FEVER || woosan

By pearlpirate

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Choi San é fascinado pelas pintinhas e todos os outros detalhes sobre Jung Wooyoung. Apaixonado desde que o c... More

0. avisos
1. inception
2. mist
3. wave pt.1
4. wave pt.2
5. if without you
6. light
7. take me home
8. not too late
9. promise
10. one day at a time
11. desire
12. aurora
13. from
14. say my name
15. horizon
16. utopia
17. deja vu
19. a little space
20. be with you
21. still here
22. dont stop
23. answer
24. declaration
25. paradigm
26. dune
27. bouncy (hotter version)

18. turbulence

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By pearlpirate


Nota inicial extraordinária: 

Oi, gente! Eu poderia me justificar horrores aqui com o tanto de coisa que me aconteceu nesses últimos meses, mas vou poupar vocês e só pedir mil desculpas pela demora. Quero agradecer a todos que chegaram e leram a história nesse meio tempo e, principalmente, a todos que me mandaram mensagens pedindo para não desistir da fic. Eu juro que não vou! Eu só tive dificuldade de lidar com meu tempo apertado, mas o roteiro está todo pronto e agora finalmente estou de férias da faculdade, então vou conseguir adiantar os próximos caps. Obrigada por continuarem por aqui! Espero que curtam esse capítulo grandão. 

Então, apertem os cintos e vamos de turbulências!



"Talvez eu ainda seja muito jovem

Pairando no céu escuro da noite.

A impaciência causou uma turbulência

Que nos destruiu."



s e o n g h w a


Uma cosquinha sutil arrepia minha pele desde a minha lombar até minha nuca. Embaixo, dedos pequenos e quase delicados arranham suavemente provocando e eriçando meus poros enquanto a respiração calma e constante faz o mesmo no topo da minha espinha. Sorrio sem abrir os olhos e mordo o lábio quando sinto a mão pequena se atrever a desbravar, dolorosamente devagar, minha cintura até chegar em minha barriga, que eu, involuntariamente, contraio pelo contato. A risadinha em minha nuca me faz rir junto.

– Você tá seguindo um caminho perigoso, Jongie-ah. – murmuro, sentindo-o se aconchegar mais atrás de mim, me abraçando mais forte. O braço envolvendo meu corpo, a mão pousando aberta em meu peito nu e o queixo se encaixando no vão entre meu pescoço e ombro.

– Bom dia, amor. – ele murmura de volta com a voz rouca e deixa um beijinho na lateral da minha cabeça.

Num movimento rápido, me viro de barriga para cima e, quase ao mesmo tempo, puxo Hongjoong pra mim. Ele ri se sentando sobre meu quadril e então se inclina pra me beijar, mas eu travo os lábios o impedindo.

– Ainda não escovei os dentes.

– Acho que a gente já passou dessa fase de ter nojinho de hálito matinal. Me beija. – ele exige com um sorrisinho e eu nego prendendo suas mãos na lateral de seu corpo. – Park Seonghwa... – sei que ele quer soar assustador, mas meu nome sai quase manhoso demais de sua boca.

Rio e o puxo pra mim, nos virando novamente na cama, até eu ficar entre suas pernas e segurar seu rosto para enfim deixar um selinho demorado em seus lábios desenhados.

– Bom dia, amor. – murmuro e ele sorri satisfeito.

– Você dormiu bem? Ficou inquieto de madrugada.

– Tive um pesadelo. – suspiro depois de deixar um beijinho em seu peito por cima da camisa. – Sabe o que isso significa, né? – digo só pra vê-lo rir e revirar os olhos.

– Você e sua mania de achar que quando tem pesadelo é sinal de que o dia vai ser ruim.

– Não é mania! – finjo estar ofendido. – É uma premonição. Tô até pensando seriamente em cancelar essa festa.

– Nah! – ele estala a língua em reprovação.

– Amor, é sério! – resmungo lembrando da imagem quase nítida do pesadelo na noite passada. Um navio com uma bandeira pirata igual a da Pearl, lutando pra ficar estável dentro dum mar assustadoramente revolto. Pareceu auto explicativo demais e me assustou. – É sobre os meninos. – murmuro e Hongjoong me olha por uns segundos até suspirar.

– Tudo bem, eu acredito, mas nós podemos só ficar de olho em todos. Não precisa cancelar a festa. Você já organizou tudo e sabe... – ele envolve as pernas ao redor do meu quadril e sorri bonito. – Eu estava ansioso pra dançar e te beijar no terraço.

– Kim Hongjoong está pedindo pra eu ignorar minha intuição e ir dançar agarradinho sob as estrelas? – deixo um beijinho no seu queixo e ele retribui no mesmo instante. As unhas curtas encontrando o caminho para a pele das minhas costas descobertas, só pra me arrepiar.

– Sim, quero ser brega com você hoje.

Todo mundo sabe que eu não resisto a Kim Hongjoong. E Kim Hongjoong todo manhosinho querendo ser brega não é o evento mais comum do mundo, então se meu homem quer uma festa pra beijar sob as estrelas, ele terá.

– Talvez não dê nada errado.

– Não vai dar. – ele sorri retribuindo o beijinho em meu queixo. – Relaxa.

Eu não devia ter relaxado.

Eu amo meu namorado, mas ele não é nem um pouco sensitivo. E pior! Não acredita de verdade na minha intuição.

Eu sabia que alguma coisa iria dar errado hoje e agora, tendo a visão da festa se desenrolando bem à minha frente, tenho ainda mais certeza.

A festa mal começou e eu já rezei pra todos os santos para que o som aqui do terraço não chegue nos andares de baixo e os vizinhos se irritem. Eu tinha dito pro síndico que seria uma pequena reuniãozinha e que deveriam aparecer umas cinquenta pessoas. Bom, agora deve ter umas cem e não para de chegar mais. E eu sei que a culpada pela grande parte dos penetras que estão aqui é nossa DJ convidada que postou um vídeo em sua rede social dizendo onde estaria tocando esta noite e fez isso virar uma festa lotada pique fraternidade de filme americano.

Todos pulam e dançam movidos pelo som que Hyejin faz do mini palco que improvisamos e eu queria que minha maior preocupação fosse mesmo a multa que o síndico pode nos dar por isso, mas o que realmente me deixa agoniado está logo ali ao lado da DJ que ignora completamente sua presença. Mingi, minha primeira preocupação da noite, está encostado no muro de contenção do terraço observando Hyejin com o semblante mais confuso que já vi em seu rosto (e olhe que isso não é muito difícil).

Não muito longe, Jongho e Yeosang estão conversando, e isso seria totalmente normal para dois pseudo namorados se Yeosang não estivesse muito vermelho e Jongho não estivesse com um bico compondo uma expressão de que vai chorar a qualquer momento. Tento ler os lábios dos dois pra entender o que está acontecendo, mas então a imagem de Yunho no sofá vermelho no canto mais afastado do terraço tentando desemburrar uma Yeri de braços cruzados me faz acender mais um pisca alerta.

– Na-na-não... – Hongjoong me segura no lugar pela cintura antes que eu consiga dar um passo. – Você já tá pirando né? – ele murmura em meu ouvido me abraçando por trás e apoiando o queixo em meu ombro.

– Hyejin está nitidamente ignorando Mingi. – levanto o primeiro dedo começando a enumerar. – Yeosang e Jongho estão numa discussão acalorada por algum motivo que não parece ser o ponche alcóolico que Bangchan trouxe. Yeri está a ponto de esganar o Yunho e como se não fosse o suficiente... – levanto o quarto dedo e viro o corpo na direção da dupla que mais estava me preocupando na noite. – Os Woosan.

Hongjoong olha de um lado a outro pra observar a dupla que está em lados diferentes da festa, mas de minuto em minuto se encara de um jeito que eu ainda não consegui decifrar se eles vão acabar se matando ou se beijando.

– Tem tanta tensão que se alguém riscar um fósforo perto eles explodem. – Hongjoong diz e eu só assisto.

– Eu não devia ter concordado com sua ideia de só ficar de olho neles. São seis crianças, mais três namorados e muito drama. Adicione álcool a isso e bum!

– Amor, você tá... – Hongjoong me vira em sua direção e segura minhas mãos com um sorrisinho nos lábios. – Você tá bancando a mãe de novo. – diz calmamente.

Eu sei que ele tem razão, mas eu não consigo simplesmente ignorar.

– Se eles explodirem...

– A gente cuida deles. Como sempre. – ele diz tão simplesmente que eu fico entre relaxar ou pirar de uma vez.

E então eu relaxo, porque Hongjoong segura meu rosto entre as mãos e me beija. Lenta e intensamente. E quando se afasta só um pouco, eu solto o ar com força e demoro a abrir os olhos, ainda desestabilizado pelo carinho.

– Você disse que ia me fazer dançar hoje. – ele cobra mostrando seus dentes bonitos pra mim, me obrigando a roubar mais um beijo. Sorrio de volta e o aperto entre meus braços.

– Vem, vamos dançar aqui em cima e quando acabar, se todos ainda estiverem inteiros, vou te levar pra dançar no nosso quarto. – isso o faz gargalhar tanto que sua risada finalmente rouba minha atenção de qualquer outra coisa.



w o o y o u n g



San está me evitando.

Eu sei disso porque essa é a quarta vez que, ao mínimo sinal de que vou chegar perto, ele muda de lugar e vai para o mais longe possível de mim. O terraço nem é tão grande assim e pelas minhas contas, com duas horas correntes de festa, já deveríamos ter nos esbarrado pelo menos uma dezena de vezes. Mas Choi San está me evitando, descaradamente, sem nem ao menos tentar disfarçar.

Eu realmente não posso culpá-lo quando fui eu que banquei o doido nos últimos dias. Senti ciúme, tentei me afastar, quase o beijei quando ele estava bêbado, quase o beijei no meio de um ensaio, tive uma crise e liguei pra ele pedindo pra conversar.

Eu também fugiria de mim.

– Coloca pra mim também. – Yunho estende um copo azul depois que eu despejo uma concha do líquido vermelho de procedência duvidosa no meu próprio copo. O encaro por meio segundo só pra ver sua carranca irritada antes de fazer o que ele pediu.

– Problemas no paraíso? – pergunto, me escorando na parede atrás da tenda de bebidas que Seonghwa tinha me feito armar mais cedo.

– Yeri vai me deixar louco. – ele resmunga depois de beber metade do líquido.

– Quer falar? – antes que ele desabafe, Mingi se joga do nosso lado e enfia seu copo no pote do ponche, ignorando a concha.

– Hyejin está me ignorando! – ele berra irritado e então vira a bebida de uma vez em sua boca.

– Bem vindo ao clube. – levanto o copo fazendo menção a um brinde e ele bufa.

– Eu não consigo entender qual é o problema? Estava tudo bem entre nós e de repente ela está toda "agora não, Mingi." e olhares distantes, eu... – ele olha pra longe, pros corpos se movendo numa dança esquisita em nossa frente. – Será que é por causa do lance da virgindade? – divaga.

– Hyejin é virgem? – eu pergunto e Yunho me dá uma cotovelada murmurando um "não é da nossa conta". Mas quando vejo Mingi morder o lábio inferior eu entendo. – Seu pateta, você é virgem! – dou um tapa em seu ombro e ele nega com a cabeça, os olhos arregalados.

– Por que diabos você mentiria sobre isso? – Yunho dá um tapa do outro lado de seu ombro.

– Porque eu não queria vocês me zoando!

– Para de ser otário! Não tem nada pra zoar, ow virjão. – bato em sua nuca e ele reclama bebendo mais ponche.

– Não estamos na quinta série, Minki. – Yunho diz estendendo a mão pra massagear o lugar que eu bati antes. – Cada um com seu tempo.

– E eu duvido que ela se afastaria por isso. – respondo sua divagação anterior, mas ele suspira não parecendo convencido.

– Sei lá... Não sei o que rolou. – ele sacode a cabeça e dá de ombros, voltando a encher seu copo direto no pote de ponche. – Mas o que tá rolando com vocês? Tão com cara de derrotados, quase piores que eu.

– Eu disse a Yeri que talvez ela devesse pensar sobre o fato de não gostar de ser bailarina e agora ela tá puta comigo porque entendeu que eu disse que ela não era uma boa bailarina e deveria desistir. – Yunho metralha a frase longa, descarregando de uma vez o motivo de sua briga com Yeri e é minha vez de revirar os olhos.

– Ah, porra.

– Pois é.

– Mulheres são complicadas demais. – Mingi volta a suspirar como se essa fosse sua resposta pra tudo de agora em diante e eu sacudo a cabeça.

– Homens também são. – murmuro atraindo seus olhares pra mim.

– Sanie hyung? – Mingi franze o cenho e eu mordo o lábio por um segundo em dúvida se confirmo ou não. No final, assinto com a cabeça.

– O que tá rolando?

– Decidi conversar com ele sobre... Sobre eu ser um ferrado da cabeça. – digo antes de virar o resto do líquido vermelho garganta abaixo.

– Você não é ferrado da cabeça, Woo. – Yunho me olha daquele jeito. – E tô feliz que você finalmente decidiu fazer isso. – Ele sorri um pouco e eu encolho os ombros me afastando do balcão pra pegar mais alguma bebida dentro do freezer no canto da tenda, querendo evitar qualquer conversa de apoio moral.

Preciso beber mais pra me livrar da sensação de que tudo vai dar errado, como eu sempre soube que daria. Preciso beber pra ter coragem de finalmente ir até San e falar tudo que tenho pra dizer.

– Foi mal. – meu corpo é esbarrado quando estou com praticamente metade dele curvado pra dentro do freezer tentando resgatar as últimas garrafas de cerveja nadando no gelo. Levanto a cabeça pra ver quem se desculpou e dou risada quando vejo Hyejin quase correr fazendo o caminho de volta, evitando dar de cara com Mingi na tenda de bebidas alguns passos atrás de onde estou agora.

– Já volto! – grito pra Mingi e Yunho que nem se importam quando eu sigo pra longe deles. – Ya! – chamo Hyejin que me ignora completamente. – Segura a onda aí, fujona. – seguro seu braço e ela vira com a cara fechada, armada até os dentes pra me afastar.

– Tá me segurando por que, pirralho? – reclama e eu dou risada mantendo o aperto frouxo em seu pulso com uma mão enquanto com a outra seguro duas garrafas de cerveja.

– Só vim dizer que eu sei o que cê tá fazendo e não vai dar certo. – ela franze a testa ainda mais confusa.

– Do que diabos cê tá falando, garoto?

– Tô falando que você tentando afastar o Mingi em vez de dar o fora nele significa que você não quer dar o fora nele de verdade. – ela parece confusa por um segundo.

– O que você sabe sobre o que quero? – arqueia uma sobrancelha e eu reconheço aquele olhar defensivo, então só rio e coloco uma das garrafas de cerveja em sua mão.

– Sei que você é parecida comigo. – dou de ombros depois de abrir a tampa da garrafa com uma batida na parede. – A gente não resolve problemas. A gente foge deles. – bebo um longo gole da cerveja gostando da sensação do líquido gelado fazendo caminho por minha garganta. – Mas essa merda não dá certo pra sempre, então agradeça por eu já estar sofrendo com isso, aprenda com meu erro e converse com ele.

Hyejin me encara por longos segundos. A expressão retorcida num misto de incredulidade e antipatia fingida, mas ao mesmo tempo, sei que se ela quisesse já estaria muito longe de mim agora. Então só espero ela baixar a guarda.

– Valeu pelo conselho, baixinho, mas eu sei o que tô fazendo. – ela faz o mesmo movimento de bater a tampa da garrafa na parede e depois a torce com a manga da camisa, e então bebe um grande gole do líquido amarelado.

– Ele tá achando que você quer afastá-lo pelo lance da virgindade. – murmuro com a garrafa próxima da boca. Os olhos de Hyejin caem arregalados em mim, congelando-a na mesma posição que eu, com a garrafa colada aos lábios.

– Mas que porra? Eu não faria isso. Eu...

– Você sumiu depois dele dizer que era virgem. Eu também pensaria a mesma coisa.

– Eu só... – seus olhos se afastam de mim e parecem perdidos por um segundo. – Não vai dar certo entre a gente.

– E porque não termina? – sugiro, porque não estou realmente interessado no porquê dela achar que não vai dar certo. Só preciso fazê-la pensar direito.

– Não estamos tendo nada sério.

– Se não fosse nada sério você não estaria fugindo pra não ter que botar um ponto final.

– Eu só não quero magoar ele, ok? – sua voz desafina mostrando que ela tá entrando na defensiva de novo. Eu sacudo a cabeça antes que ela fique mais arredia.

– Você já tá fazendo isso. – ela bufa e eu reviro os olhos sem muita paciência pra ser o reconciliador agora.

Hyejin é igual a mim. Acaba encontrando os piores meios para "resolver" as coisas. Só que eu tô de fora e um dos meus amigos está envolvido e eu não sei ficar parado vendo acontecer.

– Se não quer assumir nada com ele, termine o lance de vocês direito sem deixar espaço pra aquela cabecinha pensar besteiras como a que ele tá pensando agora. – ela me olha por um segundo e então sacode a cabeça fazendo uma careta como se estivesse caindo em si novamente.

– Ok, intrometido. Agora vai cuidar da sua vida, vai. Que eu saiba você tem problemas maiores que os meus.

– Tipo quais? – arqueio uma sobrancelha rindo interessado.

– Tipo paixão reprimida pelo melhor amigo? – joga com um sorrisinho maldoso.

– Mingi é a porra de uma velha fofoqueira. – eu digo enquanto vejo Hyejin me dar as costas e sair gargalhando. Reviro os olhos e viro um gole da cerveja.

– Paixão reprimida pelo melhor amigo? – aperto os olhos ao ouvir a frase ser repetida atrás de mim. Meu coração acelera antes que eu tenha coragem de me virar. – Então eu estava certo sobre você ser apaixonado pelo San. – Park Seonghwa me olha com as mãos apoiadas na cintura. A expressão entre crítica e animada pesando nos olhos. – Por que escondeu isso?

– Eu... – paraliso sem saber o que dizer. Não queria ter que começar a me justificar agora.

– Você vai contar pra ele, né? – ele me observa e eu engulo em seco. – Você parece menos desarmado agora.

– Eu não acho que ele vai entender. – quase sussurro, mas Hwa ouve assim mesmo e chega mais perto pra agarrar meus ombros com suas mãos grandes, mas terrivelmente delicadas.

– Conte pra ele. – ele diz daquele jeito maternal carregado de certeza de que sabe o que é melhor e por um segundo eu acredito. Por um mísero segundo eu me deixo contagiar por sua convicção.

– Sinto que tudo vai mudar se a gente conversar hoje.

– Você gosta de como as coisas estão agora? – balanço a cabeça em negação e ele assente com um sorriso encorajador. – Ele me pediu esse ponche duvidoso do Chan. – diz me passando o copo descartável azul cheio de líquido vermelho e eu seguro firme. – Você consegue.

Corro os olhos pelo terraço caçando os ombros largos cobertos por um suéter verde que eu tinha visto que ele estava usando mais cedo. O encontro cortando um copo vermelho de plástico em tirinhas, meio entendiado do lado de uma Yeri que não para de falar e gesticular. Ando em sua direção sem voltar a olhar pra Seonghwa e vejo exatamente o momento em que seus olhos se arregalam quando me percebe em sua frente, perto demais pra ele sequer pensar em fugir.

– Hwa mandou seu ponche. – estendo o copo pra ele que o pega desconfiado e continua me encarando meio atordoado.

Eu não sabia porque San estava fugindo tanto de mim quando ele nem sabia o que eu queria dizer. Ele tinha concordado em conversar quando eu liguei pra ele da última vez, mas desde então havia ficado esquisito como se esperasse pelo pior.

– Preciso falar com você. – digo olhando em seus olhos, querendo que ele volte a querer ficar perto de mim, sem fugas. Como era antes. Ele morde o lábio, mas é interrompido por Yeri antes que consiga responder.

– Tô conversando com ele agora, ow. – ela cruza os braços na frente do corpo parecendo mais bêbada que emburrada e eu dou de ombros chegando mais perto dela só pra dizer com meu tom irritante.

– Para de alugar o San e vai atrás do seu namorado, chata. – mostro minha língua de forma infantil pra ela e puxo San pra vir comigo, o deixando sem opção senão me seguir.

O som de sua risadinha atrás de mim me faz sorrir e agarrar sua mão com mais força prendendo-a à minha, sentindo meu coração bater mais rápido só por estar andando de mãos dadas com ele ali no meio da festa, mesmo que apenas para guiá-lo pela pequena aglomeração.

– Onde estamos indo? – ele pergunta me pegando de surpresa ao colocar a boca perto demais da minha orelha pra ser ouvido por cima da música alta.

– Pra sua casa. Aqui não vamos conseguir nos ouvir. – digo finalmente alcançando a porta pra voltar pro interior do prédio.

Chamo o elevador e finjo que segurar sua mão não é grande coisa, enquanto puxo assunto sobre qualquer outro tópico só pra que ele também não perceba e a solte. Preciso sentir que tá tudo bem, que ele ainda vai me escutar, que vai me abraçar no final e vamos ficar bem. Como sempre foi.

– Esse ponche...– aponto pro copo quando ele bebe um pouco.

– A gente não devia confiar no Chan. – ele diz com uma careta e meneio a cabeça.

– Tá todo mundo achando que é do Chan, mas ele só trouxe até aqui. Na verdade, quem fez foi o Jisung. – San me olha alarmado e eu rio mais pela confusão. Jisung não é lá a pessoa mais confiável no que se diz respeito a drogas lícitas ( e ilícitas).

– Ah, cacete. Tamo ferrado.

Eu rio e gosto de vê-lo rindo de volta, ainda sem se importar de estar com os dedos entrelaçados aos meus.

Depois que o elevador chega e descemos até seu andar, andamos até o apartamento dele e ele solta minha mão pra abrir a porta. Entramos no espaço escuro guiados apenas pela luz da lua que invade a sala pela porta dupla de vidro que dá pra pequena varanda. San liga só a luz da cozinha e pelo vão do balcão eu consigo ver ele jogar o ponche no ralo da pia e então abrir a geladeira pra pegar duas latinhas de cerveja, antes de voltar até a sala agora levemente mais iluminada. Sento no tapete em frente a mesinha de centro e aceito a lata que ele me oferece antes de também sentar ao meu lado.

Por alguns longos minutos tudo que se pode ouvir é, primeiro, o som do lacre das latinhas sendo abertas, e então o barulho do líquido sendo virado, e então os suspiros longos de quem sente que alguma coisa vai mudar hoje.

– Por que fugiu de mim a festa inteira? – tomo coragem pra começar a falar e apesar de minha voz soar baixa demais, me surpreendo mesmo é com San respondendo rápido. Como se só estivesse esperando que eu perguntasse.

– Não sei, Woo. Quando você disse que queria conversar eu comecei a pensar nas piores coisas do mundo e fiquei com medo dessa conversa. Tudo... Tudo tem estado meio estranho entre a gente nos últimos tempos. Não sei o que pensar.

Assinto devagar apenas com a cabeça e volto a beber. Sinto os olhos de San em mim e aperto os meus próprios, me sentindo encolher de repente. Eu não posso dar pra trás agora, mas odeio ter que contar essa história. Odeio.

– Sobre o que você quer conversar? – ele pergunta depois de desviar os olhos de mim e começar a brincar com o lacre da lata. O vejo desenhar círculos aleatórios no suor frio do alumínio, arranhando e brincando com a pintura. Inspiro com uma força dramática demais e solto o ar com a mesma força. Isso faz San se inquietar do meu lado. – Tá tudo bem?

– Eu nunca te contei, mas... – minha voz começa falha, mas eu forço uma tosse e continuo porque se eu não continuar vou acabar desistindo. – Meu pai tá preso. – solto tentando não fazer grande alarde sobre isso, mas quando olho pra San seus olhos estão arregalados em minha direção. E eu sei o porquê.

– O q-que... Eu achei que ele tinha...

– Morrido. Eu sei. É o que eu conto pra todo mundo porque odeio ter que contar a história verdadeira e é mais fácil só... só fingir que ele não existe mais. – ele parece pensar um pouco e então vira o corpo todo em minha direção, daquele jeito que ele faz sempre que tá prestando atenção em alguém.

– O que aconteceu? – pergunta. A voz doce e suave quase fazendo cócegas quando alcança meus ouvidos, me encorajando.

– Meu pai era um cara maneiro. Ele era um homem realmente muito bom. – digo depois de beber o último gole da cerveja fria. – Minha mãe falava que ele era o cara mais gentil e engraçado em quem ela já tinha posto os olhos. – deixo um sorriso tomar meus lábios, fugaz. – Os dois se conheceram no ensino médio e começaram a namorar no último ano. Se casaram dois anos depois e ela engravidou logo de mim. Minha mãe só tinha minha avó, mas ela morreu logo depois que eu nasci, então éramos só nós três.

Seguro a latinha vazia entre as duas mãos e espremo com meus polegares, fazendo-a dobrar. A memória de beber chá gelado na beira do rio tomando minha mente de repente.

– Eu lembro de sair só eu e ele. Íamos acampar com a desculpa de pescar, mas ele era muito mal pescador porque conversava demais e afastava os peixes. Então nós sempre passávamos na peixaria depois e comprávamos um peixe qualquer para fingir que tínhamos pegado no rio. Minha mãe sempre fingia que acreditava na história dele, mas quando ele ia tomar banho dava altas gargalhadas enquanto eu contava a verdade. Era... Era sempre divertido entre a gente. – rio fraco me odiando por sentir uma saudade fraquinha em meu peito. – Eu tinha uns 14 anos quando vi eles começarem a brigar. Era só uma vez ou outra e foi aumentando, até ser uma briga por semana, no mínimo. Eles disfarçavam quando eu estava perto, mas eu ouvia. Descobri depois que uma amiga da minha mãe tinha visto meu pai com outra mulher e era por isso que eles estavam brigando tanto. Nunca melhorou depois disso. Na verdade, só piorou. – sacudo a cabeça sentindo minha boca começar a amargar. – Então a empresa em que meu pai trabalhava faliu de repente e ele ficou desempregado do dia pra noite. Eu me lembro que eles estavam brigados quando ele saiu de manhã, mas no meio do dia minha mãe ficou muito feliz de repente e quando ele chegou à noite com a notícia de que estava sem emprego, ela deu a notícia que estava grávida do meu irmão. A droga do péssimo timing. Eles passaram a noite inteira discutindo enquanto eu fingia que estava dormindo.

– Tudo desandou de vez a partir daí. Meu pai começou a ficar diferente. Ele dizia que ia procurar emprego e passava o dia todo fora e quando estava em casa ficava trancado no quarto sem conversar mais com a gente direito, então minha mãe e ele brigavam todos os dias sem pausa. Quando Kyungmin nasceu foi ainda pior porque ele chorava muito e meu pai usava isso de desculpa pra sair de casa, o que gerava mais brigas.

– Eu lembro exatamente o dia que comecei a ter medo dele. – engulo o gosto amargo, forçando o bolo no meio da minha garganta a descer de vez. – Kyungmin estava chorando alto, minha mãe estava fazendo a comida dele e eu estava estudando. Meu pai surtou e deu um soco na televisão dizendo que não aguentava mais. Minha mãe ficou brava e quando eles começaram a brigar, ele bateu nela. Foi um tapa. Tudo ficou em silêncio depois. Acho que, mesmo com as brigas horríveis, minha mãe nunca esperou aquele primeiro. Ninguém que conhecia meu pai esperaria.

Sinto os dedos finos de San correrem pelo meu braço direito só pra tirar a latinha da minha mão. É quando percebo que ela virou uma bolinha amassada dentro do meu punho. Deixo que ele puxe dedo por dedo até abrir minha mão e tirar a lata amassada de dentro. Quando ele consegue, eu dobro minhas próprias pernas e abraço meus joelhos perto do peito.

– Um tapa virou dois, e três, até virar uma surra. Ele gritava, socava as coisas, reclamava do Kyungmin, me chamava de inútil, tentava me bater, minha mãe tentava defender e apanhava... Era... Um inferno todos os dias. Todos os dias. Foram seis anos assim. Eu olhava pra ele e não conseguia encontrar o homem que eu amava e admirava. Ele virou um completo estranho. Era... assustador. Não tinha nem uma justificativa, sabe. Algo como... bebida? Não. Ele estava são. O tempo inteiro. Meu pai não bebia. Ele fazia tudo completamente são. – digo pausadamente sentindo meu coração acelerar. – Eu me sentia um idiota por não conseguir proteger minha mãe e quando ele saía de casa eu implorava pra ela pra gente fugir, mas... ela não tinha família, nem trabalho, não sabia pra onde ir.

Eu não sei o que na minha voz fez San se aproximar mais, mas antes de completar a última frase ele cola o peito na lateral do meu corpo. As pernas me rodeando, os braços em volta dos meus ombros, o queixo apoiado no alto do meu braço direito.

– A última vez que eu o vi foi quando o denunciei pra polícia. Ele tinha batido tanto na minha mãe que ela desmaiou. Eu tranquei o Kyungmin no quarto pra ele não chegar perto e corri pro telefone que ficava na cozinha. Chamei a polícia chorando e implorando que eles nos ajudassem. Antes de terminar a ligação, meu pai me pegou pelos cabelos e começou a me bater e dizer o quanto eu era um inútil, uma decepção pra ele. Eu não me lembro de sentir dor física. Só lembro de me debater e dizer que odiava ele, que ele não era meu pai, que eu queria que ele morresse. Eu queria tanto que ele morresse. Eu pedia perdão a Deus por isso, mas eu voltava a pecar todo dia porque eu queria que ele morresse.

Minha garganta está ardendo e eu só percebo que estou chorando quando vejo os dedos de San afastarem as lágrimas do meu rosto. Só consigo imaginar a sensação dos seus dígitos porque minha pele parece toda anestesiada e eu não sinto nada realmente.

– Eu achei que ele fosse acabar me matando. Mas ele tava tão... possesso... que quando eu caí no chão gritando que odiava ele, ele só sentou do meu lado e ficou olhando pra mim. E então começou a dizer que eu não podia odiá-lo porque eu era igualzinho a ele. – um soluço escapou da minha boca e eu apertei os olhos. – "Você é igual a mim e quando deixar de ser um moleque vai descobrir que a vida é uma merda e vai continuar sendo igual a mim. Nós somos feitos da mesma coisa, Wooyoung. Mesmo sangue. Mesmo gênio. Vamos acabar do mesmo jeito. Não pode ser o filhinho da mamãe pra sempre. Seja homem."

– Woo...

– Ele repetiu isso até a polícia chegar e levar ele preso. Eles levaram a gente pro hospital e minha mãe prestou uma queixa oficial depois, então ele acabou sendo preso de verdade, e eu não o vi mais depois disso.

– Woo... eu sinto mui...

– Sabe qual a pior coisa? – interrompo San porque ainda não estou pronto pra sair daquela bolha de ódio que faz meu coração pulsar muito rápido. – Minha mãe ainda ama ele. Se você conversar com ela e falar dele, ela vai sorrir e dizer que antes de tudo ele era o homem mais doce e amável que ela já conheceu e então vai te contar todas as partes boas. Em nome desse amor ela mantém apenas a porra das boas memórias! – dou uma risada amarga ficando sem ar. – Às vezes eu não consigo dormir me lembrando dela gritando, chorando e pedindo socorro, me lembrando das marcas no corpo dela! Eu ainda acordo de madrugada com o coração disparado porque às vezes sonho com o barulho do portão de casa abrindo quando ele chegava! E ela esqueceu de tudo porque ele é a porra do amor da vida dela! – aperto a camisa na altura do peito sentindo o ar preso na garganta. Tudo arde por dentro, mas eu não consigo parar de falar. – Que porra de amor é esse? Que porra de sentimento é esse que passa por cima de tudo? Que aceita qualquer coisa?

– Woo, calma. Olha pra mim, respira. – a voz de San soa longe demais pra eu escutar e eu empurro suas mãos do meu rosto porque não quero me acalmar.

– Eu me pergunto quanto mais ela teria aceitado se eu não tivesse ligado pra polícia naquele dia. Às vezes eu me pergunto se aquele desgraçado sair da cadeia um dia... será que ela não vai perdoá-lo e trazê-lo de volta pras nossas vidas? Porque o amor tudo perdoa, tudo suporta! – a risada rompe minha garganta, arranha tudo. – Tem dias que eu me sufoco de repente, sozinho, com o pensamento repentino da porra da possibilidade de ela estar vendo ele e o aceitando de volta! – eu tenho consciência que estou meio gritando agora, mas não consigo controlar. – Eu sinto tanta raiva! Eu sorrio pra todo mundo e faço piada e banco o engraçadinho, mas tem tanto ódio dentro de mim que eu tenho medo de quando vou explodir. E aí eu... Lembro do que ele disse. E porra... Ele tá certo. Eu sou igual a ele.

– Não.

– Ninguém muda da noite pro dia. Ele devia guardar toda aquela amargura, aquele ódio dentro dele há muito tempo e então um dia só explodiu! E machucou todo mundo ao redor! Machucou eu e minha mãe! Nós éramos tudo pra ele! E ele feriu a gente de todas as formas possíveis. E então Kyungmin, que era só um bebê que nunca chegou a ver o pai que ele foi pra mim antes de virar um filho da puta! Ele não conheceu o cara sorridente, gentil, engraçado e cheio de piadas. Ele conheceu apenas o filho da puta explosivo e agressivo!

– Wooyoung...

– Falta quanto pra eu virar esse ele também?

– Não... Você não vai. Woo, por favor, olha pra mim. Olha pra mim, por favor. – San segura meu rosto entre as mãos com tanta firmeza que eu finalmente olho pra ele.

Ele tá chorando. Tanto que os soluços escapam de sua boca e ele não consegue falar direito. Ele só tenta me segurar e pede "por favor, por favor, olha pra mim". E eu lembro da minha mãe. Eu lembro de todas as primeiras vezes que ela tentou fazer meu pai voltar a si porque ela o amava tanto e aquele não podia ser ele. Lembro do quanto ela tentou. Lembro das lágrimas e tudo dói porque ela chorava tanto, todo dia e San... San tá chorando tanto... E eu não queria... Eu não quero que ele chore nunca.

– Eu te amo. – as palavras pulam dos meus lábios como se estivessem ali há muito tempo só esperando autorização pra sair. E estavam.

San soluça e seus olhos pequenos me encaram como se soubessem que não estou falando como das outras vezes. Eu seguro suas mãos ainda presas em minhas bochechas, chorando mais do que eu queria.

– Eu gostei de você quando te vi na calourada dois anos atrás. Gostei ainda mais quando passou a madrugada inteira me ajudando com a prática de performance clássica. Eu... Eu me apaixonei por você todo e cada dia depois disso. Cada vez que coloquei meus olhos em você eu te amei mais e mais um pouco até agora. Você é o homem mais doce e incrível que eu já conheci. 

San parece chocado demais pra responder. Seus olhos estão presos em mim e sua boca está meio aberta. Eu nem acredito que finalmente disse isso e ele não parece acreditar que estou dizendo.

– Eu nunca... Nunca quero te machucar. Eu morreria se eu fizesse isso. É por isso que eu não pude... Não pude te contar. – Minha voz tá falhando e San parece entender de repente e começa a tentar falar, mas eu não posso deixar. Eu não posso deixar ele me fazer mudar de ideia, então só continuo. – É por isso que te afastei. É por isso que mesmo te contando agora... eu não posso.

– Você pode...– ele balança a cabeça voltando a chorar mais e eu nego chorando junto.

– Não posso porque mesmo sentindo isso que é tão bonito por você, eu também sinto muito ódio todo santo dia. Tanto ódio que me sufoca. E eu tenho medo dele se sobressair. Eu tenho medo de meu pai estar certo. Eu tenho medo de machucar você como ele machucou minha mãe, Sanie. E eu tenho medo de você deixar...

Suas mãos afrouxam ao redor do meu rosto e eu não quero soltá-las, mas ele as puxa cobrindo os olhos com as palmas.

– Eu sinto muito...

– Po-por que me contou? – ele balbucia com o rosto ainda coberto.

– O quê? – franzo o cenho e ele afasta as mãos pra me encarar. Odeio ver dor em seus olhos vermelhos e sinto meu peito doer em resposta.

– Porque tá me contando isso se já decidiu continuar me rejeitando?

– Eu...

– Por que me deixar saber que você... que o cara que eu amo me ama do mesmo jeito, se ele não tem a mínima intenção de ficar comigo?

– Eu só queria que soubesse o porquê.

– Pra que? Em que isso ajuda? – ele fala alto agora, alterado. – Eu tinha aceitado que você não sentia o mesmo, eu tava seguindo em frente, eu tenho um... quase namorado agora. Porque me contou isso? – sua voz rasga o peito e meu coração no processo. Minha cabeça dá uma volta e eu me sinto culpado por bagunçar tudo. De novo.

– Me desculpa.

– Não. Eu... Eu podia lidar com você não sentindo o mesmo. Podia lidar com o fato de que o sentimento não era recíproco e você só não queria ficar comigo. Mas... Eu não consigo lidar com você sendo covarde. – ele limpa o rosto com raiva e se levanta do chão, tomando distância de mim. Eu levanto junto, mas não sinto direito de chegar perto.

– San...

– Você não é o seu pai, Wooyoung! – ele diz alto.

– Eu...

– A vida é sua e você precisa decidir viver ela fora da sombra desse ódio por ele!

– Eu não sei como fazer isso... – sussurrei tão baixo que duvido que San tenha escutado. Minha garganta fecha de novo e eu só quero abraçar ele agora. Quero afundar meu rosto em seu peito e esquecer tudo. Mas antes que eu consiga alcançá-lo de novo a porta abre num estrondo, me fazendo virar em reflexo só pra ver quase nosso grupo todo entrar no apartamento. Mingi liderando a marcha rápida na frente de Seonghwa, Hongjoong, Yeosang e Jongho.

Limpo o rosto e vejo San fazer o mesmo dando as costas pra disfarçar.

Respiro fundo e passo a mão nos cabelos, antes de começar a ajeitar a roupa só pra não pensar. Se eu pensar eu vou ter uma maldita crise e eu não posso. Não agora. Não na frente de todo mundo.

– Eu perdi minha chave, me empresta a sua? – Mingi estende a mão em minha direção. Não parece notar que eu estava chorando porque ele mesmo está com os olhos cheios de lágrimas.

– Mingi, eu vou levar você. Se acalma. – Hongjoong fala, tomando a chave da minha mão antes que Mingi alcance.

– Eu só quero ir embora. – ele grunhe.

– O que aconteceu? – San pergunta com a voz quase fanha, agora olhando pra frente. Seus olhos estão vermelhos e ainda menores. Qualquer um pode ver que ele estava chorando.

– Tá tudo bem aqui? – Seonghwa é quem nota primeiro, mas San dá de ombros assentindo rápido.

– Sim, o que rolou? – Hwa franze o cenho olhando pra mim. Eu só desvio o olhar.

– Hwasa beijou um cara qualquer na nossa frente. – Jongho conta e isso faz Mingi fazer um beicinho e voltar a chorar baixo. Yeosang o abraça pela cintura.

– A gente pode ir logo, por favor? – ele pede e eu assinto rápido, vendo a chance de sair de uma vez. Tudo já tinha dado errado demais naquela noite.

– Vou ligar pro Yunho. – Yeosang diz já pegando o celular.

– Yeri tava bêbada demais. Ele chamou um táxi e foi levar ela em casa. – Jongho diz.

– Vou levar eles, amor. – Joong beija Seonghwa que assente antes de ir pro lado de San. Vejo ele segurar sua mão e forçar seu queixo pra cima pra olhar em seus olhos.

– San... – eu tento uma última vez, mas ele só me olha rápido e sacode a cabeça em negação.

– Agora não.

Eu só assinto e sigo Mingi, Yeosang e Hongjoong pra fora do apartamento. Tem um bolo na minha garganta e meus olhos ardem mais do que antes. Eu devia me sentir mais leve depois de colocar tudo pra fora, mas meu peito parece ainda mais pesado. Além do ódio e do medo rotineiros, agora tem também a culpa por ter contado tudo logo quando San disse que já estava superando o que sentia por mim.

Eu não sei o que dói mais. Seu olhar magoado e sua voz chorosa me chamando de covarde ou saber que ele tem razão e não poder fazer nada pra mudar isso.

– Wooyoung? – Hongjoong chama minha atenção e eu o olho percebendo que estamos em frente a Pearl. Mingi e Yeosang já estão dentro da minivan e ele está segurando a porta do carona aberta pra mim.

Não lembro como cheguei aqui e o encaro me sentindo perdido. Ouço meu coração retumbar em meus ouvidos e o ar volta a fugir dos meus pulmões me obrigando a abrir a boca pra tentar respirar.

– Você tá bem?

É tudo que eu preciso pra desabar.



"No final dessa estrada, onde devemos estar?

O que devemos nos tornar, de que jeito?

Já estou oprimido, apenas por ser eu mesmo

Alguém está me ouvindo?

Será que alguém pode só me abraçar?"




- notas: e aí???? Por favor, tentem entender os motivos e as reações e tentem não ficar bravos com nenhum dos personagens, mesmo que seja difícil hahaha  :) Me deixem saber o que estão achando da história e não esqueçam de votar <3 Nos vemos muito em breve! ;)


Música do Capítulo:

até logo <3

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