Se a gente se casar domingo?

By thalytamartiins

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Para Danilo Torres não há ninguém no mundo mais adequado do que ele mesmo para assumir a presidência da empre... More

Oi :)
Se a gente se casar domingo?
Capítulo 01 - Danilo
Capítulo 02 - Leila
Capítulo 03 - Danilo
Capítulo 04 - Leila
Capítulo 05 - Danilo
Capítulo 06 - Leila
Capítulo 07 - Danilo
Capítulo 08 - Leila
Capítulo 09 - Danilo
Capítulo 10 - Leila
Capítulo 11 - Danilo
Capítulo 12 - Leila
Capítulo 13 - Danilo
Capítulo 14 - Leila
Capítulo 15 - Danilo
Capítulo 16 - Leila
Capítulo 17 - Danilo
Capítulo 18 - Leila
Capítulo 19 - Danilo
Capítulo 20 - Leila
Capítulo 21 - Danilo
Capítulo 22 - Leila
Capítulo 23 - Danilo
Capítulo 24 - Leila
Capítulo 25 - Danilo
Capítulo 26 - Leila
Capítulo 27 - Danilo
Capítulo 28 - Leila
Capítulo 29 - Danilo
Capítulo 30 - Leila
Capítulo 31 - Danilo
Capítulo 32 - Leila
Capítulo 33 - Danilo
Capítulo 34 - Leila
Capítulo 35 - Danilo
Capítulo 36 - Leila
Capítulo 37 - Danilo
Capítulo 38 - Leila
Capítulo 39 - Danilo
Capítulo 40 - Leila
Capítulo 41 - Danilo
Capítulo 42 - Leila
Capítulo 43 - Danilo
Capítulo 44 - Leila
Capítulo 45 - Danilo
Capítulo 46 - Leila
Capítulo 47 - Danilo
Epílogo
Agradecimentos :')

Capítulo 48 - Leila

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By thalytamartiins

Minha vontade é de esganar Madu. Não sei como ela teve coragem de fazer uma coisa daquelas comigo e ainda desaparecer em plena festa como se não tivesse nenhuma satisfação para me dar. Pior ainda é a falta de vergonha na cara dela de reaparecer só agora com a desculpa de ter conhecido alguém "linda demais, com cabelos cacheados e olhos quase verdes" e mais sei lá o quê na noite passada, sem um pingo de remorso ao me olhar e dizer:

— Eu fiz isso para o seu bem!

Me apoio em uma cadeira para não cair na tentação de lançar alguma coisa contra Madu. Jonas se põe estrategicamente entre nós duas, apaziguador como sempre. Entretanto, hoje nem a racionalidade dele vai conseguir controlar minha fúria.

— Para o meu bem... Você está maluca?! — Praticamente grito aquelas palavras, sem conseguir acreditar no que acabei de ouvir.

— Sim, Leila. Você estava tão nervosa naqueles dias, que eu pensei que você precisava refletir um pouco mais.

— Depois de tudo que aconteceu comigo você acha mesmo que eu refleti pouco?

— Não é isso. É só que era uma decisão séria e eu não queria que você se arrependesse.

— Mas e daí, Madu? São minhas decisões, você não tinha o direito de fazer isso. No mínimo, você tinha que ter me entregado os documentos quando voltei da casa dos meus pais. Já faz três meses, Madu. Três meses!

— É, eu devia ter feito isso mesmo. Me desculpa, tá bom? — Ela ergue as mãos num gesto inútil para que eu me acalme. — Acontece que eu meio que me esqueci.

— Você o quê?! — Falo aquilo tão alto, que tenho a impressão que todo mundo no prédio conseguiu me ouvir.

— Leila, eu pretendia conversar com você quando você voltasse, mas tinha tanto trabalho e você ficou tão arrasada depois de ter buscado suas coisas naquela casa... — Madu se interrompe, olhando para mim com cautela. — Em algum lugar na minha cabeça esse detalhe acabou ficando para depois e eu me esqueci.

Estou tão incrédula com a atitude dela que não tenho nem mais forças para manter nossa discussão. Desabo sobre a cadeira em que eu estive me apoiando todo esse tempo e me permito respirar fundo ao menos uma vez, afinal eu mal estou conseguindo respirar desde que descobri sobre o divórcio.

Eu imaginei que seria difícil passar algumas horas do lado de Danilo ainda tendo tantos sentimentos por ele, mas tudo foi impossivelmente mais complicado e a própria Madu sabe disso. Estava bem nítido na minha cara o quanto eu estava me esforçando para não me jogar nos braços dele desde aquele "você está linda" que ele sussurrou no meu ouvido na porta da igreja e mesmo tendo me lamentado a festa inteira sobre isso com Madu e Jonas, minha pseudo amiga teve a pachorra de não me contar sobre o divórcio.

Passei dias sem dormir direito pensando em como eu iria agir naquele casamento e o que eu deveria falar, elaborando mil e uma situações na minha cabeça para que as coisas entre Danilo e eu não soassem tão estranhas, para no fim ainda estarmos casados. Em tese, isso não significa muita coisa, até porque não estamos mais juntos há meses, só que meu coração está ressignificando tudo com tanta força de vontade, que estou prestes a acreditar que eu nunca saí daquele apartamento e nem da vida de Danilo.

Para piorar tudo, ele ainda disse que esperava que eu quisesse tentar de novo e pareceu absurdamente decepcionado quando eu não soube o que responder. Eu fui embora, eu escolhi esse fim para nós dois, então eu esperava que Danilo tivesse entendido que não tínhamos volta, mas mesmo depois de todo esse tempo ele ainda estava esperando que eu voltasse. Como ele pode fazer isso? Como ele pode colocar meu esforço ferrenho de três meses para esquecê-lo a perder assim, com uma simples frase?

— Onde estão os documentos? Eu vou levá-los eu mesma para Danilo. — Digo, disposta a colocar uma pedra naquele assunto.

— Leila, você está certa mesmo de que quer fazer isso?

— Por que você fica o tempo todo questionando o que eu quero? — Explodo novamente, perdendo a pouca paciência que tenho com ela.

Jonas se coloca de vez entre Madu e eu, cobrindo totalmente a visão que tenho dela. Ele me olha com uma seriedade incomum, tão incomum que eu me sento melhor na cadeira, inquieta com o que pode sair da boca dele.

— Você precisa parar com isso! — Ele aponta um dedo para o meu nariz. — Você já entendeu o que Danilo fez e no fundo já o perdoou, só não quer admitir isso para si mesma com medo de se magoar de novo.

Abro a boca para responder, no entanto Madu é mais rápida ao reaparecer ao lado de Jonas e disparar:

— Você sentiu falta dele todos os dias durante esses três meses, além de ter especulado com Andressa sobre ele todas as vezes que a viu.

— É! E você fica monitorando o celular de minuto o para ver se não tem mensagem dele. — Jonas completa.

— Você se recusou a sair e conhecer pessoas novas e não apagou as fotos de vocês dois do celular, porque eu mexi um dia sem querer na sua galeria e as vi.

— Você mexeu no meu celular sem a minha permissão, Madu? — Tento me levantar da cadeira, mas Jonas faz com que eu me sente novamente.

— Isso não importa agora, né? — Jonas tenta desviar meu foco. — O que importa é que você nem fez esforço para tirar Danilo do coração, Leila. Você nunca quis esquecê-lo de verdade, você só queria esquecer o que ele fez. Um erro não define todo o caráter de uma pessoa e você é a prova viva disso. Você mentiu para Madu e eu, e nós te perdoamos, não perdoamos? E antes que você conteste, eu sei que não é a mesma coisa, é só para você perceber que a gente está suscetível a errar na tentativa de alcançar alguma coisa importante.

— É isso, é exatamente isso! — Madu quase pula de animação quando Jonas praticamente tira as palavras da boca dela. — Ninguém está dizendo que Danilo não foi um babaca, é só que nem você acredita que ele continue sendo aquele cara. As pessoas mudam, você mesma mudou muito nos seis meses em que vocês estiveram juntos. Quando você discutiria comigo assim em vez de apenas deixar pra lá e ficar emburrada por uma semana?

Se eu não estivesse tão chocada com as coisas que meus amigos estão jogando na minha cara, certamente eu teria rido da última frase de Madu. Contudo, escutar aquilo em voz alta me faz perceber que eles podem ter razão sobre muito do que dizem — quem sabe até sobre tudo.

Não posso negar que aquilo mexe profundamente comigo. Sempre que eu tentei me esquecer de Danilo, mais eu pensei nele. Era a memória dos nossos dias felizes que me fazia sorrir quando eu estava triste, era o cheiro dele que eu sentia nas minhas roupas mesmo depois de lavá-las tantas vezes, era para ele que eu queria ligar todas as vezes que algo dava certo na E. M. Tudo isso unido ao fato de que ainda estamos casados formalmente transformou minhas certezas em um enorme talvez e eu não sei mais o que fazer.

Eu saí da vida de Danilo com tanta convicção, com que direito eu posso pensar em simplesmente voltar? Como eu posso cogitar fazer isso depois de tê-lo deixado ir embora todas as vezes que ele veio até mim? Passamos tempo demais sofrendo para que eu só resolva voltar atrás. E no mais, ainda há certa mágoa dentro de mim, eu posso só fazer mal a nós dois se eu sucumbir aos meus sentimentos sem pensar nas consequências.

Jonas se abaixa diante de mim e segura minhas mãos com delicadeza:

— Faça o que seu coração mandar. Só não perca a chance de ser feliz porque você está com medo.

Desvencilho minhas mãos das de Jonas e fico de pé, resoluta e desesperada para fugir daquele assunto.

— Madu, por favor, só me entregue os documentos.

Minha amiga deixa escapar um suspiro frustrado. Já Jonas nem me olha direito depois do que eu digo. Eu reconheço o esforço ferrenho deles em fazer algo por Danilo e eu, mas já faz tanto tempo e eu não acredito que existam mais chances para nós dois nessa vida. O melhor é que cada um siga seu próprio caminho. Isso é o melhor, não é? Deve ser o melhor, pelo menos.

Madu resmunga um pouco, mas procura de muita má vontade o envelope com a logo de Tales até encontrá-lo. Ela o estende para mim de cara fechada, e, antes de realmente me entregá-lo, ela diz:

— De novo, espero que você não se arrependa.

Pego o envelope da mão dela num gesto abrupto. Não quero admitir isso em voz alta, mas a verdade é que no fundo, bem lá no fundo mesmo, eu acho que já me arrependi há muito tempo.

Enrolo alguns dias antes de ligar para Danilo para entregar os documentos e resolvo que a culpa é dos meus amigos por causa de todo aquele discurso de que eu deveria pensar melhor. Eu pensei, não teve um dia em que eu não olhasse para a minha assinatura no papel abaixo da assinatura de Danilo e não pensasse "e se...?".

Decido ligar para ele somente quando me convenço de que isso é o melhor para nós dois. Contudo, por mais que eu insista no número, o celular de Danilo sequer chama e as mensagens que eu envio não são visualizadas. Ligo no dia seguinte de novo e mais uma vez não consigo falar com ele. Não sei o que está acontecendo, mas parece impossível contatá-lo e me vejo temporariamente de mãos atadas com aqueles documentos que parecem debochar de mim.

Primeiro, descubro que ainda estou casada. Depois, não consigo entregar os papéis para Danilo. Se eu acreditasse nessas coisas, diria que é um sinal. Bruna, por outro lado, acredita que é realmente isso que está acontecendo. Me pergunto para quê eu pedi a opinião dela sobre isso, já que ela, Madu e Jonas montaram um complô contra mim.

Acabei voltando para a casa da minha tia depois que cheguei de viagem, e Bruna, apesar de não gostar dos meus motivos para estar aqui, parece estranhamente feliz com a minha presença. Eu também fiquei feliz no começo, porque senti a falta dela e do nosso quarto, mas está sendo complicado me adaptar de novo. Sinto que preciso de um canto para mim, eu só preciso encontrar um lugarzinho que caiba no meu orçamento e me convencer de que consigo morar sozinha. Eu tenho detestado silêncio e espaços vazios, morar em uma casa sem a companhia de ninguém soa quase como um quase pesadelo.

Estamos cada uma em um canto do quarto que dividimos: eu ainda tentando falar com Danilo e Bruna cheia de trabalhos da faculdade. É fim de semestre no curso dela, as obrigações como mãe têm deixado minha prima à beira de um ataque de nervos e ainda tem o fato do pai de Arthur ter aparecido essa semana de novo prometendo que buscaria o filho para passar as festas de fim de ano com ele. Depois que esse homem resolveu lembrar que fez um filho cinco anos atrás, paz se tornou uma palavra inexistente no dicionário de Bruna.

Cansada de ligar para um número eternamente desligado, me sento na cama e encaro o celular, irritada.

— Será que ele está me evitando? Faz dois dias que tento falar com ele e não consigo. — Acabo desabafando em voz alta, sabendo que vou levar um puxão de orelha de Bruna como resposta.

— Já tentou ligar no escritório da Eco Habitação?

— Na verdade, não.

Bruna arqueia as sobrancelhas para mim, como se esperasse que eu admita que ela está certa esse tempo todo ao afirmar que eu não estou fazendo muita questão de entregar os documentos para Danilo.

— É que nosso assunto é particular, eu não quero tratar disso na empresa. — Tento me justificar. Não é completamente mentira, eu iria detestar ver Danilo uma última vez com tanta gente por perto.

— Então envie os documentos pelos Correios.

— E se não entregarem? Podem extraviar os documentos, isso acontece bastante.

— Ai, meu Deus! Para de complicar as coisas e apenas ligue para a secretária dele!

Certo. Considerando toda situação, acho que posso admitir que eu esteja mesmo complicando tudo, porque não quero ter que entregar os documentos e porque estou morrendo de medo de Danilo sequer querer me ver de novo depois da nossa conversa tensa no casamento de Tales. Entretanto, eu não posso esconder esses papéis a vida inteira e esperar que Danilo se esqueça deles como Madu.

Procuro o número da Eco Habitação na minha agenda e coloco para chamar. Me arrependo de ter excluído o número pessoal de Marcinha, a secretária de Danilo, pois tudo seria tão mais fácil se eu pudesse falar diretamente com ela em vez de ficar sendo passada de atendente em atendente até chegar na diretoria da empresa.

Após longos minutos me identificando como Leila, ex-esposa de Danilo, me transferem para Marcinha. Ela me cumprimenta de maneira tão formal, que fico sem saber o que dizer. Não sei se devo respondê-la da mesma forma ou só fingir que ainda temos alguma intimidade. É embaraçoso.

Senhora Leila, pois não? — Ela diz ao se passarem alguns segundos em que estamos naquele silêncio constrangido.

Limpo minha garganta e tento soar o mais calma possível, o que é difícil na minha situação, já que até o fato dela me chamar de "senhora" me abala:

— Oi, Marcinha. Como vai?

Vou bem. E a senhora? Há algo em que posso ajudá-la?

— Eu estou tentando falar com Danilo, mas o celular dele está desligado.

Ah, ele quebrou o celular... De novo. Sansão, a senhora sabe. — Ela suspira.

Nós duas sabemos que aquela não é a primeira vez que Danilo deixa o cachorro comer o celular dele. Assim que nos conhecemos ele tinha acabado de trocar de aparelho pelo mesmo motivo. Me lembro do meu irmão e do meu primo terem ficado encantados com o celular de última geração dele. Em momentos como esses eu verdadeiramente detesto minha memória boa, porque pensar nisso me faz pensar na primeira vez que Danilo esteve aqui com a minha família e não é hora para ficar perdida em lembranças.

Meu celular apita, me lembrando de que meu pré-pago de araque está com os créditos no fim.

— Ele está na Eco Habitação agora? — Me apresso em perguntar.

Sim, mas ele está quase de saída. Dr. Danilo precisa pegar um voo hoje ainda.

Aquilo me deixa tão alarmada, que pareço perder minha capacidade de fala. Marcinha, por sua vez, continua falando sem parar, alheia ao impacto que as palavras dela me causaram.

Ele veio apenas resolver algumas pendências na empresa, está deixando tudo organizado, porque vai passar um tempo fora.

— Um tempo fora? — Pergunto antes mesmo de raciocinar se eu deveria dizer aquilo em voz alta.

Sim, ele deve viajar para...

A ligação cai. Eu preciso fazer um plano decente de celular, para que minhas conversas não fiquem pela metade e para que meu coração não saia pela boca todas as vezes que isso acontece.

Danilo vai pegar um voo, só Deus sabe para onde e para fazer o quê. Não sei quando ele volta, não sei do que se trata e estou completamente apavorada com essa falta de informação. Ele pode ficar uma semana fora, mas pode ficar meses, até anos. E se ele nunca mais voltar? E se eu nunca mais vê-lo? Eu não devia me importar tanto, eu tinha decidido entregar os papéis, contudo minha cabeça está se recusando a aceitar minhas escolhas no momento.

Minha prima larga os cadernos e cruza o quarto até minha cama.

— Ele vai viajar, é?

— Sim... Hoje.

— Hum. — Ela sorri apesar do pânico estampado na minha testa. — Parece que já tivemos essa conversa antes, lembra? Você disse que Danilo podia salvar a sua vida e saiu desesperada atrás dele.

— A situação era outra, eu ia perder minha empresa.

— Mas nessa situação você vai perder o homem da sua vida se não correr de novo.

O homem da minha vida...

Meu coração bate mais forte. Quantas vezes eu disse isso a ele de todo o meu coração? Essa era uma das minhas maiores certezas na vida, não sei como pude duvidar do que eu sentia e do que éramos. Meus amigos têm razão, minha prima tem razão, eu estou com medo de ir atrás de Danilo e me decepcionar de novo, mas estou com muito mais medo de vê-lo partir para nunca mais voltar.

Salto da cama, revirando minha bagunça atrás de roupa limpa. Mal passou da hora do almoço, eu nem sequer estava cogitando voltar para a E. M. ainda, então se o trânsito me ajudar, vou chegar a tempo. Eu tenho que chegar a tempo.

— Você precisa de um táxi? — Bruna pergunta, me assistindo andar de um lado para o outro do quarto.

— Não. O carro dos pais de Jonas está aí fora.

— Ah, é, me esqueci de que você é uma mulher habilitada! — Bruna debocha aos risos.

Aquilo ressoa um pouco na minha cabeça. Acontece que tanta coisa em mim mudou, que é quase como se eu fosse outra pessoa. Não é só uma habilitação ou uma empresa funcionando, é a minha vida, os meus sonhos e a descoberta de uma coragem incomum dentro de mim, que eu só pude conhecer depois de tudo que vivi ao lado de Danilo.

Não faço ideia do que vou falar ao vê-lo e eu nem vou pensar nisso por enquanto. A única coisa que eu sei é que eu preciso ir até ele. Agora.

Pisar os pés nesse prédio sozinha me dá a impressão de que estou vivendo uma espécie de déjà vu. É estranhamente familiar voltar à Eco Habitação numa tarde em que os meus sentimentos estão falando mais alto do que qualquer coisa. E assim como quando procurei Danilo pela primeira vez, sinto que posso ter tomado uma atitude tarde demais.

Aperto o envelope com força, me esquecendo por vezes que são documentos ali dentro e que eu não posso rasgá-los ainda, apesar de esperar poder fazer isso em breve. Minha ansiedade me faz acreditar que a subida de elevador até o último andar demora mais do que o normal, uma infinidade de minutos e segundos se recusando a passar.

Assim que as portas do elevador se abrem e eu tomo os corredores iluminados até a diretoria, se torna inevitável não encontrar alguns funcionários de Danilo com quem conversei poucas vezes e é mais inevitável ainda não ficar sem jeito diante da surpresa que eles demonstram ao me ver. Ao contrário dos outros funcionários, Marcinha parece já me esperar. Ela não é de sorrir muito, mas não consegue se manter séria por muito tempo quando me aproximo da sua mesa.

— Eu imaginei que a senhora viria. — Ela se levanta para me cumprimentar. — Devo anunciar sua presença?

Não preciso pensar muito para responder:

— Não, não deve.

— A senhora sabe o caminho, então...

— Obrigada, Marcinha. — Sorrio em agradecimento.

Sigo pela sala ampla repleta de puffs coloridos onde a maior parte do trabalho na Eco Habitação é feito. Cumprimento de longe mais algumas pessoas, sorrindo nervosamente para elas. Alexandra, Camila e Mateus parecem incomumente felizes em me ver, indicando a sala de Danilo aos risos.

Bato duas vezes na porta de Danilo. Um segundo depois ouço a voz dele de dentro da sala pedindo para que eu entre, mesmo sem saber que sou eu. Tomo um pouco de ar, limpo o suor das mãos e só então giro a maçaneta. Ele está de costas, procurando alguma coisa em uma das prateleiras repletas de pastas onde ele arquiva os documentos antes de serem digitalizados.

Me dou um instante para absorver os detalhes da sala, os sofás elegantes, a garrafa d'água sempre cheia na mesinha de centro, os pequenos cactos sobre a mesa de trabalho organizada e...

Ah...

Boa parte da minha euforia momentânea se vai ao perceber que uma foto do nosso casamento que costumava ficar sobre a mesa não está mais lá. Ainda havia fotos nossas no apartamento, será que ele se livrou delas também? Meu Deus, que não seja tarde demais, que não seja...

— Leila? — Danilo me desperta do transe.

Ele enfia as pastas de volta na prateleira de qualquer jeito e avança alguns passos pela sala. Poucos passos, na verdade, porque no meio do caminho os olhos dele se fixam no envelope em minhas mãos e é como se ele se lembrasse de repente que deve se manter o mais longe possível de mim.

— Oi. — É a única coisa que consigo dizer.

— Oi. — Ele coça a nuca. — Quer alguma coisa? Café? Forte, né?

— Não precisa. Eu estou bem assim. — Eu gesticulo com uma das mãos, impedindo-o de telefonar para Marcinha e incomodá-la com isso.

Olho ao redor, nervosa demais para me manter quieta, mas meus olhos acabam parando involuntariamente em Danilo. Ele está sem o blazer e sem a gravata, as mangas da camisa social estão dobradas até os cotovelos e há um pouco de barba no rosto, o que é raro, porque ele sempre reclama que os pelos incomodam. Quero perguntar o motivo dele parecer tão descuidado e quero, acima de tudo, poder vê-lo feliz e radiante de novo.

— São os documentos? — Danilo indica o envelope nas minhas mãos.

Endireito minha postura e tento me concentrar de novo. Está complicado manter o foco, quando tudo que eu quero é apenas abraçá-lo e esquecer que esses três meses existiram.

— São, sim. — Respondo num fio de voz.

— Você quer me entregar isso? — Danilo estende a mão. — Eu só vou precisar que você assine uma outra procuração, porque como Tales está viajando, um dos meus advogados vai cuidar de tudo e...

— Eu não quero te entregar isso. — Eu o interrompo.

— Como assim? — Danilo franze a testa em confusão. — Você não quer me entregar o divórcio?

Balanço a cabeça, negando. Puxo o ar com força, não calculando muito bem minhas palavras a partir dali. Eu sei o que quero e é melhor que eu fale tudo de uma vez antes que eu perca a coragem.

— Danilo, eu sei que eu deixei passar muito tempo e que pode ser tarde demais para te falar uma coisa dessas, mas não teve um dia desses três malditos meses que eu não pensei em você e em nós dois. Eu sei também que fui eu quem decidi me afastar de você e no momento pareceu ser o que eu precisava, só que eu não consigo mais fingir para mim mesma que eu não quero, desesperadamente, acordar e ir dormir do seu lado, que eu não perdoei você pelo que aconteceu e que eu não amo você com todas as minhas forças.

Venço a distância entre nós dois, estacando meus passos muito perto de Danilo agora. O cheiro dele me atinge em cheio e eu preciso prender minha respiração para manter meus pensamentos em ordem.

— Os documentos estão aqui, caso você os queira. — Estendo o envelope para ele. — Mas eu também estou. E hoje sou eu quem veio te pedir para tentar de novo. Do zero, sem arrependimentos, sem mentiras.

— Você... Você quer mesmo isso? — A voz de Danilo falha.

— Nunca estive tão certa sobre querer algo.

Ele engole em seco, procurando palavras. O silêncio faz as lágrimas que eu venho segurando arderem no canto dos meus olhos. Eu não faço ideia do que está se passando pela cabeça dele, se ele só não sabe como me dispensar depois de tudo que aconteceu ou se está surpreso demais para responder qualquer coisa, eu só queria que ele disse algo.

Eu só preciso ouvir a voz dele...

Danilo tira o envelope das minhas mãos, fazendo meu coração se contrair pelo receio do que ele pode fazer a seguir. Aperto os olhos com força para empurrar de volta as lágrimas que estão prestes a cair e é naquela fração de segundos que eu sinto o calor dos lábios dele contra os meus.

É delicado, cuidadoso, como se fosse a primeira vez. As mãos dele lentamente me envolvem e me levam para perto, e isso é tudo que eu precisava. Estar nos braços dele novamente, sentindo sua respiração contra o meu rosto e os nossos corações batendo acelerados.

Ouço o som abafado de gritos vindos do lado de fora da sala. Há uma comemoração acontecendo, as pessoas estão batendo palmas e assoviando alto, posso perceber isso apesar de estar com a cabeça literalmente nas nuvens. Me lembro dos vidros enormes nas paredes da sala e de que os funcionários de Danilo estão assistindo em primeira mão nossa reconciliação, mas não sinto vergonha. Eu quero que o mundo veja e saiba o quanto eu o amo.

Danilo se afasta um instante e me olha nos olhos, segurando meu rosto gentilmente com uma das mãos.

— Você realmente está aqui? — Ele pergunta baixinho, como se estivesse me confessando um segredo.

Não respondo. Em vez disso, eu o beijo de novo, abraçando-o para nunca mais soltar.

— Você não sabe por quanto tempo eu esperei por isso. — Ele me abraça mais apertado, enterrando o rosto no meu pescoço. — Eu não acredito ainda.

— Me desculpe por ter demorado tanto. Prometo não ir mais a lugar nenhum sem você.

Danilo se afasta apenas o suficiente para me encarar. Então pergunta:

— Posso considerar hoje como o nosso recomeço?

— Sim... Eu acho que sim.

— Ah, nesse caso...

Ele me solta, se esforçando bastante para não sorrir. Não entendo direito o que ele quer com aquilo até vê-lo estender uma das mãos.

— Muito prazer, meu nome é Danilo.

Gargalho alto com aquilo, mas resolvo entrar na brincadeira.

— O prazer é meu. — Aperto a mão dele. — Meu nome é Leila.

— Senhorita Leila, acho que eu acabei de me apaixonar por você.

— Senhor Danilo, acho que é recíproco.

Danilo enlaça minha cintura e me tira do chão, me rodopiando pela sala sob o som constante da comemoração dos funcionários do lado de fora. Estou tão feliz que eu poderia explodir de tanta alegria.

— Foi aqui que tudo começou. — Digo, me lembrando de tudo que aconteceu nesta sala há dez meses atrás, das nossas pequenas discussões e de que eu o achava completamente maluco.

Ele me coloca no chão e segura minhas mãos trêmulas.

— E é a partir daqui que a gente continua.

Danilo busca o envelope com os papéis do divórcio pela sala e o rasga em inúmeros pedaços. Não há mais nenhum divórcio nos separando, não há mais nenhuma mentira erguendo uma barreira entre nós.

— Não quero perder mais um segundo aqui! Nunca quis tanto ir para casa.

Não posso discordar. Eu senti saudades da nossa casa tanto quanto senti saudades dele e se há algo bom em brigas é o que acontece após a reconciliação.

Ele pega o blazer e as chaves do carro, então segura minha mão e me leva para fora da sala. Ninguém na Eco Habitação precisa ouvir nenhuma palavra nossa para saber que estamos juntos novamente.

Apenas quando passamos por Marcinha no caminho para a saída, que me lembro de um detalhe importante:

— Você não tinha que viajar hoje?

Danilo olha para a secretária e sorri.

— Foi isso que ela disse?

Confirmo, assentindo com a cabeça.

— Acho que alguém mentiu para você.

No fim, até Marcinha sabia que eu precisava de um empurrãozinho para vir atrás da minha felicidade. Ela fez bem, conseguiu me fazer chegar na hora certa.

Entrelaço meus dedos aos de Danilo, com a mais plena certeza de que me sinto pronta para me entregar de corpo e alma de novo. Depois de tudo, estou pronta para começar uma vida nova com o mesmo amor de sempre.


Oi, pessoal! Alguém tão emocionado quanto eu por aí? 🥹
Parece que chegamos ao fim do livro, mas não vão embora ainda, ainda tenho uma surpresinha especial para vocês na próxima semana.
Agradeço de todo o meu coração por terem acompanhado o livro! Espero muito que tenha valido o tempo de vocês. Vamos nos ver em breve, prometo.
Bjx,
Thaly :')

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