Capítulo 21 - Danilo

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Leila e a mãe são muito parecidas, desde a cor da pele ao formato do rosto, e não para por aí

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Leila e a mãe são muito parecidas, desde a cor da pele ao formato do rosto, e não para por aí. A voz das duas tem uma sonoridade rouca muito semelhante, até o jeito que elas gesticulam quando falam denuncia que não poderiam ser outra coisa que não mãe e filha. O pai dela, por outro lado, é um homem bem alto, assim como o irmão, sendo apenas Leila e a mãe que são tão a cópia uma da outra que não cresceram tanto. Acho que a única diferença entre elas que encontrei nesses minutos de conversa é que Leila é tão calada quanto o pai, ao contrário da mãe e do irmão dela, que falam bem mais do que o necessário.

A mãe de Leila, Luciana, já deduziu quase tudo que está acontecendo entre nós dois, não dando chances para a filha sequer tentar arranjar uma desculpa. As ligações não atendidas, minha mancada ao atender o celular certa vez, a palidez mórbida que tomou conta do rosto de Leila quando a família apareceu, tudo isso só poderia significar que depois de muito tempo sem um namorado, Leila finalmente está com alguém, que sou eu, no caso. O que a mãe dela não deduziu ainda é que estamos de casamento marcado, e que agora, sentado na sala de estar da casa da tia de Leila, eu não faço ideia do que minha "noiva" quer fazer com relação ao "nosso relacionamento".

Leila parece mais transtornada do que mais cedo, encostada em ma das paredes da sala pequena, girando o anel de noivado no dedo e completamente muda desde que chegamos. Se ela pelo menos olhasse para mim de vez em quando, eu poderia tentar dar um jeito de tirá-la daqui, mas ela não parece estar enxergando e nem ouvindo nada no momento. Eu sei o quanto ela temia que esse momento acontecesse e que tudo deve estar soando como um pesadelo, com a família dela me enchendo de perguntas e especulando tudo que podem sobre a minha vida. As coisas estão tão fora do controle que até a prima dela, que tinha aula da faculdade, pelo que entendi, resolveu ficar em casa porque de alguma forma eu aceitei ficar para jantar.

A tia e a prima estão se revezando entre a sala de estar e a cozinha, se dividindo entre ouvir o que estamos conversando e derrubar panelas. Volta e meia um garotinho mais ou menos da idade de Ana Clara cai sentado ou mexe em algo que não deveria, recebendo alguma reprimenda e iniciando uma sessão de choro irritante de criança birrenta.

Um moleque de uns 15 anos se sentou do meu lado no sofá e está olhando para o meu relógio com tanta intensidade, que estou ficando incomodado. Nem é um relógio tão bonito assim, eu apenas o peguei na gaveta hoje de manhã, porque estava com pressa para não me atrasar para a reunião que os sanguessugas da diretoria marcaram para destruir a Eco Habitação.

Descruzo as pernas e as cruzo novamente pela décima vez, empurrando meu celular para dentro do bolso, quando ele ameaça cair. Os olhos do moleque praticamente saltam das órbitas ao enxergar alguns centímetros do aparelho, e ele não segura a curiosidade desta vez:

— O seu celular é o último lançamento, não é?

— É? — Pergunto de volta, porque, de fato, não sei.

— É, sim! Cara, esse seu celular só falta voar!

— Ah... — Concordo, balançando a cabeça de leve para não prolongar o assunto.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now