chaos gods

By 28chrys

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harry, ou perséfone, é o deus da agricultura que viveu no olimpo por boa parte de sua existência, até ser pro... More

Synopsis
Two • Underworld
Three • Champs-Elysées
Four • Scars
Five • Court of Souls
Six • True Fears
Seven • Our body
Eight • Eternal Kiss
Nine • Empress
Ten • Muse
Eleven • Sweet Revenge
Twelve • Freedom
End
Epilogue

One • Olympus

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By 28chrys

Absolutamente tudo ocorreu rápido demais para o entendimento de Harry.

Em um segundo tinha o tão temido deus dos mortos em frente a ele, mas no outro, não era mais Hades quem ele via, mas sim a névoa negra tomando conta de cada centímetro à sua volta. Seu corpo fora puxado em direção contrária ao de Hades, enquanto o poderoso deus dos mortos era levado para o salão novamente em uma disputa acirrada com os magnis.

Hades era poderoso, disso não restava a menor dúvida, mas a anos estava enfraquecido e lutar contra outros cinco deuses, mesmo que apenas um deles fosse a sua altura, não seria uma tarefa fácil. Harry não pode ficar naquele lugar para ver o que se seguiria, pois sentia o corpo sendo carregado em meio a névoa, para fora do palácio.

Ele sentia que deveria voltar. Sentia que deveria voltar a Hades.

— Me solte — ele pediu, para quem quer que fosse a pessoa que o estava levando para longe da batalha estrondosa que ocorria dentro daquele salão, pois os raios começavam a dominar os céus do olimpo.

No entanto, parou de sentir o corpo sendo carregado para longe somente quando a brisa gélida da noite dominou seu corpo, ele se encontrou em frente a longa escadaria dourada que descia e corria para fora do palácio de Zeus.

Ele notou seu corpo sendo envolvido pelo mesmo homem que usava vestes escuras e um capuz, este abaixado onde ele poderia observar melhor os traços delicados e sérios de Dion. Do outro lado do garoto, que embora parecesse ter a mesma idade que ele, parecia mais maduro por sua postura séria, Eros tentava se soltar da figura também.

— Preciso voltar para o palácio — ele disse, no momento em que Dion começou a descer as escadarias, os puxando junto a ele — me solte, eu sou um deus e você está no olimpo, me obedeça.

— Não sou seu servo, o olimpo não significa nada para mim — Dion o disse em resposta, sem hesitar em ultrapassar cada degrau daquela escadaria imensamente longa.

— Você é do reino de Hades, isso é claro para nós, mas poderia ao menos nos deixar caminhar por conta própria? — Eros o perguntou, empurrando o braço de Dion, embora fosse inútil, a força não era seu dom — você deveria nos deixar aqui e ir embora, não sabe com quais deuses está lidando, eu sou o-

— Eros, eu sei — este cortou sua fala dramática.

— Nos escute, poderemos causar problemas sérios a você — Harry tentou ajudar o irmão, com a pequena tentativa desesperada de escapar do poder de Dion — Zeus não irá permitir que saia do olimpo conosco.

— Zeus não tem que me permitir nada, não preciso de sua aprovação — Dion permaneceu firme.

— E afinal qual seus planos, ou os de Hades? Nos matar? Levar como prisioneiros? Nos queimar vivos e fazer um vaso com nossas cinzas? — Eros dramatizou, desistindo de escapar.

— Eu não conheço ninguém no submundo que faça vasos com cinzas — este não pode evitar a tentação de revirar os olhos para o dramatismo.

— Nossa mãe nos contou sobre como são cruéis com os prisioneiros que infelizmente são levados contra a própria vontade para o submundo — Harry disse firmemente.

— As pessoas do olimpo são tão egocêntricas a ponto de pensarem que todos os que não são os perfeitos deuses superiores, vivem em uma desgraça — Dion cortou a conversa, no momento em chegaram no fim da escadaria — podem ir agora.

Harry separou os lábios em confusão, ele observou como seu irmão também parecia confuso, a ideia de que foram arrastados como dois ladrões mortais escadaria abaixo, apenas para que fossem soltos por fim, não entrava em sua cabeça.

— Irá nos deixar fugir? — Harry perguntou.

— Sim, minha função era levar ambos para fora do palácio. Jamais teriam saído daquele lugar sozinhos, pensa que toda aquela distração dentro do palácio é algum tipo de peça?

— E irá nos liberar para irmos? Poderíamos voltar para casa e seu esforço teria sido em vão — Harry o disse, ainda sabendo que não deveria provocar aquele homem.

— Não irão voltar para casa — Dion disse simplesmente, como se soubesse exatamente aquilo que se passava na mente dos dois deuses — você sabe que se voltarem para o palácio, passaram bastante tempo presos sob o olhar dos deuses e você não parece gostar disso — disse a Eros.

— E para onde sugere que eu e meu irmão deveríamos ir?

— Vocês vão para o submundo, mas do jeito que quiserem. Hades me pediu para retirá-los do palácio, mas o resto é por conta de vocês — Dion explicou — Eros, você sabe que o lugar do seu irmão é no submundo com Hades. Ele deveria saber disto.

— Do que ele está falando? — Harry olhou para o irmão, piscando lentamente.

— Hm... — ele ouvia a voz de sua maẽ pairando por sua mente e o dizendo por anos que jamais contasse a Harry sobre Hades, mas estavam a muito de terem paz, se esse segredo continuasse — Harry, Hades é sua alma gêmea.

O deus olhou para o irmão por segundos longos demais. Por segundos ele pensou ser apenas algum tipo de brincadeira. Entre tantos deuses, criaturas e mortais, ele tinha sido atrelado ao deus dos mortos?

Novamente Harry olhou para cima, avistando o palácio no alto, em como era possível notar que ainda que os raios no céu escuro fossem completamente perversos, nada se comparava à névoa monstruosa que rodeava o palácio, ao ponto de quase escondê-lo.

Hades era seu par. Esse era o motivo pelo qual ele se sentiu diferente por toda vida, vivendo entre as pessoas presentes no olimpo?

— Eros...isso é verdade?

— Sim, eu sinto muito por não ter dito nada a você antes, eu não podia — ele explicou com calma — e agora que sabe, você não pode mais ficar aqui no olimpo, Afrodite não pode saber que você sabe que Ares não é sua alma gêmea, nossa mãe é capaz de muita coisa, Harry.

— Por que não podia me contar sobre algo tão importante?

— Eu não sei. Não me pergunte isso ou o porquê de Hades ser sua alma gêmea, eu não sei. Ela não me contou, mas me fez prometer que eu nunca deveria contar a ninguém sobre, mas veja onde estamos, acho que não tenho esse direito de esconder isto de você.

— Ela mentiu para mim — Harry tinha os pensamentos funcionando lentamente, ele não tinha como compreender aquilo rapidamente, a vida inteira foi feito para pensar que não havia nada bom além dos portões do olimpo, ele sequer conhecia a maldade que havia dentro do próprio reino. Era puro demais para isso.

— Ela mentiu para nós dois — Eros corrigiu, com um pequeno olhar de canto para Dion — mas sinto muito por ter feito parte disso, Harry.

— Vocês não deveriam estar perdendo tempo em discutir sobre isso neste momento — Dion os disse seriamente — eu devo voltar ao palácio, mas você sabe como sair do olimpo, então leve o seu irmão. Quando chegar no rio Estige, espere. Não passe dele.

Hades não poderia simplesmente arrancar um deus do olimpo, Harry deveria voluntariamente chegar ao Estige, rio que fazia fronteira entre o mundo superior e o mundo inferior.

Dion virou-se, voltando a subir as escadarias do palácio.

— Para onde nós vamos? Você irá mesmo me levar para o submundo? — Harry perguntou ao irmão.

— Eu devo isso a você — disse, segurando sua mão para que pudessem descer as ruas iluminadas com a aura dourada e falsamente majestosa de se viver no olimpo.

— Eu estou com medo, Eros, eu não conheço Hades o suficiente para entrar no submundo. E se eu nunca mais puder sair de lá? — ele perguntou, com certo medo estampado em seu tom de voz.

— Agora que sabe de Hades, eu garanto que qualquer lugar é mais seguro para você, do que permanecer aqui — Eros o explicou — não conseguiremos sair sozinhos, mas conheço alguém que tem poder o suficiente para nos levar até depois dos portões, sem fazer muitas perguntas, ou ao menos isso espero.

Harry não pode fazer nada, além de seguir o irmão e confiar nele.

Ruas abaixo, pela noite densa, os irmãos logo se encontravam longe.

Harry apertava a mão de Eros, de um modo que ele talvez estivesse sufocando o irmão, mas não poderia evitar estar com medo. Ele tinha o pensamento fixo no caminho que fariam essa noite e deveriam chegar ao submundo antes do amanhecer.

Eros caminhava em sua frente calmamente, sequer parecia que eram dois fugitivos naquele momento.

O palácio de Zeus ficava no alto do olimpo, olhando por cima do ombro, Harry ainda conseguia vê-lo. Era com a intenção de ser admirado por todos, que ele estava tão ao alto, mas já não havia sinais de uma guerra ali dentro, mesmo a névoa densa e os raios já haviam sido dispersados.

Era estranha a calmaria, mas gerava medo pois logo dariam pela falta de Harry e Eros.

No momento em que se detiveram em frente ao lugar cômodo, era como uma espécie de casa, um lugar bonito, mas nada comparado aos grandes palácios. Era uma casa de prazeres, onde deuses iam se satisfazer com belas criaturas como ninfas.

Eros empurrou os portões levemente mais altos que ele, andando pelo caminho iluminado, a música e o cheiro do vinho dominavam seus sentidos antes mesmo que pudessem entrar no local. Harry se apegou ainda mais ao irmão, quando inúmeros olhares pousaram sobre eles.

— Eros, estão todos nos olhando — Harry sussurrou para o irmão, eles pareciam apreensivos com os acontecimentos no alto do olimpo, as notícias corriam rápido.

Eros segurou a resposta na ponta da língua, quando observou quem realmente queria encontrar naquele lugar. O garoto o olhou, mostrando um sorriso curto, quando se levantou, entre as ninfas que estavam o rodeando e oferecendo frutas frescas ao herói.

— Eros — este estava nu, do mesmo modo que todos naquele lugar, embora a nudez não fosse grande coisa para absolutamente ninguém, Harry não estava realmente acostumado com aquilo, não ia a lugar algum além das festas nos palácios e sua própria casa.

— Teseu — este o respondeu, nem um pouco afetado pela situação, afinal de contas era o deus do erotismo — eu preciso de um favor.

Teseu era um dos filhos de Poseidon, por sua história ele tinha uma dupla paternidade, sendo filho do rei de Atenas, Egeu, e de Poseidon igualmente, história contada a ele por Etra, sua maẽ. Poseidon tinha apego ao filho e grande herói, o suficiente para permitir a vinda do semideus ao olimpo. Mesmo visto como um herói mortal, sendo filho de um deus, ele era um semideus.

— É claro que precisa — este deu de ombros — o que você quer?

— Preciso que leve a mim e meu irmão para fora do olimpo, para atravessarmos os portões — ele disse de maneira resumida.

— Perséfone — Teseu o olhou, era a primeira vez que via o garoto de perto — muito bonito, entendo os elogios agora.

Teseu o conhecia desde muito jovem, mas via Harry muito raramente e o deus jovem havia mudado em tão pouco tempo.

— Pode nos levar para os portões ou não? Aposto que não tem nada melhor para fazer neste momento, até mesmo o sexo pode tornar-se banal quando é sua única atividade, considerando que não foi ao baile do sol no palácio, aposto que é aqui que esteve a noite toda.

— Ciúmes?

Eros poderia dizer que sim, pois Perseu era um jovem muito bonito, como um deus grego ou um soldado digno da atenção de reis, mas ele era Eros, ele não precisava de ciúmes quando era filho da deusa da beleza e havia herdado o dom da mãe, ainda mais podendo ter todos os corações.

— Você sabe que não, eu não preciso — Eros suspirou, ele gostaria de encerrar a conversa e tirar seu irmão do olimpo, mas Teseu era esperto e ele deveria ter muito cuidado — nos ajude.

— Tudo bem, eu vou dispensar perguntas — Teseu acenou, antes de colocar o olhar sob Harry novamente — ele não fala muito.

— Desculpe — Harry se pronunciou, não que ele devesse alguma desculpa, mas foi a única coisa que sua mente produziu naquele momento, ele gostaria de ter um pouco de paz agora.

— Vamos agora, não irei poder tirar vocês do olimpo, se meu pai vir me procurar antes da hora e ele sabe que estou aqui — Teseu explicou, enquanto terminava de pôr suas vestes, aquela que os demais deuses usavam.

No momento que saíram daquela casa e desceram sutilmente as ruas decoradas do olimpo, Harry segurou-se em seu irmão, ele não estava interessado na conversa de Eros com Teseu, tudo que sua mente implorava era para que ninguém os encontrasse, ele temia por seu irmão, por ele e por seu novo destino recém descoberto.

Foram quase trinta minutos até que avistassem os portões protegidos por seres que Zeus buscou no mais profundo dos mundos, para que guardassem os portões, Harry nunca sequer esteve ali, mas do alto de seu palácio podia ver perfeitamente.

— Cubra ele — Eros acenou para a ordem de Teseu, quando cobriu o irmão com o seu manto, pois o de Harry havia ficado para trás no palácio.

Teseu passou em frente a eles, quando as criaturas altas os olharam, em frente aos portões majestosamente grandes e dourados.

— Zeus ordenou que ninguém saísse — a voz alta e sombria, rouca naturalmente, soou de um dos guardiões e Harry se segurou ainda mais em Eros, considerando a calma do irmão.

— Eu tenho situações a serem resolvidas entre os mortais, eu soube que Hades estava no olimpo, mas como herói e filho de não somente um rei, como de um deus também, eu tenho liberdade de ir e vir pelos portões do olimpo — Teseu disse tranquilamente.

— Eros não pode sair — o outro guarda disse.

— Ele deve vir comigo, meu pai me deu uma obrigação e preciso da ajuda de Eros para cumpri-la — explicou, agora parecendo impaciente, era jovem mas respeitado.

— E quanto a pessoa coberta, não podemos deixá-la passar sem saber quem é.

— É um mortal — ele disse simples — sabe como mortais no olimpo precisam de muito mais do que uma autorização especial, mas tenho permissão de meu pai para entrar com quem eu quiser, contanto que o avise e ele já foi devidamente avisado.

— O que ele veio fazer no olimpo?

Harry sentia a respiração falhar a cada pergunta, ele realmente não sabia o que esperar daquela tentativa arriscada, ainda que Teseu parecesse ter absolutamente tudo sob controle.

— Fins carnais — respondeu simples — precisamos ir agora.

Os guardiões trocaram olhares, a noite seria longa e estava bastante cedo para uma confusão com o filho de Poseidon, por esse motivo abriram passagem.

— Não precisam abrir todo o portão — Teseu os avisou, seria muito escândalo, era como um show teatral as luzes e auras douradas emanando por eles. Era arriscado.

Com um aceno, Teseu passou primeiramente, observando o comportamento dos guardas quando Eros e Harry passaram em seguida. Mais tarde recairia grandes castigos sobre eles, quando Zeus desse conta por si ou por alguém, que Perséfone não estava mais no olimpo.

Nesse momento deveriam estar vasculhando o palácio de Afrodite em busca de ambos. Quando os gloriosos portões novamente foram fechados e eles se encontraram a bons longos passos da entrada, descendo os primeiros degraus, os três se detiveram, iriam se separar agora.

— Obrigado — Eros o disse, indo até Teseu.

— Sabe que eu vou querer esse favor de volta, certo? — o disse, puxando Eros pela cintura para si.

— Harry, pode me esperar no fim da escada, eu alcanço você — Eros disse ao irmão, que desceu alguns degraus lentamente. Eros voltou a olhar o jovem a sua frente — eu sei disso, mas resolvemos quando eu voltar

— O que você fez para Afrodite agora? — ele perguntou, eram amigos o suficiente para Teseu saber algumas coisas sobre a vida de Eros.

— Eu não posso explicar nada nesse momento, preciso ir agora, mas eu vou voltar e podemos conversar — ele disse com calma, temendo por lhes encontrarem antes da hora — preciso que não conte absolutamente nada sobre isso, sobre mim ou meu irmão.

— E o que faço se Afrodite vier me perguntar? Ela sabe sobre nós.

Harry olhou lentamente por cima do ombro, aproveitando a distração do irmão para tentar entender a situação.

— Diga que não sabe de nada, não a deixe te persuadir. Eu estarei de volta antes que Zeus faça Poseidon te encher de perguntas — Eros segurou o rosto do garoto, olhando para cima por ser um tanto mais baixo que Teseu — eu prometo.

— Tudo bem, eu farei isso por você, Eros — disse.

Harry desviou o olhar quando notou que seu irmão tinha intenção de beijar o garoto, ele sentiu em seu coração que deveria ser horrível conhecer um possível amor e não lutar por ele, Harry sabia que Eros estava abrindo mão de muitas coisas para deixá-lo a salvo.

Ele levantou a cabeça somente quando seu irmão estava ao seu lado, descendo os degraus junto a si. Ele não sabia muita coisa sobre ele e Teseu, mas sabia que havia um alguém de quem seu Eros o contava as vezes, mesmo que sem mencionar o nome.

— Você tem algo com ele?

— Eu gostaria, mas seria muito difícil, não é isso que Afrodite quer para mim — Eros parecia estar chateado de alguma maneira.

— Por que ela não quer que eu ou você tenhamos chance com o amor?

— Porque ela é egoísta, Harry, ela não pode ser amada de verdade, tudo que ela tem é a beleza — ele o olhou, parecendo emotivo com a situação — e é muito fácil amar o que é agradável e belo aos seus olhos, mas ela sabe que sem isso, não poderia ser amada por ninguém e ela não quer que sejamos amados também.

— Por isso ela não quer que eu fique com Hades?

— Acredito que sim, que no seu caso ela só queira te manter por perto para um bem próprio, como ter um filho que seja marido de um futuro magni — ele disse — mas não vou deixar ela usar você como me usa, eu sempre sou a moeda de troca para os desejos dela.

Harry suspirou, olhando para o irmão, não era preciso de muito para compreender.

— É muito fácil quando ela seduz alguém para dar algo a ela, ou quando ela quer algo e precisa que alguém resolva, então sou eu quem tenho que me deitar com todo mundo que ela queira algo, ela não gosta de ser acessível mas gosta de usar os dons do filho, por isso eu nunca vou ter um amor, porque ela não quer que eu seja de alguém — disse baixo.

— Eros... — Harry suspirou agoniado, buscando pela mão do irmão, para segurá-la — sinto muito.

— Tudo bem, eu só preciso levar logo você ao submundo, temos muito caminho até lá — ergue a cabeça, ele precisava fazer isto por Harry.

O caminho era longo, Harry não saberia dizer por quantas travessias haviam passado, por campos grandes e vastos.

Horas.

Foram longas horas até que saíssem das redondezas do olimpo, cruzassem o mundo mortal e, então, chegassem ao rio Estige. Harry observava toda a imensidão à sua frente, do outro lado a escuridão completa.

— Harry, me ouça — Eros puxou seu braço, quando se encontraram à beira do rio de águas claras embora todo o arredor fosse mergulhado em escuridão profunda, era calmo demais para ser real e era um rio do submundo, nada bom era para ser esperado — eu devo deixar você aqui.

— Você não virá comigo? Não pode me deixar sozinho, Eros.

— Eu preciso resolver a bagunça que deixamos lá em cima, mas não se preocupe, você não irá ficar sozinho. Lembra do que o cavaleiro disse? Não podemos atravessar, alguém deverá vir te ajudar.

— Não pode voltar sozinho, mamãe irá atrás de você.

— Não quero que se preocupe comigo, eu vou dar um jeito em tudo. Eu prometo que venho ver você, Harry, não vou te abandonar, mas aqui é melhor do que qualquer outro lugar — Eros lhe garantiu, segurando suas mãos.

— Eu te amo, tudo bem? — Harry o olhou de maneira emotiva, seus olhos verdes molhados pelas lágrimas que não se continham mais.

— Eu amo você também, sempre vou proteger você, embora agora não precise mais de minha proteção, você vai ficar seguro e isto é tudo que importa — o abraçou forte, seriam seus últimos momentos juntos por um bom tempo.

A alguns passos deles, Eros notou a figura os observando, ele não precisava de muito esforço para saber de quem se tratava.

— Tudo bem, agora preciso ir — disse, se afastando do irmão para que a despedida não fosse mais longa do que deveria — até logo, Harry.

Este acenou com a cabeça, sua garganta doía ao ver ir embora a pessoa em quem mais confiava no mundo inteiro, Eros era seu irmão e melhor amigo, era quem lhe protegia mesmo sem que ele soubesse, mas agora o via ir embora, sem sequer saber por quanto tempo...ou se seria para sempre.

— Perséfone — ele levantou a cabeça, virando-se rapidamente, ao ouvir a voz familiar, a mesma que conheceu a tão pouco tempo. Ele observou Hades andando até ele.

À medida em que a figura caminhava até ele, Harry notava que mesmo um deus tão poderoso, parecia estar tão fragilizado, mesmo que apenas seus olhos atentos notassem, pois ele ainda se parecia majestoso. Tinha os trajes e um olhar sério, embora seu caminhado estivesse lento.

— Que bom que finalmente chegou, eu estava esperando por você — ele disse mais uma vez.

— Para que me quer aqui? Já sabe que somos-

— Almas gêmeas? Sim, eu sei, mas não espero que aceite perfeitamente, tudo leva tempo. Eu terei paciência — Hades pronunciou lentamente, ao finalmente parar em frente a ele.

— Iremos atravessar? — Harry apontou para o rio, que agora borbulhava na presença de Hades.

— Sim, comumente eu poderia simplesmente andar por ele, atravessa-lo de mil maneiras, mas é sua primeira vez no submundo, deve fazer a travessia de todos os demais — Hades apontou para o pequeno meio de transporte que flutuava na beira do rio.

Comumente era dirigido por um velho guardião, mas Hades preferiu dispensar a maior parte das formalidades para que ele mesmo apresentasse seu reino ao mais novo morador.

Ele andou até a beira e pôs um dos pés ali dentro, para poder segurar o barco. Logo, ele olhou para Harry, estendendo sua mão:

— Por favor — ele pediu, olhando o mesmo hesitar. Por fim, Harry segurou as vestes com uma de suas mãos e com a outra aceitou a ajuda, lentamente pondo os pés dentro da canoa, para se sentar em seguida.

Harry parecia aéreo.

— O Estige tem uma história interessante — Hades comentou, Harry pode notar em meio a clareza e o brilho incomum que emanava do rio, que os olhos vermelhos enfraqueciam sua cor, dando lugar a um tom diferente, ele imaginava que os olhos do deus fossem de outra coloração e gostaria de vê-los.

A canoa se movia sem toque algum, atravessando o rio calmamente.

— O submundo tem, ao todo, cinco rios e cada um tem uma propriedade, o Estige tem a invulnerabilidade — Hades o contou, mesmo mediante o silêncio do outro.

Harry tinha o seu olhar concentrado em observar ao redor, ele tinha curiosidade sobre tudo, sem contar o aperto em seu coração, as sensações que dominavam o seu corpo. Tudo parecia muito mais do que fascinante aos seus olhos.

— Pode me chamar de Louis — a voz do deus fez Harry se virar rapidamente para ele, saindo de seu transe, ao murmurar um "como disse?".  Agora, ele finalmente notava nos olhos alheios um brilho azul, um azul claro — você pode me chamar de Louis, Harry.

Foram momentos longos, quietos, até que eles cruzassem o rio. Harry não parava em um só lugar.

Harry estava quieto, um tanto ansioso. Ele não sabia o que sentir, mas pensava estar curioso para descobrir todo aquele mundo de escuridão que se assomava ao seu redor.

O submundo não era exatamente diferente do que pintavam nas histórias de terror que eram contadas no olimpo, era sombrio, não havia o belo verde da vegetação, os animais eram poucos e, ao analisar, pareciam ser criados unicamente para alimentação dos moradores daquele reino. Não havia céu sobre suas cabeças, ao menos não o céu que Harry conhecia.

Era somente uma imensidão escura e sem fim sob suas cabeças, ele poderia dizer que se parecia um céu, mas sem as estrelas, aquilo não poderia receber tal título. Harry iria sentir muita falta de suas esplêndidas estrelas habitantes do olimpo.

Quem sabe ele devesse ter carregado uma ou duas estrelas para si, algo que o lembrasse não do reino dos deuses, mas das pessoas que ali viviam e que o importavam, ou melhor, da única pessoa que importava-se com ele: Eros.

Afrodite era sua mãe e ela o amava, quem sabe, mas após todas as mentiras ela não possuía mais a sua confiança.

Harry havia atravessado o rio Estige a poucos minutos, ainda era madrugada e em pouco tempo poderia encontrar a claridão mínima que o sol do olimpo respingava para os moradores do submundo.

Seu olhar era atento sob Hades, sob qualquer movimento que o deus esboçava. Eles haviam abandonado o pequeno barco de travessia a pouco tempo e agora se adiantavam pelo campo sem vida que precedia o palácio de Hades.

— Preciso lhe avisar que, em determinado momento quando estiver caminhando pelas áreas abertas deste reino, você poderá se encontrar com algo que possivelmente lhe trará um certo medo — Louis explicou a ele, enquanto caminhava firmemente a sua frente.

— Estou curioso sobre o que poderia ser — Harry piscou lentamente, se apressando um pouco mais, para alcançar aquele com quem conversava.

— Cérbero — ele citou calmamente, apontando para onde era a entrada do submundo, por onde haviam passado a pouco tempo — é o guardião do submundo, um cão de três cabeças. Ele não está presente hoje, pois não temos almas para serem recebidas neste momento. No entanto, não deverá se preocupar com ele, não fará mal algum a você.

Harry acenou minimamente, em silêncio, enquanto Louis explicava as coisas presentes em seu reino, que acreditava serem as mais urgentes para o conhecimento de seu mais novo convidado.

— Existem inúmeros moradores nas terras do reino, em todas as terras, sejam eles almas boas ou ruins, mas não se preocupe novamente, pois as piores não estão livres para vagar a sua vista. Mas, dentro do palácio vivem apenas eu, os três cavaleiros e alguns servos.

— Pessoas humanas trabalham para você no submundo?

— Não exatamente humanas. Um dia foram, mas suas vidas foram interrompidas pelas moiras, depois que seus fios da vida são cortados, eles são enviados para cá, as almas não-más, tem oportunidade de me servir em troca de viverem e comerem no palácio, para que não precisem vagar famintas por toda eternidade.

— Não-más? Você quis dizer as boas pessoas? — Harry cessou sua curiosidade pelo local e colocou o olhar sob o deus que havia ao seu lado, ele não esperava por tal resposta.

— Não — ele negou lentamente — existem as almas boas, estas são direcionadas aos campos elísios, um pequeno paraíso grego dentro do submundo — Louis apontou para um canto longínquo, deveria ser por ali aquele paraíso — é verde, bonito, tranquilo e harmônico.

— Eu não sabia que as boas almas também viviam no submundo após a morte — Harry piscou rapidamente, para que não perdesse as expressões que Louis esboçava.

— Todas as almas vem diretamente para cá e são enviadas aos seus determinados lugares, para toda sua eternidade. Pode ser os campos elísios, os campos asfódelos ou o tártaro.

— Eu ouvi falar sobre o tártaro — ele sentiu um pequeno arrepio percorrer sua espinha com a menção do nome — um lugar dominado pelas chamas, terror, os gritos de dor como melodia eterna. Pensei que todo submundo fosse sombrio como tártaro.

— Não, as más almas vão para o tártaro. As não-más, ou seja, que não foram ruins, mas também não foram boas em vida, são destinadas aos campos asfódelos. É escuro, sombrio e monótono, se parece a um pantano de árvores distorcidas e mortas. A estas pessoas não-más, dou a oportunidade de viverem dentro do palácio, para que não vivam eternamente vagando pelos campos sombrios e sem vida.

— A todas as pessoas você dá a oportunidade?

— Não poderia, são muitas almas, mas sempre me certifico de ver aquelas que tendem mais para um bom lado em vida, do que as que estiveram muito perto de serem mandadas ao tártaro — Louis o explicou, sem hesitar quando parou em frente ao seu palácio.

Harry contemplava a imensidão, ele tinha certeza de que era maior do que qualquer outro palácio dentro do olimpo, embora não fosse feito a ouro, mas sim em materiais raros e escuros, imenso e profundo. Não havia verde ou claridão para tornar a paisagem mais magnífica.

Louis percebeu o modo como Harry estava analisando seu palácio, ou o modo como analisou todo seu reino.

— Sei que não é majestoso como o olimpo, mas não teria como ser — ele se manifestou — lá eles tem todos os tipos de deuses para entregar o melhor, como os raios puros do sol, ou as estrelas do céu, vinho bom, ou boa comida. Eu precisei construir o meu reino com o que tinha ao meu alcance, eu sou o único deus que viveu aqui por milhares de anos, isso é tudo o que eu pude fazer pelos que vivem aqui.

— Não há muito verde por aqui, nem muita vegetação — Harry suspirou, observando bem todo ao redor que os cercava.

— Sim, a terra não é boa por aqui, não há como nascerem árvores, ou qualquer tipo de planta. Comemos carne todos os dias, porque não há como nascerem frutas ou vegetais, ou qualquer coisa que necessite de natureza. Nunca tivemos um deus da vegetação por aqui — Louis explicou.

— Até agora — Harry o olhou calmamente, afinal de contas ele era o deus da agricultura e da vegetação.

Absolutamente tudo o que consumiam e que fosse frutífero no olimpo era proporcionado por Harry, este que não media esforços em transformar diariamente o olimpo não apenas no paraíso de ouro, mas também em um lugar cujo mais belo verde transparecia por seus poros. Como o olimpo lidaria com a ausência do deus que diariamente colocava fartura em suas mesas?

— Venha comigo, vou mostrar um pouco do palácio para você. Se for da sua vontade, ao decorrer dos dias posso lhe mostrar o restante do meu reino — Louis decretou a ele, antes que seus passos seguissem pela escadaria de pedras a sua frente.

Harry definitivamente tinha muito a aprender enquanto mais novo morador do submundo.

A cada corredor daquele enorme palácio, Harry se sentia um pouco mais perdido, a mais de vinte minutos andavam como se não houvesse rumo, ou saída. Harry observava a decoração do lugar, como este parecia a mesma a cada cômodo. Os quadros, as estátuas, as esculturas, os móveis e a iluminação eram todas em um padrão correspondente a aura sombria do lugar.

Ao menos dentro do palácio reinava uma paz, embora o silêncio fosse amedrontador e ele não soubesse o que esperar a cada corredor que viravam. Louis andava quieto em frente a ele, não havia retratos seus em canto algum, absolutamente nada, o que era estranho pois no olimpo a autoglorificação era algo que todos possuíam em comum.

Harry saiu de seus devaneios somente após Louis parar abruptamente, em frente a um cômodo, que era protegido por duas portas altas, de uma madeira escura e grossa, porém muito bem feita. Ele olhou por cima do ombro do deus, pois o via quieto.

— Este é o seu quarto, me perdoe se não for do seu agrado, mas passei um bom tempo escolhendo qual seria ele e me pareceu ideal, porque é o que tem a melhor vista em todo palácio — Louis lentamente se virou para ele, explicando a situação.

Um bom tempo? Ele passou um bom tempo escolhendo seu quarto? Isto queria dizer que Louis estava planejando sua chega a um bom tempo...a quanto tempo exatamente?

Antes que pudesse prosseguir com os questionamentos, Louis empurrou as portas, entrando no quarto. E brevemente Harry o seguiu. Era um bonito quarto, espaçoso, decorado em cada canto, embora a moda do olimpo e a do submundo fossem totalmente diferentes. Era um pouco mais escuro do que o convencional, mas ele acreditaria que era por ser madrugada.

Havia uma cama grande, rodeado por tecidos finos, cortinas de seda, como em seu quarto no olimpo, que o protegiam dos olhares de quem quer que entrasse em seu quarto, caso acontecesse de receber visitas. E havia um canto adornado com uma prateleira de livros, alguns móveis onde ele poderia se acomodar e ler algo, se fosse de seu agrado.

Mas o que verdadeiramente lhe chamou atenção, foi uma pequena planta em um jarro, sobre uma mesa ao lado de sua cama. Ela estava seca e quase em seus últimos suspiros.

Louis notou o olhar do garoto sob aquele detalhe.

— Eu pensei que seria bom ter algo familiar a seus dons aqui — ele colocou as mãos para trás, andando em direção a Harry — tentei cuidar eu mesmo dela, mas infelizmente nem eu e nem este lugar temos o que é preciso para mantê-la viva. Pensei que seria uma boa recepção, mas agora me pareceu uma ideia boba.

Harry esboçou um leve repuxar de lábios ao tocar em uma das folhas daquela planta e vê-la se erguer tão lentamente, tomando um pouco de seu verde natural.

— Ela vai ficar bem — Harry garantiu, erguendo-se outra vez, para olhar o outro — só precisa de um pouco de cuidado.

Aquela frase havia sido sugestiva, ele analisou muito bem a feição de Louis desde o momento em que haviam se encontrado no rio Estige, naquele momento ele notou como o deus parecia desgastado e não seria para menos, pois enfrentou dezenas de deuses do olimpo praticamente por sua conta.

Ele não se sentia seguro sobre o estado que Louis tentava transparecer, como se estivesse perfeitamente bem, mas de fato não estava.

— E você...Louis — Harry deu um passo em sua direção — você precisa de cuidados também?

— Eu estou bem, ao menos irei ficar depois de um bom descanso — Louis garantiu igualmente, recuando o olhar — costumo cuidar de minhas próprias feridas.

— Não é bom em aceitar um pouco de ajuda?

— Não estou acostumado em ter ajuda — ele corrigiu a fala de Harry, não hesitando jamais.

— Acho que por algum motivo você me queria aqui e agora que estou bem a sua frente, espero que possa me responder as minhas dúvidas — este não baixou sua guarda, desafiando-o um pouco mais.

— Responderei todas as suas perguntas depois do café da manhã, mais tarde. Neste momento, eu creio que o melhor a se fazer, seja descansar de sua travessia — ele lhe deu uma resposta a altura.

Harry não parecia exatamente contente, mas aquela resposta de algum modo o deixou satisfeito.

— Sei que poderá se sentir sozinho em algum momento, sem sua família, mas saiba que Eros será muito bem vindo ao meu reino quando for de sua vontade — Louis acrescentou a informação — eu teria o prazer de buscá-lo na entrada do submundo e ele poderá ficar o tempo que quiser.

— E como eu poderia conversar com meu irmão, se ambos estamos muito distantes?

— Posso lhe dar papel e você poderia escrever para ele, eu garanto que será entregue — confirmou, com a intenção de ter alguma aprovação alheia — é apenas uma sugestão.

Harry suspirou, andando lentamente até a varanda em um canto de seu quarto. Ele apoiou as mãos no peitoril para que pudesse observar o lugar, era escuro naquele momento, a imensidão sobre suas cabeças tendia a ser obscura, mas ele igualmente poderia ver as demais dominâncias do reino, um breve pedaço dos campos elísios, seu verde encantador.

Sim, Louis tinha razão, era uma bela visão, de algum modo.

— Tem algo que eu precise saber? Alguma objeção sua que eu possa ter de providenciar? — Louis andou mais um par de passos até si, parando a uma curta distância.

Harry empinou o nariz, erguendo o queixo, quando virou-se para ele, dando uma boa olhada ao redor:

— Eu preciso de mais travesseiros, lençóis de um tecido mais fino porque este lugar faz mais calor do que o que estou acostumado. Eu gostaria de ter roupas, eu não pude trazer nada do olimpo, mas deve saber que também preciso de roupas com tecidos leves — Harry ordenou um a um suas exigências.

— Tudo bem, eu vou me certificar de que façam roupas ao seu gosto, logo pela manhã. Vou pedir que tragam os travesseiros e lençóis, assim que sair do seu quarto — ele garantiu.

— E eu não como carne — disse.

Louis hesitou, aquilo era um problema, porque era tudo o que eles comiam naquele lugar. Nunca houve frutas ou qualquer alimento cultivado naquelas terras, ele não saberia como resolver aquilo, mas Harry sempre fora um deus do olimpo em meio a farturas e ele não poderia culpá-lo por querer se manter nos costumes.

— Não se preocupe, eu vou garantir que tenha outros alimentos até o amanhecer — ele acenou, sem entrar em detalhes.

Harry tinha muitas outras exigências, inúmeras, mas sua mente o dizia que ele deveria levar em conta que o submundo não era o olimpo e ele não poderia ter absolutamente tudo o que quisesse.

— Tem mais algo a pedir?

— Eu costumo preferir banhos quentes, acho que não será um problema aqui — Harry mencionou com calma, em um tom menos exigente.

— Não, não será um problema. No entanto, pode ir aos campos elísios quando bem quiser, lá em um lugar muito belo e tem fontes perfumadas, acho que você irá gostar — ele sugeriu, com uma expressão leve — irei pedir que alguém ajude você a andar pelo palácio e o reino, até que se acostume.

Ao parecer, todas as dúvidas urgentes haviam sido sanadas, ele havia conhecido muito pouco sobre o reino mas por hora era o suficiente, ele realmente estava exausto e merecia um pouco de descanso, sua mente não parava de relembrar seu irmão.

Louis vagamente andou até a porta, acreditando que nada mais era necessário naquele momento. As suas costas doíam e a roupa pesada causava ardência em sua pele.

— Meu quarto é no fim do corredor à esquerda — não é como se Harry fosse saber chegar lá, mesmo que com essas instruções — qualquer pedido, pode me encontrar lá.

Com um aceno leve de cabeça, Louis o deixou sozinho, fechando a porta do quarto. Harry suspirou, indo até sua cama e se sentando na borda, ele teria um longo resto de noite e usaria para pensar no que havia feito ao fugir do olimpo.

Esperava que Eros estivesse bem.

Enquanto isso, o deus dos mortos tinha seus próprios probelmas.

Louis suspirou dolorido, sentando em um dos móveis de descanso, em seu cômodo onde costumava usar para descanso ou organizar suas tarefas como deus, seu quarto não era exatamente seu lugar favorito, por esse motivo passava maior parte do tempo naquela sala.

Ele havia se livrado de seu manto, ele estava ao chão, e havia abaixado um pouco de suas vestes para que suas costas ficassem à mostra. Ele colocava um pouco de uma substância quente, água misturada com um pouco de pó, um que ele conseguiu com Panaceia, a deusa da cura, como um antigo favor. Mas já não lhe restava muito.

Suas costas estavam marcadas por cicatrizes profundas, onde ele quase se assemelhava a um mero mortal sofrendo pelas dores em sua carne, sua pele avermelhada contendo sangue seco. Ele sobrevivia a aquilo durante anos, todas as noite em um mesmo rito.

Não era atoa que ele pensava diariamente em retomar seu eu completo e voltar a ter o total poder que lhe era de direito, retirado de si, desde que Cronos partiu definitivamente.

Em frente a ele, haviam seus três cavaleiros, quietos, os observando: Minos, Elyco e Dion.

— Sabem que já estão dispensados, eu irei me deitar em alguns instantes — Louis murmurou, franzindo o cenho dolorido ao pôr mais um pouco do líquido sob suas feridas abertas.

— Necessita de ajuda, senhor? — Minos lhe perguntou, ele sabia qual seria a resposta, mas não poderia deixar de querer ser útil.

— Posso cuidar de minha feridas — os olhou, novamente suas íris continham um brilho avermelhado, como uma taça de sangue fresco — Perséfone já recebeu o que pediu?

— Sim, senhor, as criadas já se certificaram de que ele recebesse os itens que pediu e acabei de avisar a Antríade que tirasse algumas medidas dele pela manhã, depois do café — Elyco explicou a Hades, com total imparcialidade em sua voz.

— Ótimo, agora vão, tenho certeza de que suas parceiras estão esperando por vocês, já se ocuparam o bastante por hoje — Louis ordenou.

Ele abaixou a cabeça novamente, cuidando outra vez de sua ferida profunda, doía igualmente todos os dias, era como um lembrete em carne viva do porque nunca deveria sentir compaixão pelo olimpo e por seus moradores.

No entanto, ao levantar seu olhar, ele notou que Dion permanecia ali, pacientemente e quieto. Os três cavaleiros eram fiéis a Louis, mas um deles claramente possuía sua maior confiança, afinal Dion foi o encarregado de cuidar da saída de Harry, do palácio.

— Não vai se deitar?

— Acho que se esqueceu que não tenho um parceiro, como Elyco e Minos — Dion respondeu com calma, andando ao ponto de parar atrás de Louis, observando os ferimentos que havia visto outras vezes.

— Eu não preciso de ajuda — Louis suspirou, fechando os olhos para se recuperar de sua dor naquele momento.

— E não precisa pedir, não é necessário, mas eu posso ajudar — acenou, pegando um pouco da mistura, todos eles tinham ferimentos, embora os servos lidassem com eles, Louis não aceitava ajuda, fraqueza não era algo bonito de ser demonstrado.

Louis apenas aceitou, suspirando erroneamente a cada vez que a mistura escorria sobre seus ferimentos.

— Como foi retirar Harry e Eros do palácio? — a voz de Louis saiu baixa, era apenas uma pergunta para lhe distrair da dor que pinicava dentro de sua pele.

Dion vagamente lembrou-se de inúmeros detalhes de sua noite.

— Interessante — murmurou, um tanto concentrado em sua tarefa — foram muitas perguntas, inúmeros questionamentos, mas creio que poderia ter sido pior.

— Como ele reagiu quando soube que eu era o parceiro dele? Mal? Bem?

— Seria difícil dizer, ele parecia decepcionado com as mentiras que foram contadas a ele, realmente creio que o problema não seja ser o parceiro dele, mas sim que ele esteve se preparando a vida toda para algo que era mentira, como o casamento dele com Ares.

— Ver todos eles comemorando juntos foi...difícil — suspirou, piscando lentamente — eu nunca recebi um convite, uma visita, absolutamente nada e me culpam por algo absurdo. Eles são uma família bonita, eles protegem quem amam, isso me faz perceber que eles nunca me viram como família.

— Aqui é melhor do que lá — Dion afirmou, sequer hesitando em sua voz. Havia sido sua primeira vez no olimpo, pisando na terra dourada.

— Prefere viver no submundo a viver na fartura do olimpo?

— Prefiro viver em um reino onde sei que meu mestre faz tudo que está ao alcance por nós, do que em meio à fartura e falsa paz que eles tentam pregar no olimpo — ele explicou, notando o silêncio de Louis.

Ele mentalmente agradecia por ter alguém que reconhecia o seu esforço, Louis fazia absolutamente tudo por seu reino, mesmo que sem ajuda de ninguém, o erguendo.

— Está melhor agora — Dion finalizou, terminando a mistura, para se afastar lentamente de Louis e o deixar se levantar.

O deus suspirou mais uma vez, lhe doía os músculos, os ossos, toda sua estrutura, como se fosse um mortal, embora ele tenha infinitamente mais poder do que um.

— Posso lhe pedir um favor? — Louis o perguntou, encarando-o com calma.

— É claro que pode.

— Preciso que vá a cidade dos mortais e que volte antes do amanhecer, antes que os demais acordem — Louis citou a ele, era como uma tarefa que se Dion não o fizesse, ele não confiaria em ninguém mais para fazê-la, ele faria por sua conta — sei que deve estar exausto, depois de tudo que aconteceu, mas se puder ir para cidade e conseguir algumas coisas, voltando antes do café da manhã, eu irei agradecer.

— E o que seria?

— Preciso que consiga tecidos novos — citou, respirando fundo — e mesmo que seja difícil, também preciso que consiga frutas, verduras, alguns alimentos cultivados pelos mortais, sei que normalmente não sobrevivem a travessia dos portões, mas preciso realmente que esteja aqui com este pedido o mais cedo possível, eu gostaria que Harry tivesse um bom primeiro café da manhã no submundo.

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