— Ele está me ignorando. – Afirmo para Baela assim que saímos do fosso. — Tentei falar com ele e fui ignorada, ele só saiu andando.
— Ele está chateado, você tem que entender um pouco do lado dele, ele fica muito preocupado com você e não é para menos.
— Eu sei... – A única coisa que eu quero agora é me trancar no meu quarto e dormir, ando tão cansada ultimamente, o peso de tudo o que aconteceu ainda da muitos sinais.
— Acho que a Storm não gostou muito de mim. – Kaden afirma.
— Mas ela permitiu que você a montasse.
— Sim, mas na hora que desci dela, posso jurar que ela tentou avançar em mim, por sorte um dos guardiões impediu. – Isso me faz rir.
— Eu sou a primeira montadora dela, nunca conseguiram domá-la, é normal que ela estranhe, não se preocupe, não é uma implicância com você. – Ele sorri.
— Que bom. Você está bem? Estou te achando meio... Abatida? Bom, não sei se essa é a palavra certa para se usar. – Retribuo o sorriso.
— Estou bem sim, só cansada. – Sinto uma mão no meu ombro, olho e encontro Jace, Kaden logo se afasta.
— Sei que você gosta de ser útil e se arriscar, mas agora com tudo o que sabemos, precisa ter mais cautela, se for verdade que as suas escolhas definem o nosso futuro, correr para a cara da morte, se encontrar com o Estranho o tempo todo, não acho que seja uma boa escolha. – Ele suspira. — Não gostei da forma como ele falou, mas ele tem razão e acredite, espero uma reação muito pior vinda de nossa mãe, ela já estava muito nervosa, quando souber tudo o que você fez e ainda por cima sozinha...
— Eu sei, desculpa deixar você preocupado. – Ele aperta a minha mão.
— Bom, você deixa quase todo mundo de cabelo em pé, sei que só quer ajudar, o que você fez em VilaVelha, na Campina... Aquilo foi surreal, mesmo tão nova, você derrubou dois grandes dessa rebelião, Dalibor e Halbrand, ainda por cima domou um dragão selvagem, isso não é qualquer um que consegue, mas em todas as vezes você se arriscou e se feriu, um exemplo claro foi Rochedo, você poderia ter pedido ajuda e mesmo assim preferiu arriscar, e aquilo quase matou você. – Sinto a mão dele acariciar o meu cabelo. — Eu não sou burro, Rhaenys, não sei exatamente o que está acontecendo entre você e o Aemond, mas sei que há algo, ele não ia querer atravessar tudo isso só para ir atrás de alguém que ele não se importa, o Aemond que eu conheço teria deixado isso de lado e seguido a vida dele, eu não julgo a reação dele, talvez seja um pouco exagerada, só que depois de tudo o que aconteceu, você foi ferida inúmeras vezes, só quem acompanhou os seus gritos de dor depois do ataque ao fosso, sabe a agonia e o desespero que passamos, para você é tranquilo, vai lá se arriscar, acontece uma coisa ou outra, se fere e depois se recupera, mas você já parou para pensar em quem acompanha tudo isso? Não é nada fácil, não é como se você tivesse toda a experiência de guerra, você não tem, só que você se sai bem, graças aos Deuses, se não você já teria ido com o Estranho a muito tempo. – Fico pensativa, eu não sei nem o que responder, acho que Jace nunca tinha desabafado assim comigo, na verdade é mais um sermão disfarçado.
— Desculpa... – Ele me envolve em um abraço apertado.
— Só quero que fique viva e bem, eu não suportaria se algo acontecesse com você. – Jace me da um beijo na testa e segue caminho para retornarmos para a fortaleza.
******
— Parece que você cresceu. – Minha mãe fala enquanto me avalia, está caçando qualquer ferimento. — Espero que esses cortes não sejam por alguma luta ou coisa pior... – Os cortes que tenho no braço são por culpa de Cannibal, não vou confessar isso para eles, é claro, mas já cai algumas vezes dele, quando ele está de mal humor...
— Está tudo bem, mãe, eu estou bem. – Logo depois de me verificar, ela "atacou" Baela e Luke da mesma forma, verificando os dois e ordenando que nós três contássemos tudo, só para depois de um bom tempo, ela perceber a presença de Kaden.
— E você é... – Ele se aproximou mais dela e fez uma leve reverência.
— Sou Kaden, é um prazer conhecê-la, princesa Rhaenyra. – Minha mãe retribui com um leve acenar de cabeça.
— Longa história, vamos contar quando todos estiverem reunidos. – Já explico quando ela me olha de canto, me afasto mais dela e vejo meu pai entrar na sala.
— Pai! – Abraço ele.
— É impressão minha ou você cresceu? – Pelos Deuses, todo mundo fala isso.
— É, eu também achei. – Jace concorda com ele e minha mãe assente.
— Vocês vieram do fosso agora? – Meu pai pergunta e eu confirmo. — Eu soube que o Cannibal está preso lá, não entendi muito bem, os guardiões estavam em "desespero" com isso, disseram que alguém o domou. – Minha mãe arregala os olhos.
— Alguém domou o Cannibal? Isso só pode ser brincadeira, ninguém é maluco o suficiente para arriscar a própria vida assim. – Ela fala, fazendo Baela cair na gargalhada, seguida por Luke, os dois apertaram suas barrigas por causa da força de suas risadas.
— Bom, sua filha é... – É Jace que fala para ela, na mesma hora os dois me olham.
— Você domou o Cannibal? – Meu pai pergunta e eu apenas balanço a cabeça em confirmação. — Pelos Deuses, essa é a... – Ele para de falar assim que minha mãe olha para ele, depois ela volta a olhar para mim.
— Qual foi a parte do "Não se arrisquem, não se metam em nenhuma loucura que possa custar suas vidas." que você não entendeu? – Ela pergunta, seu semblante está sério.
— Mãe, eu não me arrisquei muito, até que foi tranquilo, ele não é tão selvagem como dizem, é mais um rabugento, tipo a Vhagar, só que a diferença é que a montadora não é rabugenta, então tem um equilíbrio. – Olho para Aemond, ele ficou o tempo todo encostado no batente da janela, enquanto espera os outros chegarem, ele me olha e arqueia a sobrancelha. — Sem querer ofendê-lo, tio. – Falo para ele, que apenas me encara sem expressar qualquer coisa.
— Você vai me explicar essa história direitinho. – Antes que eu consiga responder, Otto entra junto com o meu avô, Alicent vem logo atrás com Aegon, a rainha anda rapidamente até o filho, verificando ele e perguntando baixinho, recebendo apenas uma confirmação.
— Parece que teremos muito o que conversar. – É a única coisa que o rei fala.
******
Quando terminamos de contar tudo, o silêncio reina por todo o ambiente, todos intercalam o olhar entre mim e Kaden, estão digerindo todas as informações, consigo ver a angústia e o desespero no olhar da minha mãe, a expressão do meu pai é indecifrável, mas consigo ver um certo... Medo? Talvez, não dá para saber ao certo. Meu avô encara Kaden, só desvia para me encarar, até que finalmente meu pai decide quebrar o silêncio.
— Como podemos ter certeza de que você não está do lado dele? Que isso é apenas uma manipulação, como podemos saber se isso é realmente verdade? – Ele questiona, Kaden encara ele.
— Terão que confiar em mim, mas acredite, se eu quisesse fazer mal a qualquer um de vocês ou até mesmo a própria Rhaenys, eu não precisaria de muito esforço.
— Você pode tentar ganhar nossa confiança para um plano maior... – Rhaena rebate.
— O único plano de Zahir é ter Rhaenys e usá-la, se eu estivesse ao lado dele, ele já teria ela a muito tempo, fiquei sozinho com ela e poderia tê-la sequestrado, mas não fiz isso, meu objetivo era tirá-la de Essos e a manter o mais longe possível dele.
— Sua preocupação com ela é notável. – O rei finalmente se pronuncia. — Mas pelo o que você disse, não se sabe do paradeiro desse homem ou qualquer movimentação de exércitos, ou qualquer outra coisa, então não acho que seja hora de nos preocuparmos com isso, acabamos de sair de uma guerra, temos muitas baixas, precisamos nos reerguer e fortalecer o reino, essa é uma ameaça que ainda nem deu às caras, quando isso acontecer, ai sim podemos pensar em revidar.
— Mas... – Tento falar, mas tanto Otto, quanto o meu avô me impedem.
— Por enquanto são apenas informações, nada além de boatos, uma história antiga e nem sabemos se esse... Zahir ou Kallyonix, qualquer que seja o nome dele, não sabemos se ele ainda está vivo, não podemos nos restringir e demonstrar medo de alguém que nem conhecemos. – É Otto que finaliza e meu avô concorda com ele.
— Peça para que arrumem um dos aposentos para Kaden, será muito bem vindo aqui. – Meu avô afirma.
— Não será necessário, vou visitar um velho amigo em VilaVelha, mas agradeço pela gentileza.
Logo depois que todos saíram da sala do conselho, eu acompanho Kaden até o pátio da fortaleza.
— VilaVelha? Diga a Daeron que mandei lembranças... – Ele franze o cenho.
— Daeron?
— Meu tio, o filho mais novo do rei e da rainha.
— Uau, pensei que só tivessem três filhos, não quatro. – Ele afirma.
— Ele é muito próximo do tio, então fica por lá, é escudeiro e também o ajuda com a administração da casa.
— Interessante...
— Depois de VilaVelha, o que você vai fazer? – Ele para e me encara.
— Devo retornar à Essos, para ser mais exato, para Pentos, tenho um palpite forte, quero investigar isso, já que o rei não pretende agir enquanto não souber se Zahir realmente quer guerra...
— Então não nos veremos por um bom tempo. – Ele assente. — Obrigada... Por toda a sua ajuda, não só de agora, mas pelo o que você fez no passado pela minha casa. – Ele sorri.
— Tudo o que fiz foi por amor, não tem porque agradecer, Rhaenys... Acho melhor eu me adiantar, se cuida.
— Você também, tome cuidado. – Ele apenas assente e vai em direção ao cavalo que o aguarda, logo depois saindo rapidamente pelos portões da fortaleza.
******
— Você é louca! – Rhaena fica afirmando, Helaena está repousando no sofá enquanto eu faço carinho na barriga dela.
— Lindo elogio, irmã. Você já tem ideia de nomes? – Pergunto para minha tia.
— Na verdade só para menino... Jaehaerys. – Baela sorri e vem até nós duas.
— Um ótimo nome. – Minha irmã fala.
— Conte a elas sobre a ideia idiota de nome que Aegon deu. – Rhaena fala rindo.
— Ah... Aegon queria uma mistura de nomes, ele disse que seria legal colocar Aleon ou Aelon, uma homenagem a nossa mãe e a ele.
— Ainda bem você não vai dar ouvidos a ele. – Afirmo e ela sorri concordando.
Ficamos conversando, Helaena e Rhaena nos atualizaram de tudo o que vem acontecendo na fortaleza, até que alguém bate na porta do meu quarto, Baela vai atender, não consigo escutar o que ela está falando.
— É importante? – Falo mais alto para ela ouvir, ela vem até mim.
— É o Aemond. – Ela fala. — Ele quer falar com você.
— Acho melhor irmos para o meu quarto. – Helaena afirma e as minhas irmãs concordam.
Depois que as três saem, Aemond entra, ele é indecifrável, não faço a mínima ideia do seu humor atual, não sei se vai gritar comigo, me passar horas de sermão ou se vai finalmente falar algo... Fofo? Não, essa última com certeza não.
Permaneço em silêncio, não vou ser a primeira a falar, quando eu tentei falar com ele mais cedo, fui completamente ignorada.
*Valiriano*
— Você domou o Cannibal. – Ele afirma enquanto se senta no sofá à minha frente.
*Valiriano*
— De fato. – É minha única resposta.
*Valiriano*
— Também matou Halbrand. – Apenas assinto. — E esse Kaden...
*Valiriano*
— Não, ele é apenas um amigo. – Ele tenta esconder a expressão de alívio, mas não dá muito certo.
*Valiriano*
— Eu estava falando sério sobre você parar de se arriscar, agora tem muito mais do que só a sua vida em jogo, meu pai decidiu não agir, mas não tiro a razão dele, não dá para agir se você não sabe nem por onde começar, nem sabemos se esse Zahir realmente existe.
*Valiriano*
— Você não acredita em Kaden, nem em Huldan?
*Valiriano*
— Eu não acreditaria se você não tivesse esses sonhos, mas tudo bate muito bem, então não sei... – Ele solta um longo suspiro. — Acho que peguei pesado com você, mas eu precisava falar, você vem agindo como quer, não pensa em nada, só faz e se alguém lhe contraria... Você não gosta nada e começa a desobedecer mais ainda. Rhaenys, você não é uma criança, sabe muito bem os riscos, pare só um pouco, pense no que é melhor para garantir que você vá ter um futuro e não brincar com a morte a cada dois segundos.
*Valiriano*
— Eu sei... Desculpa. – Ele franze o cenho.
*Valiriano*
— Não vai dizer nada? – Balanço a cabeça negando.
*Valiriano*
— O que eu deveria dizer?
*Valiriano*
— Pensei que fosse brigar comigo pela forma como falei com você, ainda mais na frente dos seus irmãos. Sei que ficou chateada, eu exagerei um pouco.
*Valiriano*
— Sim, exagerou. – Me levanto e vou até ele. — Estou chateada, não acho que aquele tipo de coisa deve acontecer na frente de ninguém, me sinto mal, espero que se lembre disso, não gosto quando você faz isso. – Ele apenas assente. — Não tiro a sua razão de estar com raiva e preocupado, isso eu entendo, mas não quero que aquilo se repita, odeio quando você levanta a voz daquele jeito. – Ele se levanta na mesma hora.
*Valiriano*
— Eu não queria falar daquele jeito, mas eu nem percebi, deixei a minha raiva tomar conta e acabei alterando a voz sem perceber. Desculpa. – Sinto o braço dele deslizar pela minha cintura, ele se inclina para frente e encaixa sua cabeça no meu pescoço, respirando fundo. — Senti tanto a sua falta...
*Valiriano*
— Eu também senti. – Levo a minha mão ao cabelo dele e faço leves movimentos.
*Valiriano*
— Você é incrível, sabia? – Balanço a cabeça negando. — É... Você é. Matou Dalibor e Halbrand, os dois maiores da rebelião, fez amizade com o Jaime Martell e praticamente o convenceu de que a guerra não era a solução, depois liderou pequenos exércitos contra três grandes exércitos inimigos, destruiu dois deles e fez o terceiro se render, você domou o maior dos dragões mais selvagens que existem, você me deixa sem palavras, não sei nem o que dizer em relação a isso. – Só consigo sorrir, ele levanta a cabeça para me olhar, sua mão mexe no meu cabelo, jogando uma mecha para trás da minha orelha. — Minha mulher é foda, a mais incrível e linda de todos os continentes, não há nenhuma que chegue aos seus pés, sabia? – Sinto minhas bochechas esquentarem, enfio o meu rosto em seu peito para tentar esconder isso, arrancando uma gargalhada genuína dele. — Amo você.
*Valiriano*
— Também amo você. – Respondo ainda com o rosto escondido.
******
Boa tarde❤️
Ontem tivemos dois capítulos, verifiquem🫶🏻
Qualquer erro de escrita, peço perdão 🫶🏻