A Coroa de Luz [COMPLETO]

By nalichiye

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[A Coroa de Luz é o 2° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras.] A rivalidade entre os magos de luz e os mag... More

Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23

Capítulo 14

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By nalichiye

O som dos cascos dos cavalos batendo contra o chão coberto de pedras da entrada do castelo parecia cortar aquela manhã chuvosa e silenciosa como um feixe de esperança. O símbolo prateado de Senka estampava a lateral do veículo preto.

Os guardas do palácio de luz adiantaram-se para ajudar a descarregar a carruagem, que já era aguardada.

De dentro, uma mulher imponente olhou em volta para conhecer o local. Ela era o reforço e foi convidada diretamente pela rainha, com uma carta que deixava mais do que claro que sua presença era necessária.

E, se algo não estava bem para a rainha, ela não trataria qualquer possível culpado bem.

— Helene está te esperando — Kardama cumprimentou, mas recebeu um olhar desconfiado como resposta.

— Primeiro eu vou falar com ela e descobrir se a culpa é sua, depois eu te cumprimento direito, majestade — ela curvou a cabeça em reverência e saiu andando atrás de Dahle, que mostraria o caminho até a rainha.

Kardama revirou os olhos e suspirou. Não estava realmente ofendido, no fundo achava aquela situação até mesmo engraçada.

"Essas mulheres são tão dramáticas" pensou.

Todos que trabalhavam no castelo paravam para observar os passos daquela mulher baixa, de silhueta robusta, que parecia tão irritada e desconfiada em suas roupas elegantes.

Maite estava em casa, bebendo chá, quando recebeu uma carta do palácio de Aruna.

"É uma emergência", foi tudo o que Helene escreveu.

— Preciso ir ao palácio de Aruna — ela levantou imediatamente, determinada, avisando ao duque, que ficou confuso.

— O que está escrito? — Ele ousou perguntar, mas ela não permitiu que visse, porque seria como revelar algum segredo da amiga.

— A rainha precisa de mim.

É claro que Maite nunca deixaria Helene lidar sozinha com uma emergência.

***
— Isso mesmo, externalize seus sentimentos... — Maite dizia enquanto me abraçava, porque eu estava chorando em seu ombro. — Eu também ficaria muito triste se engravidasse, a própria ideia já me angustia...

Parei de chorar para encará-la confusa.

— Eu não estou chorando porque estou grávida — expliquei, fazendo minha amiga ficar confusa também. — Na verdade, essa foi a melhor notícia que tive desde quando cheguei.

— Então eu não vejo um motivo claro para chorar — ela respondeu franzindo o cenho.

— Maite, meu pai não lembra de mim — repeti o que havia dito momentos antes.

Ela arqueou as sobrancelhas, como se agora tudo fizesse sentido, então me abraçou mais uma vez.

— Isso mesmo, externalize seus sentimentos...

Dias antes, quando descobrimos sobre a gravidez, meus sentimentos pareciam uma verdadeira bagunça. Eu estava desesperada, ao mesmo tempo triste e feliz. No fim, não entendia bem a situação e ela não parecia real.

Kardama ficou muito feliz, é claro, mas respeitou o meu momento até que eu estivesse pronta para admitir por conta própria que aquela era uma notícia realmente boa e que, como Henner disse, o que quer que nosso filho fosse, seria incrível.

Agora, a gravidez parecia ser a melhor notícia que recebi naquele tempo e eu podia passar horas imaginando como seria quando o bebê nascesse. Era tudo o que eu temia que fosse.

A chegada de Maite era tranquilizadora, porque em meio aos mentirosos de Aruna, eu sentia que ela era a única em quem poderia confiar. Além disso, não era como se houvesse a possibilidade de ela estar envolvida naquela traição.

Naquela tarde, estava reunida com Alípio e alguns outros soldados, porque Kardama queria um relatório das investigações. Ele costumava fazer isso toda semana, mesmo quando sabia que não tinham qualquer novidade, para garantir que não esqueceriam de procurar o culpado.

— Majestade, quanto ao treinamento de vocês dois... — Alípio começou a falar.

Na semana anterior, nós solicitamos um dia no centro de treinamentos para que pudéssemos praticar, mas agora isso não seria possível.

— Não se preocupe a respeito, não vamos mais treinar — Kardama interrompeu o general para falar.

Ermy franziu o cenho e disse:

— Majestade, os soldados estão contando com a presença de vocês. Já existem boatos de que o soldado híbrido é uma mentira e que estamos fadados à morte, porque ninguém vê os dois treinando.

Kardama revirou os olhos enquanto ouvia, então me encarou impaciente antes de responder.

— Felizmente, a opinião dos soldados a respeito da fusão não é relevante. Parece que os guardas em Aruna gostam muito de dar opiniões e tomar decisões, constantemente esquecendo do respeito à hierarquia — o rei inclinou seu rosto para o general antes de continuar. — Precisa resolver isso.

— Com todo o respeito, majestade, mas sempre tivemos uma relação mútua com a coroa aruniense. O rei Malkiur sabia da importância da boa relação com os soldados, já que não queria perder o exército e gerar uma revolta... — Ermy opinou ainda mais e eu cobri meu rosto decepcionada.

— Eu posso dar um bom motivo para que o exército aruniense não se revolte — Kardama sorriu ao ameaçar o soldado e os dois ficaram em silêncio, encarando um ao outro enquanto uma conversa silenciosa e nada amigável acontecia.

— De toda forma, não vamos mais treinar nos próximos meses — Voltei ao assunto principal, encarando o general, para acabar com o silêncio.

— Perdoe a intromissão, mas posso saber ao menos o motivo, majestade? — Alípio perguntou.

Troquei um olhar com o rei sombrio, porque ainda não tínhamos contado para ninguém além de Maite e Nair. Não sabíamos se era uma boa ideia ou como faríamos.

— Recomendação dos alquimistas. — Dei de ombros.

O general pareceu preocupado e deu um passo à frente dos soldados que o acompanhavam.

— Sua saúde está debilitada, majestade? — perguntou assustado.

Kardama balançou a cabeça para mostrar que, por ele, tudo bem contar.

— Na verdade, recebemos essa recomendação porque não é prudente gastar minha energia vital com treinos, já que grande parte dela está sendo canalizada para o bebê — expliquei com as palavras que Wyne usou.

Todos na sala ficaram em silêncio, parados ao redor da mesa que tinha o mapa do continente. Ermy, que ainda encarava o rei com raiva, arregalou seus olhos e me encarou.

— Ela está grávida — o rei sombrio explicou de forma mais simples.

— Isso.

Alípio sorriu.

— Meus parabéns, majestade!

Aos poucos, conforme fazia mais sentido, os soldados nos parabenizavam também. Aquele era o último tópico daquela reunião, e todos começaram a sair quando foram liberados, um por um, até que restasse apenas Ermy.

O soldado nos encarou silenciosamente por alguns minutos, então saiu também após uma reverência silenciosa.

— Ouso dizer que está feliz por poder contar isso para Ermy — falei para o rei, que torceu o canto do lábio em um sorriso lateral.

— Não parece magoada comigo por isso, minha princesa — ele respondeu.

Dei de ombros. Pela primeira vez, estava permitindo-me o egoísmo de estar feliz por alguma notícia sem que os sentimentos de qualquer outra pessoa importassem. Ermy poderia lidar com suas próprias mágoas e além disso, eu precisava daquela alegria no meio de tanto caos.

— Estou mais preocupada com meus próprios sentimentos dessa vez — expliquei.

O rei sombrio abriu um sorriso mais compreensivo dessa vez, sem qualquer traço de seu comum humor ácido.

Embora eu já esperasse, Ermy aguardou até que eu estivesse aparentemente sozinha para se aproximar e dar sua opinião sincera.

"Aparentemente", porque agora Kardama parecia com um cão de guarda, e embora pensasse que passava despercebido, eu o notava em minha sombra com certa frequência.

— Não podiam aguardar até que essa profecia terminasse? Por que fizeram o tratamento tão cedo? — Ermy questionou quando nossos caminhos se cruzaram no corredor.

— Acho que tenho discernimento o suficiente para saber quando estou pronta.

— É claro que tem, Helene, mas temo que tenha se enganado dessa vez. Talvez tenha sido convencida — o soldado sugeriu e eu arqueei as sobrancelhas. — Está assumindo uma responsabilidade com a qual não pode arcar.

Estreitei meus olhos. Talvez fosse a bagunça que a gestação causava em minha mente, mas aquelas palavras simples me magoaram.

— Eu lamento profundamente pelo momento em que o fiz pensar que poderia determinar com quais responsabilidades eu poderia arcar ou não, Ermy. A questão é que, se estou grávida, é porque tenho plena certeza de que posso cumprir esse papel.

— Não quero determinar suas responsabilidades, Helene. Falo com preocupação. Seu grande propósito de vida é proteger Aruna, e para isso abriu mão de tudo, incluindo nosso relacionamento. Por isso sei que ser mãe não é uma boa ideia na sua situação — Ermy explicou com calma, em tom baixo. — E se os morroians voltarem? Como vai proteger Aruna se estiver grávida? Planeja matar a si mesma e ao seu filho tentando? Se não pode sequer treinar...

— Nesse caso, Aruna será destruída.

Ermy mostrou-se indignado quando falei e deu um passo para se aproximar sussurrando.

— E o seu dever com a coroa, Helene?! O que está acontecendo com você? O rei itzan a enfeitiçou, não é? — O soldado tocou meus ombros.

Afastei meu corpo bruscamente, sem esconder que estava muito irritada.

— Ele não me enfeitiçou, Ermy. Eu cumpri meu dever com Aruna por toda a minha vida! E depois, cumprirei também. Sequer sei se estarei viva quando tudo acabar. Se para você isso significa abrir mão dos meus deveres para com a coroa, por que não os assume por mim? Por que não sacrifica sua própria vida e seus sonhos para ser o que querem que seja? É muito mais fácil jogar essa responsabilidade sobre outra pessoa, como se tivesse tal autoridade — Alterei meu tom de voz, então respirei fundo e tentei me recompor antes de continuar. — Por que devo continuar sacrificando meus desejos por um povo corrompido pelas próprias mentiras? Eu estou tomando decisões por mim e não sinto qualquer culpa por isso, porque percebi que era a única sendo prejudicada pelas vontades de vocês. O que meu pai ganhou com tanta devoção aos deveres da coroa? Traição? Um exército que pensa ter autoridade sobre a família real? Não vou cometer o mesmo erro.

— Quem quer que você seja, não parece sequer um pouco com a Helene que todos aqui conhecem. Suas acusações são sérias e ela sabia que todos nós temos grande compromisso com nossas obrigações.

Abri um sorriso amargo e sarcástico, sem conseguir acreditar em tamanha ousadia da parte de Ermy.

— E onde você estava na noite em que o castelo foi atacado e meu pai adormecido? — perguntei, então desfiz meu sorriso para voltar a encará-lo amargamente. — Meu pai não lembra de mim, Ermy, e a guarda real poderia ter impedido isso se fosse mais comprometida com suas obrigações. Lembre-se diariamente disso antes de pensar novamente em me dizer o que devo ou não fazer, porque eu não esqueço.

O soldado engoliu seco e ficou em silêncio.

— Eu — ele começou a falar.

— Já basta — Kardama apareceu irritado, fazendo Ermy pular por causa do susto. — Não farei mais ameaças. A próxima vez em que fizer qualquer acusação à rainha será a última vez em que falará qualquer palavra.

— Helene — Ermy me encarou assustado, mas virei meu rosto irritada.

— Agora vá — o rei continuou.

Com medo, Ermy saiu silenciosamente enquanto eu encarava um ponto fixo no chão.

— Helene — Kardama me chamou quando ficamos sozinhos no corredor.

— Não estou arrependida de nada do que falei — respondi rapidamente, antes que ele pudesse argumentar.

Isso era verdade. Apesar de ter falado de forma tão rude, demonstrar o que realmente sentia era um grande alívio. Naquela altura, não importava o que esperavam que eu fosse. Talvez, a Helene que eles conheciam realmente estivesse morta, mas não por causa dos itzans. A culpa era unicamente dos argians e de suas mentiras.

Kardama torceu os lábios entristecido e beijou minha testa.

— Eu sei, por isso não a impedi de falar. Ainda assim, peço que evite ficar tão irritada, minha princesa. Devo lembrá-la de que, dessa forma, pode acabar afetando alguém...

— Tem razão — balancei a cabeça para concordar.

Aquele era um momento realmente confuso. Apesar de estar magoada e triste, também estava feliz.

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