"Golpeie o coração por amor, congelado por temor. É belo e ameaçador tenha cuidado, então com o gélido coração!" Gélido Coração, Frozen
Lago Encantado, 2017
Talvez fosse pelo silêncio, pela familiaridade ou paisagem, mas não havia um lugar que Mal amasse mais em Auradon do que o Lago Encantado.
Depois de uma longa e chata reunião com os duques e condes seu namorado a levou até lá. Ele estava se esforçando para fazer e ser diferente. Os eventos que antecederam o Cottilion, o ensinou muita coisa. A ele e a Mal também, quando que imaginou que se permitiria ser carregada por um menino? Estava nas costas de Ben que se ofereceu para levá-la depois das queixas de dores nos pés.
Estava tentando romper com padrões nos quais viveu a vida inteira. Estar tão perto de alguém era um grande passo.
— Seu jantar minha Lady. — Mostrou a ela a caixa de pizza os esperando. — Entrega de Sr. Lumiere.
— O que...como? — Sorriu boba pelo que ele havia feito. — Você passou o dia todo em reuniões.
— Tenho meus contatos. — Beijou a bochecha dela. — Então, vou te deixar com a pizza e vou dar um mergulho. — Mal o assistiu tirar a blusa e correr para o lago.
Essa era uma vida totalmente diferente do que ela planejou um ano atrás, mas não havia nada que a fizesse mais feliz do que comer uma maravilhosa pizza e observar seu namorado nadar.
— Não! — O garoto saiu da água rindo e foi em sua direção. — Benjamin, não. — Se afastou dele rápido.
— Calma baby. — 'Baby'? Era novo isso. — Só vou pegar isso. — Pegou a toalha e secou o excesso de água. — Qual o seu medo? Que eu te abrace assim? — Com seu corpo todo molhado a abraçou.
— Ben! — O menino beijou toda a sua face e molhou o vestido lilás. — Evie vai me matar. — Olhou o estado do pano e já podia ouvir sua melhor amiga a xingando, mas não sairia do aconchego dos braços dele, ainda que molhados.
— A pizza está boa?
— Muito boa.
Colocou o pedaço de volta a caixa e virou-se para ele. O rei pensou que ganharia beijo, mas recebeu ela secando seu rosto. Quando tirou o pano da face dele encarou os belos olhos verdes avelãs. Seu verdadeiro amor. Onde imaginou ter um amor para a sua vida inteira? Aproximou-se dele e o beijou delicadamente. Suas mãos passearam pelo rosto dele até irem nos cabelos molhados. Ben ficou parado somente aproveitando o momento. Era tão bom que as vezes não parecia real...
— E foi assim que dei meu primeiro pulo aqui.
Contou para ela sobre o dia em que pulou do pequeno penhasco.
— Não consigo imaginar Bela nervosa e gritando. Me parece fisicamente impossível.
Pensou na sogra gritando. Já estava anoitecendo, mas continuavam ali aproveitando a presença um do outro.
— Ela fica. Acho que é natural de toda mãe ficar nervosa quando seu filho de sete anos se joga daquela altura. — Não havia má intensão nas suas palavras, mas o uso da palavra 'toda' era generalizar algo que não era verdade. — Mal, eu não quis... — Com cabelos loiros ou púrpura, vestidos ou calças jeans, falar de Malévola sempre foi dolorido.
— Não Ben, está tudo bem, sério.
O silêncio indicava outra coisa e ele sabia disso.
— Ei. — Ela estava sentada de frente para ele. Suas costas postas na pilastra. Esticou seus dedos para tocar nos dela. — Pode falar comigo sobre qualquer coisa, sabe disso, não é?
— Eu sei. — Sorriu e encarou o tranquilo lago. — É que...sua mãe se preocupa tanto com você.
— Imagino que Malévola também, do jeito dela, não é?
Mal riu da ingenuidade do namorado.
— As coisas são diferentes na Ilha Ben. — O garoto se arrastou até eles não ficarem muito longe um do outro. — Acho que comigo era diferente, porque...acho que Malévola nunca imaginou ser mãe de verdade, sabe? Então, não sei se é justo cobrar alguma coisa dela.
— Mal, todos merecem ser amados. — Passou seu polegar pelas bochechas dela. — Você não é exceção. — Ben era um ser adorável. Beijou a mão dele.
— Sabe, eu passei minha vida querendo ser como ela, mas desde que cheguei a Auradon e conheci você e essa vida...amar é bom para ***
Ben sorriu alto dela.
— Eu amo você Mal. Amo ***
— Uau! O rei de Auradon tem uma boca tão suja assim?
Zombou antes dele beijá-la.
Não demorou muito para os beijos evoluírem. Ben tirou a blusa dela delicadamente e antes de tirar o sutiã da menina foi difícil não notar as cicatrizes que Mal carregava pelo seu corpo.
— Não foi ela Ben. — Esclareceu ao perceber a atenção dele em cima de uma cicatriz que tinha no ombro. — Minha mãe nunca me causou nada disso. Não diretamente.
Se envolveu em brigas, porque aprendeu que esse era o certo. No final das contas, o oposto do amor não era o ódio, mas a indiferença. Em todos esses machucados não houve um curativo ou uma compressa de gelo. O que fez cada ferida doer mais que o necessário foi não ter alguém que cuidasse delas.
O garoto auradoniano se achegou e beijou cada uma das cicatrizes antes de encarar os olhos dela novamente.
— Eu prometo, eu sempre vou cuidar de você e do seu coração.
Ele prometeu. Era uma promessa linda, mas nenhum dos juramentos dele mudaria o que já estava em seu corpo.
(...)
A frequência cardíaca de uma pessoa normal é entre 60 e 100 batimentos por minuto. Quando o coração passa disso ele está em um processo de aceleração.
Entretanto, nesse momento o exato oposto estava acontecendo com Mal. Seu coração que há dez minutos estava em 98 bpm agora estava a 80 bpm. Ela claramente não estava usufruindo de um momento de paz, mas mesmo com fortes descargas de adrenalina e magia, o coração de Mal estava desacelerando.
— Maly, diz que você não tocou no cetro da sua mãe, por favor.
Poucas vezes Hades sentiu verdadeiramente medo. Esse sentimento tão humano fez parte de seus dias raríssimas vezes, mas agora quando o ar ficou mais rarefeito e suas mãos começaram a tremer, o ex deus se viu diante de um ataque de pânico.
— Era o único jeito.
Quando ouviu o modo que ele falava, uma estranha onda de raiva a invadiu.
— Filha, esse cetro é muito poderoso. — Sua preocupação era genuína. Com a filha e com o mundo ao seu redor. Conhecia mais o Olho de Dragão do que a própria Malévola. — Por que você não me deixa segurá-lo e vem para cá?
— Agora você quer cuidar de mim, depois de ter passado 16 anos me ignorando?
Chamas rodearam a Lady antes dela bater no chão o cetro e Hades receber uma espécie de relâmpago em uma das mãos. Colocou a pequena pedra azul na frente de seu rosto e bloqueou a magia.
— Maly!
Gritou assustado.
— Pai? — Rapidamente, em um flash de segundo os olhos verdes voltaram ao normal. — Não! Você não é meu pai. É só um fraco humano!
O grito veio acompanhado de uma bola flamejante. Hades conseguiu se desviar, não antes de perder a manga de sua blusa.
— Mal!
Não era ingênuo, sabia que essa não era sua filha.
— Pai, precisa sair daqui.
Nesse momento a frequência cardíaca estava em 71 bpm. No entanto, outros fatores que indicavam medo, estes estavam cada vez mais notórios.
Quando tentou soltar o cajado o objeto se prendeu na sua mão. A marca em seu braço brilhou até arder.
— Mal. — Hades estava entre o medo de se aproximar e a preocupação com a filha. — Maly, ei, preciso que se concentre em mim, tudo bem? Quanto mais tempo passar com o cetro, mais magia você irá absorver.
— É, claro que você me quer longe, seu fraco humano.
Não era Mal, era Malévola. Ninguém além dela sabia como odiava ouvir esse insulto. Humano.
Se o Olho de Dragão lançasse mais uma bomba de energia não conseguiria se desviar. Tinha que acessar sua garotinha.
— Listen, little girl you're talking to a god and I don't wanna hear the drama.
Cantou o dueto dos dois com a esperança de encontrar Mal dentro da imensidão mágica que havia nela.
— Pai, por favor, sai daqui. — Mal pediu em lágrimas. — Por favor. Eu não consigo controlar.
A sua luta interior doía quanto ou mais do que deixar o que estava acontecendo agora. A sua resistência era clara no seu braço que estava sangrando. Foi quando viu a filha chorar que viu que somente sua brasa e sua presença não seria suficiente para salvar a menina.
— Eu volto Maly, prometo.
Saiu o mais rápido que pôde.
— Leva o Ben daqui.
Quando as gotas de sangue começaram a cair no chão, Hades notou que já não era mais o sangue da menina que estava caindo. Mal era parte humana ainda. Não deveria sair dela esse líquido esverdeado.
— Volto por você. Prometo.
Com o genro nos ombros desceu as escadas. Escutou o rugido que não escutava há no mínimo duas décadas.
— Hades, o que aconteceu?
Assim que voltou a parte central do castelo, Adam e Carlos foram na direção deles.
O ex rei pegou o filho sem saber se o garoto estava ou não acordado.
— Eu vou matar aquele réptil!
Esbravejou e em sua raiva quebrou o vaso centenário que fora presente de Mulan e Shang.
— O que aconteceu? Ben?
Evie olhou o estado do pai e marido de Mal.
— Vamos levar ele para a ala da enfermagem.
Adam disse carregando Ben ao lado de Carlos.
— Hades, onde está Mal? O que aconteceu?
Bela perguntou.
—A Mal está absorvendo a magia do Olho de Dragão. — Ele disse incapaz de apagar o fogo no cabelo azul. — Não vi a Audrey, mas a Mal...eu pedi para aquela coisa destruir o cetro! — Mais um objeto do castelo Beast recebia o ataque de raiva de Hades.
— O que aconteceu com minha irmã?
Evie com os olhos lacrimejando pediu por respostas claras.
— O cetro está se unindo a ela. — Confessou um misto de raiva e tristeza. — Ele acha que a Mal é a dona original.
— O que isso significa?
Bela que não sabia muito de magia imaginava o que isso queria dizer, mas não tinha coragem de imaginar.
— Vai acontecer o que aconteceu da primeira vez que ele foi criado.
Rashid explicou diante da dificuldade de fala de Hades.
— Que droga! Falem a nossa língua!
O calmo Doug gritou com os seres mágicos.
— Aquela coisa inescrupulosa criou o Olho de Dragão em cima de todos os piores feitiços existentes no mundo. — Hades dizia e sentia um ódio que jamais havia sentido antes. Odiava Malévola, isso nunca foi segredo, todavia, agora somente pensar nela estava o deixando em um estado, que nem Zeus e todo o Olimpo deixaram. — O que há de mais perverso está no cetro. E a Mal...
Não sabia que ainda podia, mas ao falar da filha, suas mãos voltaram a soltar uma espécie de magia.
— Rashid.
Evie pediu para que o mago explicasse.
— Não temos certeza, mas achamos que o que danificou o coração da Malévola e a deixou incapaz de amar foi o cetro.
Rashid dizia com muita calma o que estava condenando a vida da amiga, filha, nora, esposa e irmã.
— Então...
Bela tentou chegar em um raciocínio lógico, mas as lágrimas chegaram primeiro.
— É possível que a magia chegue ao coração da Mal.
Rashid terminou de explicar e foi somente com suas palavras que tudo ficou tangível a eles.
— Não, não vamos perder a Mal.
O rei amparado pelo pai caminhou até a família e decretou.
— Isso não é opção. Vou atrás da Nanny. Ela deve ter uma opção.
Hades avisou.
— Vamos com você.
Evie decretou.
— Não, vocês ficam. — Hades falou. — A cada minuto que passa mais da Malévola passa para Mal e vocês sabem que a única coisa que ela sempre quis foi destruição e vingança.
— Vou conectar Merlim e outros que sabem de magia.
Carlos pegou o celular com pressa.
— Só para vocês saberem, não tentem falar com ela. Tentar trazê-la irá machucá-la mais. A Mal está lutando contra algo além da nossa compreensão. — O ex deus orientou a família, por mais doloroso que fosse passar esse aviso. — Venham cá. — Antes de pegar sua mochila uniu o grupo. — Vamos lutar pela Mal, tudo bem? Ela tem lutado por todos nós há muito tempo, vamos fazer isso. Pela Mal.
— Pela Mal.
Todos juntos uniram as mãos e disseram juntos o que era uma promessa, lema, juramento ou só uma esperança.