Mais um...
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Reino de Stony Stream, Europa. 1797.
Horas antes.
[Mackenzie Coyle's Point of View]:
Robert também não havia me preparado para desentendimentos com a Princesa. Deve ser por esse motivo que eu havia ficado tão chateada quando discutimos.
- Eu tenho certeza que irá - Garanti sorrindo - Você é diferente... - Falei sincera.
- Eu quero ser como os meus pais e ajudar as pessoas - Disse suspirando. Ao ouvir sobre o Rei e a Rainha, o sorriso em meu rosto desapareceu no mesmo instante.
- O Rei e a Rainha fazem qualquer coisa, menos isso... - Cuspi as palavras.
- Do que você está falando? - Perguntou confusa - Eles são bons líderes! Todos os adoram!
- Claro... - Respondi sarcasticamente. As vezes a inocência de Karina beirava a loucura e isso me irritava.
- Eles ajudam quem precisa e ainda combatem os rebeldes que querem ameaçar a paz do Reino - Argumentou convicta - Você deveria ser grata por isso!
Eu a olhei, negando com a cabeça, rindo sem vontade alguma. Como eu pude cogitar a possibilidade dela ser diferente, sendo que a garota somente destila o que seus pais a ensinam como um verdadeiro cão adestrado.
- Vossa Alteza, nunca viu o mundo lá fora, porque vive presa em um Castelo como se o mundo fosse um lugar perfeito - Falei com um pouco de raiva misturada com decepção - É tão protegida e manipulada que nem sequer sabe quem é o verdadeiro inimigo...
- Eu sei muito bem quem são nossos inimigos... - Respondeu séria.
- Por um minuto, eu realmente achei que você fosse diferente - Falei com certo nojo - Mas você é exatamente como seus pais... Tenha um ótimo Reinado, Princesa - Disse, antes de me retirar do lugar, a deixando sozinha.
[...]
- Que mau humor é esse? - Tiffany perguntou ao se aproximar. Naquele dia, cheguei ao acampamento irritada, Karina Brandman era uma completa estúpida.
- Aposto que brigou com a princesa - Max disse divertida. Lauren imediatamente olhou para mim com uma expressão indecifrável.
- Vão se foder - Esbravejei, levantando-me. Eu queria ficar sozinha e praguejar o nome da Princesa em pensamentos até cair no sono.
- Ela definitivamente brigou com a Princesa - Max sussurrou para Tiffany que concordou com a cabeça.
[...]
Durante os dias seguintes, eu evitava encontrar com a Princesa, por não querer vê-la. Por esse motivo, troquei o meu lugar na cozinha pelos estábulos naquela semana. Porém, era impossível me esconder para sempre dela.
- Oi... - Ouvi a voz timidamente atrás de mim. Eu não precisava me virar para saber quem era.
- Vossa Alteza - Disse sarcasticamente, reverenciando-a - Deseja alguma coisa?
- Nós podemos conversar? - Perguntou esperançosa.
- Eu estou ocupada, Vossa Alteza, creio que esteja vendo - Respondi ironicamente, voltando a alimentar os cavalos.
- Isso é uma ordem! - Falou firme. Ela estava de brincadeira?
- Eu não me importo - Respondi, erguendo minhas sobrancelhas - Estou ocupada demais para os seus dramas.
- Mac... Por favor... - Pediu choramingando dessa vez.
Apenas a ignorei, ficando de costas para ela, como se a Princesa nem estivesse ali.
- Por que você simpatiza com os rebeldes? - Perguntou de uma vez. Ela realmente só podia estar de palhaçada, ri desacreditada de sua pergunta. Ela era tão alheia a tudo assim?
- Para alguém ser herói ou vilão em uma mesma história basta mudar o ponto de vista - Respondi com certa raiva, olhando para ela. Obviamente, Karina não sabia sobre o que eu estava falando - Não acha, Princesa?
- Os heróis não seriam aqueles que lhes protegem? - Perguntou com o mesmo tom. Eu podia sentir a irritação dentro de mim ganhar força. Karina sequer tinha a capacidade de olhar ao seu redor?
- Vocês não protegem o povo, vocês protegem seus jardins, suas casas e suas terras. E se alguém tentar questionar sua autoridade, nós morremos! - Esbravejei.
- Eu não quero isso para o meu Reinado, eu quero ser diferente! Eu quero ajudar as pessoas! - Respondeu igualmente irritada.
- Como você será diferente se aparentemente suas únicas preocupações são problemas fúteis de menina rica que anda de cavalo e essas merdas?! - Disse impaciente. Somente promessas falsas e palavras não mudariam nada.
- Você é uma idiota, Mackenzie Coyle! - Praguejou, antes de sair do estábulo pisando firmemente no chão.
- Acho que temos isso em comum! - Falei alto o suficiente para que eu ouvisse, enquanto se afastava.
[...]
- Cuidado aí! - Tiffany pediu ao quase receber uma flechada.
- Acho melhor você voltar - Lauren disse séria - Você claramente está com a cabeça nas nuvens, irá acabar machucando alguém.
- Cabeça nas nuvens? - Max perguntou retoricamente - Isso tem outro nome - Implicou.
Mostrei o meu dedo médio para a ruiva, antes de me virar para voltar ao acampamento. Quanto mais eu pensava, mais irritada eu ficava, empurrando impacientemente as folhas pelo caminho.
Karina Brandman era um idiota, sequer conseguia enxergar por quais motivos os rebeldes lutavam. Eu acreditava que ela podia ser diferente, mas ela exatamente como todos os outros. Sempre vendo os revoltosos como inimigos quando na verdade sempre foi a realeza.
Idiota, mil vezes idiota!
[...]
Após o incidente, somente vi Karina novamente em seu casamento.
Como planejado a morte do Príncipe Arthur foi bem sucedida, apesar da minha mais recente perda. Durante as duas semanas seguintes, não apareci no Castelo, eu estava de luto. Eu queria ter o meu momento sozinha, antes de voltar a encenar uma Mackenzie que não havia perdido ninguém.
- Ei... eu sinto muito pela sua mãe - Max disse, tocando meu ombro.
- Obrigada - Eu respondi, limpando a lágrima que descia pelo canto dos meus olhos.
- Não fica triste, agora ela deve ser uma grande e brilhosa estrela no céu - Max sorria para mim com compaixão.
- Espero que ela tenha tido a oportunidade de conhecer a sua mãe de lá - Respondi sorrindo de volta para a garota.
- Eu aposto que sim - Max garantiu.
Não demorou muito para que a notícia sobre o fiasco do Casamento e a morte do garoto se espalhassem por todo o Reino, atraindo rebeldes de fora das muralhas para a nossa invasão. Ganhávamos cada vez mais força, fazendo a Realeza temer o início de uma Nova Guerra. Também ouvi sobre como estavam chamando Karina pelos Reinos e como especulavam que o seu Reinado seria amaldiçoado.
Eu sentia um pouco de pena dela, pelo pouco tempo que tínhamos juntas, eu percebia o quanto a Princesa era insegura e importava-se com a opinião das pessoas. Deveria ser triste e solitário viver pela aprovação dos outros.
- Está pronta para voltar? - Lauren perguntou preocupada.
- Sim... - Respondi, arrumando minhas coisas.
- Eu sinto muito pela sua mãe - Disse, alisando minhas costas.
- Obrigada... - Agradeci sorrindo para ela.
Após o meu luto, eu precisava voltar ao Palácio. Para que o plano funcionasse, todos contavam comigo.
Porém, o pior de tudo: Robert não havia me preparado para reconciliações com o inimigo. Muito menos, me alertou como aquilo me deixaria inexplicavelmente bem.
Do corredor, vi Karina esfregar as mãos em seu rosto, adentrando a Biblioteca. Caminhei lentamente até o lugar, olhando atentamente para os lados conferindo se não havia ninguém por perto. Não demorei muito para encontrar a garota sentada com o livro aberto em sua perna.
- Oi... - Falei ao me aproximar. Karina tirou os olhos de seu livro assustada.
- Você veio... - Ela sussurrou completamente desacreditada.
- Você chamou... - Respondi de volta - Eu te vi de longe e você parecia triste... Eu sinto muito pelo que aconteceu... - Fingi me importar, sentando-me ao lado da garota. Eu realmente não me importava com Arthur, aquele garoto seria um péssimo Rei e marido, era mimado e imaturo. Apesar de ainda estar um pouco irritada com Karina, a ver triste me deixava um pouco mal e ter consciência sobre tudo que falavam sobre a garota, piorava ainda mais.
- Obrigada - Karina sorriu fraco.
- Você estava chorando? - Perguntei. Sem perceber, ergui minha mão até a bochecha da garota.
- Não... - Respondeu, com os olhos um pouco arregalados. Balancei a cabeça, quebrando o contato.
- Então acho que seus olhos estão vazando - Disse descontraidamente, fazendo Karina rir inexplicavelmente. A olhei surpresa, era a primeira vez que ouvia a risada da Princesa. Eu sabia que pessoas da Realeza tinha entre suas milhares de regras estúpidas que rir era proibido, pois enfeiava seus rosto. Quanta idiotice!
- Você deveria rir mais vezes, Princesa - Falei casualmente. O som de sua risada era gostosa de se ouvir.
- Obrigada... - Ela respondeu sem graça, olhando para o chão.
- Sabe... - Comecei a falar encostando a cabeça na prateleira atrás de mim - Foi bem legal, o que você fez... sabe...? Sobre dar as sobras para os pobres... - Expliquei coçando a nuca - Eu meio que não esperava isso de você...
- Eu te disse que queria ser diferente - Karina respondeu firmemente.
Eu não acreditava em suas palavras, todos daquela família eram iguais. Então apenas perguntei o que queria saber.
- Qual será o futuro do Reino?
- Meu pai está procurando um novo príncipe.... As coisas lá fora estão bem feias pelo que ouvi falar... - Karina dizia cansada - Mas parece que todos os problemas se resolvem com um casamento...
- Acho que seus problemas fúteis estão te deixando exausta, Princesa - Respondi sorrindo fraco para ela. Deveria ser uma merda ser princesa, eu conseguia sentir a exaustão em suas palavras e em sua postura.
- Eu só quero ser outra pessoa... - Karina suspirou. Nascer privilegiada não deveria ser o sonho de todos?
- Quem você gostaria de ser, Princesa? - Questionei intrigada.
- Qualquer pessoa normal - Ela respondeu sorrindo fraco - Queria que minha única preocupação fosse quais sapatos novos eu iria comprar...
- Você é uma idiota... - Revirei os olhos, lhe dando um cotovelada. Pessoas ricas realmente tem um senso de humor questionável.
- Você poderia ser presa por bater em uma Rainha, sabia? - Karina implicou de volta, me devolvendo a cotovelada.
- Bem... quase Rainha, o seu Rei está morto - Falei negando com a cabeça - Nessas horas, ele já deve estar apodrecendo - Disse descontraída.
- Você é perturbada, Mackenzie Coyle! - Karina dizia incrédula.
- Só estou dizendo - Dei de ombros, sorrindo sem mostrar os dentes para ela.
- Mas e você? Nunca pensou em ser alguém diferente? - Karina perguntou curiosa.
- Bem... se você tivesse a minha vida, você iria querer ser outra pessoa - Sorri triste, pensando por todas as merdas que já havia passado desde que me entendo por gente. Assim como todas as pessoas que eu conhecia.
- Ei Mac... Eu sinto muito - A princesa disse triste, repousando sua mão nos meus ombros. A olhei inconformada, seus pais eram a merda dos responsáveis por tudo isso, como ela poderia sentir muito?
- Não, você não sente... - Falei, sorrindo sem vontade alguma - Você tem uma família perfeita, com a merda de um Castelo perfeito, esbanjando suas riquezas e farturas! Então não... você não sente! -Empurrei a sua mão de meu ombro. Eu não quis ser rude com ela, mas naquele momento, eu falava o que segurava por muito tempo.
Karina sorria triste para mim, seus olhos demonstravam compaixão. Fiquei um pouco surpresa, esse não seria o momento que Karina defenderia seus pais e a realeza com unhas e dentes?
- Eu realmente não entendo... - Karina falava me olhando - Mas, sabe... Tá tudo bem, você falar sobre o que sente... Nem todas as feridas são do tipo que sangram... E eu realmente quero te entender...
- Isso é alguma citação de Romeu e Julieta? - Perguntei divertida para fugir daquele assunto.
Mesmo que eu odiasse a sua família e estivesse chateada com ela, eu sentia que Karina era uma boa pessoa e que ela não estava dizendo aquelas coisas apenas para me bajular. Porém, a Princesa e eu éramos como água e óleo, existia um oceano de distância entre nós. Quando isso tudo acabasse, sequer lembraríamos uma da outra. Eu não podia confundir as coisas.
- Você é tão idiota! - Karina revirou seus olhos, cutucando minha barriga.
- Ei! Eu tenho cosquinhas! - Alertei, contraindo a região.
- Ah, é? - Karina desafiou, deixando o livro ao seu lado.
- Estou falando sério! - Falei, arrastando-me para mais longe da Princesa.
- Eu não acredito em você! - Karina disse, avançando para cima de mim.
- Alguém vai nos ouvir! - Eu falava desesperada para que a Princesa desistisse. Porém, me ignorando completamente, Karina aproximou-se fazendo cosquinhas em minha barriga.
- Peça por favor! - Karina ordenava.
- Jamais! - Disse, recebendo um novo ataque incessante de cócegas. No canto dos meus olhos desciam lágrimas. Cosquinhas era realmente meu ponto fraco.
- Fale por favor! - A Princesa dizia, porém eu mal conseguia respirar. Acabei tombando de costas no chão sem forças de tanto rir.
- Por favor! - Pedia desesperadamente - Por favor, pare!
- Eu não ouvi direito - Karina dizia, posicionando em cima de mim para que eu não fugisse.
- Eu disse por favor! - Eu podia sentir minha barriga e sua bochecha doerem.
- Agora sim... - A Princesa disse, parando as cosquinhas. Naquela altura, eu tinha certeza que meu rosto estava vermelho. Eu tentava desesperadamente recuperar o fôlego.
- Princesa? - A chamei - Você ainda está em cima de mim... - Ela só então pareceu perceber, como sempre Karina e seu jeito desligado de ser.
- Oh... - A princesa disse sem graça, flexionando seus joelhos para levantar-se. Porém, seu pé prendeu na minha roupa, a fazendo perder o equilíbrio, tombando para frente. Pelo reflexo rápido, a segurei pelos ombros para que nossas cabeças não se chocassem.
Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir a sua respiração bater contra o meu rosto. Quase que por impulso, quebrei o nosso contato visual olhando para a boca de Karina. A boca da Princesa parecia ser perfeitamente desenhada e, inexplicavelmente, eu estava curiosa para saber como seria tocá-los.
Ao perceber que Karina fez o mesmo, senti borboletas ruins em meu estômago como se estivessem prestes a fazer algo errado. E eu não estava me importando em errar naquele momento.
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Hihihihi, cadê geral que me xingou agora? Bando de homofóbico!
Até a próxima.