chaos gods

By 28chrys

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harry, ou perséfone, é o deus da agricultura que viveu no olimpo por boa parte de sua existência, até ser pro... More

One • Olympus
Two • Underworld
Three • Champs-Elysées
Four • Scars
Five • Court of Souls
Six • True Fears
Seven • Our body
Eight • Eternal Kiss
Nine • Empress
Ten • Muse
Eleven • Sweet Revenge
Twelve • Freedom
End
Epilogue

Synopsis

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By 28chrys

DESCRIÇÃO: Contém mitologia grega e uso de lendas culturais, sendo modificadas de acordo com o andamento da história.

⭐️


Mais um ciclo do sol havia sido completado, mais um ano em que o olimpo havia sido agraciado com fartura, riquezas e proteção, porque onde o sol despejava sua luz e a alma do grande Cronos permanecia imortal, ali estava a glória.

Cronos.

Ele era um dos grandes deuses pai, junto com sua esposa Réia tiveram seis filhos e sendo estes: Héstia, Hades, Deméter, Poseidon, Hera e Zeus. Após a morte de Cronos e Réia para o olimpo, com as suas almas sendo mandadas ao grande templo e imortalizadas, o poder que deveria passar diretamente para seus seis filhos, acabou gerando uma grande briga.

A briga havia sido forjada por um motivo que poderia acabar com toda ordem do olimpo, ao que Hades tentou intervir da melhor maneira, coisa que não agradou a nenhum de seus irmãos. Disto surgiu uma briga gigantesca entre Hades, ou comumente Louis. Entre ele, Deméter e Héstia. Ao notar a desordem, a alma de Cronos foi invocada no grande templo do universo e este lançou um castigo sobre seus três filhos, os obrigando a passar um śeculo forçados a ter corpos frágeis de um humano qualquer, suportando as piores pragas já lançadas na humanidade.

Ao fim dos cem anos, Cronos foi novamente invocado e, ao ver que apenas Hades havia resistido às pragas lançadas, este presenteou seu filho novamente com as estruturas de um verdadeiro titã e o entregou todo submundo em suas mãos. Louis então, passou a ser o governante dos mortos e o senhor do submundo. No entanto, os seus irmãos passaram milênios o culpando pela morte das irmãs Héstia e Deméter, lançando sobre Louis um castigo de almas, onde Hades sempre sentiria o peso de ambas as mortes sobre ele, convivendo diariamente com as impurezas de todo olimpo.

É claro que Louis não poderia ser banido de lugar algum, nem mesmo do olimpo, mas inúmeros fatores o impediam de dar as caras nas terras douradas novamente.

Após a ida definitiva de Cronos para o templo, de onde sua alma não retornou mais, passado um par de milénios, gerou a paz que tanto almejavam do olimpo. O reino intocável era governado em poder de cinco grandes deuses: Zeus, Poseidon, Hera, Apolo e Afrodite. Os dois mencionados já sendo filhos do próprio Zeus, de casos aos quais Hera, esposa de Zeus, lançava suas pragas para que as moças sofressem destinos horrendos, assim como seus filhos bastardos.

As únicas exceções que Hera era obrigada a engolir diariamente, eram Apolo e Afrodite, pois seu marido tinha muito zelo por seus melhores frutos, os filhos aos quais ele mais se orgulhava: deus do sol e a deusa do amor.

E, logo abaixo dos grandes deuses, era o segundo comando do olimpo abaixo apenas dos deuses, chamados os sub-magnis, ou subdeuses. Não, eles não eram semi-deuses, ou seja filhos de deuses com meros mortais. Não, eles eram subdeuses, ou seja, uma classificação de deuses puros, porém ainda menos importantes do que os grandes magnis principais.

E quem eram esses três sub-magnis?

Dois outros filhos de Zeus: Ártemis e Ares.

Um dos filhos de Afrodite: Eros.

Afrodite teve muitos casos, muitos frutos desses casos também, embora ela reconheça glória em apenas dois deles: Eros, o deus do amor e erostismo, e Perséfone, deus da agricultura e vegetação. Muitos eram os boatos e murmúrios de como Perséfone surgiu, seja por traição, acaso ou um caso com um mortal. Ainda assim, Perséfone, ou Harry, era um deus e era tratado como tal, no Olimpo e fora dele.

Harry era doce, ele era mesmo um garoto de muitas virtudes. Além de seu dom divino, com toda agricultura, vegetação, tudo que era natural, ele possuía uma beleza fenomenal, digno até mesmo de ser admirado pela própria deusa da beleza, Afrodite. Ele era dócil, gentil e sua personalidade era encantadora. No entanto, por mais que ele fosse um deus e que possuísse todas essas virtudes que foram mencionadas, Harry ainda possuía um pingo de escuridão em sua alma, pingo este que o fazia ser diferenciado dos demais.

As pessoas não o entendiam completamente, no olimpo acreditavam que a pequena porcentagem de escuridão em sua alma um dia viria à tona, mas até então, Harry era um perfeito deus.

Um perfeito deus prometido a Ares, filho de Zeus e um dos quais este mais possuía orgulho.

O pedido não havia sido oficialmente feito, mas Afrodite e Zeus discutiam isso por séculos a fio e este era o momento para essa união ser anunciada. Como dito no início, mais um ciclo do sol foi cumprido, mais um ano se fechou, e os deuses organizavam-se para comemorar naquela noite. A ideia era usar a data especial para fartar-se com motivos, coisa que já faziam todos os dias, rindo dos pobres mortais que prostravam-se por todo um ano diante deles.

As estrelas bonitas, com seu brilho explosivo, iluminavam os céus sobre o palácio de Afrodite, ao mesmo tempo em que Harry rolava sobre seus lençóis macios, como se deitasse sobre as próprias nuvens, perdido em seus pensamentos, aqueles que viviam por ocupar sua mente a todo instante, e fingia estar ouvindo os sermões de seu irmão mais velho, Eros.

— Podes compreender agora como é sério este meu medo, Harry? — Eros o perguntou, confuso sobre um assunto qualquer, assunto este que não era do interesse de Harry, ao parecer.

Eros resmungou algo, ao não obter resposta alguma. Ele dispensou o tecido delicado em tons de branco e creme, com detalhes em dourado, a túnica que Harry usaria no baile, sobre a almofadas que foram bordadas por ninfas e preenchidas com penas macias. Logo, ele andou até parar perto do irmão, ao lado da cama, pondo suas mãos na cintura.

— Harry!

— Sim? — Harry piscou lentamente, olhando para o irmão, sentando-se na beirada da cama, algo que fez seus cachos longos e bonitos escorregarem por seus ombros largos, como uma cachoeira de ondas na cor chocolate.

— Perguntei se está pronto para essa noite. Eu expressei meu medo e incerteza de anunciarem o seu noivado com Ares em meio a uma festa tão importante quanto esta — suspirou, sentando-se ao lado do irmão e mostrando uma expressão preocupada — é que após o anúncio, quem sabe as pessoas em cima de você, te deixassem sufocado. Sabe como o olimpo é movido por interesse e as pessoas vão atrás de quem detém o maior poder. A sua união com Ares é um grande passo para a sucessão do olimpo, Ares é o próximo a ter o lugar de Zeus, na próxima geração.

— Eu entendo a sua preocupação — Harry lentamente sorriu para ele, pondo uma de suas mãos sobre a de Eros — mas mamãe já se decidiu sobre a minha união com Ares. Eu não o amo e não o vejo como um futuro amor, mas é o meu destino, mamãe disse que é o que eu nasci para fazer.

— E acredita nesta história de destino? — Eros riu, balançando a cabeça em negação — Harry, o que o destino te reservou, não foi ser o marido de Ares. O destino não é cruel como um ceifador que colhe as almas dos bons amantes e os leva para o fim do mundo. Ele é incerto, mas é preciso e seu destino não é ser o mero marido de Ares.

— E como sabe disso?

— Por favor, Harry — este resmungou, se levantando de um pulo só da cama — eu sou Eros, sou o deus do amor, eu conheço os destinos românticos de cada deus, semi-deus e mortal que exista. E eu sei perfeitamente que seu futuro não está aqui, não é Ares o seu amante.

— Quem seria?

— Não posso contar os destinos, lembra-se? — A realidade era que Eros conhecia bem o destino de todos e havia uma regra da qual Afrodite, sua mãe, o obrigava a seguir cegamente. Ele jamais contaria a alguém, sobre o destino que o aguarda.

— Bom, então terei que confiar em nossa mãe e no que disse que há guardado para mim: serei o marido de Ares.

Ares não era alguém com quem Harry gostaria de passar toda sua eternidade. Ele sabia que não o amava e nem nunca o amaria, porque Ares era um homem cruel, bêbado e grosseiro, coisas que o deus da agricultura detestava profundamente. Ele gostaria de um casamento por amor, adoraria viver um romance onde ele fosse o suficiente para seu marido, ao ponto deste não precisar caçar amantes mortais ou as demais criaturas divinas e exuberantes, como as ninfas.

Mas Harry sabia que isso não aconteceria, porque ao contrário do que os meros mortais criavam em suas cabeças sobre o olimpo, este lugar não era o paraíso. Não havia amor verdadeiro, nunca houve um final feliz, dentro do olimpo. Era tudo um mito.

Havia traição, vingança e jogos de poder. Harry costumava abominar o modo como deuses agiam como se fossem realmente superiores em todos os aspectos aos mortais. Na verdade, os mortais e os deuses tinham exatamente os mesmo costumes bárbaros e erros viciosos, a única diferença era que deuses foram agraciados com poderes que os faziam limpar suas manchas das paredes belas do olimpo, enquanto humanos precisavam lidar com seus pecados, como certo e devido.

— Vá se aprontar — Eros suspirou, passando os dedos por seus cachos perfeitamente formados e dourados — irei ver como está nossa mãe.

Harry acenou com a cabeça, colocando-se de pé. A nudez de seu belo corpo não era espanto para ninguém, pois no olimpo e em geral, a nudez era tratada como algo comum. Ele acompanhou seu irmão abandonar seus aposentos e, então, andou calmamente até as almofadas bordadas no canto de seu quarto e recolheu a túnica jogada ali. Era mesmo uma peça linda, era perfeita e fora feita para ele, com cada um de seus detalhes dourados, em ouro puro.

Presente de Zeus. Certamente este queria que Harry estivesse ainda mais belo quando fosse dado como noivo de Ares, seu filho. Harry soube que inicialmente Zeus iria uni-lo com Apolo,mas este encontrou-se em um relacionamento com sua mãe, Afrodite, o que descartou o deus do sol como uma opção para ele. O olimpo era cheio de casos e acasos, mas Zeus queria garantir que Harry se sentisse protegido e vigiado por ele todo tempo, desse modo o casaria com seu filho mais amado, depois de Apolo e Afrodite, este sendo Ares.

Harry suspirou, virando-se para ver seu reflexo no grande espelho acomodado no canto dos seus aposentos. O corpo nu e em sua pura essência era lindo, muito lindo realmente. Ele era delicado, naturalmente gracioso como uma paisagem natural e em cada curva sua era como ver um pedaço da selvageria contida no interior da natureza, ele era mesmo como um passeio pelo bosque, belo e ao mesmo tempo incerto.

Sua pele era dotada de uma bela cor carmesim, era saudável e macia, ele era bonito, mas a beleza que possuía era acima da média do que costumava ser comum. Harry era uma bela divindade, era um verdadeiro filho de Afrodite. O olhando, era possível notar o porquê deste ser tão admirado e amado dentro do olimpo, mesmo que nem todos o vissem da melhor e mais pura maneira. Mitos sobre sua origem eram contados por todo canto.

Como era possível um filho de Afrodite, feito com um outro qualquer, ter nascido uma criança de tão forte presença? Com tanto poder e uma aura que sufocava os demais presentes próximos dele e que eram levados por sua majestade? Não era novidade para ninguém, que Harry se casaria com um dos sucessores de Zeus, afinal de contas o grande magni só queria o melhor para seus filhos.

E para si mesmo.

Mais tarde, no baile do ciclo do sol:

— Jamais vi uma criatura tão bela quanto seu filho, Afrodite — a voz de Poseidon soou para todo o grupo de magnis e subdeuses, reunidos em uma roda, ignorando todas as demais figuras menos importantes no olimpo, que estavam presentes na festa — muito belo realmente.

Harry sorriu contido, acenando em gratidão. Ele sabia bem como sua mãe se portava mediante os elogios que eram dirigidos a ele, ainda mais quando alguém sugeria que era mais belo que ela ou que qualquer outra criatura viva.

Afrodite não gostava de ser rebaixada.

Harry não achava que merecia todos aqueles elogios. Ele era só mais um deus no olimpo, não queria ser o mais belo ou mais poderoso, ele não tinha essas ambições. Tudo que ele gostaria era de poder ir na varanda do palácio de Zeus e admirar como as estrelas eram belas no alto do olimpo. Era sua coisa favorita de viver naquele reino. A ideia de ter as estrelas tão próximas de si o fazia sonhar com as mesmas todas as noites. Quando mais novo, ele havia ganho um colar com pó de uma estrela que já havia eclodido a anos. Ele adorava ter um pedaço dessa maravilhosidade consigo.

Ao seu redor, no grande salão do palácio, havia ouro, jóias e majestade. O teto era tão alto que as nuvens passavam por dentro do luxuoso salão e haviam vãos nas laterais e tetos que faziam todos os presentes poderem ver o céu aberto e estrelado. Todos aqueles pontos de luz bonitos, os astros e toda sua glória. Era muito mais poder do que qualquer mortal poderia sonhar.

— É óbvio que ele é belo, é meu filho — Afrodite comentou com humor, a taça de vinho em suas mãos era levemente chacoalhada como um aviso despretensioso para que os demais tomassem o cuidado devido com seus pequenos elogios ainda vindos.

— Eu imagino que sinta muito orgulho de ter gerado alguém tão encantador quanto Perséfone, o acho tão maravilhoso como a beleza de cem ninfas — Apolo foi o próximo a comentar, fitando o sobrinho com um olhar sugestivo.

— E está prometido ao meu filho Ares — a voz de Zeus finalmente soou, como um trovão soando fervente no céu de um domingo à tarde, limpo mas com uma pitada perigosa de ameaça.

Harry nunca sabia o que fazer quando estava na presença de Zeus, ele era sempre tão sério, Harry se sentia constantemente vigiado quando estava na presença do mesmo, como se diariamente ele precisasse provar que era bom o suficiente para estar no olimpo.

Embora todos reconhecessem a sua majestade, Harry ainda era um mistério para muitos e todos os moradores do paraíso tinham uma imensa curiosidade sobre o deus jovem. Esse tipo de peso e comportamento tornavam Harry tímido e o deixavam desconfortável, tudo que ele tinha era Eros e sua mãe, além da certeza de que algo nele não era natural de sua aura.

— Estamos todos ansiosos por este noivado, principalmente meu irmão — Artémis comentou e um sorriso lento surgiu em seus lábios — suponho que Perséfone esteja igualmente ansioso com a ideia de se casar com alguém importante, afinal de contas Ares será um futuro magni.

Era raro lhe chamarem por seu nome comum. Harry constantemente era reconhecido apenas por seu nome de divindade.

— De fato, eu estou muito ansioso — Harry sorriu lentamente, com graça e do modo como a sua mãe havia lhe ensinado. Afrodite sempre prezou por Harry e os modos de um verdadeiro deus.

Eros revirou os olhos, sentindo que aquela conversa estava gastando sua beleza. Ele gostaria de ir fazer algo mais produtivo para si mesmo do que estar naquela conversa. Não que ele tivesse algo contra alguém. Não, a questão era que ele tinha algo contra tudo. Eros odiava o olimpo e odiava a ideia de ter de ser um magni algum dia.

Ele lutava contra seu próprio destino também, mas com garras maiores do que as de Harry. Eros era como o ponto contrário da família, não que ele se importasse com este título. Para ele nada era mais injusto do que o próprio cupido, o deus do amor, poder ver o futuro amoroso de todo ser que existia, menos o dele próprio.

— Faremos o anúncio durante o banquete — Zeus anunciou para o grupo inteiro, embora o olhar penetrante estivesse sob Harry. Era claro que todos gostariam de saber qual a obsessão de Zeus com o filho de Afrodite, o seu neto.

Harry nunca se achou interessante o suficiente para ter a atenção de Zeus, não quando os demais tinham mais a oferecer ao olimpo do que ele.

— Dionísio caprichou neste vinho — Hera, a esposa de Zeus e deusa das mulheres, disse. E era claro que sua presença era respeitada por completo. Zeus poderia ter seus casos fora do olimpo, mas debaixo do olhar de Hera, ninguém se atrevia tanto, nem mesmo o próprio Zeus, pois Hera era impiedosa com as amantes e os filhos bastardos.

Como todos sabiam, Apolo e Afrodite eram as pedras que Hera não poderia tirar de seu caminho, eram filhos muito amados por Zeus. Isso não impedia Hera de ter seu olhar tão atento sobre este par e nem sobre suas descendências.

Harry estava concentrado em beber o que havia em sua taça de ouro, quando alguns homens que ele vagamente conhecia o rosto, se aproximaram. Era claro que gostariam de ter uma conversa de cunho particular com os magnis e por esse motivo os demais deveriam se retirar.

— Fique sempre perto de seu irmão, querido — Afrodite segurou o rosto do filho, lhe mostrando um sorriso contido.

Ela era uma boa mãe, do seu jeitinho particular, mas Harry sabia o quanto esta se importava com ele e Eros.

— Tudo bem — ele acenou, sempre pronto para obedecê-la.

As horas passavam como a brisa pelos portões altos do palácio.

Harry sentiu o vento frio correr pela varanda ampla, no pátio externo ao palácio. Sua visão estava agraciada com a vista do céu, como as nuvens estavam baixas o suficiente para que ele as tocasse e a imensidão muito além de suas cabeças banhava tudo ao seu redor. Estar tão perto do céu era a única coisa que o mantinha feliz, vivendo no olimpo.

Seus cachos corriam pelos ombros como cachoeiras doces, aquela que havia nas profundezas da morada onde viviam as ninfas encantadoras. Harry era muito belo para ser explicado em simples adjetivos.

— No que está pensando? — a voz de Eros soou para Harry como melodia.

— Em como somos agraciados por viver no olimpo, com uma vista dessas, todos os dias — Harry o disse, suspirando profundamente, ao apoiar os cotovelos no parapeito de mármore branco, que era tão brilhante como cristal.

— Agraciados? Eu não usaria essa palavra para descrever o sentimento de viver no olimpo — ele riu vagamente, como se contasse uma história engraçada — diria que é sufocante, angustiante ou limitador...mas eu nunca diria que somos agraciados por viver aqui.

— Por que odeia tanto o olimpo, Eros? — Harry virou o rosto para encarar o irmão — quer dizer, você é poderoso, seu poder é necessário dentro e fora do olimpo. Você é um dos três subdeuses e futuramente vai ser um magni. Você é tão bonito quanto a mamãe, todos no olimpo se jogam aos seus pés e fora do olimpo você é como a visão dos céus...porque acha que não está feliz aqui?

— Harry, isso não é vida — ele negou, como se tivesse pena do modo como o irmão enxergava a vida de um deus — não é isso que eu quero para mim. Eu amo fazer as pessoas encontrarem um amor, mas eu não quero viver nesse lugar. O olimpo é um castigo, não quero dormir toda noite e acordar diariamente sabendo que minha vida é viver uma mentira. Não somos felizes, ninguém é aqui. Quer passar toda sua vida casado a um homem que irá ver você como só mais um? Que terá inúmeras amantes e te entregará a Dionisio em sacrifício para implorar que você possa gerar um filho que ele possa se orgulhar depois como se tivesse feito sozinho?

Harry abaixou o olhar, porque ele sabia disso. Nem todos poderiam gerar filhos, somente aqueles que conquistavam o deus da fertilidade o suficiente para que ele os agraciasse com crianças. Sem poder gerar descendentes, ele seria largado como a alma de um traidor, deixado de lado por Ares.

— Eu gostaria de encontrar o amor — Eros confessou a ele, engolindo em seco — sei que eu não posso vê-lo, que eu não posso saber quem é, mas tenho certeza de que ele não está aqui, ele não é do olimpo e eu sei disso porque odeio todos aqui, menos você e a mamãe.

Harry sabia o quanto sua mãe amava eles. Afrodite teve Eros quando se envolveu com um deus e ainda em sua juventude. Anos depois, ela acabou tendo Harry, mesmo que o suposto deus que era pai de Harry, nunca houvesse dado as caras no olimpo.

Por muito tempo houve o rumor de que Eros seria filho de Afrodite com Ares, mas era somente um rumor, como todos os demais. Afrodite não suportava Ares.

— Ares não é minha alma gêmea? — Harry piscou lentamente, olhando para o irmão.

— Não, a sua alma gêmea não está no olimpo, disso eu tenho certeza — este o olhou com calma e mostrou um sorriso brilhante e bonito. Os olhos azuis claros como o céu matutino e seus cabelos de um tom loiro tão preciso que chegava a ser dourado, causavam uma aura brilhante nesse, esse era o modo como Eros era descrito por mortais.

— E você não vai me dizer o nome dele? — Harry insistiu, suspirando em esperança.

— Quando for a hora, você saberá. Eu nem mesmo vou precisar te dizer quem é, porque você vai sentir por todo seu corpo, como é se encontrar com a sua alma gêmea — ele sorriu fraco, olhando para as próprias mãos — eu já vi muitos mortais e criaturas divinas encontrando o amor, parece que estão vendo a coisa mais bela do mundo. Olhos brilhantes, sorrisos tão grandes a ponto de doer as suas bochechas e o coração fica tão acelerado, posso ouvir as batidas...

Harry sorriu compreensivo, ninguém no mundo merecia encontrar mais o amor do que o próprio Eros.

Lentamente, ele apoiou mais os cotovelos e se inclinou para frente, olhando bem abaixo, onde o céu ainda parecia continuar e haviam apenas resquícios de pequenas construções, a morada dos mortais. Ele nunca pode sair do olimpo. Diferente de Eros, que saía quando deveria realizar a sua missão como deus do amor.

— Acha que ele está lá embaixo? — Harry ladeou a cabeça, ainda encarando a imensidão escura abaixo de seus pés.

— Ele quem?

— Hades.

— Harry, fale baixo — Eros olhou por cima do ombro para ter certeza de que ninguém havia lhes ouvido — você sabe como o velhote do Zeus fica cada vez que alguém abre boca para mencionar o nome de Hades.

— Não me respondeu — Harry o olhou, elevando seu olhar verde como pedras preciosas — acha que ele está lá embaixo?

— Eu acho — ele acenou — ele está no submundo, muito abaixo de todos nós, mas está. Ele tem o poder que Zeus almejava ter em suas mãos. Honestamente não sei porque ele nunca subiu aqui e travou uma briga com o conselho.

— As vezes sinto ele por perto — Harry confessou, um pouco preocupado em ditar aquilo em voz alta. As pessoas já não o viam como mais um ser comum, por mais belo e poderoso que fosse, ele não gostaria de ser alvo de mais desconfianças.

— Você...o sente? — arqueou a sobrancelha em modo de desconfiança.

— Não desse modo — Harry separou os lábios em indignação e uma pitada de vergonha — tudo sempre tem haver com sexo e amor para você.

— É a minha natureza divina, sinto muito — deu de ombros.

— Eu estou falando sério. Às vezes me sinto diferente, é como se um pouco da minha aura divina se sentisse tentada a conhecê-lo, a ser pretensioso e descer... — ele olhou para o irmão com certa preocupação — me entende?

— Eu não entendo, não posso entender algo que não sinto — ele o disse com calma, pondo a mão em seu ombro —  mas se acha que vou julgar você por isso, está muito enganado.

Harry sorriu com calma, Eros era definitivamente a pessoa que mais o entendia em todo olimpo e universo. Eles eram muito mais do que irmãos. Tinham a melhor das conexões.

Eros suspirou, abraçando o irmão. O pequeno ato o fez ver a sombra que surgiu ao lado de fora e os estava observando, desde a entrada grandiosa onde era o salão do palácio. Eros revirou os seus olhos, afastando Harry lentamente, ao notar Ares caminhando até ele.

Definitivamente eles não eram os mais amigos, provavelmente nunca seriam, mas futuramente teriam de governar todo o olimpo um ao lado do outro.

— Querido — Ares se pronunciou, era forte a aura do deus da guerra, ele tinha os olhos escuros e um sorriso alvo, mas que disfarçava as péssima intenções que ainda assim não enganavam Eros e seu poder — daqui a pouco iremos ao banquete, que tal cumprimentarmos algumas pessoas?

— Precisa ser agora, meu bem? — Harry suspirou, sentindo o braço forte de Ares o puxar para si pela cintura, ele se sentia pequeno na presença deste. Se esforçou para tratá-lo carinhosamente e como deveria.

— Precisa, querido — este o encarou sério, mas ainda de uma maneira delicada — meu pai pediu que ficássemos por perto. 

— Pensei que eu poderia ficar um pouco com Eros aqui, a festa está muito sufocante — Harry lhe confessou baixo, sendo o deus da agricultura e vegetação, era natural dele preferir ambientes tão mais acolhedores como os jardins ou qualquer lugar aberto.

— Não seja bobo — este riu, como se Harry tivesse contado uma piada — terá muito tempo para ver suas plantinhas e todas as varandas do castelo depois que nosso casamento for anunciado. E Eros não dará falta de você se sair um pouco, aposto que ele tem muitas flechinhas com coração e essas coisas para atirar.

— Sim, algo que você nunca vai sentir, porque nem todas as flechas do mundo fariam Harry amar você — Eros ladeou a cabeça, com divertimento.

— Quem precisa de amor? Não eu — ele riu, embora sua personalidade explosiva houvesse brilhado no fundo de seus olhos escuros — tudo que preciso em um casamento é sexo e obedieancia, tais coisas que Harry certamente pode me dar, não é querido?

Harry parecia bravo com o modo como Ares se referia a ele, mas sabia que nada do que dissesse iria amenizar a ira de seu futuro esposo.

— Sim, meu bem — ele acenou lentamente, forçando um sorriso nos lábios bonitos.

— Muito bem — Ares sorriu satisfeito, antes de unir os lábios — agora vamos, Zeus nos espera.

Eros gostaria de fazer algo ao respeito, mas dentro do olimpo era difícil contrair as regras e ainda mais se era da vontade de Zeus, porque nada passava despercebido pelo grande magni, ou quase nada.

As coisas, naquela mesma noite, mais tarde, pareciam tomar um rumo incerto:

— Estamos todos aqui — a voz de Zeus soou, um brado que dominou todos os cantos do salão, como mil trovões tumultuando o céu — gostaria de fazer um anúncio.

Todos ao redor da mesa extensa, tão grande que Harry mal poderia ver quem estava do outro lado dela, o ouviam. De ponta a ponta. Tudo era muito luxuoso e belo, tudo que pensava ser digno de um deus, de moradores do olimpo. Harry conseguia ver nos rostos dos presentes um ar de quem se sentia como a criatura mais importante do universo. Todos eram igualmente ambiciosos.

— Como todos sabem, o fim de cada período do sol, a cada ano, é a melhor época para casar. Eu sempre deixei claro como adoro unir meus filhos, ainda mais quando encontram o amor. E é por esse motivo que eu quero anunciar o casamento de meu filho Ares com Perséfone — ele disse e o seu ar de orgulho irradiava na mesa.

Harry sentiu a mão de Ares apertar seu pulso, o puxando para que se colocassem de pé. Todos os olhares, todos os aplausos e as palavras de felicitação o deixavam mais assustado, cada dia ele se tornava um alvo mais ativo dos moradores do olimpo. Todos estavam de pé para dar os parabéns a ele por algo que o deixava em puro pavor.

— E aproveito esse momento que estamos todos unidos aqui, para ter a benção oficial do deus do amor, que é realmente quem está apto para dar os parabéns às nossas almas gêmeas — Zeus disse em voz alta, olhando em direção a Eros.

O jovem fingiu não escutar, sendo o único na mesa ainda sentado, se deliciando com o vinho sem ligar para as centenas de olhares sobre ele.

— Eros — Afrodite sorriu lentamente, chamando o filho com o tom doce porém coberto com um olor a ameaça que toda mãe, mesmo as deusas, sabiam usar — levante.

O garoto suspirou, pegando a taça de vinho e se colocando de pé. Ele encarou o casal a sua frente e o sorriso debochado que Ares tinha nos lábios, como se fosse uma vitória pessoal fazer com que Eros os abençoasse. Este os olhos, mostrando um sorriso lento, quando ergueu a taça:

— Com todo prazer eu dou minha benção a esse casal. Mas devo dizer, que como deus do amor, a minha presença só é necessária quando vejo almas gêmeas. E como o próprio Ares disse a pouco para mim, quem precisa de amor quando se tem sexo e obediencia? — ele sorriu ainda mais com a expressão brava de Ares o dominando — mas como também sou deus do erotismo, eu dou toda benção a vocês, sintam-se muito abençoado — debochou, antes de cair sentado novamente.

Não houve sequer um mínimo suspirar em toda mesa, Harry lutava contra a ânsia de sorrir, pois mais tarde ele seria reprovado por sua mãe com tal comportamento rude. Zeus e Ares pareciam furiosos, do mesmo modo que Afrodite, embora ele estivesse se divertindo com a expressão que o rosto de Ares mostrava.

Mas, antes que qualquer coisa pudesse ser dita, Zeus sentiu o chão tremer, ele sentiu primeiro e todos os demais foram acompanhados da sensação de tremor. O salão foi invadido por guardas em todos os cantos e um certo rabiscar de pânico bradou nos olhares dos deuses presentes ali. A ideia de que não sabiam o que aguardar, os deixava completamente desesperados por explicações e algo assim não poderia ter acontecido em pleno baile do ciclo do sol.

Harry observou o momento em que sua mãe encarou Zeus, ambos se olharam com tamanho peso que era possível sentir suas auras pulsando ao redor de si mesmos. De repente o salão escureceu e nem mesmo as luzes das estrelas e lua perfeitamente coordenadas por Artémis, puderam ser o suficiente para que enxergassem quem seria o responsável pelo estrondo que se seguiu. As portas do palácio abriram-se em um golpe.

Harry mal escutava o brado de sua mãe o mandando correr para ela, pois ele sentia um aperto no peito que o sufocava, ele pôs a mão sobre o coração e a outra se apoiou na mesa. Seu olhar subiu até em frente e ele ignorou todos os gritos de horror que se seguiram, quando a aura escura que mais parecia uma névoa densa e sombria, se dissipou, pairando sobre suas cabeças.

Embaixo de vestes pretas e grossas, ele pode subir o olhar pela criatura que tinha o par de olhos mais penetrantes que ele já havia visto, dono de todos os pesadelos lúcidos e todo terror, as íris vermelhas ameaçadoras que somente eram desinibidas pelo sorriso devastador nos lábios finos, tão sutil quanto a própria morte.

Hades estava no olimpo.

Harry sentiu cada célula de seu corpo pulsando abaixo de sua pele, o mais profundo de sua alma almejava pular para fora de si e seguir a escuridão. Ele estava em pânico e absolutamente ninguém notava isso, fora Afrodite, Zeus e Eros. No entanto, nenhum deles compartilhava dos mesmos motivos. Harry precisava de algum amparo, seu ser mais profundo estava entrando em colapso, enquanto a figura divinamente sombria dava passos em direção a eles, tão lentamente para que pudesse prolongar a agonia dos presentes.

Hades adorava causar essa afiliação nos demais, com sua simples presença.

— Particularmente penso ser uma falta de consideração não terem convidado a mim para a comemoração, não que em algum momento hajam feito — a voz de Hades era poderosa, cada célula nele era. Ele sequer precisava de algo mais, além de suas palavras, para causar impacto em todos os deuses naquele salão.

Harry não pode ignorar a memória de seu irmão, que a pouco o havia dito como Hades era poderoso para bater de frente com o irmão, o grande magni Zeus. Ele nunca havia subido ao olimpo, desde que herdou o submundo e Harry não sabe o que pode ter trago o deus dos mortos até ali.

— Sabe que não é bem-vindo aqui, Hades — a voz de Zeus também soou como um estrondo, mas se fosse comparada a de Louis, Harry poderia quase identificar que havia uma pitada de temor vindo do poderoso e grandioso magni.

— Sabe bem que não preciso de convites para estar no olimpo, esta era minha casa também — Hades usou um tom mais lento, mais ameaçador, para se dirigir ao irmão.

Atrás dele, haviam três homens, três presenças sombrias usando capas que cobriam cada centímetro de seus corpos, até suas cabeças. Harry não tinha certeza, mas pensava que poderiam ser os domares, ou mesmo os subjugados. Eles eram conhecidos como os três cavaleiros do submundo. Eram o ciclo de confiança, onde cada um ajudava Hades a comandar uma parte do submundo. O reino era maior do que pensavam.

Não que Hades precisasse de ajuda, ele não precisava de ninguém. Mas era sempre necessário aliados com quem contar quando sua presença não poderia estar em determinado lugar.

Enquanto discutiam, Afrodite rodeava a mesa, tentando não ser percebida por Hades, algum dos cavaleiros ou as sombras escondidas nos cantos que faziam parte do exército de almas que Hades colecionava. Ainda assim, antes que pudesse chegar à ponta da mesa, o olhar de Louis caiu sobre ela, como uma rocha pesada sobre seus ombros, a deixando completamente imóvel.

— Afrodite, minha sobrinha, eu não a vejo a muito tempo — Hades abriu um sorriso de canto, um maior e mais pretensioso. Ele avançou dois passos em direção a mesa e prontamente Afrodite foi rodeada por cada um dos magnis e subdeuses — sempre prontos para proteger a família — ele usou um tom de deboche — ou ao menos a parte dela que interessa a vocês, porque eu sou a escória, como sempre.

Hades era um monstro, mas até as piores almas sentiam a dor da solidão. Ver todos os seus irmãos usando o poder para protegerem um deles, fazia-o pensar como deveria ser ter alguém que se importasse com ele a ponto de enfrentar um deus tão poderoso. Nem mesmo quando Cronos estava no olimpo, Hades era amado por seus irmãos. De algum modo, ele sabia, mesmo que ao fundo de sua alma obscura, que o olimpo nunca foi a sua casa.

— De qualquer modo, eu não pretendo ficar para a comemoração — ele se pronunciou novamente — vim buscar o que é meu por direito, está na hora de me entregar o que me pertence, Zeus.

— E exatamente o que pertence a você, Hades? — a voz soou firme, como um desafio ao outro prosseguir e lhe desmerecer em frente aos seus admiradores.

— A muitos anos eu deixei algo de mim aqui e é hora de levar o que me pertence comigo, para as minhas terras no submundo — ele se pronunciava com uma lentidão capaz de torturar seu inimigo.

Ares agarrou firmemente no braço de seu futuro noivo, como quem defendia seu prêmio valioso. Harry já era muito capaz de sentir a temperatura do corpo divino de Ares aumentando, como quando atiçavam uma fogueira já em altas chamas. No entanto, o próprio corpo de Harry lidava com as mudanças que a presença do outro deus havia causado em si. Um borbulhar nasceu dentro de seu peito, como se lhe sufocasse e ele precisasse sair às pressas.

Ninguém permitiria que ele saísse do olimpo.

De canto, poderia ver perfeitamente como Afrodite e Eros discutiam algo, que ele verdadeiramente queria poder ouvir, quem sabe estivessem planejando como fugir do salão e permitir que Zeus lidasse com seus próprios problemas. Ele sentia uma vontade imensa de simplesmente gritar, porque o aperto em seu peito não cedia por absolutamente nada. Ele próprio estava entrando em combustão, em loucura total e sentir as variações do corpo de Ares tornava tudo pior.

— Precisa tirar seu irmão daqui — Afrodite disse a Eros, em tom baixo e com seu olhar penetrante, como jóias raras.

— Não chegaríamos muito longe, mãe — ele sussurrou de volta — o que espera que eu faça se Hades nos ver, ou se algum dos três domares nos ver também?

— E seu poder? Você é um deus poderoso — ela entonou mais sua voz, como uma pequena repreensão.

— Poderoso para decidir sobre o destino romântico dos demais, não para enfrentar Hades e os cavaleiros. Eu posso simplesmente ser destruído pelo deus dos mortos e tudo isto porque querem se negar a aceitar o destino de Harry — Eros tentou confrontar a mãe.

— Nunca mais repita isso, o destino de Harry é para com o olimpo e seu casamento com Ares — Afrodite sentiu uma onda de enfurecer em sua alma divina, ela abominava a ideia de seu filho no submundo — ele nunca se unirá a alguém como Hades.

— Por que não? Por que ele não pode seguir o destino que nasceu para ter?

Afrodite foi dominada pela onda incontrolável de ódio, agarrando o rosto do filho o mais discretamente, a situação não permitia mais escândalos, mas ela não permitiria igualmente que Eros acabasse com o que ela havia construído.

— Não me questione, faça o que ordenei, Eros. Você e Harry terão os destinos que eu bem entender — sua voz soou impiedosa, para o medo crescente em seu filho.

— Pode ordenar no destino dele, mas não no meu — ele foi firme — quer mandar no amor que há entre o Harry e Hades? Muito bem, pois lide com suas consequências. Mas não vai mandar no meu destino.

Aquele momento súbito de coragem, gerou um sorriso bonito, embora amedrontador nos lábios vermelhos de Afrodite, onde ela encheu seu paladar para a triste notícia ao filho:

— Não lhe disseram, Eros? O destino de um cupido é assistir ao amor dos outros, mas nunca ser amado de igual maneira. Você sempre estará sozinho.

Sem palavras, pois as mesmas morriam em seus lábios rosados, ele não pode contestar o dito por sua mãe. A mesma sorriu com satisfação, sentindo suas intenções aflorando na pele perfeita de porcelana.

— Agora tire seu irmão daqui e não o conte sobre Hades — ela ordenou.

Eros observou sua mãe dar as costas para ele, parecendo usar-se de distração. Eros ergueu a sua cabeça, na tentativa de buscar equilíbrio para fazer o ordenado. Ele sutilmente deu a volta na mesa, agradecendo a si mesmo ou ao acaso, seu assento no topo, próximo de seu irmão. Ele observava a cada instante Hades e seu irmão discutindo, lhe parecia um assunto a ser usado como fonte de entretenimento amanhã.

Ares o olhou com fúria, quando observou Eros segurar a outra mão de seu irmão.

— Harry, venha comigo — ele o disse com cautela.

— Onde pensa que irá levar meu noivo?

— Se quiser ter um noivo vivo, terá de ceder e me deixar levá-lo — Eros contestou.

Sequer Harry sabia o que porque discutiam ou o por quê de sua vida estar em perigo o suficiente para que ele fosse a única pessoa a ser retirada do salão. Aparentemente, nem o próprio Ares sabia os motivos pelo qual Hades estava no olimpo, para ele o tio havia apenas decidido comparecer à comemoração do sol e a arruinar como este sempre fazia. Absolutamente ninguém tolerava Hades.

Ares estava pronto para relutar, quando um estrondo soou alto. Ele pode ver o ambiente se tornando mais uma vez escuro, pois uma enchente grotesca de névoa escura tomou conta do ambiente, Zeus irritou Hades a ponto do mesmo invocar almas doloridas que emanavam milhares de gritos finos, clamando por apenas um pouco de paz e misericórdia. Elas suplicavam por menos dor, por voltarem a vida, pela perda cruel de alguém e seus gritos monstruosos faziam as paredes do palácio tremerem.

Harry pôs as mãos nos ouvidos, assim como todos presentes, levantando seu olhar para poder se encontrar com as íris vermelho sangue que brilhavam no rosto de Hades, enquanto Zeus tentava não demonstrar um abalo perante todos os magnis que estavam ajoelhados no chão, tentando suportar a dor que torturava seus tímpanos.

Aquilo não terminaria bem.

Eros aproveitou a oportunidade para agarrar o irmão pelo braço, o puxando para longe da mesa. Ares não pode detê-lo, pois estava mortalmente ocupado em controlar a dor que latejava em sua cabeça, como uma bomba prestes a explodir. Eros avistou uma saída lateral, passando a correr com mais determinação. Harry já não tinha a mesma força, ele não conseguia se controlar, seus pensamentos estavam bagunçados.

— O que está acontecendo? — Harry o perguntou, parecendo confuso.

— Eu também me pergunto isso — ele disse com sinceridade, porque afinal de contas ele não sabia que a presença de Hades causaria enorme problema — mas precisamos estar longe daqui quando se derem por sua falta.

Ele avistou os belos mantos dos deuses, colocados na porta como adereços. Eros agarrou-se a um deles, as mãos levemente trêmulas, quando ele cobriu Harry com o tecido bordado a ouro, escondendo sua figura e identidade dos demais olhares.

— Para onde iremos? — a pergunta havia pego Eros de surpresa, porque o próprio sabia que o certo seria levar Harry para casa, para o palácio de Afrodite, mas seu coração não mandava isso.

Eros relutava com sua própria aura, ele era o deus do amor e via duas almas gêmeas no mesmo lugar, o seu dever era uni-las imediatamente, mas como poderia contrariar os desejos de sua mãe? Uma deusa como a grande Afrodite, acabaria com sua existência.

Ele sentia uma batalha interna, que foi cessada somente quando olhou firmemente para dentro do salão e, em meio a névoa, ele contou somente Hades e dois cavaleiros. Um deles não estava lá e certamente veio à procura de Harry. Um pânico misterioso percorreu suas veias celestiais.

— Se esconda no terraço, fique perto das escadarias, eu vou em um instante — Eros lhe avisou.

— Eu não estou me sentindo bem, Eros, acha que estou morrendo? — Harry o encarou com as íris frias e brilhantes.

Veja bem, ele é um deus, mas o olimpo o via mais como uma criatura bonita, do que como um ser detentor de poderes, ele era mais uma criação bela de Afrodite, do que o poderoso deus que gerava a beleza verde para os mortais e até mesmo para os deuses no olimpo, era quem fartava as mesas de banquetes todas as manhã, com os alimentos ricos, mas era pouco reconhecido por seu poder. Uma vida toda rebaixado a ser o filho de Afrodite, apenas para um dia passar a ser marido de Ares.

Harry desconhecia seu próprio valor.

— Você é um deus, não será qualquer coisa que irá destruir você — Eros afirmou, empurrando o irmão — agora vá e se esconda imediatamente, irei por você.

Ele pode respirar aliviado por meros segundos, antes que uma sombra fria como a morte mais cruel e uma névoa cuja densidade lhe cegaria a qualquer momento tomou conta de si. Eros suspirou, erguendo-se para exercer sua autoridade como um deus, mesmo que não soubesse do perigo iminente que cruzara o caminho do mesmo.

Logo, ele pode ver a figura alta, o suficiente para que o topo de sua cabeça batesse em seu queixo, embora este estivesse coberto por uma capa grosseira que permitia que Eros observasse apenas as íris cruelmente brilhantes, eram de um tom mel que quase se assemelhava ao amarelo, como olhos felinos. Os dedos com cuidado e cobertos por couro preto foram levados até o topo da cabeça, onde ele abaixou o capuz, caindo em seus ombros. Um homem jovem, como ele. Um dos cavalheiros, com os cabelos escuros como a noite e a pele quente, e bronzeada. Dion, o primeiro cavaleiro do submundo.

— Onde está o seu irmão? — a voz era melodiosa, era séria.

Eros levou tempo o suficiente para tentar raciocinar as palavras de Dion, pois ele nunca havia visto um ser das trevas de perto, embora achasse que a sensação extenuante que sentia por todo seu ser, não era bem um momento de surpresa.

— Eu não sei — ele recobrou o raciocínio um tanto tarde — não o vi.

— Poupe meu tempo, os vi saindo juntos, para onde ele foi? — insistiu.

— Eu o perdi de vista, não sei onde ele poderia ter ido.

Dion certamente não era inocente e sabia reconhecer a mentira na voz do outro. Isto por que? Porque cada cavaleiro no submundo era encarregado de guardar os portões na morte, onde as almas vagavam e um dos dons de Dion era lidar com as almas mentirosas, por este motivo ele sabia identificar a pura mentira sendo contada em sua frente.

Eros observou quando o homem se inclinou para ele, com um olhar profundo o suficiente para ler os seus erros mais insignificantes.

— Não vai querer que Hades venha buscá-lo — o disse.

— Eu não sei onde Perséfone esta — insistiu mais uma vez.

Eros tentou empurrar o corpo alto, como de um guerreiro grego, no entanto um flash correu por todo seu corpo quando suas mãos tocaram no homem, recuando imediatamente. E pelo visto, Dion também sentiu o ato, porque recuou.

Antes que qualquer coisa pudesse ser mencionada, mais gritos foram ouvidos. A voz de Hades soou como um trovão mais presente que aqueles que emanavam do cajado de Zeus, chamando por seu cavaleiro. Ele tinha outra coisa a ser feita. Por este motivo, virou-se para poder voltar ao salão, atendendo ao pedido que o deus dos mortos sutilmente o havia feito.

Eros notou como Hades se moveu de dentro do salão, em meio a névoa, em direção a ele. Por segundos e longos por sinal, ele não soube como reagir. Virou-se para ir até o terraço, como se o deus do submundo e todo seu terror não estivessem prontamente atrás de si. Ele não poderia fazer absolutamente nada contra o poder de Hades.

— Pelo amor de Zeus — Eros resmungou para si mesmo, ele se perguntava se era real a sua situação — eu vou fechar meus olhos e torcer o suficiente para que seja um pesadelo.

Mas não era. Ele estava a centímetros do maior pesadelo de todo olimpo. Eros segurou sua respiração, ao virar-se em direção ao que tanto temia. Hades tinha as íris perfeitamente avermelhadas sobre ele, toda sua figura emanava fogo, como se estivesse com seu ser em chamas altas, banhado por uma névoa escura. Seu caminhado era lento, como se cada passo lhe custasse um pouco de seu ser. Hades marchava até ele como se pisasse em agulhas pontiagudas completamente descalço, como aquelas que haviam na ponta das rocas das moiras.

As moiras eram três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Elas tinham muito poder em mãos, nas mãos cruéis, como ceifadoras. Depois que um fio tinha seu rompimento, Hades passava a ter controle sobre a alma infeliz.

Eros estava definitivamente temendo por seu próprio fio da vida, naquele momento, quando algo congelou seu ser por completo. Ele contemplou o momento em que seu irmão cruzou seu caminho, colocando-se em frente a ele, como os portões dourados que protegiam o olimpo e os guardavam do resto indesejado. Hades parou abruptamente, a passos de Perséfone, quando sua figura ficou em frente a ele, com o manto jogado ao chão polido.

Hades levantou a cabeça, contemplando cada mínima parte do corpo em sua frente, da alma majestosa da criatura a centímetros de si, em como seus perfeitos cachos caíam por seus ombros, ou como suas vestes o serviam perfeitamente. Como sua pele era perfeita e seus traços pela face eram tão bonitos que eles jamais havia contemplado tamanha beleza.

Ao mesmo tempo, Harry sentia o aperto em seu peito aumentar, a medida em que Hades tentava alcançá-lo e seu ser glorioso era capaz de ver a dor na face de Hades, em como parecia uma tortura estar onde estava, Harry não conseguia sentir crueldade em Hades, ele o olhava como uma criatura que merecia ser admirada como cada ser do olimpo, ou até mais.

Eros sequer conseguia pronunciar algo.

— Não deveria estar aqui — a voz melodiosa de Harry quebrou o silêncio.

Era amedrontador como os gritos corriam tão distantes agora, dentro do salão, quase imperceptíveis a eles ali fora.

— O olimpo não é seu lugar, Hades — Harry sentiu um gosto diferente quando pronunciou aquele nome, pela primeira vez em alto e bom som.

— Nem o seu — um suspiro escapou do deus amedrontado, quando ouviu a voz de Hades apenas para ele e mais ninguém.

— Eu nasci aqui.

— Eu também, mas isso não os impediu de me expulsarem — ele se aproximou de Harry, levando a mão a seu rosto e segurando o queixo deste como se fosse um pequeno cristal delicado, obrigando Harry a olhar ligeiramente face a face e encontrar seus olhos avermelhados — me despreza como eles?

— Não — ele negou, os lábios delicados formando a palavra — não o faço.

Hades suspirou, sentindo o doce aroma floral que emanava do ser de Harry.

— Como é belo — o disse em sussurro, como um segredo.

Harry separou os lábios, pensando em lhe contestar, mas notou como os gritos das almas se tornaram mais propensos a horror e Hades parecia ter sentido algo em sua alma, pois sua expressão era como a maior das dores carnais. Harry abriu ainda mais os lábios, sentindo uma pontada forte em seu peito.

Zeus estava vindo.

— Você... — Hades pronunciou devagar, apertando ainda mais o rosto de Harry entre os dedos quentes — você é meu e eu vou tê-lo, de qualquer jeito — pronunciou, antes de serem cegados pela névoa dominante.

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