Capítulo 3

167 8 0
                                    


— O que, diabos, pensa que está fazendo?

Alfonso fitou a mulher e a filha dela no seu espaço sagrado. Havia ido para seu escritório, imaginando que sairiam sozinhas. Afinal, se entrara sozinha, podia muito bem sair sozinha. Mas não, ela o seguiu.

— Você... Você não pode desistir... Preciso de ajuda.

E pior, ela estava chorando.

— Eu preciso trabalhar. Você precisa ir para casa. — Virou-se novamente para o computador. Fingiu que não viu as lágrimas. Mas, mesmo assim, elas o incomodaram. Se havia algo que Alfonso não aguentava eram lágrimas.

Ficou diante do computador pela segunda vez sem saber o que fazer, enquanto Anahí Portilla segurava o bebê e chorava.

— Você tem razão. É problema meu não seu.

— Exatamente. — Sentou-se. Puxou o teclado para perto de si. Ela não saiu. Sabia que não. Porque ainda podia ouvi-la chorando.

— É só...

Suspirou e virou-se.

— Só o quê?

— Eu... — Mordeu o lábio. — Não sei o que fazer.

— Contrate uma babá.

— Contratei. Mas ela não está aqui.

— Contrate outra. — Virou-se novamente para o computador. Olhou para as palavras na tela. Eram péssimas. Alfonso começou a apertar a tecla de espaço.

— Não é fácil assim.

Ela ainda estava aqui? Virou-se novamente para a mulher e para o bebê.

— Estou tentando trabalhar.

Ah, droga, as lágrimas estavam realmente escorrendo por aquele rosto. Pareciam rios descendo pelas bochechas. Até a criança o olhava como se perguntasse "o que você vai fazer?".

Bom, sabia o que não ia fazer. Não ia deixá-las ficarem em seu escritório. Esse era seu território, e a Sra. Bracho já estivera ali, interrompendo sua linha de raciocínio. Já tinha dificuldade o bastante para escrever sem essas duas por ali.

— Vamos voltar lá para baixo — disse, praticamente empurrando-as para fora. — E pegar um café ou sei lá.

Por que disse aquilo? Seu objetivo era tirá-las da casa, não servir bebidas.

Logo depois, no entanto, estavam na sala. Anahí sentou-se na poltrona de couro, deixando escapar um alívio discreto em sua aparência delicada. Soltou a cadeirinha no chão e ajeitou a criança no colo, segurando-a fortemente contra o peito. Juntas, pareciam duas órfãs lamacentas. Alfonso quase, quase, sentiu compaixão.

Bem, só por isso não faria nenhum café. Sentou-se na cadeira do lado oposto, assistindo às lágrimas correndo naquele rosto, ainda sentindo-se totalmente desconfortável. Entregou-lhe uma caixa de lenços e saia dessa casa, mas ela o fitava como se fosse seu salvador, e quando abriu a boca para mandá-la embora, encontrar outra opção...

Não conseguiu.

— Sério você me ajudaria muito. Não posso nem começar a...

— Então não comece — interrompeu. Se começasse a agradecer outra vez, diria não. Nem tinha concordado em cuidar daquela criança, tinha? Não. Iria mandá-la encontrar outra pessoa. Sim, é o que faria. Tinha um livro para terminar. Uma carreira para salvar.

— Se eu cuidasse de sua filha por alguns dias seria totalmente...

Ela pulou da cadeira e foi até ele, como se fosse abraçá-lo.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now