Camellia

Por Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... Más

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Por Hunterina

nós estamos felizes, livres, confusos e solitários ao mesmo tempo

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A ansiedade para chegar logo a hora de ir à casa dos Beaumont fez com que cada segundo do dia de Bianca parecesse se estender por horas. Porém, perto do final da tarde, sentada nas mesas externas do café com Zoe, Lisa e seus milkshakes (o combinado foi que cada uma pagasse um sabor e revezassem para todas poderem provar), quase quis inventar uma desculpa para se atrasar quando Emily avisou por mensagem que estava indo pro centro.

Daniel sempre chegava o mais tarde possível quando precisava voltar para casa e, para não levantar suspeitas, Emily (e Bianca) voltaria no horário habitual, após o encerramento de suas atividades extracurriculares, enquanto o irmão chegaria sozinho mais tarde.

Perto das 17h, uma BMW marinho parou em frente à cafeteria e Bianca se despediu das amigas com relutância antes de correr em direção ao carro. Ainda de bom humor depois do dia de compras e as agradáveis horas de conversa, tentou até puxar assunto com Emily, que a respondeu no tom apático de sempre. Perguntou sobre seu dia e as aulas que teve durante a tarde e descobriu que foram aulas de francês e clube de debate (Bianca nem sabia que isso existia fora dos filmes). Apesar de responder a tudo com educação, a postura reclusa de Emily não abria qualquer espaço para estender o assunto e Bianca logo decidiu passar o resto da viagem em silêncio.

A casa dos Beaumont ficava na cidade vizinha, a uma hora e meia de distância. A visitante se esforçou para conter a expressão boquiaberta quando passaram pela portaria do condomínio e pôde ver as mansões ostentosas. Sempre soube que a família de Daniel tinha dinheiro (não era bem uma exceção entre os alunos dos internatos da região), mas não deixava de ser surpreendente deparar-se com casas como as que só via no Instagram de celebridades.

Andaram por quase cinco minutos em ruas amplas e espaços arborizados entre casarões até pararem em frente a uma mansão moderna de três andares. Bianca aproveitou que estava com o celular na mão e discretamente bateu uma foto para mandar para Natalie, com a legenda "Por que rico gosta de portas enormes?". A namorada da irmã também vinha de uma família de renome e muito dinheiro, e as Conceições se divertiam debochando de costumes excêntricos.

— Obrigada, Antônio. Tenha uma boa noite e um bom final de semana. — Emily desejou enquanto saía do carro, depois de quase uma hora em completo silêncio.

Bianca também agradeceu a carona, colocou a alça da mochila em um ombro, a da bolsa no outro, e saltou do carro. Emily estava parada em frente ao caminho de pedra que levava à varanda esperando por ela. Não ofereceu ajuda nem falou nada, mas esperou até Bianca chegar do seu lado para continuar até a porta de entrada gigantesca.

— Que casa bonita! — Bianca deixou escapar, mas quis morder a língua. Por que ainda estava tentando puxar assunto com ela, que não fazia questão de lhe dirigir nem meia palavra? Só de birra, ficaria tão quieta quanto. Estava ali para ver Daniel mesmo!

Emily deu um sorriso educado:

— Obrigada — murmurou e se virou para digitar uma senha no cadeado eletrônico. Uma fresta da porta se abriu e ela empurrou o resto, segurando-a para Bianca passar. Enquanto descalçava seus mocassins e Bianca fazia o mesmo com os coturnos (que definitivamente não faziam parte do regularmente do colégio), falou, particularmente mais baixo do que seu tom habitual: — Minha mãe está em casa, ok?

Bianca assentiu, tomando o cuidado de ser discreta, sem saber se Emily falava aquilo num tom normal ou de "cuidado", como Daniel sempre se referia à mãe.

— Pode usar minha pantufa — Emily ofereceu e colocou no chão um par cor-de-rosa para Bianca usar. A convidada agradeceu, mas achou que Emily se esforçava para falar o mais baixo possível, como se não quisesse despertar um animal perigoso que podia estar à espreita.

A anfitriã assumiu a frente e guiou a convidada pelos cômodos enormes que se dividiam por arcos ostentosos. Tudo era decorado com muito bom gosto em tons claros e não havia nem uma almofada fora do lugar. Quando percebeu, Bianca estava até trancando a respiração, como se pudesse disfarçar o quão deslocada se sentia naquele casarão.

Os espaços eram tão amplos que só ouviu as vozes femininas pela primeira vez apenas quando chegaram à sala de estar. Atravessaram-na para chegar na sala de visitas, onde duas mulheres estavam de costas para a entrada, sentadas em poltronas acolchoadas. Seguravam taças de vinho tinto e conversavam em outra língua e Bianca precisou se esforçar um pouco para reconhecer que era Italiano. Sobre a mesa de centro, diversos doces chiques estavam dispostos em bandejas de metal.

— Oi, mãe.

Apenas quando Emily chamou, as mulheres se deram conta das visitas. Bianca jamais confessaria, mas de alguma maneira esperava que uma delas tivesse chifres ou um rabo pontudo pontudos, e assim reconheceria a mãe de Daniel. No entanto, as duas mulheres tinham aparências jovens, peles brancas sem qualquer marcas de expressão e cabelos recém cortados e hidratados. Só pôde presumir que a loira era a dona da casa porque foi ela quem se levantou, enquanto a de cabelos escuros simplesmente pegou seu Smartphone.

— Oi, filha — cumprimentou, numa voz cantada. — Você chegou cedo. Quem é sua amiga?

Bianca sentiu um arrepio percorrer o corpo. Não porque os olhos verdes fossem particularmente assustadores (na verdade, fora o número surpreendente de jóias e a maquiagem pesada para um final de tarde em casa, a mulher parecia... normal), mas porque antecipara tantas maneiras daquele encontro sendo um desastre que um simples olhar já a deixava ansiosa.

— É a Bianca. Eu perguntei essa semana se ela poderia dormir aqui.

— Ah claro, verdade! — Para a surpresa de Bianca, ela abriu um sorriso que parecia bastante simpático: — Olá, querida! Seja bem-vinda. Meu nome é Angela e essa é minha amiga Chiara. — A mulher virou para a outra e disse alguma coisa em italiano que lhe arrancou um risinho. Chiara desviou o olhar do celular para dar um aceno de cabeça sem vontade.

Apesar de estar pensando "que diabos está acontecendo?", Bianca não deixou o sorriso vacilar. Quem sabe se conseguisse fazer a mãe de Daniel gostar um pouquinho dela...

— Prazer! — falou. Atrás das costas, suas mãos suavam. — Sua casa é muito bonita!

— É, não é? — Angela abriu mais o sorriso e Bianca soube que falou a coisa certa. — Reformamos ela completamente há três anos, o projeto foi do De Lucca.

Presumiu que fosse o nome de um arquiteto. Sem fazer a menor ideia do que deveria responder, ergueu as sobrancelhas e suspirou um "uau" enquanto olhava ao redor. Angela falou mais um pouco sobre o projeto (que Bianca entendeu tão bem quanto se ela tivesse continuado falando em italiano) e só depois de algum tempo voltou a olhar para a convidada:

— Querida... Ahn, como é mesmo?

— Bianca!

— Bianca, Emily nunca tinha te trazido aqui, né? — Angela se aproximou um pouco e apoiou a cintura no encosto da poltrona. Era alta, com mais de 1,75, e Bianca lutou contra a vontade de encolher os ombros. Queria que Emily respondesse, mas a colega estava igualmente imóvel ao seu lado. A mulher tomou mais um gole da taça de vinho e perguntou: — Qual seu sobrenome?

— Ahn... Conceição.

— Hm, não conheço. Seus pais trabalham com o quê?

Bianca percebeu Emily trocando sem parar a perna de apoio, parecendo um pouco desconfortável.

— Ah... Meu pai trabalha para uma corretora de seguros e minha mãe é professora de artes — respondeu, um pouco confusa pelo interesse no emprego dos seus pais.

Angela franziu a testa, como se Bianca tivesse respondido "palhaços de circo" ou algo do tipo:

— Entendi. E você estuda com a Emily?

— Sim, entrei esse ano no Madre Cordélia — informou, ainda que ambas estivessem usando o mesmíssimo uniforme. — Eu e ela estamos no mesmo ano e fazemos dança juntas.

— Ah é? Ballet ou Street?

Street!

— Ah, eu imaginei, porque você é mais encorpadinha mesmo — comentou e direcionou um olhar reprovador para a filha. — Já a Emily está tão magrela, não come nada... Eu falo que ela tem sorte de ainda ficar bonita de collant.

O sorriso educado de Bianca se transformou num amarelo conforme processava aquelas palavras. Como assim "porque você é mais encorpadinha"?. Quer dizer, aquela mulher falava aquelas coisas num tom tão simpático que Bianca estava custando a entender se queria mesmo ser ofensiva ou ela quem estava procurando por pelo em ovo... E, minha nossa, ela realmente conseguiu criticar o seu corpo e o de Emily em uma mesma frase?!

— Mãe... — A filha reclamou, encarando a mulher com uma expressão incrédula.

— Ai, o que foi?! Não vai começar a criar causo na frente da sua amiga, né? — Angela revirou os olhos. Então virou para sua convidada e comentou mais alguma coisa em italiano, arrancando-lhe outra risadinha. — Escuta, a mãe vai sair para jantar hoje com as amigas. O Daniel dorme aqui também, vocês três se viram pra comer, né?

— O Dani vem? — Emily fingiu surpresa (muito bem, na opinião de Bianca). — Eu falo com ele depois então, não se preocupa. A gente vai subir.

— Se comportem! — Angela pediu, no mesmo tom cantado de antes que agora quase fez Bianca revirar o estômago. Como assim ela havia feito um comentário daqueles e simplesmente fingiu que não era nada?

Emily deu um sorrisinho meio falso e fez um movimento de cabeça para chamar Bianca, que talvez tenha a seguido com um pouco de pressa, ansiosa para se afastar da presença sufocante. As duas caminharam em silêncio e apenas quando começaram a subir a escadaria, Emily sussurrou:

— Olha, desculpa pelas coisas que ela falou. — Pediu, extremamente sem graça. — Ela consegue ser muito sem noção às vezes.

— Ah... Tudo bem. O Daniel me falou que isso podia acontecer. — Bianca deu um sorriso pessimista. Apesar de não ser mentira, na verdade o maior alerta veio de Zoe, naquela tarde:

"É, eu já tô acostumada com a figura. Falou com o sorriso mais simpático do mundo que eu era 'bem bonita pra alguém tão moreninha' da primeira vez que o Daniel me apresentou. Já se prepara pra ouvir merda."

Emily abriu a boca para falar uma, duas vezes, mas não pareceu encontrar as palavras certas e apenas abaixou a cabeça enquanto murmurava mais uma vez um pedido de desculpas. Então as duas seguiram pelo extenso corredor do segundo andar. Observando-a de costas, Bianca pensou como sempre a achou uma garota muito estranha, mas associava a atitude reservada e de poucas palavras à arrogância e desprezo...

Era tão difícil entendê-la... Porque sim, Emily já tinha sido muito legal com Bianca (como aquela vez na aula de dança em que se aproximou para elogiá-la logo depois da professora Gisele humilhá-la na frente da turma), mas ao mesmo tempo, era uma das amigas mais próximas de Nicole e Marcela até parecia se divertir com as provocações que faziam com Bianca.

A Conceição meio que esperava ver uma Emily completamente diferente quando estivesse em casa, mas diante de si ainda via a mesma garota reclusa de expressão melancólica. Bom, com uma mãe daquelas... Não era surpresa que ela e Daniel tivessem algumas atitudes tão estranhas.

O que sempre a levava a pensar... Como podiam ser tão distantes um do outro? Bianca sequer conseguia imaginar um mundo em que não pudesse correr para os braços da irmã quando algo ruim acontecesse. Ou em que não sentisse o ímpeto de ajudá-la a afogar as mágoas com pipocas e filmes de comédia quando Natalie tinha problemas. Claro que com a faculdade da irmã e ela no Madre Cordélia, seu contato ficou mais escasso, mas bastava que se reencontrassem para parecer que ainda moravam juntas.

Nunca viu Daniel e Emily saindo juntos ou sequer conversando, exceto pelos momentos em que não tinham escolha além de voltar para casa. A única coisa que sugeria qualquer cumplicidade era a estratégia de levarem um amigo para casa como "disfarce" para o outro e, na opinião de Bianca, isso parecia algo que exigia confiança. Para ela, parecia uma relação estranha onde já existiu proximidade, mas acabou caindo num afastamento constrangedor.

Parou com a pseudo análise quando chegaram ao quarto de Emily. A porta branca tinha um enfeite de crochê infantil com o nome dela. Perguntou-se se atrás da porta vizinha era o quarto do Daniel, e sentiu um impulso infantil de curiosidade. Como era aquele lugar tão íntimo? Bianca apostava que contava com um computador de última geração, uma cama enorme e diversas prateleiras com coisas nerds e caras.

Mas apenas descobriria mais tarde... Ainda assim, encontrou igual interesse no de Emily. Dividiam quarto no internato e, quem visse de fora, talvez até achasse que Bianca vivia sozinha nele. A parte da colega sempre estava numa arrumação militar e não possuía qualquer enfeite, fotografia ou indício de personalidade além de eventuais estampas de gatinhos. Bianca, que passava a maior parte do seu tempo livre jogando jogos online ou lendo fanfic, às vezes se pegava pensando o que diabos uma menina como a Emily fazia, que interesses ou hobbies estranhos cultivava?

Logo percebeu que a arrumação militar permanecia a mesma no quarto em tons rosa bebê, lilás e amarelo claro. Porém, pela primeira vez, conseguia enxergar um lapso do que a garota era por trás da eterna languidez: sobre a escrivaninha haviam fotos de família, mas o que mais chamava a atenção eram os vários registros dela (rindo!) ao lado de Daniel, em meio a outros tantos quadros com fotos dos mesmos dois gatinhos; se esperava que ele tivesse um computador foda, surpreendeu-se com o setup de última geração no quarto de Emily, junto com um notebook e uma televisão imensa; viu estantes lotadas com os mais diversos livros organizados minusciosamente por cor; e suspirou com o quadro em alto relevo da personagem Morgana do League of Legends na parede.

Por fim, reparou nos três expositores de madeira no canto oposto do quarto. Se não esperava encontrar nada do que vira até então, definitivamente não estava pronta para a descoberta de que Emily colecionava brinquedos! No primeiro expositor, ainda dentro das caixas ou em suportes, haviam coleções de Monster High de várias edições; o segundo estava abarrotado de cenários e animaizinhos de Sylvanian Families simulando uma verdadeira cidade em funcionamento; e, por último, quatro prateleiras ordenadas por geração de My Little Pony. Tudo estava organizado no mais perfeito esmero, por cor, tamanho ou ordens que Bianca sequer entendia.

— Minha nossa, você faz coleções? — Suspirou e imediatamente largou a bolsa e a mochila no chão para se aproximar (com todo o cuidado do mundo!) dos expositores. Olhou para Emily, com os olhos brilhando.

— Ah... São brinquedos de quando eu era criança — murmurou a dona do quarto, um pouco sem jeito. — Sempre esqueço de jogar fora.

Mas estava óbvio que mentia. Bianca não era qualquer entendedora daquele nicho específico, mas tinha actions figures o suficiente para diferenciar uma coleção despretensiosa de criança de algo tão bem cuidado, guardado e exposto assim.

Dã, Emily era amiga de Nicole! Era óbvio que sua primeira reação seria desconversar aquela possível obsessão que poderia ser alvo de piada. Querendo muito mesmo mostrar que não era aquele tipo de pessoa, Bianca arriscou:

— A minha preferida sempre foi a Draculaura. Eu nunca tinha visto ela com essa roupa, é de algum filme?

— É da edição Fearleading Squad...

Emily parou no instante em que percebeu que estava falando demais, mas era tarde... Bianca estava com um sorriso malicioso quando a encarou:

— Brinquedos de quando você era criança, então? — provocou. — Mas não me entenda mal, eu estou morrendo de inveja!

A dona da coleção se aproximou e Bianca viu a desconfiança em seus olhos:

— Tudo bem, não é "de criança". A de My Little Pony era da minha irmã mais velha... Quer dizer, a metade dela, a outra parte eu consegui. Então acabei gostando da comunidade de colecionadores de brinquedos e comecei as outras.

— Que foda — Bianca falou, com sinceridade. — Eu acho incrível, mas não entendo muito. Alguma dessas é, tipo, muito rara?

— A Draculaura Collector — Emily apontou para a parte mais alta do expositor onde estava uma boneca ainda na caixa em formato de caixão e abriu um sorriso orgulhoso. — Demorei meses pra encontrar quem vendesse.

— E qual é sua preferida? Você gosta dos filmes também? Eu tenho um pouco de vergonha de admitir que já vi quase todos...



Daniel não sabia muito bem o que esperar quando abriu a porta do quarto da irmã. Emily era uma pessoa fechada e, ainda por cima, amiga de Nicole, a garota que tornava a vida de Bianca um inferno. Só esperava que sua convidada não se importasse muito de aguentar algumas horas com ela.

Agora, encontrar as duas jogadas na cama entre dezenas daquelas bonecas estranhas que a irmã colecionava definitivamente estava entre as últimas coisas que esperava ver lá dentro.

— Dani! — Bianca cantou. Estava segurando em uma mão um pônei amarelo e uma escovinha minúscula de plástico na outra.

— Em nome de Deus, o que está acontecendo? É por isso que você parou de me responder?! — ele perguntou para Bianca, mas não conseguiu conter um sorrisinho. — Não, quer saber? Prefiro não ouvir explicação.

As duas trocaram um olhar cúmplice que Daniel jamais desconfiaria significar que passaram as últimas duas horas falando sobre coleções, filmes infantis e até assistiram a um especial de Monster High.

Emily teve um pouco de dificuldade para se abrir no começo, mas a insistência de Bianca em falar do seu assunto favorito e a sinceridade por trás de cada pergunta as ajudou a encontrar assuntos que facilitassem a aproximação. Quem imaginaria que a irmã de Daniel já jogou LOL com ele? E tinha quase o mesmo rank!

— Então, a mãe ainda tá em casa e vai sair umas dez. Tem problema a gente jantar esse horário? Aí pedimos alguma coisa, eu e você, ok? — Daniel falou, olhando diretamente para Bianca.

— Ué, e a Emily?

— Ela se vira — Daniel deu de ombros.

— Não se preocupa, eu peço algo pra mim.

— Tá, mas por que não pedimos uma pizza os três? — Olhou de um irmão para o outro.

— Ahn... Sei lá. — Daniel olhou para a irmã, que parecia igualmente surpresa com o convite. — Você quer?

Quer dizer, ele não tinha absolutamente nada contra a presença de Emily, mas com o passar do tempo, a irmã foi se fechando tanto que parecia que eles nem falavam mais a mesma língua. Foi natural que acabassem se afastando. Na verdade, imaginava que Bianca ficaria brava por precisar fingir ser amiga dela até o momento em que pudesse ir para o quarto dele.

— Eu não quero atrapa-

— Não! Nem mais uma palavra — Bianca a ameaçou, apontando o focinho do pônei de plástico em sua direção. — Está decidido. Qual é o seu sabor favorito?

— Ótimo, isso vai te fazer mudar de ideia — Daniel as encarou com um sorriso cínico enquanto se apoiava no batente da porta. Bianca o achou lindo, ainda usando o uniforme azul e branco do Colégio Cruz e Souza e com os cabelos desordenados após um dia longo. Sentiu seu coração acelerar, lembrando que naquela noite...

Emily fuzilou o irmão com os olhos e virou para Bianca com um sorriso sem graça:

— Eu gosto de lombo com abacaxi...

Daniel se apoiou nos joelhos de tanto rir da expressão que Bianca fez, o sorriso desaparecendo em segundos. Os dois já tinham tido a famosa conversa de "fruta na pizza é coisa de maluco" e Bianca não poupou ofensas ao sabor favorito da mãe.

— Eu juro que não é tão ruim assim! — Emily tentou se explicar: — Eu também achava estranho até provar.

— Não, claro. Quer dizer, não podemos ter preconceito com o gosto podre e fedorento dos outros né? — Brincou com Daniel e Emily deixou um riso escapar.

— Beleza, vai ser metade essa nojeira, metade bacon — Daniel declarou.

— Ei! Eu não escolho? — Bianca protestou.

— Claro que não, como punição por deixar a dona do mau gosto opinar.

Os irmãos trocaram algumas alfinetadas e Bianca deu um sorriso genuíno. Quer dizer, ela falaria tanta baixaria para Natalie se a irmã sugerisse abacaxi na pizza que provavelmente terminaria presa, mas ficava feliz em ver que os dois eram amigos por trás daquela distância. Então, lembrou de uma coisa:

— Ahn, a gente ia ver um filme depois, né? — perguntou para Daniel.

— Vamos, você queria ver aquele de terror novo, não?

— A gente não pode assistir na sala? — Bianca perguntou. — Daí a Emily vê com a gente... E se a mãe de vocês perguntar, nós que te convidamos.

Daniel ergueu uma sobrancelha, sentindo-se mordido apenas pela sugestão de dividir Bianca — ele meio que esperava que ela fosse do tipo medrosinha e se agarrasse nele durante o filme. Será que ainda faria isso com a irmã dele no mesmo cômodo?

— Eu não gosto muito de filmes de terror — Emily murmurou, um pouco envergonhada. — Vocês podem ver depois, não tem problema.

— Ah, droga... Pera, você ainda não viu Toy Story 4, né, Emily?

— Calma, quê? — Daniel perguntou, mas nenhuma das meninas olhou para ele. — De jeito nenhum!

— Não! — Emily soltou, sem conter a animação. Estava acostumada a ver filmes de animação sozinha porque nenhuma das suas amigas tinha interesse!

— Vamos ver hoje então! Pode ser, Daniboy? Por favorzinho? — Fez um biquinho para ele, batendo os cílios.

O garoto se preparou para negar efusivamente, mas o "por favorzinho" o atingiu em cheio. Como se ele tivesse a capacidade de negar qualquer coisa que Bianca pedisse...

E, no fundo, era bom ter uma oportunidade de fazer alguma coisa com Emily (algo leve, que não parecesse forçado por nenhum dos dois). Definitivamente não precisava ser bem no dia em que estava contando os segundos para levar Bianca pro seu quarto e fazer todas as coisas que sonhou a porcaria da semana toda, mas a vida tinha aquela irritante mania de não funcionar como ele planejava.

Tudo bem ser obrigado a ver um filme de animação, o foda mesmo era o abacaxi na pizza...




Nota da autora:

Eu esperei MESES para escrever essas cenas gratuitas e fofas e agora que posso, ninguém vai tirar isso de mim!!! Se preparem para mais amizade fofa e interação entre os irmãos antes do tão esperado hot (vocês me partem o coração perguntando 'será que a marina vai fazer???' porra nem eu seria tão cruel assim....)

(corta para eu hoje de manhã na academia pesquisando sobre Monster High colecionáveis para o livro 🙏)

Por outro lado eu trago um anúncio cruel: 

Queridos amantes desse romance de perdedores, passarei a próxima semana inteira viajando (vou pra Oktober encher a cara de chopp) e não conseguirei atualizar essa história na próxima sexta-feira, dia 14. Peço mil desculpas, porém fica inviável para mim escrever um capítulo completo e revisar. Espero que me perdoem e compreendam que é apenas um imprevisto e logo voltaremos à programação normal. 

Apesar de tudo, espero que tenham gostado do capítulo 💜

Desejo um ótimo final de semana e um beijão para todos vocês!

Até dia 21 de outubro

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