Liana Bennett não aparecia no online faziam horas.
Talvez eu estivesse sendo obsessivo. Talvez eu estivesse ficando louco. Talvez eu estivesse apenas desejando que ela me digitasse falando que tudo não passava de uma brincadeira, de que ela ainda queria ficar comigo e tentar. Só que é claro que eu sabia que nada disso iria acontecer. E que tudo era verdade, cada palavra.
Ela tinha ido embora, tinha me deixado, e ela não iria mais voltar.
Pressionei o telefone contra o rosto, apertando-o com força, ainda preso no campus, ainda preso em Liana, ainda preso nas palavras que deixavam a sua boca e a forma como eu não tinha como negar mais da metade delas, nem de ter tido coragem suficiente para dizer a ela que eu queria o mesmo, ou, ao menos queria tentar fazer dar certo.
- Cara você está grudado nesse celular tem horas, qual é? Achei que queria beber, para de ser um viciado. - Lembrei de Jack quando a sua voz começou a entrar na minha cabeça pondo um fim temporário nos meus pensamentos. Olhei para ele, que balançava os braços na frente do meu rosto. Eu tinha chamado ele para beber algumas horas atrás.
- Eu não aguento mais essa sua cara de fossa, o que aconteceu? Você não disse que ia passar o dia com a Liana? Por que essa mudança súbita de planos? Eu podia estar em casa assistindo algum filme essa hora mas você me arrastou para esse lugar cheio de bêbados... - Ele sinalizou para a garçonete que queria mais duas cervejas ao mesmo tempo que piscou para ela jogando todo o seu charme, a garçonete corou, e eu lembrei de Liana corando quando eu fazia coisas estúpidas do tipo com ela. Estar sentado essa hora da noite, nesse bar com bêbados, jogadores e viciados que em qualquer minuto estariam em alguma briga, me fazia lembrar da lanchonete que eu levei Liana para comemorar o seu aniversário e em como esses dois lugares eram completamente opostos, assim como eu ela. E que se fôssemos mais parecidos as coisas teriam dado certo.
Olhei para a tela do celular. Não tinha nenhuma mensagem de Liana. Eram onze horas e certamente ela estaria dormindo, talvez se odiando por ter um dia me dado atenção pela primeira vez no campus, ela certamente queria poder me esquecer agora. E tudo o que eu mais queria era me encher dela para nunca ter a possibilidade de esquece-la. Mesmo sabendo que, apenas com o pouco que tivemos, eu nunca vou deixar isso acontecer. Eu sempre me lembraria dela.
- Vinnie, o que aconteceu? - Uma mão puxou o telefone das minhas. Jack me encarava com os olhos arregalados e as sobrancelhas elevadas, ele mexeu a cabeça de um lado para o outro sinalizando que estava querendo uma resposta.
- Ela foi embora. - O respondi, segurando na alça da caneca de cerveja, antes de colocar a boca na borda e beber a metade em um gole só. Talvez ficar bebado fosse me ajudar a passar esse dia, ou melhor dizendo, o restante dele que havia sido cada vez pior desde que eu decidi soltar a mão da única garota cujo o coração eu queria segurar.
- A Liana se mudou? - Jack perguntou franzindo a testa e unindo as sobrancelhas cada vez mais.
- Ela disse que deveríamos parar. Ela me deixou. - Esclareci, quando abaixei a caneca de cerveja vazia. Fitei o fundo dela, cada vez mais sendo atingindo pela dor de estar sem ela e saber que não seria algo passageiro. Eu precisaria de mais do que uma caneca e mais do que cerveja para conseguir dormir e, esquecer o que aconteceu por algumas horas.
- Deveriam parar? Mas vocês não conversaram?
- Conversamos... - mexi a cabeça em concordância. - ela me disse o que aconteceu para deixar a festa sem mais nem menos, disse que me viu com aquela garota na festa, ela disse a verdade...
- Que verdade?
- Você sabe de que verdade eu estou falando. - A garçonete recolheu minha caneca vazia e deslizou outra cheia. A deixei vazia em questão de segundos e entreguei para a garçonete pedindo mais duas.
- Vinnie... - Olhei para Jack quando ele me chamou. Ele me olhou parecendo ponderar muito sobre o que queria falar, como se alguma coisa pudesse tornar esse dia ainda pior. Eu duvidava muito.
- Você gosta dela? - Perguntou, com uma expressão séria e incomum para o palhaço que ele é.
- Não fode, Jack... - Revirei os olhos recuando o corpo contra o estofado do banco.
- Você gosta dela, Vinnie? - Perguntou de novo, em um tom mais alto.
- Acho que sim. - Dei de ombros irritado com a sua insistência em querer me fazer colocar os meus sentimentos para fora, eles só estavam me ferrando desde que resolveram se interessar pela Liana.
Eu queria dar um jeito de parar de senti-los outra vez e ser quem era antes de a conhecer. Eu queria encontrar uma maneira de apenas fazer isso parar. Era como se eu tivesse corrido, chegado em um lugar, e ao mesmo tempo não chegado em lugar nenhum. Liana havia me mudado mas ao mesmo tempo, agora era como se nada tivesse mudado.
- Você acha que sim? - Ele enfatizou a palavra acha com um tom de maldade.
Ele bateu na mesa irritado e respirou fundo me encarando cada vez mais sem paciência com a minha relutância em lhe responder francamente.
- Vinnie, você gosta dela? Não gostar como você gosta de beber, sair e foder a vida de um monte de garotas, o que eu quero dizer com essa pergunta é: Você gosta de verdade ela? Você não gosta dela por capricho, por ego ou até mesmo apenas por não ter tido tudo o que queria? Você não tem que ter vergonha de admitir isso, vergonha seria perder ela por medo de algo que ainda nem aconteceu... - O olhei nos olhos.
Jack e eu nunca trocamos esse tipo de conselho, e, para uma primeira vez ele parecia saber tanto do assunto que fazia-me questionar se ele um dia gostou tanto de alguém que perdeu, e, por alguma razão nunca me contou. Eu estava começando a pensar em muitas coisas que nunca cogitei desde a noite da festa.
- Você gosta dela, ou, você gosta dela? - Quando escutei sua perguntei achei que ele estava maluco, mas, não foram precisos muitos segundos para que eu entendesse a diferença entre as duas perguntas por mais que não houvesse uma palavra diferente. Eu havia entendido o que cada gostar signficava.
Concordei com a cabeça.
- Eu gosto dela de verdade, Jack. Não por capricho, ou ego ou porque eu não tive tudo o que queria quando a vi pela primeira vez. Eu gosto da Liana como nunca gostei de ninguém e eu quero mais do que posso ter, eu quero ela.
- Magoou. - ele colocou a mão no peito e sorriu, bufei revirando os olhos, eu sabia que conversar sério por mais do que três minutos era muito para Jack.
- E você gosta o suficiente ao ponto de largar todas e tudo para ficar com ela? - Concordei mais uma vez. Jack ficou me encarando com uma sobrancelha arqueada.
- Sim. - falei por fim.
- Então, o quê você está esperando para dizer e mostrar isso para a Liana? - Eu ri, falsamente.
- Porque eu não sou o tipo certo para ela. - Jack ergueu as sobrancelhas perplexo e antes que ele tentasse me impedir de continuar o que eu estava falando, eu o ultrapassei.
- Liana merece alguém melhor. - Franzi o cenho, levantando a caneca e virando todo o líquido mais uma vez, mesmo que ainda eu não tivesse sentido o efeito da bebida e soubesse que precisaria de muito mais para começar a sentir.
- Eu não sei o que vou fazer se quebrar o coração dela mesmo tentando não quebra-lo, o que eu vou fazer de eu for a causa de toda a sua dor?
- Mas você já é a causa da dor dela otário. - Jack esbravejou perdendo a paciência. Ele me puxou pela gola da jaqueta parando com o rosto perto do meu, pela a raiva nos seus olhos imaginei que ele iria me bater, e sinceramente eu não iria impedi-lo, eu queria poder me bater por ser tão burro, tão fodidamente estúpido e incapaz de ficar com a garota que eu amo. - Você já quebrou o coração dela. Você já é a causa da dor dela. Você é a porra do cara que brincou com os sentimentos dela e fez ela se arrepender disso. Você já fez ela se tornar apenas mais uma merda de uma diversão Vinnie, você já fez tudo isso... - disse enfurecido, agarrando o outro lado da gola da minha jaqueta. - Mas acontece que nada disso importa mais. O que importa é o que você sente por ela, o que ela sente por você e em como você está disposto a mostrar para ela que te mudou.
- Jack, não faz diferença mais. - Tentei empurrar ele mas ele não deixou.
- Tem sim. E sabe qual é a diferença? É que mesmo sendo a causa da dor dela você também pode ser a porra do cara que vai acabar com essa dor. Você pode mudar tudo se deixar o orgulho de lado e ir atrás dela, nem que precise gritar para o mundo inteiro te escutar e ela decida dar essa segunda chance para você.
- Ou, eu posso acabar estragando tudo ainda mais tentando fazer tudo dar certo. Você não entende Jack? Tentar apenas pode estragar quem ela é, para sempre. - Jack me soltou e recuou batendo as costas no estofado do banco. Ele suspirou de forma cansada, porque, ele sabia que eu estava falando a verdade por mais que nem eu, nem ele quiséssemos acreditar. - E eu gosto tanto dela que não sou louco de impedi-la de agarrar a chance de encontrar alguém infinitamente melhor do que eu. - Jack me olhou triste. Limpei a merda de uma lágrima que escorreu. - E, eu não quero impedir. Eu nunca fiz isso na minha vida, e eu sei que fazer as coisas pela primeira vez sempre trás erros, e um erro meu com a Liana pode ser grave demais...- Ele levantou a caneca pela metade.
- Então vamos brindar ao seu amor... - Ele sorriu tentando descontrair, comecei a rir da sua idiotice e levantei a segunda caneca que eu havia pedido. Brindamos e a bebemos em dois goles longos.
- Desde quando sabe tudo isso sobre amor? - Ele passou a mão pelo maxilar, parecendo lembrar de algo.
- O meu pai, antes de se casar com a minha mãe, ele conheceu uma outra mulher, além de todas as outras claro... - ele riu.
- Ele me contou uma vez quando encontrei uma foto deles dois jogada na lixeira, eu era pequeno mas eu só fui entender quando cresci, ele me disse que amou muito ela, que ela era uma garota incrível e que ele a machucou mesmo sem querer, porque tinha medo do que podia acontecer se tudo deixasse de ser o que era... Ele me disse que se arrepende de não ter sido honesto com ela. De ter machucado ela, e não ter mostrado que sentia muito, de ter deixado ela ir embora e não implorado para ela ficar, de ter demonstrado que não nutria sentimentos, e não dito que a amava....
Ele batucou a mesa.
- Quando eu olho para você, eu vejo o mesmo olhar que eu vi nele quando ele me contou sobre essa garota...você é como um irmão para mim, Vinnie, e eu não quero ver você sofrer como meu pai sofreu.
Riu tentando descontrair.
- E como seu melhor amigo, eu não podia simplesmente ficar sentado aqui te olhando sofrer e não tentar mudar isso, mesmo que, a sua decisão continue sendo não.
- Obrigado Jack. - Eu sorri.
- Apenas faça o mesmo por mim caso eu caía de quatro por alguma garota... - Gargalhou quando revirei os olhos.
O som de mesa quebrando pôs um fim no assunto. Do outro lado do bar, onde alguns caras estavam jogando, alguém não queria pagar o que devia, quando olhei para o homem estirado no chão ele se levantou e saiu correndo, sendo perseguido pelos homens que o cobravam, e quando ele passou ao lado da nossa mesa eu tive a impressão de que o conhecia. Por alguma louca razão ele me lembrava alguém mas, eu não sabia quem.
- Viciados... - Jack murmurou balançando a cabeça em negação. Eu ainda observava o homem, ele desapareceu na rua depois de virar em um beco.
Os homens que o seguiam deram a volta e entraram novamente no bar.
- Deixem ele correr... - o terceiro cara que estava conversando com o pessoal do bar por causa da briga disse, ele certamente era o chefe. - Descobriremos onde ele mora, faremos uma visita para a família e teremos uma boa conversa. - O cara sorriu abrindo a porta e entrando em um carro blindado estacionado ao lado da calçada.
- Eu tenho pena da família do cara, vão pagar pela a dívida que ele fez... - Murmurei. Certamente uma conversa era a última coisa que eles iriam ter.
- Certamente alguém vai sair ferido. - Concordei com Jack, tentando lembrar que pessoa o cara me lembrava.
De qualquer maneira, essa pessoa não era importante.