INDOMÁVEL ✧ HOUSE OF THE DRAG...

By jhopiest

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INDOMÁVEL; a única palavra digna para definir os filhos da fênix ╾ Daenerys Velaryon era certamente a pior de... More

≭ INDOMÁVEL
⸻ graphics : almas indomáveis
ATO UM ⸻ PRIMAVERA DE NARCISO
❦ 01 : ❛Sombras do Passado❜
❦ 02 : ❛Casa do Dragão❜
❦ 04 : ❛Belas Criaturas❜
❦ 05 : ❛Romeu e Julieta❜
❦ 06 : ❛Canto da Sereia❜
❦ 07 : ❛Rainha do Amor e Beleza❜
❦ 08 : ❛Vicissitudes❜
❦ 09 : ❛Câmara dos Sussurros❜
❦ 10 : ❛Conquista Digna❜
❦ 11 : ❛Pequenos Sinais❜
❦ 12 : ❛Eterno Deleite❜
❦ 13 : ❛Marés Ardentes❜
❦ 14 : ❛Inundação Valiriana❜
❦ 15 : ❛Legitimidade❜
❦ 16 : ❛Estilhaçados❜
⚘ EXTRA ▏ ❛Laços de Sangue❜
❦ 17 : ❛Arte do Caos❜
❦ 18 : ❛Língua do Diabo❜
❦ 19 : ❛Pacto da Ruína❜
❦ 20 : ❛Baile das Donzelas❜
❦ 21 : ❛Alma Profanada❜
❦ 22 : ❛Verdades Secretas❜
❦ 23 : ❛Sangue do Dragão❜
❦ 24: ❛Noite Estrelada❜
❦ 25 : ❛Doce Dissabor❜
❦ 26: ❛A Guarnição dos Dragões❜
❦ 27: ❛Inseguranças❜
❦ 28: ❛Valsa dos Corações❜
❦ 29: ❛Suplício Maternal❜
❦ 30: ❛Vingança Esmeralda❜
❦ 31: ❛Promessas Desfeitas❜
❦ 32: ❛A Bela e a Fera❜
ATO DOIS ⸻ SEMENTES DE ÉRIS

❦ 03 : ❛Veneno da Safira❜

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By jhopiest

↳ ❝INDOMÁVEL ¡! 

❛doin' time— lana del rey

or 

breakfast — dove cameron

. . . . . ╰──╮╭──╯ . . . . .

Seus dedos passearam o tecido verde musgo, tateando-o, analisando a primorosa cor característica dos rivais de sua família tingirem o majestoso vestido dado em seu aniversário de treze dias de nome vindouro da própria Rainha. Nas palavras de Alicent Hightower: "Uma bela dama deve portar uma armadura à sua altura" em uma forma de conquistar a afeição de sua sobrinha, Daenerys Velaryon.

Isso é claro quando as marés eram favoráveis e a mulher pouco detinha conhecimento que sua mãe, Deianyra era uma aliada de Rhaenyra. Entretanto, o presente estava sob seus domínios, um grandioso e escandaloso: era o vestido verde de sua juventude que usou no casamento de Rhaenyra e Laenor ao declarar guerra enquanto carregava honra Hightower.

Uma relíquia, um achado, uma carta — Daenerys guardava o traje para utilizar na ocasião correta. Ela suspeitava que um dia chegaria a hora em que ela, a princesinha com língua ferina e aura charmosa deveria declarar seu próprio apoio e soube que Alicent gostaria de dar-lhe a oportunidade de unir-se à ela mais cedo do que deveria.

Para a jovem Princesa, era um memorando de que deveria sustentar sua força intelectual, afiar seus sentidos aos arredores e garantir que o mínimo de ações suspeitas fossem estivessem ao seu alcance. Imersa em seus devaneios, desapercebeu a movimentação em seus aposentos — os quais anteriormente eram de Rhaenyra Targaryen —, a morena acreditou ser apenas uma de suas servas adentrando o recinto ou apenas seu felino de pelagem branca pulando nos cômodos.

— Será que minha irmãzinha finalmente vai usar verde ao invés de azul? — a voz masculina atraiu atenção ao virar-se, deparando-se com seu irmão, Baelon. O Príncipe estava sentado sobre os lençóis recém trocados carmesim. — É extraordinário como uma mera vestimenta significa tanto em uma sociedade em que alguns morrem de fome enquanto as mulheres da corte se preocupam com a cor do vestido.

Havia uma verdade ácida em torno do sorriso ladino que concedeu. Baelon passeou o olhar brevemente sobre o vestido, recordava-se da euforia de sua irmã ao receber um vestido da própria rainha — mesmo que no fundo ela soubesse de suas intenções.

— Parece que aprendeu a ser sorrateiro ao entrar nos locais, querido irmão — a Velaryon reparou no quão silencioso infiltrou-se no cômodo. Baelon apreciava a companhia de sua irmã, deve ser dito que, de todos os irmãos, Daenerys possuía a personalidade mais similar consigo. Os dois deleitavam-se em pequenos sinais, articulados que lhe instigavam a calcular as ações de outras pessoas e ao se reencontraram souberam que o passatempo tornou-se um vício. — Afiou sua língua e opiniões, se tornou mais cínico nos últimos anos.

Baelon não fez questão alguma de ocultar o micro sorriso em sua expressão.

— Particularmente, essa rivalidade tão ridícula quanto às guerras que assolam as terras da coroa e ninguém parece dar a importância por não afetar suas vidas — destilou Baelon, o ressentimento em mencionar os conflitos da Triarquia que remanescem das cinzas transbordou de suas palavras.

— Meu caro irmão, ó nobre e intelectual não lutou como um herói? — ela atreveu-se a usar ironia. Unindo a sobrancelha, querendo saber, o motivo dele, o irmão mais pacífico entre todos, teria oferecido-se para agir em uma guerra. — Que eu saiba, vovô não o obrigou, tampouco nossa avó.

— Para que eu concretize minha opinião, foi necessário vivenciar, não quero ser um tolo falando sobre vivências que nunca experimentei — o Westerling disse, como se fosse a situação mais óbvia possível. Pelo menos, à ele, era. — Todos que lutam a guerra perdem, os que saem vitoriosos estão tão destroçados quanto os mais fracos, os que permaneceram neutros parecem deuses em meio ao caos, algumas casas detém ciência disso, outras apenas querem uma guerra para ascender ao poder.

Quis respirar fundo. Baelon era um idealista nato — ele queria um mundo ideal. Em certo ponto, recordava-lhe do mais velho dos irmãos, Príncipe Maegor que igualmente detinha ideias de como o mundo deveria ser e não. Ao contrário de si, Daenerys era prática, abominava a realidade mas a engolia como um prato frio, se digerisse quente com ambições e sonhos delusionais teria uma indigestão e seu estômago arderia ao afogar em ilusões quando lidasse com a realidade.

Para sobreviver, agiria e faria o que não achava moralmente correto — essa era a realidade. A Velaryon passou tempo demais fechando seus olhos na infância com livros em suas mãos, em contos de fadas, em aventuras com cavaleiros justos que salvam donzelas e enfrentavam magos perversos para observar que a realidade era, sem dúvidas, árdua e decepcionante.

— Enquanto homens existirem, eles tentarão se destruir por poder e arrastar os que estão à sua volta, é inevitável evitar a menos que tome as rédeas sozinho — declarou Daenerys, existia uma verdade dolorosa ao perfurar as expectativas do irmão. Ela não havia herdado o traço de seu pai em crer que poderia consertar o mundo.

Seja plebeu ou nobre, todos são passíveis de cometer atrocidades. Pensava ela. Daenerys sabia que sua mãe era a única a participar — agora — do pequeno conselho com uma tarefa de favorecer o povo em suas decisões, tanto que, esforçava-se ao máximo para dar-lhes algum privilégio em meio às taxas pagas com suor que pingava a terra. Embora, parte deles após o casamento de sua mãe com Rhaenyra e Daemon Targaryen possuíam opiniões controversas que mancharam a imagem de sua mãe, não deixariam de negar ao menos terem conseguido um pão decente e um teto sobre suas cabeças.

Eles também não eram santos. Ela, diferente de seus irmãos, enxergava o detalhe. Os plebeus não perderiam uma sequer oportunidade de pisar em cima da cabeça um do outro se isso lhes garantisse viver melhor, não perdiam uma oportunidade de unir-se em uma praça pública para enforcar um condenado e assistir barbáries como entretenimento como preferia morrer a ajudar o próximo.

A corte, o povo, as casas e cada pedaço habitante em Westeros precisava ser disciplinado, era o que Daenerys Velaryon pensava. Por mais que suas opiniões, deveras controversas, seja em qual polaridade política fosse, preferia manter a si mesma, não acreditava que teria um dia poder o suficiente para tornar realidade o que desejava, preferia não perder tempo em devaneios.

A linha de frente estava infestada com demônios o suficiente para serem enfrentados.

— Uma mera cor simboliza mais do que isso, representa história, honra e glória dos que usaram como um manto de vitória ou derrota, é como soltar um grito de guerra ao silêncio — lembrou Daenerys, deixando o vestido esverdeado ao olhar-se no espelho, trajando o vestido azul para simbolizar a casa de sua mãe, uma pura Velaryon. Ou, assim acreditava que era.

— Depois de tanto tempo, essa deveria ser o último assunto a tratar com seu irmão, vem aqui..— Baelon quis afastar o assunto, dando dois tapinhas no lugar ao lado dele.

Daenerys riu com a ação, lembrando-se de seu avô, Corlys quando eram crianças e o mais velho queria falar com algum de seus netos próximos à lareira.

Caminhou ao lado do irmão mas, não perdeu tempo ao passar os braços na cintura do mais velho, afundando seu rosto no pescoço do loiro, fechando os olhos. Ela sentia falta do zelo, do carinho do mais cuidadoso de seus irmãos — costumava cuidar de Aragorn e ser perturbada de uma forma única por Maegor mas ninguém poderia substituir o quão protetor Baelon poderia ser consigo.

— Se alguém da corte nos ver nessa situação, dirá que está traindo sua noiva antes mesmo de casar — comentou a protagonista, sentindo o afago do mais velho em seus cabelos. O Westerling riu soprado do comentário, em negação. — Acha que estou inventando falácias?

Afastou-se ligeiramente do corpo do loiro. Sua expressão dramaticamente incrédula, em notória zombaria com o ceticismo do irmão. Baelon limitou-se a sorrir fraco, negando.

— Quem você estaria traindo? — arqueou a sobrancelha. Daenerys revirou os olhos com o comentário. De todos os irmãos, Baelon era o único noivo. Para todos, certamente era o filho perfeito com sua vida encaminhada mas, ele não ficava quieto quando o assunto era sua irmã mais nova, pronto para meter-se em sua vida. — Fiquei curioso sobre quem estaria planejando casar-lhe mesmo que meu palpite por anos tenha sido Príncipe Aemond, parece que muito divergiu nos últimos anos.

Enrugou sua expressão, em ultraje e horror. Cada vez que o nome de Aemond Targaryen lhe era citado, uma sensação dolorosa lhe percorria o peito — suspeitava ser ódio mas era mais melancólico que o sentimento de fúria. Seu interior era envenenado por amargura, dor e uma sensação agridoce.

Ela irritava-se por Aemond conquistar tais sensações em seu interior, preferia ser apática à sua presença mas, era impossível.

— Não cogite essa possibilidade nunca mais — inflexível, seus olhos tornaram-se frios. Baelon reconheceu aspereza na língua de sua irmã. — O passado deve permanecer enterrado.

O Príncipe pouco agradava-se com aquilo. Deveria ser um dos poucos, senão o único, que ainda esforçava-se para juntar os cacos de uma família caótica — não haviam dúvidas pelos motivos pelos quais Viserys era tão apegado ao garoto que agora era um homem.

— O futuro e passado estão interligados, não terá descanso se não resolver suas pendências — o Príncipe lembrou.

— Quem disse que tenho pendências? — arqueou as sobrancelhas, em desconfiança.

— Seus olhos de safira — sentiu o sangue gelar, ela não era chamada com o apelido. Baelon reconheceu, semicerrando o olhar: — Era dessa forma que ele chamava, não era?

— Dessa forma, irei achar que está conspirando para nos unir — disse, semicerrando o olhar. — Por algum acaso nossa mãe falou algo com você? Ainda tenho a impressão que ela...

Daenerys parou de falar, atraindo o interesse de Baelon. Ele ficou particularmente interessado e curioso no que teria ocorrido com a relação de Aemond e sua mãe após tantos anos — ele ainda recordava-se do quão próximos eles eram.

Embora muitas vezes ficasse afogado em ciúmes, adulto e ao lado de sua mãe, mais velho não pode criar uma ligação profunda como desejava com a mais velha mas, ele apreciava o carinho que lhe era dado — de alguma forma ele ainda tinha um ligeiro ressentimento infantil por Aemond Targaryen mas não deixava isso afetar suas relações.

— Peço para que tome cuidado com seu coração — tocou o ombro da irmã, cauteloso. Ela permitiu um sorriso escapar. Seu irmão achava que ela era como um pedaço de vidro, não cristal, ele temia que ela se partisse em diversos pedaços e se perdesse eternamente. — Embora oculte seus sentimentos, por não os desejar sentir, acredito que deva experimentar, irá o despedaçar se pôr muita pressão de uma vez, digo por experiência própria que não é nada saudável.

Nenhum dos dois seguiria o conselho. Eles eram teimosos e armavam-se com a apatia, utilizando suas próprias mentes como a artilharia. No entanto, existia uma verdade perturbadora, Daenerys Velaryon nunca poderia diagnosticar seus verdadeiros sentimentos porque os camuflava — ela temia a verdade — e captava os de seus arredores, deve ser dito que suas habilidades não eram meramente normais.

Ela era bela? Era uma resposta óbvia mas, nenhum homem em sã consciência agiria de forma desenfreada apenas pela beleza de uma mulher. Existiam atributos invisíveis ao olho nu, os quais permeiam sua aura — ela particularmente não sabia se era uma benção ou maldição.

Em sua infância, sofreu um incidente em que quase afogou-se até a morte em um lago com propriedades desconhecidas — diziam ser parte de uma lenda — e, ela recordava-se claramente de ter sido salva por mãos não humanas, uma verdadeira sereia que murmurou palavras para si e desde então nunca havia sido a mesma, ela não sabia se havia recebido uma benção ou maldição.

Daenerys enfeitiçava homens. Ela poderia sentir em sua pele quando era puramente o encanto pairando de seu interior e afetando outros mas, ela temia que, os que amassem o fizessem apenas por tal habilidade — um dos motivos pelo qual sempre temeu permitir seu coração sentir todos os sentimentos possíveis por Jacaerys Velaryon.

Ela descobriu ser incapaz de manipular os que lhe amavam, de forma pura, o detalhe particularmente lhe deixou aliviada mas, o medo ainda existia. Para que não pensasse na extensão de suas habilidades e muito menos nas implicações sobre seus próprios sentimentos, mantinha a sete chaves todas as suas inseguranças, focando no que poderia beneficiar ela e sua família.

— Senti muito sua falta — admitiu Daenerys, lamentava que seu irmão não tivesse permanecido nas Terras Médias com o resto de sua família.

Ele sorriu.

— Eu também, minha irmã — distraiu-se por segundos sobre as palavras mas, sendo pego de surpresa novamente pela domadora de fênix.

Daenerys detinha uma pergunta coçando na ponta de sua língua.

— Falou com Aegon? — perguntou a Velaryon. Baelon franziu o cenho, surpreso com a pergunta.

— Não me diga que é por ele que está interessada — a fala arrancou um semicerralhar de olhos, uma expressão incrédula. Baelon ergueu a sobrancelha, dando de ombros com naturalidade: — O que acha que irei pensar com todo esse suspense?

— Ele foi seu amigo mais próximo por anos, é normal que eu fique curiosa — justificou Daenerys mas, surpreendeu-se ao ver a expressão carrancuda do loiro com a menção ao Targaryen.

— Não há nada para se ter curiosidade. Nossos avós impediram que trocássemos cartas e perdemos contato muito tempo atrás — o Príncipe exibiu descontentamento. Baelon não negaria que, Aegon havia sido seu melhor-amigo e responsável por tornar seus dias na Fortaleza Vermelha mais suportáveis com as peripécias desmedidas mesmo que, fosse um garoto correto, ele divertia-se mas, eles não eram mais crianças. — Agora pouco parece ser adequado ter uma amizade com Aegon, nós dois mudamos, seguimos caminhos opostos.

— Não houve mudança alguma — Daenerys tocou a mão esquerda de Baelon. — Você, meu irmão, se tornou mais perspicaz sobre seus arredores.

O Príncipe Westerling concordou, maneando a cabeça.

— Parece que todos estão aprontando o castelo para uma recepção de convidados vindos distantes, eles vão comparecer à comemoração de nosso dia de nome e Helaena. Teremos um singelo baile, parece que estavamos de volta à rotina da corte — Baelon disse, recordando-se de quando percorreu os corredores da Fortaleza Vermelha. — Minha querida irmã sabe o que deseja de aniversário?

Um sorriso grande cobriu sua face, o entusiasmo da Velaryon fez Baelon ser incapaz de ocultar um sorriso ao vê-la agir como uma verdadeira criança com olhos brilhantes.

— Quero que se torne próximo de Maegor — a fala desfez o semblante suave de Baelon, fechando-o de imediato.

— É complicado, Daeny. Sabe disso — ele forçou um sorriso.

— Quanto mais tempo adiarem isso, será mais árduo, não precisa ser, deixa que eu os ajude a...— Daenerys fora interrompida por um afago em seus cabelos, acompanhado de uma negação, fazendo-a soltar o ar, em frustração.

— Realmente tenho sorte de ser seu irmão mas, saiba que eu lido com meus assuntos sozinho, agradeço por ser a mais próxima de mim, pequena sereia — ele chamou-a pelo apelido que a anos fora enterrado, ela recordava-se do incidente em que salvou Aemond de se afogar em um lago quando Aegon gargalhava e Baelon em desespero corria para que Sor Criston os encontrassem.

Existiam muitas memórias enterradas. Ela pensou, respirando fundo ao ceder ao irmão mais velho que apenas beijou sua testa, mencionando que teriam o dia livre já que sua mãe, estaria ocupada em reuniões a pedido de Rei Viserys — Daenerys viu aquilo como um passe livre para explorar lugares onde ainda nunca havia ido.

Seu fiel escudeiro de aventuras perigosas iria, seu irmão mais novo, Aragorn. Eram convincentes o suficiente para ludibriar seus escudos juramentados com uma mentirinha. Daenerys queria visitar um orfanato específico em Porto Real — ela escutava histórias de seu pai sobre o lugar que alegou ter uma menininha ruiva a dizer quando sua mãe estava grávida e intrigou-se em vê-lo.

Em meio aos corredores, encaminhando-se ao dormitório do irmão, caminhou por entre os lugares que sua memória lhe recordava — apreciava as extremidades dos castelos com pouquíssimos guardas que costumava escapar quando era uma criança deveras travessa. Um tanto distraída ao andar, escutou um movimentar até que uma cabeleira de cabelos brancos atraiu sua atenção de forma inusitada.

Aegon Targaryen.

O Príncipe estava em um estado deplorável, parecia ter vindo da cidade e sua expressão gritava ressaca, indicando ter bebido tanto que poderia ter desmaiado em uma vala qualquer — ela não duvidava nada que fosse na Rua da Seda. Seus cabelos bagunçados, fios desordenados e olheiras profundas, o cheiro de álcool emanava de suas vestes e esforçava-se para passar despercebido.

— Daenerys? — ele pareceu ter visto um fantasma ao vê-la, empalidecendo-se por completo.

Daenerys quis rir ao ver que Aegon envergonhou-se de seu estado miserável. Quando mais novos, ao passar pela puberdade, ela recordava-se do quanto o Príncipe dedicava-se à própria aparência e as fofocas diziam que era por conta da Princesa Serpente — aquela que andava tão impecável quanto uma Safira.

Aegy? É você mesmo? — ela atreveu-se a chamá-lo pelo apelido que criou quando desejava alguma coisa dele. — Céus, você está bem?

O Targaryen engoliu em seco ao escutar a voz doce em sua direção. Isso é claro, porque ele sentia falta do apelido, de sua voz, de cada pedacinho e a sensação única que sentia em seu interior. Seja qual fosse a versão distorcida do que era amor na mente de Aegon Targaryen, ele estava certo de que era o que sentia por Daenerys Velaryon — era apaixonado desde que pôs seus olhos sobre ela.

— Eu bem..estava do lado de fora do Castelo e veja...— Aegon enrolava-se em suas palavras, como fazia na adolescência diante Daenerys. Ele condenava-se pela ação, porque a desejava tão ardentemente que nem mesmo Sunfyre poderia ser tão quente quanto suas intenções.

A Velaryon ergueu a sobrancelha, inclinando-se em sua direção, com um sorriso divertido pintando os lábios cobertos por uma tintura de morangos frescos.

— Estava se divertindo? — ele ficou sem graça sobre o questionamento mas, o jeitinho que ela indagou mexeu consigo. Aegon forçou uma risada, nada a respondendo para não passar algum tipo de vergonha, recordando-se do que uma vez sua mãe lhe disse: "se não tiver nada de útil para dizer, que não diga nada que lhe comprometa".

— Desde que chegou, mal conversamos direito. Imagino que durante a comemoração de hoje, possamos nos divertir juntos, beber um pouco de vinho — Daenerys quis dar uma risada sincera, incrédula em como Aegon poderia beber mais estando tão decadente. — Podemos dançar, garanto que ainda sou o melhor dançarino de meus irmãos.

Como se você conseguisse andar em uma linha reta, bêbado imundo.

Ela cedeu-lhe um sorriso dócil, doce ao concordar.

— Prefiro que não beba até lá, inclusive hoje — ele arqueou a sobrancelha com o comentário e, a Velaryon fingiu uma timidez desviando o olhar por segundos, retornando à ele. — Fico preocupada com sua saúde, não está com dor de cabeça? É agradável que se divirta mas, precisa se cuidar. Caso contrário, como irá ocupar sua posição como príncipe de forma apropriada?

Preocupação. Ele sentia falta daquilo. Sua carência afetiva de palavras como aquela era dolorosa. Daenerys expressava-se com zelo — mesmo pouco querendo exibir aquilo — e Aegon soube que talvez pudesse permanecer sóbrio, enquanto ela lá estava por perto.

— Está falando como se fosse minha esposa, Daeny — Aegon acabou por sorrir, deixando as palavras escaparem, desejando uma reação de tais palavras ao continuar: — Sua preocupação me é muito querida, se meu bem estar é de seu interesse, o mínimo que posso fazer é retribuir e fazer meu melhor para que não a preocupe.

Morda a isca, desgraçado. Pensou Daenerys. Ela não achava que seria tão fácil. Em nenhum segundo precisou usar suas habilidades mais atrevidas e ocultas para o envolver ao seu redor e, havia um senso que massageava seu ego ao saber que Aegon era verdadeiramente apaixonado por anos.

Ela sabia que não era correto mas, Daenerys não era um exemplo moral — não era uma heroína e não começaria com bons votos e palavras gentis.

— Sendo assim, cuide-se propriamente. Se não, irá forçar-me a cuidar de você, de uma forma que não acredito que gostaria. Peço desculpas se pareci como uma esposa incomoda, eu apenas..— ela fez uma pausa, os olhos cor de safira fixaram-se nos de Aegon. Ele sentia-se preso, mais do que nunca à ela, Aegon deleitou-se na sensação de alguém querer cuidar dele mas, foi a declaração da protagonista que mexeu com sua mente. — Senti sua falta e espero apenas que o melhor aconteça em seu caminho.

O Targaryen vislumbrou bochechas corarem, havia sido a primeira vez que viu-a de tal forma ao seu redor e cada vez mais uma esperança crescia em seu interior. De repente, ele soube, ele a queria — de novo e de novo —, mesmo achando ser impossível sentir o sentimento em seu interior, quis tê-la, não como uma de suas meretrizes ou amantes temporárias, quis a tomar como sua esposa.

De repente, um lapso de esperança surgiu. Ela não era prometida a ninguém, pensou ele. Por hora, no momento, soube que ele também não era — sua mãe falhou em dar-lhe o que queria quando mais novo — e, deu-lhe coragem para indagar uma pergunta ainda mais ousada.

Ou, sua sentença de morte.

— Soube que recebeu e ainda recebe muitas propostas de matrimônio e não aceitou nenhuma delas. Por acaso..— ela o interrompeu, de imediato, Daenerys não queria dizer de forma clara seus objetivos ou, os que Aegon imaginava que ela teria.

Deveria permitir detalhes em entrelinhas para que pudesse dissimular suas intenções se estivesse em risco, era uma ação que flagrou sua mãe fazer com Alicent.

— Decidi esperar — dessa vez, ela travou mais contato visual que antes. — Em Porto Real, creio que seja impossível que o faça por mais tempo. Quem sabe uma proposta apropriada orgulhe à mim e minha família, gostaria de um marido que pudesse amar e cuidar incondicionalmente mas, não acredito que meu coração esteja ancorado no cais das Terras Médias, ele sempre esteve sobre a Fortaleza.

Como uma boa moça de educação mais refinada feito uma princesa respondeu-o. Aegon imaginava que não teria como ela ser mais explícita, não era uma meretriz ou tão atirada, essa era a visão que o Targaryen possuía de Daenerys. Ela era mais do que uma flor delicada, ela era uma coroa de flores. Por vezes, ele se perguntava se Daenerys conhecia seu próprio poder, mal sabendo que era ele a estar enganado a respeito de sua amada.

De imediato, recordou-se de quando roubou-lhe um beijo aos treze. Da sensação afobada que invadiu seu interior e como teria tido mais se não fosse pelo desgraçado de seu irmão, Príncipe Maegor. O Targaryen sentiu-se no direito de tê-la como sua esposa, como a mulher que lhe daria filhos e ele poderia se reconstruir e provar à sua mãe que poderia ser alguém sem a maldita aprovação que tanto rastejava desde sua infância — quem sabe fizesse seu pai engasgar-se em seu próprio veneno ao unir-se à filha da mulher que ele respeitava —, seria como a realização um sonho.

Se ele teve seu primeiro beijo, seu primeiro toque. Por que não poderia ter mais? Foi o que pensou.

Aegon Targaryen cedeu-lhe um sorriso concordando, adicionando discretamente ao fitá-la, fazendo a protagonista saber que ele havia caído completamente em sua armadilha: — Uma princesa deveria casar-se com um príncipe, é o mais apropriado.

Jacaerys isso é um sinal pra me pedir minha mão. Pensou Daenerys comicamente em seu interior.

Eles fitaram-se. Aegon admirou-a antes de ver Daenerys olhar para trás de si, ela notou que haviam duas figuras no campo de visão: Sor Arryk, o escudo juramentado do Príncipe que aproximava-se, provavelmente atrás do beberrão e Larys Strong que parecia observar a cena.

O aleijado é um problema. Pensou Daenerys e seus olhos de águia reconheceram a postura, ele era particularmente assustador quando todos os príncipes e princesas eram crianças mas, por algum motivo, em seus dias de mocidade ele parecia repugnante, existia algo particularmente nojento.

— Se está fugindo de seu guarda juramentado, aconselho sair imediatamente — alertou o príncipe de cabelos brancos que nem mesmo virou-se, fechando os olhos com força, concordando. — Se cuide.

Aegon sorriu em sua direção, em seu típico ar galanteador — mesmo aos pedaços —, o que arrancou uma risadinha da protagonista. Em poucos segundos após ele desaparecer de sua visão, Arryk passou por perto de si, reverenciando-a brevemente antes de parecer ir atrás do Príncipe Targaryen.

— Se mencionasse que iria demorar tanto para encontrar meu quarto, teria ido por mim mesmo atrás de você — escutou a voz de seu irmão mais novo, Aragorn atrás de si.

O Príncipe não possuía uma das melhores expressões pela demora de sua irmã mas, respirou fundo, prestes a ceder um sorriso para a mais velha quando pôde ver Larys Strong de uma distância longa.

O interior de Aragorn revirou-se, uma ânsia de vômito subiu a garganta, o desprezo atado ao ódio e repulsa impregnam em suas veias, como uma doença o devorando — como havia sido por anos com o mero pensamento de retornar à Fortaleza Vermelha e lidar com a presença repugnante do Strong. Ele apenas deixou o espaço, adentrando o Castelo ao ver que Daenerys daria atenção à seu irmão, o que particularmente foi ainda mais perturbador para o Príncipe Aragorn.

Daenerys preocupou-se de imediato ao ver o estado de seu irmão.

As mãos tremiam, os lábios esbranquiçados, o interior repleto por ódio, uma fraqueza sobre suas pernas, o desejo de matar Larys Strong tão visceral que seu interior reviveu a sensação aterrorizante de ser intoxicado pela fumaça, as chamas ao seu redor. Ele recordou-se de Sor Harwin — o herói que salvou sua vida no incêndio de Harrenhal ordenado pelo homem e seu pânico ao descobrir que havia sido o irmão mais novo do homem que salvou sua vida.

Acho que vou vomitar — sua voz saiu embargada, com refluxo. De imediato, Daenerys levou seu irmão a um lugar apropriado, segurando-o para que não caísse. Sentiu sua preocupação cada vez maior, ajudando seu irmão que vomitava, pode vê-lo deixar algumas lágrimas escorrerem no processo.

Isso perfurou seu interior, possuía uma leve noção por qual motivo Aragorn havia reagido de tal forma ao apenas olhar para Larys Strong — ele havia sido o responsável pelo incêndio em Harrenhal.

Limpando seu rosto com água que havia ali perto, sentou-se sobre o chão, estavam próximos de um dos estábulos vazios, não haviam mais lágrimas a serem derramadas. As mãos de Aragorn estavam escondidas, ele evitava as fitar — ele ainda poderia sentir a sensação de quando Harwin mandou-o o largar e fugir de uma vez mas tudo que poderia fazer era implorar e esforçar-se para retira-lo de baixo de uma enorme madeira que queimava.

— Vou matar ele, cada um deles, quero derramar tanto sangue que seus filhos, sobrinhos vão se afogar, vão morrer sufocados — Aragorn não escondia seu ódio, existia caos em seus olhos afiados, os verdes intensos estava ligeiramente avermelhados, não pelo choro mas pela raiva que pulsava.

— Não foi um acidente, não é? — indagou Daenerys, ela sentiu seu interior doer. Seu irmãozinho nunca havia lhe dito nada sobre o incidente. Na verdade, Aragorn manteve-se calado durante cada dia após o incidente que arrancou sua inocência e o transformou por completo.

Ele riu, a forma que riu, foi como se um demônio estivesse em sua alma, impregnado.

De fato, estava, o espírito da vingança adentrou pelas fissuras de sua alma.

— É óbvio que não foi um, aquele homem merece morrer lentamente, mesmo que o anseio por retirar sua vida seja imediato, retirar a presença degradante dele desse mundo por matar vidas de sua própria família pela merda de poder, por favores de uma Rainha cínica que profana a própria fé com esquemas impróprios e sem dúvidas deve envenenar Viserys em todos esses anos — Aragorn acusou ao final, as mãos tremiam, dessa vez, menos mas, sua expressão permanecia tempestuosa.

Dói seu coração, tanto que parecia rasgar. Seus pulmões latejavam, respirar era tão tóxico que lhe recordava da noite de chamas em que os dragões banquetearam-se com a morte e ele ficou satisfeito em matar — ele gostou de ver as chamas devorarem ao som de seu comando.

A Velaryon controlou-se para não afetar-se mais do que deveria. Ela engoliu seu interior que doía-se por um mero machucado feito em seu irmãozinho, que amava mais do que tudo — precisava ser forte por ele —, era a única que sabia de tais informações e entendia a importância daquilo. Aragorn era tão reservado, preferia não ter servos, costumava fazer tudo por conta própria e vivia em seu próprio mundo, amava em silêncio e suas cicatrizes eram profundas demais para serem vistas.

Daenerys aproximou-se do mais novo. Ele recuaria o toque de sua irmã mas, as mãos macias lhe distraíram quando ela cedeu-lhe o olhar atencioso, não havia pena — era amor. Não precisou dizer nenhuma palavra mas, Aragorn soube que poderia contar com a domadora de fênix, ele vislumbrava a segurança no rosto belo de sua irmã.

— Irei garantir que sua vingança seja concretizada — as palavras o surpreenderam ao ver os intensos azuis perfurarem seu interior.

— Achei que advertia a vingança, irmã — Aragorn observou, deveria ser dito que, haviam muitas coisas que até mesmo os mais próximos de Daenerys Velaryon desconheciam sobre a Princesa.

Ela mentia inconsciente — não queria ser descoberta e vista verdadeiramente por medo. Em partes, poderia ser assustador porque era visível que suas atitudes eram imprevisíveis. Nenhum dos filhos da fênix eram genuinamente estáveis, essa é uma verdade caótica, um sussurro e um alerta dos deuses.

— Qual é a diferença entre vingança e justiça? — Daenerys indagou, ela detinha ciência de que, existiam diferenças mas, não na prática, não em mundo em que a justiça era corrupta, a vingança tornava-se um remédio amargo. — Irá ter o que deseja, até lá, aja por meus termos, com segurança e na hora correta, poderá alimentar seus dragões.

— E você, minha irmã...— ele tocou as mãos de Daenerys. Ela fitou-o confusa, vendo-o respirar fundo. — Se cuide, por favor. É você quem está em mais risco entre todos nós.

Existiam diversos motivos pelo qual Daenerys Velaryon era uma figura controversa na corte, seja por sua influência misteriosa sobre homens — algumas mulheres acreditavam que existiam bruxas nas Terras Médias e ela detinha o sangue de uma —, o fato de domar uma fênix e ser notoriamente uma ameaça devido sua postura, a impossibilidade de prever suas ações, ao redor de uma dança infernal em que demonstrava encanto e agradava as grandes casas com seus presentes e boas relações.

— Para nos distrairmos, poderíamos ir para um bar ou um prostíbulo na Rua de Seda, ouvi que é lá que Aegon se diverte — o comentário de Aragorn era dotado de ironia mas, fez com que Daenerys revisasse os olhos com um sorriso, ciente de que ele estava sentindo-se melhor.

— Se eu fosse você, preservava sua imagem, existem diversas damas que cobiçam um Príncipe, especialmente o Príncipe dos Dragões. Sua beleza se tornou popular meu irmão, adicione o facto de que as Terras Médias é conhecida por seus mistérios e lendas — Daenerys estava notoriamente brincando com seu irmão, mesmo com um fundo de verdade ali.

Aragorn sabia muito bem que sua irmã, com mais admiradores do que anos de vida, conquistava muito do que queria, agindo de forma calculada, o que o arrancou um sorrisinho com a sugestão.

— Entendo o motivo pelo qual tira proveito disso mas, não tenho interesse algum em me casar, não acho que algum dia terei — o comentário fez Daenerys arquear a sobrancelha, achando curioso, isso é claro, porque de todos os irmãos, Aragorn era completamente precoce.

Sua mãe, é claro, não fazia a mínima ideia mas, desde que completou quatorze dias de nome, Aragorn passava parte de seus dias com diversas damas diferentes nas Terras Médias, as agradando e sendo agradado da melhor forma possível, bebendo vinho, dedicando-se ao seu amor por pintura e escultura com suas musas — as quais eram verdadeiras amantes mais velhas ou de sua idade.

Deveria ser desconfortável o clima, isso porque, o verdadeiro motivo pelo qual Aragorn não queria casar-se era particular — um segredo —, ele amava alguém mas, possuía ciência de que nunca poderia a ter, estar com uma única mulher ao seu lado, para ele, seria uma injustiça para outrem.

— Será um mulherengo? — Daenerys indagou, quebrando o clima, com um sorriso confortável, vendo-o rir do comentário. — Você já é!

— Se estivesse em meu lugar, seria muito pior, minha irmã — Aragorn mencionou.

Ela riu daquilo, atrevida.

— Como se isso fosse me impedir de viver — atreveu-se a falar e o príncipe concordou.

— Se ninguém sabe, viu ou ouviu, não aconteceu — a Velaryon concordou com a fala do irmão, à medida que o silêncio novamente preenchia o espaço. Ele hesitou em continuar, molhando os lábios: — Nós ainda podemos ir ao orfanato?

Daenerys concordou, com um sorriso no rosto, um tanto aliviada em seu irmão ter recuperado-se. Os dois deram um jeitinho de passar pelas passagens de Maegor. A Velaryon conhecia os caminhos para que saíssem — a pedido de sua mãe havia aprendido: a mulher temia que ocorresse um incêndio ou seus filhos ficassem encurralados.

Porto Real era um verdadeiro chiqueiro. Qualquer cidade das Terras Médias eram mais prósperas e dignas para que seu povo vivesse e não morresse infectado por uma praga. O cheiro podre impregnava em roupas, vielas e valas eram espalhadas, o céu escurecido em um cinza amargurado e o sol entre as nuvens. Comerciantes gritando seus preços, anunciando produtos de procedência duvidosa, plebeus trabalhando o máximo que poderiam, suando para pagar suas taxas.

Que porcaria o pequeno conselho fazia deixando suas terras aos pedaços? Ela demonstrou desdém, diversas cidades eram mais decentes, a capital parecia um inferno.

Em meio à diversas pessoas, os dois irmãos estavam de capuzes, dando à mão um ao outro, disfarçando-se em direção ao tal orfanato para que não se perdessem mas, o destino pareceu pregar peças quando os dois perderam-se um do outro — uma verdadeira irritação — mas, eles ainda possuíam o lugar onde deveriam se encontrar. O único problema era: Daenerys estava perdida.

Ela não conhecia, nem um pouco da cidade e guiava-se por seu irmão mais novo.

Viu-se na Rua da Seda. Maldição. Pensou ela, nem mesmo sabia que era a rua em questão.

Tola. Era o que havia sido ao adentrar uma das Casas de Prazeres. Para sua satisfação, havia um vendedor de máscaras dentro do local, utilizou uma moeda de prata para adquirir uma — correr o risco de ser reconhecida era a última de suas intenções —, tendo uma bela máscara que cobria apenas seus olhos, com adornos e detalhes manuais. Devo dar meia volta. Ela pensou, não estava no meio da depravação e liberdade que tudo ali ocorria mas, espremida sobre um dos cantos, seu interior sentia formigamentos com o quão quente era o local — a excitação que ali percorria e riu daquilo.

Precisava sair dali, rapidamente. Se conseguisse achar a saída, é claro. Em vista que por onde havia adentrado, portas fecharam-se e, a inquietação lhe atingiu para que pudesse sair da forma mais sorrateira possível e encontrar seu irmão mais novo.

Ela não era a única inquieta no recinto.

Em meio ao quão sexual a atmosfera era, um jovem de cabelos brancos, expressões fortes e nada satisfeito em estar naquele lugar, perambulava em busca de seu irmão mais velho.

Príncipe Aemond Targaryen estava sob as ordens de sua mãe para que achasse Aegon — o fanfarrão desregrado —, deve ser dito que o jovem queria arrancar seu outro único olho de desgosto por estar em um lugar pecaminoso como aquele, completamente avesso às suas morais — ou era o que pensava — mas, ele sabia que o maior motivo era o incidente quando havia sido arrastado por seu irmão mais velho em um dos prostíbulos para virar homem de uma vez.

As más memórias reuniam-se com o mau humor de Aemond.

Quando soube que o irmão havia retornado, a irritação de ter enfiado-se no espaço à toa o preencheu mas, comentários rondavam Porto Real que atraíram o rapaz de capuz — ainda dentro de uma das Casas de Prazer — que Príncipe Aragorn, o Senhor dos Dragões, havia sido visto perambulando em direção à um orfanato. Achou curioso. Ignorou, prestes a dar meia volta para sair do estabelecimento quando presenciou uma situação que lhe atraiu atenção.

Uma jovem estava sendo abordada, não era uma meretriz, era visível por seu comportamento, deveria estar no local errado, esbarrando com a pessoa pior ainda. A desconhecida notoriamente estava esforçando-se para desviar, escapar do lugar, utilizava um capuz — nada comum em um espaço daqueles — e uma máscara sobre os olhos.

Seus olhos...

Eram azuis intensos, quase como..

Eram Cor de Safira.

Aemond sentiu seu interior se enrijecer, nunca em sua vida viu alguém com seus olhos idênticos, eles eram inconfundíveis, possuíam um brilho incomum, não eram meramente azuis, eles perfuravam qualquer um que cruzasse seu olhar. Suspeitou ser Daenerys. Merda. Ele não a deixaria ali, não em meio à aquela bagunça, ele nem mesmo sabia que diabos ela estava fazendo naquele lugar.

— Se afaste — Aemond empurrou o homem, como se ele não fosse nada, com facilidade devido à força que possuía.

— Quem é você? — o homem virou-se, de sua altura mas, certamente não detinha um terço de sua força mas, notoriamente bêbado, um tanto atrevido. — Que direito acha que tem em me empurrar desta forma?

O Príncipe Targaryen nem pode virar-se à jovem de máscara. Ela, Daenerys Velaryon fora pega de surpresa porque mesmo de costas, uma parte de si, reconheceu que era Aemond — esqueceu-se por segundos o quão alto ele havia se tornado.

— Não lhe interessa, se não quer ter suas mãos arrancadas por ter tocado nela — sua voz ressoou assustadora. O homem arregalou ligeiramente os olhos, dessa vez, podendo ver quem era o homem, os poucos fios brancos que eram visíveis pelo capuz e tapa-olho indicavam o óbvio. — É bom que suma de vista, se atrever-se a olhar ela novamente, irei o cegar.

— O que ela é sua? — ele atreveu-se a indagar.

Aemond Targaryen quis rir com a pergunta. Ela escutaria. E apesar da ligeira dúvida se era realmente Daenerys Velaryon, atreveu-se a responder a pior resposta possível — quem sabe assim teria a verdade.

— Minha meretriz — Aemond disse de forma simples. Daenerys pensou não ter escutado propriamente. Condenando o Príncipe de todos os nomes possíveis mas, deveria manter-se calada, disfarçada, ela achou que poderia o enganar. — Agora suma.

O homem assentiu freneticamente. Aemond virou-se à Daenerys. De máscara, apenas a parte inferior de seu rosto era visível e o Targaryen poderia reconhecer seus lábios mas, o que realmente lhe fazia saber que era ela — ou ele acreditava — eram seus belos olhos de safira.

— Por acaso me conhece, Senhor? — sua incredulidade era visível na pergunta. Daenerys atreveu-se a chamar pelo tratamento respeitoso em notável ironia, deboche.

Ele quis sorrir com a pergunta, dando um passo à frente.

— Diga-me você, Olhos de Safira — Aemond era o único a chamá-la de tal forma.

Daenerys riu, forçou uma risada.

— O que gostaria aqui, Príncipe Targaryen? — ela poderia mencionar o detalhe, ele era explicitamente um príncipe, era impossível não o reconhecer.

Aemond passava a gostar daquilo, do rumo que aquela conversa tomava, da tensão que pairava no ar, na forma íntima que aquela aproximação estava sendo — mesmo que inapropriado —, parecia um instante deles, apenas — ninguém ao redor.

— O que pode me oferecer, senhorita? — sua pergunta a deixou inquieto ao sentir o olhar de Aemond. Ele reparou no detalhe, tomando a vantagem para si. — Se trabalha neste lugar, não há nada a temer.

Fingiu não a conhecer. Daenerys estava tão inquieta que fora enganada, achando uma oportunidade de escapar daquilo com aquele pretexto. Poderia jogar o jogo de Aemond Targaryen — mesmo que quisesse zombar do quão avesso era a imagem dotada de dever e honra que ele cismava em exibir.

Ela molhou os lábios, uma ação que atraiu-lhe a atenção.

Aemond intrigou-se, ele queria saber que tipo de mulher ela havia se tornado, o motivo pelo qual estava ali e inclusive, por qual continuava atrás dela, isso o torturava em meio sua amargura.

— Não importa quem nós somos aqui, meu Príncipe — era a voz doce, a que ele por anos não escutou referir-se a si com tanta afeição mas, sua luxúria era notável ao transbordar. A Velaryon atreveu-se a zombar, na tentativa de o afugentar: — Poderia me dar um bastardo, ficaria quieta sobre isso.

O Targaryen irritou-se até o último átomo, ciente de que ela estava zombando de si, mesmo que ele fingisse que não a conhecia — permitindo que ela pensasse que estava o enganando —, isso tirou-lhe do sério, a atitude impulsiva, a menção de bastardia era delicada. E, em um ato abrupto, prensou-a entre uma das paredes, em suas respirações quentes, estavam muito mais próximos do que estiveram em todas suas vidas, o calor entre os dois era tão íntimo mesmo que não agissem.

— Poderia ter me rejeitado, apenas — ela ironizou ao fitar o único olho do Príncipe. Estava sendo atrevida, sabia daquilo, pouco importava-se, deleitava-se em permitir seus demônios sentirem o gosto da liberdade e seu interior não continha-se em situações como aquelas. — Se é muito, existem diversas mulheres que podem ser de seu gosto, quero ser apreciada como uma rosa, não dessa forma.

— Seu corpo é tudo que pode oferecer? — Príncipe Aemond a atingiu, lhe afetou. Isso é claro, porque era uma de suas maiores inseguranças, sua aparência.

— O que mais espera de uma mulher em um lugar como esse? — indagou ela, uma resposta condizente com a situação e, ele soube que ela perspicaz o suficiente para desviar de suas perguntas.

— O que acha que terá aqui? Você não é meretriz alguma — ele a fez sorrir, com o detalhe. Aemond semicerrou o olhar, não afastou-se, nem um pouco naquela posição cruelmente sugestiva. — Está em busca de algo. O que é?

Daenerys sentiu-se sufocada, ela sentiu sua pele arder, ela sentiu desejo — não era o que deveria estar acontecendo e isso a deixou inquieta por não ter controle de si mesma.

— Deixe que eu saiba, Príncipe Aemond — ela iria fugir, enrolando-o ou, ao menos, pensando que iria ao completar: — Se não me oferecerá nada e eu não irei fazer o mesmo, não vejo o sentido de estarmos conversando.

— Eu a quero — a fala arrancou-lhe um riso.

— Não quer, você sabe que não — molhou os lábios, convicta.

Aemond Targaryen nunca teria coragem de desonrar-se de tal forma.

— Certo, deixe-me ver seu rosto por trás da máscara e a deixarei ir — ele tocou seu queixo, seu coração acelerou, em desespero com a possibilidade. Aemond sabia como a deixar fora de controle, ele era tão atrevido quanto Daenerys, uma junção perigosa, ardilosa. — Seus olhos me são familiares, olhos de safira me recordam..

Ela deixou a sereia sedutora em seu interior agir, escaparia da situação, nem mesmo pensando direito, suas mãos foram até os ombros de Aemond — ele certamente não esperava o toque.

— Realmente quer me ter, Príncipe Aemond? — ele quis saber até onde ela iria com aquilo. A forma que havia sido, sem tremular nem mesmo a voz fez com que ele apenas assentisse.

A Velaryon puxou-o para uma das partes mais afastadas, onde não seriam vistos, camuflados pelas diversas pessoas, em meio aos grandes tecidos e uma janela fechada, coberta por panos dourados que pequenos raios atreviam-se a lhes tocar. O Targaryen surpreendeu-se ao sentir Daenerys subir em seu colo, de frente para seu corpo, ao fazê-lo sentar-se.

O capuz escorregou, ele levantou o olhar, vendo-a sobre ele, mesmo com suas vestes, a mera ação era quente, completamente petulante. Aemond Targaryen nunca esteve tão próximo de uma mulher de forma tão íntima — mesmo que fosse por opção — mas, ele sabia de muitas coisas e naquele momento, sua atenção era presa na Princesa e seus olhos que o faziam sonhar desde a infância.

Daenerys retirou sua própria capa, ele pode ver o vestido azulado — caro e respeitoso para ser de uma meretriz — que era tão típico de sua Casa que Aemond quis ver onde ela iria com tudo aquilo. A Velaryon levou as mãos próximas de seu rosto, o toque o faria fechar os olhos mas, não daria-lhe tamanho prazer, as mãos eram macias como plumas mas, antes que se aproximasse de seu tapa olho, Aemond segurou sua mão, fazendo-a rir com a ação.

— Não quer ser revelado também? — referia-se ao fato de usar máscara e ele um tapa-olho. — Dizem que os olhos são as janelas da alma.

— Parte da minha foi arrancada — a resposta deixou-a por segundos desnorteada mas, Aemond riu. — É demais para lidar, minha safira?

Daenerys não soube o que dizer ou reagir, ela apenas inclinou-se sobre seu colo, seu corpo, passeando as mãos sobre a pele de Aemond. Era impuro e pecaminoso, existia algo ali, naquela situação, em tudo aquilo que a retirava do sério, lhe deixava irracional por querer explorar mais de Aemond. Ou melhor, ela não queria escutar suas palavras, ela sentia seu coração balançar e seu corpo ferver.

— Se é tão confiante para se expor dessa forma, por que não me mostra seu rosto? — ele indagou, Príncipe Aemond a encurrava mais do que poderia imaginar. — Parece que está querendo ocultar suas transgressões sobre uma máscara mas, é visível saber quem você realmente é com ela.

Ela irritou-se ali.

— Que direito tem de dizer algo, Príncipe Caolho? — ela disparou mas, de forma abrupta, sentiu Aemond puxar-lhe pela nuca, uma ação imediata, nada havia gostado de ser chamado assim.

— Como uma meretriz, você é terrível, não sabe como tratar um cliente propriamente, você realmente me é familiar — existia autoridade, possessividade na forma que segurou-a, uma ação que a fez deixar os lábios entreabertos.

Ela sorriu, sabendo como o desestabilizar.

— Quer me despir, meu Príncipe? — ele se desnorteou com a simplicidade das palavras, sentindo-o soltar sua nuca. Aemond envergonhou-se e inquietou-se pelo detalhe. Eles estavam ali, pertos um do outro, sem propriamente agir, ferindo-se e provocando com palavras e excitados. — É tão virtuoso que precisa que eu aja?

Daenerys não era tímida. Ficou explícito quando Aemond viu-a retirando as amarras que cobriam parte de cima de seu vestido, os seios tornavam-se cada vez mais visíveis ao vestido estar sendo afrouxado e ele fitou-os, excitado com a visão e condenando-se mas, a Velaryon levou sua mão ao queixo do mesmo, como se o apreciasse.

Ela sabia ter o diabo em sua língua.

— Não é um cliente, isso será por caridade — ela o tirou do sério, segurando-a pela cintura, invertendo as posições naquele lugar desconfortável e decadente, estreito e proibido.

Atreveu-se a encaixar-se em meio ao seu corpo, eles estavam vestidos mas, suas intenções eram explícitas em meio a provocações, insinuações a tensão sobre os ressentimentos. Mas, quando Aemond segurou-a pelos pulsos, ele pode ver em sua mão esquerda, a cicatriz que era idêntica á sua.

Se alguma vez, tinha alguma dúvida se era Daenerys, não tinha mais.

Ela entrou em pânico ao ver que ele prestava atenção naquilo.

— Cicatriz curiosa, me pergunto como a conseguiu — naquele momento, ele cedeu-lhe um sorriso de escárnio e ela soube que, Aemond Targaryen sabia o tempo inteiro quem ela era mas, escondia e parecia estar a brincar consigo, da forma mais perversa possível.

— É a única marca que tenho em meu corpo, foi feita junto com uma pessoa que confiei, que amei mas, ela está morta — Daenerys atreveu-se a falar, referindo-se ao próprio Aemond.

— O que aconteceu? — Aemond tocou sua cintura, de forma profana, subindo os toques próximos aos seios, eles sabiam se tratar um do outro e aquelas atitudes eram atrevidas, era como se os dois estivessem de máscaras, se empurrando ao limite de ações condenáveis movidos à ressentimento.

Aemond se atreveu a inclinar-se próximo ao rosto da Velaryon. Ele não a beijou, nem atreveria-se, mesmo em tamanha tensão — era um gesto muito íntimo, muito amoroso.

— Ele deixou com que eu me afogasse mas, outra pessoa me puxou, com braços fortes, levou-me para os ares, afastou o frio de todas as rosas azuis que poderia ter recebido, me encheu de rosas vermelhas e beijou minhas feridas, me contou histórias, cuidou de meu coração e se tornou meu príncipe — Daenerys referia-se à Jacaerys, de forma explícita, a forma que narrou o perturbou.

Príncipe Aemond sentiu-se sem controle, de seus sentimentos, de seu interior e a forma que aquilo o perseguia, dia após dia, em ressentimento, amargura ao sentir que não havia sido apenas seu olho a ser arrancado de si — ele era preenchido por ódio dia após dia ao ter parte de si arruinada quando Daenerys se foi e estava ao lado de uma das pessoas que lhe destroçaram.

Jacaerys Velaryon cometeu um erro, foi recompensado, mesmo que indiretamente.

Ele cometeu um erro, havia sido devorado, mais uma vez.

Daenerys aproximou-se, levantando seu corpo, tocando seus cabelos, com cuidado, completando palavras que seriam o suficiente para fazê-lo ter a certeza de que, em anos, nada poderia mudar diante a briga que lhes feriu e ainda continuava a queimar em seus interiores.

— Eu também disse histórias à ele, ele também beijou minhas mãos quando sussurrei meus desejos e quis tê-lo como meu príncipe — eles se encararam, Aemond Targaryen não soube o que sentiu naquele segundo mas, seu coração se arruinava mais ainda.

Foram interrompidos por um barulho externo, o chão tremeu, pareceu como o rugido de um dragão — um dos príncipes deveria estar sobrevoando a cidade —, o Príncipe não soube o que fazer, levantando-se, desfazendo-se do emaranhado de corpos junto à Daenerys. E, quando iria olhar para o lado, com sua garganta latejando, em palavras presas em sua garganta, desestabilizado, ela havia sumido de sua visão, não estava em lugar algum daquele cômodo.

Ele não pode esquecer nenhuma palavra que o perfurou, que o enfureceu.

Não era ódio, era amargura, ressentimento, era dor. 

De volta à Fortaleza Vermelha, após Daenerys reencontrar-se com seu irmão mais novo, Aragorn, sua mente fervia em pensamentos diversos mas, não deixava de pensar no bem estar do mais novo. O Príncipe reparou que ela parecia um tanto distraída, eles haviam se perdido mas, ele a conhecia o suficiente para supôr que havia visto ou escutado algo. E, caminhando entre os corredores, pode ver seus guardas juramentados aproximando-se.

— Já falou com sua madrinha? — detinha uma ironia petulante na pergunta feita pelo príncipe à irmã mais velha que arqueou a sobrancelha. — Deveria aproveitar enquanto há tempo, ele está passando, rapidamente.

A madrinha em questão era ninguém menos que Alicent Hightower. Sua mãe acabou por convidar — relutantemente — a rainha para se tornar a madrinha de sua única filha, isso é claro, porque a mulher havia o feito com Deianyra Velaryon, essa que era madrinha da Princesa Helaena e Príncipe Aemond.

Terei de ser cautelosa. Pensou ela.

Cuide-se, não mate ninguém sem minha permissão — advertiu em élfico ao irmão quando os guardas se aproximaram. — Nos vemos depois.

Príncipe Aragorn riu ao vê-la seguir com Sor Lorcan — esse que pareceu confuso ao escutar a princesa lhe informar que seguiria aos aposentos de Rainha Alicent —, um brilho habitava as íris da Velaryon. Decidiu antes ir aos seus aposentos, pondo o colar de esmeralda que ganhou da mais velha junto do bordado que fizera há muitos anos em homenagem à mulher, massagear o ego alheio costumava lhe conceder bons frutos.

Para a surpresa de Alicent Hightower — essa que conversava com seu pai em seus aposentos — a jovem adentrou o espaço, a postura impecável que arrancou uma desconfiança imediata de ambos. Deve ser adicionado que Otto, a Mão do Rei, detinha seus olhos de desconfiança sobre a jovem, muitos pensamentos percorriam a mente do homem sobre a índole ou posição naquele tabuleiro de estratégias que era King 's Landing.

Deianyra Velaryon — a mãe da princesa — aproveitou-se da estratégia a anos, eles não seriam tolos de cair na mesma armadilha duas vezes, ao menos acreditavam que não.

Vossa Majestade — ela reverenciou-a levemente, direcionando um sorriso inocente à mão do rei na sequência, utilizando um tratamento polido.

— Minha querida, sua mãe está a acompanhando? — a Rainha quis saber se estava do lado de fora. Ao vê-la negar com a cabeça, concordou continuando: — Ou se apresenta pela cortesia?

A Velaryon por pouco não franziu o cenho, ciente de que, indagou se sua mãe não havia lhe mandado ali. Ela não moveu um músculo, o que não havia passado despercebido à Mão do Rei mas, ela dissipou em emoção ao olhar timidamente, pressionando os lábios um contra o outro, esforçou-se para suas bochechas corarem — apenas os deuses sabiam como ela poderiam simular reações em seu corpo tão realistas —, negando.

— Minha mãe não detém conhecimento de minha presença, o motivo de minha vinda é...— Daenerys hesitou em suas palavras, propositalmente. Encarando com vergonha, as mãos atrás de seu corpo, em um sorriso envergonhado. — Vim vê-la, Vossa Majestade. Estava com saudades da minha madrinha, quero a presentear.

— Oh, sendo assim...— Alicent se surpreendeu ao ver o que havia em suas mãos. Otto fitou-a com uma ligeira desconfiança, encarando a própria filha, não sabiam como deveriam prosseguir ao certo com a Velaryon mas, detinham um olho aberto para a jovenzinha.

— Devo me retirar para que fiquem à vontade, Com licença — Otto Hightower decidiu retirar-se, não deixando sua polidez e educação serpentear ao virar-se à Velaryon antes de deixar o cômodo: — Uma boa tarde à senhorita, Princesa Daenerys.

Ela cedeu um pequeno sorriso, vendo-o sair do cômodo. Alicent levantou-se, para que pudesse ir em direção ao sofá verde musgo, junto à jovem para que conversassem mas, Daenerys a interrompeu com seu mero olhar.

— Madrinha...— ela chamou, usando o tratamento carinhoso. Seus olhos azuis como o oceano fixaram-se sobre os seus. — Por acaso poderia lhe abraçar?

A Hightower foi pega de surpresa pela pergunta, apenas assentindo. Embora com a sensação duvidosa em seu interior, recebeu-a de braços abertos. Daenerys abraçou-a com afeto, como se realmente estivesse aguardando anos para o fazer.

Aos olhos da Rainha, Daenerys era diferente de Rhaenyra e Deianyra em seus dias de juventude — havia uma meiguice que recordava de si mesma, mesmo que suspeitasse ser puramente um ato, uma ação orquestrada em pura malícia.

O comportamento cauteloso, ligeiramente submisso e dotado de etiquetas da Velaryon era um tanto contraste ao quão mimada Rhaenyra Targaryen era e a tão dita selvageria que Deianyra Velaryon transbordava. Ela sentia-se confortável com aquilo, era como ver uma moça exemplar, tudo que ela queria ter tido com Helaena Targaryen — Alicent não digeriu o fato de nunca ter criado uma genuína conexão com sua filha e muito menos a compreender.

Ela, Princesa Helaena era singular — um jeitinho único —, não deixava de amar sua filha incondicionalmente, mas que, por vezes, causava vergonha à Rainha.

Estando devidamente sentadas, próximas uma da outra, as conversas iniciaram-se, em meio ao quanto havia amadurecido, sua grandiosa fama, isso é claro, envolvendo sua afeição pelo Príncipe Jacaerys — deve ser dito que ela gostaria de saber da opinião da própria sobre aquela possibilidade.

Diferente dela ou de Rhaenyra, não puderam escolher com quem gostariam de casar-se mas, era evidente que os valores que regiam o falecido Príncipe Caspian e a vivaz Lady Deianyra Velaryon indicavam que a única filha mulher teria o direito de escolher.

— Jace? Ele é um amigo muito querido, um belo príncipe mas propostas de casamentos não foram feitas e convivemos juntos à anos — Daenerys explicou calmamente. — Ele se tornou um amigo mas, pretendo casar-me com outro cavaleiro adequado, minha madrinha.

Uma mentira. Ela pensava. Daenerys tinha uma ideia, uma situação muito perigosa em sua mente sobre como derrubaria a farsa e as conspirações das quais ela suspeitava existir envolvendo a coroa de sua madrasta — isso a enervava — mas, ela sabia que, se tomasse controle de Príncipe Aegon poderia o influenciar o suficiente para semear discórdia e caos entre os verdes ao retirar o que deveria ser o 'primogênito' por direito.

— Se me permite dizer isso, Príncipe Aegon está mais belo que antes, muito parecido com Vossa Majestade — a fala acionou uma alarde na mente da Rainha, em genuíno desespero em torno daquela insinuação mas, soube como rebater aquilo. — Gostaria de ter mantido contato.

Alicent ainda gostaria de explorar aquela chance e descobrir se era um ardiloso plano de Deianyra para fazê-la de tola.

A realidade era que Daenerys Velaryon agia sozinha, por conta própria.

— Sendo assim, por qual motivo não enviou cartas? — Alicent indagou, com notórias suspeitas de serem falácias para se aproximar. — Helaena recebeu-as todos os dias, imagino que se estivesse tão comovida, teria nos escrito.

— Eu não podia — havia saído por impulso. Daenerys recordou-se dos métodos que utilizava para que pudesse mentir, com sua língua queimando, uma desculpa de cada vez, uma mentira que agradasse as suposições de quem estaria a ser enganado. — Fui proibida por meu padrasto, Daemon de me comunicar. Ele apenas autorizava que mandasse à Helaena.

A Hightower ressentiu o ódio ao Príncipe Targaryen. Ela achava-o particularmente ultrajante, uma verdadeira peste bubônica encarnada, uma tragédia — uma deturpação e anomalia ambulante.

— Não pude mandar a Vossa Graça, foi tão árduo, era meu modelo de mulher...— havia murmurado mas, o suficiente para surpreender Alicent. A Velaryon parecia magoada, verdadeiramente em estado de melancolia ao respirar fundo. — Depois que briguei com Aemond tudo se tornou tão difícil, segui seus conselhos e...

Pode ver a expressão de Alicent, estava indecifrável. Assim, ela fingiu arregalar os olhos, como se estivesse dando-se conta do quão proibido era dizer tais palavras.

— Perdão, não deveria ter dito isso, eu..— Daenerys jogou sujo ao levar as mãos uma na outra, como se fosse as arranhar, de forma inconsciente, arrancando o olhar de Alicent, que reconheceu o próprio hábito na adolescência quando era tomada pelo nervosismo.

A Velaryon escutou uma das conversas de Rhaenyra com sua mãe, escutou ser um dos vícios culposos de Alicent. E, soube que poderia usar a sutil informação ao seu favor.

De imediato, Alicent tomou suas mãos, por um impulso, com um sorriso brando em seu rosto, movida pelo sentimentalismo. A Hightower viu-se por segundos em Daenerys.

— Está tudo bem, pode me dizer o que desejar, minha querida — Alicent soou gentil, não deixando de notar suas palavras. Estava desconfiada mas, não poderia deixar de querer estar perto da jovenzinha. — O que quer dizer com exemplo?

— Pode não se recordar mas, quando eu tinha treze anos, Vossa Majestade me deu conselhos valiosos, me fez sentir conforto para não tomar uma espada como minha mãe, focando em minha feminilidade e papel como mulher — Daenerys a surpreendeu, é claro, existia uma parte de Alicent que sentia-se vitoriosa em não vê-la seguindo os passos de Deianyra. A Velaryon então, finalmente entregou-a o bordado que há muito tempo havia sido feito para a Rainha. — Foi de suma importância para mim, por isso, a agradeço.

Dessa vez, Alicent Hightower sorriu, genuinamente. Pode ver o colar no pescoço da Princesa. Quem sabe. Fora o que pensou, cuidadosamente.

— Fico orgulhosa de seu progresso, Daeny — atreveu-se a chamar a jovem por seu apelido, arrancando um primoroso sorriso que iluminou sua face. — Dessa vez, mesmo se Príncipe Daemon achar que não deve estar em minha presença, eu sou a Rainha, poderá me encontrar se assim desejar.

Vadia Pretensiosa. Era o que Daemon Targaryen diria na situação. Daenerys poderia até mesmo escutar a voz do padrasto ressoando em sua mente. Vendo-a de forma indiscreta exibir seu poder sobre os outros. Assim, ela limitou-se a dar-lhe um sorriso, seguido de um cuidadoso carinho em mãos, sabendo que deveria escolher seus próximos movimentos.

No momento, Alicent Hightower não sabia se a princesa era tão ardilosa quanto sua mãe mas, havia um senso aterrorizante de como Daenerys poderia fazer Alicent sentir-se poderosa — seu ego massageado porque por vezes enxergava-se na jovem, uma versão visceralmente mais forte e convicta de seus anseios.

Assim, a Princesa Serpente aprendia a arrumava os tabuleiros do jogo, cautelosamente, por trás dos panos, orquestrando lentamente, mapeando o território ao seu redor. Antes que qualquer um se atrevesse a agir, lá estava ela, pensando e calculando sozinha — como uma exploradora em meio ao mar, ela queria navegar em meio ao caos.

No fim, ela navegou e sobreviveu.

✧˚ · ↳ ❝ [𝐍𝐎𝐓𝐀 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀] ¡! ❞✧˚ ·

[01] — Um gostinho maior da nossa Daenerys por aqui juntamente com Aemond. Opiniões sobre a peça que é eles dois juntos?

[02] — Quero esclarecer algumas coisas: não irei seguir a linha linear de HOTD, teremos bem mais tempo com certos personagens, vale ressaltar que a Dança dos Dragões irá demorar para ocorrer. Ademais, a doença de Viserys ainda não o degradou completamente nesse ponto, ele ainda está parcialmente saudável apesar de doente, o estado de saúde dele será mencionado por vezes. 

[02] — Minhas aulas retornam dia sete, não sei se quando eu atualizar já vão ter retornado mas com certeza no próximo sim então quero dizer à vocês que as atualizações vão ser realmente mais lentas porque eu faço faculdade de veterinária e eu me dedico horrores mas tenham certeza que vou atualizar assim que conseguir. 

✧・゚: *✧・゚:*

Data de Postagem: 05/02/2023

Contagem de Palavras: 10.000 Palavras.

Previsão de Atualização: 13/02/2023


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