Uma suposta facção de balé •...

By callmeikus

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☆CONCLUÍDA☆ longfic • colegial • jm!kitty gang & jk!bailarino Jungkook estava no último ano do ensino médio... More

00 | Avisos
01 | Tendu
02 | Plié
03 | Coupé
04 | Déboulés
#ikusweek2021 crossover | parte 1
05 | Cambré
06 | Relevé
07 | Fondu
08 | Cloche
09 | Chassé
10 | Allegro
11 | Arrondi
12 | Avant, En
13 | Piqué
14 | Tombée
15 | Brisé
16 | Emboité
17 | Chainés
18 | Penchée
19 | Balancé
20 | Pas de Deux
21 | Battement
22 | Entrechat
23 | Dessus
24 | Glissade
25 | Rond de jambe
26 | Pas de valse
27 | Devant
28 | Échappé
29 | Raccourci
30 | Arrière, en
31 | Effacé
32 | Pirouette
34 | Passé
35 | Couru
36 | Dégagé
37 | Emboîté
38 | Tour
39 | Final | Changements
40 | Epílogo | Développé

33 | Écarté

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By callmeikus

Oi, oi, faccionáries!!! Todo mundo bem? 🥺 Saudades de vocês!

Ouvindo muito Indigo? Juro, esse álbum é minha nova obsessão, mas arrependida de ter lido a letra de três das músicas e deixando pra ler a das outras quando eu estiver de férias porque haja choro, juro :')

Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!

#EstrelandoOCoadjuvante

»»🩰««

 Jimin nada disse por um instante, surpreso. A quietude, porém, deixou Jungkook branco como papel. Queria fugir dali, ao mesmo tempo que não. Sem saídas, afundou o rosto ainda mais no peito do namorado que respirou fundo e pediu:

— Me explique melhor, por favor? Que processo judicial?

E Jungkook explicou, entre soluços sofridos e torrentes fortes de injustiça e desamparo. Não queria ter chegado aos dezoito, não mesmo. Queria ser menor de idade e apenas ter os pais ausentes; não os pais ausentes e prestes a abandoná-lo. Bem, ao menos seguiria as instruções dadas pela mãe.

Jimin notou-se com lágrimas nos olhos, mesmo tentando conter toda aquela melancolia acariciando as costas largas, porém frágeis e tensas de Jungkook. Enfim entendia, entendia Jungkook enclausurado em confusão nas últimas duas semanas. Entendia a forma como ele o levou para dentro do quarto frio e distante, desafiador, querendo provar algo a si; entendia não ter conseguido sustentar aquela vontade, desatando em choro. Entendia, sim, toda a raiva tristonha, todos os questionamentos de por que não era amado. E, por mais teorias que Jimin tivesse tecido sobre a situação, nenhuma era tão grave quanto a realidade.

Quando Jungkook proferiu a última palavra necessária para dar vida àquela catástrofe a Jimin também, erguendo paredes de indiferença e decorando-as com artefatos caros, mas sem valor; acomodou-se em seu lugar no teatro, como Sofá D. E Sofá D, naquele instante, estava muito triste. Talvez fosse a única particularidade dele: ser um móvel que chorava.

Silêncio tomou a cena. Jimin hesitava cada passo que pudesse dar nela, temia suas falas não ensaiadas, temia partir Jungkook com sua opinião. Pela primeira vez, estava aterrorizado com a responsabilidade de conversar com Jungkook, sempre tão aberto e curioso.

Então, respirou fundo e tirou uma das mãos das costas de Jungkook para esfregar o próprio rosto. Era difícil, muito difícil. Queria ter mais tempo para amadurecer as ideias e as palavras; mas, se fosse falar, o resto do dia e domingo seriam necessários para Jungkook digerir. Esperava poder ficar ao lado dele, ao menos.

— Gracinha... — Jimin murmurou, em seu tom mais manso. — Não tenho certeza se essa reunião com seu pai para entrar em processo judicial é uma boa ideia...

Jimin sentiu-o prender a respiração e tensionar o corpo contra o seu. Mordeu os lábios, aflito. Já tendo começado, continuou:

— Não acredito que vou falar isso, gracinha... Eu juro, eu juro que também odeio o descaso deles com você. Juro que queria apoiar seu processo judicial, mas se formos olhar com calma...

Jungkook deixou escapar um soluço engasgado e afundou o rosto ainda mais no peito de Jimin. Não, não estava calmo, não queria olhar com calma. Lágrimas escorreram pelas bochechas de Jimin, abundantes.

— Acho que seria uma boa ideia, antes de entrar com o processo judicial, contar para sua mãe da faculdade de dança. — Jimin prendeu ainda mais o choro ao ver Jungkook pressionar as mãos em punho, até os nós dos dedos ficarem brancos. — Não é por confiar nela, sabe? É porque você tem uma chance a mais de conseguir. Se você contar, há duas alternativas: ela aceitar ou recusar. Por mais que a gente ache ela aceitar muito improvável, não é 0%. Se ela recusar, você entra em processo judicial. Se você começar com o processo judicial, perde a primeira opção de falar com ela, porque já estamos partindo para a falta de confiança.

Um silêncio longo tomou a sala de estar. O corpo de Jungkook não relaxou um músculo sequer e isso preocupava Jimin, que tentou voltar com a carícia nas costas alheias. Porém, Jungkook reagiu ao seu toque como se fosse brasa e pulou para fora do sofá.

Jimin sentiu seu coração cair do peito ao observá-lo, em pé, encarando-o com um olhar de puro desamparo e traição emoldurado pelo rosto vermelho de tristeza. Já distante, ele enterrou o rosto entre as mãos e gritou:

— Você não sabe! Porra, você não sabe! Você não entende o que é nunca ter confiado nos seus pais!

Jimin levantou-se do sofá, avançando a passos cuidadosos. Estendeu o braço, pedindo permissão para tocá-lo quando ele levantou o rosto das mãos. Jungkook baixou o rosto e deixou os ombros caírem, dando espaço. Jimin, então, avançou os últimos centímetros que os separavam e encaixou seu corpo no dele. Acomodou o rosto alheio em seu ombro e afundou as mãos nos fios macios.

— Você tem razão, gracinha... — sussurrou, doce e doído. — Eu não entendo.

Passaram mais um tempo daquela maneira: Jungkook chorando e Jimin acarinhando-o. Porém, os longos minutos davam espaço para Jungkook assimilar tudo que acontecia e, pior, tudo que havia dito. A forma que havia dito.

— Jimin, desculpa, desculpa, desculpa! — Jungkook chorou mais no ombro alheio e seu corpo perdeu as forças. As pernas foram cedendo, e deslizou pelo corpo do namorado até estar abraçado às suas coxas, de joelhos no chão. — Eu não queria gritar com você!

Mais um dia sem se sentir ele mesmo. Jungkook não aguentava mais. Abraçou as pernas de Jimin com força, arrependido como nunca. As palavras de Jimin doeram como nada saído da boca dele doeu antes, mas Jungkook sabia que ele se importava.

Agoniado com a nova camada de tristeza cobrindo alguém tão doce, Jimin ajoelhou-se no chão. Acomodou o rosto de Jungkook entre as mãos, com cuidado, e o fez olhá-lo. Não estava magoado. Estava ali por ele. Beijou-lhe a testa, o nariz e as bochechas úmidas. Devagar, um de cada vez.

— Eu sei que você não queria, gracinha... Não fica assim por minha causa também. Está tudo bem; tudo, tudo bem. — Jimin beijou-lhe as bochechas de novo, pois havia mais lágrimas banhando-as. Era salgado e sofrido. — Me diz como você quer passar seu alerta vermelho... Eu faço o que você pedir.

— Me perdoa? — Era uma súplica.

— Não estou magoado com você, gracinha... — Beijou mais uma vez suas bochechas.

— Me perdoa mesmo assim...

Jimin mordeu os lábios e conectou seu olhar ao de Jungkook de forma mais profunda. Os olhos de jabuticaba suplicavam tanto quanto a voz quebrada. Então, soltou um suspiro a contragosto e sussurrou:

— Te perdoo, Jungkook... — Mais um beijo no namorado, dessa vez na testa. — Pode me perdoar também? Sei que, assim como você, não falei nada intrinsecamente errado; mas gostaria que me perdoasse por te fazer chorar.

— Te perdoo... — respondeu Jungkook, com a voz quase inaudível de choro e avançou para deixar um beijo na bochecha de Jimin. Notou a pele dele salgada de lágrimas como a sua. Jimin nunca o deixara sozinho ou o traira. Jimin sofria consigo e, apesar de doer ver a dor se alastrar além de seu corpo, Jungkook sentiu-se acolhido. Conseguiu respirar mais fácil.

Jungkook puxou Jimin para um novo abraço. Estranho e desengonçado, pois o fez perder o equilíbrio e cair de um jeito estranho entre suas pernas e braços. Depois de se ajeitar mais ou menos, Jimin correspondeu o toque, aliviado. Ver Jungkook tomar iniciativa para o contato o acalmava; talvez ele ainda estivesse chateado com suas palavras, mas não com a pessoa que era.

— Quero passar meu alerta vermelho com você... — Jungkook respondeu após longos minutos daquele toque. Sentiu Jimin concordar com um aceno de cabeça no seu ombro. — Você passa ele comigo?

— Óbvio, gracinha, estou aqui é para isso mesmo.

— Te amo, docinho.

Ouvir seu apelido nos lábios alheios cobriu Jimin com mais uma generosa camada de amor e de confiança. Feliz, separou o abraço um pouco, apenas para capturar-lhe o queixo com os dedos e puxá-lo para si. Uniu os lábios, bebendo da tristeza alheia. Um beijo intenso e entregue, mas, ao separarem, Jungkook resmungou:

— Eu tinha acabado de acordar de um cochilo... Tava com bafo.

— Mas era só um bafinho juvenil, nada perto do seu bafo de dragão da manhã, gracinha.

Conseguiram rir. Uma risada meio tímida, mas sincera, compartilhada um com o outro pelos hálitos. Não que Jungkook estivesse confortável com o seu, então pediu:

— Quero escovar os dentes.

— Tudo bem.

— E tomar banho.

— Tudo bem.

— Você toma comigo de novo? Foi bem gostoso daquela vez.

— Tomo, gracinha.

— Nunca pensei que ia conseguir te deixar pelado tão fácil.

O tom de Jungkook ainda não era de todo animado, então Jimin piscou os olhos algumas vezes até assimilar a frase. Deu outra risada, dessa vez mais alta, mais livre das amarras de uma garganta engolindo choro. A gargalhada não foi acompanhada por Jungkook, que apenas deixou um sorriso pequeno, apaixonado, esboçar-se em seus lábios, mas os olhos... Os olhos brilhavam; não por estarem marejados, e sim de humor, pelo menos um traço de quem normalmente era.

— Você é um bobo! — Jimin acusou, entre risos.

— Sou! Gosto mais de quando sou bobo do que quando sou chorão, você não?

— Não só gosto, como amo você de qualquer jeito, gracinha. — O tom de Jimin ficou mais sério. Inevitavelmente, seus dedos buscaram a tez de Jungkook para oferecer uma carícia. — Não precisa ficar apressando sua melhora, sabe?

— Mas... Sei lá. Eu tô há semanas assim... — Apesar de frustrado, Jungkook sorriu contra o carinho de Jimin e resolveu se levantar. Estendeu a mão para o namorado fazer o mesmo. — É chato e repetitivo. Você assistiria um filme em que o personagem passa ele inteiro chorando? Um livro talvez. Leria? Capítulo um: choro. Capítulo dois: mais choro. Capítulo três: choro intenso. Epílogo: chorei demais.

Jimin ofereceu-lhe um olhar meio pesado. Apesar de Jungkook ser engraçado, não era hora dele diminuir os próprios sentimentos. Com o tempo de silêncio, Jungkook começou a guiá-los para o banheiro, buscando seu tão amado banho — e escovação de dentes.

— Parabéns, te apresento ao mundo real! — Jimin provocou, segurando a mão de Jungkook contra a sua com mais força. — Aqui, as coisas não são esquecidas e passam em um piscar de olhos só porque já viraram parte do passado, ou porque o protagonista precisa salvar uma pessoa, sei lá. Carregamos pedacinhos das dores do passado que tentamos amenizar, mas eles continuam aqui.

— Eu perguntei se você assistiria um filme assim — Jungkook bufou. Mundo real. Que inferno de mundo era aquele? — Você assistiria?

— Se fosse você no filme, óbvio!

— Bem... — Jungkook sorriu com a resposta de Jimin, mas discordou em silêncio. — Tô odiando fazer parte do mundo real.

— Bem... Não posso negar que ele é uma merda. Mas estou aqui no mundo real também e vou tentar deixar ele menos merda para você.

Jungkook parou no meio da escada, apenas por necessidade de puxar Jimin para um longo beijo. Talvez estivesse com bafo, mas era culpa do namorado por ser tão irresistível. O afeto pulsando em seu peito era tão imenso que nem ao menos sabia como canalizá-lo. E, cada vez maior, derretia aos poucos aquele remorso alojado ali, como um parasita.

Puxou-o pelos últimos degraus e para dentro do banheiro. Jimin levou as mãos até a barra da blusa de Jungkook e o despiu com cuidado, atento às suas reações. Só encontrava um sorriso enorme nos lábios prestes a responder:

— Você já deixa o mundo bem menos merda... Já te contei que... — Suspirou ao que Jimin livrou-o das calças. De cueca, buscou o demaquilante do namorado na pia. — Que... quando a gente nem tinha se falado, eu já olhava pra você na esperança de você colorir o mundo da escola pelo menos? Acho que era seu cabelo rosa, me chamava muita atenção.

— Parece que você já era o Jungkook poeta muito antes de ler meus livros de poesia... — Jimin aproveitou do pretexto do demaquilante para fechar os olhos, envergonhado. Os toques de Jungkook com o pedaço de algodão contra seu rosto eram delicados.

— Te deixei com vergonha?

— Um pouco, mas... eu gosto de saber que eu representava algo legal assim para você...

— E você, já tinha me notado? É meio difícil, né? Sou tão apagado...

— Claro que já tinha notado. Se não tivesse, por que teria percebido que você fugia para o prédio do fundamental depois da aula?

Pausaram a conversa para Jungkook livrar Jimin de suas roupas. Ainda era um momento tenso, Jimin continuou com os olhos fechados. As bochechas quentes mostravam sua vergonha e foram beijadas por Jungkook.

— Nossa, mas eu sou tão... cinza. Pelo menos na escola! Isso você tem que concordar comigo!

— Hm... Não sei te atribuir uma cor. Mas assim... tem dois tipos de olhares que eu recebo na escola: o de nojo e o de remorso. O primeiro grupo me odeia só por eu não representar os valores com os quais concordam, e eu odeio eles de volta. O segundo grupo não necessariamente me odeia, mas tem muito medo de fazer algo ou reagir, porque sofreriam consequências por causa do primeiro grupo, sabe? O sentimento do segundo grupo... acho que também é recíproco. Eu entendo eles, de verdade, porque foi um longo caminho para eu resolver sofrer as consequências em troca de ser eu mesmo. E, até hoje, quando fica difícil demais, eu me arrependo. Mas assim como eles sentem remorso de si por isso, eu sinto remorso deles. É meio irracional, porque não quero que se aproximem de mim... Ver alguém sofrer as consequências por mim é muito, muito pior do que sofrer eu mesmo.

Já debaixo do chuveiro, o silêncio entre eles foi povoado pelo som da água batendo nos azulejos do chão. Jungkook sabia de qual dor Jimin falava em sua última frase. E, por mais que não quisesse ter lembranças, era uma dor sua também.

Respirou fundo e deixou um beijo no ombro desnudo e molhado para mostrar que se importava, mas Jungkook preferiu falar do assunto mais fácil:

— Acho que sou do segundo grupo. Me desculpa.

Jimin conectou os olhares e deu um sorriso manso. As mãos com xampu mergulharam os dedos nos fios de seu namorado.

— Então, gracinha, você pode achar que sim, mas não é. Eu te notava porque você era o único que olhava diferente... Era um misto de curiosidade e eu arrisco dizer admiração também.

— Sim, sempre te admirei muito por ser quem você queria. Sempre quis também.

— Obrigado por isso. Sei que você não tinha noção, mas... ver pelo menos alguém me admirar, me deixava um pouco mais confiante sobre minhas escolhas, sabe? — Jimin empurrou Jungkook de volta para água para enxaguar seu cabelo. Quando terminou, suspirou fundo ao ser encarado com profunda curiosidade. — E é engraçado, a gente começou a namorar e minha coisa favorita sobre você continua a mesma.

— Coisa favorita?

— Seus olhos, seu jeito de olhar. — Jimin virou o rosto, pois o seu lado favorito de Jungkook era intenso demais.

— Sério?! Jurava que era meu cabelo, você nunca para de mexer nele.

— Também amo seu cabelo, como tudo em você. Mas você tem que concordar que não tem como eu ficar fazendo carinho no seu olho, certo?

— É verdade! Como sou bobo! — Soltou uma gargalhada tão leve, como se transportado para outra realidade. — Enfim, nunca achei que você seria tão superficial, esterquinho de minhoca... Namora comigo por causa da minha aparência!

— Ah, mas os olhos são mais do que aparência, não? Dizem que são as janelas da alma. Quer dizer que amo sua alma.

Assim que terminou de dizer, Jimin enterrou seu rosto nas mãos. Tão brega, como podia? E tão sincero também. Era sinceramente brega.

Jungkook riu e abraçou-o por trás. Era engraçado, mas também mexia consigo. Pressionou seu peito contra as costas alheias, oferecendo as batidas aceleradas do coração.

— Meu docinho é tão romântico! — Beijos e mais beijos nos fios rosa molhados. — E eu tava só brincando. Minha coisa favorita sobre você também é algo "superficial".

— Ah, é? O quê?

— Sua aparência como um todo. Seu cabelo, sua maquiagem, suas roupas, suas plataformas favoritas. Seu jeito de andar, todo confiante, em cima delas.

— Você é muito fútil, Jeon Jungkook! — provocou, apesar de entender o ponto do namorado.

— Não, é só que... não sei se faz sentido! Ai, que difícil de explicar! Pra mim, sua aparência é tipo a janela da sua alma, sério! E quanto mais te conheço, mais isso se mostra verdade. Antes da gente se falar, ela representava coragem pra mim. Depois, com o negócio da chantagem, força, tipo as jaquetas pretas e quando você usa spikes. Aí quando comecei a notar o quanto você na verdade me apoiava o rosa fez todo sentido. Era carinho, e cresceu até você virar meu docinho. E agora que você me deixa ver tantos detalhes sobre você, sei que é uma mistura de tudo e várias outras coisas mais. Você é corajoso, rebelde, forte, carinhoso, estudioso, doce, compreensivo, delicado... Ai, nem sei se tenho vocabulário o suficiente! Mas juro, sua aparência faz parte de tudo isso! É tipo uma tradução física, talvez?

— Droga, você não tem vergonha de falar essas coisas?!

— Você sabe que não! — Jungkook respondeu, todo feliz, enterrando o rosto no pescoço de Jimin enquanto este o fazia nas mãos, de tão envergonhado e apaixonado. — Aí outra característica sua que acho uma graça: ser tímido. E pensar que eu te achava tão extrovertido quando a gente se conheceu. Mas prefiro agora, que conheço sua alma mesmo. Ela é muito linda, que nem você todo.

— Te amo... — Jimin sussurrou e puxou Jungkook para um abraço de frente.

— Te amo.

Soltaram um suspiro apaixonado, em uníssono. Mais alguns minutos se passaram, e os suspiros, dessa vez, saíram melancólicos. Por mais apaixonados que estivessem, a vida, naquele instante, não queria dar uma trégua. E, sem o ímpeto da conversa, a alegria fugaz desvanescia-se. Nenhum deles fez questão de trazer a conversa de volta. Apesar de gostosa, aceitavam a necessidade de se sentirem meio chateados. Deram-se banho devagar, espalhando espuma cheirosa, acariciando-se, aliviando-se.

Vestidos em pijamas macios, enfiaram-se debaixo de lençóis. Jungkook com um dos livros de poesia de Jimin; Jimin com Irmãos Karamazov. Gostavam do contato das costas entre si e de como o silêncio também era bom. Depois de várias páginas, concordaram em desligar as luzes para tentar dormir.

Jungkook encolheu-se contra o colchão e sentiu Jimin enlaçá-lo por trás, encaixando o corpo no seu e acariciando sua nuca com o nariz pequeno. Soltaram mais um suspiro, de amor e de melancolia. Mais uma vez. De novo. Repetidamente.

— Então... acho que vou chorar mais, tudo bem? — Jungkook sussurrou. Estava cansado de chorar, isso era fato, mas talvez se exaurisse mais fingindo estar bem.

— Claro. — Jimin depositou um beijo na nuca emoldurada pelos fios negros e abraçou-o melhor. — Nesse nosso filme, você pode chorar o quanto quiser.

— Sério, eu não aguento mais ir dormir chorando.

— Imagino, gracinha... Mas a fênix morre várias vezes também, não morre? Tente ser um pouquinho mais compreensivo com sua dor e com seu tempo.

Jungkook resmungou. Às vezes, não gostava quando Jimin falava daquela forma; como iria compreender ainda mais sua dor? Já estava doendo, sentia na pele e nos ossos. Já tinha se dado tanto tempo. Estava estranho há dias.

Ajeitou-se melhor contra o corpo dele, pedindo silêncio e abraços. E foi isso que recebeu, amparando-o enquanto as lágrimas escorregavam até a fronha. Chorou mais ainda. De novo. Salgadas e, junto, sentia um gosto amargo na boca: remorso da família; uma pitada de mágoa de Jimin, por mais bem intencionado que fosse; muito amor em ter braços enlaçando-o naquele momento que, se estivesse em casa, seria preenchido daquela solidão assustadora.

Muitas vezes o motivo de suas lágrimas eram confusos e conflituosos. Queria colocar um motivo bonitinho por trás delas, queria vê-las como uma bela morte da fênix, mas estava esgotado. Então, pelo menos naquele dia, decidiu aceitar a feiura de sua morte. Não pensou, só chorou até dormir, já que naquele filme, naquela história, estava permitido remoer a dor por várias cenas e capítulos.

-💋-

Na manhã seguinte, Jungkook não estava muito melhor. Às vezes, queria que a tristeza fosse como uma febre leve: bastante água e uma boa noite de sono era o suficiente para fazê-la desaparecer. Porém, além da mágoa, saber precisar tomar uma decisão sobre a sugestão que Jimin fizera e que tanto o chateara também lhe atormentava.

Tão insistente que foi seu primeiro pensamento ao acordar. Continuava sendo seu pensamento enquanto comia o café da manhã preparado pelos pais de Jimin, cozinheiros incríveis como o filho. A tristeza era um parasita e precisava de uma dedetização urgente, mas a realidade dessa metáfora era algo que não queria encarar.

Queria ficar melhor. Assim como naquela noite em que Jimin o visitara na própria casa. Como toques mais carnais se mostraram pouco eficazes — e, pior, deixaram-no se sentindo um merda por querer usar o corpo tão lindo do namorado como mera distração —, quando subiram as escadas de novo, para estudar, sugeriu:

— Me sinto meio cansado pra estudar... Que tal você gravar suas videoaulas? Você tinha prometido fazer esse fim de semana!

— Tem certeza, gracinha? Podemos fazer alguma outra coisa. Tipo assistir a um filme...

— Videoaula! Ou faço uma coreografia feia pra competição.

— Bobo! — Jimin resmungou. Porém, depois de trocar o peso entre o pé e outro algumas vezes, insistiu: — Certeza mesmo?

— Sim! Ouvir você falando sobre as coisas que gosta é uma das coisas que mais gosto! Você sabe disso, não sabe?

— Uhum... — Jimin assentiu com a cabeça, tímido, mas também feliz. Jungkook era sincero.

— A gente podia fazer isso enquanto eu pinto sua unha também, mas a videoaula já tá prometida! Me conta o que você pensou de cronograma, por favor?

Jimin assentiu mais uma vez. Foi até a escrivaninha, tirou da gaveta um caderno e sentou-se na cama. Jungkook nem precisou de convite para se acomodar ao lado e puxar as pernas de Jimin para seu colo. Gostava de sentir o peso e o calor dele. Gostava cada dia mais de toques. Jimin realmente o deixara mal acostumado; era tão carinhoso, suas mãos eram tão macias e cuidadosas ao tocá-lo, e sua boca, tão farta. Atestou mais uma vez aquilo ao sentir o namorado, em resposta, deixar um beijo em seu ombro desnudo pela regata antes de abrir o caderno.

— Esse aqui é o cronograma que pensei... — Jimin mostrou as folhas cheias de anotações esquematizadas com cores e post-its. — Cada semana eu falaria de uma disciplina. Eu correlacionaria elas temporalmente, porque tudo tem contexto histórico: teorias matemáticas, filosóficas, biológicas... Tudo foi criado por pessoas, institutos, culturas que viviam à sua época. Por exemplo, por dois meses, eu falaria das disciplinas no século de 1800, por exemplo, porque as coisas se entrelaçam melhor. O que acha? É um pouco diferente do ensino tradicional, tenho medo de parecer confuso...

— Talvez seja um pouco mais difícil de aprender coisas específicas! Tipo... Talvez não dê pra estudar pra uma prova com seus vídeos. Mas você quer que suas videoaulas sejam pra ensinar pras provas ou ensinar pro mundo e sobre o mundo?

— É... Queria ensinar sobre o mundo pro mundo... — Jimin concordou, tímido. — Não sei de pedagogia o suficiente para saber se isso atrapalharia os alunos no aprendizado, mas... é só uma tentativa, não é? Eu gostaria de aprender assim! Inclusive, foi bem difícil pesquisar as pautas para construir o cronograma e as videoaulas desse jeito.

— Tudo bem que já tô saindo da escola, mas tenho sorte de aprender com um professor como você.

— Bobo!

Assim, deram mais um beijo. Não muito mais que um breve esbarrar de lábios, um sorriso de presença e olhares trocando sentimentos. A melancolia do Jungkook ainda era clara, mas Jimin conseguia ver carinho no mar de dor. Apoiou a cabeça em seu ombro e mostrou os temas das aulas planejadas, todas dentro de blocos de dois meses abrangendo cada espaço-tempo. Também comentou sobre suas ideias para as identidades visuais de cada vídeo, para ser possível notar que fazia parte de um maior: do período histórico e da disciplina em si.

Jungkook amou cada momento. Amou ouvir as explicações, amou dar ideias e pitacos, amou ver Jimin se vestir com uma blusa social de mangas longas rosa-bebê junto da saia preta de cintura alta, perguntando-lhe se "parecia mais professor" daquela forma. Aquela sim era uma boa distração. Por mais que a melancolia ainda regesse seu coração e seus movimentos como um maestro insistente e dramático, conseguia florear com amor a própria partitura, feito um violino indomável.

Ajudou com o enquadramento da câmera, com o posicionamento do microfone de lapela e com o nível de iluminação do quarto. Espantou as vergonhas, inseguranças e dúvidas de Jimin porque estava, sim, em seu lugar de fala como aluno dele. Enquanto o namorado gravava, fez questão de deixar os erros de filmagem mais leves, porque Jimin era insistente em usar suas eventuais gaguejadas, voz trêmula e palavras desconexas para fugir da tarefa de gravar o vídeo.

O objetivo daquele dia era ter o vídeo de introdução, explicando a organização de suas aulas e a motivação por trás delas. Então, o quadro branco comprado por Jina e Bongcha para anotações apenas serviu de fundo, com alguns desenhos fofos e um "Descobrindo o mundo com o Minnie" escrito.

Foram as horas mais leves daquele domingo. Terminaram logo antes do almoço, e Jungkook conseguiu sentir o sabor da primeira metade da comida. Era um progresso comparado ao café da manhã. Ajudou a lavar as louças e a arrumar a cozinha. Recebeu uma carícia nos cabelos de Jina e um tapinha no ombro de Bongcha e mais uma vez foi tomado por aquele sentimento agridoce: de amar o carinho, mas de se frustrar porque queria recebê-lo de outras pessoas.

Foi acumulando tristeza e frustração no corpo já tenso das inúmeras horas de ensaio do dia anterior. Jimin, ao notar, chamou-o para se alongar no quintal, porque o Sol estava gostoso. Sempre aceitava, porém, havia se jogado em uma armadilha. A cada nó de seus músculos desatados pelas mãos habilidosas oferecendo uma massagem ou puxando uma perna para o alongamento, aquela força e tensão toda em se manter firme esvaía também. De ombros, coxas e costas relaxados, Jungkook deitou na grama e começou a chorar.

Sentiu Jimin se deitar atrás dele, juntinho. Não o enlaçou em um abraço, mas seu corpo, ali, demonstrava sua presença na continuação daquele grande filme resumido no Sofá D chorando. O toque da pele do namorado o aquecia, assim como os raios de Sol, e era um calor manso, calor de abraço.

— Acho... — Jungkook fungou. — Acho que tenho que tomar uma decisão, né?

— Infelizmente, gracinha... Na verdade, se você não fizer nada, ainda será uma decisão.

Jungkook soltou um longo suspiro. Olhando por aquele lado, era verdade. Virou-se e deitou de costas, olhando o céu, limpo e azul-celeste, cobrir sua cabeça. Como o mundo podia ser tão bonito quando tantas coisas dolorosas se passavam nele? Tombou a cabeça para o lado, encontrando Jimin.

Continuava com a mesma roupa e maquiagem da videoaula, porém carregava pura preocupação em vez do nervosismo. Assim como seu choro lamentável, algo constante naqueles dias era o afeto e a preocupação de Jimin. E gostou da perspectiva: de estar sendo amado, e muito, todos aqueles dias também. Jimin era lindo como o céu; um representante da parte bonita do mundo.

— Posso ser um bebêzão? — Jungkook pediu, e Jimin deu uma risadinha doce.

— Claro, gracinha.

— Pega meu celular pra mim?

A resposta de Jimin foi se levantar e ir até dentro de casa. Voltou com o celular e o entregou a Jungkook com certa solenidade, assim como um longo beijo em sua bochecha.

— Saudades do seu gloss de morango — Jungkook comentou e, quando Jimin se acomodou, de volta ao seu lado, correspondeu o carinho. Como sempre, a bochecha contra seus lábios era quente de timidez. — O cheiro dele é muito bom.

— Mas te lambuzava todo... — soltou, em um muxoxo. Inclinou-se para depositar um beijo nos lábios de Jungkook.

— Mas eu gostava!

— Me lambuzava também, mas eu não gostava.

— Bem, resta viver sem seu cheiro de morango...

Jungkook fitou o celular nas mãos e respirou fundo. Para tomar coragem, enfiou-se em um abraço de Jimin. Apesar de não ser aquele forte de morango, ele ainda tinha um cheiro característico, doce e suave, e o amava. Recebeu um beijo nos cabelos e no pescoço.

A proximidade da segunda-feira o desesperava. Decidido e exausto de carregar tanto medo, abriu a caixa de e-mails no celular. Com dedos trêmulos, escreveu uma mensagem breve e seca, como tudo relacionado àquelas pessoas parecia, e, em um suspiro de coragem, clicou em enviar.

Jimin, que acompanhava tudo solenemente, sentiu os pulmões de Jungkook se livrarem de todo ar e o abraçou com mais força.

— Então, gracinha, como você se sente tendo cancelado a reunião?

Jungkook mergulhou em seus braços, mas não soube o que fazer com a pergunta. Mais uma vez, era invadido por uma enxurrada avassaladora de sentimentos ambíguos. E, por mais que ele tentasse fazer com que eles ocupassem seu coração em fila, era em vão.

Alívio era um, com certeza. O fim do dia anterior e o início daquele foram recheados de tensão apenas pela ideia de enviar o e-mail. E ele estava enviado. Definitivamente. Não voltaria.

Além do alívio? Medo, desamparo, raiva, tristeza, apreensão e ansiedade, talvez. Não sabia, grudaram-se um ao outro como chiclete. Jungkook só sabia que seu peito apertava, o pulmão era incapaz de respirar fundo, a cabeça doía e os olhos e o nariz ardiam, anunciando outro daqueles choros que não queria mais chorar. A noção de que havia muito a ser resolvido, mudanças muito dramáticas, em pouco tempo, agia como se houvesse um maremoto prestes a engoli-lo e não tivesse para onde correr.

Com medo de qualquer passo que pudesse dar, Jungkook deixou Jimin o abraçar por longos minutos, bem apertado. Deixou-o massagear seus músculos, ainda doloridos e exaustos, enquanto encarava aquele belo céu limpo e azul-celeste, oposto ao cinza enevoado de seu peito. O Sol e o Jimin derreteram as tensões de seu corpo. Queria que o mesmo pudesse ser feito com seu peito.

Chorou mais, por várias cenas e capítulos; e se rendeu à ação, por mais que não considerasse uma história digna de ser escrita, muito menos adaptada às telas. Chorou nos braços de Jimin, nos braços de Jina e de Bongcha e depois, envolto na água do banho. Queria interromper o choro no banho, ao menos. Tomava-o por se sentir grudento, mas de nada adiantaria se saísse de lá chorando.

Apesar de ter sido avisado dos planos, ainda achou engraçado descer as escadas e encontrar Taehyung sentado no sofá cor de café com uma bacia imensa de pipoca no colo, meio confuso e meio contrariado. Convidá-lo se mostrava mesmo um bom plano. A ardência dos olhos diminuiu um pouco, concentrados na cena curiosa em sua frente.

— Você tá um pedaço de bosta, bunda mole — Taehyung comentou assim que Jungkook se jogou no estofado ao seu lado.

— Tô mesmo. E você, como tá?

Taehyung arregalou os olhos. Depois, deixou-os vagarem pela sala para pensar na pergunta. Jungkook ocupou a boca com a pipoca nos braços do outro enquanto esperava. A família Park, por sua vez, discutia qual filme deveriam assistir; as opções iam de Barbie e As 12 Princesas Bailarinas até Duro de Matar.

— Acho que tô que nem você — Taehyung por fim respondeu. Recebeu uma olhadela significativa de Jungkook que o fez torcer o nariz. — Não pergunte.

— Então vou perguntar do Jin. Como ele tá?

— Sei lá, não sou ele. — Taehyung fez uma carranca ainda maior e estufou a boca de pipoca.

Talvez pela primeira vez no dia, Jungkook riu. Era um veredito: convidar Taehyung fora uma boa ideia; ele trazia novos ares, apesar destes serem meio rabugentos e melancólicos. Jungkook se sentia entendido e acolhido, mas de uma maneira diferente.

Apesar da escolha do filme ter sido tempestuosa, assisti-lo não foi. Depois de tanta discussão, resolveram assistir a uma animação da Pixar, crentes de que não poderia ofender ninguém. Esqueceram, porém, do poder do estúdio fazê-los chorar. Enquanto os créditos passavam, Jimin correu até o banheiro. Não foi difícil entender que ele estava prestes a chorar, então foi de certa forma engraçado.

Jina já tinha chorado três vezes durante o filme, então não ligava em chorar de novo. Bongcha tinha lágrimas nos olhos, sim, mas foi se ocupar de fazer algo para os outros comerem. Jungkook virou-se para olhar Taehyung, curioso com as emoções daquela nova variável, estando ele mesmo com os olhos marejados.

Taehyung tinha a expressão firme, mas sua quietude e imobilidade mostravam ser uma firmeza forjada. Jungkook riu da cara dele, deixando algumas lágrimas escaparem dos olhos. O gótico contorceu a expressão em irritação e cuspiu:

— Tá rindo do quê, viadinho número 2?

— Nada, não.

— Que palhaçada, vou me lembrar de nunca mais aceitar convite do viadinho número 1.

— Não! Aceita mais, tá sendo muito bom te ter aqui.

— Ata. Eu literalmente barrei seu namorico com a Bratz purpurinada a noite inteira.

— Que nada! Eu passei o dia inteiro como um pedaço de bosta, já tinha barrado o namorico sozinho.

— Hm... O que rolou?

— Ah, meus pais. — Jungkook deu de ombros. — E você?

— Meus pais também. Sempre.

Jungkook deixou um silêncio pairar entre os dois e checou os arredores. Jina havia se juntado ao marido para preparar o jantar. Então, Jungkook se inclinou na direção de Taehyung para sussurrar:

— Você não acha esquisito ser tão acolhido em uma casa que não é sua, por pessoas que não são seus pais?

— Achava. Eu... — Taehyung parou para respirar e passou a mão no rosto. Encarou Jungkook por alguns instantes e mordeu os lábios antes de continuar: — Eu nunca tinha aceitado nenhum convite da Bratz por causa disso.

— Por que aceitou hoje?

— Hm... Motivos aí. — Taehyung torceu o nariz e suspirou, aliviado, ao ver que Jungkook não insistiu. — Eu achava que seria uma merda, mas até que não foi tanto. Tipo, acho que a merda é comparar. E às vezes parece que não dá pra evitar ela, sabe? Mas, tipo... Até que é bom pensar que dá pra ser acolhido em algum lugar.

— É verdade, é um sentimento estranho. Gosto quando penso assim, dá uma esperança. Mas me sinto meio merda quando me sinto triste pelas pessoas serem legais comigo.

— É. É meio merda mesmo.

Mais um longo silêncio se instaurou entre eles. Porém, sentiam-se próximos; reais. Jungkook arriscou encarar o semblante sempre fechado de Taehyung. Era uma figura interessante.

— Obrigado... — Jungkook sussurrou.

— Pelo quê? — Taehyung rosnou.

— Por entender esses sentimentos estranhos... Sei lá, me sinto menos bosta tendo eles.

Pelos deuses do metal! Nem abre a boca se for pra agradecer uma merda dessas.

— É sério!

Taehyung respirou fundo e virou a cara. Porém, surpreendeu Jungkook ao murmurar:

— Você pode falar comigo nessas horas. Só porque tô à toa, tá?! Quer dizer... Eu sei que a Bratz não consegue entender a gente de verdade em alguns sentidos.

— É... — Jungkook concordou. Depois, o remorso veio. — Isso não é meio ruim? É como se eu tivesse traindo a confiança dele.

— Acho que não dá pra fugir. — Taehyung deu de ombros de novo, para manter a postura desleixada ao passo que a voz ficava mais mansa. Voltou a olhar na direção de Jungkook. — Tipo, não é como se você estivesse escondendo nada dele, de qualquer jeito. Ele sabe que cê tá uma bosta, só nunca passou pelo sentimento igual. Do mesmo jeito, a gente nunca vai conseguir entender de verdade o peso que é essa parada dos boatos...

— É... Deve ser uma bosta.

— Com certeza é. Tipo, foi foda, e não no bom sentido. — Taehyung suspirou e franziu o cenho. — Na época do boato de prostituição... Foi quando? Segundo ano? Ah, foda-se. A Bratz não queria nem sair de casa. Vomitava de estresse toda vez e só fui descobrir porque ele teve que me implorar pra levar um remédio até o banheiro do colégio dele porque não conseguia sair de lá. Achei até que tava doente. Tipo, de corpo, não de cabeça. Aí eu comecei a ir mais na escola dele e deu pra ver o jeito que a galera olhava pra ele. Eu nem sabia dos boatos, mas deu pra notar. Tipo, aqueles pau no cu já olhavam feio pra gente, mas começou a ser muito mais nojento. E mais na direção dele. Aí ele me explicou qual era a fofoca da vez.

— Eu... nem imagino... — Jungkook murmurou. Depois que falou, percebeu que entendia um pouco. O pavor do dia em que foi arrastado para trás da escola. Engoliu em seco, não queria lembrar.

— Tipo, falei só no sentido de que sempre vai ter coisas que a gente não vai conseguir entender de verdade o sentimento. Acontece.

Jungkook acenou com a cabeça e mergulhou em pensamentos. Como Taehyung já era uma pessoa mais do silêncio do que das palavras, ficou quieto também. Isso é, até Jungkook, sem contexto, dizer:

— Você tem notas ruins, né?

— Que porra?! De graça?

— São ruins, né?

— Talvez.

— Vamos estudar juntos então!

— Não que eu queira passar tempo com você, mas se você quer passar mais tempo comigo, me convida pra comer pastel, eu prefiro assim.

— Não. Vamos estudar juntos. Vai ser bom.

— Minha opinião não importa?

— Não, você vai reclamar de qualquer coisa, não vai?

— Não vou reclamar do pastel.

— E vou te fazer não reclamar dos estudos também!

— Caralho, você é cabeça dura demais!

— Talvez! — Riu.

Encararam-se por um instante. Taehyung com uma carranca que valeria um prêmio, Jungkook com uma sobrancelha erguida, provocante. Foi só um instante mesmo, porque no seguinte estavam ocupados caindo na risada. Mais uns segundos e Jimin desceu as escadas, recuperado do choro e feliz em ver que convidar Taehyung tinha dado certo. Queria ver Jungkook e Taehyung felizes. E ficou aliviado em vê-los criarem a própria dinâmica.

Aproximou-se do sofá para puxá-los até a mesa de jantar, já arrumada, apenas aguardando Bongcha e Jina terminarem de cozinhar. O calor das mãos alheias nas suas era bom, assim como aquela tensão no ar de quem segura risos.

Jungkook e Taehyung foram guiados por Jimin de bom grado e trocaram um olhar cúmplice. Mesmo não sendo o lugar das suas expectativas, mesmo que se sentissem meio merda também, aproveitariam da tranquilidade de serem acolhidos em algum lugar.

»»🩰««

QUEM ESTÁ SE SENTINDO MEIO MERDA TAMBÉM? Eu com certeza!

Ah, não se esquece de deixar seu votinho! 💜

Nos comentários do capítulo passado, vocês ficaram um pouco de dúvida sobre processo judicial! Caso não tenha ficado claro nesse capítulo, vou dar uma recapitulada (até porque é normal esquecer detalhes). No capítulo em que a mãe do Jungkook conta sobre o divórcio, ela explica que dá pra levar os pais na justiça pra que fosse sustentado durante a faculdade. Jungkook pretendia tirar dúvidas com o pai dele sobre como começar esse processo (como cliente, pagando e tudo) contra a mãe (que é burro, mas é o advogado q ele conhece kkkkkk).

Qual foi sua cena favorita? Gosto muito da conversa dos taekook, mas também curto o jimin falando da videoaula dele e, apesar de não ser feliz, a primeira parte do capítulo. Acho que pode ser cansativo um personagem sempre deprimidão. Mas tem vezes que a gente simplesmente tá deprimidão mesmo. E a parte boa de escrever fanfic e não ter que me preocupar com a venda disso aqui, é poder colocar coisas que acho importantes de serem faladas, mas não necessariamente são interessantes em uma história tradicional.

Muito, muito, muito obrigada mesmo a todo mundo que lê, comenta, vota e dá tanto carinho pra minha bebê!! Sou bobinha demais de amor por vocês!

Beijinhos de luz e até 17/12 às 19:00! Amo vocês!

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