Alphas

By Bad-Lady_Mih

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Sakura Haruno estava acostumada a se meter em encrenca - afinal, havia crescido em um orfanato -, porém, essa... More

Prologue
Chapter 1 - Lemon in the eyes, claws on the arm
Chapter 2 - The darkness before dawn
Chapter 3 - Stay away from the forest
Chapter 4 - A knife in the heart
Chapter 5 - The green room
Chapter 6 - A bad idea
Chapter 7 - I wish they were Boy Scouts
Chapter 8 - The prey
Chapter 9 - One more item for the list
Chapter 10 - Perfection
Chapter 11 - The Witch of the North
Chapter 12 - Feared or respected?
Chapter 13 - The sheriff, the witch and the wolves
Chapter 14 - The cry of death
Chapter 15 - The perfect plan
Chapter 16 - Am I yours?
Chapter 17 - Hunters
Chapter 18 - Bodies in the forest
Chapter 19 - Challenge accepted
Chapter 20 - Almost Permanent Tattoo
Chapter 21 - Potions and weapons
Chapter 22 - A drop of blood
Chapter 23 - Magic words
Chapter 24 - Sleeping late
Chapter 25 - A show
Chapter 26 - Sense of Humor
Chapter 27 - A bloody stranger
Chapter 28 - Newton's third law
Chapter 29 - Cold as night
Chapter 30 - The shape of an alpha
Chapter 31 - From the inside out
Chapter 32 - Stay with me
Chapter 33 - Elves like wine
Chapter 34 - The Witch in White
Chapter 35 - The imposter
Chapter 36 - Akatsuki
Chapter 37 - A difficult decision
Chapter 38 - The way of the dead
Chapter 39 - The Legendaries
Chapter 40 - The wandering werewolf
Chapter 42 - The calm before the storm
Chapter 43 - Blood Runes
Chapter 44 - The color of death
Chapter 45 - Full Moon
Chapter 46 - Sharp Teeth
Chapter 47 - I'm Sorry
Chapter 48 - Blood Divide
Epilogue

Chapter 41 - Shadows lurking

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By Bad-Lady_Mih


CAPÍTULO 41 – SOMBRAS À ESPREITA


Parada em frente ao espelho, Sakura observou o seu próprio reflexo.

Não parecia ser ela ali, e sendo bem sincera, nenhum dos dias parecia. Os vestidos sempre ficavam perfeitos no seu corpo, mas não era isso que a surpreendia, e sim o fato dela estar deslumbrante.

Isso não fazia sentido.

Deslumbrante nunca foi uma palavra apropriada para descrevê-la. Engraçada sim, inteligente, boca suja, infantil, e até um pouco mal-humorada. Mas deslumbrante? Deslumbrante não, então aquele reflexo era uma surpresa incrivelmente estranha.

O sétimo e último dia havia chegado mais rápido do que o esperado, e eles não estavam nem um pouco mais perto de entender o que o errante queria. Na verdade, tinham conseguido um novo problema: a morte da delegada.

Entretanto, mesmo com isso, era quase como se ela se sentisse leve. Toda a sua existência como um deles, como uma bruxa estava relacionada com comandar a colheita, com cumprir com suas obrigações, e até o momento tudo tinha dado certo. O que a fazia se questionar: ela era uma bruxa?

Até aquele momento a informação não tinha sido processada, não até ver seu próprio reflexo no vestido negro que parecia flutuar em volta do seu corpo, quase como se estivesse nua, quase como se não passassem de sombras escondendo sua pele.

Ali era a imagem de uma bruxa.

Pela primeira vez, ela sentiu que era uma.

Podia não saber usar os poderes, podia até mesmo não passar de um fardo, mas sua aparência estava perfeita. Talvez, se ela fingisse o bastante aquilo se tornaria verdade.

- Achei que te admirar fosse um trabalho meu – Sasuke falou, encostado no batente da porta.

Automaticamente Sakura olhou para ele, pressionando os lábios para evitar sorrir. Como podia estar pegando um homem tão gostoso? Os músculos dele estavam justos na camiseta preta, o que em qualquer outro homem ficaria estranho, nele ficava perfeito. Seu cabelo estava seco apesar de terem tomado um banho apenas alguns minutos atrás. Ou será que havia passado mais tempo?

Como já fazia dias desde que o sol nasceu, se tornava quase impossível ter uma percepção precisa sobre o tempo. Não que Sakura estivesse reclamando. Haviam sido os melhores sete dias desde que chegou na cidade, talvez por causa da colheita, ou por ter dado tudo certo, ou por finalmente ter aberto as pernas.

Sasuke sorriu, como se soubesse seu último pensamento.

Como ele conseguia ser sexy a todo o segundo era um mistério.

Sakura olhou mais uma vez para o espelho, ainda sem entender como aquele batom vermelho sangue permanecia intacto, mesmo sem ela não tê-lo passado nenhuma vez.

- Acho que eu realmente gostei desse vestido – comentou, virando-se de lado – Consegue ver os detalhes nas costas? É uma renda imitando a teia de uma aranha.

Sasuke se aproximou.

- Imitando?

Com uma careta, ela olhou para ele por cima dos ombros.

- É uma imitação, certo? – perguntou, sentindo um gosto amargo na boca – Isso não é uma teia de verdade.

Se fosse, ela teria um treco.

Sakura não tinha nada contra as aranhas, até gostava, principalmente da viúva negra. Matar o marido? Ideia deliciosa, muitas mulheres deveriam aderir. Matar homem, na verdade.

Não que ela tivesse algo contra homens.

Quem estava tentando enganar? Sakura tinha sim.

Quase cem por cento dos seus problemas desde o momento que nasceu tinham sido causados por homens. E no momento, tinha um querendo sabe-se o que com ela.

A prova da desgraça era que um homem tinha tentado destruir a terra. Aquilo era um homem? Um deus do sexo masculino, o bastante para ser considerado homem.

O fato era que durante a sua vida Sakura presenciou muitos homens abusando dos mais fracos, principalmente mulheres e crianças. Interessante como homens agressivos nunca se tornavam agressivos perto de outros homens.

A covardia deles era algo que sempre lhe deu nojo, algo que sempre a fez ter vontade de revidar. Durante um tempo ela até mesmo considerou fazer uma universidade, tentar entrar no sistema para poder muda-lo, mas logo descartou a ideia.

O sistema dos homens não funcionava.

Mas agora ela era uma bruxa, agora ela tinha o poder para fazer algo a respeito. Mordendo a boca, ela se virou para o Uchiha, passando os braços na sua cintura.

- Eu quero ter aprendizes.

Sasuke juntou as sobrancelhas, apoiando os braços no seu ombro.

- O que? – perguntou, como se não houvesse entendido.

- Não estou falando de agora, porque agora eu sou uma inútil.

- Você não é inútil – o Uchiha se inclinou para frente, depositando um beijo na sua testa – Você é linda, e inteligente, e corajosa.

Sakura sorriu, mesmo tentando se controlar.

- Agradeço os elogios, mas convenhamos, eu não posso ensinar nada a ninguém no momento. Para fazer qualquer poção eu preciso seguir a receita – essa era a verdade que o vestido chique não mostrava: Sakura era uma bruxa somente na aparência. Talvez, em algumas ficções o que ela conseguia fazer bastaria, mas no mundo real as bruxas iam muito além disso, muito além de receitas prontas e feitiços decorados, e ela precisaria trilhar um longo caminho até poder se intitular uma verdadeira bruxa, até ter o poder de uma – Mas, um dia eu vou ser forte o bastante, e quando esse dia chegar eu quero aprendizes. Crianças abandonadas, mulheres que não tem para onde ir, qualquer pessoa que precise de um refúgio.

- Ou seja, você quer adotar um monte de pivetes – Sasuke concordou – Um pouco cedo para falarmos sobre isso, mas tudo bem. Vamos adotar.

Rindo, Sakura se colocou na ponta dos pés, depositando um beijo no canto dos seus lábios.

- Não quis dizer nesse sentido, mas se quiser ajudar não vou reclamar.

- Eu sei – ele sorriu, puxando-a para perto – Acho admirável que você queira fazer uma mudança significativa. Nunca vi uma bruxa se importar em fazer algo que fosse além da sua obrigação. Nunca vi uma bruxa se importar tanto com humanos.

As outras bruxas foram criadas dentro de uma bolha mágica, onde elas tinham o poder para se impor, para serem respeitadas. O mundo sobrenatural todo era assim, e caso um deles abusasse, haviam pessoas dispostas a punir verdadeiramente. O sistema deles funcionava, crimes não saiam impunes.

No mundo humano não.

- As outras bruxas não foram subjugadas por homens.

O sorriso dele desapareceu.

- O que? – perguntou em voz baixa, como se não tivesse ouvido direito.

Sakura sorriu, tentando tranquiliza-lo.

- Tudo bem. Eu sabia que não era minha culpa, sabia que tinha algo errado com eles, e não comigo. Mas muitas mulheres não sabem, muitas não têm para onde ir, e se eu posso fazer algo a respeito, por que não? Eu posso fornecer um lugar seguro, e eu posso impedir que eles a toquem novamente.

Ela podia.

Essa era uma coisa que ela não tinha percebido até aquele momento, até se olhar no espelho e ver seu reflexo: ela era uma bruxa.

Podia não ter todo o poder de uma, porém, um dia teria. Um dia ela seria poderosa o bastante para proteger, para realmente cuidar não só dos sobrenaturais da região do Norte, mas dos humanos também.

Um dia, ela faria a diferença.






A bruxa do Norte gargalhou, se ajoelhando na grama úmida.

As crianças a cercavam, querendo entregar presentes feitos a mão durante a colheita. Sasuke se manteve afastado, notando a naturalidade com que ela lidava com a situação, em como sorria e fazia truques simples, mas que eram incríveis aos olhos das crianças.

A antiga bruxa não era assim.

Nenhuma bruxa era.

A colheita nunca tinha sido tão viva quanto aquele ano, nunca tinha havido choros ou gritos de alegria, ou simplesmente aquele ambiente de paz. Não ocorreu nem mesmo uma única briga, nem mesmo um desentendimento, todos pareciam... felizes.

Não havia outra palavra para descrever.

Sakura, com apenas um mês de experiência havia criado algo que nenhuma outra bruxa conseguiu.

Como ela não notava isso?

Como não percebia que era incrível em todos os sentidos? Que tinha uma liderança nata e um senso de justiça que faziam todos a admirarem? O modo como ela se subestimava era único. Talvez fosse pela criação entre os mundanos, mas ela tinha a capacidade de fazer coisas que outras bruxas não conseguiam, ou não se importavam o bastante para tentarem.

Ela era tão sensível ao problema dos outros que não notava quando os colocava como prioridade, porque isso era algo simplesmente natural para ela.

O Norte nunca esteve tão protegido, pois por mais que não notasse, Sakura se transformava em um monstro quando outras pessoas eram ameaçadas.

O que talvez se tornasse um problema.

Logo a notícia se espalharia, logo outros seres saberiam da existência de Sakura Haruno, e o quanto ela era bela e perfeita, e logo as outras bruxas perceberiam que ela era uma ameaça ao sistema convencional. Ou elas teriam de mudar, ou todos viriam para o norte.

Sasuke já escutava as conversas sussurradas, vampiros e lobisomens marcando de chamar outros para a próxima colheita, fadas e gnomos combinando de se mudar para a floresta, anões e ogros questionando-se como seria morar na região. Todos queriam se aproximar da bruxa, até mesmo os caçadores que não possuíam um lar fixo chegaram a perguntar a líder se não poderiam criar uma base em Konoha.

Isso era algo incrível e ao mesmo tempo assustador.

Sempre existiu respeito pelas bruxas, sempre houve temor, obediência, submissão, mas nunca lealdade. Se o errante simplesmente entrasse na colheita para atacar, Sasuke não duvidava nem mesmo por um segundo que todos se colocariam a frente da bruxa, mesmo achando que ela saberia se defender sozinha.

Sakura simplesmente conquistou cada um deles apenas sendo ela mesma, apenas por se importar o bastante e fazer algo a respeito.

Se os outros territórios se sentissem ameaçados, ninguém sabia o que podia acontecer, e ao menos que atacassem a outros, Sakura não usaria os poderes.

E não existia nada nem ninguém que pudesse protege-la de outras bruxas.

Sentindo um gosto amargo na boca, Sasuke se forçou a engolir a saliva. A vida dela já havia sido difícil o bastante, e a tendência era só piorar.

- Ela tem um jeito com crianças – Itachi disse ao seu lado.

Sasuke fez uma careta.

Odiava quando ele se aproximava de mansinho.

- Verdade.

- Ela tem um jeito com todo mundo.

- Sim.

- Você sabe o que isso significa, não é?

Ele sabia.

Significava que ela poderia ser considerada uma ameaça. Significava que outras bruxas poderiam vir atrás dela. Significava que se ela não pudesse se defender, morreria. E todos eles morreriam ao seu lado, exatamente como deveria ser.

- Você descobriu algo sobre a herdeira do sul?

Itachi concordou.

- Pretendo falar com ela semana que vem.

- Acha que ela vai ajudar?

Ele deu os ombros.

- Já fiz uma pesquisa sobre ela. Tsunade disse que Ino Yamanaka é um pouco rebelde com a mãe, vive se envolvendo em causas mundanas, porém, é extremamente poderosa. A primeira bruxa em gerações que possui a capacidade de manipulação psicológica.

Sasuke fez uma careta.

- Outra bruxa rebelde, exatamente o que precisamos.

Itachi soltou uma risada pelo nariz.

- Elas provavelmente vão se identificar.

- Ou tentar se matar.

Era uma possibilidade.

- Então você vai partir quando?

- Ao amanhecer. Tsunade concordou em ajudar.

Sasuke controlou o rosnado.

Diferente dos contos mundanos, lobisomens e vampiros não eram inimigos mortais. Na verdade, os originais eram tão próximos quanto irmãos. Porém, essa vampira em especifico era, nas palavras da Haruno, uma cretina.

Ela sabia de coisas, Sasuke podia sentir a mentira, o fedor que imanava dela toda vez que alegava não saber de mais nada. Se algo acontecesse com Sakura por causa da maldita vampira, Sasuke a caçaria e comeria seu coração.

- Em troca do que?

Com certeza ela não teria concordado em ajudar sem ganhar nada em troca. Vampiros eram mais traiçoeiros do que outros seres. Vivos a tempo demais, com experiência demais.

- Você precisa fazer Sakura usar o colar.

O que tinha naquele maldito colar?

- O que tem de tão importante nele?

Itachi negou com a cabeça.

- Não tenho a mínima ideia, mas ela realmente está desesperada para que Sakura o coloque.

Teria que fazer uma pesquisa a respeito dele.

Talvez a marcada do Naruto pudesse assaltar a biblioteca dos elfos, descobrir se existia algo sobre um colar mágico. Não teria outro motivo para Sakura usá-lo se não fosse magia.

Conter seus poderes?

Aumentá-los?

Canalizá-los?

Eram muitas possibilidades para ficar supondo.

Precisava falar com o Naruto, colocá-lo para resolver isso.

- Quando volta?

Itachi olhou em direção a casa por um segundo antes de voltar a olhar para bruxa.

Sakura fazia pequenos fogos de artificio explodirem no ar. As crianças pulavam para tentar tocá-los, e quando conseguiam suas roupas brilhavam durante alguns segundos antes de apagarem. Como alguém poderia querer machuca-la?

- Ainda não sei. Terei que convencer a bruxa do sul librar a herdeira por alguns meses.

Sasuke concordou.

Isso demoraria, e seria necessários bons argumentos para convence-las. Bruxas eram muito protetoras com suas herdeiras, um dos motivos que tornava o fato da bruxa do norte ter abandonado sua neta algo muito atípico.

Não que ela houvesse realmente abandonado.

Sakura estava escondida no mundo humano, protegida por feitiços inquebráveis.

A questão era: o que a bruxa temia tanto a ponto de afastar sua única neta? Do que ela não podia protege-la?

- Eu preciso de um favor.

Itachi estalou a língua no céu da boca.

- O que dessa vez?

Sasuke olhou para Sakura, que sorria de forma aberta. Os olhos verdes foram para ele, e foi possível ver suas bochechas adquirindo o tom de vermelho. Ela ajustou o cabelo atrás da orelha, e então voltou a brincar com as crianças, ainda com suas bochechas coradas.

- Preciso que Hidan mate alguns humanos.

O Uchiha mais velho soltou um assobio.

- O Hidan? Você sabe que ele é meio psicopata, certo? Nunca vi alguém gostar tanto de matar por puro prazer.

Sasuke sabia disso.

Hidan era o mais problemático de todos os membros da Akatsuki. Ele adorava estripar suas vítimas e beber o sangue delas, em um ritual proibido há quase quinhentos anos. Alguns diziam que foi assim que ele se tornou um lobo: caçou um alfa sozinho, o desmembrou e depois comeu todos os órgãos.

Aparentemente por ele ter feito isso enquanto o alfa estava em sua forma de lobo e não ter conhecimentos sobre a lei suprema, o feito acabou sendo impune, desde que ele nunca mais fizesse isso com um da sua espécie.

Agora, como um humano conseguiu matar um alfa era um mistério.

- Justamente por isso que preciso que seja ele.

- Que homens são esses que você odeia a esse ponto?

Sakura abriu as mãos, e flores brotaram em volta das crianças, crescendo até chegar ao joelho delas. Uma ogrinha gritou animada, pegando uma das flores e cheirando com força.

Como alguém podia ter coragem de machuca-la não conseguia entrar na sua cabeça. Como poderiam olhar aquele sorriso e sentir a necessidade de feri-la?

- Alguns homens que a machucaram.

Itachi entendeu imediatamente.

Se fosse em outra ocasião, Sasuke iria pessoalmente cobrar a dívida de sangue, mas agora não podia deixa-la. E não podia ter paz enquanto não soubesse que cada um deles estava morto.

Qualquer um que ousasse tocar nela morreria, nem que ele mesmo tivesse que realizar o serviço.

- Vou avisa-lo – Itachi balançou a cabeça – Aposto que vai adorar.

Sasuke esperava que sim. Esperava que ele aproveitasse cada segundo.

- Diga a ele que quero que seja lento, e quero que eles saibam o porquê.






Sua coluna estava doendo.

Será que tinha alguma poção para isso?

Sakura esticou as costas, tentando fazer os músculos relaxarem. Passar mais de uma hora brincando com as crianças fazia isso com uma bruxa. Não tinha coluna que resistisse.

- Você não consegue me arrumar uns vinhos não? – perguntou, olhando para a princesa – Eu tenho que te chamar de vossa alteza, ou algo assim?

Hinata soltou uma risada, parecendo muito melhor do que quando chegou.

Talvez ser uma princesa não fosse uma tarefa tão fácil como os filmes da Disney fingiram ser. Não que fosse muito fácil: maças envenenadas, madrastas doidas, torres isoladas, agulhas amaldiçoadas, fadas maldosas, escravidão, e sabe-se mais o que.

Será que ela conseguiria amaldiçoar alguém?

Sakura não tinha pensando por esse lado, mas as bruxas eram sempre retratadas como vilãs. O vestido preto com certeza passava essa imagem.

- Não precisa – Hinata respondeu com uma voz doce. Tudo nessa mulher era doce? – Na verdade é um alivio sair da corte. Às vezes acho que minha mãe quer me enlouquecer.

Sakura só podia imaginar.

- E o que vocês fazem lá?

A princesa sorriu.

- Vamos voltar a falar do vinho. Quantas garrafas você quer?

Fingindo deixar o assunto de lado, ela sorriu.

Ainda ia descobrir o que diabos os elfos guardavam de tão importante que somente alguns podiam sair e de uma forma bem rara. E por que ninguém podia saber o que tinha lá?

- Barril. E quero uns dez.

A princesa soltou uma risada, parecendo achar graça na resposta.

Sakura definitivamente não estava brincando a respeito da sua bebida. Aquele vinho era magnifico, e se ela tivesse que esperar um ano para tomar novamente iria morrer.

- Acho que posso providenciar... – ela se virou para o Naruto – Talvez eu possa trazer semana que vem.

Os olhos azuis brilharem.

- Mesmo? – ele limpou a garganta – Quer dizer, se você quiser.

Hinata colocou as mãos em frente ao corpo, entrelaçando os dedos como se fosse uma adolescente.

O que diabos era aquilo?

- Bom, se não for te atrapalhar em nada eu poderia passar o final de semana...

Pela deusa.

Eles estavam marcando de transar.

Com uma careta, Sakura se afastou.

Onde estava o Uchiha? Ela queria marcar uma transa com ele mais tarde. De preferência após uma massagem nas costas. Será que ele faria? Sakura se lembrava vagamente dele dizer que precisava olhar uma coisa na casa, antes do final da colheita, porém, ela não tinha certeza do que era, ou o porquê tinha que ser antes de encerrar, ainda mais considerando que faltavam poucos minutos.

Poucos minutos para ela ter de manipular a magia.

Mordendo a língua, ela foi até a mesa pegar uma última taça antes do último ritual. Ela iria precisar de bebida.

Essa sua única obrigação que não tinha absolutamente nada em nenhum dos livros. Nada. Como se manipulava a magia? Sakura quase não conseguia manipular a jarra para fazer a bebida cair na taça.

Com gotas respingando na toalha branca, ela desistiu. Meia taça serviria, melhor do que nada.

- O segredo é colocar de lado.

Contendo um palavrão, Sakura se virou.

Por que todo mundo ali chegava sem anunciar? Talvez devesse distribuir sininhos de vaca na próxima colheita. Com certeza facilitaria sua vida.

O homem a encarava, com seus olhos em um tom caramelo muito especifico. Ele não sorria, e Sakura tinha a sensação de que ele não fazia isso com frequência.

- A taça ou a jarra?

Ele ofereceu as mãos, escondidas por luvas negras.

Ela entregou a taça para ele, e o observou pegar a jarra com a mão livre. Colocando-os em uma posição estranha, que tinha tudo para dar errado, ele despejou. O vinho fez uma curva acentuada e caiu de forma certeira dentro do copo.

Isso explicava porque ela tinha dificuldade em se servir.

O homem ofereceu a bebida de volta, colocando o vinho na mesa.

- Uma frescura, na minha opinião, - ele disse, dando os ombros de uma forma casual – Mas a rainha sempre gostou que fosse assim.

Sakura deu um gole, já se sentindo mais calma.

- Então você é um elfo.

Ela procurou as orelhas, mas o cabelo branco acinzentado as escondia.

- Não.

Sakura o avaliou.

Nada nele denunciava sua raça, exceto talvez os olhos levemente puxados, porém, isso não era indicativo de nada em especifico. As roupas eram pretas e simples, com botas escuras.

Sua atenção se voltou para o seu rosto.

Ele também a avaliava.

- Então o que é?

Os cantos dos lábios dele se levantaram sutilmente, quase como se ele não fosse acostumado a fazer isso.

- Diga-me você.

Sakura deu os ombros, sem saber como responder.

Talvez como bruxa ela devesse conhecer todas as raças em seu território, mas a verdade seja dita, ela não tinha feito uma pesquisa muito profunda. Todos até o momento possuíam algo para identificação, e quais não tinham, bastava observar.

Vampiros eram esbeltos e elegantes, mesmo quando gargalhavam escondendo as presas, era possível ver como cada pequeno movimento era preciso, preciso demais para um humano.

Lobisomens no geral eram barulhentos, no bom sentido da palavra. Eles riam e rosnavam na mesma facilidade, sem falar que tinham um porte físico muito específico.

Feiticeiros, o único que ela conheceu até o momento já que o irmão do Gaara estava se escondendo em algum lugar, era pálido, quase como uma pele acinzentada. Os olhos, porém, eram parecidos.

- Se tivesse que chutar, diria que é um feiticeiro.

Ele não demonstrou nada, apenas a observou durante alguns segundos.

- É só respirar.

Sakura piscou, sem entender.

- O que?

Ele usou a cabeça para indicar a frente da casa.

- Quando for manipular a magia, é só respirar. Ela vai fazer o resto.

Dessa vez, foi ela quem ficou sem reação. Ninguém até o momento havia dado qualquer conselho em relação as suas atividades, principalmente porque todos supunham que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

Como bruxa deveria saber.

Então do nada surge um feiticeiro de preto que vinha com um conselho de brinde? Esquisito. Muito esquisito.

E suspeito.

- Quem é você?

Dessa vez ele realmente sorriu, como se gostasse da sua desconfiança. Por um segundo, aquele sorriso foi familiar, quase como se já tivesse visto em algum lugar.

Antes que ela pudesse sequer tentar puxar na memória, ele passou por ela, deixando um cheiro no ar.

Fogo.

Mas não um fogo industrial, não o de uma fogueira. Era um cheiro de fogo diferente, de chamas...

Qual seria a palavra?

Estava na ponta da língua, como se faltasse somente um pouco para ela se lembrar.

- E, querida, coloque seu colar. Existem sombras à espreita.

Sakura se virou, porém, ele já havia desaparecido, deixando somente aquele cheiro.

Cheiro de chamas antigas.






Seus olhos a acompanharam de forma automática, avaliando o vestido preto perfeitamente ajustado em seu corpo, flutuando a cada passo que dava.

Haviam fendas nas pernas, que proporcionavam uma visão privilegiada demais para todos os presentes.

Ele controlou o rosnado.

Podia sentir o cheiro, aquele cheiro delicioso dela, misturado com o do alfa. Como ele ousava tocá-la? Como aquele lobisomem inferior podia sequer se considerar digno dela?

Precisava agir.

E precisava ser rápido.

Os lobos estavam organizados demais, atentos demais. Jovens inexperientes, porém, a cada segundo ao lado dela, mais poderosos do que antes. Ele precisava agir antes que se dessem conta disso.

Precisava separa-los e arrancar o coração de cada um.

Sakura Haruno parou em frente à casa, passando os olhos verdes na multidão. Ela olhava tudo atentamente, mas não conseguia ver o que estava bem a sua frente. Qualquer um que a olhasse apenas veria uma bruxa incrivelmente deliciosa, mas não ele. Mesmo com aquele fingimento, era possível sentir o cheiro da sua insegurança, o medo de falhar.

Tão forte, e ao mesmo tempo tão fraca.

Ela fechou os olhos, respirando lentamente.

Demorou apenas cinco segundos para a magia se agitar, borbulhando como a lava de um vulcão, agitando o subsolo como se quisesse abri-lo ao meio, subindo rapidamente para a superfície.

Como vagalumes, a magia surgiu da terra, em diversos pontos brilhantes e minúsculos, agitados demais para ficar imóveis.

As criaturas soltaram gritinhos animados, olhando a própria magia pela primeira vez, tentando tocá-la.

Sakura puxou o ar uma última vez, e a magia subiu aos céus, transformando a noite escura em um jogo de luzes. Os pontos se juntaram até formar a aurora boreal, em tantas cores que se tornava difícil olhar diretamente.

Ele voltou os olhos vermelhos para ela, observando atentamente o seu pescoço pálido demais em contraste com o vestido negro.

As sombras se agitaram, ansiosas, contorcendo-se na escuridão.

Ela não percebia.

Nenhum deles percebia.

Todos eram tolos ignorantes.

Quando o sol começou a nascer, ele deu um passo para trás, voltando a escuridão da floresta. A colheita estava encerrada, e ele precisava pensar com cautela no que faria.

Tinha que tirar os lobos de perto dela, e tinha que fazê-la sair da propriedade, onde não existiria nenhuma proteção, nada entre eles.

No fundo, sabia o que precisava fazer.

Na próxima lua cheia, quando atingisse o ápice de sua força, sangue seria derramado.

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