Uma suposta facção de balé •...

By callmeikus

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☆CONCLUÍDA☆ longfic • colegial • jm!kitty gang & jk!bailarino Jungkook estava no último ano do ensino médio... More

00 | Avisos
01 | Tendu
02 | Plié
03 | Coupé
04 | Déboulés
#ikusweek2021 crossover | parte 1
05 | Cambré
06 | Relevé
07 | Fondu
08 | Cloche
09 | Chassé
10 | Allegro
11 | Arrondi
12 | Avant, En
13 | Piqué
14 | Tombée
15 | Brisé
16 | Emboité
17 | Chainés
18 | Penchée
19 | Balancé
20 | Pas de Deux
21 | Battement
22 | Entrechat
23 | Dessus
24 | Glissade
25 | Rond de jambe
26 | Pas de valse
27 | Devant
28 | Échappé
30 | Arrière, en
31 | Effacé
32 | Pirouette
33 | Écarté
34 | Passé
35 | Couru
36 | Dégagé
37 | Emboîté
38 | Tour
39 | Final | Changements
40 | Epílogo | Développé

29 | Raccourci

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By callmeikus

Oiiiiiiiii, meus faccionáries!! Como vocês estão? Pra variar, estou com saudades de vocês 💜 

Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!

ALERTA DE GATILHO: Tem violência nesse capítulo!

#EstrelandoOCoadjuvante

»»🩰««

Jungkook acordou com os mamilos sendo beliscados. Era difícil saber se sua gargalhada era de agonia ou de felicidade por ter o namorado ao lado. Ou melhor, em cima. Como sempre, Jimin o prensava no lugar com os joelhos ao redor do corpo e com uma boa parte do peso em seu colo. Daquela vez, parou ao som da primeira gargalhada, sem saber se deixaria os pais de Jungkook ressabiados.

Se eles estivessem ali, claro. Desde que acordara, Jimin atentava-se aos sons da casa e não ouviu nenhum.

Apesar de, na situação, isso ser fonte de alívio, sentia raiva assim como Jungkook. Contudo, engoliu-a para abrir um sorriso e cumprimentar em um tom manso:

— Bom dia, gracinha, hora de acordar para ir para as aulas.

— Hm...

Era só um gemido. Difícil saber se Jungkook concordava ou discordava, mas ao menos se sentou e deu um abraço em Jimin, que o correspondeu. Jungkook era tão carinhoso. Jimin não pôde impedir suas mãos de rumarem até os fios pretos e embaraçados. Porém, a bonança de toque e de presença precisou terminar.

— Gracinha, preciso ir e me arrumar para não chegar atrasado, tudo bem?

Jungkook esfregou os olhos com as costas da mão.

— E sua aula de kung fu?

— Já passou, faltei. Avisei a meu mestre e aos meus pais enquanto você dormia.

— Por quê?! — Jungkook arregalou os olhos emoldurados por remelas, enfim mais desperto.

— Preferi ficar com você, bobo.

— Mas eu só dormi...

— Sim, foi lindo assistir. — Jimin sorriu e deixou um beijo longo na bochecha dele. — Um anjinho inofensivo, nem parece que acorda com esse bafo de dragão mortal. Aproveitei e também descobri um jeito seguro de pular pela sua janela, para fecharmos com chave de ouro o nosso momento de amor bandido.

— Realmente, muito bandido nosso amor... Um bailarino bunda mole e uma flor manteiga derretida.

— Ei! Assim você não ajuda com o teatro, gracinha... — Jimin assumiu um tom provocativo e, com a ponta da unha longa do indicador, ergueu o queixo de Jungkook, como nos velhos tempos. — Se você continuar rebelde assim, vou te incumbir uma missão especial...

— E qual seria ela?

— Escovar os dentes bem rápido para a gente se beijar um pouco antes de eu ir embora. Seu despertador não tocou ainda.

— Hm... gosto da proposta. Então, qual rebeldia seria o suficiente pra eu receber essa missão?

— Hm... — Jimin travou. Corou ao notar que ficara tão distraído com o sorriso pequeno e com o olhar travesso de Jungkook para si que não pensou tão a fundo.

Jungkook mordeu os lábios ao notar a hesitação do namorado. De certa forma, gostava da ideia de pensar, ele mesmo, em uma demonstração de rebeldia. Disfarçando um sorriso, inclinou-se até beijar a bochecha de Jimin. Uma mera distração. Suas mãos, enquanto isso, serpenteavam pelos braços dele, prontas para dar o bote.

Então, beliscou os mamilos alheios. Jimin pulou para trás e abafou, com muita dificuldade mesmo, um gritinho surpreso. De tão chocado, nem lembrou de "punir" Jungkook. Então, após alguns segundos de silêncio espantado, Jungkook avançou com as mãos de novo, deslizando-as por dentro da camisa preta que tanto detestava no corpo do namorado.

— Pare, Jungkook! — Jimin gritou, mas sussurrado.

— É sua hora de me dar a missão especial — lembrou, rindo um pouco.

Jimin pestanejou uma, duas, três vezes. Então, assumiu um sorriso mordaz e capturou os pulsos de Jungkook com uma das mãos. Prendeu-o contra a parede, sem receber resistência e, portanto, sem fazer força. Jungkook sorria que nem um bobo. Foi inevitável Jimin sorrir também. Que bobos eram.

Deslizou a mão livre pelo pescoço dele, roçando as unhas contra a pele, até segurar o queixo. Jungkook só alargava o sorriso.

— Gracinha, avisei para não me desafiar... — sibilou, mas a voz ainda parecia aveludada para Jungkook. Tinha o namorado mais lindo do mundo. — Vá, agora, escovar os dentes. E me traga um enxaguante bucal também.

— Sim, senhor! — Jungkook respondeu de pronto. Ambos riram, porque mesmo quando a dinâmica entre eles era aquela, Jungkook nunca fora capaz de responder com tamanha firmeza. No fim, mesmo que tentassem recriar a época, já eram pessoas diferentes. Já se enxergavam diferente.

E Jungkook amava ser diferente. E enxergar Jimin de forma diferente. Então, em um piscar de olhos, já cumprira sua missão e beijava, enfim, o namorado. Com o gosto de hortelã do enxaguante, mas com a língua aveludada e entregue de sempre. Com um carinho que transbordava, mas com as mãos firmes e presentes de sempre. Com as roupas pretas cobrindo o corpo cada dia mais conhecido, mas os cabelos rosa e genuínos de sempre.

O despertador de Jungkook deu o indesejado aviso de que Jimin precisava terminar toda a cena de amor bandido e pular pela janela. Sorriram um para o outro, felizes mas tristes. Confusos. E, tirando as palavras da boca de Jungkook, Jimin assegurou com um sorriso:

— Te encontro na escola. E te beijo de novo no almoço.

-💋-

Jungkook, por motivos óbvios, fez de tudo para a aula passar rápido. Cochilou várias vezes durante a aula enquanto encarava os fios rosa sempre presentes entre as primeiras carteiras. Queria sonhar, dormindo, em beijar os lábios de Jimin, assim como o fazia acordado.

De resto, nada de diferente da rotina. Teve uma época em que não ter nada de diferente irritava Jungkook, mas aprendera a gostar. Porque queria dizer que não teria nada de diferente no almoço e isso significava: beijar muito o namorado enquanto cozinhava com ele; praticar balé e sentir seus músculos responderem bem a movimentos antes impossíveis; alongar-se e observar os limites do seu corpo cederem a cada dia.

Jimin saiu da sala assim que o último sinal tocou, como sempre. Andava como se desfilasse, com sua costumeira jaqueta de couro preta por cima do macaquinho de pelúcia rosa. Jungkook observou, orgulhoso de si, as unhas longas e decoradas que fizera. De fato, tinha aprendido muitas coisas novas, mesmo as inusitadas.

Demorou uns cinco minutos para sair, espreguiçando-se e guardando o material devagar enquanto esperava o fluxo de alunos desesperados para ir embora diminuir. Então, jogou a mochila em um ombro e saiu pelos corredores quase vazios.

Do lado de fora da portaria, alguns garotos da sua sala se apoiavam em um cercado. Jungkook não se lembrava de vê-los com frequência ali, mas continuou seu caminho porque... qual seria o problema das pessoas se apoiarem no cercado sem frequência?

— Ei, você!

Jungkook nunca se considerou um "você", porque ninguém da escola falava consigo além de algumas outras sombras oprimidas que vagavam pelos corredores e sentavam nas carteiras — como Chungho. Portanto, não parou de andar em direção ao ponto de ônibus. Os chamados de "você" se intensificaram, e Jungkook teve a audácia de refletir que o "você" estava demorando a responder. Isso é, até ter seu ombro agarrado.

Viraram seu corpo com rudeza, o que foi o suficiente para soar alarmes em sua cabeça e fazê-lo recuar um passo. Em um gesto raro na escola, ergueu a cabeça para encarar a pessoa. Era o garoto da sua sala, o do cercado, cujo nome mal lembrava. Ele sorria e o outro garoto atrás dele também, mas Jungkook não se convenceu. Quis recuar mais um passo, mas, daquela vez, sentia perigo. Parecer intimidado talvez não fosse uma boa pedida com aqueles dois.

— A gente só quer conversar — disse o garoto mais alto.

Jungkook não queria conversar.

— Desculpa, tô atrasado pro almoço. — Forçando um sorriso muito falso, porque a mentira doía, Jungkook complementou: — Se eu me atraso, minha mãe fica doida de preocupação.

— Vai ser rapidinho, filhinho da mamãe. Ainda mais se você colaborar.

Mais do que inclinado a não virar o retrato do garoto dos filmes que sofre bullying na escola, Jungkook recuou e apertou o passo. Aqueles caras não fariam nada consigo na frente da escola, certo? Apesar de vazio, era um local muito visível.

Já em movimento, Jungkook acenou e respondeu:

— Hm, não vai dar. Tenho mesmo que ir, minha mãe fica uma fera.

Não correu porque seria demais. E tinha medo de o seguirem até o ponto de encontro com Jimin. Talvez devesse tomar um caminho alternativo daquela vez e mandar uma mensagem. Estava, e muito, confuso com motivo de o abordarem. A grande vantagem de ser uma sombra na escola era justamente passar despercebido até pelos valentões.

Também não olhou para trás; não queria mostrar interesse naqueles caras. Contudo, arrependeu-se da decisão ao ter os ombros enlaçados e perder o equilíbrio. Depois, nem seus pés tocavam mais no chão. Tudo rápido. Inesperado.

Arregalou os olhos e tentou entender o que acontecia enquanto o cenário ao redor se transformava nos fundos do colégio. Não se moveu, com medo de derrubarem-no, mas percebeu ter sido uma preocupação vã quando o soltaram com displicência no chão arenoso. Doeu. Doía, ainda. Os cotovelos, principalmente.

Ergueu o olhar e ficou quieto, acuado, no seu modo mais básico de defesa. Os caras se agacharam e sorriram de novo.

— Agora você quer conversar? — perguntou o mesmo cara, o mais alto. Pelo visto, o porta-voz da dupla.

Jungkook permaneceu quieto, esperando dizerem o que queriam. Levou um tapa no rosto, forte. Ardia, muito. E a ardência na bochecha e no nariz fizeram lágrimas se aflorarem em um dos olhos. Jungkook ficou com raiva. Era fisiológico, mas não queria parecer que chorava na frente daqueles dois.

Pegaram sua mochila e jogaram todo o conteúdo no chão. Jungkook quase suspirou de alívio ao lembrar que suas roupas de balé ficaram na casa de Jimin para lavar e secar, mas ainda machucou ver seus cadernos, tão cheios de conhecimento e de intencionalidade pós-Jimin, mancharem-se de areia.

O acompanhante do porta-voz pegou sua carteira. Jungkook ficou aliviado, pensando que a questão seria só dinheiro. Porém, depois de revirá-la, rir de sua foto do documento e pegar, sim, o dinheiro que havia, o cara jogou o objeto no chão e balançou a cabeça em negativa ao outro.

— Cadê? — rosnou o porta-voz. Jungkook, sem querer, encolheu-se. Não fazia a mínima ideia do que procuravam. Sua confusão deve ter sido visível, pois ele complementou: — A droga, porra!

— Droga...? — murmurou Jungkook, de pura e simples confusão. Por que carregaria droga? E, se queriam droga, porque procurar Jungkook, e não um traficante? Parecia muito, muito contraintuitivo. — Nunca encostei em nenhuma.

— Mentiroso! Por que então você conversa com aquela bichinha?

Jungkook compreendeu. E quis não ter compreendido. Era tão... estapafúrdio. Sem noção. Não conseguia entender como, depois de tantos anos sem Jimin não ter nada a ser incriminado, ainda protagonizar aqueles boatos.

— Ah... — continuou o cara, com um tom de entendimento. Jungkook sentiu um frio percorrer sua espinha. — Será que você contratou o outro serviço? Se tava tão desesperado pra perder a virgindade, perdedor, podia falar com a gente. A gente pode te ensinar uma lição também.

O cara avançou para o cós da calça de uniforme de Jungkook com uma mão; com a outra, acariciou a frente da própria. Lambia os lábios. Jungkook sentiu uma náusea inédita. O coração palpitava de adrenalina. Tensionou as mãos de tanto temor, e os dedos afundaram no terreno arenoso.

Movido pelo desespero, Jungkook pegou um punhado de terra e jogou no rosto do cara. Chutou o ombro dele logo depois, fazendo-o desequilibrar e cair no chão. Levantou-se com pressa para correr para longe dali. Porém, de tão assustado com seu principal agressor, não lembrou do quase-capanga.

Ou melhor, lembrou, quando teve o pescoço enlaçado por ele, impedindo-o de fugir. Debateu-se, arranhou, mordeu e gritou. Não pensava em nenhuma das ações, apenas deixava o desespero orquestrar qualquer músculo. Até porque sua mente estava repleta de pavor. Em ciclos do que poderia acontecer consigo se continuasse ali.

Depois de dar uma mordida especialmente forte, conseguiu se livrar do aperto no pescoço. Sem ar e com a pele latejando, tropeçou mais alguns metros em direção à frente da escola. Os olhos lacrimejaram quando os ouvidos captaram tanta movimentação tão perto. Com a visão embaçada, temeu não conseguir fugir de verdade.

Contudo, algo mudou. Houve uma pausa, como se o ar houvesse congelado e prendido cada um em seu canto. Jungkook enxugou as lágrimas e viu, ali, Jimin. Jimin e Hoseok alguns passos atrás, para ser mais exato.

Jimin não falou nem fez nada além de aparecer. E foi o suficiente para travar os dois garotos. Eles estavam em desvantagem e, pela primeira vez, viam algo diferente no olhar delineado com pedrinhas. Não saberiam especificar, pois Jimin mantinha a expressão mais neutra possível, como sempre, mas havia algo. Talvez aquele fosse o ingrediente espessante do ar.

Um passo para frente de Jimin; um passo para trás dos agressores. Jimin sorriu, um sorriso cruel e raivoso, antes de correr até o garoto mais alto. Conhecia-o. Muito, muito bem. Então, não hesitou em derrubá-lo com uma rasteira limpa e socá-lo no nariz.

Riu, levantou-se e pegou o celular para tirar uma foto do seu sapato de plataforma afundado no peito dele. Olhou para o capanga. Ele entendeu o recado e debandou em um instante .

— Vai embora agora ou sua foto sendo meu tapete de chão vai virar a maior notícia no seu grupinho de amigos. Pega mal, né? Vermelho não é mesmo sua cor. — Jimin recuou um passo do cara que tentava conter o sangramento do nariz. — Da próxima vez, você sai com alguns dentes a menos. Fui claro?

O ex-agressor assentiu rapidamente com a cabeça e seguiu o caminho do outro.

A falta de uma ameaça iminente não foi capaz de amaciar o ar. Jungkook mal piscava observando a cena, e Hoseok olhava para os lados. Jimin, por outro lado, queria desaparecer.

— Hm... Vou deixar vocês dois conversarem, tá bom? — sugeriu Hoseok, já se retirando. — Vou ficar de olho caso alguém volte e tudo mais.

E, com a falta de Hoseok para vigiar Jungkook, Jimin não conteve sua urgência de verificá-lo. Correu até ele, ainda no chão, e ajoelhou-se ao lado, capturando o rosto banhado de lágrimas entre as mãos.

— Meu deus, meu deus... — A voz de Jimin mal saía. — Eles te machucaram? Onde dói?

Jungkook permaneceu em um longo silêncio, encarando Jimin nos olhos. Por causa disso, pôde observar da primeira fileira sua falta de palavras fazer as lágrimas nascerem cada vez mais velozes. Não sabia o que falar, não conseguia conceber o que acabara de acontecer, não sabia especificar onde doía, mas não queria vê-lo chorar. Então, depois de uma respiração funda, tentando inspirar coragem e sua personalidade de sempre, falou, todo dramático:

— Parece que tô morrendo se você me olha assim!

Jogou-se entre os braços de Jimin teatralmente. Jimin quis rir da palhaçada dele. De verdade, com todo seu coração. Quis resmungar um "por que eu namoro esse bobão mesmo?" ou qualquer outra coisa mais leve. Mas apenas o segurou com mais força entre os braços, enterrou o rosto no ombro dele e começou a chorar alto.

— Me desculpe, Jungkook... De verdade, me desculpe... — Suas mãos corriam nervosamente pelos fios pretos e longos do namorado, tentando buscar alguma forma de conforto. Pela proximidade, conseguia sentir o coração dele palpitar, o suor da tentativa de fuga, o calor do rosto pelo choro de desespero e pelo tapa.

— Por que eu teria que te desculpar? Não é sua culpa — respondeu, mas soluços escaparam de sua garganta. Sentiu-se ser abraçado com mais força. — Jimin... Não vou mentir, eu... eu tô tão assustado que nem sei como explicar direito... Mas não é sua culpa.

— Não quer que eu me afaste? Se não fosse eu, isso nunca teria acontecido com você... A verdade é essa.

— Por favor, não se afasta... Por favor. — Jungkook agarrou os ombros de Jimin, desesperado. — Tudo me assusta, mas a única coisa que eu tenho certeza é que quero você aqui.

— O.k...

Passaram um bom tempo em silêncio nos braços um do outro, tentando regular a respiração. Jungkook não conseguia parar de pensar. Não conseguia esquecer de nem um mísero detalhe. Mesmo ciente de que enfim estava tudo bem, não conseguia deixar de imaginar o futuro se Jimin e Hoseok não tivessem aparecido.

Era assustador.

Sempre vivera com medo: dos pais descobrirem sua paixão por balé, dos pais o abandonarem, dos pais o impedirem de vez de ser feliz. Porém, aquele era um novo medo. E se sentiu ainda menor em notar que nunca tinha parado para pensar que Jimin convivia com aquele medo também. A vida ao lado dele parecera, por todo aquele tempo, tão carinhosa, tão cheia de amor. Deixou-se ludibriar pela calmaria, mas era apenas uma redoma, prestes a ser aberta ou quebrada a qualquer momento. Prestes a expô-lo à vida real.

Aquela era a vida real. E ele, que tanto queria se mostrar, lembrou-se de que se esconder nem sempre era covardia, mas proteção.

Com o rosto apoiado no peito de Jimin, sentiu quando ele pegou ar para quebrar o silêncio. Encolheu-se. Talvez fosse pequeno demais para as palavras. Inocente demais.

— Jungkook... Não sei bem o que aconteceu antes de eu chegar, mas queria que você prestasse queixa na diretoria. Aposto que o Hobi te acompanha.

— Eu não acredito na escola. Você prestava queixa, não prestava? — rebateu. O silêncio de Jimin foi resposta suficiente. Além de medo, Jungkook também sentia raiva. Por obrigarem Jimin a ser violento. Respirou fundo, porque aquela era uma imagem que também queria esquecer: Jimin socando, pisando, chantageando e ameaçando. De verdade. Aquele lado de Jimin, apesar de certa forma admirável, também o assustava. Muito. Violência era muito assustadora. — Eles não vão me ouvir.

— Ainda é uma chance... Eles não me ouviam porque eu sou... assim. Eu revido, sou culpado também. Você... você é um bom menino, Jungkook, eles precisam te ouvir.

— Você também é um bom menino...

— Não tenho tanta certeza disso. — Jimin riu, mas sem humor nenhum. Toda vez que a adrenalina e o desespero passavam, sentia-se um lixo. Por um longo, longo tempo, porque a dor nos nós dos dedos permanecia como lembrete do que fizera. — Acho que só às vezes.

— Tudo bem, gosto de bons e maus meninos — Jungkook confirmou e, com certa urgência, ajeitou-se para buscar a boca de Jimin. Aquele selinho não parecia completamente certo. Jimin remoía ter mostrado seu pior lado a Jungkook; e Jungkook também não queria ter visto, em primeira mão, o namorado ser algo que não era, fazer algo que não gostava. Mesmo assim, tinha um gosto de consolo, de compreensão. De que se entendiam, apesar de tudo de ruim. De que se aceitavam, mesmo querendo apagar aquelas memórias.

— Você realmente não vai à diretoria? Seus pais são advogados, eles devem saber o que fazer...

— Confio menos ainda nos meus pais...

Jimin ficou quieto. Sabia que algo acontecera no dia anterior, mas Jungkook já tinha muita coisa para lidar. Então, com um nó na garganta e um amargo na língua, apenas abaixou a cabeça e sussurrou:

— O que você quer fazer agora?

— Tentar continuar o dia do jeito mais normal possível. Quero parar de pensar no que aconteceu.

No que aconteceu, no que poderia acontecer, em tudo. Jimin o protegera, isso faria o boato sobre os dois ir mais longe? Chegaria em seus pais mesmo se não os chamasse para ajudá-lo a depor na diretoria da escola ou em qualquer outro lugar? A chantagem de Jimin foi suficiente para protegê-los? Era tão estranho se sentir protegido por uma chantagem.

Jimin concordou, letárgico. Deixou um beijo na testa de Jungkook e se afastou. Jungkook sentiu-se abandonado como nunca. Foram alguns segundos. Longos, longos segundos. Mas logo, Hoseok apareceu, dizendo que iria acompanhá-lo até o ponto de encontro.

Lá, encontrou Jimin lendo um livro. Com nós dos dedos vermelhos, bochechas úmidas, pálpebras inchadas, joelhos ralados e a pelúcia do macaquinho cheia de terra. Mas na mesma posição de sempre. Esboçou um sorriso o mais convincente possível quando Jungkook chegou.

Despediram-se de Hoseok, que ainda mordia os lábios, aflito, mas deixou-os irem. Caminharam até a casa de Jimin, tensos em vez de alegres pela iminência da hora do almoço e dos beijos.

Jimin levou Jungkook ao banheiro para cuidar dos vergões e dos arranhados, numerosos demais no pescoço. Quis parar de existir. Ainda mais ao notar a forma enfática de Jungkook tentar se deslocar da realidade.

Fez o máximo, mesmo, para parecer o de sempre. Chamou-o de "gracinha" a cada segundo, deu abraços, brincou durante o banho, ajudou a alongar, pediu abraços enquanto preparava o almoço, mas era difícil fingir que nada havia acontecido. Nem ele e nem Jungkook conseguiam.

A comida, sempre gostosa, estava insossa. Era muito difícil colocá-la para dentro quando tanta coisa queria escapar pela garganta. Jungkook viu-se largando os talheres em cima do prato ainda cheio, nauseado. Odiou-se por não conseguir entrar naquela zona de segurança e de carinho que o almoço com Jimin fornecia. Então, aquele detalhe a mais se acumulou com tudo mais que doía.

Doía tanto. Escondeu o rosto para chorar.

De tão concentrado em buscar formas para conter as lágrimas, para parar de pensar, Jungkook não notou Jimin largar os próprios talheres e contornar a mesa. Apenas sentiu o toque gentil em seus ombros guiando-o até o sofá. Encontrou-se deitado com a cabeça no colo dele, o corpo encolhido enquanto chorava. Estava cansado de chorar. Era injusto sofrer por dois dias seguidos. Nem para ter uma folga?

Seus cabelos foram acarinhados por longos minutos enquanto chorava. O colo de Jimin era quente e confortável, compreensivo. E cada detalhe do quão incrível Jimin era, lembrava-o do que obrigavam Jimin a ser. E fazia a vontade de chorar aumentar.

— Quer conversar? — Apesar de ter ensaiado a pergunta por muito tempo, a voz de Jimin saía vacilante. Era tudo muito novo e doloroso. Feliz ou infelizmente, tinha se acostumado a sofrer ameaças, a ser odiado. Porém, ver alguém sofrer o mesmo em seu lugar... era novo e terrível. Naquele instante, quis dar um abraço no Jimin do passado, aquele que se afastou de tudo e de todos. Porque ele estava certo em seu pensamento. Não por merecer ser sozinho, mas porque não podia controlar a ação dos outros.

— Não sei.

— Por quê?

— Você vai se sentir culpado se eu contar?

— Já estou me sentindo... E vou me sentir ainda mais se você não me contar por causa disso.

— Que difícil... — Jungkook meio suspirou, meio soluçou de tristeza. — A sinceridade.

— É... Acho que ela é. Sei que você queria que eu não me culpasse. E entendo, sabe? Se eu me distanciar bastante do assunto e me colocar no seu lugar, eu também não iria querer que você se sentisse mal. Mas só... Não me sinto capaz. De verdade. Sendo sincero, eu queria fugir, te afastar de mim. Se eu paro para pensar em tudo... Só quero chorar e achar um jeito mágico de simplesmente não ter existido.

— Se você não existisse, esse eu que eu gosto tanto também não existiria... — Jungkook afundou mais o rosto nas coxas de Jimin. Passou um tempo em silêncio até a voz abafada voltar a dar as caras. — É muito ruim. Isso. A gente ficar tão mal por consequências que são culpa dos outros. O que leva uma pessoa a parar a vida dela para ir atrás de alguém? Como pode uma pessoa não se incomodar em machucar alguém?

— Eu machuquei alguém hoje...

Jungkook não respondeu de pronto. O silêncio amedrontou Jimin mais que todos os bichos papões de sua infância: a rejeição, o medo de fazer o que queria, o sentimento de inadequação. E os pensamentos o entristeceram; era melancólico notar que não tinha experimentado medos imaginativos de uma criança normal.

Porém, Jungkook enxugou as lágrimas e aprumou-se no sofá. Respirou fundo e olhou bem nos olhos do namorado para murmurar:

— Mas você se incomoda. Eu sei. Desde que a gente voltou, você não para de tremer e esfregar sua mão.

Jungkook segurou a mão de Jimin, trêmula, assim como dissera. Com o indicador, passeou por todo detalhe e pele devagar, tão leve quanto uma pluma. Nos nós dos dedos vermelhos e arranhados, deixou um longo beijo.

— É... Verdade. Odeio fazer isso e odiei mais ainda que você tenha visto.

— Eu também não gostei... Sei que você não gosta e... é meio assustador mesmo, sabe? Uma briga de verdade. Mas... morro ainda mais de medo em pensar o que teria acontecido se você não tivesse aparecido...

Jimin manteve-se em silêncio, com medo de perguntar. Decidiu apenas ouvir, de novo. Jungkook tomou seu tempo, mas queria dizer. A mão pequena e delicada de Jimin nas suas costas, acariciando-o, deram coragem.

— Ele... Acho que ele ia me forçar a fazer coisas... Me acusou de ter contratado aquele serviço seu... Aquele que tinha muitos boatos no segundo ano, sabe?

Jimin, com olhos aguados, puxou Jungkook contra seu corpo, apertando-o com firmeza, como se pudesse impedi-lo de ter sofrido. Os pedidos de desculpas acumulavam-se tanto na garganta que ela poderia explodir a qualquer momento. Contudo, sabia que pedir desculpas machucaria mais Jungkook e poderia impedi-lo de falar as outras coisas que precisava. Então, só respirou fundo. Precisava ser forte.

— Obrigado por ter chegado a tempo, sério...

— Agradeça ao Hobi. Eu estava no ponto de encontro de sempre, só esperando. Ele quem viu aqueles lixos te arrastarem e me ligou desesperado.

— Vou agradecer ele também.

— Jungkook... Você pode começar a voltar da escola e passar o tempo dos intervalos com o Hobi?

— Posso...

— Obrigado.

— O Hobi é legal. Eu só... só queria que pudesse ser com você também.

— Eu também queria...

— Eu... Será... será que isso vai chegar aos ouvidos dos meus pais?

— Não sei. Acho que não. A chantagem vai deixá-los quietos. Para quem se posiciona com violência, como aqueles caras, uma foto humilhante é o suficiente para controlar. É melhor para ele que ninguém saiba ter alguém acima na cadeia alimentar. É por isso que quase ninguém mexe comigo mais... Não pensei que fossem mexer contigo...

— Será que é por isso que criaram os boatos de você... Aqueles do segundo ano? Pra ter formas diferentes de se sentirem superiores?

— Provável. Na lógica deles, deve funcionar...

— Isso é nojento.

— É, sim.

Mais alguns longos minutos de silêncio, mas, dessa vez, foi um silêncio mais leve. Foi um silêncio com abraço. Foi um silêncio em que foi possível prestar atenção na respiração alheia. Os pensamentos assustadores ainda estavam lá, mas não eram os únicos.

— Agora eu tenho certeza, sabe? — Jungkook contou, despretensiosamente.

— Do quê?

— De que eu quero apresentar na competição a coreografia que fiz pra você...

Jimin engoliu em seco, tentando engolir também sua vontade de negar. Quando recebera a coreografia, sentiu-se merecedor da intensidade. Naquele instante, sentia o exato oposto: sentia como se a vida de Jungkook fosse bem melhor sem sua presença. Sem ele, a bochecha de Jungkook continuaria rosada unicamente de esforço. Seu pescoço continuaria imaculado. Sua mente, livre daquelas perguntas assustadoras.

O silêncio de Jimin atraiu a atenção de Jungkook. Uma mera troca de olhares bastou para o bailarino entender o que corroía a paz de seu namorado. Ofereceu, então, um sorriso triste. Inclinou-se para deixar um beijo longo e manso nos lábios macios, sem gloss desde o banho. Jimin, na verdade, já havia se vestido com suas roupas "normais", o que aumentou a urgência do beijo.

— A fênix sempre nasce de novo das chamas, não nasce? — perguntou Jungkook contra os lábios alheios. Quando Jimin arfou em concordância, deslizou sua língua contra a dele. A boca tinha o gosto salgado de melancolia e queria compartilhá-lo também. Aceitar também. — Então! A Morte da Fênix parece bom.

— Parece...

— Vamos ficar bem...

— Vamos...

— E até lá, podemos chorar, né?

— Uhum, óbvio.

— Você me empresta seu colo pra chorar?

— Sempre, sempre.

— Perfeito... Acho que é essa nossa promessa, né?

— Do colo?

— Sim, e da morte. Tô tentando organizar os pensamentos ainda, mas acho impossível as coisas darem sempre certo.

Jimin ficou em silêncio, porque essa era uma coisa que não queria aceitar. Não queria aceitar algo dando errado com Jungkook; não naquele contexto. Não sendo ele mesmo a origem da dor. Jungkook, notando o silêncio alheio, reuniu os lábios com calma.

— Não quero que você fique me fazendo promessas impossíveis, Jimin. Nem que você se afaste de mim. Só quero seu colo pra poder morrer antes de ressurgir.

— Jungkook...

— Por favor... Sério. Quero muito apresentar essa coreo na competição porque quero muito que a gente se veja desse jeito.

Jimin respirou fundo antes de puxar Jungkook para seu colo. Com pernas o rodeando e o peso de toda uma existência o pressionando contra o estofado do sofá, recebeu um último beijo intenso e salgado. Jungkook, então, enterrou o rosto em seu ombro e enlaçou o seu pescoço antes de voltar a chorar, copiosamente, no ninho que receberia suas cinzas.

Jimin deixou as lágrimas umedecerem as próprias bochechas de novo, mas nada disse. Deixou seus dedos angustiados acariciarem as costas alheias. Sentia como se precisasse se reduzir às cinzas naquele instante também. Por não confiar mais na sua visão embaçada, firmou as mãos contra as costelas que reverberavam os soluços sôfregos.

Cumpriria a promessa de assistir à sua fênix morrer.

»»🩰««

Mais um pouco de chororô :') Confesso que não gosto muito de usar violência como conflito em histórias mais fluffy, mas eu estaria me enganando junto ao Jungkook se esquecesse da fama que o Jimin tem desde os primeiros capítulos.

Ah, não se esquece de deixar seu votinho! 💜

Qual foi a cena mais marcante pra você? Para mim são eles conversando um com o outro, de como eles podem ficar magoados mesmo sem ter culpa de nada. Foi bem significativo para mim.

Muito, muito, muito obrigada mesmo a todo mundo que lê, comenta, vota e dá tanto carinho pra minha bebê!! Vocês são meu tudinho!!!!

Beijinhos de luz e até 22/10 às 19:00! Amo vocês!

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