CHOICES
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▬▬▬▬▬ capítulo vinte e três
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— O QUE ESTÁ ACONTECENDO, Billy? — Mia indagou, seus olhos esquadrinhando a casinha de madeira que ela reconhecia tão intimamente.
Embora aparentasse inalterada, uma observação mais atenta revelaria que algumas coisas estavam fora de lugar, dançando entre diferentes pontos a cada vez que a Cullen a visitava. Mesmo a contragosto, ela podia enxergar a beleza da humanidade naquele pequeno espaço. A beleza da mudança.
Era surreal para Mia ter o privilégio de estar ali, após tantas escapadas furtivas pela floresta em busca de um refúgio para sua paz interior. Era um mistério que Billy Black a acolhesse tão calorosamente, quase como se fosse uma garota comum, a amiga do seu filho que vinha visitá-los sempre que tinha problemas em casa, ou quando queria se divertir. E ela nunca poderia agradecer o suficiente por isso.
O homem encarou a paisagem do lado de fora pela janela, seus olhos exprimidos pela claridade da manhã.
— Não é mais seguro para você ficar aqui.
Essa resposta fez o coração gélido de Mia afundar em seu peito. Ela compreendia que tudo parecia bom demais para ser verdade. A sensação de segurança efêmera desaparecia, deixando-a em um estado de apreensão.
— Eu entendo, mas Bella... — ela começou, a angústia refletida em seus olhos âmbar. — Eu prometi a Edward que a protegeria.
Billy sorriu com tristeza, sabendo que era apenas uma desculpa.
— A garota está segura aqui — ele respondeu, finalmente fixando o olhar nela. Havia preocupação estampada em sua expressão. — As transformações estão aumentando, Mia. Sam acredita que a hora de Jacob está próxima e eu não posso deixar de imaginar que sua presença aqui esteja acelerando o processo. Jacob está começando a sentir o veneno no seu sistema, percebendo as anomalias. Você vê, não vê?
Ela percebeu, é claro. Todos os sinais estavam presentes, mas a Cullen evitava a verdade, como se pudessem retardar o inevitável. Na realidade, Mia entendia que estava inadvertidamente acelerando a transformação de Jacob, tornando-a ainda mais penosa para ele.
Amelia exalou uma lufada de ar, resignação estampada em cada gesto.
— Eu entendo, Billy — ela murmurou, desviando o olhar dele. — Você está certo. Parece que só estou complicando tudo.
— Vai ficar tudo bem — disse o mais velho.
Mia captou a sutileza; ele se referia apenas a Jake. No entanto, naquele momento, essa única certeza foi o suficiente para ela.
— Eu sei.
De repente, Billy deslizou sua cadeira de rodas para mais perto. Apesar da sua postura impassível, ele a conhecia o suficiente para perceber a dor que ela tentava ocultar.
— Existe uma razão para tudo — ele a consolou, sua voz ecoando com uma sabedoria tranquila. — Logo você vai descobrir.
Os olhos de Mia se encheram de lágrimas fantasma, e, finalmente, permitiu-se sentir a tristeza que havia mantido no fundo de sua mente. Veio como uma avalanche, derrubando suas muralhas com ímpeto, e ela não pôde deixar de recordar o dia em que se transformou. O dia em que sua angústia começou e não teve mais fim.
Até quando seria assim?
— Ele vai me odiar, Billy. E estou com tanto medo... — ela ofegou. — Tenho medo de tudo ultimamente.
— Isso é bom, garota — afirmou o homem, seu olhar misterioso nunca passando despercebido pela vampira. — Significa que está começando a entender.
Mia o encarou confusa.
— Entender o que? — perguntou.
— Você.
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[...]
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Mia se sentia desaparecendo aos poucos. E a parte mais dolorosa é que ninguém parecia estar notando.
Ela sempre soubera que nunca fora a prioridade máxima de ninguém, especialmente de si mesma. No entanto, a dor persistia ao constatar que, apesar de dedicar sua existência aos outros, não havia reciprocidade. Em sua jornada de viver para salvar o irmão tolo e a namorada sem graça, Mia finalmente descobriu que ninguém podia retribuir e viver em função dela.
Amelia travava batalhas por todos, mas quem lutava por ela?
Quem sabe, talvez fosse verdadeiramente sua culpa... Alice fez tentativas incessantes de alertá-la, droga, até mesmo Carlisle se esforçou, mas ela fechou os ouvidos para esses conselhos. Insistia em fingir que nada a afetava, como se fosse a porcaria de um robô. A dura realidade era que, apesar de os vampiros serem criaturas imutáveis, não eram destituídos de emoções. Ainda sentiam profundamente, mesmo que tentassem se convencer do contrário, e até mais do que qualquer criatura.
Mia sentia, e muito.
Tudo estava confuso. Suas motivações, suas ideias, seus sentimentos, todos amalgamados como um novelo de lã que passou por desenrolares e enrolares incessantes. Encontrava-se imersa em um labirinto de caminhos sinuosos, desprovidos de um começo ou fim claro. Cada trajeto parecia serpenteante, repleto de meandros que se acumulavam em série em sua mente conturbada. Pontas soltas se estendiam em todas as direções, mas, mesmo ao serem desembaraçadas, pareciam nunca conduzi-la a lugar algum. Era um caminho sem saída, um poço fundo demais para enxergar a borda.
A saudade da família, de Jake, da época em que tudo era sereno e imutável, a envolvia de forma esmagadora. Até mesmo a falta de Bella, para a vampira, tornou-se um possível sinal de que as últimas réstias de sua sanidade estavam escorrendo pelos dedos.
Num panorama geral, as coisas não estavam boas para ninguém nos últimos dias.
Mia não podia ver mais Jacob, o que mergulhou-a em um estado de tristeza, uma ferida emocional que não previu.
Querendo evitar mais desconfortos, se afastou da escola por um tempo. As vozes dos adolescentes tornaram-se irritantes, suas conversas repletas de assuntos banais e insignificantes, enquanto para a Cullen, o mundo era um exato oposto. A disparidade tornava-se quase insuportável, como se estivessem deixando algo importante passar despercebido; como se ignorassem um grande problema.
Bella estava miserável outra vez, não totalmente porque ainda tinha Jacob, mas a falta repentina de Mia - que agora a visitava raramente - a lembrava que nunca voltaria a ser como era antes, quando Edward ainda estava lá, e que o buraco em seu peito ainda existia, cada vez mais doloroso.
O fato de Mia e Jacob não poderem mais se ver tornava tudo uma grande incógnita para a humana. Ela precisava de ambos em sua vida e, agora que não tinha mais Mia, tinha medo de perder o outro e único amigo que sobrou.
Ela não entendia. Os dois eram como unha e carne. O que havia dado errado tão de repente?
Jacob atribuiu a culpa ao pai. Apesar de aparentar certo apreço pela garota, Billy nunca escondeu seu desdém pelos outros membros da família Cullen. Talvez ele tivesse mudado de ideia. Talvez suas superstições tivessem prevalecido sobre a amizade entre o quileute e a garota fria. Jacob jamais compreenderia, mas ele sentia que a culpa recaía sobre seu pai. Não havia outra explicação para o afastamento de Mia; ela teria lhe contado, caso contrário.
Os recados que Bella deixava em sua caixa de mensagens deixavam Mia saber que ela fazia falta para os dois. Mas, o que deveria trazer conforto, fez doer ainda mais.
"Não é o suficiente."
Eles não me querem verdadeiramente.
"Não é certo."
Eles não podem sentir minha falta.
"Não posso ficar aqui."
Não posso escapar daqui.
Ela pensava repetidamente, tentando desvendar o motivo de toda aquela turbulência em sua mente. Buscava a razão pela qual suas paredes desabavam internamente em um terremoto de emoções que ela não entendia. A razão pela qual ela existia ali.
Nada.
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[...]
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— Mia! — Bella arfou, deparando-se com a vampira de costas para a janela de seu quarto. — Você voltou... Caramba. Isso é bom. Quer dizer, pensei que você não queria mais saber de mim.
A vampira revirou os olhos, ouvindo o monólogo habitual e, sinceramente, começando a sentir pena. Tudo o que Bella precisava era de um pouco de amor próprio. Pobre garota... Renee e Charlie, resultado de um combo terrível quando juntos, tinham inadvertidamente ferrado as coisas para ela.
— Contenha-se, Bella. Foram apenas alguns dias.
Bella respirou com certa dificuldade e dirigiu o olhar para o chão. Desde que Edward partiu, ela sempre falava como se tivesse um peso sobre os pulmões.
— Me desculpe, é que... — ela balançou a cabeça, buscando as palavras certas. — Você e Jake... tudo isso está me deixando louca.
Mia franziu o cenho, subitamente interessada. Embora tenha sentido a familiar dor no peito oco com a menção do nome do amigo, ela escondeu esse sentimento.
— O que há com ele?
— Jacob não responde mais às minhas mensagens, não atende minhas ligações... — respondeu a humana, movendo-se de um lado para o outro, como se tentasse criar um buraco no chão com seus pés. — Estou sem notícias dele há quase uma semana, e tudo o que Billy diz é que ele não pode falar comigo no momento — ela fez uma pausa, parecendo cansada, e Mia permitiu que ela terminasse. — Só quero entender por que todos estão se afastando. Tem algo errado, só quero descobrir o que é...
"Algo errado comigo", foi o que ela quis dizer, mas sabia como Mia a veria se expressasse isso.
Os olhos de Mia refletiam aflição, e sua voz soava dolorida ao responder.
— Talvez ele esteja simplesmente muito ocupado — murmurou. — Você sabe como Jake tem estado obcecado com aquele carro.
— Não faça isso. Não tente me confortar — Bella pediu com urgência. — Lembra quando ele contou que Embry tinha sumido e agora estava andando com Sam? É isso, Mia. Sam pegou Jacob também!
A vampira negou veementemente. Procurava fazer parecer que achava a história absurda, que Bella deveria esquecer aquilo porque não fazia sentido. No entanto, a verdade era que um nó pesado apertava sua garganta.
— É uma ideia ridícula — comentou, sarcástica. — Vamos fazer o seguinte: eu tento ser mais legal se você tentar ser mais inteligente. Que tal?
Bella bufou, suas mãos puxando nervosamente os cabelos.
— Não está ajudando — ela sussurrou. De repente, a garota ergueu a cabeça, o olhar determinado. — Preciso vê-lo.
— Ainda não entendeu o recado, Swan? — Mia se esforçou para dizer. — Jacob não pode nos ver. Simples assim!
— Preciso de um motivo — rebateu a humana, dirigindo-se para pegar seu casaco, pendurado atrás da porta. E Mia percebeu que não podia mudar a mente dela, uma vez que a decisão já estava tomada.
— Bella, que tal dar um tempo para, sei lá... pensar como uma pessoa normal?! — perguntou a Cullen, impaciente. — Está indo para o único maldito lugar onde eu não posso ir!
A observação foi o suficiente para fazer Bella parar, embora não pelo motivo que Mia esperava. Ela encarou a vampira, a testa enrugada e os lábios sendo mordiscados em sinal de nervosismo.
— Por que não pode? — perguntou, mas ao perceber que a garota não responderia, Bella tentou outra abordagem. — Vem comigo. Por favor... preciso de você lá. Jake precisa de nós.
O suspiro de Mia entregou à humana a resposta que ela buscava. Era impossível postergar o inevitável, ela sabia. Quanto mais rápido encerrasse aquilo, menos tempo a Cullen passaria na agonia da incerteza, na angustiante espera pelo desastre iminente que poria um fim a tudo de uma só vez. Ela estava ciente de que seria alvo de ódio, sem escape para esse destino; então, qual o sentido em prolongar o inevitável? Seria melhor que chegasse logo ao fim.
— Billy me proibiu de ir até a Reserva — seus lábios a traíram, tentando uma última jogada.
— Desde quando você segue regras? — Bella arriscou dizer, encarando o chão, sua voz trêmula. — Vou com ou sem você, Mia. Mas preferiria se fosse com você.
— Então é assim que termina... — Mia murmurou, mais para si do que para a humana. Encarou Bella. — Te espero no carro.
Em seguida, virou-se para pular a janela.
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Notas;
E aí, preparados para o próximo? Eu não tô não kkkkkkkkkcry.
Billy sabe das coisas... 🤔
Alguma teoria em mente?
Beijinho e até o próximo (sai esse sábado) 💚
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