoongi... — Hoseok se aproximou até poder sussurrar — Que 'pra sua infelicidade, 'tá muito mais vivo que você, seu merda.

Hoseok posicionou a estaca com firmeza nas duas mãos, chocando-a no abdômen de Heechul. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Seus cabelos chegaram a ficar bagunçados, tamanha força usada.

Aquela sensação era única. Alguns diriam que era loucura, mas tinha a impressão de sua alma estar sendo roubada. Tudo que havia de mais errado se parecia com o certo, como se habitasse um espaço onde o ódio não precisasse de uma razão, apesar de naquele caso, haver milhões delas.

Heechul mentiu para Hoseok na intenção de arrancá-lo de seu lugar, tendo a audácia de derramar lágrimas agora. Lágrimas de dor, mas nunca de arrependimento.

Ele ao menos deveria ter sabido o preço de tanto mal, deveria ter pensado que se deixasse Hoseok encontrá-lo, não teria mais a quem chamar e seu trágico destino estava claro.

Morreria pelas mãos de Hoseok.

O nível da água já atingia o começo do nariz de Heechul, seus olhos já estavam cobertos, e Hoseok aproveitou que as orelhas ainda não tinham sido atingidas para ter certeza de que a última coisa que Heechul ouviria antes da morte, seria sua voz.

Antes mesmo de falar qualquer coisa, pegou um novo canivete, limpo, fazendo um pequeno corte no próprio braço e deixando o filete de sangue escorrer perto de Heechul, deixando-o se misturar com o dele.

— Não era isso que você sempre quis? Então toma, toma meu sangue 'pra você... Sente bem o cheiro e o sabor dele, que é o máximo que você vai ter — Chegou mais perto — E a partir desse momento, você vai implorar 'pra morrer de uma vez, enquanto isso, aproveita 'pra se lembrar da mamãe... Do meu pai, de tudo. E isso, é por eles. Até o inferno, bastardo.

Quando Hoseok largou a estaca no chão, a água passava a cobrir narinas de Heechul, ele se debatia de um lado para o outro, não tendo controle de sua respiração. O corpo todo ardendo, cada movimento que fazia o dando vontade de gritar novamente.

Diziam que afogamento era uma das piores formas de morrer.

Pouco a pouco, sua vida ia se dissipando daquela forma, todos acompanhando em silêncio, não tinham motivo para sorrir, mas também não derramariam sequer uma lágrima.

Quer dizer, Hoseok derramou. Uma, apenas uma.

Quando teve seu trabalho concluído, notando que aquele corpo já não se mexia mais, caminhou para fora do espaço em passos largos e apressados, não querendo que nenhum deles tivesse a chance de encará-lo.

Siwon receberia a devida atenção depois, agora não estava mais com cabeça.

Desceu as escadas quase correndo. Jimin, Namjoon, Jungkook e Seokjin foram atrás, com milhões de questionamentos fervendo seus neurônios.

— Hoseok! — Jimin chamou em voz alta. Hoseok não olhava para trás, não dava bola pra eles, continuava andando para fora do galpão até estar em um espaço completamente aberto.

Puxou um maço de cigarros do bolso, acendendo com quase desespero.

Seus amigos já em volta o olhavam esperando por respostas, esperando que aquele fosse o momento onde começaria a se explicar.

— Você não vai falar nada? — Seokjin perguntou, braços cruzados rente ao peitoral, semblante fechado.

Hoseok demorou a responder, sentia que qualquer palavra agora o faria chorar ou explodir de raiva.

— O que quer que eu diga? — Falou baixo, encarando os amigos.

— Como você escondeu uma parada dessa da gente, Hoseok? Eu achei que eu tivesse sido claro lá atrás quanto a esse tipo de segredo — Seokjin era como um irmão para si, mas às vezes tinha a impressão de que seu coração era uma pedra de gelo.

— 'Tá de sacanagem comigo? — Estava incrédulo — Eu acabei de matar a porra do meu irmão, e você 'tá preocupado com o fato de não saber desse detalhe que não faz diferença nenhuma 'pra ninguém aqui?

— Hoseok, não é só um detalhe — Jungkook interviu a favor de Seokjin — Você sabe que não é.

— Vocês acham que foi fácil 'pra mim carregar o caralho do fardo de ter um irmão como ele? Acham que eu tinha algum motivo 'pra me orgulhar e contar isso 'pra vocês? Porra?!

— Não é questão de se orgulhar, estamos falando de um juramento.

— Foda-se o juramento!! — Namjoon falou mais alto que todos — Que merda! Até quando vão usar a mesma desculpa 'pra tudo? Se esse juramento valesse tanto assim, ninguém aqui teria segredos, mas todos nós temos, todos... Incluindo você, Seokjin.

— É isso mesmo, eu ponho minha mão no fogo agora se vocês 'tiverem limpos! Eu duvido que 'tão, duvido — Jimin quem disse, olhando no fundo dos olhos de Jungkook.

Em conclusão, todos eles realmente tinham um rabo preso em algum lugar, não podiam mentir.

Não eram a porra de uma família? Então que aceitassem seus passados por mais obscuros que fossem.

No fim, decidiram em um acordo tácito que aquele não seria o momento para lavarem a roupa suja.

13h DA TARDE, MANSÃO

X    X    X

Já era tarde quando eles retornaram à mansão, todos sem dormir há mais de vinte e quatro horas. Estavam no ápice do cansaço, mas suas cabeças não os deixavam parar, não tinham previsão para o sono.

Mesmo com Heechul morto, sentiam que aquela era apenas uma fração mínima de problema que havia se dissipado em meio a uma centena de outros.

— Você precisa descansar — Taehyung falou, saindo do banho vestido com novas roupas, sentindo o corpo pesar e os olhos doerem de tanta exaustão.

— Como você 'tá? — Hoseok ignorou o comentário, mostrando mais preocupação com o outro.

Assim que chegou na mansão, Hoseok sentiu a necessidade de fugir para o quarto e se esconder embaixo da água fria. Precisava de um tempo sozinho para tentar compreender tudo que havia acontecido em tão pouco tempo.

Não tinha energia para falar sobre aquilo com ninguém ainda, não tinha estômago para lembrar de Heechul, para reviver o segredo que escondeu por anos.

Pensou que após o banho teria alguma melhora, mas não, não houve nem sinal disso. Nada aquietava seu coração, nada. Nem sua própria companhia lhe agradava. Era uma angústia insistente, chegava a ser perturbador para sua mente tão inquieta e confusa.

Foi então que algo dentro de si acendeu, não como uma grande ideia, mas como uma solução de tentar deixar aquelas primeiras horas mais suportáveis.

Chegou ao quarto de Taehyung um tanto envergonhado e desconfortável por atrapalhá-lo, mas ao ver aqueles olhos em sua direção e aqueles lábios se movendo ao pedirem para que entrasse, com um sorriso acolhedor, precisou admitir que um tanto daquela angústia havia sumido.

— Vou ficar bem, espero... Nós vamos — Taehyung tirou a toalha do pescoço, pendurando-a no cabideiro — Pode ir dormir, sério mesmo, eu 'tô de boa — Ainda não entendia o propósito de Hoseok estar ali, de qualquer forma, sentia que ele não sairia de seu quarto tão cedo, e não se agradava com a ideia de roubar seu descanso para ficar ali por obrigação, como uma babá.

Hoseok estava tão cansado quanto ele, merecia e tinha que dormir um pouco.

— Vou dormir aqui — Respondeu despretensiosamente — Claro, se você deixar.

— Aqui? Por quê? — Em sua voz, a confusão estava nítida, mas mentiria se dissesse que a ideia não era tentadora.

— Porque sim, agora vai deitar que mais tarde temos muita coisa 'pra fazer.

Hoseok se moveu no sofá que ficava de frente para a cama de Taehyung, procurando uma posição minimamente agradável. Vestia apenas uma bermuda curta e uma camisa três vezes maior que seu corpo.

— 'Tá... Mas você não vai ficar aí, 'né? — Questionou como se aquilo soasse absurdo, podia notar sem dificuldades o incômodo do outro, ainda que o sofá não fosse de fato ruim.

— Vou, ué — Continuou mostrando pouco caso, respirando fundo e os mais calmamente que conseguia enquanto ainda buscava por uma posição melhor.

— Hoseok... — Não estava gostando nada daquilo.

— Vai dormir, corazón...

Taehyung sentia-se tão moído, tão cansado de tudo, que não teve ânimo para convencer Hoseok a deitar pelo menos em sua cama, consigo. Também não queria que ele pensasse... Bom, deixa para lá.

De todo modo, foi até a própria cama, pegando um cobertor e um travesseiro para ele, pelo menos.

— Certeza que não quer deitar comigo? — Era tão estranho sugerir aquilo para Hoseok.

— 'Tô tranquilo... — Assegurou, pondo o cobertor em cima do próprio corpo — Valeu, qualquer coisa me chama.

Taehyung ainda tinha dificuldade de compreender esse novo jeito de Hoseok, que pareceu ter surgido de um minuto para o outro. Mas novamente, estava exausto demais para conseguir pensar nisso naquele momento. Só sabia que parecia ser sincero, e que com aquilo poderia se acostumar.

Hoseok ainda ficou recostado no sofá, encarando Taehyung pelo o que pareceu uma hora, até pegar no sono ali mesmo, sem muito conforto.

De repente, contudo, se viu em meio ao tormento. Imagens desconfiguradas apareciam por trás de seus olhos fechados. Havia vontade de acordar, mas algo o impedia. Palavras apareciam em forma de letreiros luminosos, quase cegantes. Gritos estridentes o torturavam, gritos conhecidos, de tantas pessoas, tantas vozes familiares. De novo aquilo, de novo.

Era tão confuso, Hoseok não podia entender, mas conseguia sentir a agonia em seu peito, tinha certeza de estar lutando para sair daquela profundidade que lhe dava tanto medo. Tentava gritar ou levantar, mas seus músculos sequer se moviam. Seus lábios pareciam estar costurados.

Algo o arrastava para baixo, lhe dando a sensação de estar caindo para o inferno, a paz de espírito menor do que nunca, sua mente sendo distorcida, um sentimento de loucura tomando conta de cada célula de seu corpo.

Hoseok estava em queda livre, lutando, lutando, lutando, mas de nada adiantava.

— Hoseok!!! — Até que finalmente despertou. A voz de uma outra pessoa em seu ouvido, parecendo tão real quanto as outras. O salvando da queda. Seus olhos se abrindo arregalados, confirmando que aquilo não tinha passado de um pesadelo.

— Taehyung? O que foi? — Murmurou, procurando por ele no espaço um pouco escuro, mas ao sentir seus toques conseguiu voltar a respirar.

Taehyung, por sua vez, segurava Hoseok pelas costas, percebendo o suor que orvalhava da pele e se transferia para o tecido da camisa, o peitoral subindo e descendo descompassado, o corpo quase fervendo.

— Você teve um pesadelo — Falou baixo, acariciando os cabelos do outro, que aos poucos se dava conta do que tinha acontecido.

— Porra, foi mal te acordar... — Se repreendeu.

— Para com isso... Vem, 'vamo lá deitar comigo.

— Hã?

— É, Hoseok... Anda logo.

Hoseok assentiu, sem energia para comprar briga, se levantando daquele sofá desconfortável com a mente ainda meio que rodopiando.

Os dois deitaram um ao lado do outro. Taehyung queria perguntar com o que Hoseok estava sonhando, mas desistiu quase no mesmo instante. Talvez não fosse o momento.

E bem, se perguntasse, Hoseok também não saberia o que responder.

— Perdeu o sono? — Hoseok falou, deitado de barriga para cima, uma distância segura separava os dois.

— Aham... Fiquei preocupado com você.

— Hoje foi um dia difícil.

Taehyung concordou baixinho, chegando mais perto de Hoseok ao deitar a cabeça em seu peito.

— Eu não 'tava conseguindo dormir, na verdade — Confessou — Você não chegou a me acordar, tem algumas coisas passando pela minha cabeça.

— Tipo o quê? — Hoseok aceitou a proximidade, passando o braço em volta dos ombros de Taehyung.

— Não sei te explicar direito, 'tô com um pressentimento ruim, sabe? O Yoon naquele hospital, mesmo que a gente tenha colocado seguranças... Sei lá. Só queria poder tirar ele dali hoje, agora.

— Eu também queria, mas o Jaebeom 'tá com ele... Acho difícil acontecer alguma coisa.

Nenhum dos dois sentia mesmo vontade de falar sobre aquilo, de cogitar a mínima possibilidade de mais uma tragédia. Mas não era como se o medo tivesse desaparecido de uma hora para outra.

Mas não precisavam daquilo agora, não mesmo.

— Precisamos dormir... Ou pelo menos tentar — Hoseok sussurrou perto do rosto de Taehyung.

Eles se encararam, compartilhando do mesmo pensamento, seus olhares desciam ao se perderem nos lábios um do outro, subiam e se trombavam, causando arrepios, os deixando nervosos como se tivessem sido pegos no flagra.

As respirações tornavam-se cada vez mais profundas e aceleradas, aqueles dois travavam uma guerra para saber quem tomaria a iniciativa, se era certo tomar alguma iniciativa.

Testas cada vez mais próximas, encostando uma na outra, bocas se umedecendo e peitos inflando de ansiedade, de algo incontrolável que crescia dentro deles.

Os feixes de uma luz quente que escapavam por entre as cortinas, permitia que Hoseok visse Taehyung prendendo o lábio entre os dentes, e estes mesmos feixes, permitiam a Taehyung ver Hoseok apertando os olhos como se não tivesse mais domínio sobre si.

— Quero beijar você de novo — Confessou, alisando os cabelos de Taehyung com certa força, inquieto, se deixando levar por aquele corpo tão aquecido, pelo cheiro de sabonete fraquinho.

Era irresistível.

— Então beija — Foi um sussurro, e ninguém teria ouvido além deles.

Hoseok chegava a se envergonhar pelo quão estava desesperado por aquilo, não à toa que suas bocas se chocaram com quase violência.

Uma mão de Jung foi direto para o pescoço de Taehyung, o trazendo para ainda mais perto de si. Se beijavam lento e profundo, as línguas cheias de agressividade e possessão, os fazendo delirar ao finalmente se sentirem prontos para ceder àquele desejo todo.

Gemidos eram abafados, braços e pernas se entrelaçavam como se aquele contato das bocas não fosse o suficiente, como se aquilo não fosse capaz de atender todas as vontades, como se precisassem de mais e mais toques para acreditarem mesmo que não estavam em meio a um sonho.

Suas línguas se moviam com urgência, o frio parecia não ter mais efeito algum em seus corpos que pegavam fogo, ardiam.

Taehyung tinha as bochechas enrubescidas ao perceber as reações de si mesmo, mas estranhamente não era mais tão desconfortável se emaranhar no que Hoseok causava em si. Ele apenas permitiu que seu quadril se inclinasse até a ereção, que se formava aos poucos, encostar em uma das coxas do outro.

Não falavam, não tinham o que falar, não sabiam o que falar. Tinham medo que qualquer mísero dito estourasse a bolha que se enfiaram - não tão - propositalmente.

Hoseok continuava com uma das mãos no pescoço alheio, levando a outra para dentro de sua camisa, tateando a pele macia, arranhando as costas com a pontinha das unhas aparadas. Sorria pequeno quando os pelinhos de Taehyung se eriçavam, sentia um incômodo na espinha quando Taehyung passava a se esfregar em sua perna e temia ao que aquilo poderia os levar quando notou o desconforto na própria bermuda.

Deveriam parar, prometeram que teriam tempo para isso, para tudo.

Mas era tão bom. Era diferente de todas as outras vezes, seus corações esmurravam em batimentos frenéticos, as mentes se desviando de toda tristeza, de todo medo que ainda sentiam.

Sobrava amor. Podiam ter dificuldade em aceitá-lo, mas queriam se arriscar e experimentar o que ele podia fazer.

Taehyung se moveu na cama até estar montado em Hoseok, recusando um mínimo afastamento de suas bocas. Hoseok lutava consigo mesmo para resistir, para saber a hora em que precisava interromper aquilo.

Suas mãos arrastaram-se das coxas de Taehyung para as nádegas cheias de carne, esmagando-as em seu aperto. E um gemido alto que Taehyung não conseguiu segurar, foi o que despertou Hoseok daquele transe.

Corazón... Corazón... — Sussurrou, Taehyung não entendeu de início, posicionando sua ereção exatamente em cima da de Hoseok, friccionando para baixo, para cima, querendo dar prazer para os dois — Porra... Tae... Assim não.

Hoseok o segurou pela cintura, interrompendo qualquer novo movimento.

— O que houve? — Taehyung se sentia zonzo, pensava que tinha passado dos limites — Eu fiz alguma coisa?

Hoseok o colocou ao seu lado novamente, invertendo as posições e deitando metade de seu corpo sobre o dele, agora mais calmo, ou tentando se acalmar.

— Não... Mas a gente ia fazer — Murmurou em seu ouvido, deixando selares pelo rosto, ainda acariciando seus braços — 'Vamo fazer as coisas direito dessa vez.

Taehyung poderia ficar chateado, mas do contrário, apenas sorriu, assentindo.

— Acha que ele ficaria puto? — O mais novo perguntou, devolvendo os beijos no rosto de Hoseok.

— Não é sobre isso... É sobre a gente — Suspirou, dando uma pausa — Sobre como nós dois ficaríamos depois. Eu fui sincero quando disse que te amo, Taehyung, e quero te provar isso... — Mais uma pausa, um desvio de olhar — E queria que você me provasse também.

Hoseok precisou dizer aquilo. Ele queria Taehyung, queria mostrar que estava mesmo disposto, que faria de tudo para ele acreditar no que sentia. Mas... Mas não podia fingir que não havia escutado nada dias antes. Em sua mente, ainda ressoava a voz de Taehyung dizendo que não confiava nele, que ele era manipulador, oportunista.

Estava interrompendo aquilo também por si mesmo.

Taehyung se aconchegou mais perto de Hoseok, puxando os cobertores para cima dos dois.

— Nós vamos ter tempo 'pra isso...

Hoseok sorriu se aproximando pela milésima vez naquele dia, deixando um beijo suave nos lábios alheios.

— Quer fumar um? — Sugeriu à Taehyung, que estranhou a oferta, mas riu em seguida.

— Da última vez que fizemos isso juntos eu odiei — Fez bico, se espreguiçando na cama.

— É... — Hoseok pareceu pensar — Mas pode ajudar a gente a dormir.

Taehyung acabou concordando e os dois foram para a janela, acendendo um baseado e o dividindo até que terminasse.

Esperavam que com aquilo pudessem de fato dormir um pouco melhor, porque quando precisassem acordar, não sabiam quando poderiam dormir novamente.

💣 💣 💣

nem demorei dessa vez, primas! me digam o que acharam desse cap, deixem mtos votinhos e comentários! esse cap foi um pouco menor que os outros mas era justamente pra focar nos vhope nesse primeiro momento, espero que tenham amadoooo <3 bjos e até a próxima

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