Herdeiros - JJK

By kajoonie

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[EM ANDAMENTO] Melissa Carter tinha uma vida tranquila até seu pai se casar novamente com uma mulher que já t... More

EPÍGRAFE
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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By kajoonie

Meu pai se mostrou bem receptivo quando Jungkook e eu fomos conversar com ele e Ah-ri a respeito do nosso relacionamento. Sua reação, nada surpreendente, só deu razão ao que pensávamos sobre estarmos sendo vigiados. 

Não foi nenhum sacrifício ser agradável com Jeon e sempre falávamos que era algo, digamos, teatral quando na realidade sabíamos que não era. Existe uma linha tênue, e posso parecer repetitiva, mas era o que precisava reafirmar o tempo todo para que eu mesma não me esquecesse daquilo.

Ah-ri se mostrou positiva quanto a notícia, todavia algo em seu olhar me deixava em alerta. A mulher sabia que eu não tinha qualificações mínimas pra me tornar uma esposa decente para o filho, creio que na cabeça dela ninguém seria digna pra isso. Ela é o tipo de esposa troféu, como dizem por aí, ela sabe como cuidar bem do marido e suas necessidades, no entanto. Acho que no fundo o que ela teme é que com meu gênio difícil, como insiste em afirmar o tempo todo, cause problemas emocionais ao filho inexperiente. Ela o trata como se não pudesse lidar com nada fora do seu cercadinho de proteção maternal. Desconfio que ela me trará problemas no futuro, só espero que papai saiba interferir de maneira amigável e controlar o instinto super protetor de Ah-ri, ou eu o farei.

Papai já queria planejar tudo, incluindo o noivado e casamento eu apenas refreei seus impulsos dizendo que era algo que Jungkook e eu precisávamos resolver sozinhos. Tudo bem que a finalidade era o casamento, mas não precisava ser tudo feito às pressas. Sei que tinha prazos e precisaríamos apenas de alguns meses para acertar tudo. Essa é facilidade quando se dispõe de dinheiro o suficiente para arranjar tudo em dias se assim quisesse, mas não estava desesperada a esse ponto.

...

Dois meses se passaram desde que assumimos o namoro publicamente e a mídia anunciava o nosso relacionamento como se fosse uma princesa unindo-se a um príncipe, considerando o império do qual éramos herdeiros não seria tanto exagero assim. Percebi que depois da exposição do nosso relacionamento algumas mulheres olhavam diferente para Jungkook e isso me incomodava, um pouco.

Um certo dia peguei um grupinho de funcionárias fofocando sobre uma notícia, rumores de que eu pudesse estar grávida dele, sendo que mal nos tocávamos. Eu ri quando li aquela notícia ridícula e encaminhei para nosso advogado. Um processo e tudo estaria resolvido, pensariam duas vezes antes de fabricar fake news como se fosse historinhas feitas pra crianças dormirem. Entretanto o que me chamou mais atenção foi que despertou uma curiosidade nessas mulheres que pensavam que Jeon era gay por nunca estar envolvido em boatos de supostos namoros como era notícia corriqueira em nosso meio social. Creio que na cabeça delas Jeon jamais se interessaria por elas, por isso sempre o consideraram como um homem invisível e não palpável, até que surgiram as primeiras notícias e fotos de nós dois de mãos dadas e sendo fotografados em locais públicos como um casal comum.

Por semanas foi assim e estampávamos com fidelidade a perfeita imagem do casal feliz.

Resolvi não dar credibilidade ao que era fofocado até mesmo dentro do ambiente de trabalho, querendo ou não as pessoas vão comentar e deixo que tirem suas próprias conclusões, isso não me importava até que um dia peguei uma das funcionárias conversando com Jungkook dentro da nossa sala, que ainda dividíamos com meu pai. Ele estava sozinho e ela entrou com a desculpa de lhe entregar alguns documentos. Aquela mulher nunca vestiu nada revelador, e justamente naquele dia parecia um cabo de vassoura encapado que marcava até a costura da sua calcinha, que era bem pequena por sinal. Se elas soubessem que isso não desperta nada em Jungkook investiriam em outras coisas além do tempo perdido em procurar roupas nesse estilo para tentar chamar a atenção de um homem como o meu.

Meu. Meu.

Era algo que reverberava por todos os cantos do meu cérebro. Jungkook só tinha olhos para mim, mal olhava os outros nos olhos e quando assim o fazia, não tinha o mesmo brilho no momento em que me enquadrava.

...

No nosso tempo de folga, ficávamos planejando o nosso futuro. Jungkook mordiscava insistentemente o lábio inferior enquanto examinávamos algumas propostas de buffet. Papai já tinha nos dado uma prévia da lista de convidados e setenta por cento da lista, não sabia nem quem eram essas pessoas e acho que ele não estava muito diferente sobre esse ponto.

— Bem, concordamos que Carol e Bia serão minhas madrinhas. — Puxo assunto por estarmos quietos tempo demais em meu quarto.

— Estive pensando sobre isso e acho melhor que elas fossem acompanhadas por alguém do gênero masculino. — Ele contorce os lábios entediado.

— Eu sei... — O desânimo bate forte quando penso na sociedade preconceituosa e injusta em que vivemos.

— Mas veja bem, será interessante se chamarmos Taehyung e Jimin para as acompanhar. — Se anima rapidamente. — Minha mãe já avisou quem serão os meus padrinhos, então da minha parte só exigi que um deles fosse Seokjin. — Dá de ombros. Jeon deixou algumas coisas de sua parte para Ah-ri resolver.

— Seria um bom momento para uma pequena e silenciosa rebelião? — Um lampejo me surge.

— O que está tramando Mel? — Amava quando ele me entregava um sorrisinho cúmplice.

— Os convidados virem vestidos de branco enquanto nós, os noivos, de preto. — Afinal era a cor favorita dele.

— O que? — Me olha espantado. — Minha mãe vai enfartar.

Sei que Ah-ri é uma mãe super protetora e não sabe se colocar no lugar de que não sou sua filha. Ultimamente me enche a cabeça mostrando diversos modelos de vestidos para que eu me inspire em algum. Até que resolveu contratar uma estilista renomada não sei de onde, desde que não gostei de nenhum dos modelos que ela insistia, eu deixava claro que não eram bem como queria e que poderia resolver isso sozinha depois.

— É porque não viu os modelos que ela quer que eu vista. — Solto em um suspiro pescando outra pasta sobre a cama.

— Ela tem sido muito dura com você? — Jeon segura em minha mão e olho em direção a elas unidas.

— Não, só se intromete até onde eu permito, mas insiste que devo casar-me de branco como manda a tradição... E eu lá sou mulher de seguir tradição? — Curvo meus lábios desgostosa. Só Deus sabe o quanto tenho sido paciente com aquela mulher interferindo em tudo.

— Achei que todas as mulheres gostariam de viver isso. — Diz assertivo.

— Eu não sou todo mundo. — Aponto o dedo para mim mesma, lembrando do que a minha mãe falava e ela sempre teve razão. — Será uma forma de protesto silencioso. Um luto contra todas as injustiças sociais incluindo os que se acham "santos" que estarão vestidos de branco enquanto nós dois seríamos os que destoam do restante. Uma forma de revolução do que está por vir. — Dou risada ao terminar de falar e Jungkook me acompanha rindo também.

— Você viaja demais nesse aspecto. — Meneia a cabeça em negação. — Mas eu concordo, não queria vestir branco de qualquer forma, acho que já fui "santo" demais na vida, hora de acompanhar a diaba, a minha diaba. — Ele insiste em me tocar em alguns momentos. Como por exemplo agora quando recolhe uma mecha dos meus cabelos atrás da orelha enquanto acompanha com o olhar seu próprio gesto.

— Carol não poderá vir para o nosso noivado. — Disfarço o quanto aquele simples toque inocente mexeu comigo e torno a olhar outra proposta. — Ela terá uma viagem de trabalho bem na data marcada. — Limpo a garganta ajeitando minha postura.

— Hm... outra coisa que me preocupa. — O olho de soslaio. — Não, não é bem uma preocupação, mas Ethan me perguntou onde gostaria de levá-la em nossa lua de mel. Eu não soube o que responder.

Deus esqueci completamente da lua de mel! Recorro em minhas memórias recentes e lembro que Ah-ri falou algo a respeito, acho que sobre um cruzeiro pela América do Sul, Paris, Ilhas gregas ela sacodia na minha frente vários panfletos e na tela do seu celular mostrava algumas agências de viagens. Só sossegou quando disse que tinha deixado isso a cargo do filho, mas eu sequer o avisei sobre isso. 

— Parece que meu pai está mais ansioso com esse casamento do que os noivos. — Mais uma vez vamos de improviso, não podia revelar a Jungkook que esse casamento não estava no topo das minhas preocupações. Ele poderia se sentir excluído ou ficar ofendido, quando está se dedicando a isso bem mais que eu. — Pensei que podíamos viajar pra casa de praia. Seria útil já que fiz uma promessa e preciso cumprir. Talvez não tenha mais tanto tempo depois que isso tudo passar, digo, o casamento. O trabalho na empresa irá nos engolir vivos e também precisará de tempo para se dedicar as coisas que quer fazer.

Eu gosto quando ele sorri ao mencionar que me importo com o que queira fazer. Eu só não ligo muito pra festa e a cerimônia em si, mas o objetivo muito nos interessa.

— Acha que mereço estar no seu local sagrado? — Diz se jeito encarando as próprias mãos sobre o colo.

— Pare de bobagens Jungoo. — Agora sou eu quem agarro em seu braço e o chacoalho para que me olhe. — Claro que merece! E também só queria aproveitar e dar continuidade às obras que minha mãe começou. E lá dispomos de dois quartos e sem olhos para nos vigiar se dormirmos separados o que não poderia acontecer em um hotel por exemplo.

— Entendo... — O sorriso desmancha aos poucos e volta a folear alguns papéis, mas sem muita atenção.

— Toda vez que falo sobre isso você parece ofendido, chateado, não sei bem. — Como das outras vezes tento arrancar dele alguma resposta sincera, sendo que sempre desconversa.

Ele coça a cabeça, ajeita os cabelos e suspira longamente enquanto o observo em silêncio.

— É que já dividimos nossas camas algumas vezes e nada aconteceu. — Me encara. — Por que você acha que a partir do momento que nos casarmos eu me comportaria de maneira diferente?

Oh! Claro, isso...

— Bem... hm... você tem um hábito singular quando dorme. — Falo sem graça.

— Eu ronco? Faço barulhos esquisitos? Converso sozinho enquanto sonho? — Dispara as perguntas de uma vez.

— Achei que esses hábitos eram comuns. — Rio na tentativa de aliviar o clima. — Mas não é isso... é... que... toda a vez que acordava no meio da noite uma de suas mãos estava sob minha blusa segurando um dos meus seios.

Jeon se levanta dá alguns passos ao lado da cama e se senta de novo passando as mãos pelo rosto.

— Por Deus Melissa, juro que isso é algo totalmente inconsciente... — Explica, mas eu já sabia desse fato. Jungkook não faz nada por mal. Por isso estamos aqui em meio a esse monte de papéis decidindo nosso casamento. — e-eu n-não sabia disso até me contar, mesmo porque nunca havia dormido com ninguém antes de você. M-me desculpe... — Os olhos baixos sem coragem de me encarar denotava o quanto estava chateado.

Mentiria se dissesse que isso me incomoda. Tantas coisas aconteceram desde que cheguei e muita coisa mudou em mim internamente. Em alguns meses estarei casada com ele, dividiremos a vida e um futuro e não parece tão assustador quanto no início.

— Não por isso.—  Suspiro. —  Até entendo por que são mesmo irresistíveis. — Estufo o peito fazendo-os marcar sob a camiseta branca que vestia.

— Diaba... — Diz desviando o olhar dos meus seios.

— Pirralho! — O provoco de volta.

— Insuportável. — Rebate irritado e revirando os olhos. Ele ainda odiava que o chamava assim.

— Mimado. — Dou de ombros.

— Arrogante. — Seus olhos escuros me encaram profundamente. Ele estava levando a sério isso? E eu não deixo por menos:

— Medíocre. — Dessa vez ultrapassei os limites de sua bondade. Percebo isso quando lança para longe a pasta que segurava em mãos e pula sobre meu corpo. Me pegando totalmente desprevenida, prendendo minhas pernas entre as suas e segurando minhas mãos sobre minha cabeça. Estava completamente imobilizada.

Certamente ao notar meu olhar assustado, pois nem vi como conseguiu ser tão rápido, ele sorri.

— Acho que minha noiva está querendo que eu quebre algumas promessas. — Quem era esse Jungkook que estava sobre mim?

— J-Jungkook eu estava brincando... — Faço esforço para sair de seu aperto, mas é inútil. — Me solta! — Ordeno.

— Estava com saudades de implicar comigo? — Engulo em seco quando ele raspa de leve seu lábio inferior entre meus lábios.

— Vou chutar suas bolas quando sair daqui. — Ameaço e ele não desmancha aquele sorriso idiota dos lábios.

— Então estaremos condenados a ficar por um longo tempo assim, sou resistente diaba, posso ficar assim por horas. — Sua voz cadenciada, grave e um pouco rouca mexia com partes do meu corpo que não deveriam reagir assim.

Respiro fundo e contra-ataco:

— Bobagem. — Sorrio e passo minha língua entre seus lábios. — Eu te provoco, você não suportará a dor da sua ereção e sairá de cima de mim. Aproveito e quebro seu pau também.

Ele solta uma risada soprada quase grudando nossas bocas. Mas quando menos espero ele se afasta e diz:

— Honey, você não sabe por quanto tempo eu suportei que agora realmente não me incomoda. — Sua voz baixa e grave mexe com meus sentidos. — Agora me diga... satisfaça uma curiosidade que tenho: quantas vezes você já se tocou pensando em mim?

— Que absurdo! — Olho para o lado rindo de desespero. Quem ele pensa que é?

— Vamos, me dê uma estimativa aproximada! — O encaro de volta e foi a pior atitude que já tive. Olhá-lo por esse ângulo e ver em seus olhos algo que nunca vi antes. Um Jungkook depravado e com um sorriso lateralizado. — Já me viu nu algumas vezes, devo cavar algo dentro dessa sua memória devassa? — Sinto uma leve investida de seu quadril contra o meu me arrancando um arfar involuntário.

— Jungkook você prometeu... — Corto minha frase ao sentir mais o peso do seu corpo sobre o meu. Seus beijos deslizando pelo meu pescoço enquanto escuto sua respiração próximo ao meu ouvido. Os pelos do meu corpo se eriçam a tal ponto de eu apertar minhas coxas uma contra a outra. Deus ele está me dominando e estou permitindo, já que ele não faz o menor esforço para me prender como antes.

Sou salva quando a porta do quarto se abre repentinamente revelando Ah-ri acompanhada por uma mulher que não faço a mínima ideia de quem seja.

— Oh! Meu Deus! — Minha sogra vocifera surpresa e nos dá as costas enquanto a outra mulher apenas cobre ridiculamente a lateral do rosto avermelhado. — Pensei que estavam vendo as propostas da festa... — O restante que ela diz não consigo ouvir. Olho para Jungkook que sorria ainda se mantendo sobre mim.

— Sai! — Sussurro-grito o repreendendo. Ele sela meu rosto e se levanta cobrindo seu colo com um dos travesseiros que pegou no chão.

Ajeito minha postura, amarro meus cabelos e caminho até minha sogra.

— Ah-ri deveria bater na porta antes de entrar. — Limpo a garganta enquanto ela volta a me olhar e de soslaio observa seu filho sentado sobre a cama com a maior cara ingênua do mundo. Idiota!

A mulher crispa os lábios, olha rapidamente para o que vestia e eu levanto a barra da camiseta mostrando que usava um short por baixo, um pouco maior que minha calcinha, mas caralho eu estava em casa, dentro do meu quarto, não vou receber o rei da Inglaterra aqui! Talvez pela arrogância dela se consideraria a própria rainha.

— Meu filho pode sair, por favor? — Ah-ri olha amorosamente para seu unigênito. Ele assente e levanta levando consigo um dos meus travesseiros, passa pela porta e corre até o quarto dele, já que ouço a porta ao lado bater.

Reviro os olhos em puro desgosto e encaro a mulher baixinha que segurava uma enorme pasta entre as mãos.

— Oh, claro! — Ah-ri se dá conta de que não apresentou a mulher. — Essa é Valerie Leblanc, uma excelente estilista que agora trabalha no Maison mais requisitado de Nova Iorque. Ela desenhou modelos premiados em todo o mundo e ela quem vai fazer o seu vestido. — Cumprimento Valerie e dou espaço para que entrem no quarto.

Eu sinceramente iria ver isso em outro momento e optaria por um modelo pronto que encontrasse em uma loja especializada em noivas. Mas esqueci que minha sogra é uma mulher que precisa mostrar à sociedade o quão ela é importante e, por não ter filha, viu em mim a chance de desbancar as amigas que tinham meninas solteiras.

— Ela tem umas ideias fantásticas com cortes modernos que sei que vai gostar Melzinha. — Urgh! Sério isso não combina com Ah-ri, mas eu faria um esforço.

— Tudo bem, vejamos o que tem aí. — Valerie abre imediatamente sua pasta de croquis e espalha sobre a escrivaninha.

Os modelos até que eram bonitos e bem desenhados, mas todos em branco ou off-white. Okay minha sogra vai quebrar os joelhos quando disser o que pretendo vestir.

— São lindos, mas poderia fazer em outra cor?

As duas me encaram com um olhar espantado, como se tivessem visto um fantasma.

— Que cor está pensando, querida? — Ah-ri diz num fio de voz e claramente sem graça.

— Preto. — A mulher se senta de uma vez sobre a cama com a mão espalmada sobre o peito e empalidecida, bem mais que antes. Corro pegar um copo de água sobre o meu criado-mudo e lhe entrego. A mulher toma um gole generoso e aos poucos a cor volta em sua face.

— Uma noiva não deve se vestir de preto minha querida, nem é bom que os convidados vistam essa cor em um casamento, em especial as madrinhas. Isso é um absurdo. — Ela meneia a cabeça negativamente várias vezes enquanto fala, mas mantenho minha expressão serena.

— Bem, na realidade hoje em dia é bem comum as noivas optarem por outras cores além do tradicional branco, bege ou off-white. — Ouço a voz de Valerie pela primeira vez desde que fomos apresentadas. E ela disse isso com uma tranquilidade que me surpreendeu ajeitando os óculos de armação grossa sobre o nariz. — Todos esses modelos são exclusivos Melissa, desenhei especialmente para você com base no que Ah-ri me disse sobre sua personalidade, mas percebo que ainda não estão a sua altura. Se gostar de algum, podemos tomar como base e fazer as modificações que achar necessárias. Tenho tecidos lindos na cor que pretende. — Gostei dessa mulher, principalmente porque ela conseguiu fazer Ah-ri ficar calada durante todo o tempo em que falava comigo.

— Mas isso... é... é... trazer muito azar para um casamento. — Ela varre os olhos pelo piso, paredes do quarto, como se procurasse o meu juízo perdido. — Os convidados se vestirão como? De branco? — Ela diz caçoando.

— É exatamente isso querida sogra. Somente Jungkook e eu estaremos vestidos de preto. — A mulher quase cai sentada de novo e aquela encenação já estava me dando nos nervos.

— E... e você só me diz isso agora? — Ainda faltavam alguns meses pro casamento não sei por que ela está tão brava. — Eu já mandei fazer minha roupa assim como o terno de seu pai e... Deus... os convidados, os convites, precisarão ser avisados sobre as roupas, os padrinhos também já devem ter providenciado...

— Ah-ri. — Tento reunir em mim toda a paciência que restou. — Jeon e eu ainda nem decidimos onde será a cerimônia/ festa. Por mim nem convidaríamos esse mundo de gente, papai e você que fizeram questão de ser algo tão grandioso.

— Claro! Você é uma Carter querida! Esperava o que? A única filha de Ethan só um dos maiores empresários do mundo, conhecido internacionalmente, acha mesmo que poderíamos fazer algo simplório? — Exaspera inconformada.

— Aceitei seus termos, só aceitem os meus, aliás, os nossos já que seu filho concordou. — Replico tranquila.

— E para o noivado, hm? Vai de preto também? — Inquere menos alterada que antes.

— Não seria uma má ideia, já que é menos formal e com poucos convidados, mas não farei isso. Eu só ainda não decidi o que vestir. — Dou de ombros.

— Meu deus! Já é na próxima semana e ainda não verificou isso? — Ah-ri se levanta da cama olhando para os papéis sobre o colchão.

Okay, isso já estava estranho demais. Qualquer roupa estaria boa, por que ela faz tanto estardalhaço?

— Preciso ver qual proposta aceitaram. — Exige apontando para as pastas.

— Ainda não resolvemos isso também, inclusive como pode ver, estávamos exatamente tentando acertar isso. — Antes de nos interromper, claro.

— É... eu vi o quão estavam empenhados nessa tarefa. — Contorce os lábios se referindo a cena que presenciou há poucos minutos.

Repouso minhas mãos sobre a cintura e precisava dar um basta nesse enxerimento dela:

— Ah-ri não deveria dar explicações sobre minha intimidade levando em conta que seu filho tem quase vinte e seis anos e somos praticamente noivos. Acha que nos resguardaríamos castos até o casamento? — Não era a verdade, mas o que presenciou precisava ser explicado, ou não. Ah puta merda! Jungkook você me paga!

— Por Deus Melissa, não precisa revelar detalhes de sua intimidade, está destruindo a visão pura que tenho do meu filho. — Cruzo meus braços e olho para Valerie que sorria discretamente pela pequena discussão. Tava na cara que eu não me dava bem com minha sogra e, eu, nem um pouco a fim de esconder a peça rara que ela é. E também a modista deve ter visto muito disso nos lares suntuosos que está acostumada a frequentar. Então não é algo com que me preocupo.

— Estamos perdendo tempo com discussões ridículas e fazendo a pobre Valerie corar com os assuntos. — Torno a olhar para a mulher que apruma a postura e me dá atenção total. — Eu gostei muito desse. — Pego um desenho de um modelo com um corselete sem mangas todo bordado acinturado com uma imensa saia em evasê que estendia uma cauda não muito grande. — Quero esse, mas no lugar da grinalda será tipo uma capa em voil com acabamento em renda e pedrarias no pescoço.

Enquanto Valerie anotava minhas considerações olhei rápido em direção a Ah-ri e a mulher estava vermelha e coçava as têmporas sem pode dizer absolutamente nada. Afinal era o meu momento.

Com tudo anotado ela separa o croqui escolhido.

— Vou providenciar o modelo e amostras dos tecidos para que avalie se gosta da tonalidade, assim também como as pedrarias. Amo noivas ousadas e que fogem do comum. Estou tão inspirada que não vejo a hora de começar. — Valerie diz empolgada recolhendo suas coisas. — Vamos até Jungkook para que escolha o modelo? — Ela direciona a pergunta para Ah-ri.

— Deixa eu adivinhar, ele iria todo de branco também? — Valerie assente.

— Claro minha querida nora! Agora precisamos mudar isso também. — O desgosto em suas palavras é palpável.

— Não se preocupe sogra, se Jungoo subisse de cueca no altar já bastaria. — Ela revira os olhos e se retira antes de dar alguma resposta mal-educada para minha observação.

Dou de ombros e volto para as pastas sobre minha cama. Separo algumas que me interessaram para discutir com Jungkook depois. Eu não tinha mais a menor paciência para decidir isso sozinha. Estava mais divertido quando o pirralho estava aqui comigo.

E por falar nele, está se saindo um belo de um cafajeste. Me promete uma coisa e faz outra. Mesmo falando brincando, ele se doeu e partiu pra cima de mim. E eu como uma bela de uma imbecil estava me derretendo em seus braços e aproveitando o calor de seu corpo. Senti sua ereção cavando meu estômago e entre minhas pernas um calor absurdo.

Será que gosto de ser dominada na cama? Nunca estive nessa posição antes, contida, pressionada, quando penso nisso sinto o aperto que ele manteve em meus pulsos, a força de suas pernas me imobilizando com tanta facilidade. As palavras com conotação suja saindo de seus lábios me perguntando sobre quantas vezes me toquei pensando nele. Quanta presunção em nem cogitar a possibilidade de me perguntar se eu havia me tocado pensando nele. Praticamente afirmou que eu fazia isso, só queria saber quantas vezes.

Será que ele me espiona?

Argh! Eu vou arrancar as bolas desse moleque por me fazer sentir essas coisas.

Jogo um travesseiro contra a porta e acaba acertando Jungkook que entrou bem na hora.

— Nossa que recepção agradável. — Ele junta o travesseiro que arremessei e sem querer o acertei, com o que já estava em mãos. Reviro os olhos e bufo olhando para o lado oposto em que estava. — Posso saber por que minha futura noiva está chateada?

— Ainda pergunta? — Pego as pastas que havia separado e ele se senta ao meu lado. — Já viu o modelo do terno? — Pergunto mais calma.

— Já. Foi mais difícil fazer minha mãe aceitar do que a estilista anotar o que queria. — Ele diz num tom desanimado. Jeon não era o tipo de filho que antagonizava a mãe então acho que ele se sentiu meio culpado por isso.

— Eu tive minhas adversidades com ela também. — Revelo.

— Ela me disse. — Ele pega as pastas e passa a analisá-las. — Não gosto de contrariá-la, mas gostei da sua ideia e acho que ela precisa respeitar as minhas decisões, só não me sinto confortável em lhe dizer não.

— Ah-ri já teve o momento dela por duas vezes, quando se casou com seu pai e depois com o meu. Aposto que ninguém ficou dando opinião sobre o que ela deveria ou não vestir.

— Minha avó fez o mesmo que ela está fazendo agora com você. — Ele ri. Certamente relembrando alguma história de família a qual eu não sabia. — Acho que minha mãe só teve liberdade para escolher como iria se casar quando foi com Ethan, já que vovó não tinha mais tanta saúde pra isso. Eu só queria pedir um pouco mais de paciência com ela. Minha mãe sempre quis ter uma menina depois de mim, não sei por que não engravidou, mas não teve. Acho que ela espelha essa filha em você.

— Paciência? — Rio sem que chegue aos meus olhos. — Quando você a esgota por completo?

— Eu gosto de te ver irritada, é diferente. — Ele se aproxima com aquele sorrisinho nos lábios encarando os meus enquanto o encarava séria.

— Vou dar com essa pasta na sua cara se você se atrever. — Levanto a mais grossa e pesada e ele segura em meu pulso.

— Calma diaba, agora entendi sua raiva. — Se faz de dissimulado. — Eu não vou quebrar minha promessa, pode ficar tranquila. Antes terá que pedir por isso. — Aponta com a mão livre para seu próprio corpo.

— Eu nunca farei isso. — Prefiro virar uma celibatária a implorar por sexo.

— Nunca diga nunca. — Me levanto da cama e aponto para as pastas que estavam nas mãos dele.

— Pare de dizer bobagens e analise essas propostas. — Dito brava.

E ele ri meneando a cabeça enquanto abre os exemplares. Meu rosto certamente estava vermelho porque senti o calor em minhas bochechas.

— Ainda me deve uma resposta. — Diz casualmente sem ao menos ter a decência de me olhar nos olhos.

Eu não acredito que ele vai insistir naquele questionamento indecente.

— Eu não vou responder sobre aquela pergunta! — Cruzo os braços o olhando por cima e ele dá de ombros.

— Pelo menos eu sei que isso já ocorreu. — Me olha por baixo.

— O que? Como assim? — Garoto insolente.

— Poderia dizer não, caso não tivesse feito. — O jeito informal que responde não era compatível com a pessoa que conheci há alguns meses.

Eu não diria em voz alta, mas ele tinha razão. Por mais que minha vida estivesse um caos era nele que encontrava calmaria e conforto, ao menos em meus pensamentos. Lidar com sua presença, já era outro problema que preferia evitar.

— Se estiver de acordo, acho que a proposta dessa empresa é a melhor. — Estende a pasta para mim como se nada tivesse acontecido.

Pego o exemplar e releio rapidamente apenas assentindo que estava de acordo e deixo separada. Começo a arrumar a pequena bagunça e ele me ajuda em silêncio. Talvez não lhe entregar respostas seja melhor do que explicar alguma mentira, pois no fundo ele tinha conhecimento do quanto mexia comigo. 

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