Camellia

By Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... More

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By Hunterina

você é tão má

quando fala sobre si mesma

você está errada

mude as vozes na sua cabeça

faça elas gostarem de você ao invés

(fucking perfect)




Como as piores tragédias, esta também começou com um penteado que não ficava bonito de jeito nenhum.

Mais especificamente, com o desejo de Bianca de prender seu cabelo igual ao de uma influencer que viu em seu feed do Instagram. Influencer esta que talvez, apenas talvez, fosse uma atriz pornô pela qual Bianca fosse obcecada — não exatamente porque gostava dela, mas sim porque queria ser igual a ela.

Porém, depois de cinco tentativas, não conseguia entender porque não ficava tão bonita quanto aquela mulher! Então simplesmente desistiu e jogou o lacinho para longe. Quando encarou seu reflexo no espelho, ficou ainda mais frustrada vendo seu cabelo completamente bagunçado e decidiu que não iria mais ao shopping com Natalie e Esther.

Sentiu a ardência nos olhos de um choro se aproximando, mas se esforçou para conter as lágrimas. O que não daria para ser perfeita que nem aquelas influencers? Que podiam usar qualquer roupa, ou sequer colocar maquiagem no rosto e ainda assim ficar lindas nas fotos... Entrou no feed da atriz e começou a passar pelas fotos, sentindo-se cada vez pior. Aquela moça era magérrima, com peitos enormes e bonitos e um rosto de boneca sem qualquer defeito. Literalmente não conseguiria ficar feia nem se quisesse!

Às vezes Bianca tentava imitar algumas poses para foto ou penteados, mas de que adiantava? Sentia-se mil vezes pior vendo como não tinha nada em comum com aquelas mulheres lindas. Seu cabelo era sem graça, seu corpo era feio, não tinha senso de moda e sequer sabia passar maquiagem. Como esperava algum dia competir com outras diversas streamers muito melhores e mais bonitas que ela?

O pior era que... Sabia que não era culpa dela, mas não podia evitar de morrer de inveja de Natalie. A irmã era linda, estilosa, sabia se vestir, literalmente tudo o que Bianca sempre sonhou em ser! Para melhorar, namorava com outra garota que parecia a perfeição encarnada. Bianca sentia receio até em ir ao shopping com as duas, como se, perto delas, apenas ficasse em evidência como ela era desajeitada.

É claro que se falasse sobre, as duas diriam que ela estava sendo idiota ou coisa assim... Provavelmente porque não conseguiriam admitir que era verdade. Sentindo o calor das lágrimas descendo pelo seu rosto, Bianca ficou em silêncio para se certificar de que tanto o chuveiro quanto o secador de cabelo permaneciam ligados, indicando que as meninas estavam se arrumando. Limpou o rosto com o braço, apagou as luzes e se enfiou embaixo das cobertas. Talvez, se fingisse que caiu no sono, as duas simplesmente decidissem deixá-la "dormir" e fossem sozinhas...

— Já tá pronta, praga?! — Poucos minutos depois, Natalie escancarou a porta, sem qualquer delicadeza. — Ué? Ah não, Bianca! Acho bom você estar pronta aí embaixo!

No segundo seguinte, as cobertas de Bianca voaram para o outro lado do quarto, revelando uma adolescente nem perto de estar pronta. Toda a atuação foi por água abaixo quando a incredulidade lhe dominou. Sentou-se na cama e fuzilou a irmã com os olhos, puta dos cornos:

QUAL É O SEU PROBLEMA, NATALIE?!

— Eu avisei para você se arrumar, sua fedorenta! — Gritou de volta. — É melhor você ir logo porque eu não quero me atrasar para o meu horário no salão!

Eu não quero mais ir! — A voz de Bianca aumentou tanto que ficou estridente. Então pegou o travesseiro e o lançou na direção da irmã.

A loira estava prontíssima pra partir para a agressão, mas a figura imponente da namorada apareceu na porta, com os olhos faiscando. Acendeu a luz do quarto e ergueu a voz até ecoar:

— Minha nossa! Vocês duas não conseguem conversar por meio segundo que nem seres humanos?! — O contraste de seu tom atual com a voz comumente baixa fez as duas irmãs se arrepiarem. — O que aconteceu dessa vez?!

— A Bianca nem começou a se arrumar, Esther! — disse, apontando para a irmã.

— Eu já falei que não quero mais ir ao shopping!

Esther juntou as sobrancelhas escuras numa expressão confusa, então cruzou os braços e encostou o corpo no batente da porta, paciente:

— O que houve, Bianca? Por que você não quer mais ir?!

A menor abriu a boca para se justificar, mas hesitou sob a atenção dos olhos azuis de Esther. Natalie entrou como um furacão e nem se deu ao trabalho de ligar as luzes, mas agora, com a iluminação, provavelmente seu rosto inchado e avermelhado deixava evidente que estava chorando.

Bianca virou de costas para elas e deitou de novo, murmurando:

— Eu só perdi a vontade... Mas podem ir, acho que vou descansar um pouco.

— Bianca — Natalie começou, a voz muito mais baixa e hesitante do que naquele berreiro inicial: — Você... estava chorando?

Que merda! Por que só aquela indagação já era o suficiente para trazer mais lágrimas aos seus olhos? Agora, além de se sentir feia, Bianca sentia que não parava de estragar os planos da irmã e da cunhada com seus dramas idiotas. Fungou com força, tentando disfarçar.

— Não, só acho que estou gripada.

— Poxa, Bi, você estava tão animada... Achei que quisesse ir ao cinema comigo. — Esther sussurrou. O combinado era que, enquanto Natalie estivesse no salão, ela e a cunhada assistiriam ao último lançamento da Pixar juntas. — Te deixo pegar o combo de pipoca que vem com brinde.

— Eu queria, Esther! — Diante daquela chantagem baixíssima, Bianca não pensou e se virou novamente para encarar as duas nos olhos. Merda, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, não tinha nem como fingir que não chorava. Então deixou um suspiro pesado escapar e tentou não se concentrar nas batidas aceleradas de seu coração: — Vocês vão me achar ridícula, mas... Meu cabelo estava feio, aí resolvi tentar fazer um penteado e acabei estragando ainda mais! Não quero sair assim...

Mesmo depois que terminou de falar, Natalie continuava lhe encarando com atenção, como se esperasse mais alguma coisa. Quando finalmente entendeu que aquele era o motivo do desespero da irmã mais nova, ergueu uma sobrancelha:

— É isso? — Assistiu, pouco impressionada, a irmã assentir com a cabeça. — Você é uma ridícula, sabia? Anda, me mostra o penteado que eu faço pra você.

Bianca mordeu o lábio inferior, tentada a desfazer aquela confusão e explicar que o real motivo de sua tristeza era o fato de simplesmente ser feia, mas o medo de ser julgada a impediu. Desbloqueou a tela do celular e buscou a foto que originou toda a crise de insegurança (felizmente, aquela não era tão, bom, vulgar quantos as outras). A atriz posava de biquíni em frente à piscina, deixando bem evidente os seios enormes e a cintura finíssima. Os cabelos estavam presos em space buns, com um parte solta cascateando pelos seus ombros.

— É esse aqui... Mas não adianta, eu já tentei de tudo e fico parecendo com um rato arrepiado — lamentou.

Menos de um segundo após olhar a foto, Natalie disse:

— Bi, você sabe que ela tá de mega, né?

— Hã?

— Ela tem mega hair. — A irmã arrastou os dedos em forma de pinça na tela, dando zoom para analisar melhor. — É capaz de ser até peruca. Tem muito cabelo aqui, por isso os coques ficam tão fofinhos e ainda sobra cabelo para deixar solto. O seu nunca vai ficar igual porque seu cabelo é natural.

— Óbvio que não é peruca! Quem iria de peruca pra piscina? — Bianca defendeu, ofendida como se tivessem xingado sua mãe.

— É que ela não está aí pra ir na piscina, né? Digo, não é como se ela tivesse despretensiosamente num dia de piscina e resolveu bater uma foto. — Natalie deu de ombros, pouco impressionada. — Ela está toda montada, ó. Cabelo feito, maquiagem, cílio postiço... Provavelmente algum profissional fez o penteado também.

— Ela não é que nem essas influencers fúteis, Natalie. — Bianca revirou os olhos úmidos. — Ela é toda alternativa, é óbvio que não fica usando mega hair e coisa falsa.

— Ué, mas não tem nenhum problema nisso. — A mais velha explicou. — Só não dá para você querer se comparar com uma influencer achando que tudo nela é natural. Você cria um modelo inalcançável nessa sua cabecinha oca.

Bianca franziu o cenho, processando aquelas palavras. Natalie falava como se fosse um assunto banal, mas pegou bem na sua ferida, já que há menos de alguns minutos estava chorando justamente porque não era perfeita como aquelas meninas.

— Ah, mas mesmo assim... Ela ainda é perfeita. Tipo, ela tem esse corpão, sem nenhuma gordura ou celulite. — Bianca murmurou, tentando extrair a opinião de Natalie sem se expor muito. — Como eu não vou me sentir mal... Sendo do jeito que sou?

Naquele momento, as duas entenderam o problema. Esther, que até então estava quieta, apoiada na batente da porta, deixou um risinho escapar:

— Bianca, você sabe que ela é uma atriz pornô, né?

A mais nova sentiu todo o rosto pegar fogo conforme ficava completamente vermelha.

— C-claro que não! — Tentou se explicar. — Ela faz umas fotos ousadas e tal, mas...

Esther ergueu uma sobrancelha.

— Você sabe que eu gosto de mulher, né? — Brincou. — Eu conheço essa atriz. Só tô falando isso porque... Não dá para você se comparar com uma mulher, e isso é outra coisa importante: ela é uma mulher de quase 30 anos e você é uma adolescente. Enfim, não dá para querer se comparar com uma pessoa que ganha a vida com a aparência, sabe? Influencer, modelo, até atriz pornô... Essas mulheres precisam mostrar apenas o melhor delas.

— E normalmente esse melhor não é exatamente "natural" — Natalie interrompeu. — Tipo, ela é uma puta gostosa, mas tá encolhendo a barriga, escolheu uma pose e ângulo que ajudam a disfarçar qualquer "defeito". E você pode achar que ela é a pessoa mais sincera do mundo, mas não dá para ter certeza. Têm várias influencers que são pegas editando as próprias fotos e juram por Deus que não têm nenhuma plástica logo depois de fazer uma lipo...

— Nada dessas coisas é um problema, entende? — Esther continuou. — É o trabalho delas. Só que não dá para você ter como parâmetro uma pessoa cuja realidade gira em torno de sempre se mostrar perfeita pra câmera. Realmente, você nunca vai ser igual à mulher dessa foto, mas provavelmente nem ela é, quando não está toda produzida.

Bianca abriu a boca para responder, mas fechou em seguida, porque não conseguiu pensar em qualquer resposta enquanto digeria aquelas palavras. Quer dizer, elas não estavam erradas, mas...

— Não é só vendo foto de influencer que eu me sinto mal — continuou, cruzando os braços como se quisesse se proteger: — As meninas do Madre Cordélia todas são perfeitas... Você, a Natalie também. Tá cheio de menina magra, com corpo bonito e que fica bonita de qualquer jeito fora do meu feed.

Natalie respirou fundo, parecendo exausta. Não porque não queria conversar com Bianca, apenas porque sabia como aquele assunto era bem complexo. Checou o horário no celular para ter certeza que não iria se atrasar e começou a palestra:

— Vamos lá... Em primeiro lugar, não tem só um tipo de corpo que é bonito. Não é só gente magra, ou com peitão de silicone, ou cintura finíssima que é bonita. — Natalie começou e apontou para si, depois para Esther. — Você usou nós duas como exemplo e temos corpos completamente diferentes. E pode ter certeza que nenhuma de nós se acha "perfeita". Eu mesma sempre fui muito insegura quanto era mais nova com o fato de que era mais encorpada do que a maioria das minhas amigas, até aprender a me amar do jeito que sou. Você parece ter o mesmo problema, Bianca: passou tanto tempo se comparando com um ideal de beleza inalcançável que prejudicou completamente sua autoestima. Tudo o que você nos contou ontem, mesmo que pareça não influenciar, também colabora para você se encher de defeitos na menor situação.

— Como que eu vou me amar do jeito que sou, se eu odeio o jeito que eu sou?! — Bianca ergueu a voz, não por raiva, apenas por uma frustração exaustiva.

— Mana, deixa eu te contar uma coisa: autoestima não é algo que cai do céu, tá? É como se fosse uma casinha: você precisa primeiro construir, depois fortalecer e proteger para ela não cair. Posso ver o seu feed?

Bianca estreitou os olhos, mas assentiu. Depois fundou algumas vezes e esfregou o rosto, tentando afastar qualquer resquício das lágrimas que haviam caído. Droga... De novo aquele apelido e o tom anormalmente calmo da irmã. Os dois juntos pareciam contribuir para lhe fragilizar completamente e, ao mesmo tempo, permitir-se ouvir seus conselhos. Porque podiam viver se bicando e xingando, mas Bianca realmente considerava a irmã a mulher mais incrível e inteligente do mundo inteiro e tudo o que ela falava era um ensinamento.

— Olha aqui, Bi — Natalie se sentou mais perto na cama, para que Bianca pudesse ver o que ela queria mostrar na tela. Conforme ia rolando o feed do Instagram pra baixo, batia a unha na tela para pontuar cada vez: — Influencer, influencer, modelo, streamer, aí aqui uma amiga sua, depois mais influencer, outra streamer... Todas elas têm o mesmo padrão de corpo, fotos super produzidas, iluminação perfeita, edição. É claro que nenhuma delas vai postar uma foto em que se sente feia, né? Mas você não vê as 300 fotos que elas bateram até uma ficar boa. Não é que seja um problema seguir essas meninas, nem que o que elas fazem é errado, mas se você já está com a autoestima fragilizada, ser bombardeada com esse tipo de conteúdo não ajuda em nada.

— E se o assunto for conteúdo adulto, fica bem pior. — Esther disse e Bianca ficou tão sem jeito que mal conseguiu sustentar o olhar dela. — Eu já tive a sua idade e sei o que é ter curiosidade, mas tenha em mente que nesse ramo tudo é muito falso.

— Exatamente — Natalie reforçou. — Você precisa se perguntar, Bianca: se ver o conteúdo de uma pessoa te faz imediatamente se sentir mal, qual o sentido de continuar seguindo ela? — A irmã colocou o celular de lado e segurou as duas mãos da mais nova. — Eu não tô falando que você nunca pode seguir influencers, mas se você está com a autoestima fragilizada, talvez devesse tomar cuidado com o que consome. A mídia pode ser bem cruel com a gente e, se consumirmos coisas distorcidas o tempo inteiro, a gente acaba ficando com padrões de vida e beleza que não condizem com a realidade e só nos deixam pior.

Bianca não desviou os olhos do chão e apenas assentiu, como se estivesse ouvindo uma bronca, mas apenas porque estava processando tudo aquilo. Fazia sentido... Ela não reparou que a mulher da foto que estava tentando imitar estava de peruca ou maquiagem. E, realmente, parando para pensar, Bianca seguia uma penca de meninas cujas fotos imediatamente lhe ativavam todas as inseguranças... De atriz pornôs a streamers cujo conteúdo sequer a interessava.

— Pensa com carinho nisso, tá? — Natalie abriu um sorriso, então puxou a irmã sem nenhuma cerimônia para a frente do espelho. — Segunda lição: como eu disse, autoestima é uma coisa que construímos. Um dos maiores erros que cometemos é não nos olhar no espelho.

"Bianca, você sabia que é provado que nós, seres humanos, sentimos medo das coisas que não conhecemos? Nosso instinto é querer se proteger e evitar coisas estranhas. Então, pensa: como você vai aprender a se amar, se nem se conhece? Eu sei que o seu impulso inicial vai ser olhar para as coisas que você não gosta, então tenta começar com espaços pequenos, tipo seu rosto, suas mãos... Eu quero que todos os dias você se olhe no espelho, não para se julgar ou apontar defeitos, mas para reconhecer detalhes do seu corpo. O formato dos seus olhos, o caimento do seu cabelo, os detalhes da sua pele. Aí quem sabe, começando a enxergar a si mesma, você um dia consiga se ver da mesma maneira que eu te vejo."

Natalie sorriu para Bianca, posicionando-a de frente para o espelho. Ela olhou pelo reflexo enquanto a irmã ajeitava seus cabelos que haviam crescido bastante desde o começo do ano. A princípio tentou evitar quando seus olhos castanhos se encontraram com o próprio reflexo, mas eventualmente se permitiu enxergá-los.

— Olha, isso me parece besteira — Bianca murmurou — mas eu posso tentar... Sabe, às vezes eu me sinto bem. Naquele dia em que eu fui na festa, ou um dia que eu enviei uma foto pro menino que eu gosto, eu não me odiei, sabe? Mas têm dias, tipo hoje, que eu me acho a pessoa mais horrível do mundo inteiro.

— Mas isso é normal, Bi — Esther quem respondeu. — Quer dizer, autoestima não é se achar incrível o tempo inteiro. É saber que em alguns dias você não vai estar bem, mas reconhecer que esses dias sozinhos não resumem quem você é de verdade.

— Óbvio que se você estiver toda produzida, ou numa roupa que te deixe confortável, tem mais chance de você se achar linda do que quando estiver toda largada em casa. — Natalie pontuou, caminhando até o vestido que Bianca havia deixado separado para usar naquela tarde para pegá-lo e estender à irmã. — Só que você precisa saber que essas duas Biancas existem, e aprender a não odiar uma delas só porque ela se parece menos com o que você vê nas redes sociais.

Bianca abriu um sorrisinho, aceitando o vestido. Natalie havia feito uma trança embutida em seus cabelos que pelo menos havia disfarçado toda a bagunça anterior.

— Ahn, obrigada... Por terem me dito essas coisas, Acho que me sinto menos miserável agora.

Por um momento, Natalie desviou os olhos da irmã para sorrir para a namorada, orgulhosa do discurso que deram. Então, teve uma ideia:

— Sabe o que me ajuda quando eu me sinto miserável? Mudar um pouco! Podemos dar um glow up em você! Até vai ajudar enquanto você começa a trabalhar na sua auto estima. Se você não se importar de eu roubar os seus planos com a Esther, vou ser a melhor irmã do mundo e te ceder meu horário no salão!

Bianca franziu as sobrancelhas e ficou alguns segundos em silêncio, organizando as ideias. Depois murmurou:

— Calma, eu não entendi... Primeiro vocês falam mal das influencers, que são todas falsas. Até aí eu concordo, também não suporto meninas que só pensam em aparência... Mas daí, para eu ficar melhor, você quer que eu faça um monte de coisas, ahn, fúteis? — Questionou, murchando os ombros e sentando na cama. — Isso não é hipócrita? Tipo, eu sei que às vezes me sinto mal, mas não quero ser que nem as outras meninas que vivem em função da aparência e só têm isso a oferecer!

— Sério, Bianca? Foi isso que você entendeu de tudo o que a gente falou? — Natalie cruzou os braços, olhando-a com as sobrancelhas erguidas. — Em primeiro lugar, uma aula de português pra você: "fútil" é algo que não tem nenhuma importância ou valor. Quem está associando "cuidar da aparência" a perder o valor, é você. O que é algo bem idiota de se fazer.

— Isso era o que algumas meninas faziam com a Natalie ano passado. — Esther comentou. — Sua irmã sempre gostou de se maquiar, usar acessórios... E apesar de ser contra as regras — disse, entredentes, encarando a namorada que fingiu desviar o olhar — ela sempre foi apaixonada por moda e maquiagem. A gente tem o costume de ser muito cruel com as mulheres e fazer pouco caso dos hobbies delas, como se valessem menos. Ou você acha que a sua irmã é uma garota fútil que não tem nada a oferecer? Porque cuidar da própria aparência sempre foi algo muito importante pra ela.

— Claro que não! — Bianca quase gritou com a intensidade da negação. — De jeito nenhum, a Nini é incrível, mas...

Então deixou a frase morrer no ar, compreendendo o quão injusta estava sendo. Quer dizer, ela sempre quis ser como a irmã e, apesar de ter inveja de algumas garotas do colégio, sempre sonhou em ser como elas. Em se ver tão perfeita quanto enxergava elas.

— Mana, entenda: cuidar da sua aparência e fazer coisas que te fazem sentir bonita não é ser fútil, nem ser "falsa". A mãe sempre disse para gente como nossa auto expressão é importante e não tem nada de errado em querer se ver bonita. — Natalie explicou. — E nem é hipócrita. Porque você pode querer aprender a se maquiar melhor, cuidar do seu cabelo e entender que não é o quanto ou quão pouco esforço você investe na sua aparência que vai ditar o seu valor; e, ao mesmo tempo, também entender que mesmo quando você não estiver toda arrumada, não é por isso que está feia. Sabe, o que eu tô querendo dizer é que as pessoas têm que parar de achar que devem opinar no que as outras fazem ou deixam de fazer com relação a elas mesmas.

Bianca assentiu e deu um sorrisinho, mesmo que no fundo se sentisse um pouco mal porque, bom... Ela fazia muito isso. Reparava e criticava o que as meninas faziam e, apesar de querer ser igual, achava justo classificá-las como fúteis ou diminuir seu valor apenas porque tinham prioridades diferentes. Ficava com ódio apenas de pensar que alguém já tinha feito aquilo com Natalie. Decidiu que, dali em diante, tentaria não ser mais ser assim.

— Obrigada, gente. Eu acho que entendi. — Começou a enrolar uma franja no dedo, um pouco sem jeito. — Então... Não tem nada de errado em eu também querer ter fotos bonitas como outras streamers, né? Porque todas têm redes sociais super legais e às vezes eu me achava boba por querer ser assim também, porque eu quero focar no meu jogo, sabe? Não quero que entrem na minha live e pensem que só tô lá porque quero chamar atenção.

— Claro que não. Bom, você é quem mais deveria entender isso, não? — Natalie pontuou. — Sempre sofreu ataques por ser menina e jogar e sabe como mulheres nesse meio também são perseguidas por qualquer coisa. Sua aparência, quem você é, nada disso impede você de se dedicar ao jogo. Se alguém pensar que "Ah ela deve jogar mal, só tá fazendo stream porque é bonita", bom, infelizmente direito de ser idiota todo mundo ainda tem. O problema é deles. Você não escolheu seu campeão preferido justamente para ir contra todos os estereótipos? Eu acho que é bem a sua cara continuar provando que nada te impede de ser incrível. Dentro e fora do jogo.

— E você falou em glow up, mas eu também não quero... Tipo, eu te acho linda, Nini, mas eu não acho que esse estilo, ahn, meio patricinha combine comigo — Bianca murmurou.

— Mas você não precisa mudar seu estilo para ter um glow up. — Natalie cruzou os braços, um pouco impaciente, mas explicou: — Você sabe que mesmo quando me pede ajuda com suas roupas, eu sempre escolho as que respeitem o seu gosto, né? Tô falando para fazermos isso! Podemos pensar num corte de cabelo novo, fazer uma maquiagem mais trabalhada, até te empresto umas roupas para bater fotos como as das streamers que você gosta!

— Ahn... E você pode me ajudar nisso também? — Pediu a menor, um pouco sem jeito. — Eu não entendo nada de maquiagem ou foto... Eu queria tirar algumas boas para, sabe, divulgar minha live. Por favorzinho?

Sinceramente, Bianca nem precisava pedir por favor. Esther pensou que talvez a mais nova não entendesse a grandiosidade do ato de Natalie, que estava desesperada para retocar suas luzes, de ceder seu horário no salão para Bianca.

— Hm... — Natalie fingiu pensar por alguns minutos. — Só se você admitir que eu sou a irmã mais legal do mundo.

— De jeito nenhum! — Bianca gritou. — Prefiro morrer sem fotos!

Bianca atirou outro travesseiro na cara de Natalie, que se fartou da petulância daquele rato pelado e pulou na cama para atacá-la com cosquinhas

Esther, completamente perplexa com a mudança súbita de clima, cobriu o rosto com a mão. Definitivamente, aquelas duas estavam além de qualquer bom senso.




Nota da autora:

Boa tarde amigos 💜

A Nini e a Bianca são aquele meme do Sonic "Você consegue falar sério por um minuto?" "Trinta segundos é o meu limite" kkkk

Eu sei que esse capítulo é bem "expositivo", mas acho que é um dos mais importantes para o desenvolvimento da Bianca. Esse livro está ficando MUITO mais autoindulgente do que eu pretendia kk mas simplesmente não resisto, gostaria muito de poder ter ouvido essas mesmas coisas na idade da Bianca. 

E significa tanto para mim ser a Nini quem está falando, sabe? Eu cresci consumindo coisas que tratavam garotas que se importavam com a aparência como as vilãs, as patricinhas fúteis ou alívio cômico e acho que isso contribui 200% para o pensamento pick me que eu tinha.

Quando comecei a escrever Lilium, eu fiz questão da Nini ser exatamente como as garotas que normalmente eram as vilãs ou inimigas da mocinha dos livros YA kkkk justamente porque não aguento essa rivalidade feminina gratuita. É muito legal que também seja ela quem desconstrua esses pensamentos (que no fim fazem mal a todo mundo) na Bianca. 

ENFIM, esse capítulo ficou enorme (sinceramente, TODOS os capítulos do Camellia ficam enormes, minha nossa) e espero que tenham gostado! Estou super ansiosa para ler os comentários 💜

(espero que me xinguem menos do que no anterior...)

Um beijo enorme para todos e até sexta-feira! 

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