Tentação Profana

Da Thaliaaaaaaa_

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Quando era pequena, Emily Osíris gostava de brincar com as palavras que encontrava nos livros que sua mãe col... Altro

Avisos :)
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 5

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Da Thaliaaaaaaa_

Thomas.

Seis anos atrás...

-- Não abra os olhos. -- Sussurro, perto de seu ouvido.

Emily toca as costas de minhas mãos com a ponta dos dedos e eu respiro fundo, sentindo o cheiro delicioso de baunilha em seus cabelos.

-- Não vou abrir. -- Ri baixinho, animada com o suspense. -- Prometo.

Mordo o lábio, tentando pensar no que estava fazendo e ignorar meus batimentos acelerados. Eu deveria ficar longe de Emily, já faziam dois meses desde que a beijei naquele lago, e não havia um dia sequer, que eu não pensasse no gosto doce de seus lábios ao me beijar com a mesma necessidade que corria pelo meu corpo.
Sei que deveria continuar longe, mas... eu tinha comprado meu primeiro carro e não havia mais ninguém para quem eu quisesse mostrar. Só conseguia pensar na garota em meus braços.

Lentamente, virei o seu corpo para a direita e afastei minhas mãos de seu rosto. Cheguei bem perto de sua orelha, sentindo seus fios de cabelo roçarem em meu nariz e bochecha. Reparei quando sua pele se arrepiou com a minha respiração, agora tão próxima de seu pescoço. Eu também estava arrepiado. Na verdade, estava bem mais que só arrepiado.

-- Pode olhar agora, Emily. -- Sussurrei.

Ela respirou fundo, como se precisasse controlar a ansiedade que sentia para ver um carro velho. Aquilo mexeu comigo. Pois mesmo que fosse rica pra caralho, diferente de mim, ela sempre me fez sentir especial com as minhas conquistas.
Max tinha ganhado um carro novinho no mês passado e eu estava lá quando ele nos mostrou. Emily também estava assistindo ao irmão sorrir para a lataria brilhante e zerada. Eu a observava, curioso com suas reações, mas a menina parecia mortalmente entediada e aquilo me encantava pra caralho.

Dei um passo para o lado, afastando nossos rostos. Emily abriu os olhos e meu coração rugiu com ainda mais força ao ver, pela milésima vez, como ela era linda.
Emily era perfeita.
Parecia a porra da branca de neve e era deslumbrante.

Vi o momento em que seus olhos correram pelo carro estacionado há alguns metros. Ela mordeu o lábio com mais força, mas nada podia esconder o sorriso brilhante que surgiu em seu rosto ao ver o que tinha a sua frente...aquele sorriso iluminou o meu dia.
Apenas em alguns segundos em sua presença, a felicidade que senti ao comprar o carro depois de juntar dinheiro por anos, foi ofuscada por Emily.

Ela era a porra de um sol e eu orbitava ao seu redor.

Emily se moveu, quebrando o meu transe e passei a observá-la enquanto ia até meu carro. Ela ergueu os dedos e passeou com eles pela pintura em preto brilhante que, se posso me gabar, estava foda!

Emily não parava de sorrir ao contornar o carro, admirando cada detalhe do veículo antigo.

Era um modelo clássico da Chevrolet de 1968, modelo SS e motor LS3.

Eu tinha dado sorte em encontrar um em tão boas condições. É claro que faria alguns reparos, mas era um bom carro.

Ela parou do outro lado do carro, de frente para a porta do motorista e me olhou sobre o capô baixo.

Emily parecia prestes a pular de animação e me peguei sorrindo para sua alegria.

-- Posso? -- Pediu minha permissão e eu assenti.

Ela não perdeu tempo e entrou no carro. Dei alguns passos e abri a porta do passageiro, ocupando o assento ao seu lado.

-- Não é um jipe novinho, mas... -- Murmurei, passando minha mão por sobre a marcha manual. -- ...foi o que eu consegui comprar. Estou juntando mais dinheiro, e talvez eu possa trocá-lo por um...

-- É incrível, Thomas! -- Me interrompeu. Suas mãos estavam ao redor do volante e ela o apertava, como se pudesse sentir a adrenalina do carro em movimento, mesmo que estivéssemos parado. -- É tão incrível que nem sei o que dizer. Ele combina com você.

Arqueei uma sobrancelha com o seu comentário.

-- Combina? -- Indaguei.

Emily desviou a atenção do volante e olhou para mim. Eu já tinha dito que sempre perdia o fôlego quando ela me olhava daquele jeito?
Porque eu perdia, e minhas mãos tremiam, mesmo que não estivesse sentindo a confusão dos meus surtos. Minhas mãos tremiam muito.

-- Sim. -- Confirmou, sorrindo.
-- Vocês dois tem esse jeito taciturno e reservado.

Ela riu um pouco, mas acho que minha confusão era clara em meu rosto. Seus dedos alisaram o material do volante, mesmo que seus olhos estivessem completamente presos pelos meus.

-- Quando olhamos por fora, a primeira coisa que emana é arrogância e seriedade. Mas, quando entramos... -- Seu tom diminuiu e sua voz ficou tão suave, que senti suas palavras como carícias em minha pele. -- ...é tão confortável e excepcional, que nos perguntamos o porquê não termos feito isso antes. É imponente e complicado...muitas vezes, julgamos ser mal e um tanto cruel, até que estejamos aqui dentro. Então, percebemos que é incrível e seguro. Você é incrível, Thomas.

Eu estava sem ar e, por alguma razão, quando eu tentava respirar, nada vinha. O oxigênio me faltava, mas eu não ligava. Cada molécula do meu corpo estava focada em uma coisa agora: Emily.

Emily falando sobre o carro.
Emily falando sobre mim.
Emily comparando o carro comigo.
Emily corando, depois que disse tudo aquilo.

Eu não consegui dizer nada.
Era uma das coisas que eu odiava em mim mesmo. Sempre que algo especial me acertava e precisava abrir a boca, nada saía. Eu tinha tantas coisas a dizer, mas não conseguia verbalizar nem uma palavra sequer.

Senti o toque delicado de sua mão, quando Emily a repousou sobre meu ombro. Havia conforto e tranquilidade em seus olhos. Ela não estava me cobrando para que eu falasse, Emily aceitava todas as minhas merdas e eu só podia acha-la louca pra caralho por causa disso.
Mas eu amava a sua loucura.
Ela se encaixava com a minha.

-- Está tudo bem. -- Tranquilizou, mas suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas e ela desviou o olhar para a sua mão em meu ombro.

Eu não sabia porque ela parecia tão nervosa de repente.
Tentei procurar a resposta em seu rosto, mas eu fui completamente distraído por seus lábios vermelhos, enquanto ela cravava os dentes na carne macia. O seu primeiro beijo me pertencia, mesmo que fosse errado, eu fui o desgraçado que a beijou primeiro.

E eu queria beija-la de novo.
Estava doido para fazer isso.
Mas eu não sabia como.
E acho que Emily também não.

-- Tem m-música? -- Gaguejou de um jeito tímido, apontando para o rádio em fita cassete.

Pigarreei, me libertando do transe que me acolhia com tanta intensidade. Abri o porta luvas e peguei a pequena caixa preta que o vendedor me entregou, assim que lhe dei o dinheiro do carro.
Era um brinde pela compra ou alguma porra desse tipo.

Na caixa tinham algumas músicas antigas, eu já tinha dado uma olhada. Não sabia se Emily iria apreciar, mas estava ansioso ao colocar a caixa em seu colo, minhas mãos tocaram sem querer o tecido de sua calça jeans e nós dois seguramos o fôlego por alguns segundos.

Emily franziu o cenho, semicerrando as safiras em curiosidade, enquanto seus dedos abriam a caixa e revelavam o pequeno tesouro musical.
Seus lábios carnudos se entreabriram e formaram um pequeno "o" em choque.

Eu também gostei daquilo.
Gostei pra caralho.

-- Isso fica cada vez mais incrível. -- Sussurrou, com a admiração envolvendo o seu tom. -- Tem os melhores do jazz e blues aqui. Caramba! Thomas, você tem Sam Cooke, Ottis Redding, William Bell... Uau, isso é perfeito! Posso ficar aqui para sempre?

Eu não conhecia nenhum nome que saiu de sua boca. Afinal, eu era um apreciador do bom rock inglês.

Pink Floyd, Iron Maiden e The Rolling Stones.

Mas naqueles segundos, enquanto seus olhos brilhavam como pedras preciosas, eu quis saber tudo sobre jazz.
Eu quis que ela ficasse ali para sempre, comigo.

-- Por que não coloca uma delas? -- Indaguei, tentando encoraja-la.

-- É sério? -- Estreitou os olhos, mas estava sorrindo. -- Vai me deixar apresenta-lo ao melhor do mundo da música? Estou falando sério, uma vez que escutar isso aqui, nunca mais será o mesmo. É algo sério, precisa de muita coragem para assumir os riscos.

Senti um frio no estômago, daqueles que você sente quando vê algo tão bonito que sua mente não consegue processar, então, o seu corpo todo sente.

-- Acho que posso aguentar. -- Dei de ombros. -- Talvez seja isso que falte na minha vida. Afinal, agora eu tenho um carro legal e uma reputação ruim na cidade... talvez eu faça uma tatuagem.

Ela riu, enquanto colocava a fita no tocador.
Eu amava o som de sua risada.

-- Bem... isso, sem dúvidas, te tornaria ainda mais malvado ao olhar dos pobres cidadãos de Crowford. -- Arregalou os olhos, teatralmente. -- Salvessem todos! O terrível Thomas Osíris está à espreita, caçando doces donzelas!

Foi a minha vez de rir de seu comentário sarcástico. Ela tinha noção de que as pessoas realmente me achavam mau fora daqui?

-- Certo. Vamos lá. -- Chamou, antes de sair do carro e me deixar sozinho dentro da cabine.

Emily parou na frente do carro, enquanto a música alta e incrivelmente harmoniosa começava a tocar.

-- Vem! -- Gritou, abanando a mão no ar, sinalizando para que eu fosse até ela.

Sai do carro, no mesmo momento que a voz masculina e romântica do cantor começou a soar. Emily veio até mim e segurou minhas mãos, me puxando para mais perto.

-- O que está fazendo? -- Questionei, confuso.

Ela colocou minha mão sobre sua lombar e segurou a outra junto a minha, enquanto se apoiava em meu ombro.

-- Dançando. -- Revirou os olhos, como se fosse óbvio. Ela ficou na ponta dos pés para que não ficasse tão mais baixa e eu me inclinei um pouco para baixo. -- Você não pode ouvir jazz e não dançar, é quase heresia.

Eu ainda estava tenso, mas seus olhos pareciam tão brilhantes e suplicantes, que acabei me rendendo.

-- Suba nos meus pés. -- Disse, firmando minha mão em suas costas.

Emily estremeceu com meu ato, mas eu não me afastei. Era bom pra caralho sentir seu corpo tão perto do meu.

-- Eu não quero te machucar. -- Sussurrou.

-- Não vai. Pode subir. -- Sorri. -- Eu aguento.

Ela assentiu e subiu sobre minhas botas, ficando um pouco mais alta. Deslizei minha mão por sua cintura e envolvi meu braço em seu corpo, porque a queria mais perto.

A música ressoava pelos autofalantes do carro, navegando ao nosso redor como uma brisa calma. Os olhos de Emily estavam presos nos meus, enquanto nós dançávamos, pois era como se nenhum de nós dois conseguisse desviar o olhar. Eu quase podia ver sua alma, entrelaçada a minha.
Porque aquela garota era minha, nem que só pela aquela tarde, Emily Osíris era minha e eu era dela.

A garota em meus braços fechou os olhos e apoiou o rosto em meu peito e daquele jeito, tendo-a tão perto, eu me senti completo pra caralho.

Eu tinha um carro legal e uma garota deslumbrante nos braços. Mas ainda queria uma tatuagem.

"Já te disse ultimamente que te amo?
Bem, se eu não querido, me desculpe
Eu estendi a mão e segurei você em meus braços amorosos
Oh, quando você precisou de mim?

Agora eu percebo que você também precisa de amor
E eu vou passar minha vida fazendo amor com você
Ai esqueci de ser seu amante
E eu sinto muito, eu sinto muito

Já reservei um tempo para compartilhar com vocês
Todo o fardo que o amor terá de suportar?
E eu fiz pequenas coisas simples para mostrar a você
O quanto eu me importo?

Oh, eu tenho trabalhado para você, fazendo tudo que posso
Trabalhar o tempo todo não me tornou um homem
Ai esqueci de ser seu amante
E me desculpe, vou compensar você de alguma forma, baby

Esqueci de ser seu amante
Vou fazer as pazes com você de alguma forma
Oh, me desculpe, me desculpe, baby
Esqueci de ser seu amante

Se você me perdoar, eu vou te compensar
Eu sou apenas um homem, e esqueci de ser..."

A música terminou, mas nenhum de nós dois ousou se mexer. Acho que estávamos com muito medo de nos mover, até mesmo para respirar.
Sabíamos que aquele encanto terminaria e voltariamos a ser quem éramos. Emily era minha prima, mas eu sempre iria querer ser seu amante.
Queria mais do que tudo.
E ao contrário da música, eu nunca me esqueceria.

Relaxei um pouco meu aperto ao seu redor, quando Emily se moveu. Ela apoiou o queixo em meu peito e eu tinha certeza que podia ouvir a galopar em meu coração, enquanto me olhava com aquelas íris azuis e as pupilas dilatadas.

Eu a achava a garota mais linda do mundo.

-- Now I realize that you need love, too... and I'll spend my life making love to you. -- As palavras saem baixas de seus lábios doces e eu estremeço.

*Agora eu percebo que você também precisa de amor... e eu vou passar minha vida fazendo amor com você*

A mão de Emily que estava em meu ombro, lentamente, deslizou até o meu pescoço e sem que eu percebesse, meu corpo se inclinou em sua direção, como se estivesse sendo tragado pela imensidão que eram suas safiras pesadas pela paixão. Eu queria lhe mostrar o que realmente a paixão poderia fazer.
Queria admirar seu rosto, enquanto gemia meu nome e me implorava por mais.

Eu não tinha transado com muitas garotas. Ao contrário de Max, eu não via prazer no sexo rápido e violento que as garotas Apodyopsis ofereciam. Não, eu queria me demorar beijando o corpo de uma garota e olhar em seus olhos, enquanto a tomasse.
Porém, não queria isso com qualquer garota. Emily era a única que ocupava a minha mente e, mesmo que eu fugisse, era nela que eu pensava enquanto tomava banho e precisava me aliviar.

Era sempre ela.

Agora, eu imaginava como ela seria nua e como ficaria deitada no banco de trás do meu carro. Ela sempre usava roupas largas, mas eu tinha conseguido sentir suas curvas suaves quando a beijei no lago.
Emily era perfeita para as minhas mãos, mesmo quando elas estavam tremendo.

Passei a língua nos lábios, os umedecendo. Eu não deveria, mas iria beijá-la.
Precisava daquilo de novo.

Emily fechou os olhos e senti seus dedos massageando a minha nuca, me encorajando a inclinar um pouco mais...
Então, eu estava tão perto, que nossas respirações se entrelaçavam e inspirávamos o ar um do outro.
Seu cheiro de baunilha queimava a minha pele e minha mente estava nublada e vazia. Pela primeira vez, eu gostava disso.
Plantei um beijo suave no canto de sua boca, o que a fez sorrir e se colar a mim, moldando seu corpo no meu.

Fechei os olhos e comecei a me aproximar, lentamente...

-- Thomas! Eu trouxe cerveja! Cadê você, seu maldito?

Nós nos afastamos no mesmo instante, ao ouvirmos o grito de Max ecoando pela clareira. Meu primo não demorou para aparecer entre as árvores, trazendo uma caixa de cervejas debaixo do braço. Notei quando ele estacou e seu olhar deslizou até a garota, que agora estava apoiada sobre o capô do meu carro, abraçando o próprio corpo como se sentisse frio.
O maxilar de Max travou e ele me olhou.

Estava me avaliando.

-- Acho melhor eu ir embora. -- Emily cortou o silêncio, e ouvi seus passos estalarem na grama.

Ela passou por mim, sem nem me olhar e aquilo fez meu peito doer. A garota parou na frente do irmão e sorriu, antes de enfiar a mão na caixa de cerveja e puxar uma garrafa.
Max estreitou os olhos para ela, mas Emily era boa em esconder seus pensamentos.
Era a melhor de nós.

Ela inclinou a garrafa para o irmão, e ainda a encarando fixamente, meu primo inclinou o rosto na direção de sua mão e colocou os dentes ao redor da tampa. Max se afastou, sorrindo com o metal entre os dentes, antes de cuspi-lo no chão.

-- Obrigada. -- Emily agradeceu, e bebeu um gole da cerveja.

Seu rosto se virou na minha direção, seus olhos se fixando em mim com indiferença e tédio. O mesmo olhar que estava em seu rosto quando Max mostrou o seu carro.

-- Aproveite seu carro, Thomas. -- Disse, parecendo tão superficial quanto aquela tampa que Max havia cuspido. -- Ele é bacana.

Emily se virou e caminhou até a saída da clareira, de onde Max tinha vindo. Meu primo olhou para trás, quando as costas da irmã desapareceram em meio ao árvores e então se voltou para mim.

-- Fique longe dela, Thomas. -- Avisou. -- Emily só está entediada, não sabe o que está fazendo.

Aceitei a cerveja que ele me ofereceu, mas enquanto conversávamos sobre meu carro e nossas tarefas dessa semana... eu não conseguia parar de pensar em Emily Osíris.

[...]

Levantei meu capuz, cobrindo um pouco o meu rosto enquanto olhava ao redor e verificava se a mansão dos Osíris estava silenciosa.
Já era de madrugada, e eu sabia que ao menos que Max estivesse em casa, algo que era praticamente impossível dado ao seu vício por um certo Motel da região, eu poderia andar tranquilamente pela propriedade.

Encarei a árvore alta na minha frente, que dava acesso a varanda do quarto de Emily. Eu deveria me manter longe...mas porra!

Limpei as palmas das minhas mãos no tecido da minha calça e inspirei fundo, antes de começar a subir.
Uma luz fraca iluminava o quarto de Emily, e as cortinas brancas balançavam a medida que o vento adentrava pelos janelas abertas.

Me sentei em um galho grosso e forte da árvore, recostando minhas costas no tronco. Eu costumava passar minhas noites neste exato lugar, apenas observando tudo o que se passava por trás daquela janela. As cortinas estavam abertas na minha linha de visão, e eu sabia que era de propósito.

Emily sempre soube que eu a observava, desde quando éramos crianças estúpidas e imprudentes...ela sempre soube.

Meu coração acelerou quando a vi se mexer na cama no meio do quarto, a coberta que antes a escondia, deslizando para longe de seu corpo. Seus cabelos negros fluiam pela fronha branca de seu travesseiro, e eu estava fascinado com a tranquilidade que tomava cada parte do seu lindo rosto.

Eu estava tentando me manter ainda mais longe depois de tê-la beijado no lago. Nunca tinha sido o meu plano ceder a pequena Emily Osíris, mas eu estava de saco cheio de afastá-la. Max e eu estávamos lidando com alguns problemas sujos que Elijah e Edgar deixaram. Tínhamos sido reduzidos a capachos de nossos próprios pais.

Olhei para as minhas mãos, vendo as duas cicatrizes que cortornavam meus pulsos. Tentei me concentrar e respirar fundo, mas nada o que eu fizesse era suficiente pra parar os tremores e os tiques em meus dedos.

Eu me sentia um inútil.

Passei a ponta dos meus dedos pelo relevo da cicatriz, me lembrando do que tive que fazer para conquistá-la. Eu queria cobrir com tatuagens, mas ainda não tinha tido coragem o suficiente. Elas me lembravam de Emily.
Me lembravam de porque ela se escondia de todos, menos de mim.
Me lembravam que mesmo que fosse errado, aquela garota já tinha sido minha.

Elijah me mandou calar a boca e permanecer tocando a menina de 9 anos, ou seria ela a passar pelo inferno que eu tanto odiava. Emily estava debaixo de mim, seus lindos olhos azuis apavorados. Lembro das lágrimas que deslizavam por suas bochechas pálidas e seus lábios tremendo com o pavor, enquanto minhas mãos se infiltravam por debaixo do seu pijama de coelhinhos.

Eu a achava linda.
A garota mais linda do mundo.

Já tinha entrado em muitos brigas com Max, pois odiava quando ele implicava com ela. Emily era a menina mais legal que eu conhecia, ela não era uma pirralha boba... ela era linda.

E eu era completamente apaixonado por ela.

Era nisso que eu tentava pensar ao tocar em sua pele.

"Emily é a garota mais legal do mundo."
"Emily senta do meu lado no recreio, mesmo que sejamos de anos diferentes."
"Emily sorri para mim e sempre me chama para brincar."

Eu tentava pensar nessas merdas, porque sabia que diferente das outras vezes que meu pai abusou de mim, naquela única vez eu consegui pensar apenas em Emily por alguns instantes.

Pensava apenas em protegê-la.

-- Thomas? -- Meus pensamentos atormentados se calam, ao ouvir aquela voz.

Fecho os olhos.
Sim, está mais grave e sonolenta do que normalmente, mas eu nunca poderia confundir a voz de Emily.

-- Thomas? -- Ela me chama de novo, só que dessa vez mais baixo.

Abri meus olhos, e então a vi na frente da porta de vidro de sua varanda. Ela estava usando apenas uma camiseta larga, e eu não conseguia afastar meu olhar de suas pernas.
Emily estava abraçando seu corpo, provavelmente por conta do frio que a noite trazia. Seus cabelos estavam suavemente desarrumados, alguns fios ainda grudados em sua bochecha. Eu queria ir até ela, e abraçá-la como fiz essa tarde quando dançamos, mas permaneci parado onde estava apenas a observando.

-- Se não vai me responder, podia pelo menos entrar. -- Resmungou, contraindo os lábios carnudos em desagrado. -- Está frio e não quero que pegue um resfriado.

Resfriado...
Eu quase gargalhei.
Emily percebeu no que eu pensava, pois sua expressão firme logo mudou para algo triste e melancólico.
Eu amava olhar para ela, era a única pessoa que eu entendia.

-- Tudo o que desejo é morrer mais rápido... -- Sussurrou, lembrando-se do que eu falei naquela noite na cabana, quando ambos éramos crianças. Seus olhos azuis me encontraram, quando ela deu um passo a frente e estendeu a mão. -- Mas você não pode, lembra? Ainda sou sua garota e tem que cuidar de mim.

-- Você não é nada minha, Emily. Não sei porque disse aquilo.

Ela se aproximou mais.

-- Mas eu sei. Disse aquilo porque é a verdade...e o Thomas de 10 anos não tinha medo de me amar.

Eu inspirei fundo, virando meu rosto para direita e assistindo a escuridão tomar tudo o que eu conhecia.

-- Apenas, entre. -- Sua voz vacilou, e eu a olhei novamente, vendo-a tremer um pouco. -- Estou com frio.

Entreabri os lábios, pronto para mandá-la entrar, mas eu sabia que não adiantaria. Emily era a garota mais teimosa que eu conhecia, e eu amava isso nela.

Suspirei e engatinhei pelo galho, até conseguir pular em sua varanda. Estava ajeitando minha postura, quando a senti se aproximando.

-- Seu idiota! -- Grunhiu, antes de abraçar o meu pescoço e pular em colo, envolvendo as pernas em minha cintura. Olhei para Emily, assustado, e pude ver o sorriso sacana que coloria seus lábios. -- Agora vai ter que me colocar na cama, estou com muito frio até para andar.

Ela riu baixo, deslizando suas mãos pequenas e geladas pelo meu rosto.

-- Não pense, Thomas. Apenas, não pense. -- Piscou, passando a beijar minhas bochechas.

Eu não queria afastá-la.

Seu corpo tremeu quando um vento gelado nos atravessou e eu a abracei, entrando no quarto com a garota que eu amava nos braços.

-- Vou te colocar de volta na cama e depois vou embora. -- Disse, tentando convencer a mim mesmo.

Eu senti o seu sorriso contra o meu pescoço, acelerando meus batimentos cardíacos.

Deitei Emily no colchão, mas eu não conseguia me afastar dela.

-- Vamos lá, Thomas... -- Sussurrou, me desafiando. -- Vá embora.

Eu não conseguia.

Emily se ergueu um pouco do colchão, meu joelho entre suas pernas, a prendendo. Ela sorriu para mim, antes de tirar a camiseta.

-- Pode olhar. -- Beijou o meu queixo. -- Você é o único que pode olhar, Thomas.

Eu engoli em seco, apoiando minhas mãos no colchão e agradecendo por não haver tremores. E então, olhei para o seu corpo nu. Ela não estava usando nada por baixo daquela porra de camisa.

Já tinha visto o corpo de algumas mulheres no clube, mas nada se comparava às curvas delicadas e a inocência nos olhos de Emily.
Ela segurou o meu rosto e me puxou para beijar sua boca. E quando nossos lábios se encontraram, porra...eu juro que não conseguia pensar em mais nada.

Abracei a sua cintura, mudando nossas posições e a colocando montada sobre meu colo.
Parecíamos dois desesperados enquanto nos beijavamos, matando toda a porra da saudade. Tirei meu casaco e minha camiseta, e quase gozei nas calças ao sentir seus lindos seios pressionados contra o meu peito.

Emily gemia em minha boca, enquanto tentava abrir minhas calças para que ambos pudéssemos matar tudo aquilo que sentiamos. Meu coração ameaçava explodir enquanto eu a tocava, nossas bocas se chocavam e nossos corpos se aqueciam, espantando um frio que não era físico.

Eu sempre sentia tanto frio...

-- Eu te amo, Thomas. -- Seu sussurro banhava a minha alma. -- Esperei tanto por isso...eu...

-- Emily! Ainda está acordada?

Nós dois congelamos.
Era voz de Max.
Era a porra da voz do meu primo e melhor amigo.
Encarei as safiras de Emily, vendo a apreensão reluzir como lascas de gelo por trás de seus olhos. Max bateu na porta, o som ecoando pela madeira, e então...a garota que estava montada em meu colo desapareceu.

-- Emy, sei que ainda está acordada...Abre logo essa porta.

Emily vestiu a camiseta novamente, me olhando enquanto arrumava os cabelos negros e encarava a porta.

-- Ele já vai embora. -- Disse, deitando o rosto em meu ombro. -- Já vai embora.

Meu corpo estremeceu com aquilo.
Eu continuei encarando a porta por longos segundos, até que a sombra da fresta desaparecesse e o som dos passos se distanciando estalasse contra a madeira.

-- Viu? Max só queria jogar conversa fora, não...

Ela se calou quando de repente me levantei, vestindo minha camiseta e meu casaco.

-- O que está fazendo? -- Ouvi sua voz baixa e doce enquanto fechava o zíper do meu casaco e levantava o capuz. Por algum motivo, meu peito doía e parecia difícil de respirar, mas eu precisava ir embora... essa porra não era certa. Se Max nos pegasse, nós dois estaríamos mortos. Eu não podia tocar na minha prima de 15 anos.
-- Thomas! O que está fazendo? -- Ela me chamou novamente e ouvi as molas da cama rangerem.

De repente seus braços estavam ao redor do meu tronco e algo quente e suave pressionava as minhas costas. Meu pau latejou, minhas mãos tremeram e eu não parava de pensar no quão incrível seria se eu me virasse e me deitasse sobre seu corpo no colchão.
Eu queria voltar a beijá-la, queria continuar de onde tínhamos parado e queria mostrar a mim mesmo que Emily Osíris era minha, independente do que o sangue dizia.

Mas não foi isso que eu fiz.

-- Eu preciso ir. -- Disse, entredentes lutando por respirar.

-- Não precisa, não. -- Sussurrou, e eu senti suas pequenas mãos deslizando até o meu cinto. Meus olhos fecharam e joguei minha cabeça para trás quando a pequena mão travessa acariciou o meu pau por cima da calça. -- Só precisa de mim, Thomas. Você só precisa de mim...

E então, suas mãos desapareceram. Abri os olhos no mesmo instante que Emily parou a minha frente. Ela era baixa e pequena, e eu sempre me pegava observando o modo como seus olhos azuis eram grandes demais para o seu rosto pálido, seus lábios cheios e vermelhos sempre pareciam convidativos. Seus cabelos caíam sobre seus ombros e escorriam pela camiseta, eu apreciava a doçura que existia em suas feições, parada ali na escuridão com o desejo e amor banhando cada uma de suas expressões...era por isso que deveria ir embora.
Porque uma vez que tocasse na minha própria prima do jeito que eu tanto sonhava, ela deixaria de ser essa Emily doce e ingênua.

Eu a corromperia.
E ela seria minha pra caralho.

"Você é um merda, garoto! É filho do próprio demônio!"

Inspiro, calando aquela voz que lutava por sair da prisão que eu mantinha em minhas lembranças.

Emily chegou mais perto, suas mãos seguraram o meu rosto.

-- Não tenho medo de você. Pode tentar me afastar o quanto for, mas eu nunca vou ter medo. Eu te amo.

Mas eu tinha.
Tinha medo de mim mesmo.

Meu olhar endureceu e eu a encarei fixamente. Emily percebeu a mudança na minha postura, mas ela continuou tentando me vencer, acariciando meu rosto e se mantendo perto. Seu cheiro de baunilha me entorpecia e eu só queria abraçar aquela garota e mantê-la perto.

-- Procure um moleque da sua idade se está com tanta vontade de trepar, Emily. -- Grunhi. -- Mas não brinque comigo porra! Você é só uma menina idiota!

Ela arfou.
Suas mãos caíram do meu rosto.
E meu peito doeu novamente.

Emily umedeceu os lábios, suas bochechas corando quando ela percebeu que eu não ficaria.

-- Thomas...

-- Me esqueça, Emily. -- Recueei um passo, indo em direção a varanda. -- Apenas me esqueça. Procure uma nova distração, vai te fazer bem.

Seus olhos encheram de lágrimas e eu não suportei mais ver aquela porra, precisei ir embora o mais rápido possível antes que cedesse àqueles olhos azuis tristes.
Eu a amava demais.
Amava minha própria prima, e sabia que isso nunca mudaria. Porque uma vez que você é corrompido pelo pecado, nem a luz pode te trazer de volta.

Elijah me apresentou ao pecado, quando forçou o próprio filho e a sobrinha a se tocarem.
Era tudo culpa daquela noite.
Era tudo culpa minha.

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