Jeong: A Scarf and A Time Tra...

By bhyunlies

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ㅤ Como resultado de uma falha na máquina que construiu para um trabalho da faculdade, Kim Yeo Reum voltou cer... More

Notas: bem-vindos a Joseon!

Hanyang, 1828

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By bhyunlies

A máquina soltava fumaça.

E antes que Yeo Reum pudesse fazer algo, seu ouvido zuniu e tudo ficou branco. Seu corpo encontrou o chão, mas o chão sumiu também.

Ela parecia estar desaparecendo, virando fumaça no meio da vastidão branca. Fechando os olhos, decidiu aceitar o que estava acontecendo, não importasse o que aquilo fosse.

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

     QUANDO ME VI APAIXONADO POR YEO REUM, soube que o resto de minha vida seria difícil. Porque Kim Yeo Reum nunca me pertenceu, de fato. Nunca pertenceu a Hanyang ou então Chosŏn. E eu, como wangseja e tendo os melhores seuseung-nim, deveria ter notado isso quando a primeira coisa que Yeo Reum, vestida em peças que eu jamais vira na vida, fez quando deparou-se comigo naquela floresta foi se atirar no chão e pedir perdão e por sua vida enquanto desmanchava-se em lágrimas.

— Tenha piedade de mim, seja-jeoha! Por favor! — ela implorou, ainda jogada em minha frente. Abaixei-me em uma distância segura para alcançar e suspender seu rosto. Lágrimas escorriam pela pele pálida e seus olhos eram vermelhos. — Eu não sei o que aconteceu, eu não deveria ter vindo parar aqui. Por favor, seja-jeoha, poupe minha vida!

Meu dever como futuro jusang de Chosŏn era acabar com aquela situação ali mesmo, mas aquela moça despertou-me a curiosidade de uma forma jamais vista. Suas vestes, o cabelo livre do kwimit-meori, tudo. Yeo Reum era uma criatura diferente de todas as que eu já tinha visto.

O pano que envolvia seu pescoço foi a coisa que mais me intrigou; era bonito, mas incomum. Me afastei e olhei para trás, buscando por qualquer sinal de Seok Im, meu escudeiro, que parecia ter sumido por entre as árvores da densa floresta.

— Levante-se, agasshi — ordenei. Yeo Reum prontamente se levantou. — Essa é uma caçada real. Você não deveria estar aqui.

— Me perdoe, jeoha — ela praticamente balbuciou, abaixando o rosto. — Não era minha intenção estar aqui. Se você apenas permitir, posso dar meia volta e ir embora.

Dei um passo à frente e ela se encolheu, pisando em um galho. Me ocorreu o desejo de deixá-la cair, era petulante de sua parte apenas estar em uma área proibida e ela merecia um castigo por isso, mas segurei seu braço e a mantive em pé. Yeo Reum suspirou, aliviada. Desci meus olhos por suas vestes nada comuns.

Eu nunca tinha visto nada igual àquilo.

— Você não parece ser daqui. — soltei-a. — É de alguma outra província ou nação?

Yeo Reum negou com um murmúrio contido.

— Não, jeoha. Sou da terra em que nossos pés estão pisando. Seul.

Ergui as sobrancelhas, ainda mais curioso. Do que aquele ser estava falando? Por que era tão esquisita na forma como se vestia e não parecia ser uma de nós, mas me tratava com tamanho respeito e possuía uma pronúncia tão perfeita?

— Seul?

Ela abriu a boca, mas ponderou.

— Hanyang, devo dizer.

Desde o primeiro momento, Yeo Reum demonstrou ser encantadora e cheia de virtudes, sobretudo sagaz e com um rápida raciocínio. Não pude deixar de entrigar-me cada vez mais com respeito a sua pessoa e fui intimamente forçado a não expulsá-la de minha presença da única forma que isso poderia ser feito.

Yeo Reum disse seu nome e foi audaciosa ao prometer que me daria explicações satisfatórias caso eu a poupasse. Instruí que se escondesse atrás dos arbustos até que a caçada terminasse e eu fosse ao seu encontro. Estava determinado a saber mais sobre ela e, por fim, decidir o que faria.

Voltei ao pôr do sol, e as palavras que ouvi a seguir me atordoaram, me fizeram questionar sua sanidade. Contudo, apesar da pele mais pálida do que antes e da voz fraca, Kim Yeo Reum não parecia estar mentindo.

Seus dedos deslizavam sem parar sobre o tecido grosso, que muito se parecia com uma proteção para as temperaturas frias, envolvido no pescoço conforme ela tecia comentários sobre sua vida no futuro. Sobre como Hanyang passara a se chamar Seul, como nosso povo evoluiu, como os monarcas deixaram de existir e como pessoas mais inteligentes que os sábios de abamamma descobriram coisas que eu jamais poderia imaginar.

Como viajar através do tempo, disse.

As palavras de Yeo Reum causavam-me mais riso do que qualquer outra coisa, como a confiança de que ela não era uma espiã, por exemplo, mas também tornavam ainda mais dolorosa a certeza de que eu deveria deixá-la onde estava.

Pensei em fazer isso, mas não o fiz.

Espreitando-me pelo Palácio, desviei-me de todas as gungnyeo e deixei Yeo Reum sob os cuidados de Hwang I, aquele em que eu mais confiava em toda Chosŏn.

Seja — ele me chamou. Estávamos à sós no Palacio Oriental. — Tem certeza do que está fazendo? Não sabemos quem ela é. E se jusang e jungjeon souberem…

— Trate de não deixar que eles saibam, Hwang I. Você consegue.

Nos vimos outra vez por volta da meia noite, quando todos já estavam em seus aposentos. Ainda me lembro do delicado hanbok que Yeo Reum usava, do ddaengi pendendo ao final de sua longa trança, de como parecia tão comum e tão diferente ao mesmo tempo.

Ela se esforçou para me explicar o que tinha acontecido e todos os fatores que resultaram no problema sem solução que, aparentemente, a fizera voltar centenas de anos no passado. E em meio a lágrimas e agarrada ao que ela dizia ser um cachecol, sussurrou que não havia nada que pudesse fazer para voltar para casa. Yeo Reum teria que ficar.

E ficou.

Acolhida como uma jovem dama da corte, passou a servir no Palácio.

Por alguma razão eu fazia questão de mantê-la por perto. Sempre a via chorar abraçada ao cachecol bege, que com o passar do tempo ficara surrado e delicado; se tornara a única lembrança da vida que dizia ter. Yeo Reum passou temporadas imersa na tristeza, mas contento-me em dizer que fui um dos motivos da volta de sua felicidade.

Sentimentos por Yeo Reum acabaram crescendo em mim. Ela era tão adorável e inteligente, uma mulher à frente de todas as outras — e, no fundo do meu ser, eu sabia o porquê disso. Suas bochechas constantemente coravam e o sol e a lua, os astros mais esplendorosos do universo, faziam seu rosto brilhar.

Por mais que eu não entendesse completamente tudo o que envolvia sua   chegada na floresta naquele dia, estava tudo bem. Eu a amava. E foi aterrorizante, quase humilhante, passar alguns segundos sem saber se Yeo Reum correspondia meus sentimentos.

Ao receber uma resposta, fiz o que parecia certo: informei a abamama e eomamama que gostaria de pular a seleção e me casar com a Dama da Corte Kim Yeo Reum. Não fiquei surpreso com a objeção, no entanto, não desisti de minhas convicções e sentimentos.

Yeo Reum se tornou wangsejabin.

E os anos seguintes foram os mais felizes de minha vida. Mesmo quando abamama morreu e recebi a grande carga da coroa, ela esteve lá.

Jeonha — Yeo Reum sentou-se em minha frente, escondendo as mãos atrás do dangui vermelho. — Você tem andado tão triste ultimamente. Pensei que seria bom bordarmos no cachecol. Como fazíamos antes.

Naquele dia, seu sorriso foi suficiente para espantar a tristeza e o cansaço que se espalhavam sorrateiramente por meu corpo.

— É uma ótima ideia, minha wangbi.

— Seo Dam — ela pediu que sua dama, carregando o cachecol em uma almofada verde e dourada com o tanto de cuidado possível, se aproximasse. Observei a peça já gasta pelo tempo. Haviam raminhos de flores roxas bordados nele, desde uma extremidade do tecido até a metade. — Obrigada.

— Não agradeça, mama.

Nós ficamos a sós, mantendo o olhar no cachecol. Quando Yeo Reum ainda era uma simples dama da corte, ela bordava nele flores delphinium — flores que ninguém nunca encontrara ou ouvira falar em todo o país — sempre que se sentia triste. Fosse por saudade da casa e da família que deixara para trás, fosse por outra razão. E eu passei a bordar com ela mesmo não tendo tamanha prática.

— Essas flores tem um significado especial, sabia seja? — ela me perguntou uma vez.

Eu descobri muitas coisas com Yeo Reum. Desde que as flores delphinium simbolizavam "eu farei você feliz" — o que constantemente me levava a desenhar um ramo da flor e pedir que Hwang I lhe entregasse o desenho ou bordar no cachecol quando me encontrava no Palácio Oriental — até o significado de jeong.

Jeong é uma expressão e um valor puramente coreano. Significa um forte sentimento de lealdade e conexão emocional com algo ou alguém. — ela explicou certa vez. Estávamos deitados na grama úmida do jardim leste, observando as estrelas cintilando no céu azul atemorizante. — Você já sentiu jeong, Baekhyun?

Creio que sim, Yeo Reum. E você?

— Já. Eu ainda sinto, se assim posso dizer. Não achei que seria possível, porque por mais que eu tente transformar esse lugar em meu, ele ainda não será meu, mas sempre que eu olho para tudo isso, até mesmo para meu velho cachecol… sinto jeong.

Yeo Reum não citou meu nome, mas algo me dizia que ela também estava falando de mim. Mas não importava, de qualquer forma, porque eu sentia jeong por ela. E continuei carregando esse sentimento comigo por anos suficientes para pensar que, por mais que Yeo Reum não tenha sido destinada a mim, ela se tonara parte de mim.

Quando minha amada rainha e esposa se foi — precocemente devido à forma como o tempo passava mais rápido para ela do que para todos nós, embora fisicamente ela continuasse a mesma —, quase tudo em meu entorno mudou. Nada era igual, se eu parasse para pensar bem. Meu amor não esfriou, mas deixou de ser o mesmo. Desde o instante em que Yeo Reum fechou os olhos pela última vez, eu soube que jamais voltaria a sentir por alguém o que senti por ela.

Apeguei-me firmemente às belas lembranças de minha amada. Baeksan, nosso filho e atual wangseja, é a parte de Yeo Reum que nunca se foi.

E seu cachecol, nosso cachecol, passou a ser aquilo ao qual eu recorria em meus momentos mais amargos. Não há nada mais doce do que lembrar que, apesar das circunstâncias, fiz Yeo Reum feliz pelo tempo em que foi possível e que ela me fez tão feliz quanto.

Dois dias atrás bordei no velho cachecol os últimos ramos de delphinium. Agora estou sentado frente ao túmulo de minha amada, talvez esperando que ela apareça e, entre risos discretos, pergunte "Jeonha, por que está com nosso cachecol aqui fora? Vamos entrar!", e também pensativo por deixá-lo aqui.

Representou nossa história, nos aproximou, guardou nossas tristezas e firmou nosso amor; esse cachecol tem em suas linhas a trajetória de uma viajante no tempo e um simples príncipe herdeiro que se casaram e foram wang e wangbi da grandiosa Chosŏn.

Jeonha — Mi Ri aparece e faz uma pequena reverência. — Daebi mama deseja vê-lo na sala do trono quanto antes.

Suspiro. Enrolo o velho cachecol e deixo-o recostado à lápide fria. Dói deixá-lo, mas também é aliviante. Por mais que tenha sido nosso, foi mais de Yeo Reum wanghu — pois ela chegou com ele, fez dele seu refúgio e a maior lembrança da vida que não voltaria a ter.

— Vamos. — me levanto. Mi Ri abre espaço e eu sigo pelo caminho coberto de folhas.

Olho para as árvores que cruzam meu caminho, as folhas verdes balançando sem parar. Ouço a voz de Baeksan ao longe e pego-me desejando que ele viva um amor tão abrasador e memorável quanto o meu e o de sua eomanim.

Quero que ele e meus futuros netos sintam jeong, mas por alguém para quem o tempo não passa mais rápido. Por alguém que não é e nunca será daqui; cuja única coisa que deixará de lembrança é outra pessoa com um coração quebrado.

Quero que sintam jeong, mas não por um cachecol velho e uma rainha viajante do tempo.

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Número de palavras do conto: 2000.

Espero que tenham gostado! <3

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