A Terceira

By Namihamster

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Após momentos dolorosos e claustrofóbicos, que não sabe se foi sonho ou não, ela se vê perdida em um ambiente... More

Prólogo
Capítulo 1 - Perdida
Capítulo 2 - Revanche
Capítulo 3 - O Titã Vermelho
Capítulo 4 - O Asteriano
Capítulo 5 - Cheiro de Sangue
Capítulo 6 - Exposta
Capítulo 7 - Suspeita
Capítulo 8 - Dinamite
Capítulo 9 - Tetê
Capítulo 10 - A Mansão do Senhorio
Capítulo 11 - Tensão no Grupo
Capítulo 13 - Gosto de areia
Capítulo 14 - No Subconsciente
Capítulo 15 - Galhada de Sangue

Capítulo 12 - A Partida

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By Namihamster


— Querida, vamos nos atrasar para o aniversário da sua prima! Vestiu a roupinha que comprei para você? Vem logo!

Encolhida dentro do armário, ainda escutando minha mãe bater na porta do quarto, eu cobri as orelhas. Encarei as paredes amadeiradas escuras que me davam a falsa sensação de conforto e comecei a recitar um mantra na cabeça.

Levanta, levanta, levanta.

Escuto os passos da minha mãe no corredor, ela havia desistido mas logo voltaria mais irritada. Eu abri a porta do armário e tudo clareou. Pendurada no cabide acima da minha cabeça há um conjunto de peças de roupa. Um conjuntinho de calça de sarja cáqui, uma blusa de linho rosa claro sem mangas. Peças desconhecidas, peças com cheiro novo. Não quero me imaginar nessas roupas, não quero o desconforto. Quero me encolher nesse canto e sumir. Volto a escutar as batidas na porta, não há escapatória.

— Anda logo! Anda logo! — Tetê repete.

— Querida! Saia do quarto. Saia daí! Saia! SAIA!!

O grito de Bramba me acorda. Sinto frio e reparo que estou na penumbra. Não vejo mais as paredes de madeira escura. Sinto a maciez desconfortável do monte de palha que me serve de cama. Meus olhos ainda semicerrados conseguem distinguir duas figuras na luz débil das brasas de uma fogueira moribunda.

— Saia da minha frente! — Bramba repete entredentes.

— Não. — Chelon retruca. Sinto seriedade na sua voz. — Primeiro vai me dizer o que pretendia fazer com Shino.

— Não ia fazer nada!

— Não minta. Peguei você no flagra.

— Eu só ia... ia pegar a recompensa que me é de direito!

— O que pretendia andando por aí com mintias? Ninguém seria tolo o suficiente para tentar trocar ou comprar usando a moeda dos nobres.

— Pois esse sistema estúpido não deveria existir!

— Não mude o assunto.

— Eu não ia roubar as mintias do garoto. Só vasculhei por outros objetos de valor!

— Não esperava isso de você. É melhor do que isso, Bramba.

— Vejo o quanto você favorece esse moleque, é porque são da mesma classe? Agora percebo quem você realmente é! Faz pose de correto e justo mas no final pensa como todos os vassalos que enxergam as classes abaixo como servos!

— Como você exige respeito e cortesia se não faz o mesmo? Eu enxergo muita coisa, mas principalmente vejo o desdém com que trata Shino.

Bramba o encarou por um momento, seus olhos pegando fogo. Ele virou as costas e sentou no canto oposto da sala sem dizer nada. Chelon também não quis continuar a discussão e se virou para mim. Fechei os olhos de imediato e fingi estar respirando profundamente, não sei o que me levou a agir dessa forma mas uma vez que dei início a encenação, decidi manter o teatro. Escutei seus passos se aproximarem e notei seu peso se instalar no feno ao meu lado. Sentindo-me segura, pude relaxar. Eu estava cansada, ainda com dor dos ferimentos. Meu corpo repousou confortável sobre o colchão de palha e logo minha mente se apagou pela segunda vez.

O descanso durou apenas algumas horas, um breve período de sono profundo e sem sonhos. Minha consciência saiu do breu devagar, sendo puxada para a realidade pela voz suave de Chelon.

— Shino. Shino...

Ao abrir os olhos, encontrei dois botões de luz azul me encarando. Mesmo com o susto, consegui segurar o grito, mas instintivamente ergui o corpo. Meu nariz foi de encontro com o focinho de Chelon, que tentava me acordar sem fazer estardalhaço. Os lábios, secos e rachados, começaram a sangrar assim que esbarraram nas presas dele. Mal senti o gosto do sangue ou a dor da minúscula ferida, o calor que emanava da minha pele era distração suficiente para me manter ocupada naquele momento.

— Você está bem? — Chelon quebrou a tensão. Ele passou o dedo delicadamente no meu lábio para estancar o sangramento — Desculpe, não quis te assustar, mas precisamos nos arrumar para sair. Nosso contrato com o senhorio acabou e não podemos nos demorar neste lugar.

Eu balancei a cabeça em sinal positivo e desviei o olhar o mais depressa que pude. Chelon se levantou e foi para outro canto arrumar as coisas. Meu instinto foi ignorar o que aconteceu e me preocupar em juntar meus pertences. Não havia muita coisa, o porrete velho e a machadinha e meu pacote de mintias. Passei a ponta da língua no local que meu lábio sangrou e senti uma pontada. Bramba e Hiz ainda dormiam. Ajeitei meu pacotinho de mintias na bolsinha lateral, encaixei a machadinha e o porrete no cinto e fui até a saída.

Chelon fez sinal para que eu o acompanhasse para fora. A porta do celeiro já estava destrancada, mas não havia sinal do anão. Um ar gelado ocupava aquele início de manhã, e meus olhos viam os tons azul claro se misturando ao lilás no céu. Atravessamos o pátio vazio do centro da propriedade e caminhamos até a entrada principal onde a pequena estradinha de ladrilhos nos ofuscava refletindo a luz matinal. Caminhamos até a grade que separava os limites da mansão, de lá pude ver que a extensão do terreno era muito maior do que imaginava, me espantei ao ver o primeiro portão por onde passamos tão distante. Olhando para a o horizonte, via as pontas de pequenos chapéus de palha passeando entre as folhas dos pomares, um pouco de fumaça começava a escapar pelas chaminés das casinhas cujos telhados eram banhados pela luminosidade. Chelon ficou ao meu lado em silêncio por um instante.

— Podemos vender a arma que o ladino deixou para trás. Eu dei uma examinada rápida, é uma peça de boa qualidade. Você poderá ficar com o pagamento por essa espada. — ele falou.

— Mas... e Bramba?

— O mérito por ter derrotado aquele oponente é seu. A espada pertencia a ele, agora é sua.

— Hiz ajudou...

— Ele interceptou um ataque. Mas quem derrotou o oponente foi você, aceite sua recompensa.

Senti meus lábios se contorcerem num sorriso que parecia desobedecer os comandos de minha mente. Senti orgulho, felicidade, satisfação tudo junto e meu coração falou mais forte. Era bom receber reconhecimento.

O momento durou pouco. Hiz se juntava a nós. Ele chegou aflito e pareceu feliz ao nos ver — Por que não me chamaram?Achei que tivessem me deixado! — disse.

— Sabe que não faríamos isso. Você precisava de um descanso. — Chelon falou e seguiu em direção ao portão. Hiz acompanhou, soltando um bocejo preguiçoso e resmungando.

— Você eu sei que não... — ele sibilou. Foi uma tentativa falha de ofensa direcionada a mim. Se eu pudesse, me livraria dele, mas por enquanto eu não era o suficiente, não poderia proteger Chelon sozinha. Hiz era imprescindível, eu sabia disso e não tinha intenção alguma de deixá-lo para trás.

— Esperem por favor! — Escutamos Lorena gritar atrás de nós. Ela vinha correndo, carregando três pacotes empilhados que balançavam perigosamente. Pareciam embrulhos retangulares, envolvidos em papel craft. Ao passar por mim, um pacote escorregou e estatelou no chão. Imediatamente me curvei para pegar o pacote. — Já que pegou, pode ficar com esse mesmo. São mantimentos para a viagem, cortesia do Lorde Ishta. — A criada falou com desdém e sequer olhou para mim, eu só lamentei o mal entendido.

Eu levantei e sacudi o pacote, tentando me certificar de que nada havia quebrado. Escutei o barulho de um líquido sendo chacoalhado e alguns ruídos de migalhas, parecia um pacote de biscoitos. O embrulho era grande demais para colocar dentro da bolsinha então tive de encaixá-lo debaixo do braço.

Lorena retirou do bolso um selo igual ao que Chelon havia usado e desativou a barreira mágica temporariamente para que pudéssemos atravessar. A criada fez uma reverência assim que cruzamos o limite da mansão e vimos ela desaparecer no momento que a barreira foi reativada. Do lado de fora, o guarda que nos acompanhou no dia anterior nos aguardava para uma segunda escolta. O breve balançar de seu rabo indicava algum sentimento positivo ao nos ver, ele nos cumprimentou com um uivo melodioso. Foi difícil controlar meu fascínio durante a caminhada, meu desejo era manter um diálogo e observar meticulosamente como ele pronunciava as palavras mas conversa de elevador não era meu forte e optei por me manter calada.

Passamos pelo portão principal, nos despedimos dos guardas e seguimos pela estrada na direção oposta à floresta. O local tinha a aparência de civilizado mas era predominantemente deserto. Caminhamos por algumas horas pela estrada sem passar por mais indícios de civilização, não havia casas ou carroceiros, somente a estrada de terra batida, rodeada por campos de arbustos e uma mata.

A paisagem monótona nos acompanhou até alcançarmos uma estrada mais larga e preenchida por objetos similares a tijolos. Era uma via mais trabalhada pois havia um acostamento e próximo de onde estávamos uma área específica me chamou a atenção. Nesse local o acostamento se alargava dando um espaço maior onde havia um banco de madeira debaixo de um pequeno quiosque. Chelon e Hiz imediatamente foram para lá se acomodarem no banco e eu os segui. Aproveitei o momento de descanso para abrir o pacote que ganhamos. Dentro havia um cantil de couro preenchido por uma bebida, itens que pareciam frutas secas e dois itens desconhecidos embrulhados em uma folha.

— Que senhorio generoso! Tenho certeza de que não é um duende! — Hiz exclamou sarcástico.

— Ele deve ter ficado satisfeito com nosso trabalho. Além de trazermos os itens da múnus, capturamos o Naasku que estava lhe causando problemas.

Eu permaneci em silêncio, o fato de existirem duendes neste mundo já não me espantava mais, já havia visto de tudo. Me ocupei em examinar os mantimentos que havíamos recebido, o líquido deveria ser água ou algo hidratante, as frutas secas seriam como tâmaras? E o que teria naquele pacote misterioso? Abri o cantil e cheirei o líquido, inodoro. Certamente era água, só deve ter outro nome aqui. Tomei um gole. Insípido. Definitivamente era água, mas deixava uma sensação refrescante igual hortelã.

— Guarde um pouco do líquido — Chelon disse.

— Nós vamos cruzar um deserto e essa bebida será essencial. — Hiz completou.

Eu concordei e guardei o cantil no pacote. Chelon ofereceu para carregar meu pacote na bolsa dele e partimos.

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