A Luz dos Teus Olhos {VMIN} |...

By binjinz

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FANFIC EM PROCESSO DE REESCRITA!!! Kim Taehyung sempre acreditou no amor e, por mais que nunca tenha acredita... More

• Avisos & Personagens •
Prólogo - O destino, como se fosse por acaso
Capítulo 02 - Sempre na sua direção
Capítulo 03 - Aquele que foi embora

Capítulo 01 - Memórias voam com o vento

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By binjinz


"Eu sinto sua falta até mesmo nos meus sonhos.

Lembre-se, eu te amo, garoto,

mesmo que eu nunca mais possa te ver" 

(Suzy — I Love You Boy)

Eu deveria ter percebido que minha vida amorosa seria diferente do que é considerado normal, quando fui a uma festa da universidade e me apaixonei à primeira vista, só de olhar nos olhos de um dos veteranos anfitriões. Por mais que na época eu não achasse que amor à primeira vista existisse fora da ficção, foi exatamente o que aconteceu. O veterano em questão era Park Jimin, o meu Park Jimin, que naquela época era apenas um estudante de biologia com um sorriso que parecia cafajeste demais.

Eu já sabia que não era hétero e que gostar de mulheres de forma romântica ou sexual era algo que não aconteceria comigo. Por sorte, meus pais nunca foram pessoas ruins e não criaram caso quando contei que eu gostava de garotos, até porque meu irmão mais velho também não é hétero, eles seriam bem hipócritas se aceitassem a sexualidade de um e não do outro.

O que eu não sabia na época era que o cara bonito da biologia era gay e se interessaria por mim. Eu era apenas um calouro que não conhecia ninguém na festa além das três pessoas com quem eu tinha ido: Min Yoongi, meu melhor amigo que estudava publicidade e propaganda, e meus outros dois grandes amigos, os irmãos Jung: Hoseok e Whee-in, alunos de ciência da computação e literatura coreana, respectivamente. Eu mal tinha tempo pra outra coisa além de estudar, acho que foi isso que fez os Jung me arrastarem para a festa, juntamente com Yoongi.

Eu nem deveria ter ido para aquela festa, mas existem coisas que não podem ser feitas na vida e, uma delas, é dizer não aos irmãos Jung.

Sei que fiquei com a paixão platônica em Park por meses, eu suspirava todas as vezes que o via pelo campus distribuindo sorrisos para todas as pessoas, do porteiro ao reitor, menos para mim. Ele estava sempre em bando com alguns colegas, algumas vezes Whee-in e Hoseok estavam junto, rindo e conversando, o que me deixava apenas com Yoongi. E, sim, eles nos convidaram para nos juntar diversas vezes, mas eu nunca fui um cara extrovertido que se aproxima de um novo grupo de pessoas por livre e espontânea vontade.

Eu fui "adotado" pelo trio, ainda quando morávamos em Daegu, caso contrário, meus únicos amigos seriam meu irmão mais velho e seu namorado. Yoongi meio que se parece comigo nessa parte, apesar de se aproximar das pessoas com mais facilidade que eu, mas os Jung... eles são algo fora da curva, nem a pessoa mais extrovertida do mundo chega perto da personalidade deles.

Bom, minha paixão platônica por Park Jimin era baseada em suspiros apaixonados e distantes até o dia em que Hoseok e Whee-in literalmente nos trancaram num dos quartos do dormitório em uma festa do campus no fim do primeiro semestre, sob o argumento de que "apenas olhar e ficar suspirando pelos cantos não adianta, vocês precisam se beijar pra saber se vão ficar ficar juntos ou se esses suspiros foram todos em vão" e, bom, foi o que fizemos (depois de eu quase desmaiar de vergonha ao ser trancado num quarto com o cara mais lindo que eu já tinha visto na vida). Depois daquele dia, Jimin e eu nos tornamos um casal que passava muito tempo junto, muito mesmo, em todos os lugares.

Eu me formei em Nutrição e fiz alguns cursos para me especializar na parte de confeitaria. Eu podia ter aceitado trabalhar em alguma empresa grande que produz alimentos, mas a ideia de ter meu próprio negócio, um lugar em que eu teria liberdade de criar o que quisesse, me pareceu melhor. Não que eu tivesse total confiança pra isso, mas recebi muito apoio dos meus amigos e namorado. E nem me deixaram ter um "plano B", garantiram que o "plano A" daria mais do que certo e eu não deveria me preocupar.

Jimin foi, com certeza, o maior entusiasta para que eu abrisse a confeitaria, desde quando a ideia foi verbalizada pra ele, bem no começo do nosso namoro. Há dois anos, a "Magic Coffee Shop" foi aberta e cresceu mais do que eu imaginei ser possível num lugar em que há tantas cafeterias famosas. Muito desse sucesso eu devo ao Jimin, ele comprava bolos para distribuir no trabalho e pelas ruas de Seul. Eu costumava dizer que se ele cansasse de ser biólogo, poderia investir em publicidade junto com Yoongi.

Eu nunca quis ser rico e famoso, sempre me interessou apenas fazer o que eu amo e conseguir viver disso. E eu consegui. Consigo. Eu sempre me considerei bem sucedido por ter saúde, me sustentar, ter um lugar pra morar, conseguir me alimentar, manter as contas em dia... e ainda com o adicional de ter uma família incrível, amigos fantásticos e um noivo maravilhoso.

Jimin foi o primeiro namorado que tive — o único, na verdade — e meus pais o adoravam e Jimin tinha por eles um respeito que vi poucas vezes em vida. Eles são assim com meu cunhado e foram com minha ex-cunhada, mesmo que ela não fosse legal e não merecesse ser tão bem tratada pelos meus pais e nem pelo meu irmão. Mas isso é outra história.

Nós estávamos resolvendo os últimos detalhes para nos casar (não oficialmente, já que não há essa permissão na Coreia do Sul), depois de quase seis anos de namoro, mas antes que pudéssemos concretizar nossos planos, Jimin morreu num acidente de carro. E eu morri um pouco naquele dia também.

Jimin e eu ficamos juntos por quase seis anos, conquistamos muito e perdemos outros tantos, brincamos e brigamos, planejamos e executamos, sorrimos e choramos... Juntos. Sempre juntos. Jimin era meu porto seguro, tê-lo por perto acalmava meu coração e seu sorriso fazia com que eu me sentisse nas nuvens, preenchido de amor e felicidade.

Tudo, absolutamente tudo, em Park Jimin me fazia feliz. E sua ausência parte meu coração todos os dias.

Há dias em que tudo é muito difícil, que levantar da cama é um desafio e viver parece a pior opção. Há dias em que eu espero pela chegada de Jimin, como se ele fosse retornar, me dar um beijo no rosto, dizer que sentiu saudade e que tudo aquilo, todo aquele assunto de morte, tinha sido um terrível pesadelo, que ele nunca iria embora, que nunca mais ficaria longe por tanto tempo, que me abraçaria e deitaria ao meu lado no sofá para assistir televisão e conversar sobre nossos dias todos os dias. Há dias em que consigo viver quase normalmente, mas há dias em que tudo — absolutamente tudo! — me faz lembrar de Jimin e chorar escondido no banheiro da confeitaria por horas.

Acordar diariamente em uma cama grande e vazia, ao lado do travesseiro que já não tem mais o cheiro do shampoo de Jimin misturado ao cheirinho de amaciante, é doloroso de um jeito que eu nem imaginava ser possível. Viver com a certeza de que Park Jimin não chegará na confeitaria a qualquer minuto para um Flat White e um Red Velvet, parte meu coração.

Passei os três primeiros meses depois da morte de Jimin, morando com meus amigos. Morei um tempo com meu irmão e meu cunhado, depois com Yoongi por algumas semanas, em seguida fiquei com Whee-in e, por último, passei mais de um mês com Hoseok, com quem fiquei mais tempo, pois nada nesse mundo o convencia de que eu precisava voltar para a realidade de morar sozinho e seguir em frente. Ele sempre adiou esse retorno por mais um dia, depois mais outro dia...

Até hoje, sete meses depois de eu ter saído de seu apartamento, Hobi me pergunta se não quero mesmo voltar a morar com ele.

Foram dias bons, mas eu realmente precisava voltar para a realidade, a vida tinha que continuar, e quando retornei para meu próprio apartamento, a vida real me atingiu em cheio sem nenhuma piedade.

Ver nossas coisas, tudo que tinha sido escolhido por Jimin, todos os detalhes que faziam aquele apartamento ter a cara de um lar me fizeram deitar no chão e chorar alto, de um jeito que provavelmente me deixou com a cara mais feia do mundo, e parecia que quanto mais eu chorava, mais lágrimas eu tinha pra chorar, mais dor eu sentia, mais a tristeza me engolia.

Eu entendi perfeitamente a Holly de "P.S. Eu te Amo", quando me deparei com a imensidão de um apartamento não tão grande, mas espaçoso demais para apenas uma pessoa depois de construir ali toda uma vida com outra pessoa que acabara de falecer. Eu entendi o apego às roupas do marido falecido e ao cheiro de seu perfume impregnado nelas, o apego às coisas simples que a faziam lembrar de tudo que viveram. Eu entendia perfeitamente a necessidade de se agarrar com unhas e dentes às lembranças boas e ruins, aos momentos felizes e às brigas, às ligações para o celular apenas para ouvir a voz dele no recado da secretária eletrônica.

Entendi ainda mais o sumiço da vida de amigos e familiares, para sentir a dor da perda de um jeito que apenas quem sobreviveu após perder o amor da vida de forma trágica e repentina poderia sentir.

Quando me vi sozinho e tendo que lidar com a vida, pois eu teria que lidar com aquilo uma hora ou outra, foi quando a ficha caiu sobre o que tinha acontecido e que eu teria que seguir em frente sozinho, porque eu estava vivo e tinha uma vida para guiar, foi que eu desmoronei de uma forma que eu não achava que conseguiria me levantar de novo.

Todos os dias, religiosamente, eu ficava esperando que ele chegasse, esperava ouvir o barulho das chaves na porta, ouvir seus passos pelo corredor... mas nunca aconteceu, Jimin nunca mais voltou pra casa. E aceitar isso foi muito difícil.

Mas, mesmo que existam dias em que espero a chegada de Jimin como se nada do que aconteceu fosse real, eu sei que é e que ele não voltará. Naqueles dias de luto profundo, em que a fase de negação me abraçou forte e me isolou de tudo e de todos, eu realmente tinha esperanças de que ele retornaria, agradeceria por eu ter esperado, me diria que tinha sido apenas um engano, e que estava tudo bem e ficaria tudo bem pra sempre.

Eu esperava.

Eu esperava e esperava.

Uma vez, ouvi uma frase a respeito disso, sobre esperar por algo ou alguém que não volta mais: "Se desistir de esperar, a dor da perda te mata". E eu tenho total certeza de que se eu desistir de esperar, se eu desistir de acreditar que reencontrarei Jimin em algum momento, eu vou morrer, mesmo que todos os dias eu morra um pouquinho quando não o tenho ao meu lado ao acordar e nem ao deitar, quando não existem mensagens para avisar que ele estava chegando para o café ou que tinha comprado comida e poderíamos assistir a algum drama na televisão, enroscados no sofá.

São dez meses sem o sorriso e as gargalhadas de Park Jimin, sem os seus beijos, abraços e carinhos tão únicos, sem nossa cumplicidade, nossas conversas e nosso sossego. Dez meses. Trezentos e quatro dias. Sete mil duzentas e noventa e seis horas. Quatrocentos e trinta e sete mil, setecentos e sessenta minutos. Tudo isso sem Jimin ao meu lado para me envolver entre suas pernas, num abraço carente que ele tanto gostava de dar para que eu fizesse carinho em seus cabelos e ele pudesse sorrir e esconder o rosto em meu pescoço.

Todos os dias eu me pergunto se não deveria ter insistido que ele ficasse em casa naquele dia, pedir que para passarmos o dia longe de tudo e todos, eu cozinharia o que ele quisesse, poderíamos assistir televisão, ouvir música ou apenas aproveitar a presença um do outro, deitados na nossa cama o dia inteirinho. Queria ter a chance de mudar aquele dia ou de, pelo menos, revivê-lo para aproveitar mais a companhia de Jimin antes de precisar deixá-lo ir para sempre.

Eu sei, isso só acontece em filmes e livros, mas gostaria que acontecesse na realidade, que acontecesse comigo.

— Tá tendo uma visão, Raven? — Whee-in perguntou num tom de implicância, dando um chute leve no meu pé debaixo da mesa e eu acordei de meus pensamentos para olhá-la.

Eu já tinha encerrado o expediente e estava com meus amigos comendo frango frito e bebendo cerveja e soju em uma das várias mesas da confeitaria. É quarta-feira e nós deveríamos ter um pouquinho de consciência, já que temos que trabalhar amanhã, mas isso é um problema para os nossos "eu" do futuro resolverem.

Normalmente, temos essas reuniões em algum dos nossos apartamentos, em bares ou em restaurantes, mas hoje eu fui surpreendido pelos cinco quando estava perto da hora de fechar e eu estava sozinho. Estavam bem abastecidos com garrafas de soju, cerveja e muitas embalagens de frango frito, o que deixou claro que a nossa noite seria longa.

— Estou pensando em como somos irresponsáveis por beber em plena quarta-feira, sendo que todos temos que trabalhar amanhã.

— Você é seu próprio chefe, pode ficar em casa se quiser — Whee-in deu de ombros e Hoseok, que estava ao seu lado, deu uma risada debochada ao ouvir aquilo.

— E justamente por isso, Taehyungie trabalha mais do que se fosse empregado de alguém — Hoseok saiu em minha defesa, mas, na verdade, ele estava mais puxando a brasa para sua própria sardinha.

Hobi abriu a própria empresa de desenvolvimento de aplicativos e tem um dos aplicativos mais famosos da Coreia do Sul, usado por mais de oitenta por cento da população local. Então, como dono de um império em constante crescimento, ele é o cara que mais trabalha na "J-Hope Inc.", já que cuida de tudo bem de perto.

A "J-Hope Inc." começou com um recém formado em ciência da computação que tinha um computador muito bom, muita força de vontade e um sonho. Hoseok se dedicou muito, muito mesmo, até conseguir o primeiro cliente, o sucesso foi quase imediato e logo ele precisou expandir os negócios para além de seu quarto, criar um ambiente de trabalho maior e iniciar o processo de contratação de empregados.

Empregados, no plural.

Hoseok é rico. Muito rico mesmo. De nós, foi quem enriqueceu de verdade. Mas, pudera, foi o único que cursou algo que faz dinheiro o tempo inteiro.

— Eu estou de folga amanhã — Whee-in deu de ombros ao falar.

— Eu não, mas não sou um fracote feito vocês — Yoongi retrucou, tomando uma dose de soju em seguida, num gole, mantendo sua feição inabalável.

— Eu não vou ultrapassar meus limites, então não tem problema se eu beber numa quarta-feira — Namjoon respondeu num tom tranquilo.

— Eu preciso beber pra esquecer que quarta-feira é o pior dia da semana, aquela turma do nono ano é composta por dementadores e apenas me abastecendo com álcool pra recarregar as energias — Seokjin falou, colocando cerveja no próprio copo. — E amanhã eu só tenho que fazer um favor pro Woo-bin hyung e ficar com a aula extra de estudos, então estou de folga na maior parte do dia.

— Viu?! Ser empregado dos outros é bem menos trabalhoso — falei com Whee-in e ela rolou os olhos.

— Espera aí — Yoongi falou, olhando para Seokjin. — Você e esse tal de Woo-bin tem um relacionamento tão informal assim que você chama seu colega de trabalho de hyung?

— Considerando que ele é meu primo, eu acho que sim — Seokjin respondeu debochado, tomando um gole de sua cerveja.

— Enfim, ficou claro que apenas os donos dos próprios negócios trabalham de verdade nesse grupo — Hoseok implicou e Whee-in o chutou, mas não tão de leve. — Ai! Filha da puta!

— Temos a mesma mãe, idiota.

— Vocês tornam impossível a missão de não encher muito a cara — Yoongi falou, forçando um tom monótono, mas o sorriso implicante em seus lábios não permitia que ele soasse verdadeiramente mal humorado.

— Meu aniversário é na sexta — Hoseok falou, pelo que deveria ser a sétima vez sobre aquilo, dando um sorriso animado.

— Já sabemos, você faz questão de falar disso o tempo inteiro — Namjoon implicou.

— E vamos comemorar.

— Também sabemos disso, Hoba, você não nos deixa esquecer — Yoongi falou e acho que Hoseok quis dar um soco nele.

— Enfim, vamos a um bar legal perto de casa. Tudo por minha conta.

— Agora começou a ficar interessante — Whee-in sorriu animada, até se ajeitando na cadeira. — Eu estava pensando em uma desculpa para não ir, já que não ganho dois milhões de wones por hora igual a certas pessoas...

— Nem eu ganho isso, noona, não se iluda.

— Ele ganha mais — Namjoon hyung falou, dando uma risadinha para importunar Hobi um pouco mais.

— Não posso ser culpado por ser bom demais no que faço — Hoseok se gabou. — O importante é que vamos comemorar na sexta-feira, não aceito desculpas para que vocês não compareçam.

— Nós podemos até ser idiotas, mas não o suficiente para não ir a um evento com bebida de graça em Gangnam — Seokjin hyung falou e nós concordamos com ele.

— Preciso de amigos novos — Hoseok resmungou, voltando a beber e eu ri, observando meu amigo fazer um drama desnecessário.

— Inclusive, omma pediu pra avisar que temos que almoçar com ela no domingo, hyung — falei com Namjoon, meu irmão mais velho, e ele ergueu uma das sobrancelhas ao ouvir aquilo. — Ela me ligou mais cedo pra dizer isso, então temos que ir pra lá no fim de semana.

— Então você não vai ao aniversário da minha irmã — Seokjin concluiu e Namjoon fez um biquinho desapontado e assentiu.

— Não vamos demorar tanto assim pra voltar — falei e Namjoon deu uma risadinha debochada.

— Você sabe que vamos, omma nunca nos deixa voltar cedo, então sem aniversário da sua cunhada esse ano, hyung.

— Eu queria saber como o assunto passou do meu aniversário para o aniversário da irmã do Seokjin hyung — Hoseok protestou.

— Começou quando você disse que precisa de amigos novos — Yoongi alfinetou e deu um daqueles sorrisinhos pequenos e debochados. — Seus amigos antigos estão apenas fazendo sua vontade.

— Vocês nunca fizeram a minha vontade, vão começar agora? — o tom fingido de ressentimento de Hobi me fez gargalhar.

— Hoba, eu não vou te abandonar. Nunca. Pode ter certeza — falei, sorrindo para meu amigo, e ele sorriu de volta.

O assunto sobre o aniversário de Hoseok se estendeu por um bom tempo, o combinado era iríamos para o apartamento do Jung quando saíssemos do local da festa e esse "quando" não tinha uma hora exata.

Já estava muito tarde quando sai da confeitaria e caminhei cambaleante pelos poucos quarteirões até o prédio simples em que moro. Eu estava feliz, de verdade. Ter toda essa proximidade com os meus amigos sempre recarrega as minhas energias e me faz bem, de um jeito bem gostoso.

Depois de algumas tentativas frustradas de colocar a chave na fechadura para abrir a porta, eu consegui entrar no apartamento. Tirei os sapatos na entrada e caminhei só de meias até o local em que Jimin mantinha seu pequeno jardim, com um monte de plantas que ele sempre cuidou tão bem, mas que nesses últimos dez meses têm sofrido um pouco por estarem morando com um cara péssimo com jardinagem.

Lembro de ouvir Jimin falar que plantas precisam de positividade, que ambientes negativos sugam toda a vida delas, então era sempre necessário falar coisas boas para elas, conversar com bastante alegria e ter sempre palavras positivas a dizer, que deveríamos falar, pelo menos, dez coisas boas para as plantas todos os dias. Ele fazia isso todos os dias pelas manhãs, enquanto eu ainda estava na cama criando coragem para levantar.

Ainda cambaleante, fui até a pequena varanda (pequena mesmo) e me sentei no chão de frente para as plantas. Elas ainda estavam bonitas (isso graças a Namjoon hyung que sabe muito sobre plantas!) e não tão abaladas pelo clima mais frio de fevereiro.

— Eu só vim dar boa noite, não tenho muito pra falar, eu acho, e preciso acordar cedo, eu já deveria estar em casa há horas, mas meus amigos foram pra confeitaria com um monte de cerveja, soju e frango... nós bebemos demais, comemos demais, falamos demais... foi legal. Sempre é legal com eles. Eu não faço ideia do que seria a minha vida sem os cinco... se vocês precisam de palavras felizes e positivas, eu preciso daqueles cinco que são tudo de mais positivo que existe na minha vida. Acho que devem ser a única coisa positiva, pra ser sincero... bom, eu vou dormir. Vocês precisam descansar e eu também, então saibam que Kim Namjoon, Kim Seokjin, Min Yoongi, Jung Hoseok, Jung Whee-in e Park Jimin são seis coisas boas que vocês precisam ouvir. Sete com omma, oito com appa, nove com a "Magic Coffee Shop" e dez... dez seria o frango frito com soju e a companhia dos meus melhores amigos.

Eu até tentei ficar de pé, mas o álcool não me permitiu e eu literalmente fui engatinhando até minha cama. Preciso lembrar que o corpo de vinte e sete anos sente mais o peso da bebida do que o corpo de dezenove.

A última coisa que fiz foi enfiar o rosto no travesseiro de Jimin, que já não tinha mais seu cheiro, mas que, pelo menos, tinha o simbolismo.

— Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida, Jimin-ah.

🧁

Gangnam é um lugar bonito e com uma vida noturna agitada, acho que só perde para Itaewon, que é onde boa parte da vida noturna da Coreia do Sul acontece. É aqui que Hoseok mora e resolveu comemorar seu aniversário.

Há algumas pessoas da "J-Hope Inc.", os poucos mais chegados a Hobi, nosso grupo de amigos e só. Mas, pelo tanto de comida e bebida que ele encomendou e que não para de chegar até a mesa em que estamos, parece que Hoseok achou que alimentaria toda a população do país.

Nós cinco — Namjoon, Seokjin, Yoongi, Whee-in e eu — combinamos de trazer um bolo, obviamente feito por mim, que serve todas essas pessoas que estão aqui, já que não são muitas, mas o fato de a comida não parar de chegar e ela ser consumida com muita rapidez, me deixa em dúvida se o bolo realmente servirá todo mundo.

Whee-in, provavelmente, é quem está comendo mais do que todos. Hoseok sabe a irmã que tem, por isso deve ter pedido tanta comida. Seokjin é outro que mal está respirando de tanto comer. Namjoon e Yoongi estão bebendo e conversando sobre livros e a vida, já estão ficando bêbados.

— Tá tudo bem? — ouvi a voz de Hoseok, depois de ele chutar de leve meu pé.

— Tá sim, Hobi. E você? Tá tudo bem?

— Você parece pensativo... aconteceu algo?

— Eu só estava reparando que Namjoon hyung e Yoongi estão ficando bêbados e que Whee-in noona e Seokjin hyung vão explodir de tanto comer.

— Tem certeza?

— Absoluta — assenti.

— Está gostando da comida? Da bebida? Você está comendo pouco... quer pedir outra coisa?

— Não precisa pedir nada diferente, eu já comi bastante. Estou dando um tempo pra deixar a comida baixar pra eu poder comer mais.

— Obrigado por vir.

— Nunca deixaria de comemorar seu aniversário com você, Hoba — garanti e ele sorriu. — Vocês me ajudam todos os dias a não ficar no fundo do poço e estar aqui com vocês é uma carga de energia que me mantém bem.

— Fico feliz, Taehyung-ah. Vocês são tudo pra mim — Hoseok sorriu ao falar, mas havia um pouquinho de lágrimas em seus olhos.

Bêbado.

Sei que as palavras são sinceras, mas as bochechas vermelhas e os olhos lacrimejantes são a prova de que ele não está nem perto de estar sóbrio.

— E vocês são tudo pra mim também.

— Ele diria que estamos sendo muito viadinhos, não diria? — Hobi perguntou, referindo-se à Jimin.

— E depois diria que gostaria de ser viadinho com a gente, viver um poliamor...

— Sinto falta dele.

— Eu também — suspirei, encostando a cabeça em seu ombro. — Eu tenho certeza de que ele está muito feliz por estarmos comemorando seu aniversário, todos juntos.

— Será que ele está de olho na gente? Acho que ele deve estar descansando, tirando umas férias num resort do além...

— Deve estar cuidando de plantas em algum lugar — dei uma risadinha nasalada. — Queria que ele estivesse aqui.

— Eu também.

Nós dois paramos de conversar e eu voltei a observar meus amigos distraídos em seus pratos de comida ou em conversas sem pé nem cabeça, bebendo cerveja e filosofando sobre coisas comuns do dia-a-dia.

Jimin amaria estar ali, fazendo parte disso, rindo e conversando, comemorando o aniversário de um de seus melhores amigos. Não ter Jimin comemorando conosco é deprimente, doloroso.

— Se você fizer meu TaeTae chorar, vou chutar esse seu cabeção, Hoseok — Whee-in ameaçou, olhando feio para o irmão. — Isso é um aniversário, comemoração. Quero ver vocês sorrindo, gritando e cantando.

— Nem você está fazendo isso, noona, está comendo como se não fizesse isso há semanas — falei e ela me olhou feio.

— Pois eu já acabei de comer e agora vou arrastar todos vocês para a diversão.

— Eu estou muito bem assim, mas obrigado pela oferta — Yoongi falou num tom entediado e Whee-in o olhou torto, o que não mudou nada a expressão do rosto dele. — Cara feia pra mim é fome, noona.

Whee-in ficou de pé e pegou a mão de Namjoon, que olhou sem entender bem.

— Pega a mão do Yoongi. E vamos todos nos divertir. Agora.

— Você quer dançar aqui, noona? — Hoseok perguntou sem entender. — Não tem lugar pra dançar. E nem música.

— A festa está onde você faz a festa, Hoseok, tenha isso em mente.

— Senta aí, depois a gente procura um karaokê — Seokjin falou sem erguer os olhos, concentrado demais em seu bife. — Mas vamos parar os assuntos tristes, estamos proibidos de fazer isso.

E foi o que fizemos.

Comemos mais um pouco, bebemos e conversamos. Um pouco depois, o bolo foi trazido, cantamos parabéns para Hoseok e um tempo depois, os colegas de trabalho dele foram embora e restamos apenas nós.

E acabamos coagidos a ir para um karaokê, Whee-in ainda estava muito desperta e animada, e Namjoon tinha sido desafiado por Yoongi a cantar "I Have Nothing", da Whitney Houston. Namjoon não sabe cantar, vamos começar por esse mínimo e simples detalhe. Mas isso também nos garante bastante diversão ao vê-lo tentar.

De todos nós, Whee-in e Seokjin são os únicos que sabem cantar e não ferem a audição alheia. Eles cantaram enquanto bebiam e fizeram um excelente show, um tanto ébrio, mas ótimo. Namjoon nos arrancou risadas e quase desmaiou sem fôlego tentando cantar "I Have Nothing", mas conseguiu um 7 no karaokê. 7 em 100? Muito melhor do que qualquer um de nós imaginava.

Hoseok e Whee-in cantaram uma música juntos, depois Yoongi e Seokjin fizeram uma dupla cantando rap. Namjoon queria cantar comigo, disse que os irmãos deveriam se unir, mas eu neguei. Então, ele cantou sozinho. De novo. Ele berrou, na verdade, totalmente desafinado e nós nem o deixamos terminar a música, era provável que ficássemos surdos se deixássemos. Resolvi cantar sozinho e escolhi "Dreaming With a Broken Heart", do John Mayer, meio que sob protestos, mas escolhi essa mesmo assim.

— Vai, TaeTae, machuque nossos ouvidos e nossos corações — Whee-in falou, colocando mais soju no próprio copo.

Hoseok já tinha atingido seu nível mais bêbado: o triste; Namjoon estava abraçado ao namorado, que fazia um carinho em seus cabelos e Yoongi estava me olhando, extremamente preocupado com aquela escolha de música.

— When you're dreaming with a broken heart, the waking up is the hardest part...

Eu até comecei bem, mas eu desafinei muito enquanto tentava não chorar, o que fez Whee-in rir e isso me fez rir e logo estávamos todos rindo enquanto a melodia da música tocava, esperando que alguém a cantasse, mas não aconteceu. Acabei me sentando entre Whee-in e Hoseok, enquanto Seokjin e Yoongi cantavam "Gangnam Style", bêbados demais para pensarem na vergonha que estavam passando na frente dos celulares dos Jung.

O dia estava amanhecendo quando Namjoon e Seokjin me deixaram em casa, depois de protestos de Hobi — que nem duraram muito, ele estava bêbado demais para conseguir ficar acordado e protestar por estarmos indo embora — e quando abri a porta do apartamento, fui atingido pelo vazio, sentindo na pele o pedaço da música que fala sobre quase não conseguir respirar e me questionar sobre a realidade da presença, me questionar se ele ainda estava no quarto.

Não, não estava.

Fui direto para o pequeno jardim, sentando-me no chão, bem de frente para todos aqueles vasinhos com plantinhas que meu noivo tanto ama. Não ouso pensar no passado, porque eu tenho certeza que ele ainda ama todas elas, mesmo que agora ele não esteja aqui.

— Jimin falava dez coisas boas pra vocês todos os dias, eu não consigo pensar em nada bom pra dizer, não tenho dez coisas boas pra contar e sei que ficar falando de coisas tristes deprime vocês, não gosto de ficar conversando por causa disso, eu queria que vocês soubessem disso, não é que eu não goste de vocês, eu gosto, só não quero que vocês fiquem tristes, já basta que eu esteja fodido de tão triste e sem esperanças. E vocês são as últimas coisas vivas dele, eu preciso cuidar de vocês até que ele volte pra fazer isso. Então, se vocês precisam ouvir dez coisas boas pra ficar bem hoje, vou repetir o nome dele dez vezes, porque talvez isso me ajude a ficar bem também — as palavras saíram emboladas e meus olhos já estavam derramando lágrimas demais, impossibilitando que eu enxergasse um milímetro que fosse. — Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Park Jimin. Dez vezes Park Jimin, talvez ele escute e volte pra nos fazer companhia.

Ele precisa ouvir. Ele precisa.

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