PAPAI POR ENCOMENDA

Per annypoyson

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O escritor Alfonso Herrera precisa de paz e solidão para poder produzir seus textos, e não de uma, bebê desco... Més

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
EPÍLOGO

Capítulo 3

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Per annypoyson


— O que, diabos, pensa que está fazendo?

Alfonso fitou a mulher e a filha dela no seu espaço sagrado. Havia ido para seu escritório, imaginando que sairiam sozinhas. Afinal, se entrara sozinha, podia muito bem sair sozinha. Mas não, ela o seguiu.

— Você... Você não pode desistir... Preciso de ajuda.

E pior, ela estava chorando.

— Eu preciso trabalhar. Você precisa ir para casa. — Virou-se novamente para o computador. Fingiu que não viu as lágrimas. Mas, mesmo assim, elas o incomodaram. Se havia algo que Alfonso não aguentava eram lágrimas.

Ficou diante do computador pela segunda vez sem saber o que fazer, enquanto Anahí Portilla segurava o bebê e chorava.

— Você tem razão. É problema meu não seu.

— Exatamente. — Sentou-se. Puxou o teclado para perto de si. Ela não saiu. Sabia que não. Porque ainda podia ouvi-la chorando.

— É só...

Suspirou e virou-se.

— Só o quê?

— Eu... — Mordeu o lábio. — Não sei o que fazer.

— Contrate uma babá.

— Contratei. Mas ela não está aqui.

— Contrate outra. — Virou-se novamente para o computador. Olhou para as palavras na tela. Eram péssimas. Alfonso começou a apertar a tecla de espaço.

— Não é fácil assim.

Ela ainda estava aqui? Virou-se novamente para a mulher e para o bebê.

— Estou tentando trabalhar.

Ah, droga, as lágrimas estavam realmente escorrendo por aquele rosto. Pareciam rios descendo pelas bochechas. Até a criança o olhava como se perguntasse "o que você vai fazer?".

Bom, sabia o que não ia fazer. Não ia deixá-las ficarem em seu escritório. Esse era seu território, e a Sra. Bracho já estivera ali, interrompendo sua linha de raciocínio. Já tinha dificuldade o bastante para escrever sem essas duas por ali.

— Vamos voltar lá para baixo — disse, praticamente empurrando-as para fora. — E pegar um café ou sei lá.

Por que disse aquilo? Seu objetivo era tirá-las da casa, não servir bebidas.

Logo depois, no entanto, estavam na sala. Anahí sentou-se na poltrona de couro, deixando escapar um alívio discreto em sua aparência delicada. Soltou a cadeirinha no chão e ajeitou a criança no colo, segurando-a fortemente contra o peito. Juntas, pareciam duas órfãs lamacentas. Alfonso quase, quase, sentiu compaixão.

Bem, só por isso não faria nenhum café. Sentou-se na cadeira do lado oposto, assistindo às lágrimas correndo naquele rosto, ainda sentindo-se totalmente desconfortável. Entregou-lhe uma caixa de lenços e saia dessa casa, mas ela o fitava como se fosse seu salvador, e quando abriu a boca para mandá-la embora, encontrar outra opção...

Não conseguiu.

— Sério você me ajudaria muito. Não posso nem começar a...

— Então não comece — interrompeu. Se começasse a agradecer outra vez, diria não. Nem tinha concordado em cuidar daquela criança, tinha? Não. Iria mandá-la encontrar outra pessoa. Sim, é o que faria. Tinha um livro para terminar. Uma carreira para salvar.

— Se eu cuidasse de sua filha por alguns dias seria totalmente...

Ela pulou da cadeira e foi até ele, como se fosse abraçá-lo.

— Ah, obrigada! Você salvou...

— Pode parar de agradecer?

O que, diabos, ele acabara de fazer? E pior, o que acabara de dizer?

Ah, estava perdido. Ela já presumiu que cuidaria da criança. O que faria? Dizer não? E fazê-la chorar novamente?

Rapidamente, virou-se e caminhou para a cozinha, para longe dessas emoções e, principalmente, de um potencial abraço. Ela ouvira suas palavras e presumira que ele dissera sim. Ele se metera em uma confusão. Uma confusão que ele próprio criara.

Com suas próprias palavras estúpidas. Aparentemente, sua falta de habilidade com as palavras escritas estendia-se também às palavras faladas.

— Vou preparar o almoço — disse, por cima do ombro. — Você quer? — hesitou.

Era uma mudança de assunto esfarrapada. Um escape, na verdade. Mas precisava escapar daqueles olhos, da explosão de alegria naquele rosto. Havia sido tão poderosa, tão...

Confiante.

Como se ela tivesse colocado o mundo todo nas mãos dele.

Ela não tinha ideia do que estava fazendo. E ele deveria ter pensado antes de abrir sua boca grande e idiota.

Não queria uma criança em casa. Definitivamente, não precisava de uma criança em casa. Quase tinha colocado essa criança para fora e agora havia convidado-a acidentalmente para ficar por alguns dias por não conseguir falar o que realmente queria.

E tudo porque Anahí começara a chorar. Estava definitivamente amolecendo. Talvez, se fosse para a cozinha, pudesse fazer um sanduíche de mortadela e, enquanto isso, pensar em algum jeito de sair dessa enrascada. Alguma maneira suave de dizer: Ei, eu mudei de ideia. Ache outro vizinho.

Anahí seguiu-o até a cozinha, com a criança nos braços.

— Estou muito contente por você ter se oferecido para cuidar dela. Estou realmente desesperada. Meu trabalho é...

— Não preciso de detalhes. — Abriu a geladeira, colocou a cabeça para dentro, tentando escapar de mais informações pessoais.

Ela era uma mulher difícil de ignorar, não só porque sempre o seguia. Alfonso não tinha ideia de como não reparara nessa vizinha antes. Bom, viver como eremita nos últimos três meses não o ajudou, mas, ainda assim, devia estar cego para não notar essa morena cheia de curvas, com olhos azuis vividos e, uma boca carmim cheia.

Uma boca que não parava de perturbá-lo.

— Sou produtora de um programa novo de TV do canal 77. O tempo que gasto trabalhando é incrível. Perder um dia de trabalho está fora de questão. Aliás... — Fitou o relógio. — Preciso sair daqui antes que meu chefe tenha um ataque cardíaco. Mas, antes de ir, eu realmente queria perguntar mais algumas coisas. Uma entrevista pode-se dizer assim.

— Agora você quer me entrevistar? Eu já cuidei de sua filha. Ela está intacta, amamentada e limpa, não?

Anahí ignorou essa informação.

— No que você trabalha? Está disponível das 8h às 18h todo dia? Se isso vai interferir em seu trabalho, precisarei fazer alguns ajustes.

Apoiou-se na bancada e cruzou os braços acima do peito.

— Sou escritor. Trabalho em casa é bem flexível.

— Você deve estar se saindo muito bem. Quero dizer, você tem uma casa muito bonita.

— Talvez eu tenha um patrocinador rico que me sustenta — respondeu, com uma careta. Ela não precisava saber que ele começara fazendo muito sucesso, havia chegado ao topo e depois entrado num bloqueio tremendo e chegado ao fundo do poço. Ou que passara o último ano tentando transformar sua última obra em algo aceitável. Ou ainda que lutasse contra cada palavra, cada página e, ainda assim, terminava cortando 70% do que escrevera. Porque seu livro, assim como os últimos, não tinha um elemento que o editor enchia sua paciência para que colocasse...

Emoção.

Ela sorriu.

— Mesmo assim, vai conseguir trabalhar e cuidar de minha filha? Não quero tirá-lo do trabalho. — Ela ajeitou o bebê, que o observava tão intensamente quanto um cãozinho observa um osso. O que essa criança queria? Ele parecia ter um efeito hipnotizante sobre ela.

Devia ser porque era um estranho. Ela não o conhecia, então o fitava.

— Estou... Empacado agora. Tenho tempo para cuidar da criança. — Não, queria gritar consigo mesmo. Não tinha tempo para cuidar de uma criança! Mas, apesar disso, essa mulher precisava de ajuda. E esta manhã não havia sido tão ruim. Talvez pudesse aguentar mais algumas horas até ela achar outro vizinho para substituí-lo. Se tivesse sorte, a criança cochilaria o tempo todo.

— Empacado? — Arqueou as sobrancelhas de maneira questionadora. — Como assim?

Afastou-se da bancada e aproximou-se de Anahí.

— Escute isso não tem a ver com minhas habilidades na escrita. Ofereci ajuda para cuidar de sua filha, só isso.

Ok, Alfonso. E você dizendo que mudara de ideia...

— Tem razão — disse ela. — É só que, como mãe de primeira viagem, costumo ser muito protetora ô que significa que também levo as coisas para o pessoal. Então desculpe se perguntei demais. Só quero ter certeza de que, se ela chorar ou precisar de alguma coisa, você estará lá.

— Sempre à disposição. Esse sou eu. — As palavras foram para confortar Anahí, mas, no fundo, imaginava no que estava se metendo. Cuidar de um bebê o dia todo?

Tinha sua vida como queria. Sozinho, calmo. Não precisava de uma criança por perto.

Mas essa mulher claramente precisava de ajuda, e não o mataria ser um cara legal por um dia. Mataria?

Sabrina apoiou a cabeça no ombro de Anahí, com os olhos começando a se fechar. Uma onda de algo que Alfonso recusou-se a nomear surgiu em seu peito. Um sentimento de muito tempo atrás, que havia afastado.

Ao mesmo tempo, o celular de Anahí começou a tocar. Pegou-o na bolsa, suspirou, tirou o som e guardou-o novamente. Assim que o fez, começou a tocar novamente, o que fez o bebê desistir de dormir. Anahí afastou os cachos do rosto, pegou o celular e atendeu.

— Oi, Lincoln — disse ela, continuamente acariciando as costas do bebê com a outra mão. Bri começou a choramingar então Anahí tentou dar a chupeta que estava num cordão preso à roupinha, mas ela cuspiu de volta. Anahí recomeçou a acariciar suas costas, mas, dessa vez, a magia do movimento circular falhou. — Sim, estou a caminho. Claro que tenho uma babá disponível. Só tive que vir aqui um... — Ela hesitou. — Eu sei, eu sei que a reunião é importante. Não perderia por nada. Estarei... — Sorriu, envergonhada. — Ele desligou. Está um pouco tenso.

Lincoln. Namorado? Chefe?

Marido?

A criança protestou como se soubesse o que aquela ligação significava.

Anahí esticou as mãos oferecendo o bebê para Alfonso.

— Tenho que ir. Obrigada de novo.

— Você está indo? Já! — Agora que o momento chegara, entrou em pânico. Ela iria deixá-lo com a criança? Agora? Por que se ofereceu? No que estava pensando?

— É um problema? Achei que você tinha dito que podia cuidar de Sabrina.

— É, bem, eu não esperava que você fosse embora tão rápido. — Fitou o relógio. Eram 11h, e ainda faltava muito até as 18h.

— Acredite, não queria ter que ir — disse ela, trazendo o bebê de volta para o peito e segurando-a com firmeza. — Se pudesse levar Bri comigo ou achar uma maneira de trabalhar e ainda estar com ela... — Sua voz falhou, e ela suspirou. — Mas não posso. — Anahí beijou o bebê mais vezes e sussurrou algo sem sentido para ela.

Alfonso engoliu em seco.

— Você deve ir — disse ele, apesar de querer que ela ficasse. Simplesmente não podia ver aquele olhar por nem mais um segundo.

Isso abria muitas portas que acreditava ter fechado há tempos.

— Você tem razão, tenho que ir. Mais uma coisa. Se algo acontecer com Sabrina... — sussurrou. — Vou processá-lo e jogá-lo na cadeia por cem anos.

— Pensei que confiasse em mim.

— Preciso de você. Não confio em você. Não confio em ninguém. Sabrina é tudo o que tenho e... — O celular começou a tocar novamente. Anahí rolou os olhos e atendeu. — Estou a caminho, juro. — Colocou o celular na bolsa e tirou um cartão de visitas. — Meu celular está aqui, assim como o telefone do escritório. Ligue-me a cada meia hora para me atualizar.

— Atualizar sobre o quê? Arrotos?

— Sim.

— Você está de brincadeira. Crianças não fazem nada o dia todo. Elas comem, fazem cocô, dormem. Pronto, essa é sua atualização.

Ela deixou o queixo cair, horrorizada. Esperava que ela fosse brigar, mas só se virou.

Em seguida, seus ombros começaram a chacoalhar, e ela estava fazendo aquilo de novo...

Chorando.

Bem, não exatamente chorando, mas segurando a filha e parecendo que soltaria uma enxurrada a qualquer momento.

Droga

Ficou atrás dela, com as mãos soltas, estranho e inútil. Seu peito apertou, os pulmões fecharam-se. Uma parte dele dizia para abraçá-la.

A outra parte dizia para não se envolver. Escutou essa parte, decidindo que era o lado mais racional.

Ela encostou o rosto na cabeça da criança, como se respirasse naquele cabelo. Alfonso concentrou seu olhar na geladeira e evitou o momento o quanto pôde.

— Odeio deixá-la. Odeio — disse ela, mais para si do que para o bebê, quase sussurrando.

— Então peça demissão — sugeriu. Sempre prestativo.

— Não posso. Tenho que pagar as contas.

— Então pare de reclamar.

Ela se virou.

— Você é muito antipático.

— Não sou antipático. Sou realista. Pelo que vejo você tem duas escolhas: se demitir ou se animar. — Metade dele sentia que devia se aproximar e secar aquelas lágrimas. Em parte, era exatamente isso o que ele queria fazer. Mas não a conhecia, e ela provavelmente o socaria se a tocasse. — Reclamar não vai levá-la a lugar nenhum.

— Acabei de ter um bebê. Estou... Cheia de hormônios. Você podia ser um pouco compreensivo.

— Estou sendo racional.

— Deve achar que sou um caso perdido. Só chorei hoje. E que... Há muita coisa acontecendo, foi um dia difícil no trabalho, e essa coisa toda da Sra. Bracho e ver você com Bri, isso tudo trouxe à tona toda a emoção que tento suprimir.

Não sabia o que responder. Então se calou.

— Toda vez que estou trabalhando, sinto muita saudade de Sabrina. Sou como toda mãe de primeira viagem, eu acho. Você praticamente tem que arrancá-la dos meus braços. — Aquele rosto suavizou-se, quase derretendo de amor e mágoa, mostrando que ela saía destruída; todas as manhãs, quando deixava a filha.

Alfonso podia não ser o cara mais legal de Boston, mas até ele via como isso era difícil para ela. Onde estava o marido? Por que ele não estava ajudando-a? De qualquer jeito, não devia se envolver, pelo menos, não mais do que para cuidar da menina temporariamente.

— Tenho um pé de cabra na garagem e não tenho medo de usá-lo — provocou, sorrindo, esperando que ela retribuísse o sorriso. Quando ela retribuiu, foi como se um raio de sol tivesse iluminado sua sala.

Atingiu-o em cheio. Forte. Antes que pudesse pensar em como se sentia, aproximou-se, imaginando que devia tomar controle ou ela acabaria precisando de outra caixa de lenços. Tirou a criança dos braços dela, segurando-a cautelosamente, como se fosse um explosivo, evitando contato muito direto.

— Agora vá trabalhar — disse ele, com um tom de voz mais gentil que nunca, surpreendendo até a si próprio. — E apresse-se para voltar. — Apontou para a porta. — Porque não faço hora extra.

Continua llegint

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