UNLOVED | sope

By hobitx

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Vocês acreditam no amor? ATENÇÃO: esta oneshot não é um romance! More

do you believe in love?

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By hobitx


oi voltei com mais uma oneshot para vocês pois minha cabeça não para de pensar infelizmente.

antes de começarem quero já deixar claro novamente que esta obra NÃO É UM ROMANCE!!!!!!!! não é minha intenção romantizar nada que é descrito aqui, e sim deixar claro que nada disso é normal e deve ser relevado.

contém gatilhos, caso seja sensível ao assunto sobre relacionamento abusivo NÃO LEIA, por favor! 

💔

Você acredita no amor?

Uma vez eu li um texto feito por uma pessoa anônima que o amor é algo que aparece na sua vida sem que você perceba. Aparece quando você mais precisa e quando percebe, está incluindo esta pessoa em tudo da sua vida. Em seus planos, em seus sonhos, suas metas, sua rotina, suas tarefas, tudo.

Não é algo intencional, é totalmente natural. Como fazer uma receita pensando: "não colocarei cebola, pois ele não gosta.", ou escolhendo um filme que ambos vão gostar de assistir. Que não seja bom apenas para uma pessoa, e sim para as duas.

Não há problema nenhum em agir desta forma com o seu amado, mas para ser saudável você deve saber todas as medidas. Deve saber o quanto você tem que abrir mão para agrada-la, deve saber impor seus limites, andar junto. Respeitar para ser respeitado.

Eu não soube medir.

Abria mão de coisas que não tinham necessidade para vê-lo feliz, para que ele se agradasse. Eu queria ser um bom namorado, para que ele não fosse embora. Me preocupava com apenas uma pessoa em questão e não dava a mínima se aquilo me agradava.

Eu não me importava comigo mesmo, com o que eu achava daquela situação, se eu deveria pensar duas vezes antes de fazer.

Me importava apenas com o que Hoseok fosse achar.

Não foi sempre assim. Nos primeiros meses que namoramos, eu tinha garantia de que nos desentendemos apenas duas vezes, mas por coisinhas idiotas. Ele era a melhor pessoa que eu já conheci e caiu na minha vida no exato momento em que estava precisando sossegar com alguém. Ele se encaixou perfeitamente no espaço que eu deixei reservado. Era o amor da minha vida. Era ele.

Hoje eu vejo que ele não era a peça ideal. Hoseok apenas deixou uma parte de si de fora temporariamente para que pudesse se encaixar no meu quebra-cabeças. A pior parte de si.

Eu morava sozinho e adorava aquilo. Tinha a minha liberdade, não precisava dar satisfações para ninguém a não ser eu mesmo. Eu era livre para fazer o que bem entendia e não precisava agradar ninguém. Depois que o conheci, meus pensamentos se modificaram completamente. Aquele apartamento que antes era tão confortável e aconchegante, passou a ser frio e vazio, me sentia solitário. Era como se faltasse algo, mesmo que eu não soubesse o que.

Precisava sossegar com alguém.

Isso durou apenas por mais seis meses, quando começamos a namorar e Hoseok me disse que se sentia da mesma forma. Não gostava de se sentir sozinho em sua casa, faltava algo, faltava cor, faltava alguém. Então me chamou para morar com ele. Naquele dia eu cresci em felicidade, me pareceu uma ideia tão boa, tão perfeita, tão calorosa, tão amável.

Tão, tão estúpida.

Hoje eu paro para pensar e me pergunto onde eu vi benefícios naquela decisão ridícula. Vender o meu apartamento para viver na casa de seu recente namorado, uma pessoa que você praticamente não conhece. Largar uma conquista sua para poder realizar um desejo que estava na cara que não poderia ser permanente.

Eu tento colocar a culpa na minha idade, dizia a mim mesmo que eu era jovem e não pensava direito nas minhas decisões, por mais absurdas que sejam. Era quase impossível dizer que deixei tudo isso acontecer porque eu era um adolescente apaixonado. Eu tinha 25 anos.

O que o amor nos faz fazer, não é?

A decisão não me pareceu ruim nos primeiros meses convivendo juntos. Dormindo juntos, acordando juntos, cozinhando um para o outro, saindo e voltando juntos para o mesmo lugar. Estava tudo tão perfeito. A minha timidez sempre me impedia de fazer muitas coisas, mas lá estava Hoseok. Me abraçando, me beijando, levando sua boca até o meu ouvido para dizer com sua voz calma e doce.

— Essa casa é nossa, Yoongi. Você tem toda liberdade para fazer o que quiser aqui.

A casa não era minha, era dele. Eu não tinha liberdade nenhuma, mas ele tinha.

Um ano depois nosso relacionamento seguia sendo uma das sete maravilhas, até ter nossa primeira briga. Por conta de uma ideia que foi dele.

Eu tinha minhas amizades e Hoseok tinha as dele. É comum que com o tempo convivendo juntos, seus amigos se tornem os meus também e vice-versa. Com o tempo ele tinha notado que aquela vida domesticada que adotamos havia nos afastado de nossos amigos, então planejou uma confraternização. Uma reunião simples para que possamos botar o papo em dia, com cerveja, petiscos e muitas risadas. Chamamos o grupinho de amigos de Hoseok e o meu também.

Não nos aguentávamos de tanto rir, muitas confissões colocadas em pauta e a partir dali puxavam outro acontecimento. No total, éramos oito pessoas falando alto, rindo, se xingando, relembrando.

— Poxa, fazia tempo que não fazíamos isso. – um dos amigos de Hoseok disse.

— Isso? – meu namorado perguntou.

— Sim. Rir, conversar, comer juntos. Já faz tempo que vocês participaram de uma reunião como essa. – completou.

Os outros que estavam presentes aos poucos foram concordando. Eu também concordei, ele estava certo. Fazia tempo.

— Mas estamos bem. – Hoseok disse, deixando todos confusos inclusive eu. — Não é como se tivéssemos tanta coisa assim para dizer a vocês. Além de tudo estamos sem tempo para nada. – fez uma careta desgostosa.

Jihye, minha amiga de longa data, deu um suspiro compreendendo.

— Falando em falta de tempo, como está sendo a faculdade, Yoongi? – me perguntou puxando assunto.

Puxei o ar entre os dentes.

— Complicado. Prestes a arrancar cada fio de cabelo que tenho na cabeça. – todos riram. — Todos os dias pergunto ao Min Yoongi de 5 anos de idade o que ele tinha na cabeça quando pensou que queria ser arquiteto.

Hoseok riu me abraçando de lado.

— Ele já sabia da própria capacidade. Sabia que era incrível e daria conta. – me puxou para beijar o topo da minha cabeça.

E assovios foram ouvidos de nossos amigos, junto também com algumas simulações de enjoo.

— Vocês são lindos juntos. – Namjoon disse de longe.

Nós éramos mesmo, não é?

— E são nojentos. – Jay brincou.

Eu o odiava por ser completamente sem noção.

— Quem diria que veria o Hoseok sendo um bobo apaixonado. Pensar que antes ele era o maior golpista me parece absurdo agora. – completou.

Eu ri fraco, virando para si e o vendo se acabar de dar risada.

— Você lembra do dia que fomos a uma festa da faculdade? Aquela que era temática? Se eu não me engano, festa do pijama. – ele lembrou e Jay sorriu assentindo.

— Cara você deu um sumiço em geral! Ficamos igual loucos te procurando por uns vinte minutos e você preso no banheiro com sei lá quem. – disse e voltou a rir. — Três de uma vez? Você era um guloso!

Eu fechei meu sorriso na hora, esperando que Jay percebesse que a conversa me incomodava. Levei o olhar até Hoseok para que ele notasse e mudasse de assunto, porque se continuasse dando trela para aquele arrombado ele seguiria com os mesmos assuntos a noite inteira.

Mas ao encarar meu namorado, ele não parecia tão incomodado como eu estava. Ele parecia nostálgico.

— Eram tempos bons. – Hoseok comentou, me surpreendendo. Piorando tudo quando continuou a falar. — Acho que ainda tenho um pouco do meu dom aqui dentro. Eu era muito bom no que fazia.

Eu fingi uma risada tão ridícula que provavelmente todos devem ter percebido que eu não gostei nada daquele assunto. Aquilo tinha acabado comigo.

Mas Hoseok não parecia incomodado. Ele e Jay continuaram puxando o mesmo assunto, falando coisas que eu não sabia e que também não queria saber. Não precisava saber que meu namorado pegava todos que queria, que era ótimo de lábia, que já participou de uma orgia com seu amigo sem noção, que antes de mim ele era bem mais legal.

Também não queria saber o quanto Hoseok parecia sentir falta daquilo tudo.

Mas eu soube.

Jimin era meu melhor amigo, minha alma gêmea. O que eu passava contava para ele e qualquer coisa que ele fizesse vinha me contar. Ele me lia, eu era completamente transparente quando se tratava dele. Na hora ele notou que eu não queria estar mais ali no meio.

Senti sua mão me puxando dali a força, dizendo que tinha uma fofoca para me contar e tinha que ficar entre nós dois.

Só me permiti chorar quando o vi fechar a porta do banheiro atrás de nós e senti seu olhar sobre mim. Um olhar que dizia "eu sei, pode chorar".

Eu estava me sentindo horrível. Um peso, um nada, apenas ocupando espaço ali naquela sala. Minha presença ali não fazia a mínima diferença, pois independentemente de o assunto estar me incomodando ou não, não cabe a mim encerra-lo. Não era sobre mim.

Chorei porque eu me sentia ridículo por chorar por algo tão idiota. Chorei porque os amigos de Hoseok não me respeitavam.

E também chorei porque Hoseok não dava a mínima para isso.

Depois que todos foram embora, eu não conseguia disfarçar minha cara de poucos amigos. Estava chateado, bravo, triste, desanimado. Era pra ser algo legal para que pudéssemos fugir um pouco dessa rotina de estudar, trabalhar, chegar em casa e trabalhar mais um pouco antes de dormir, para que pudéssemos repetir tudo no outro dia.

Arrumávamos toda a bagunça em um completo silêncio. Hoseok já havia notado que tinha algo errado, não era idiota, mas não se atreveu a perguntar nada. Esperou para ver até onde ia enquanto eu esperava por alguma atitude, qualquer coisa que fosse. Algo para que eu pudesse ao menos ver que ele se importa se eu estou bem ou não. Eu só fui ouvir algo quando estava tomando banho.

Hoseok entrou no banheiro para escovar seus dentes enquanto eu me banhava, sem dizer nada. Sabia que tinha algo errado, mas mesmo assim não disse nada. Eu estava de costas para o vidro quando o ouvi bufar. Me virei e o encontrei com os braços cruzados, me encarando.

— O que há de errado com você? – perguntou baixo.

Eu dei de ombros, indiferente.

— Acha que eu não percebi que você está diferente? Acho que todos notaram, Yoongi. – continuou falando. — Você estava bem, rindo e se divertindo. Do nada fechou o tempo. O que foi?

Ignorei-o por enquanto. Peguei minha toalha, sequei meu corpo calmamente e passei por ele para ir até o quarto. Enquanto procurava por uma roupa sentia seu olhar em mim. Esperava que eu olhasse para si, mas não foi o que eu fiz.

Sentei na ponta da cama, já vestido, e finalmente o encarei.

— Quando eu tinha 22 anos eu conheci uma garota. – falei sustentando seu olhar. — Ela era linda. Tinha os cabelos escuros que iam até o final de suas costas. Não me lembro o nome dela, mas também não preciso. Não estava dando a mínima para o nome dela quando tinha mais com o que me preocupar.

Hoseok estava me encarando de uma forma que eu nem sabia o que significava.

— Estávamos bebendo no dia que a conheci. Lembro de cada detalhe daquela noite. – dei um suspiro longo. — Foi uma noite bem longa.

— Por que está dizendo isso? Está louco? – perguntou antes que eu continuasse a falar.

— Por quê? Te incomoda?

— Por que não me incomodaria ver o meu namorado falando de uma pessoa que eu nem conheço desta forma?

Eu sorri pequeno.

— É bom saber o que te incomoda. Assim eu fico sabendo que você não vai gostar e não vou fazer novamente. Apesar que eu acho que nenhuma pessoa gostaria de ouvir seu namorado falando de seu passado com um tom de saudade. – entortei a boca. — Eu estou errado. Me perdoa?

Após longos segundos em silêncio, Hoseok entendeu o que eu estava querendo dizer. Colocou as duas mãos apoiadas na cintura e olhou para os cantos, antes de virar para mim.

— Você está falando isso por causa do que aconteceu hoje? – perguntou incrédulo. — Jura que você se incomodou com o Jay falando aquelas coisas? Yoongi aquilo foi bem antes de te conhecer.

Eu dei de ombros.

— Mas com essa garota também foi antes de te conhecer. Por que você se incomodou?

Hoseok riu.

— Por que está agindo como uma criança? Você já está fazendo birra. Eu não sinto saudade dessa merda. Se eu estivesse insatisfeito, não acha que eu já teria terminado com você? – começou a aumentar o tom de voz. — Mesmo assim ainda estou aqui no meu quarto com você, te vendo agir como se tivesse 15 anos de idade. Ainda perdendo o meu tempo e saliva falando algo que não deveria nem ser conversado, já é mais do que lógico.

Eu levantei e o encarei com o braço cruzado.

— Você está começando a agir feito um neurótico. Tudo isso é paranoia da sua cabeça, que não tem mais o que criar!

— Abaixa a voz e fale direito comigo. – pedi.

— Eu falo do jeito que eu quiser! – gritou. — Estou no meu quarto, na minha casa, posso falar do jeito que eu quiser com você!

Nas poucas vezes que brigamos, Hoseok nunca se cresceu pra cima de mim. Nunca gritou comigo, nunca me deu aquele olhar. Aquilo me assustou de uma forma que eu nunca esperei sentir algum dia da minha vida.

Muito menos com ele.

— Você pode falar do jeito que você quiser na sua casa. – falei, mantendo o mesmo tom de voz de antes. — Mas comigo não, Hoseok.

Ele arqueou a sobrancelha de um jeito como se o que eu acabei de falar fosse muito adorável e engraçado. Tal qual um pai achando fofo o seu filho pequeno dizendo palavras novas.

Aquilo me diminuiu. Como se fosse possível me deixar menor do que já estava me sentindo depois de ouvir meu namorado dizer que a casa era sua e ele poderia falar de qualquer jeito comigo.

— Você age como se estivesse em vantagem. Se sair daqui você vai para onde, amor? – zombou a última palavra. — Esqueceu que o seu apartamento está à venda? Você mora comigo agora!

Eu senti um aperto tão forte no peito que minha vontade era de manda-lo ir para o inferno e chorar ao mesmo tempo. Eu não queria demonstrar fraqueza, demonstrar que aquelas palavras me afetavam. Deixa-lo no pódio era o que ele queria e mostrar que aquelas palavras dele me machucavam era como dar doces a uma criança.

— Não era pra causar toda essa guerra, Hoseok! Eu só falei o que me incomodou e você começou a agir feito um idiota! – desta vez perdi o controle e gritei.

E me arrependi no mesmo momento.

— Nós estávamos bem algumas horas atrás, mas é claro que você tinha que estragar tudo. Como sempre, você estraga os nossos momentos. – continuou falando. — Toda essa merda está acontecendo por culpa sua!

Poderia o xingar de todas as formas, arrumar minhas coisas e sair. Para a casa de Jimin ou de Jihye, ou um hotel talvez. Qualquer lugar. Aquilo era ridículo e eu não precisava de nada daquilo. Hoseok não era o centro do universo, muito pelo contrário. Comparado ao tamanho do universo e sua importância, ele não era porra nenhuma, assim como eu.

É claro que eu era um idiota. Eu não era porra nenhuma no universo e aquilo não me incomodava. Mas que me incomodava mesmo era que, sem ele, eu não tinha um propósito.

E naquela época, para mim, Hoseok era sim o centro do universo.

— Me desculpa. – eu falei.

Pela primeira vez eu me desculpei por um erro que era dele. E infelizmente aquela não foi a última vez.

Eu não era do tipo que demonstrava meu ciúme. Confiava em Hoseok e sei que ele não faria nada, assim como eu sabia que ele confiava em mim também. Ou eu achava que confiava.

Nas poucas brigas que tivemos, não teve ciúmes incluído, ele não se importava muito com quem eu andava ou com quem saía. Nunca foi um problema para ele. Até um certo dia em que eu havia marcado de sair com Jimin, Jihye e Taehyung, pois a última vez que nos encontramos foi no fatídico dia da reunião aqui em casa.

Tinha acabado de sair do banho, estava na cama passando hidratante na pele quando Hoseok apareceu no quarto e me encarou. Eu apenas o olhei rápido e voltei ao que estava fazendo.

Não me era estranho que ele me admire enquanto eu me arrumava. Seja para sair com ele, sair sozinho ou simplesmente os cuidados com a minha pele antes de dormir. Por isso eu não achei estranho ver ele encostado no batente, acompanhando minhas mãos nas minhas pernas.

— Vão sair que horas? – ele perguntou baixo.

Dei de ombros.

— Eu não sei. Estou esperando Jimin me responder. Acho que a Jihye ainda não saiu do trabalho. – respondi. — Por quê? Já está com saudades? – brinquei.

Hoseok sorriu e assentiu.

— Sabe que eu sinto saudade de você quando estou em casa sozinho. – fez um bico. — Eu estou perguntando porque já são quase dez horas da noite. Está ficando tarde.

Eu franzi a testa antes de me levantar para ficar de frente para o guarda-roupas. Fui procurando alguma peça que me esquentasse, mas que não estrague o meu estilo. Estava frio nas ruas e eu não sabia que horas iria voltar. Poderia esfriar mais tarde.

— Mas sempre saí nesse horário. Qual é o problema agora? – falei sem o encarar.

Hoseok me viu pegar uma calça que eu não usava sempre. Era preta e parecia não ficar tão larga no meu corpo como antigamente. Peguei também uma camisa lisa azul escura e uma jaqueta de couro que era dele e eu havia roubado.

Vesti a calça e vi que realmente ela havia ficado um pouco apertada no meu corpo.

Vi seu nariz enrugar para mim.

— Você ainda vai sair para encontrar com eles, sozinho nas ruas com essa roupa? – perguntou.

Eu olhei para a calça, indiferente.

— O que tem de errado com ela?

— Está bem apertada. – comentou, apontando com o queixo.

— Sim, mas não me incomoda tanto. Está um justo bom para mim. – disse.

O real problema é que não importava se estava boa pra mim. Para ele não estava.

— Eu sei que está. Parece se mover bem com ela. – enrolou. — Mas acho que não precisa ir com ela hoje. Você não pode usar aquela de jeans claro?

Ele veio na minha direção para ficar de frente para o guarda-roupas e puxar a calça que havia mencionado. Curiosamente era a calça mais surrada que eu tinha para sair, usava ela em qualquer ocasião do dia, até para ficar em casa sem fazer nada.

Era velha, estava desbotada e ficava larga no meu corpo.

Para Hoseok, estava perfeita.

— Essa calça eu só falto usar para limpar o chão, Hobi. – ri.

— Não exagere. Acho que ela fica boa com essa blusa azul. Você não acha? – neguei. — Poxa, eu achei ótima. Por que você não a usa por mim? – fez um bico.

Eu fiz um meneio com a cabeça. Eu odiei aquela calça, mas ele pediu para que eu usasse. E eu, como um belo idiota, usei aquele inferno para ir a uma festa. Passei a noite inteira me odiando por ter seguido seu conselho. Me perguntando porque eu desisti de ir com uma calça que amava para ir com uma que ficou horrível em mim.

Mas por que jogar tanto ódio? Ele estava apenas cuidado de mim. Se preocupando com o meu bem-estar, se eu vou ficar confortável no resto da noite.

Talvez estava sendo inocente demais em achar que aquilo era muita preocupação apenas naquele dia em específico. Depois desse dia, ele me fazia usar minhas piores roupas para sair. Roupas que eu deixava já no fundo do guarda-roupas para depois lembrar de joga-las fora. Eram terríveis, chamavam atenção por serem totalmente fora de moda e desleixadas.

Para Hoseok, eram perfeitas.

Onde morávamos tinham ótimas baladas. Taehyung era um baladeiro de carteirinha. Tinha contatos que conseguia nos enfiar em qualquer festa que tivesse. Jimin entrava na onda e sempre dava um jeito de me convencer a ir junto, por mais cansado que eu estivesse.

Em uma dessas vezes, ele apareceu de surpresa em casa, super animado.

— Yoongi! – disse animado quando me viu abrir a porta. — Estava indo embora da casa de Jungkook e resolvi passar aqui ao invés de te ligar. O Tae conseguiu nos colocar na lista daquela boate que nós fomos no começo do ano. E nós vamos!

— Nós vamos? – disse rindo de sua animação.

— Claro que sim! Já falei com a Jihye e Jungkook. Ele disse que vai também.

Já tinha duas semanas desde que Jimin conheceu um garoto em uma dessas noitadas malucas dele e passaram a ficar. Jungkook era ótimo para ele, carinhoso, atencioso, sempre estava incluído nas saídas de meu melhor amigo. Eram lindos juntos.

Enquanto conversava com Jimin, Hoseok passou atrás de mim com uma toalha enrolada na cintura, secando o cabelo com outra. Olhou rapidamente para a porta e viu Jimin ali. Acenou com um sorrisinho o cumprimentando e entrou no quarto para se trocar.

Jimin me encarou.

— Chama Hoseok para ir também. – sugeriu.

Eu dei de ombros, incerto se deveria fazer mesmo aquilo.

Sair com Hoseok junto com meus amigos nunca foi um problema para mim. Todos já se conheciam e se divertiam juntos. Porém, ultimamente, ele anda chato para sair. Assim que chegamos no local ele já quer ir embora.

A ultima coisa que eu queria é estragar a noite dos meus amigos por conta do Hoseok. Eu, real, não queria que ele fosse, mas seria muito complicado de explicar isso a ele sem que eu parecesse um péssimo namorado.

Eu sempre me achava um companheiro horrível quando excluía meu namorado das minhas saídas.

Antes que eu pudesse responder, Hoseok apareceu atrás de mim e me abraçou.

— Hobi eu estava falando com Yoongi sobre uma boate que iremos. Você quer ir? – perguntou.

Hoseok demorou para responder.

— Hm... Eu não sei. Estou cansado demais para sair e sinceramente, queria ficar em casa com o meu namorado hoje. – disse baixinho, piscando um dos olhos para Jimin.

Eu sorri, mas Jimin não.

— Poxa, vai ser tão legal. Vocês vão se divertir bastante. – garantiu. — Qualquer coisa vocês vão embora mais cedo. Você anda tão velho que só passa 15 minutos nas festas e vai embora.

A risada do Hoseok atrás de mim foi artificial. O conhecia o suficiente para saber quando algo o incomodou. Foi exatamente o que aconteceu naquele momento.

O silêncio que ficou depois do comentário foi desconfortável. Jimin não sabia o que dizer e Hoseok muito menos. Eu no meio daquela situação, só queria voltar dez minutos no tempo onde nada disso tinha acontecido.

— Eu vou conversar com Yoongi, talvez nós iremos. – sorriu.

Jimin abriu um sorriso grande e assentiu, indo até o carro que deixou estacionado na rua dizendo que iria para casa se arrumar e nos encontrava lá.

Fechei a porta e Hoseok me soltou para me encarar assim que me virei para ele.

— Não vamos. – disse.

Eu arregalei os olhos, surpreso pela sua brusca mudança de expressão.

— O que? Por quê? – perguntei um pouco triste.

— Eu não quero ir.

Eu dei de ombros.

— E daí? Se você não quer, eu quero. – respondi indiferente.

Hoseok arqueou as sobrancelhas.

— Está louco? Eu não sou nem doido de te deixar sozinho naquele lugar. Se eu não for, você não vai. – disse e deu as costas.

Quando Hoseok determinava algo, só Deus mudava sua opinião. Se eu insistisse muito naquilo com certeza brigaríamos novamente e resultaria a mesma coisa que aconteceu naquele dia. E eu com certeza não quero ter que ficar cinco dias sem falar com a pessoa que mora comigo de novo. Foi um pesadelo completo.

Entrei no quarto e o vi deitado na cama mexendo em seu celular. Não fez questão nem de me encarar.

Não teria jeito.

Tirei meu celular do meu bolso, abri a minha conversa com Jimin e digitei uma mensagem rapidamente.

"Nós não iremos."

Jimin mandou uma série de mensagens perguntando o porquê. Disse que se o problema fosse transporte ele daria um jeito de me trazer em casa, ou eu poderia dormir com ele, qualquer coisa. Sempre foi muito insistente.

Eu adoraria muito ir. Gostaria muito de abrir aquele guarda-roupas, colocar a minha melhor combinação de roupa e sair desta casa para voltar no outro dia na hora do almoço.

Mas eu neguei. Naquele dia eu novamente escolhi Hoseok.

Eu não fiquei me martirizando demais naquela escolha. Apenas bloqueei a tela do meu celular, deixei de lado e deitei ao lado do meu namorado. Me virei de costas e suspirei pesado. Estava triste, estava chateado e, pior, estava me sentindo horrível por estar magoado por preferir escolher meus amigos ao invés do meu namorado. Aquilo me atormentou por horas.

Mas passou quando senti os braços dele me abraçando por trás e me puxando para grudar meu corpo ao dele. Seus lábios foram para a minha nuca deixando um beijinho ali enquanto dizia que me amava, que eu sou tudo para ele.

Eu não queria ter me sentido tão bem com aqueles gestos. Sentindo todo aquele carinho, aquele afeto que mais parecia uma recompensa por ter sido tão obediente, eu não me arrependia pela escolha que fiz.

Eu o amava tanto.

Duas semanas tinham se passado e eu mantinha minha mesma rotina de trabalho, faculdade e casa. Era exaustivo e tudo que eu precisava era algum lugar pra ir, esfriar a cabeça. Faziam dias que meus amigos tinham me chamado para sair no sábado e eu novamente neguei. Não estava muito afim de sair naquele dia. Eu sabia o motivo pelo qual não estava afim, mas nunca quis dizer para ninguém, muito menos para mim mesmo.

Era quarta-feira quando Jimin apareceu sem me avisar em casa, sozinho e de mãos vazias.

— Oi, Jimin! Tudo bem com você? – cumprimentei alegre.

Eu adorava sua companhia. Jimin sempre foi o meu melhor amigo, sempre foi a minha pessoa. Sua presença sempre era muito bem-vinda na minha vida, desde sempre, para sempre.

— Oi Yoon. Eu estava passando por perto e resolvi passar aqui para te dar um oi. Estou com saudades de você. – sorriu fofo enquanto entrava em casa. — Está sozinho?

— Estou sim. Hoseok foi resolver algo no trabalho dele e já, já ele volta. – sentei no sofá afastando o meu notebook para lhe dar espaço para sentar ao meu lado. — Estava tentando estudar, mas não estou com cabeça para isso.

Jimin assentiu e tomou um ar para começar a falar.

— Faz tempo que você não sai com a gente. – comentou e eu assenti. — Sentimos sua falta, sabia?

Eu assenti novamente, com um sorriso triste. Eu sabia que estava bem ausente a respeito de sair com os meus amigos. Nós éramos muito próximos e de repente eu não estou mais sabendo de novidade nenhuma.

— Vamos fazer algo lá na minha casa. Você quer ir? – convidou.

Eu fiz um meneio com a cabeça, hesitando na minha resposta.

Eu nunca tinha hesitado em responder que sim, eu adoraria sair com o meu melhor amigo, mesmo que não fossemos fazer nada. Alguma vez na vida eu já neguei, mas sempre tive um motivo. Seja falta de tempo, falta de dinheiro ou até a falta de disposição.

Desta vez eu não tinha um motivo, mesmo assim eu não quis dizer 'sim'.

— Eu... Não sei, Jimin. – cocei a minha nuca.

Ele se ajeitou no sofá para ficar de frente para mim.

— Por quê? Tem algum compromisso? – perguntou.

— Não, não. Eu só... – inclinei a cabeça para então dizer: — Eu tenho que falar com Hoseok.

E dizer aquilo, para Jimin foi um dos maiores absurdos que ele já ouviu na vida dele. A expressão em seu rosto me constrangia, me deixava acuado, me fazia me perguntar se o que eu disse foi imoral.

Ficamos segundos em silêncio, até ele abrir a boca.

— Por que você tem que falar com Hoseok? Eu chamei você, não ele. – disse.

— Eu sei, mas... Talvez ele queira ir junto...

— Não, Yoongi. – ele me interrompeu. — Eu chamei você para ir. Se ele vai querer ir ou não, não interessa. Não vai interferir sua resposta. Você não tem que pedir pra ele, tem que avisar que está indo.

Eu abaixei minha cabeça.

Aquilo me deu um embrulho horrível na barriga. Não aceitava a opinião de Jimin. Ele estava errado, aquilo era errado. Eu morava com Hoseok, ele era meu namorado, é claro que precisava pedir para ele. Ele precisava saber.

Jimin não namorava, não tinha nada sério com o garoto com quem ficava. Não devia satisfação nenhuma para Jungkook.

Mas eu teria que dar satisfação ao Hoseok.

Eu dizia a mesma coisa na minha cabeça durante os segundos que se instalou após ele dizer aquelas palavras. Ele estava errado, eu precisava falar com Hoseok, ele precisava saber, ele precisava autorizar. Jimin não entendia aquele ponto de vista, ele não namorava. Ele não sabia como é.

— Yoongi, olha para mim, por favor. – pediu e eu fiz. — Converse comigo. O que está acontecendo?

Eu ri.

Eu ri porque aquela pergunta era ridícula.

Eu ri porque não tinha nada acontecendo.

Eu ri porque tudo aquilo era um grande exagero.

Eu ri para tentar espantar o nó que se formou na minha garganta.

— Yoongi eu te amo, você é uma das pessoas mais importantes na minha vida e eu não quero te perder nunca. Eu me preocupo com você, quero saber se você está bem e te ajudar em qualquer situação, mas pra isso eu preciso da sua ajuda também. – disse baixinho, enquanto eu tentava a todo custo ignorar as malditas lágrimas que estavam implorando para caírem. — Por favor, me ajuda a te ajudar...

— Jimin... – eu falei apenas. Funguei e o encarei. — Não está acontecendo nada.

Era mais do que óbvio que estava. Estava escrito em todos os lugares. Só eu não estava vendo.

No minuto que Jimin ia falar algo, a porta foi aberta e Hoseok apareceu. Eu não queria, eu juro que não queria ter sentido um alívio apossar do meu corpo quando o vi ali. Eu queria que acabasse aquela conversa.

A porta foi fechada, Hoseok apareceu do nosso lado, mas Jimin não se atreveu a olha-lo. Seus olhos permaneciam em mim. Seus olhos conversavam comigo, mesmo sem dizer nada.

Seus olhos diziam: confie em mim.

— Yoongi? Está tudo bem? – Hoseok perguntou e eu permaneci encarando meu melhor amigo bem na minha frente. Senti suas mãos em mim e finalmente desviei o olhar de Jimin para meu namorado de pé bem ao meu lado. — Está acontecendo alguma coisa?

— Não, Hoseok. Está tudo bem. – Jimin respondeu na minha frente. — Só aconteceu uma coisa com uma colega nossa e eu tinha que contar para ele pessoalmente. Não se preocupe. – sorriu.

Aquele foi o sorriso mais falso que eu já vi vindo dele.

Hoseok assentiu, mas não parecia convencido. Mesmo assim deu as costas e foi para o quarto. Quando fechou a porta, Jimin voltou a me olhar.

— Meu bem você quer conversar lá na minha casa? – perguntou, desta vez com a voz mais baixa.

Eu neguei.

— Está tudo bem. Depois nós conversamos. Eu preciso... Por favor, vá. – eu me levantei e fui em direção a porta. Jimin me olhou incrédulo. — Por favor, Jimin...

Ficamos longos segundos em silêncio total. Eu pedia para que ele fosse embora e ele permanecia no mesmo lugar, esperando. Esperando algo que eu não sabia o que era, mas estava esperando.

Quando finalmente percebeu que não teria uma segunda opção, Jimin se levantou e veio até a porta. Me olhava triste, indignado que estava sendo convidado a ir embora. Eu abri a porta e ele passou por ela, mas parou próximo do batente para me encarar. Ia dizer alguma coisa, mas desviou o olhar de mim para ver algo por cima do meu ombro. Não algo, mas alguém.

Eu não sabia, mas Hoseok estava apoiado na bancada da cozinha com os braços cruzados, olhando-o. Jimin então me lançou uma última olhada e deu as costas para ir embora.

Eu não imaginava que aquela seria a última vez que recebia Jimin na minha casa.

Hoseok não tocou no assunto, eu muito menos. Naquele mesmo dia deu para contar nos dedos quantas palavras nós trocamos até a hora de dormir.

Os dias se passaram muito devagar e até o próximo final de semana eu andava desviando as conversas de meus amigos me perguntando porque eu sumi. Jimin falava em poucas palavras comigo, sempre tentando chegar em algum lugar para que possa finalmente ter a oportunidade de me perguntar o que estava acontecendo. Mesmo eu dizendo que nada estava acontecendo.

Era domingo a noite quando eu estava fazendo um desenho técnico de uma planta-baixa da minha faculdade e Hoseok apareceu do meu lado. Ele se inclinou sobre mim e beijou o topo da minha cabeça.

— Vai demorar muito ainda? – perguntou e eu neguei.

— Já estou terminando. Só falta alguns detalhes mesmo. – disse e olhei para cima para lhe dar um selinho.

Hoseok suspirou e após alguns segundos voltou a falar.

— Jimin acabou de me mandar uma mensagem. – disse baixinho.

Meu corpo enrijeceu.

— Ah é? O que ele disse? – perguntei.

Hoseok fez alguns gestos com a cabeça, como quem não sabia direito.

— Eu sei lá, só falou coisas sem sentido. Que você estava ignorando ele, que estava diferente... – foi falando. — Disse que te mandaria uma mensagem, mas preferiu mandar para mim para que vocês não começassem a brigar. Ele não quer brigar com você.

Enquanto falava eu diminuía a velocidade que passava o lápis no esquadro. O que Hoseok disse depois me machucou mais ainda.

— Disse também que você não precisa mais procurar ele que ele vai te deixar em paz.

Eu larguei o lápis e o encarei, incrédulo. Pensando naquelas palavras, absorvendo tudo aquilo enquanto sentia aquilo mastigando meu coração de uma forma cruel.

— Ele te disse isso? – perguntei, sem acreditar.

Eu tinha perdido o meu melhor amigo.

Hoseok notou minha reação e virou minha cadeira para ficar de frente para mim, se abaixou e colocou as mãos nas minhas pernas.

— Se você quer saber, amor, não está perdendo nada. Para mim você continua o mesmo e vai ficar bem melhor sem ele no seu pé. – disse e sorriu antes de me beijar. Eu assenti e aceitei o seu abraço. — Eu te amo, tudo bem? Agora vem deitar para você não ficar muito cansado amanhã.

Eu assenti novamente e segurei a mão que me foi estendida, me levando até o quarto. Hoseok tirou minhas roupas e me deitou na cama, me cuidando como sempre fazia. Acariciando o meu braço e minhas costas, beijando meus cabelos e meu pescoço sussurrando que estava tudo bem e que ele estava ali comigo pra sempre. Me amando, como sempre fez.

Enquanto eu estava aceitando toda sua carícia, todo seu afeto, todo seu amor. Como sempre fiz.

Naquela noite eu fui dormir extremamente triste e magoado, como se alguém tivesse pisado muito feio na bola comigo.

Eu remoí toda aquela situação por muito tempo. Me perguntei o que fiz de errado para que aquilo tudo acontecesse e me perguntei o que poderia ser tão absurdo a ponto de Jimin querer me deixar. Ao longo da nossa amizade, que já durava quase 15 anos, nós já tivemos nossas desavenças, mas qualquer amizade tinha. Era completamente normal amigos discutirem de vez em quando.

Jimin era mais do que meu melhor amigo, era meu irmão. Todos os perrengues que passamos foram juntos, um apoiando ou julgando o outro. Todos os primeiros foras, primeiras descobertas, primeiros surtos. Éramos nós dois contra tudo. Mas concidentemente era o meu primeiro namoro de longa data que ele acompanhava.

Eu cheguei a uma conclusão que nem eu mesmo sabia de onde tirei aquela ideia ridícula. Jimin estava com ciúmes do meu relacionamento com Hoseok.

A partir daquele dia eu comecei a acreditar que aquele show que ele fez foi porque não estava conseguindo estragar o meu namoro. Aos poucos fui me desprendendo dele e consequentemente me afastei de todos os meus amigos. Jungkook estava chateado por Jimin, Taehyung não me convidava mais pra nada, Jihye tentou me mandar mensagem e eu a ignorei. Dentro de uma semana eu cheguei à conclusão que bloqueá-los seria a melhor escolha para o bem da minha saúde mental e a saúde do meu relacionamento.

E em um ano, eu só tinha ele.

Passei meses da minha vida achando que quem estava acabando com o meu namoro eram meus amigos, as pessoas que eu mais queria ao meu lado e que mais queriam o meu bem. A verdade era que quem estava acabando com o meu namoro era o próprio Hoseok.

O filho da puta do meu namorado.

Hoseok não me deixava sair se não fosse com ele junto, eu não podia fazer outras amizades, não lembro quando vi minha família. Pelo menos o meu trabalho e minha faculdade eu consegui manter na minha rota diária, a muito custo. Ele já tentou me convencer de que seguir com o estudo à distância era uma boa ideia, depois de uma briga onde novamente a culpa foi toda minha, eu continuei no presencial.

Eu seguia do trabalho para a faculdade e da faculdade para casa.

Até que um dia eu estava saindo da universidade e fui surpreendido pela última pessoa que queria ver naquele dia. Jimin estava com os braços cruzados, sua expressão não parecia ser de uma pessoa que sentia saudades. Estava encostado no carro, parecia esperar alguém.

Esse alguém era eu.

Jimin me chamou e quando percebeu que eu não iria até ele, veio correndo até mim para segurar em meu braço para me impedir de fugir.

— Por que não me responde mais? – perguntou e eu franzi o cenho para ele

— Não sei do que está falando.

Era lógico que sabia do que ele estava falando.

— Claro que você sabe, Yoongi. Eu não sou idiota. – disse firme. — Vamos, entra no carro que eu te levo até em casa e você me explica tudo.

Eu passei muitos segundo lhe encarando, pensando no que faria. Eu não queria entrar em lugar nenhum, apenas ir para a minha casa e seguir o restante do meu dia sem precisar me explicar para ninguém.

Mas eu sentia tanta falta do meu melhor amigo.

Eu entrei no carro sem demonstrar nenhuma reação além da expressão de quem não devia nada a ninguém. Assim que ele entrou no carro e bateu a porta, deu um suspiro longo e me encarou. Permaneceu seu olhar em mim até eu o encarar.

— Estou preocupado com você Yoongi. – disse baixinho.

Sua expressão foi de chateação para preocupação em segundos.

— Preocupado com o que, exatamente? – perguntei ainda o encarando. — Eu não estou doente, estou ótimo.

— Então por que você sumiu? – encostou as costas no banco e ligou o carro. — Eu tento te procurar e você não me responde, sumiu de tudo. Taehyung e Jihye também estão atrás de você, sabia? Eu vou ter que ir atrás de você nos lugares e pagar de stalker pra ter notícias suas?

Eu engoli em seco.

A verdade é que bloqueei todos eles e por isso que ninguém tem informações sobre mim, mas ele não precisava saber disso.

Ao pensar no fato de que quem começou tudo foi ele, eu meio que tirei uma parcela de culpa das minhas costas. Se eles não tivessem se metido tanto na minha vida, isso não teria acontecido. A culpa era toda de Jimin e estava me incomodando ouvir ele falando como se tudo que aconteceu fosse por minha causa.

— Você está querendo saber o que, se ultimamente não tem acontecido nada de tão interessante assim? – falei sem o olhar, como uma criança birrenta.

Pela visão periférica, vi Jimin ficar indignado enquanto olhava para a rua.

— Como que eu vou saber que não aconteceu nada de tão interessante assim na sua vida se você não me conta nada? – aumentou o tom de voz. — Yoongi não existe nenhuma desculpa? Nenhuma? Porque até agora só ouvi você contornando a situação.

Ele estava querendo chegar em algum lugar. Estava começando a me deixar puto a forma como ele tentava se fazer de desentendido. Como se soubesse o que estava acontecendo e só estava esperando sair as palavras da minha boca.

A sorte é que eu já estava chegando em casa e não precisava mais ouvir suas graças.

Paramos no último semáforo antes de chegarmos na minha casa e Jimin respirou fundo, encostando a testa no volante.

— Yoongi olhe para mim. – pediu e eu o fiz depois de revirar os olhos. — Me responde com sinceridade: o que está acontecendo?

E aí sim eu explodi.

— Como assim, Jimin? Você sabe muito bem o que está acontecendo. Está se fazendo de idiota? – gritei e ele se assustou. Não esperava aquela reação. — Porra você quer que eu me humilhe? Que eu fale com todas as palavras? Beleza então: eu bloqueei todos vocês!

Eu não sabia decifrar ao certo o que Jimin poderia estar pensando quando voltou a dirigir.

— Por quê? – respondeu com calma.

Eu o odiava por sempre me trazer a calma, não importa o que tenha acontecido. Seu tom sempre era o oposto do meu, mesmo que ele tenha se estressado primeiro. Como se ele pudesse explodir e querer quebrar tudo, mas se eu fizesse, ele tentava me acalmar para que nada de errado acontecesse comigo. Eu o odiava por isso, mas também o amava pelo mesmo motivo.

Na hora eu abaixei os ombros.

— Você me confunde. – suspirei e abaixei a cabeça. — Uma hora você demonstra querer se afastar de mim e na outra quer saber o que aconteceu para eu ter te bloqueado, sabe?

Jimin franziu o cenho e parou na frente da minha casa, mas nenhum de nós dois fez menção de sair do carro.

— Mas eu nunca quis me afastar de você, meu bem. Você é a minha pessoa. A última pessoa que eu quero longe de mim é você.

Eu senti vontade de chorar. Meus olhos queimaram, mas não deixei que as lágrimas caíssem.

— Então... Por que mandou aquelas mensagens? – perguntei já com a voz baixa.

— Quais mensagens?

— As que você mandou para o Hoseok.

Ficamos alguns segundos em silêncio, talvez de Jimin tentando achar uma resposta plausível.

— Yoongi, eu não mandei mensagem nenhuma para ele.

Você sabe aquele zumbido agudo no ouvido? Aquele que te impede de ouvir qualquer outra coisa? Eu estava exatamente assim.

Jimin não mandou mensagem para Hoseok.

Jimin não quer se afastar de mim.

Eu o bloqueei sem motivo algum.

— O que ele te disse? – Jimin disse com a voz mais firme.

— Deixa pra lá.

— Eu quero que me fale o que foi que ele te disse. – Jimin parecia estar determinado a saber das mensagens enquanto eu só queria enterrar aquela história.

Hesitei se contava ou não, mas resolvi contar. Confiava no meu melhor amigo.

— Disse que não queria mais contato e que eu não precisava mais ir atrás de você.

Antes que eu terminasse de falar, Jimin já estava saindo do carro. Eu saí no mesmo minuto para ir atrás dele quando o vi entrando na minha casa. Paralisei na porta ao o ver indo na direção de Hoseok, que estava andando pela casa escovando os dentes enquanto digitava algo no celular.

O zumbido no meu ouvido voltou quando vi o meu melhor amigo fechando a mão antes de acertar a cara do meu namorado, fazendo sua escova ir parar do outro lado da sala de estar.

Eu não sabia o que fazer. Estava completamente travado na porta, pensando se era melhor eu afastar Jimin ou deixar ele. Quando estava com raiva, até o animal mais agressivo tinha medo dele.

— Que porra é essa?! – Hoseok gritou com a mão na lateral do rosto, o encarando com confusão nos olhos, mas eu sabia que ele poderia revidar a qualquer momento.

— O que você falou para ele, seu filho de uma puta?! – Jimin gritou mais alto, indo pra cima dele novamente. Seu rosto estava completamente vermelho. — O que falou para ele, Hoseok?! Eu quero que fale na minha cara agora! Eu espero que fale, senão eu te dou um motivo pra não conseguir falar!

Hoseok tirou a mão do rosto e arrumou a postura.

— E você acha que eu tenho medo de você, é? – arqueou a sobrancelha. — Vai se foder!

Aquilo foi o que Hoseok disse antes de levar mais um soco e revidar com outro. Enquanto eu não conseguia sair do lugar, sem reação alguma. Jimin estava completamente cego de raiva brigando com Hoseok no chão e eu não conseguia fazer nada.

Estava completamente em choque.

Não faço ideia do que tenha acontecido nos minutos seguintes. Meus pés estavam plantados no chão e não tenha nada que me tirasse dali, pois nem escutando eu estava. Minha cabeça estava em algum lugar que eu não fazia ideia de que lugar era esse. Eu devo ter passado muito tempo parado. Só fui reagir mexer minha cabeça para ver Jungkook segurando meus ombros me perguntando algo que eu não conseguia ouvir, mas parecia perguntar se eu estava sentindo alguma coisa. Eu apenas neguei com a cabeça e fui arrastado por ele para longe daquele ambiente.

Minha consciência foi voltando aos poucos e só então notei o Jungkook com um uniforme policial. Jimin apareceu do nosso lado enquanto falava com ele sobre o que tinha acontecido. Estava com seu rosto machucado, gesticulando com as mãos e me permitindo ver os nós de seus dedos todos machucados também.

Ao olhar para trás, vi Hoseok me encarando enquanto um policial tentava falar com ele, sendo completamente ignorado. Seu olho esquerdo estava inchado e o canto de seus lábios estavam pintados da cor escarlate do sangue. Segurava um pano contra a bochecha com algumas manchas, provavelmente estancando algum corte.

Aquela foi a última vez que vi Hoseok.

Os dias se passaram tão devagar que parecia que tinham 72 horas. Eu estava morando com a minha irmã no momento e toda àquela situação estava fresca na minha mente, me fazendo questionar diversos porquês. Por que tudo isso aconteceu? Por que eu deixei acontecer? Por que estou aqui agora? Por que estou tão mal com isso?

Nenhuma dessas perguntas foram respondidas.

Acordar foi difícil demais. Eu me questiono até hoje como deixei chegar aquele ponto, sendo que eu sei muito bem que naquele tempo eu acreditava que o problema era eu. Que tudo aconteceu por culpa minha, porque eu era o problema. Se eu tivesse feito tudo certo, não aconteceria toda aquela merda.

O problema nunca fui eu, sempre foi ele.

Por duas semanas eu chorei. Chorava de dia, de noite e de madrugada. Estava sendo muito difícil, mas eu tinha Mingi, minha irmã que sempre estava ao meu lado nas minhas noites de crise, sempre garantindo meu bem-estar. Eu me sentia envergonhado sempre que pensava na minha situação atual. Estava sem uma casa própria, sem conseguir ir para o trabalho, sem conseguir focar nos meus estudos, sem conseguir focar em nada.

Passei muito tempo sem conseguir me sentir seguro o suficiente para me aproximar de outras pessoas. Foram meses trabalhando na minha insegurança de chegar em alguém. Demorou muito para eu finalmente aceitar aproveitar uma noitada com os meus amigos e agradeço imensamente por toda paciência que eles tiveram comigo.

Foi difícil, mas hoje eu me arrependo do tempo que perdi me martirizando por tudo.

Demorei demais, mas por muita insistência de Mingi e de meus amigos, eu pedi por uma medida protetiva contra Hoseok. Se eu não o vi quando meus pertences foram recolhidos de sua casa, tinha certeza de que nunca mais o verei. Foi um enorme pesadelo que eu pensei que nunca acabaria, mas que finalmente tinha chegado ao fim.

Passado dois anos eu lutava para conquistar o que eu perdi durante esse tempo. Corri atrás de meu apartamento e também estava prestes a pegar meu diploma e me tornar oficialmente um arquiteto. Estava feliz, estava seguro e, o mais importante, estava vivendo. Aquilo era o suficiente.

E eu sou o suficiente.

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