Emma
Escapou do castigo dessa vez.
Foi a única coisa que ele disse depois de se recuperar do orgasmo e pular pra fora de cima de mim. Eu levei um bom tempo pra ligar aquilo a qualquer coisa, aí voltei ao dia do terraço. Agora tem cinco dias que eu não o vejo nem nas aulas. E Miller nunca faltou antes, ao menos nas aulas que compartilhamos. Eu não estava reclamando, mas não minto que parte de mim tinha certa curiosidade, acho que me acostumei tanto a ver aquele imbecil pelos lugares que uma parte de mim estava estranhando.
E também eu tava deixando aquilo na cabeça pra não pensar no mais importante. Eu deixei Lucas Miller me fazer um oral. O cara que me inferniza desde que cheguei a esse lugar. Que deu permissão para que outros me infernizem. Que tornou meu sonho de toda uma vida em meu pior pesadelo. Fora os motivos pelos quais eu deixei. Eu me sentia envergonhada ao mesmo tempo que me dizia pra não permitir aquilo. Eu não sabia o que fazer e muito menos o que pensar direito mesmo tentando controlar, mas sempre vinha. Como agora.
— Vamos logo, lerda.
— Calma, Amanda. O Miller não vai correr. E quem te disse que ele voltou de viagem? O Mark?
A conversa me puxa dos meus pensamentos. E bem na hora que tô olhando pra Amanda e a garota que sei que é sua prima além de amiga, me pega observando.
Me adianto e guardo minhas coisas. Amanda tá vindo em minha direção, seus cabelos bonitos e loiros balançando enquanto ela anda. Ela quase nunca surge nessa aula.
Que merda.
— Tá olhando o que, caipira imunda? — pergunta parando em minha frente.
— Amanda, para com isso deixa a garota — Vanessa a prima dela, diz segurando o braço dela por cima da jaqueta preta que ela usa. Parece com umas da de Miller, só que versão feminina.
A verdade é que Amanda tá parecendo uma versão de Miller. Toda de preto, só os cabelos que sempre impecáveis. Eu lembro dela no início do ano passado, bem diferente. Era nariz em pé, mas não saia pisando nas pessoas.
— Eu só quero sair, Amanda — digo já tendo terminado de guardar as minhas coisas.
— Eu só quero sair, Amanda — me imita e puxa minha mochila que eu ainda não tinha posto nas costas.
— Me devolve — peço com raiva.
Ela rir.
— Vem pegar — diz e saí andando depressa.
Vanessa deixa um "desculpa" quando eu me adianto pra reaver as minhas coisas.
Lá fora Amanda vai anunciando que tem que se livrar de um lixo e algumas pessoas a seguem, sabendo bem que vou ser humilhada. Ela se direciona pro refeitório.
Lucas
Puxo minha mão da mão do Chris, o nóia foi o único a notar ou o único a ter alguma reação ao ver os meus dedos machucados por uma briga, mesmo que não pergunte com quem briguei. Depois diz o nome de uma pomada bom pra machucado e segue pro refeitório.
Isso porque eu que vim ver como ele tava. Nóia do caralho.
— Cara, fala pra tua namorada sair do meu pé — Mark diz assim que sento em sua frente. Chris nem para pra falar com ele, vai logo pegar comida.
— Parker te procurou? — pergunto com ódio.
Ele não me responde logo. A boca ocupada com uma colherada da porcaria que servem aqui, então termina e eu controlo meu desejo de sacudir ele pra falar de uma vez o que a caipira quis com ele.
— A caipira me odeia, cara — rir satisfeito disso — Amanda.
— Aquela estúpida não é nada minha — digo com um certo alívio que nem sei de onde vem. Não quero Emma falando com Mark, só eu machuco ela. E também um pouco raivoso. Eu sumi por cinco dias e ela sequer me ligou. Ela tem meu número. Eu não apareci nem mesmo nas aulas e mesmo assim nem uma mensagem — Não disse onde eu tava, né? — não que eu tenha ido pra um lugar misterioso, por mais que metade de mim não quisesse ter ido, a outra metade a única pela qual fui.
— Não. Mas disse que voltava hoje.
Mark e eu não dávamos explicações de onde íamos ou quando voltamos, às vezes até passamos dias sem nos falar, mas aí tem Chris. O cara tá mais fodido do que nunca. E desde a última cena, eu contei que estava indo em casa e quando estava de volta, caso ele precisasse de uma mão pra lidar com Chris.
— E a clínica?
Balança a cabeça em negativa.
— O cara quase me esganou quando toquei no assunto. Acho que é melhor ligar pra casa dele de novo.
Nego com a cabeça.
Os pais do Chris estão nem aí pra nada. Acham que é só deixar ele fazer o que quer e por estar na faculdade, então tudo vai se resolver com mágica quando ele se formar.
— Aqui pelo menos dificultamos que ele se mate.
Mark concorda.
— Vamos ver até quando. Ele tá vindo — avisa.
Chris se senta e começa a puxar assunto, Mark e eu entramos na conversa até que uma animação na entrada do refeitório chama tanto nossas atenções, mas não dou atenção até que Chris abre a boca:
— É a sua namorada.
Mark que também não deu muita bola, olha na mesma direção que eu.
— E tá brigando com a sua amante — diz arrancando um riso de Chris.
Estúpidos.
Nós três passamos a observar a agitação assim como o restante do lugar que tá bem lotado. Amanda joga de uma pessoa pra outra a mochila de Parker e ela fica como uma tonta tentando pegar. Fecho minhas mãos em punho.
— Não vai lá? — Chris diz após me cutucar e indicar a roda — É a sua namorada, cara — sorrir zombando da minha cara.
— Não.
Ele aponta o dedo para as minhas mãos fechadas em punho sobre a mesa e se diverte. Mark adorando tanto o que acontece que nem percebe.
— Vai se foder, Christian — quase grito e isso chama atenção de Mark, mas não vendo mais nada além de nós dois se encarando e sabendo que Chris sabe como encher alguém, volta a multidão.
— Já fui — é o que diz antes de enfiar comida na boca.
Observamos por mais um tempo e ela não toma nenhuma atitude que não seja correr e pedir que parem, até diz "por favor" como uma pobre coitada e isso só faz meu ódio aumentar. Mais pessoas se juntam e já começa a se tornar ruim de ver ela correndo de um lado ao outro e é quando percebo que estou indo me juntar a eles.
Ah, Emma Parker.
Emma
Quando minha mochila volta pra Amanda, umas pessoas vão afastando e quase suspiro de alívio por pensar que já cansaram dessa babaquice e irão me deixar em paz, mas penso errado. É pra Miller que eles abrem caminho e o sorriso de Amanda aumenta muito mais, ela joga pra ele minha mochila e já imagino minhas coisas indo ao chão quando ele abrir o zíper e sacudir as coisas que tem ali dentro pro piso cinzento.
Mas aí ele surpreende não só a mim como a Amanda e todos os outros presentes e joga a mochila aos meus pés. Eu o observo tentando ver o que ele vai fazer quando eu me abaixar e pegar ela. Eu tô com medo do que ele vai fazer. De Amanda e do restante eu só tinha raiva, medo só dele mesmo e é como tô exatamente agora. Porém eu não tenho alternativas e pego minha mochila totalmente atenta a ele, a cada passo.
E quando eu tô voltando de volta e seus conturnos entram em meu campo de visão, me adianto mais ainda e me preparo pra sair dali, sem conseguir obviamente. Miller segura meu antebraço e me puxa até Amanda, que já estava sem seu sorriso no rosto e com raiva, que passa quando paramos na frente dela. O que ele vai mandar ela fazer comigo? As pessoas estão em expectativas como eu, mas por um motivo diferente. Pra eles é diversão, pra mim pânico.
— Me dê isso — ele aponta pro copo de milkshake na mão de um cara. O rapaz nem pensa em dizer não. É como se ele já tivesse preparado pra quando Miller lhe pedisse isso. Ele só estende o braço em direção e deixa sua bebida ir — Amanda — ele começa e de novo o sorriso dela está imenso. Não é um gênio pra saber o que ele vai fazer. Fecho meus olhos quando ela estende a mão em direção a Miller — Abaixa sua cabeça — abro depressa meus olhos.
A cara de Amanda é de uma pessoas totalmente desacreditada.
— Quê? — diz depois de um tempo, quando as pessoas também surpresas ficam calados esperando o próximo ato — Tá doido, Miller?
— Repete — ele manda ainda segurando meu braço.
Os lábios dela tremem.
— Eu não quis dizer...
— Vai, porra — ele corta ela.
— Tá doido, Miller? — ela obedece.
Ele sorrir de lado.
— Exatamente. Eu sou o Miller. Você é uma estúpida mimada — diz com desprezo, olhando ela de cima a baixo — Só existe um Lucas Miller, então pare de me imitar — algumas pessoas riem — E se vai se vestir de mim, pague um pouco mais nas roupas — isso tira mais risos das pessoas.
É mentira se eu disser que isso não me anima, mas também me sinto mal por ela. Eu sei como ela tá se sentindo, então não consigo aproveitar a vingança que estou tendo. Ninguém merece ser humilhado desse jeito.
— Me solta — peço, querendo sair daquele circo dos horrores. Ele me solta e enfia o copo em minha mão. O olho sem entender, aí entendo — Não vou fazer isso, Miller.
Ele me olha com raiva.
— Vai ser pior pra você — avisa bem sério, eu sei que ele é capaz. Pego o copo — Cabeça — volta pra Amanda — Se correr... — não completa, só sorrir outra vez. E ela também sabe que será pior e do que ele é capaz.
Amanda que é mais alta que eu, abaixa a cabeça na minha direção.
Minha mão treme e eu noto as lágrimas que escorrem de seus olhos molhando sua bochecha e pingando no chão.
— Não sou como você — atiro o copo no chão, que respinga em mim, nele, Amanda e alguns mais próximos.
Eu não saio dali correndo, não ia adiantar mesmo. Ele me encontraria e me faria pagar.
Eu sou muito burra, seco minhas lágrimas.
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