Em uma outra vida, eu serei o...

By mariihreis

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EM BREVE LIVRO FÍSICO FINALIZADA | taekook | séc XVIII | romantismo | romance epistolar | +18 Kim Taehyung e... More

Trailer
01. Asas são feitas para voar
02. A ambiguidade consome cada partícula sã que me resta
03. Gostaria que o dia não findasse
04. À mercê de sensações confusas e paradoxais
05. No céu, uma miscelânea de cores. Em mim, de sentimentos
06. Talvez eu nunca possa tocar o céu
07. Perdidos em palavras não ditas
08. Que te custavas ter-me neste engano?
09. Culpa e santidade
10. Que seja eterno enquanto dure
11. Talvez em uma outra vida
12. Quando este mundo será diferente?
13. O Inferno é tão quente quanto pecar?
14. O sigilo ainda não me sacia
15. Meu devoto coração é todo teu, apenas teu
17. Lembro do vazio me abraçar
18. E se amamos, sobrevivemos
19. O Sol surge com a Aurora, o Amor surge com Daehy
20. Quero abrir minhas asas e experimentar o tutano doce da liberdade
21. Meu anjo
22. Meu garoto
23. O voo alçado
pré-venda do livro físico aberta!

16. Aflição de ser água em meio à terra

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By mariihreis

Oieee! Aqui está um presentinho de Natal 🥰🎁
Achei que não voltaria aqui esse ano ainda, mas pelo visto os personagens têm pressa hehehe

⚠️AVISO: se em algum momento da leitura você sentir desconforto ou se sentir engatilhado, peço que interrompa a leitura!

23 de setembro de 1790.

Querido Diário,

Na volta do meu trabalho hoje, passei na mansão de Jeongguk e Mayumi para visitá-los. Minha menininha aparenta estar realmente melhor após ter conquistado tua "independência" dos pais. Parece ainda mais mulher, dona de tua própria casa. Fui recebido pelo teu abraço caloroso e estava muito feliz por vê-la, até ouvi-la dizer:

"Esta camisa é tua? Jeongguk tem uma semelhante", comentou e inclinou a cabeça para o lado conforme averiguava minha vestimenta com atenção, deslizando as mãos pelo colarinho.

Estremeci, meu sorriso desvaneceu. Como pude ter sido tão tolo? Sequer me atentei que ela poderia reconhecer a roupa do próprio marido! Comecei a suar frio, engoli em seco.

"A minha é diferente desta", Jeongguk interveio e só assim percebi tua presença no cômodo. "A minha tem um pequeno desenho bordado no peito."

Mentiu e Mayumi aparentou acreditar, meneando em positivo. Agradeci-o com os olhos e o vi esboçar um sorriso de canto. Ele gostou. Gostou de me ver com a roupa que esquecera na nossa casa.

"Poderias ter me avisado que viria, Taetae", Mayumi disse enquanto me servia chá. Já estávamos sentados na mesa para o lanche da tarde. "Se eu soubesse, teria desmarcado minha aula de francês."

"Oh, não se preocupes, não vim para ficar muito tempo. Apenas para vê-los bem rapidinho. Estava com saudades, irmãzinha."

"Também sinto tua falta, todos os dias", ela sorriu e pousou a mão na minha. "Bom, se não se importares, podes me acompanhar até a casa da senhora Lee. Dessa forma, o Guk não precisará fazê-lo."

"Sim, poderei ir direto para a casa de meus pais", ele disse e o mirei com uma expressão indagadora. "Preciso entregar alguns relatórios que meu pai me pediu", explicou.

Ao terminarmos de tomar o pequeno lanche, aguardei Mayumi na porta de entrada. Logo ela surgiu com Jeongguk, tinham os braços entrelaçados.

"Vou acompanhá-los até a metade do caminho", ele disse e o respondi com um sorriso.

Mayumi se soltou do enlace dele e ficou agarradinha a mim conforme tagarelava sobre um monte de coisas. Vez ou outra eu ria de tuas gracinhas, contendo a vontade de apertar as bochechas gordinhas dela. Ah, minha Yumi. Continua tão doce como sempre.

Num dos cruzamentos das estradas, Jeongguk se despediu de nós e desviei os olhos quando Mayumi segurou teu rosto e o beijou na boca. Senti algo arder em meu íntimo, como se minha alma se contorcesse diante da carícia deles. Pelo canto de minha visão, vi Jeongguk me olhar de relance.

"Até logo", despediu-se e eu e Mayumi seguimos por outro caminho.

Caminhávamos em silêncio, minha mente barulhenta me distraía com pensamentos tóxicos e egoístas.

"Taetae", Mayumi me resgatou do martírio e me vi forçado a sorrir.

"Sim?"

"Já amaste antes?"

Fui pego desprevenido com tua pergunta. Se já amei antes? Agora que tenho certeza do que é amor, sei que antes de Jeongguk não amei ninguém.

"Eu amo alguém, Yumi."

"Juras? E quem ela é?", fitou-me com evidente surpresa.

"Nunca te falei sobre ela?", franzi o cenho. Ela acenou em negativo. "Ora, é minha namorada. Está em Haeinsa."

Minha pequena flor arfou e entreabriu os lábios. Não me sentia bem mentindo para ela, mas essa historinha ajudaria a encobrir meus segredos com Jeongguk. Após o meu deslize de hoje, eu deveria apagar qualquer vestígio de nosso pecado.

A partir daí, Mayumi me fez mil e uma perguntas. Quis saber se eu não sentia falta dela; quando ela viria nos visitar; quantos anos tinha; se não sentia medo do nosso amor acabar por causa da distância. Respondi todas as perguntas da maneira mais convincente que pude.

"Por que esse assunto de repente?", questionei.

"Bom, é que...", ela se mostrou tímida. Uni minhas sobrancelhas. "Lembras quando me dissestes que no casamento era preciso existir amor?", assenti. "Na época debochei de tuas palavras, me desculpe. Mas hoje eu entendo, Taetae."

Meu peito apertou.

"O que queres dizer?"

"Eu amo o Jeongguk."

E de novo, ali estava ele. Aquele sorrisinho dela que sempre a entregava. Não era uma novidade para mim, já vinha desconfiando disso antes. No entanto, soou muito mais doloroso ao escapar da boca dela. Agora, não era mais uma das teorias de minha cabeça confusa e enciumada. Agora era real, verbalizado por Mayumi.

O dilema ressurgiu: minha felicidade ou a dela?

Estava baqueado demais para pensar, sequer tinha tempo para isso, pois as íris acastanhadas dela devoravam cada linha de expressão do meu rosto. Eu precisava abrir um sorriso e dizer que estava feliz por ela. Deveria ser algo simples, mas jamais seria. Não para mim. Engoli em seco.

"Eu... eu estou muito feliz por ti, irmãzinha."

"Obrigada", sorriu. "Eu sempre o amei, só não percebi antes."

Acenei em positivo, sem saber o que dizer.

"Mas...", ela aparentou estar receosa por um instante, tinha os olhos baixos. "Em relação àquilo que te disse antes, sobre ele desanimar naqueles momentos, continua acontecendo. Isso me preocupa um pouco, ainda mais porque ontem...", brincava com os dedos indicadores. "Ontem, quando ele não conseguiu de novo, vesti minha camisola e voltei para a cama. Deitei virada para o outro lado porque não queria encará-lo. É um pouco constrangedor, sabes?"

Assenti. Não sabia, mas conseguia imaginar.

"E, bom... Muitos minutos se passaram e eu não conseguia dormir, foi então que o ouvi chorar. Homens não deveriam chorar, não é, Taetae? Ele deve ter pensado que eu estava dormindo. Ele chorou baixinho, mas foi tão intenso que até tremia."

Céus, Diário. Confesso-te que preferia não ter escutado aquilo tudo, porque me dói. Maior do que meu alívio em ter a certeza de que os dois não avançam nessa relação forjada é apenas minha dor em concluir como isso afeta o meu Jeongguk. A pressão da sociedade está violando a cabeça e o corpo dele.

"Queria saber o que acontece na mente dele, se o problema sou eu ou a situação em si. Não consigo desvendá-lo e fico me sentindo muito mal depois. Gostaria de poder conversar com ele sobre isso, mas sabes que não consigo. Tu és mais próximo, talvez consigas falar com ele. O Guk nunca conversou contigo sobre isso?"

"Não... mas talvez eu consiga tocar no assunto de maneira sutil."

"Por favor, faças isso por mim. Caso descubras algo, me contes."

"Certo, irmãzinha", concordei com desânimo e ela me agradeceu.

Felizmente, havíamos acabado de alcançar a casa da professora de francês dela e eu enfim estaria livre para lidar com todos os meus pensamentos. Abracei-a e desejei uma boa aula. Observei-a saltitar até a casa e apenas quando ela entrou me virei para ir embora, refazendo todo o caminho que trilhamos.

Minha mente ficou sobrecarregada com tantas informações complicadas e eu tentava organizar o caos de meus pensamentos e sentimentos, pois o meu corpo inteiro reagia quando tinha alguma coisa errada com Jeongguk.

Estava disperso enquanto caminhava, por isso levei um susto ao sentir mãos fortes agarrarem minha cintura num abraço de lado. Jeongguk é capaz de acelerar meu coração e entorpece-lo em instantes.

"Já voltares?", questionei.

"Sim, meu pai não estava, então só deixei os relatórios", sorriu e se distanciou para me fitar. "O que há contigo?"

"Nada."

"Não é sobre o beijo que Mayumi me deu, é?"

Mantive-me em silêncio. Era isso e muito mais.

"Ora, Tae. Não devemos sentir ciúme um do outro", com sutileza, ele alcançou o meu mindinho com o teu, entrelaçando-os. "Não quando sabemos da verdade por trás de tudo."

"'Ciúme?' Tenho inveja, Jeongguk", bufei. Permanecia sem olhá-lo. "Inveja porque ela pode ter teu sobrenome e eu não. Inveja porque ela pode beijar teus lábios quando quer e eu não. Inveja por não ter nascido uma mulher e desse modo nossa relação não pode deixar de ser algo abominável, pecaminoso."

Relatando-te isto agora, Diário, só me vem na cabeça um pequeno poema que li certa vez num livro qualquer da biblioteca dos Sons, o qual me tocou profundamente e precisei anotar no meu caderninho. Chama-se "Aflição".

"Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra."

"Não preciso que sejas uma mulher, não preciso que carregues meu sobrenome. Preciso que sejas apenas tu", ele interveio. "Nossa relação é abominável para ti?"

"Claro que não, mas-"

"Apenas isto basta. Para mim ela também não é. É só o que importa, não devemos satisfação a ninguém."

Jeongguk puxou meu mindinho em busca de chamar minha atenção e finalmente levantei o olhar. Suspirei. Ele estava certo. Concordei com a cabeça e o ofereci um pequeno sorriso, observando a feição dele se tornar mais tranquila.

"E sobre ser algo pecaminoso, bom...", inclinou a cabeça um pouco para o lado, pensativo. "'Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, eu faria isso. Assim poderei me gabar aos demônios de ter estado no paraíso sem nunca entrar'", disse e fiquei um pouco atordoado com tuas palavras. Tenho certeza de que minhas bochechas ganharam um tom mais rosado. "É de Otelo, um livro de Shakespeare", sorriu, como se não fosse nada de mais.

Não conversamos ao longo do trajeto até a mansão. Ao chegarmos lá, me despedi dele.

"Não queres ficar mais um pouco? Aproveitar que Mayumi não está?"

"Quero ir embora, preciso pensar."

"Nesse caso, não queres que eu o acompanhe?"

"Não, obrigado. Realmente preciso pensar", respondi e recebi um olhar preocupado dele. Toquei tua bochecha com delicadeza, apenas para mostrar que estava tudo bem.

No caminho para casa, aproveitei para apreciar a paisagem ao meu redor. O caminho de terra que leva até a colina é rodeado dos dois lados por longos campos floridos. É tão lindo. Sempre dá para ver borboletinhas sobrevoando por ali. De alguma forma, a natureza atenuou um pouquinho de minha angústia.

"Eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk, eu amo o Jeongguk."

De tanto a vozinha irritante de Mayumi assombrar minha mente, notei o exato momento em que essa vozinha se metamorfoseou na minha e fiquei repetindo isso para mim mesmo.

Como se eu já não soubesse... Da mesma forma que sei que meu nome é Kim Taehyung, também sei que eu amo o Jeon Jeongguk.

E queria que ele fosse apenas meu.

Adeus, Diário.

﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋

24 de setembro de 1790.

Querido Diário,

Já te disse que amo a maneira como Jeon Jeongguk intervém numa situação? Quando sabe que estou inseguro por causa de alguma coisa, ele sempre dá um jeitinho.

Por exemplo, hoje no final da tarde ele passou aqui em casa e nos entrelaçamos deliciosamente. Chamou-me por Jeon num de teus delírios pós-coito. Atrevi-me e chamei-o por Kim. Kim Jeongguk. Não importa se foi num momento de êxtase, torpor. No meu coração, foi sincero, e juro que jamais ansiei algo assim com tanta voracidade antes.

Mais do que nunca, quis poder me chamar Jeon Taehyung.

Estrela. Quanto mais longe algo está de nós, mas ansiamos alcançá-lo.

Esta é a vida, Diário. E infelizmente não tenho outra opção além de aceitá-la. Não é como se eu já não estivesse acostumado com as gaiolas mundanas.

Até logo.

﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋

28 de setembro de 1790.

Diário,

Em todos os 20 anos de minha miserável existência, posso afirmar que não houve nenhum dia em que eu tenha sentido uma dor tão excruciante quanto essa.

Deveria ser uma dor emocional, mas é uma coisa que surge no peito e segue pelas veias até eu sentir algo me sufocando. Como se alguém estivesse apertando o meu pescoço até o ar se tornar rarefeito.

Então, eu choro.

Antes, eu berrava. Cheguei a bagunçar todo meu quarto num surto, numa tentativa de tirar essa coisa ruim de dentro de mim. Porém não adiantou nada, apenas me deixou sem energia. Agora, apenas choro silenciosamente, porque não tenho mais forças para gritar.

Tento continuar gorjeando, mas às vezes tudo o que o mundo quer é apenas me ver silenciado. E sinto em dizer que estou a um passo de dar o que ele sempre quis.

Finalmente, após 20 anos sentindo que eu não pertencia a lugar nenhum, eu enfim entendi de onde veio isso, ou porque surgiu. Está no meu sangue, Diário.

Óbvio que estou fadado a não me sentir bem-vindo aqui na Terra. Sequer deveria ter nascido, afinal.

"Minha querida amiga,

Não sabes a dor que senti ao ler tua carta. Conceber um fruto de um casamento infeliz é como dar a luz a um amontoado de espinhos, era o que tu mais temias. Uma pena que isso terá que sair de ti, não é apenas teu corpo que está sendo violado, mas tua alma também.

Sinto muito, Dae. Muito mesmo. Não consigo parar de chorar, minha amiga. Teu sofrimento é o meu. Infelizmente, 'o mundo não lhe é complacente, nem o são as leis do mundo.'

Conte comigo para o que precisar. Não sairei do teu lado ao longo desta fase tão sombria.

Com pesar, tua amiga V."

Dispensável qualquer tentativa de descrever o que estou sentindo. Aqui nunca foi o meu lugar e agora, mais do que nunca, não vejo motivo para continuar tentando me encaixar aqui.

Para que insistir em continuar vivendo?

﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋﹋

Deixarei os comentários com você 🙊

saber sua opinião é muito importante para mim e me motiva muito a continuar escrevendo!

Um beijão, espero que tenha gostado do presente! 🎁

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