Camellia

Von Hunterina

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um p... Mehr

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Von Hunterina

seus sentimentos, ela esconde

seus sonhos, ela não consegue encontrar

ela está perdendo a cabeça

ela está ficando para trás

(nobody's home)




Só que, com o passar do dia, o ânimo de Bianca foi se apagando. Meio ironicamente, a cada mensagem fofa de Daniboy, ficava mais cabisbaixa e ansiosa. Provavelmente ele só estava falando com ela porque ainda não sabia o que aconteceu (por que tentar queimar ela não foi a primeira coisa que Zoe fez?), e pensar em sua reação quando isso acontecesse a deixava maluca. Provavelmente devia aproveitar para contar primeiro, antes que Zoe tivesse tempo de fazer sua caveira, mas apenas pensar em como explicaria aquilo... Porque ela realmente falou mal da garota e, apesar de ser da boca pra fora, envolveu o nome de Daniel e de todos os meninos quando disse que ela "provavelmente estava tentando dar para todos eles".

Nem VH ou Nathan estavam lhe respondendo, e apesar de Twister tentar animá-la falando que tudo ia ficar certo, quando Bellini veio perguntar o que havia acontecido, seu coração quase afundou enquanto contava a história de tanto peso na consciência. Tentou conversar com Elisa, fingir que nada estava acontecendo, mas quando a amiga lhe enviou "Bi, acho que você deveria tentar mandar uma mensagem para Zoe explicando", Bianca não respondeu.

Provavelmente deveria, mas de que iria adiantar? Com certeza a garota nem iria ler nada e lhe daria um block na hora. Como pôde ser tão idiota? Iludida a ponto de achar que andar com Nicole acabaria com seus problemas, que ela deixaria de ser a perdedora que era... Para piorar, agora estava com vergonha de sequer mandar mensagem para Luana ou Agnes. Ela realmente tinha feito amigas antes de todo aquele caos, com quem poderia ter desabafado e pedido ajuda a respeito dos problemas com Daniel ao invés de alguém que só sabia falar mal dos outros.

Passar um dia tão tranquilo, longe de todos aqueles problemas e da tristeza da rotina era bom, mas no fim... Só a lembrava que seria inevitável voltar para aquele circo dos horrores. E agora, o bullying de Nicole com certeza pioraria e talvez nem tivesse mais seu novo grupo de amigos. Bianca só tinha vontade de nunca mais voltar para a escola, pisar na lan house... Até ficava aliviada por não precisar ligar a live nos próximos dias, porque até sobre isso começava a se questionar.

— É, definitivamente... É um filme. — Esther comentou, conforme os créditos de Uma Nova Esperança rolavam pela tela.

— Esse já é um dos meus preferidos, mas daqui pra frente só vai melhorar! — Natalie explicou, levantando-se do sofá onde estavam aninhadas para colocar o filme seguinte.

— Como assim "daqui pra frente"? — Esther franziu o cenho. — A gente vai ver todos?!

— Claro, ué! São trilogias, não dá pra ver só um.

"São"? Tem mais de uma?!

Natalie parou no meio da sala, olhando para a namorada como se repensasse todas as escolhas que a levaram até ali.

— Você já tá reclamando? E a gente nem chegou no Episódio 1, esse sim parece uma tortura medieval — Natalie murmurou. — A Bianca é apaixonada pelas prequels, mas sinceramente eu acho que é só porque o Anakin é gostoso.

A irmã, sentada na poltrona com o queixo apoiado na mão, deu uma risadinha meio apática, sem parar de encarar com o olhar desfocado os créditos que subiam na tela. Esther já estava com a boca aberta para questionar porquê diabos começaram a assistir os filmes fora de ordem, quando se deu conta da atitude de Bianca.

— Ei, pequena, tudo bem? — Ajeitou-se no sofá para olhá-la nos olhos e colocou a mão sobre seu ombro. — Você parece cabisbaixa, quer fazer outra coisa?

— Esther! Você tá tentando se livrar... — Mas Natalie deixou a frase se perder no ar quando olhou para Bianca. Vendo sua expressão, percebeu que em nenhum momento a irmã a acompanhou enquanto contava curiosidade sobre os filmes e o elenco de Star Wars para Esther. Parando para pensar, Bianca não havia soltado um pio nas últimas horas. — Ô Bibi, não tá afim de ver os filmes?

— Claro que não, gente, eu tô bem! Só tava pensando — explicou, com um sorriso fraco no rosto — Pode colocar, o próximo, Nini.

Mas não foi o suficiente para convencer Natalie, que deixou o notebook para trás, com os créditos ainda rolando na tela. Aproximou-se para sentar no braço da poltrona, bem pertinho da irmã mais nova:

— Você tá com uma carinha tão xoxa, mana. Tem certeza que está tudo bem?

Bianca fez um biquinho para tentar conter a vontade de chorar. Ela e a irmã raramente se chamavam de "mana", optando normalmente por nomes mais carinhosos como "idiota", "pirralha", "bife de rato", ou algum apelido que a outra particularmente odiasse. Quando Natalie a chamava assim, normalmente era uma implicação de trégua na pseudo-guerra que sempre rolava entre elas.

— E-eu...Tô, Nini. Só... Sei lá, tem muita coisa acontecendo.

Natalie se aproximou mais dela, levando as mãos aos seus cabelos, começando a trançá-los delicadamente.

— Entendi. Que tal fazermos só uma pausa, então? Depois eu faço uma pipoca doce para continuarmos... Você não quer nos contar um pouco sobre essas coisas que estão acontecendo? — Tentou, abaixando o tom de voz.

Inconscientemente, Bianca virou a cabeça na direção da irmã, apreciando o toque em seus cabelos. Abriu um pouco a boca para começar a falar, mas não conseguiu produzir absolutamente nenhum som. Tornou-se ciente demais da atenção que estava recebendo das duas anfitriãs e seu coração acelerou quase que instantâneamente.

— É só besteira, Nini. N-não tem nada de realmente importante...

— Se tem algo te incomodando, não é besteira — respondeu, de imediato.

Então Esther teve uma ideia:

— Ei, Bianca, sabe de uma coisa? Você ainda não contou para a gente sobre as suas lives. — Abriu um sorriso interessado, apoiando-se no ombro da namorada para olhá-la. — A Natalie me falou que você começou a fazer, mas para ser sincera, sou bem por fora desses assuntos. Eu soube que tem bastante gente assistindo.

Quase como se um interruptor tivesse sido acionado, a expressão de Bianca se iluminou:

— Ah, sim! Eu comecei semana passada e tá sendo bem legal! Eu tive uma média de 150 pessoas, parece pouco, mas é bem alta para quem está começando. Tipo, eu normalmente jogo LOL, eu não sei se você conhece.

— Você é boa? — Esther aproveitou o gancho. Natalie precisou conter o riso da expressão debochada que a irmã fez ao responder "Não sou boa, sou absurda!". — Nossa, que incrível! Bianca, espera um pouco que eu vou fazer um chá para mim e você me explica mais sobre esse jogo. Quer tomar um também?

Vendo a namorada levantar do sofá e caminhar até a cozinha, um sorriso bobo se desenhou na cara de Natalie, que conhecia bem a estratégia do "vamos sentar e tomar um chá?", quando Esther queria nem-tão-despretensiosamente começar uma conversa específica. Terminou a trança no cabelo da irmã, que parecia super animada para contar sobre suas lives. Com sorte, a partir dali, conseguiriam entender o que a estava incomodando.



No começo, Natalie teve um flashback da sua primeira vez na terapia, quando sentia-se tão pressionada, e ao mesmo tempo convencida de que seus problemas não tinham importância, que sequer conseguiu colocá-los para fora. Até que sua psicóloga, com muita paciência, começou a fazer perguntas estratégicas para entender melhor sua situação e incentivá-la a falar.

Porém, diferente de si, que caiu num berreiro e vomitou toda a história de sua vida depois de alguns minutos, Bianca era mais fechada. Ainda assim, com jeitinho e interesse, ela e Esther começavam a desfazer aquela carapaça de proteção.

Primeiro falaram sobre as lives e Bianca deu uma aula sobre LOL para Esther, que apesar de não gostar muito de jogos, prestou total atenção o tempo inteiro. Ouviu-a falando sobre o jogo, sobre seu rank, sobre outras streamers... Mas quando Bianca deixou escapar que às vezes ficava um pouco insegura quando se comparava com elas, Natalie aproveitou a deixa.

A mais velha falou sobre as suas próprias inseguranças no tempo do colégio, na tentativa de incentivá-la a se abrir: de como também se sentiu inferior às outras alunas com notas excelentes, perdida porque não sabia o que queria fazer na faculdade e, acima de tudo, com sua ansiedade fora de controle.

— Mas é diferente, Natalie... Você era super popular, cheia de amigas, todo mundo te admirava. E-eu... — Bianca começou, mas deixou a frase se perder, com dificuldade de admitir para a irmã e a cunhada que sofria bullying. "Vão me achar mais patética do que já devem achar."

Natalie percebeu que havia algo ali, então aproveitou a menção às amigas para trazer o assunto sobre Elisa. Ela sabia de quase toda a fofoca, sabia que envolvia algumas garotas sendo escrotas com as duas — uma delas era a irmã mais nova de sua amiga Lorena, que nem mesmo ela suportava. Ainda assim, ouviu atentamente ao lado de Bianca, que dessa vez acabou deixando escapar que Nicole "as perseguia". Foi quando Esther perguntou diretamente sobre bullying, que Bianca quebrou.

Esteve o tempo todo tentando conter o choro. Fazia caretas para disfarçar e evitava sustentar o olhar delas, o rosto cada vez ficando mais vermelho. Mas quando se viu admitindo que sim, sofria bullying desde o começo do ano (mais precisamente, do ano passado, ainda em sua outra escola), Bianca não conseguiu mais conter as lágrimas. Chorou tanto, mas tanto, que precisaram fazer uma longa pausa para Esther trazer outra xícara de chá enquanto Natalie abraçava a irmã e não conseguia segurar as próprias lágrimas.

— Você não me contou porque eu mal respondia direito, né?! — Natalie deixou escapar, compartilhando a insegurança que carregava desde o começo do ano. Era evidente como sua relação com a própria irmã e até com Elisa havia se estreitado um pouco com o seu estágio, os trabalhos de faculdade... Agora ela se sentia um completo lixo, pensando que Bianca sequer conseguiu pedir ajuda quando estava mal.

— E-eu... Eu tenho... — Bianca se viu fechando a boca de novo, mas dessa vez, aninhada nos braços da irmã, sentia uma segurança muito diferente de todas as vezes que se viu obrigada a encarar aquele assunto. Como se Natalie realmente pudesse lhe proteger de tudo. — Eu tenho vergonha, Nini. Você sempre foi tão incrível, conquistou tudo o que queria e eu sou só a irmã patética que sofre bullying por ser feia, gorda e burra! Inclusive, acreditei quando essas mesmas meninas disseram que queriam ser minhas amigas, mas elas só se aproveitaram de mim... Eu falei tanto da Lisa, mas fiz a mesma coisa que ela. A-achei que... Que...

Outra pausa foi necessária para que Bianca chorasse mais um pouco e tomasse todo o chá enquanto tentava se acalmar. "Se abrir é uma coisa muito difícil, Bi. Eu e sua irmã entendemos, também tivemos muita dificuldade quando começamos a fazer terapia" Esther mudou um pouco de assunto, com a voz calma enquanto passava as mãos pelo cabelo de Bianca. "Mas é bom, ajuda a tirar as coisas que machucam de dentro da gente, mesmo que nem tudo possa ser consertado. Você é muito forte, sabia?"

Então Bianca contou sobre o bullying. Pela primeira vez, compartilhou que desde o ano passado, no antigo colégio, os alunos começaram a lhe perseguir por causa da forma como se vestia e dos seus gostos. Depois, entrou no Madre Cordélia para encontrar garotas muito piores, que debochavam do seu peso, da sua aparência e que até compartilhavam fotos dela apenas para fazer piada.

— Bianca, não quero te pressionar, ok? Eu entendo como é difícil ter coragem para se abrir. — Esther começou, tomando cuidado com as palavras. — Mas tem algum motivo para você nunca ter conversado sobre isso com a Ariele?

— O que ela vai fazer?! — Bianca desabafou. — Eu nem tenho como provar, sabe? Vou falar que a Nicole e as outras amigas ficam me chamando de "porca"?! É capaz dela inventar outra mentira e quem vai acabar se ferrando sou eu.

— Não interessa se você não tem como provar! — Natalie interrompeu. — Isso é sério, Bianca. Você precisa avisar para a direção. O colégio tem que estar ciente e ser pressionado para se envolver. A gente conhece a Ariele, sabe que ela vai levar a sério.

Mas e se não for bullying?! — No desespero do momento, Bianca deixou escapar as palavras que tanto tinha medo de admitir. Natalie franziu as sobrancelhas e ela se viu obrigada a explicar: — E se a Nicole e as amigas delas não estiverem contando nenhuma mentira?! E se eu for mesmo tudo o que elas dizem? Burra, perdedora, falsa... Eu acreditei na Nicole, falei de uma menina que eu odiava e ela espalhou para todo mundo! Agora, provavelmente nenhum dos meus amigos vai querer falar comigo, e ainda tem o menino que eu gosto e agora eu provavelmente estraguei tudo!

— Bianca, parou! Como assim "e se não for bullying"? Nada, absolutamente nada das coisas que elas estão falando é verdade! Você não é falsa, não é uma perdedora e, acima de tudo, não é porque cometeu um erro que é burra. — Natalie disse.

— Não é só isso, Nini! Eu não consigo passar um dia sem me esconder pra chorar... Não estava mais indo na dança e nem tinha vontade de ir pra aula, tudo porque tinha medo que alguém risse de mim... Eu sou patética!

— Mas Bi — Esther interrompeu — Você não é patética por se sentir mal, por sofrer diante de uma injustiça. Isso é absolutamente normal. — Então ela abriu um sorriso, passando o dedo delicadamente para limpar uma lágrima que escorria na bochecha macia da menor. — E como você pode ser uma perdedora? Você estava contando agora mesmo o quanto é incrível no LOL, como fez amigos na lan house e suas lives estavam sendo um sucesso. Você me pareceu alguém super segura e confiante.

— Do que importa se eu sou boa num jogo, Esther? E... — Bianca suspirou. — Deve ser porque eu sou outra pessoa quando não estou no colégio. Mas a Bianca de verdade é essa, a chorona idiota.

— É incrível, você e a Natalie são iguaizinhas mesmo! — A morena brincou, piscando para a namorada e pegou Bianca de surpresa, que ficou exasperada com aquela comparação. — Fazem pouco de absolutamente tudo em que são boas... Natalie costurou várias roupas lindas, fez um vestido de formatura maravilhoso, é sempre elogiada pelos professores, mas esses dias chegou em casa dizendo "E daí que eu só costuro bem? Eu fui muito mal em História da Moda! Não sou boa em nada que interessa!".

Bianca fungou várias vezes, secando as lágrimas com as costas do braço enquanto erguia o olhar para a irmã. Como assim Natalie se atrevia a dizer que não era boa em nada que interessava? Percebendo que captou sua atenção, Esther continuou:

— Você mesmo disse, pequena. Você não é boa, você está entre os melhores do Brasil! Eu não sou a melhor do Brasil em nada. — Esther sorriu. — Não interessa se é um jogo, foi algo que você se dedicou e treinou até melhorar, e persistência é uma coisa muito admirável. Outra coisa, você disse que as pessoas gostam de te ver jogar, te acham divertida na live...Por que as coisas em que você é boa, você acha justo desconsiderar?

— E eu discordo do que você disse, sobre a "Bianca de verdade". — Natalie interrompeu. — Quer dizer, é super normal nos sentirmos mais confiantes num lugar que é confortável, onde estamos rodeados de pessoas que gostamos; enquanto em um lugar ruim, com memórias difíceis, vamos ficar mais fragilizados. Só que, independente de onde você esteja, no fundo, você é a mesma Bianca. Que é incrível, mesmo que às vezes se sinta mal ou insegura. A Bianca de verdade é uma dançarina incrível, desenha muito bem, é a melhor jogadora de LOL que eu já vi na vida e ela sabe de tudo isso. É uma irmã insuportável, mas ninguém é perfeito.

Natalie cutucou a cintura da irmã para pontuar a provocação, arrancando um gritinho dela. Bianca precisou fazer muita força para conter o riso, principalmente quando Esther repetiu o movimento na namorada, que também morria de cosquinhas. As duas Conceição reclamaram em uníssono e terminaram rindo juntas.

— O-obrigada, gente... — Bianca deu um sorriso. Não era como se todos os seus problemas tivessem desaparecido, mas Esther tinha razão: colocar as coisas para fora ajudava um pouco. — Acho que me sinto um pouco melhor.

— Mas tá tudo bem se não sentir também, tá? — Esther reafirmou. — Você está passando por um momento difícil e é muito complicado se manter sempre confiante. O que estamos tentando dizer é que você é a mesma garota incrível, dedicada e talentosa a todos os momentos, mesmo que às vezes seja um pouco difícil de enxergar.

— As coisas que essa garota e as amigas dela falam te afetam porque você se sente insegura e acaba duvidando de si mesma. O que você diria se essa Nicole dissesse que você é ruim no LOL? — Natalie colocou a mão na cintura.

Bianca fungou algumas vezes, antes de responder com um sorriso:

— Diria que ela é maluca.

— Exatamente, Bi. Porque você sabe que é boa! Tipo, você tem olhos, . — Então Natalie diminuiu o sorriso, aproximando-se da irmã para falar com carinho, mas seriedade: — E quando você conseguir enxergar o quanto é incrível em todo o resto, nada do que ela falar vai te machucar.

Esther cortou:

— Mas mesmo assim: você precisa contar para a Ariele sobre tudo. Precisa deixar registrado o que a Nicole faz, independente de "não tem nada que possa ser feito". Você está sofrendo com algo, é seu direito pedir ajuda dentro do internato.

— E, Bi, apesar do que dissemos, você não tem qualquer culpa de se sentir mal ou insegura. Inclusive, conversando com a Ariele, pode pedir para ela te encaminhar para a psicóloga do colégio. — Natalie passou a mão no rosto da irmã, colocando uma franja rebelde para trás da orelha. — Eu fiz várias sessões enquanto estudava lá e me ajudaram muito. Não tem nada de errado em pedir ajuda.

A mais nova agradeceu aos conselhos, mas no fundo ainda os estava digerindo. A verdade é que tudo o que ela precisava naquele momento era o carinho das duas mulheres que ela mais admirava na vida, o interesse de ouvirem seus problemas. Sentindo como se um nó trancando sua respiração começasse a se afrouxar, Bianca viu a oportunidade para pedir ajuda em outra questão. Respirou fundo e escolheu bem as palavras:

— Bom, então tem outra coisa que eu gostaria de pedir ajuda... É mais uma opinião. — Bianca mordeu o lábio inferior, refletindo em como pareceria menos uma filha da puta: — Eu, recentemente... Bom, acabei confiando nessa menina, a Nicole. Tem uma outra garota, de outro colégio, que é bem próxima aos meus amigos e desde o começo eu não fui muito com a cara dela, acho ela muito convencida e desnecessária. Só que eu falei muito mal dela pra Nicole... Eu não sabia que ela queria me ferrar, óbvio, mas ela distorceu as coisas que eu disse e espalhou pra todo mundo sabe?

Natalie cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas, desconfiada.

— Que coisas exatamente você estava falando dela? E que coisas ela disse que você falou? — Questionou. — Você nunca foi de ficar fazendo fofoquinha assim, Bianca.

— Ah, sabe... Falei que ela era desnecessária, meio desesperada por atenção. Só que também falei que ela queria dar para todos os meninos do nosso grupo de amigos... — Bianca começou a se justificar, vendo a expressão surpresa das duas garotas: — Foi da boca pra fora, sabe?! Eu só tava brava porque... Ela tem uma relação meio estranha com os meninos, inclusive o garoto que eu gosto. Só que eu me arrependi de ter dito essas coisas, mas agora, provavelmente todos os garotos vão me odiar porque a Nicole falou que eu confirmei que ela estava dando para todos eles.

— Minha nossa. — Esther murmurou.

— Nossa, que coisa mais idiota de se dizer, Bianca. — Natalie balançou a cabeça em reprovação, mas acabou dando um longo suspiro. — Olha, primeiro acho que você tem que tomar vergonha na cara. Depois disso, vou te falar a mesma coisa que eu falei para a Lisa quando ela veio contar sobre o que tinha feito contigo: assume sua merda. Não tenta cobrir com granulado. Fala com ela, explica que distorceram o que você falou e pede desculpas, mas admite o que você fez. E, pelo amor de Deus, para de usar a suposta vida sexual de uma mina para xingar ela.

— Eu tava meio bêbada na hora e... — Mordeu o lábio inferior, lembrando que aquelas foram as mesmas palavras que Elisa usou quando contou sobre como a vontade de impressionar Nicole subiu à sua cabeça e acabou mandando a foto de Bianca. Que droga. Ela havia feito exatamente a mesma coisa. — Enfim, eu jamais imaginei que chegaria até outras pessoas, principalmente desse jeito... Desculpa, Nini.

— Não é pra mim que você tem que pedir desculpas — Natalie respondeu, ríspida, mas eventualmente suavizou o tom. — Mas tá, relaxa. Todo mundo fala merda e deixa escapar as coisas erradas. Só assume e se desculpa por isso, tá? Seus amigos não vão te odiar, principalmente se você também tiver sido vítima de uma mentira maior.

Bianca assentiu e a sala de estar caiu em um silêncio contemplativo, que Esther interrompeu com uma risadinha:

— O Madre Cordélia nunca falha em parecer uma novela mexicana, né?

— Bom, pelo menos assim a gente sabe que tá tudo normal lá — Natalie brincou, arrancando um sorrisinho de Bianca. — Agora que passamos pela terapia e pela sessão não-faça-com-os-outros-a-mesma-merda-que-fazem-com-você, já é quase hora da janta. Você quer escolher o que vamos comer, pirralha? Deixo pedir qualquer coisa que vá te animar agora.

Bianca imediatamente pediu hambúrguer, mas aquela era a última coisa no mundo inteiro que Natalie queria comer, então as duas começaram a discutir. Esther apenas observou, atônita, porque não fazia nem dois minutos que estavam abrindo o coração uma para a outra.

Levantou-se para levar as xícaras de chá para cozinha e colocar a mesa, mas mesmo quando voltou as irmãs continuavam bicando uma a outra, dessa vez porque "Minha nossa você sempre foi insuportável na hora de pedir comida" e "Você nunca aceita comer algo além do que você quer" então Esther se viu obrigada a mandá-las calar a boca e decidir ela própria o que iriam jantar, sob o irrefutável argumento de que ela quem iria pagar.

Quando estavam na mesa comendo sushi e Bianca achava que tudo havia terminado da melhor forma possível, com um pouco do peso aliviado de seu coração, Natalie abriu um sorriso malicioso e jogou a bomba:

— Agora só falta falarmos sobre a coisa mais importante de todas: — E olhou diretamente nos olhos de Bianca. — Se eu não estou enganada, você falou algumas vezes hoje "do garoto que eu gosto"... Me conta mais sobre meu cunhadinho




Nota da autora:

Boa tarde, amigos.

Antes que suspirem de alívio: não, essa bomba da Natalie não é a que eu estava falando no capítulo anterior. Sexta-feira promete.

(A promessa: choro e sofrimento) 

MEU DEUS QUE COISA GOSTOSA ESCREVER ESSE CAPÍTULO!! A Bianca dá muita raiva às vezes, mas tem algumas outras coisas que ela precisava ouvir, além das broncas — QUE VIRÃO. 

Foi um capítulo bem difícil e pesquisei muito; conversei com o meu irmão psicólogo e amigos que sofreram bullying, tudo para entender quais seriam as melhores coisas para falar para alguém que esteja passando por isso. Primeiro de tudo: é nosso direito buscar ajuda! Da escola, professores, nossos pais, psicólogos... Nunca pensem que sua dor não é importante.

Quem faz bullying se aproveita e se alimenta das nossas inseguranças. Aproveita a nossa dificuldade em ver como realmente somos incríveis: pessoas únicas, com habilidades, hobbies, sonhos, qualidades e defeitos. Claro que cada um enfrentará da sua maneira, mas se eu puder dizer algo: tentem sempre se blindar com a certeza de que nada que essas pessoas falam é verdade. Apoiem-se nas suas qualidades e seus amigos e lembrem que esses momentos ruins vão passar. 

A vida vai seguir e continuaremos sendo as pessoas incríveis que somos, enquanto essa gente continuará para sempre apodrecendo por dentro 🥰

Acho que é isso. Do fundo do meu coração, escrevo essas histórias esperando que de alguma forma ajude quem está precisando, da forma que for possível 💜 Muito obrigada por continuarem me apoiando enquanto busco realizar esse sonho! 

Desejo um beijo gigantesco e que tenham uma semana incrível

porque sexta vou destruir tudo 🥰

(mas depois reconstruir!)

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