VALENTE✧ HOUSE OF THE DRAGON...

By jhopiest

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VALENTE; a única palavra digna para definir Deianyra Velaryon ╾ a única a sobreviver a sua inconstância. ❜ ... More

❛VALENTE ― house of dragons❜
𝟎𝟎 : ❛uma adaga de sangue para o fogo de reino❜
✣ 𝐀𝐓𝐎 𝐔𝐌 ▬ 𝐕𝐀𝐋𝐀𝐑 𝐌𝐎𝐑𝐆𝐇𝐔𝐋𝐈𝐒 †
𝟎𝟏 : ❛chamas da primavera❜
𝟎𝟐 : ❛sob o ponto de ruptura; ferve e corrói a alma.❜
𝟎𝟒 : ❛o preço da cobiça e escolhas irreversíveis❜
𝟎𝟓 : ❛as fundas e perfurantes flechas da fortuna❜
𝟎𝟔 : ❛segredinhos sujos sob as alças da corte❜
𝟎𝟕 : ❛custe o que custar; é sua resposta de sangue❜
𝟎𝟖 : ❛renascimento pelo fogo❜
𝟎𝟗 : ❛chuva de fogo e sangue❜
𝟏𝟎 : ❛arte da guerra, amor e disfarces❜
𝟏𝟏 : ❛sangue do meu sangue❜
𝟏𝟐 : ❛adoração perpétua❜
𝟏𝟑 : ❛a donzela guerreira❜
𝟏𝟒 : ❛fogo da salvação❜
𝟏𝟓 : ❛fantasmas do passado❜
𝟏𝟔 : ❛o sacrifício da moralidade❜
𝟏𝟕 : ❛besta sobre seus pés❜
𝟏𝟖 : ❛a tormenta das espadas❜
𝟏𝟗 : ❛o rugido do dragão❜
𝟐𝟎 : ❛meretriz das chamas❜
𝟐𝟏: ❛acerto de contas❜
𝟐𝟐 : ❛corações de dragão❜
𝟐𝟑 : ❛tiro pela culatra❜
𝟐𝟒 : ❛honra dos deuses❜
𝟐𝟓 : ❛festim dos corvos❜
✣ 𝐀𝐓𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒 ▬ 𝐕𝐀𝐋𝐀𝐑 𝐃𝐎𝐇𝐀𝐄𝐑𝐈𝐒 †
𝟐𝟔 : ❛bençãos da coroa❜
𝟐𝟕 : ❛as faces do amor❜
𝟐𝟖 : ❛semente da desconfiança❜
𝟐𝟗 : ❛queimadura de mil sóis❜
𝟑𝟎 : ❛verdades ocultas❜
𝟑𝟏 : ❛entre temores e aflições❜
𝟑𝟐 : ❛erros e omissões ❜
𝟑𝟑 : ❛amor verdadeiro❜
𝟑𝟒 : ❛ventos da mudança❜
𝟑𝟓 : ❛armadilha de consequências❜
𝟑𝟔 : ❛fúria da paixão❜
𝟑𝟕 : ❛percepções❜
𝟑𝟖 : ❛rachaduras❜
𝟑𝟗 : ❛união efervescente❜
𝟒𝟎 : ❛raízes❜
𝟒𝟏 : ❛incendiários❜
𝟒𝟐 : ❛ecos de lealdade❜
𝟒𝟑 : ❛punição divina❜
𝟒𝟒 : ❛guerra dos tronos❜
𝟒𝟓 : ❛encruzilhada moral❜
𝟒𝟔 : ❛sangue de dragão❜
𝟒𝟕 : ❛a maior valentia: amar ❜
𝐀𝐆𝐑𝐀𝐃𝐄𝐂𝐈𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 + 𝐀𝐕𝐈𝐒𝐎𝐒 𝐈𝐌𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒

𝟎𝟑 : ❛serpentes no jardim do luto❜

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By jhopiest

( CAPÍTULO TRÊS )

MASTIGUE AS VÍSCERAS DO SEU DESTINO

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Seus dedos permanecem entrelaçados ao de Rhaenyra a cada segundo, o ar na atmosfera queima, olhares famintos ricocheteiam e um príncipe rebelde detém certeza ao ver ambas moças lado-a-lado da correnteza iminente. Deianyra Velaryon permaneceu ao lado da princesa a cada segundo da cerimônia de enterro da falecida rainha Aemma Targaryen.

Em cada segundo, observava-se a expressão indescritível estampada no rosto da moça, suas orbes, no entanto, carregavam a certeza de um pavoroso verão — ao contrário do inverno do norte, seria o inferno, o calor destrutivo a abrir sobre seus pés.

Dizia o septão Eustace em suas escrituras acerca do ar melancólico estampado sobre faces que clamavam por vitória — o nascimento de um herdeiro ao trono de ferro — mas, receberam uma punição por suas ganâncias, desfrutando do pavoroso sofrimento.

As chamas caíram, escorreram da garganta do réptil monumental após a língua de Rhaenyra proferir Dracarys ao exumar o corpo de sua mãe, abençoado pelo fogo de sua casa — o dragão de sua filha —, mais uma vez, as mãos da Velaryon se uniram as suas, tornando explícito para todos e principalmente à ela o apoio da domadora de fênix. Tornou-se explícito a forma que a princesa fitou sua querida e fiel amiga que ela seria seu apoio — como foi durante toda sua vida.

Ela, nossa protagonista, soube com clareza o vendaval insistente no interior de Rhaenyra, a forma que controlava em sua goela, a certeza de que o Rei, que continuava a ser seu pai, não iria sofrer o luto consigo, quem sabe por culpa e principalmente amargura em ter pressionado — tal como todos os septões e membros da corte — em conceber um herdeiro para o trono. Houve uma mudez, um silêncio assustador, em que não eram ditas palavras, ao menos não em voz alta.

Deianyra insistiu em permanecer a cada segundo ao lado de Rhaenyra.

Ela não negou.

Ela negou a presença de Alicent — ao menos naquela tarde.

Ela não soube negar à Deianyra, mesmo que quisesse permanecer sozinha sob o luto, digerindo os próprios sentimentos. No fundo, a Targaryen almejava desesperadamente os braços calorosos, que emanariam fogo de brasa aos seus, o cheiro de lavanda fresca e morango silvestres do corpo feminino, tal como as palavras belas e gentis em seu ouvido. Rhaenyra não tinha a mínima noção de como pedir, falar ou agir — não com sua mente processando a morte de sua mãe por um herdeiro.

"Foi uma morte em batalha" diria Rainha Aemma.

Existiam muitas coisas das quais Deianyra desprezava, mais ainda das quais estimava e certamente as que permaneciam além de seu controle, instauram a sensação de impotência. Ali, sobre uma pilastra em um ponto cego do castelo, apreciando o vento sobre sua face, cogitando a forma mais apropriada de invadir os aposentos de Rhaenyra e a confortar, afirmar que continuaria ao seu lado, acariciar seus cabelos e beijar seu rosto, livrando-a de tamanho desconforto, do luto que seria eterno, uma ferida inflamável que sangrava permanentemente.

Escutou passos, a presença masculina ao seu lado, Daemon Targaryen.

Ele detinha noção que Deianyra cederia os intermináveis afagos à sua sobrinha — quem ele encontrava-se preocupado — mas, existia um aspecto do qual seria irreparável, soube que a Velaryon presenciou a cena, a morte em trabalho de parto, da relação íntima que detinha com Aemma, mesmo que não fosse sua mãe, recebia diversos mimos, inclusive era defendida e suas aias diziam o quão bondosa a mulher poderia ser acobertando falhas de comportamento da menina.

Isso é claro, sem contar o facto central de Aemma ter sido a madrinha de Deianyra Targaryen em toda a sua vida.

De alguma forma, desde que retornou, enxergou o amadurecimento precoce da jovem, pouco entendia o motivo, Rhaenyra — que vivia ao seu lado — não exibia em seus olhos, tampouco em suas ações tamanho temor, hesitação pelo futuro, por uma guerra.

Ele percebia a hesitação, a inquietação, captava as ações impacientes, a paixão pela arte da luta não era meramente um passatempo, deveria ser uma necessidade, havia ansiedade. Pela segunda vez, de alguma forma, poderia jurar vê-la revirar-se, gritar com toda força de seus pulmões que uma tempestade viria.

— Os deuses realmente parecerem querê-lo no trono, príncipe Targaryen — ela usou a forma de tratamento que arrancou uma expressão semicerrada.

Ouvir palavras sobre o trono não era exatamente o que esperava de Deianyra, especialmente após momentos em um funeral. Ao notar a falta de resposta, ela o fitou.

— Não há tempo para luto, não com a tempestade que se aproxima, especialmente com as cobras que serpenteiam o castelo.

Dessa vez, quis rir. Embora, compreendesse a fala, mais do que ciente de que deveria ser realidade. Céus, não poderia descrever a forma que apostava que seu irmão seria completamente manipulado pelos membros do pequeno conselho mas, ressoava irônico ao notar que Coryls Velaryon — o pai da protagonista — fazia parte da pequena cópula.

— Se não há tempo para luto, por que o faz sozinha? — Daemon atreveu-se a indagar, tocando em sua ferida. — Pode não derramar lágrimas mas é visível em seu semblante, você está sofrendo.

Existia um senso de cautela, a mocinha não era a única a estar afetada. A diferença, no entanto, habitava em como Daemon lidava e reagia, enxergar a dor latente de seu próprio irmão, Viserys, mesmo que sem dizer em voz alta, o perfurou tanto quanto a força que Rhaenyra apertou as mãos de Deianyra em busca de conforto.

Sobre a camada selvagem e impetuosa do homem, habitava um homem severamente consternado, perturbado e rejeitado. Ele, mesmo que soubesse ser ideal, não aproximava-se, não por ninguém, mas por si mesmo. Houve uma força desconhecida em seu interior, que o forçou, quis falar com a mais nova, mais do que deveria.

— Em momento algum disse que não estava de luto, quem eu amo sofre, o reino perdeu a rainha, uma mulher excepcional e um herdeiro — disse as últimas palavras com pesar, a garganta ardeu com as memórias perseguindo-a da rainha. — Irá haver caos devido à sucessão.

— Continuo sendo o único herdeiro, como antes, não ironicamente, a maldição de meu irmão e desgosto de Otto, um título particularmente agradável — prontamente, retrucou, não perdeu a oportunidade de desdenhar da mão do rei.— Ainda sim, herdeiro do trono.

Ela quis rir, de forma genuína com a pretensão do homem.

— Acredita nisso? Acredita que o rei irá o nomear como seu sucessor? — arqueou a sobrancelha.

— Quem mais ele nomearia? É meu direito — Daemon reforçou. 

Pouco importava sua relação caótica com seu irmão, Viserys poderia o forçar em um casamento, o banir e desdenhar mas, parecia a eterna sina do rei, era seu único herdeiro e ponto final. Em certo ponto, a rejeição de seu irmão mais velho, o enfurecia, o descaso era tamanho que conseguia vislumbrar nas orbes da mais nova o facto de que sim, ela parecia saber, desde de começou a escutar sussurros ao crescer sobre si mesmo. 

— Me pergunto quais tipos de questionamentos rondam sua mente fértil diante da morte da rainha, pensamentos dos quais seriam só reservados à uma estrategista calculista, se for dessa forma, floresce de forma mais perversa do que imaginado, Lady Velaryon.

Inesperadamente, ele viu-a sorrir, pareceu adorável, ingênuo, como se ele fosse uma criança. Esqueceu-se a última vez que alguém dedicou uma expressão daquelas ao seu redor. Então, a mocinha atreveu-se a cruzar o limite mais uma vez, como tanto fazia, de forma tão arriscada, andou mais perto, mais perto de seu corpo, do príncipe rebelde, o ar tornou-se pesado, quente — como ela costumava afetar —, a ausência de noção ao provocar Daemon, mesmo que inocente.

Ele pode sentir o hábito quente, o calor que emanava da domadora de fênix.

Praguejou, culpando os deuses por tamanho sacrilégio ao permitir que ela se atrevesse a cruzar seu caminho. Por hora, Deianyra poderia não ter ciência de seu próprio poder, uma habilidade de o deixar atordoado, de forma que nem o próprio poderia diagnosticar o motivo — diferente de quando era uma criança habitava um motivo até então desconhecido —, mas seus efeitos iniciavam a entranhar nas vísceras de Daemon Targaryen.

— Se eu for perversa por racionalizar a realidade, o senhor é um completo tolo por vangloriar-se de sua coroa intocável — houve zombaria ao final, mesmo que mantivesse a feição perdurasse rígida.

Deianyra...— uma reprovação, o tom de voz ressoou como um aviso.

— É a verdade, Daemon — protestou ela, um suspiro dotado de decepção respingou. — Você sabe, mais do que ninguém, que ele não o deseja no trono, nenhum deles e certamente darão um jeito de o pôr para fora mas o mais árduo é compreender como, ninguém será poupado, independente de suas posições, até eu compreendo isso.

Antes que o Targaryen pudesse mover os lábios, as chamas que iluminavam a área tremulou sobre o ar, as nuvens pesam sobre os céus, um ricochetear alastrou-se sobre os céus, o prelúdio de uma tempestade avassaladora. Para a protagonista, uma limpeza, os deuses estariam expurgando o sangue derramado, dando espaço à uma nova arena, nova era.

Memórias de seu sonho, continuavam a perdurar, ciente de que não eram comuns, eram proféticos. Recordava-se da primeira vez que sonhou em uma crise, seu irmão mais novo, Laenor dias depois tornou-se enfermo, sobre uma cama, em estado letárgico à beira da morte e por pouco não perdeu a vida.

Na segunda, cismou em um sonho que não queria, de forma alguma que seu pai, Corlys viajasse para as terras livres durante as festividades, a insistência foi tamanha a ponto de simular um desmaio e implorar em um choro de doer a goela, foram poupados de gigantescas ondas que ceifaram a vida de marinheiros que se aventuraram ao navegar durante os meados daquele outono atribulado. Dali em seguida, soube que não eram meras coincidências — tanto quanto seus pais.

Ao vê-la desviar o olhar, fitando os céus, flagrou um temor, como se estivesse sob o efeito de uma tormenta, um bicho de sete cabeças. O Targaryen reconhecia o olhar, Deianyra sentia-se perdida, desolada em um nível intrigante mas, sabia de alguma coisa.

— Você sabe de alguma coisa, não sabe? Nunca soube mentir para mim, ao menos, seus lábios não — desceu o olhar para eles. Ali, naquele momento, pela primeira vez, de forma inapropriada, houve um ligeiro frio na barriga de Deianyra. Questionou-se o motivo pelo qual os próprios lábios formigarem, de uma forma tão fervorosa que machucou, feriu e dilacerou seu orgulho e racionalidade, como Caspian nunca atreveu-se. — Por que não me diz?

— É parte da minha maldição, Senhor Targaryen — sussurrou ela, de forma baixa, como se fosse um segredo. Escutar o tratamento, como a forma de referir-se à si, ressoava tentadora, o incomodou. Em especial, porque o calor entre ambos era sentido, não só em sua tensão eletrizante mas no calor, em contraste com a baixa temperatura gerada pela tempestade que aproximava-se.

Habitava sofrimento, um remanescente sentimento agridoce, de uma esperança esmagada, as perspectivas de um futuro refletidas.

— Dê um jeito de a controlar, não quero vê-la dessa forma, me escutou? — autoritário. Daemon Targaryen transborda autoritarismo, atribui culpa à ela, que o forçava a agir assim, inflexível. Nunca diria em voz alta mas, desde o dia em que a salvou-a da morte aos oito anos de idade, escutou suas palavras de admiração e a postura da Velaryon, arrancaram dentro de seu interior uma parte inimaginada. Ele quis a proteger, nunca diria em voz alta, porque se abominou, ignorava a ânsia, preferia agir com desdém. — Especialmente se não me contar, é ridiculamente preocupante.

— Não sabia que o preocupava — intrigada, a mocinha arqueou a sobrancelha.

— Não me preocupa, mas preocupa Rhaenyra — corrigiu ele, desviando de suas palavras.

— Sendo assim, deveria pedir que ceda atenção à ela, não a mim — desferiu um golpe, suas palavras adorável ressoar como um veneno. — Não me force a nada, não quando você não age quando sabe que deve, especialmente quando envolve suas ambições.

Dessa vez, conquistou seu desprezo, feriu o ego, sua defesa, seu orgulho, do qual ninguém, muito menos Deianyra Velaryon deveria tocar.

— O que você sabe sobre ambições? É uma criança — mesmo assim, continuava próximo, como uma ameaça, havia essa linha tênue de admiração contida, desdém e interesse mútuo.

— É visível, por seus olhos, Príncipe Targaryen — revelou ela, fitando-o. Passeou o olhar sobre a face masculina, uma ação notada pelo homem, a loira atreveu-se mas, os pingos de chuva atreveram-se a cair, começarem a cair dos céus, agindo como um reparador, separando-os da conversa azucrinante. — Da mesma forma que aprendeu a ler os meus, fiz o mesmo com o senhor, vossos olhos são expressivos, mesmo quando deseja me repudiar.

Deianyra partiu dali, o sabor agridoce de uma conversa amarga permeia a língua de um príncipe irado, prestes a dirigir-se ao pequeno conselho, bisbilhotar a conversa, com a mente repleta de falas de uma jovenzinha de âmago de fogo que atreveu-se a arder suas ideias.

Caso seu irmão o rejeitasse, novamente existiria um problema — além de sua compreensão —, uma ofensa eterna. Do outro lado da moeda, a Velaryon caminhava na companhia de Aragorn aos aposentos de sua companheira, sua melhor amiga da qual certamente a aguardava, mesmo que buscasse a solitude momentânea.

— Lady Velaryon — Aragorn acordou-a dos devaneios. Estava de frente à porta, aguardando a segundos. Sor Harrold reparou no quão letárgica a mocinha demonstrou-se, permaneceu adornado pelo silêncio. Deianyra fitou seu guarda pessoal, Sor Aragorn era de fato, um dos homens mais atenciosos a habitar no castelo. — Ainda deseja visitar a princesa Rhaenyra?

Ela assentiu, o suficiente para Sor Harrold Westerling abrir as portas, anunciando a presença da protagonista. Em passos vagarosos, recebeu atenção de Rhaenyra. Ao contrário do imaginado, a princesa não correu ao seus braços, teria sido melhor, mais fácil e menos tortuoso que vê-la afogando-se em uma indiferença forjada, em que o inimigo mais mordaz era sua própria mente.

Sentada sobre a cama de lençóis limpos, detendo o exato vestido do enterro de sua amada figura materna, direcionava a dor para a ponta dos dedos, apertando a colcha do dossel. Sua expressão abatida denunciava o luto sombrio, uma refeição primorosa repleta dos quitutes prediletos da princesa foram postos sobre grande mesa de maneira redonda que havia em seu quarto, a Targaryen reparou nos movimentos da protagonista ao pisar em seu cômodo, a forma que escorou-se.

Elas não encaram-se, não no começo. Logo, a garganta de Rhaenyra coçou, ardeu com um questionamento que até então, não havia sido suscitado, mas ao passear a visão pelos olhos acinzentados de sua melhor-amiga, corroeu sua memória.

— Você sabia que isso iria acontecer? — o questionamento dançou o ar, houve uma desconfiança, uma indagação inesperada até mesmo para a Velaryon.

— O que?! Do que está falando.

— Quando você...— a loira referiu-se à crise noturna sofrida pela protagonista. Recordava-se das lágrimas manchando a face da nobre ao lhe fitar, a associação fora imediata.

Quanto mais se martirizava na tarde, mais coerência obtinha, o fato de querer permanecer com sua mãe em seus últimos momentos perdurava em sua mente. Se fosse, o caso, seu coração seria perfurado por ódio, irritação devido ao egoísmo possível de Deianyra. — Foi o que sonhou?

— Que tipo de pergunta é essa agora? Eu...— as batidas de seu coração oscilaram ao sustentar a atenção a face da princesa.

Ciente de que, caso tivesse o feito, teria sido uma verdadeira traição a confiança depositada da Targaryen. Negou-se a responder a pergunta, mordendo o lábio inferior. — Por acaso ao menos você comeu? Passou o dia inteiro aqui dentro dessa forma?

— Não mude de assunto, Deia — protestou a loira, insistente. Levantando-se da cama, na direção da Velaryon. — Se foi isso, por que não me contou? Esse tipo de predição, quando se sabe...

O interior de Deianyra eclodiu ao ver os olhos marejados, Rhaenyra portava a péssima mania de reter os sentimentos, acusando outras palavras, para desviar do foco principal: sua dor. Buscava um culpado para seu luto, uma distração para remover a tragédia que fora forçada a enfrentar.

— Porque não foi dessa forma, Rhaenyra! Em momento algum, previ a morte de sua mãe, nem mesmo o que poderia ter ocorrido — exacerbou-se, os quartos de voz levantaram, em uma verdadeira pressão.

Houve uma reação incomum na domadora de dragão ao encolher-se, demonstrando a fragilidade em uma crosta rígida, digna para desmontar a protagonista ao respirar fundo.

— Há quanto tempo está trancada dentro desse quarto engolindo o choro?

Elas estavam próximas, as palavras começavam a ser sussurradas, compartilhavam o instante, era delas — somente. Havia a ligação doentia, obsessiva da qual tornou-se uma faca de dois gumes para a Targaryen, ciente de que, era vista, exposta de todas as forças possíveis pela Velaryon.

— Perguntei o motivo pelo qual está segurando o choro — insistiu inflexível, Deianyra detinha a mesma pujança de seus antepassados, um poder intrépido que perfurou a princesa.

— Não estou, não tenho nada para pôr para fora — desviou o olhar, mordeu o lábio inferior. — Só desejo entender porque eu realmente acredito que você sabia de alguma coisa.

Ela quis rir, em desgosto. Assim como Daemon, a mocinha detinha certeza de que sabia. Em momento algum abriria seus lábios para balbuciar sobre o futuro — especialmente com cenas que pareciam mais um borrão devido à ausência de estabilidade sobre os pés. O presente, do qual enxergava através de suas orbes era importante, sua dádiva mais essencial, Deianyra percebeu que a mocinha esforçava-se para engolir a sensação, afogar-se e livrar-se do sofrimento, digerindo o falecimento de sua mãe mas, mesmo sozinha permanecia envolta do silêncio.

Rhaenyra padecia de um tormento inestimável e Deianyra estaria prestes a fazê-la entender que não estava sozinha, havia alguém ao seu lado, alguém que poderia dar-lhe a mão, voar nos céus consigo, empunhar uma espada em seu nome, gritar até os pulmões arderem em nome de sua felicidade.

— Não existe nada que precise ocultar para mim, sua Lady. Sendo assim, vou perguntar novamente, querida princesa...— ousou tocar o rosto, a ação, o afago dotado de amor tocou-a como um anjo, como aproximar-se em uma lareira em um inverno congelante. Rhaenyra atreveu-se a fechar os olhos, de forma cautelosa, lágrimas escaparam, de forma discreta e quando os lábios de Deianyra fizeram-lhe uma pergunta, houve um colapso: — Você está bem?

Rhaenyra desabou em lágrimas, desatou aos prantos, nos braços de Deianyra. Em um choro alto, angustiante, apertando-a como sua vida — seu verdadeiro apoio —, machucou a guerreira que esforçou-se para controlar o próprio sofrimento em escutar a agonia da Targaryen, a forma que caíram juntas sobre o chão, com a princesa esforçando-se para não engasgar-se em lágrimas, os dedos da amiga percorrendo seus cabelos, os sussurros de que poderia chorar, expulsar a dor em sua goela.

— Não consigo respirar, Dei — sua garganta dilacerava, pedindo socorro para a outra enquanto forçava-se a controlar a respiração e as lágrimas. Deianyra ergueu a face, forçando-se a controlar a vontade inestimável de derramar as próprias devido a cena que açoitava seus sentidos, seria menos efetivo se fosse cortada ao meio. — Dói, dói muito. Eu sabia que isso aconteceria, nenhum deles ligam, nem um pouco para ela, eu os odeio, odeio tanto, tanto que poderia morrer de ódio.

Shh, olhe para mim. Respire com calma, lentamente, você consegue, não está sozinha — suplicou a Velaryon, os dedos tocaram a face da princesa, limpando os pingos salgados que escorreram. Rhaenyra tremia, segurando na loira, um calafrio percorreu sua espinha, devido seus pulmões cansados de chorar, tocou-a como se fosse seu manto, sua proteção. — Estou ao seu lado, Rhaenyra. Sua dor é a minha, não a consuma sozinha, ela irá ser diluída, eu prometo mas respire fundo.

O lado de fora da janela, trovejava, raios partiam o céu, nuvens escuras, sujas como os pecados da corte misturavam-se, a mocinha estremeceu ao som de um, não por medo mas, por estar fragilizada.

— Fique aqui até que eu durma, por favor — foi a primeira e única vez que Rhaenyra pediu, de forma tão necessitada a presença de Deianyra. Sua presença é, no entanto, o único antídoto que adormecia tamanha dor. A Targaryen tocou a mão morna da Velaryon, seguindo o olhar ao seu rosto, aquela face tão bonita que seu coração quis chorar novamente, Deianyra era como seu anjo, um pedaço de seu coração que não a deixaria, de forma alguma. — Está frio, quero ficar com você.

Deianyra permaneceu e beijou sua testa, em um gesto que deixou seus lábios formigando. Deitou-se em sua cama, ao lado da princesa, abraçadas, acariciando seus cabelos, compartilhando o pequeno momento, seus corações sentiram-se seguros. Rhaenyra quis segurar sua mão, uma de frente à outra, observaram-se, nada mais disseram e a Velaryon observou a bela princesa até que dormisse.

A tempestade tornou-se chuvisco, pingos de sangue tornaram-se água, a tormenta diluiu permitindo um sentimento agridoce. Deveria levantar, sua princesa dormia, sua visão esbarrou, no entanto, no pescoço da Targaryen, flagrando o colar que antes Daemon segurava.

Arrancou um sorriso de sua face, realmente tratava-se de um presente para Rhaenyra.

— Se me permite questionar, Lady Velaryon deseja um lenço? — Sor Aragorn ofereceu o pano branco, bordado ao vê-la deixar os aposentos da princesa. O homem sustentou um ligeiro sorriso, a ponto de fazê-la querer sorrir, ao aceitar, mesmo que não o utilizasse no momento. — Sei que é de seu interesse, seu pai está deixando uma reunião com o pequeno conselho, fui instruído para a levar para os próprios aposentos, parece que seus pai não poderá vê-la, irá ainda essa noite no porto mas regressará de manhã cedo.

Suas expectativas foram frustradas ao concordar. A única distração digna de a livrar do horror do dia seria estar na companhia da figura paterna, escutando diversas histórias de marinheiros sobre o mar, batalhas e velejar, seu pai faria de bom agrado, livrando-a de sentimentos desconfortáveis. Pois, no fundo, Deianyra detinha certeza que ao ir até seu quarto, deitar sobre o colchão macio, não dormiria com as imagens em sua mente, a melancolia dançando sobre o castelo e o caos que seus pais escondiam de si — ela escutava sussurros sobre um tal Craghas Drahar.

Dirigindo-se aos seus aposentos, decidiu tomar uma rota diferente, na tentativa de ver seu pai pelos corredores, acompanhada de seu guarda real, no entanto, obteve uma surpresa infortuna, da qual revirou seu estômago, em um revertério digno de ânsia de vômito: Alicent Hightower, trajada de forma mais formal, com o vestido da mãe, dirigia-se ao quarto do rei.

Travaram contato visual, não eram ingênuas, o motivo pelo qual estaria encaminhando-se para 'consolar' Viserys tornou-se explícito. Reparou na presença de Otto, a mão do rei, atrás de sua filha, a única e primeira vez que Deianyra sentiu pena de Alicent. Abominou o homem por entregá-la de bandeja mas, da mesma forma, instaurando um fato que deu arrepios em sua espinha: ele faria de tudo para deixá-la em uma posição vantajosa, mesmo que significasse destruir a própria filha em pedaços.

— Lady Velaryon, Sor Aragorn — cumprimentou o homem, recebendo um cumprimento de ambos. Em vergonha, Alicent desviou o olhar, conforme Deianyra e Sor Aragorn continuaram seu caminho.

Uma verdade inaceitável perfurou os pensamentos de uma protagonista inquieta: um rei sem rainha, um rei sem herdeiros, um reinado sem futuro, cobras iriam atacar e — certamente, não deveria esquecer-se que seu pai, como Otto Hightower participava do tabuleiro de xadrez doentio.

E se....não! A Velaryon recusou-se a dar voz a tamanha atrocidade à sua própria liberdade, seguindo ao seu quarto.

— Descanse, senhorita — aconselhou o homem, o único a saber das fugas esporádicas e inclusive acobertar.

Aragorn devia sua honra à Rhaenys, a mulher que elevou-o de um mero guerreiro bastardo de uma família honrosa o suficiente para ser um sacrilégio pronunciar em voz alta à um guarda real, parte da patrulha, servindo como guarda pessoal do fogo do reino mas, o homem nutria uma afeição avassaladora a ponto de que, poderia proteger a moça como se fosse uma irmã mais nova, isso incluia a permitir escapar, por vezes em liberdade.

Sob as circunstâncias, entretanto, tornou-se visível o temor de Aragorn. Independente de quem fosse da corte, sair na atual condição seria desastroso, mas, conhecia a garota, a domadora de fênix cortejava um gostinho açucarado de fuga do cativeiro de ouro, a jaula infernal que trancafiou-se.

— Chame minha mãe, Aragorn — solicitou, arrancando uma expressão nada positiva do homem que arqueou a sobrancelha, conhecia a estratégia suja de Deianyra: convencia a mulher de estar sobre um sono profundo, pulando a janela para escapar por meio do túnel rochoso sobre o castelo que a guiariam para a cidadela repleta de plebeus. — Não me olhe desse jeito, eu...

— Tome cuidado, Deianyra — pediu ele, com tanto fazia desde que a mocinha era uma criança.

— Eu sempre tomo, agradeço sua cumplicidade, Sor — disse por fim antes de finalmente dar começo ao seu plano rotineiro, trocando suas roupas, em vestes para repousar, aguardando em sua cama, a porta abriu-se, pela voz, notou tratar-se de sua mãe, fingiu dormir e escutou a lamentação discreta de sua mãe que tocou seus cabelos, um afago rápido antes de deixar seus aposentos.

A Velaryon aguardou dez minutos exatos, arrumou-se, com as vestes mais humildes, escuras. Os cabelos presos, com uma touca puída, da qual escondia para as escapatórias, viu-se indo até as ruas, por mais que o cheiro insuportável habitasse a baixada das pulgas — o bairro pobre que era alvo de suas escapatórias —, não era vista exatamente como uma mulher por todos.

Disfarçando-se de forma tão hábil com seu comportamento a ponto de assumir uma identidade masculina para percorrer as ruas de forma segura: era conhecida como Azriel Eamont, mão de fogo, um jovem com porte físico delicado mas com uma monstruosidade ao manejar uma espada, língua atrevida e uma habilidade interessante em jogos de azar e uma mais ainda ao pagar suas dívidas em quedas de braços que terminavam com seus adversários queimados devido o calor de suas mãos.

Uma trapaça sutil, devo adicionar.

Deianyra aprendeu uma coisa ou outra sobre enganar pessoas, ter feito aliados, amigos na alcunha de Azriel havia sido sua conquista mais extasiante.

Aos doze, fora escoltada por insistência por Aragorn para que pudesse visitar a cidade, não bastou uma visita mas, soube que não poderia ir de forma comum, decidiu assumir o manto. Anos tarde, caminhava em vielas, em direção à um prostíbulo, adentrando pelos fundos, ciente do escândalo que seria caso alguém a flagrasse.

Pouco importava, ao menos no momento.

— Azriel, como é prazeroso vê-lo aqui...— Kaena, uma das meretrizes do estabelecimento, prontamente o cumprimentou. Deianyra enganava, inclusive, mulheres. Fitou a profissional de olhos puxados e sotaque arrastado, assentindo. — Procura prazer nessa noite fria?

Ela quis sorrir, a quantidade de vezes que lhe foi oferecido o consolo das meretrizes do espaço era incontável mas, os motivos pelo qual costumava visitar — esporadicamente — o espaço não envolvia nem um pouco o serviço ali oferecido.

Antes que abrisse os lábios, uma voz masculina chamou-a atenção, flagrando no final do espaço, em meio a depravação, cheiro libidinoso de ervas, arfares, risadas e bebidas desmedidas e o ressoar de músicas arcaicas sobre guerreiros e meretrizes, Daemon Targaryen.

Sua nuca arrepiou-se, temerosa em ser flagrada pois, nenhum daqueles homens a reconheceria — além de seu comportamento eram poucos que haviam visto o rosto do fogo do reino de perto e seu disfarce eficaz como Azriel os ludibriar — mas, o príncipe era astuto, nada passaria imperceptível por seus olhos.

— Um engano, devo firmar, querida — a confundindo, Deianyra deu meia volta, prestes a sair, de forma abrupta mas, ao virar-se, deparou-se com ninguém menos que Mysaria, a mulher parecia tão surpresa em vê-la naquela noite, tanto que prontamente agiu.

— Vamos tomar uma bebida, Azriel — fez questão de chamá-la pelo nome, de forma charmosa, enganando Kaena em crer que, os serviços da meretriz seriam dedicados ao "homem" pois se existia uma pessoa a saber de sua identidade era Mysaria, a confidente mais fiel de Deianyra Velaryon.

Guiada até os fundos, uma área reservada às prostitutas, ofereceu-lhe um copo de vinho, diferente da cerveja antes oferecida, ciente de que Deianyra deleitava-se no gosto forte e amargo em sua garganta ao invés da cevada arranhando seu paladar.

— Estou muito surpresa e incrédula que tenha aparecido nas atuais situações, Nyra — despejou sua indignação, atrevendo-se a chamar pelo apelido, uma intimidade reservada a mulher. — Entretanto, pelo que vejo, existe um motivo, do qual pretende me dizer. Caso contrário, não viria até aqui.

Deianyra respirou fundo, recordando-se da primeira vez que cruzou seu caminho com a estrangeira, salvou-a de um estupro, quando estava disfarçada de Azriel cortando a garganta do responsável, escapando em seguida dos mantos dourados, segurando-a pelo pulso, uma ação que conquistou o respeito da mais velha mas, sucitou uma relação, especialmente ao descobrir que a mão de fogo era na verdade o fogo do reino — a companhia da princesa e única domadora de fênix da existência.

Para Mysaria, uma figura intrigante que estimava, uma mocinha com coração de dragão, mesmo que domasse uma fênix, a morena vislumbrava o âmago selvagem e bastou, se tornou fiel às dores de sua salvadora. Para Deianyra, a única que poderia dizer tudo, sem ocultar informações envolvendo a corte, a que dedicava seus sussurros que eram acolhidos de bom agrado.

— Está tudo perdido — confessou ela, transbordando lamentação. Deianyra ousou retirar a touca de sua cabeça, revelando as mechas prateadas, tombando a cabeça para o lado. Mysaria franziu o cenho, esforçando-se para a entender, ciente da notícia da morte da rainha em pleno torneio.

— No final das contas, Daemon realmente permaneceu como um herdeiro, mesmo que nunca dissesse uma palavra, por direito e linhagem contínua sendo, um verdadeiro caos para a corte escandalosa.

— Pensei que a ideia de Daemon se tornar Rei a agradava, não é você que o estima ou melhor, detém uma admiração? — Mysaria indagou, preenchendo o cálice de madeira com puro vinho, oferecendo à protagonista.

Recebeu uma expressão inquieta da Velaryon, em questionamento. Nunca, nem por um segundo expressou o fato, pelo menos não em palavras. Contudo, a morena era muito mais observadora do que ousava demonstrar, por sua própria segurança.

— Entrelinhas. Fala por elas, de forma indireta o menciona sempre, é visível — Deianrya não esboçou nenhuma reação, até porque Mysaria, sua confidente, sabia muito sobre si, a ponto de ser comprometedor mas, uma enervação ao referir-se sobre Daemon.

Desde o incidente do envenenamento, era assim, uma verdadeira abominação ao seu ver, um crime contra seu âmago tão complacente e sucinto ao tratar-se de sentimentos e sensações mas, um emaranhado em sua mente estava reservado ao Domador de dragões.

Quando o homem era mencionado, um nó surgia em sua goela, uma sensação ligeira de ansiedade, uma mescla de admiração, inquietude e horror, a contragosto.

— Por isso, não consigo entender, essa possibilidade não a agrada? Não o deseja ver como o Herdeiro e quem sabe...Rei? — atreveu-se a indagar. Embora soubesse do luto, de tamanha questão que caia sobre os ombros de Deianrya, enxergava que, não era apenas melancolia em suas orbes, existia outro um brilho familiar ao desespero.

Antes que Deianrya pudesse dizer, ela captou. Recear Daemon Targaryen no momento seria incomum, especialmente para a Velaryon mas, a imprevisibilidade de alguém com sangue de fogo nunca deveria ser duvidava — disso sabia muito bem.

— Daemon é...— sua língua queimou, em um suspiro, como se esforçasse para pôr palavras para fora. Ele deveria ser uma das últimas preocupações em sua mente. No fim, sabia que o conselho jamais o permitiria subir ao poder, sentar no trono de ferro, não quando pudessem evitar, de qualquer maneira.

— Sua forma de comandar não é a mais misericórdia, se me compreende, ao menos se estiver no lado errado, não é como se eu tivesse um problema com isso, mesmo com a violência mas, não é sobre ele, nem perto disso, porque não acho que ele chegue a ter a oportunidade.

Mysaria arqueou a sobrancelha, em um gesto de puro interesse. Poderia conhecer o Targaryen, mesmo que Deianrya não estivesse ciente mas, se tivesse que escolher entre a confiança e segurança de um deles, não hesitaria em proteger a garota e guardar informações para seu próprio bem. Existia um incômodo na forma que a Velaryon dizia, como se, soubesse de um fato, se alimenta com hipótese — teorias — no mínimo, perigosas pois sua hesitação em mover os lábios, tornava-se visível, uma característica incomum da moça, mesmo que estivesse prestes a inebriar-se de vinho.

— Você viu alguma coisa — constatou Mysaria, recebendo um assentir da mocinha.

— Alicent Hightower, filha da mão do rei estava sendo encaminhada para o quarto do rei, logo após a tragédia, para o que imagino seja consolar o rei — começou, recordando-se da cena que instaurou o azedume em sua goela. Respirou fundo ao dar um gole maior na caneca. — Otto está oferecendo a filha de bandeja, um velho asqueroso como aquele manipulando-a, não que eu estime por ela mas é...

— Homens irão barganhar por mulheres como se fossem produtos, não importa se for uma meretriz ou Lady, já deveria estar ciente disso, Nyra — pausou suas palavras, captando que não, o destino de Alicent pouco importava, mesmo que houvesse genuína simpatia pela situação em que foi encurralada. — Entretanto, não é essa sua fonte de perturbação.

A Velaryon concordou, o fervor em seu interior, um frio na barriga.

— Meu pai está passando por conflitos no mar estreito, minha mãe costuma não querer que eu saiba do que ocorre mas, é visível, escuto sussurros, protestos e resmungos de meu pai e a morte da rainha Aemma se tornou uma oportunidade visceral — sua goela recusava-se a pronunciar as palavras, com dor em seu interior. — Ele pode me entregar de bandeja, como Otto fez com a filha, não por ambição mas necessidade, porque deve proteger a casa Velaryon.

Um casamento, Mysaria compreendeu o sofrimento que cairia sobre as costas de Deianyra. Não somente porque estaria forçada sobre um matrimônio mas, porque Rhaenyra Targaryen — o famoso deleite do reino — era sua melhor amiga e por vezes, na forma que a Velaryon referia-se, ressoava como uma paixão e o fato seria perturbador, não era um mero casamento arranjado, seria uma carnificina com direito a espectadores banqueteando-se com o sangue real de Deianyra.

— Se for isso, o que fará? — despertando da paranóia que roeu os ossos de sua mente, a confidente perguntou.

Doeu, machucou.

Deianyra forçou-se a não imaginar, não cogitar a possibilidade — mesmo ciente de sua chance —, caso contrário, entraria em colapso. Por colapso, realmente, a mocinha desfaleceria em um surto degradante que seria perigoso para sua própria vida.

— Gostaria de permanecer aqui durante toda noite, bebendo — fugiu do assunto.

Mysaria quase revirou os olhos, respirando fundo, em pouco tempo apostava que Deianyra sofreria com os efeitos da bebida alcoólica.

— Não pode, é errado que venha até aqui, mesmo que pelos fundos — reforçou a mulher, hesitando por segundos, em um ligeiro desconforto ao prosseguir, ciente que eram ordens de Daemon: — Além disso, iremos fechar por hora.

Deianyra arqueou a sobrancelha, desconfiada pelo motivo mas, antes que pudesse indagar a motivação, Mysaria agiu mais rápido ao direcionar um olhar pesaroso, feito uma irmã mais velha, a reprovando pela permanência ali, como se a lembrasse que não, não era um homem.

— Beba só um pouco, me ouviu? — deu o braço a torcer, gerando um sorriso largo no rostinho da loira. — Irei mandar que alguém a acompanhe, está de noite e mesmo que Azriel saiba se virar, quem a vê de longe, pensa que é uma mulher.

— Obrigada, Mys — agradeceu.

— Seja qual for as vertentes, acredito que ache uma escapatória, use sua coragem — foram as últimas palavras da mulher antes de sumir da vista de Deianyra Velaryon, permitindo-a ficar sozinha, acompanhada de uma garrafa de vinho e seu mártir avassalador.

Deveria ter sido óbvio para Mysaria que a protagonista daria um jeito de esgueirar-se sobre o espaço, livrando-se da companhia de alguém. Seguiu o caminho sozinha, com as estrelas feito suas seguidoras fiéis, deveria ter medo de andar sozinha por aí mas, sua postura enquanto bêbada era o suficiente para espantar qualquer um, achando tratar-se de um homem inebriado comum, um vagabundo.

Bastava pouco para virar a rua, achar os fundos que dariam nas catacumbas em direção a fortaleza vermelha mas, escutou uma maldita fala, desonrando a princesa.

Um homem proferia barbaridades, mencionando o deleite do reino de uma forma tão ultrajante que Deianyra não conteve-se, quando reparou estava em uma briga violenta, prestes a rasgar a face do homem, pouco recordava-se de estar ocorrendo devido o efeito extasiante do vinho mas sua defesa foi ágil até que, os gritos foram interceptados por um membro da patrulha, cujo cederia uma punição — a ambos.

Daemon Targaryen andava pelas ruas, flagrando a comoção, reconheceu de imediato a figura, mesmo coberta a disfarçada, incrédulo com a situação, fez questão de dar um jeito ele mesmo, como o responsável pelos mantos dourados, não foi questionado mas Deianyra sabia, havia sido desmascarada.

— Você realmente se comporta como um animal — havia humor, mesmo que estivesse a reprovando, ao segurar em seu corpo, arrastando-a para longe dali. Sua presença em um espaço daqueles, arrumando problemas o deixou um tanto incerto, de que estaria sendo fruto de sua imaginação, isso até recordar-se que estava falando de Deianyra Velaryon, a valentia do reino.

— Presumo que imagine muito bem minhas influências — trocaram olhares, até que ela falasse novamente, para que pudesse se justificar. — Ele falou mais do que deveria sobre Rhaenrya, não consegui me controlar. Na verdade, ele tem sorte de que o guarda ter aparecido, teria arrancado a língua dele.

Daemon franziu o cenho, reparou no cheiro forte de álcool. Pareceu notório que a fachada anterior da mocinha não demonstrava o absurdo que a perseguia, havia se embriagado, corrido de forma inconsequente para fora do castelo, por uma diversão para bagunçar sua mente.

Ele irritou-se, porque era exatamente isso que fez naquela noite, com uma mente atribulada.

— É o que faz quando está amargurada ou frustrada, recorre a violência? — indagou, semicerrando o olhar. — Ah, é claro, não deixo a bebida de fora. Até mesmo se disfarça para fugir, pensei que estaria do lado de Rhaenrya, Fogo do Reino.

Ofendeu-a de propósito, porque sabia que ela forçou-se a manter-se estável, estava querendo a atingir, mesmo contragosto, o Targaryen abominou como se preocupou com a segurança da mocinha. Em seus braços, Deianyra sustentava-se em seus braços, o corpo quente reforçava a noção de que, o sangue quente da Velaryon não seria contido, jamais — tal como um dragão que não seria domado.

— Você sabe que não será como deseja, não até tomar uma atitude por si mesmo — Realmente, nada irá mudar, sei disso.

Largou-a, levantando do chão, onde ela permanecia. Ele virou-se, por breves segundos, fechando os olhos, aproveitando que Deianyra estava sob o efeito de uma bebida, não teria como o julgar na situação, não o capturaria, veria como suas palavras entranharam em sua carne. Respirou fundo, detestando que a mocinha pudesse saber tanto em uma situação daquelas.

— Vamos.

Prestes a levar a protagonista de volta para o castelo, de forma discreta — para não a meter em problemas —, ao virar-se, deparou-se com a ausência de Deianyra.

Ela escapou sobre a névoa noturna, assim como veio e bagunçou sua cabeça, instigou seu interior e pregou uma peça com a verdade. Se Daemon Targaryen almejava um trono, a coroa sobre sua cabeça, deveria agir, a tomar por força — feito um guerreiro e futuro governante —, cogitou fazê-lo, tanto quanto Deianyra Velaryon soube estar prestes a se tornar uma peça da jogatina dos tronos.

Eles iriam a subestimar, tratá-la como um peão, a ser manipulado.

Para no fim, descobrir que detinham uma rainha que os devoraria — de dentro para fora.

Os deuses carregavam um humor ácido mas, o destino seria pior, havia escolhido seu trunfo, de âmago de fogo e coração valente, Deianyra Velaryon. 

✧˚ · ↳ ❝ [𝐍𝐎𝐓𝐀 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀] ¡! ❞✧˚ ·

[1] — Devo dizer que teremos mais ações, Mysaria aparecendo aqui e uma tensão crescente viu, Deianyra enxergou bem esse lance com Alicent e devo dizer que uma bomba espera envolvendo ambas. Quero saber a opinião de vocês. Por sinal, qual é o personagem fav de vocês? (seja da fic ou de hotd) isso é uma curiosidade minha wkefnsj. 

[2] — Espero que tenham gostado desse capítulo, essa semana eu estava em provas e juro, minha cabeça fervilhando de ideias — fora que eu estou planejando postar uma futura fic de hotd quando essa daqui estiver bem mais pra frente —, como sabem essa fanfic não tem mais dia pra postar porque eu fiquei biruta! 

✧・゚: *✧・゚:*

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