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𝐿𝓊𝒶
Eu era completamente uma inútil, uma imprestável que não merece salvação, uma pessoa egoísta o suficiente para deixar que desastres causados por mim, acontecessem...
Algo em meu peito quebrou em vários pedaços como vidro, na qual os cacos furaram a minha alma me mostrando o que eu tinha feito, o que eu tinha deixado acontecer. Porém um som de estalo percorreu minha mente, como um aviso, como tecido se rasgando e destruindo cada fibra, cada linha.
Gritei tão alto que pôde ser ouvido do outro lado de Prythian, do continente ao lado. A terra estremeceu com a minha fúria, os guerreiros pararam assim como os monstros, assustados com o grito ensurdecedor. Aqueles que estavam abaixo de mim caíram no chão mortos enquanto seus ouvidos sangravam e seus cérebros se desfaziam em liquido, monstros próximos se despedaçaram caindo da mesma forma que os guerreiros, assim não haviam nenhum outro adversário de Lilith em pé.
Ela colocou Bjorn na minha frente para me manter ocupada e distraída. Lilith tinha conhecimento do que Lucien significava para mim e sabia que qualquer barreira que eu fizesse para não sentir os sentimentos à minha volta, desmoronaria assim que atravessasse aquela espada no corpo de Lucien e deixasse que ele sangrasse até cair no chão.
Ela me queria frágil para conseguir o que quer, mas no momento fragilidade não seria um nome colocado para mim agora. Não quando meus olhos emanam puro poder e sede de morte. De querer sentir a dor da morte de alguém para ter o que culpar que não fosse eu mesma.
Saltei de Pompom e uma espada longa surgiu em minha mão enquanto eu reunia cada gota de poder que eu tinha. Lancei aquele poder sobre ela com tanta raiva que fez um buraco no chão. Meus pés estavam fundos na neve enquanto eu atacava consecutivamente Lilith, e novamente Tarsila apareceu mas a joguei em uma árvore partida ao meio e pude ver seu estômago destroçado com as lascas de madeira.
Não sei se aquilo tinha a matado mas tinha feito o suficiente para mantê-la longe. Ninguém tiraria a minha oportunidade de matar aquela desgraçada.
Lilith passou a não conseguir me atacar apenas desviar e tentar não cair de um precipício da morte.
Eu chorava por sentir Lucien desfalecendo em segundos a alguns metros, por saber que eu não conseguiria salvá-lo como eu havia prometido a mim mesma. E tudo tinha sido minha culpa, mas ela não estava fora daquela lista.
Quando cortei seu pulso arrancando sua mão fora, ela berrou e quando iria finalizar com a espada em seu rosto, ela falou desesperada:
- Eu posso salvá-lo!
Eu parei com a espada a poucos centímetros do nariz e acertei seu estômago tendo ela de joelhos para mim. Segurei seu couro cabeludo e a fiz me encarar. Lilith estava tremendo e com medo da minha própria voz.
- Tem veneno correndo pelos vasos sanguíneos. E se não andar rápido ele morre daqui alguns minutos. - pressionei a espada em seu pescoço. - Me dê o que eu quero e eu salvo ele da morte.
"Não faça acordos."
Foi isso que os ovos me disseram milhões de vezes. Mas eu tinha que fazer e não me importava mais com o que aconteceria comigo, mas o que seria de Lucien.
Não era eu quem estava com o estômago desfigurado. Ele precisava de mim. Ele não podia morrer daquele jeito.
E aquele seria meu segundo acordo, então já não me importava ou não se eu morresse hoje pois já estava contando com isso.
Lua, não!
A voz de Rhys reverberou dentro de minha mente.
Eu não tenho escolha.
Você tem sim, nós podemos salvá-lo.
Não, não podem. Eu sei que não.
Mas podemos tentar.
Eu não quero tentar, Rhys. Eu quero ele vivo. Então faça o que eu pedi, Grão-Senhor.
Tranquei minha mente não permitindo que ele continuasse a insistir.
Soquei o rosto de Lilith deslocando sua mandíbula e quebrando alguns dentes, já que eles saltaram de sua boca.
- Se isso não funcionar. Se não salvá-lo, vou fazer questão de tirar cada parte de você lentamente que irá durar anos, me ouviu bem?
Ela confirmou rapidamente com a cabeça como uma criança obediente.
A arrastei de volta e meu estômago revirou quando a joguei próximo de Lucien.
Seu olho de ouro não estava presente, seu outro olho estava inchado assim como seu lábio inferior, mas nada se comparava com o sangue em seu estômago. Com o buraco onde suas tripas estavam saindo enquanto seu rosto ficava pálido.
Ela levantou a mão inteira na altura do ferimento e eu posicionei a espada em seu ombro, a lembrando que arrancaria seu braço caso fizesse um movimento errado.
Então ela começou a recitar palavras antigas da língua de Vyridian enquanto seus raios vermelhos rodeavam e envelopavam Lucien em um casulo. O curando e tirando qualquer vestígio de sangue, qualquer corte que fosse. Colocou o olho de ouro no lugar e quando a cápsula vermelha rompeu, eu o sentia fora de perigo.
Ele estava bem agora, e tive mais certeza assim que buscou ar com os olhos arregalados.
Por um momento pensei em correr até ele, em abraçá-lo e pedir desculpas por ser um fardo, mas Lilith o afastou antes mesmo que ele se virasse para mim, e fez uma barreira em volta daquela colina, impedindo qualquer um de entrar.
- Pronto, fiz minha parte. - ela se levantou cambaleando enquanto seu próprio sangue sujava seu vestido preto. - Salvei aquele seu doce parceiro.
Eu franzi o cenho para ela, para aquela última palavra sem entender direito. Mas ainda mantinha minha espada em sua direção.
- Vai me dizer que não sabia que tinham um laço de parceria? - seu sorriso se tornou divertido enquanto me encarava.
Eu não respondi, não tive forças pra isso.
Abaixei a espada e olhei para o chão que tinha uma mistura de sangue, neve e terra.
Eu era parceira de Lucien?
Nós tínhamos um laço?
Mas por quê?
Eu não era feérica, não era desse mundo. Lucien não havia me contado sobre isso e nem me explicado como funcionava o laço de parceria.
Eu sabia que Rhys e Feyre tinham uma, mas não imaginei que eu teria também.
Porém cada lembrança minha passou a fazer sentido. Todas as vezes que eu ansiava sem motivo por Lucien, era o laço. Quando ele ficava estranho quando acontecia algo comigo, como do incidente na Estival, quando sumi na Outonal, era o laço. Quando fui transformada de volta a humana e Lucien apareceu rompendo a barreira que nem mesmo Rhys conseguiu passar por ela, foi o laço.
Tudo que me levou ao Lucien, foi o laço.
Mas é óbvio que o ruivo sabia, então por que não me contou e me privou disso?
- Que cena mais dramática. - ela diz me tirando daquele molho de pensamentos confusos. - Mas agora cumpra a sua parte do acordo.
Eu a olhei e vi que aquilo era real. Iria dar tudo que lutei pra conseguir e conquistar.
Soltei a respiração rendida e comecei.
Um círculo se desenhou à nossa volta e depois se acendeu, me correspondendo. Nossos pés foram retirados do chão enquanto a luz da lua nos envolvia. Passei a recitar algumas palavra daquele ritual e uma onda atingiu meu peito e o peito de Lilith a fazendo grunhi de dor. Aquela seria o tipo de ligação por onde os poderes passariam, que na qual nos deixaríamos a mercê da vulnerabilidade. E com os olhos brilhando e as tatuagens queimando a armadura de couro illyriano, que tudo parou.
Vi várias linhas e trovoadas saírem de mim e irem até Lilith enquanto eu via cada lembrança se passar diante de meus olhos.
Foram meses curtos, mas que tive a oportunidade de conhecer o que era a vida fora da escuridão. Tive o prazer de saber o que era ter amigos, de saber o que era presenciar um ambiente onde não era forçada diretamente a fazer alguma coisa, diferente de como era tratada como tal em Vyridian e pressionada a ser a herdeira perfeita do meu mundo. Aqui era diferente de certa maneira, eu pude escolher minha ações, pude viver e me sentir viva. E às vezes pude esquecer que um dia tinha passado por três anos de tormento e tortura.
Mas aqui estava o final da história, estou abandonando o que me fazia feliz e as pessoas que me fizeram sorrir sem ser um sorriso forçado para causar boas impressões, me fizeram sorrir de verdade. Estou abandonando a pessoa que me fez conhecer o amor e a única que me demonstrou confiança desde o inicio em que a conheci, mas ao mesmo tempo a pessoa que me omitiu da verdade.
Tudo estava acontecendo tão rápido que nem ao menos percebi que agora os cabelos de Lilith estavam mais brancos ainda enquanto os meus voltavam para o castanho escuro.
Contudo, quando o ápice havia chegado, quando literalmente faltava uma gota de poder que me pronunciei com a voz rouca.
- Agora.
Os três irmãos illyrianos apareceram com suas asas enormes, se destacando em meio a luz.
Cassian com uma espada longa atingiu Lilith no quadril, quebrando seus ossos e atravessando para o outro lado. Azriel usou a Reveladora da Verdade e abriu o pescoço de Lilith de uma ponta a outra. E por fim, Rhys acertou seu poder nas costas dela, que atravessou o seu peito e o meu também. Porém não fui capaz de sentir dor por estar totalmente anestesiada.
Aquele tinha sido meu primeiro acordo. Quando eu desse o sinal, os três deveriam interromper aquela entrega de poder.
Depois eles viraram cinzas e desapareceram enquanto eu presenciava a melhor cena. Lilith estava apavorada com seus olhos arregalados enquanto virava um chafariz de sangue.
- Não acredito... - ela não terminou pois levou um susto quando sua pele passou a escamar em brilho.
- Pode acreditar. - a minha pele também passou a escamar.
- O que você fez? - ela gritou imóvel no mesmo lugar.
- Vingança. Apenas isso.
E enfim uma combustão de poder ficou um segundo em silêncio e logo após veio a explosão de luz. Cada centímetro de mim desapareceu como poeira brilhante, aquilo foi como se nada de mim significasse alguma coisa, como se fosse insignificante.
Mas dessa vez não senti dor ou medo, senti um alívio enorme me rompendo mas ao mesmo tempo um pingo de fracasso por não ter realizado o que eu sempre quis que foi a liberdade
Mas eu consegui, consegui morrer facilmente e consegui salvar esse mundo que um dia pensei em chamar de lar.
Eu consegui me afundar de uma vez...
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶