A Coroa de Luz [COMPLETO]

By nalichiye

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[A Coroa de Luz é o 2° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras.] A rivalidade entre os magos de luz e os mag... More

Dedicatória
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23

Capítulo 1

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By nalichiye

Aruna nunca teve dias tão cinzentos antes, mesmo durante os invernos.

Era como se o reino da luz já não brilhasse, mas acredito que essa era apenas a minha visão sobre o que estava acontecendo ali.

Sentada no trono do meu pai, com minha nova coroa, aquele salão parecia grande até demais para uma única pessoa.

Era como eu passava meus dias: sempre parada, encarando as gigantescas portas entreabertas que levavam ao exterior do castelo, aguardando por alguma notícia de Senka ou dos responsáveis pelo escudo. Raramente acontecia.

Não percebi o passar do tempo desde que voltei para Aruna, mas sabia que já fazia um vagaroso mês.

Os responsáveis pelo escudo do castelo tentavam descobrir como foi destruído, enquanto todo o exército real ajudava os magos de luz a reerguerem Aruna. Todos no reino estavam ocupados.

Agora que eu estava de volta, os arunienses tinham a falsa impressão de que estariam protegidos de novos ataques e eu aproveitava a oportunidade para deixar claro que estávamos seguros, mesmo que fosse mentira.

Aruna não precisava do caos causado pelo pessimismo naquele momento, então eu deveria encarar esse medo sozinha.

Kardama e eu trocamos algumas cartas, mas era como se escrever não fizesse sentido. Éramos muito mais distantes e formais daquela forma, falando apenas sobre a política dos reinos.

Os magos responsáveis pelo escudo do castelo finalmente apareceram com uma conclusão sobre o que tinha acontecido na noite do ataque. Estávamos sentados em volta da mesa de madeira, na sala de reuniões do meu pai.

— E então, como um dragão conseguiu destruir a barreira? Ela não era indestrutível? — perguntei impaciente assim que sentei.

Eles se entreolharam, escolhendo silenciosamente quem falaria.

— Ela era, a menos que fosse enfraquecida — o mais velho, Henner, disse com cautela.

Dei uma breve risada amarga. Dragões não tinham esse poder. Aquela explicação parecia com uma piada e eu não tinha mais tempo para perder com todas as dúvidas. Precisava de certezas, porque o rei de Aruna estava adormecido em sono profundo e não sabíamos quanto tempo restava.

— E como o dragão conseguiu enfraquecer a barreira? — perguntei com certo deboche, mas meu sorriso desapareceu imediatamente quando entendi o que eles queriam dizer.

— Ele não poderia fazer isso. Foi feito por dentro do castelo. Naquela noite, o rei e a rainha estavam dando um banquete para os arunienses, em comemoração ao seu casamento — o mago esclareceu.

— Estão supondo que fomos traídos? — perguntei olhando em volta, para os rostos de cada um, em busca de algum sinal de humor.

Eles desviaram seus olhares como se fossem repreendidos. O único a continuar olhando em minha direção, o mago mais velho Henner, ajeitou sua postura antes de responder:

— Não. Isso é uma certeza, majestade. Já encontramos o círculo de Kein que foi colocado próximo à oração do escudo.

— Círculo... De Kein? — Arregalei meus olhos. — Mas isso é...

— Magia obscura — ele completou.

A sala mergulhou em um silêncio perturbador. Eu estava encarando o tampo da mesa, enquanto os magos Henner, Zilo e Ludo me observavam.

Os três já tinham seus rostos marcados pela idade. Henner, o mais velho, era calvo e o pouco cabelo que lhe restava, branco. Zilo tinha longos fios pálidos, constantemente presos. Ludo era grisalho e tinha uma barba cheia.

Aqueles seis olhos cansados me fitavam, aguardando por alguma resposta.

— Continuem em busca do antídoto para acordar o rei Malkiur. — Foi tudo o que pensei em falar. — Agora vão.

Os três homens levantaram e saíram da sala em silêncio. Voltei a encarar o tampo da mesa até que a porta fechasse e eu tivesse certeza de que estava completamente sozinha ali.

Então, mergulhei meu corpo naquela cadeira, desabando em meus sentimentos negativos como raramente me permitia fazer.

Senti que era inocente e inútil, exatamente como quando fui traída pelos soldados de luz. Dessa vez estava ainda mais irritada, porque agora podia ver as consequencias da minha mansidão com clareza.

Não era apenas sobre insubordinação, meu pai estava adormecido e sem qualquer cura conhecida.

Eu queria encontrar o responsável por aquele ataque e punir como merecia, mas a vingança era tudo o que surgia em meus pensamentos e era óbvio aquilo não me levaria a lugar algum.

Se não tivesse foco e frieza para resolver aquela situação, poderia afetar também pessoas boas, que não tinham nada a ver com a traição.

E, pensando friamente, eu não sabia o que fazer diante de uma traição.

Levantei da cadeira e comecei a andar de um lado para o outro enquanto pensava "o que o rei faria no meu lugar?".

Encarei o papel e a pena que estavam sobre a mesa. Eu conhecia alguém que sabia lidar com aquela situação, e meu pai disse certa vez que suas atitudes eram ensinamentos nesses casos.

Comecei a escrever, mas recuei. Kardama certamente viria resolver o problema, mas deixaria Senka sem um líder. Além disso, eu deveria ser respeitada pelos argians também.

Por fim, decidi ir até o local onde refletia desde meu retorno: o quarto onde papai dormia. Ele não respondia, mas eu gostava de deixá-lo a par de tudo o que estava acontecendo.

— Pode ir descansar, mãe — toquei o ombro de Nair ao falar.

Minha mãe estava ainda mais abalada do que eu com tudo o que aconteceu. Meu pai era muito mais do que seu marido, como também um grande companheiro desde o dia em que casaram quase trinta anos antes. Para ela, era muito difícil estar no castelo sem a presença dele, principalmente quando sabia de sua condição.

Ela não saía daquele quarto, de seu posto de sentinela ao lado da cama onde ele dormia, exceto quando ia ao templo fazer orações para que ele retornasse sem sequelas. Ninguém entrava sem que ela visse, e assim acreditava também que nenhum mal a mais o alcançaria.

— Você deveria dormir — comentei, mas ela balançou a cabeça para negar.

— Eu vou ao templo fazer orações. — Foi tudo o que disse antes de sair.

Torci meus lábios e encarei o corpo adormecido de papai, então sentei ao lado da cama e comecei meu longo desabafo.

Eu preferia acreditar que, apesar de não poder responder, meu pai ouvia tudo o que eu falava. Assim, parecia mais fácil supor o que ele gostaria que eu fizesse.

No dia seguinte, chamei o general Alípio para conversar. Ermy também estava presente, e embora ainda estivesse magoado, continuava amigável como sempre.

— Majestade — Alípio ajoelhou-se em frente ao trono quando entrou e cruzou o grande salão vazio. — Como posso ser útil?

— Os outros soldados ainda não sabem, mas o que aconteceu durante o último ataque morroian foi resultado de traição. Quero que envie os guardas por todo o território em busca do responsável. — Fui direta. — Quem trouxer o culpado será generosamente recompensado.

Alípio arregalou os olhos, mas desviou o olhar para o chão afim de disfarçar. Ainda assim, continuei a falar.

— Mas não quero que os soldados sejam injustos com os arunienses apenas por ouro. Precisamos de uma investigação séria. Caso contrário, haverão consequências.

Eu sabia que falar apenas que haveriam consequências não soava ameaçador, principalmente vindo de alguém que jamais fora ameaçadora.

A verdade era que eu ainda não sabia quais consequências meu pai aplicaria naquela situação e precisava apenas ganhar tempo enquanto tentava chegar à alguma conclusão.

Mesmo durante a guerra, os soldados argians nunca precisaram de tais avisos antes.

O general balançou a cabeça para mostrar que entendeu.

— Agora vá entregar os avisos aos soldados — mandei e Alípio levantou para fazer outra reverência e sair.

Ermy continuou me encarando por alguns segundos como se quisesse falar algo, mas balançou a cabeça para afastar seus próprios pensamentos e fez uma reverência antes de deixar o salão.

Quando Alípio e Ermy foram embora, o arauto e o escriba entraram. Eles eram os responsáveis por grande parte dos avisos reais ao povo aruniense, por isso os chamei.

Comecei a falar antes que o arauto terminasse sua reverência.

— Vocês dois terão uma missão complexa hoje. Precisamos avisar ao povo que o ataque morroian foi resultado de uma traição e que o culpado ainda está solto... Mas é preciso minimizar a situação para que não entrem em pânico. Apresentem ideias até o fim do dia.

Os dois concordaram e logo fizeram suas reverências para deixar o salão quando autorizados.

Era cada vez mais raro, mas eu ia ao jardim de inverno quando sentia que precisava de algum tempo sozinha durante os dias. Minhas rosas brancas ainda estavam lá e eu gostava de vê-las.

— Majestade — Ermy disse surpreso, parado na porta com os olhos arregalados.

Inclinei meu rosto para encará-lo e isso o fez lembrar da reverência. Então, o soldado curvou sua cabeça.

— O que está fazendo aqui? — perguntei.

— Sou eu quem cuida das suas rosas, majestade — Ermy explicou envergonhado. — Os serviçais do castelo não sabem lidar com plantas que não sejam mágicas, mas como já sabe, venho de uma família de agricultores.

Torci meus lábios em um sorriso enquanto um silêncio constrangedor tomava conta do ambiente. Ermy retomou sua caminhada, parando ao lado do chafariz para colocar água no regador.

— Muito obrigada, Ermy — agradeci sem olhar em sua direção.

— Por nada, majestade. Eu sei o quanto gosta dessas rosas — ele deu de ombros.

Mais silêncio. Mais constrangimento.

— Ermy... — comecei a falar, finalmente encarando o guarda, mas ele interrompeu.

— Vamos apenas esquecer tudo o que falamos em Senka, certo? Não quero perder sua amizade.

Sorri sinceramente e balancei a cabeça para concordar.

— Sem mágoas, então?

— Sem mágoas, majestade.

Voltei a encarar as rosas brancas.

— Quão prejudicada sua família de agricultores ficou por causa do ataque?

— Eles perderam todas as plantações — Ermy contou após suspirar desanimado. — Todos os pequenos agricultores da cidadela perderam tudo.

Torci meus lábios entristecida. As plantações da cidadela eram pequenas, para uso familiar daqueles que não dispunham do suficiente para pagar pelos alimentos que vinham de fora. Os grandes plantios aconteciam além das montanhas, pelas famílias mais ricas do reino, e diariamente as carruagens chegavam com suprimentos para serem vendidos aos arunienses.

— Avise se precisarem de qualquer comida. Nós vamos comprar — falei e Ermy sorriu.

— Seria impossível retribuir tamanha bondade, majestade. — Ele fez uma pausa e voltou à seriedade. — Mas também seria impossível esperar qualquer atitude diferente vinda de você.

Encolhi meus ombros.

— Isso não é nada perto de tudo o que eu deveria realmente fazer para livrar os argians dos morroians.

Ele franziu o cenho.

— E o que você deveria realmente fazer?

— Eu não sei, Ermy... Em cada decisão, penso no que meu pai faria se estivesse no meu lugar, mas agora não consigo encontrar uma resposta.

— Tenho certeza de que seu pai ficaria muito feliz por saber que você está tentando seguir seus passos — Ermy suspirou. — E também tenho certeza de que sua respostá virá no tempo devido. Acho que todos os acontecimentos ainda não permitiram que você pense a respeito.

Balancei a cabeça para concordar. De fato, eu estava tão mergulhada naquela situação e em sentimentos negativos e pessimistas, que não conseguia refletir com clareza sobre os assuntos que me importavam.

Antes que eu pudesse responder, o som do estalo da madeira na porta do jardim de inverno chamou nossa atenção para encontrarmos Dahle, que estava tentando sair dali sorrateiramente.

— Eu volto mais tarde para cuidar das rosas, majestade. Preciso ir ao centro de treinamentos, com sua permissão — Ermy ajeitou sua postura e curvou sua cabeça ao falar após Dahle deixar o jardim.

— Vá — concordei, voltando a encarar as flores brancas em meu silêncio melancólico.

A única conclusão que tive naquele dia era que já passava a hora de fingir que sabia o que estava fazendo e descobrir o que dizia a profecia.

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